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Muito oportunamente recebemos hoje um comentário de Olinda Gil sobre a descoberta de um banco com formato piramidal por um velejador açoriano, Diocleciano Silva, em mais uma reportagem da RTP Açores.

Com base nesse comentário, no blog Portugalliae (de J.M. Oliveira) está já uma compilação que relaciona com outras descobertas subaquáticas na zona dos Açores:
http://portugalliae.blogspot.pt/2013/09/teoria-da-atlantida-no-arquipelago-dos.html

Este é mais um achado, que se junta a outros que têm vindo a merecer atenção sobre os Açores (já aqui falámos das Pirâmides da ilha do Pico, da Grota do Medo, dos hipogeus na Terceira e Corvo, etc., não esquecendo também a estranha formação submarina ao largo da Madeira... agora disfarçada no Google Maps)

Apenas aproveito para complementar com alguma outra informação relacionada.
Começamos por uma informação batimétrica dessa zona, entre a Terceira e São Miguel, onde é muito bem conhecido o Banco de D. João de Castro.
Imagem batimétrica, onde se vê o Banco D. João de Castro (info daqui
e assinalamos com uma seta o outro banco que pode ser a formação pirâmidal mencionada.

A seta preta assinala uma proeminência que se destaca, que parece ter uma forma piramidal pronunciada, e que é a única tão próxima da superfície do mar, sem ser o conhecido Banco de D. João de Castro. Aliás as montanhas submarinas dos Açores têm sido alvo de exploração recente, como mostra o vídeo da Univ. dos Açores:
Vídeo da Univ. Açores sobre montanhas submarinas açorianas.

Portanto, é claro que o velejador Diocleciano Silva não será o primeiro a deparar-se com a estrutura, que será bem conhecida de todos os que realizaram estudos batimétricos na zona da fossa planalto Hirondelle (... andorinha, era o nome do barco do princípe Alberto I do Mónaco).
A página de onde retirei a figura batimétrica é sobre uma outra formação, chamada o Banco do Mónaco, mais a sul, sudoeste de S. Miguel. Trata-se de um vulcão submarino, e é curiosa a menção feita na página de vulcanologia:
The volcano is unusual for a European volcano as it has never been studied.

Os Açores têm destas coisas... há coisas que nunca foram estudadas.
Por isso são naturais as tentativas de descobrir - ou seja de retirar do encobrir, já que Portugal é feito da matéria do Encoberto.

É claro que a questão do velejador seria prontamente resolvida se houvesse informação disponível, mas assim fica encoberta por toda a ausência de informação divulgada. Estes "achados" são assim falados por uns tempos, correm o facebook por um par de dias, e depois aguarda-se que entrem naturalmente no esquecimento.
Como a população tem uma curiosidade não persistente, o assunto merece uma atenção fugaz, já que as pessoas se conformaram a ter uma informação não esclarecida. Rapidamente haverá outro assunto que prenderá a atenção, e o mistério desaparece naturalmente.

No caso em concreto convém notar apenas que a formação pode ser natural, pois o aparelho usado pelo velejador parecia estar no limite da sua resolução, e nessa altura as linhas curvas podem ser apresentadas simplificadamente por quatro linhas, e a forma quadrangular pode sugerir uma forma piramidal (as curvas de nível da montanha do Pico numa má resolução poderiam aparecer da mesma maneira).
De qualquer forma, mais importante do que haver ali ou não uma pirâmide, é não haver logo um esclarecimento ao velejador, e o assunto ser alvo de reportagem como se a Marinha não soubesse, nem se tivesse passado ali com um sonar antes...
Ora, este conhecimento vai mesmo para além dos 100 anos, já que há esses estudos reportados a Alberto do Mónaco, e também ao nosso rei D. Carlos, que foi igualmente um oceanógrafo reconhecido.

Muito antes, no Séc. XVI, o próprio D. João de Castro ficou conhecido pelos seus estudos sobre os baixios.
Nessa altura chamavam-se "baixios" e não "bancos", mas agora é mais fácil associar a riqueza que guardam estes bancos e perceber como pode haver uma crise com a revelação dos segredos dos bancos (... velando pirâmides financeiras).
O significado das palavras serve vários propósitos.

