A obra do Cardeal Saraiva é enorme, os 10 volumes das obras completas, compreendem mais de 3000 páginas, por isso será difícil abordar minimamente todo o seu conteúdo.
Brasão do Patriarcado de Saraiva, na capa da edição de 1875 das Obras Completas,
publicadas por Correia Caldeira e pelo Marquês de Rezende.
Há porém algumas frases que pelo seu conteúdo não deixam de ser reveladoras, e ao mesmo tempo humorísticas.
Trata-se do episódio de pirataria no mar, pelos franceses, de uma caravela que vinha da Mina, com uma carga rica em ouro e não só... conforme descrito por Saraiva (
pág. 383-384, Vol. 5).
D. João II, decretou um embargo a todos os navios franceses que estavam nos portos nacionais, até que fosse restituída toda a carga. Saraiva cita André Rezende sobre o episódio, dizendo que Charles VIII se prontificou a devolver todo o ouro, mas isso não foi suficiente:
- D. João II não levantou o embargo até que fosse restituído um papagaio, que ainda faltava...
Perguntado sobre a razão de tal severidade, D. João II terá respondido:
"Quero que se entenda, que a bandeira Portuguesa defende e protege, até um papagaio."
... outros tempos, outros governantes, menos papagaios!
Claro que o bicho seria raro... pela nossa História oficial, só poderia ser o único Papagaio Africano, vindo do Benim, onde era suposto estar a Mina!
Uma tal piada faria parte das frases lapidares da História Portuguesa... porém não poderia ser atribuída ao seu autor. Como bem sabemos, só poderia haver papagaios nas embarcações nacionais a partir de 1500, data da descoberta do Brasil por Pedro Álvares Cabral, e já estaríamos em reinado de D. Manuel. Assim, a frase de sério humor perdeu-se no registo temporal, talvez Saraiva tenha sido o último a querer escrevê-la.
Papagaios e outra fauna brasileira no Atlas Miller (1519)
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