Esses baixios apareciam representados nos Roteiros de D. João de Castro, vice-rei da Índia, como é exemplo na próxima gravura, e visavam evitar problemas de navegação com profundidades baixas.
(Roteiros de D. João de Castro, Biblioteca da Univ. Coimbra)

É claro que esta precisão de contornos dos baixios envolveu uma pesquisa sistemática na navegação.
Na altura seria provavelmente usado o esquema clássico de lançar uma corda ao fundo e medir as braças.
Esta menção aos baixios pode ter sido mais sistematizada por ordem de D. João de Castro, mas já seria encontrada em mapas anteriores.
Alguns baixios em frente da costa de Moçambique já estavam delineados no Livro de Marinharia de João de Lisboa e apareceram designados depois com a referência a D. João de Castro. Por isso, antes da designação desse Banco D. João de Castro nos Açores (vulcão submarino que originou uma ilha temporária em 1720-22) havia outros "bancos de D. João de Castro", na costa próxima de Moçambique, junto às Ilhas Comores.

Costa de Moçambique. Baixios de D. João ... de Castro.
No Livro de Marinharia (c. 1514-60) a menção aos baixios, 
e sua localização no Google Maps (seta amarela).


Repare-se que a menção aos baixios envolve um conhecimento de grande profundidade no Séc. XVI.
E, é literalmente profundo, pois marcas envolvem medições que iriam muito além de várias centenas de metros.

Nota adicional: (12/10/2013) __________________
A Marinha parece ter reduzido o problema à confusão do navegador com o Banco D. João de Castro:

É engraçada a forma de desinformação dos tempos recentes - basta a uns dizerem que sim, e a outros dizem que não.
Um é velejador solitário, o outro é a Marinha com os registos oficiais de maior "sensibilidade".
Não foi preciso confrontação dos dois registos. 
Ficamos a saber que até à comunicação à RTP Açores, o velejador pesquisou durante vários meses sem saber da existência de tal banco, que aparece em todos os mapas. Por outro lado, os repórteres da RTP Açores fazem uma reportagem sem se informarem com mais nenhuma fonte. A Marinha demora 12 dias a concluir uma trivialidade poderia ter sido esclarecida em 5 minutos. 
Uma trapalhada!... uma sucessão de enganos e incompetências, que afectam instituições com algum prestígio - mas é suposto ser normal as instituições darem como perdida a sua respeitabilidade. Haja paciência!

De qualquer forma, já antevendo desfechos deste género como os únicos possíveis num quadro de ocultação, este texto foi feito para ter relevância para além da observação de Diocleciano Silva.
Entre outras coisas, fica claro pelo mapa que apresentámos aqui que há uma estrutura de forma piramidal acentuada, que não é o Banco D. João de Castro, é aquela que está assinalada pela seta a negro, e que mais uma vez não foi mencionada.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 07:55


17 comentários

De José Manuel de Oliveira a 25.09.2013 às 16:41

Olá,

Nada sabia de D. João de Castro! E frequentei um ano lectivo durante o PREC o seu liceu, tudo beneficiou de passagem administrativa causa das greves (eu recusei...), ninguém chumbou não houveram exames... mas o nome deste estabelecimento aparentemente faz parte de mais um encobrimento pelo establishment !?
As cartas náuticas do D. João de Castro parecem-me tecnicamente avançados para a época... é como os cálculos do Pedro Nunes... a quem derreteram os instrumentos para dourar os portões da ordem religiosa que os guardava...

Ver que persiste o apagar deste nome:
(...) Assim, em Setembro de 1928, é criado um liceu exclusivamente masculino, tendo a tarefa de o instalar ficado a cargo do professor Abel Ferreira Loff que foi o seu primeiro reitor. Foi ele que propôs o nome de D. João de Castro para patrono, por entender constituir, “o verdadeiro símbolo do humanismo português na saga da expansão da civilização pelo mundo”.
http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/lugares/d_joao_castro/index.htm

Não sei se terei forças para fazer mais “compilações” pois é cansativo e estou farto de gente burra à minha volta, há dois dias digo a uma amiga de Lisboa “descobriram vida extraterrestre na Terra” nem tugiu nem mugiu! Pois esta humanidade tem mais animal que racional, que vão pastar e sejam felizes.

Boas leituras, cumprimentos, José Manuel CH-GE

De Olinda Gil a 26.09.2013 às 10:14

Eu pensava que ainda se usava o termo "baixios"...
Obrigada pela referência, gosto de partilhar estas coisas.

De da Maia a 26.09.2013 às 10:20

Bom dia.
Tem razão, há um leque de nomes conhecidos, mas de que se divulgou pouco ou nada a obra.
D. João de Castro bastaria ser conhecido por várias façanhas militares enquanto vice-rei da Índia, mas a história que mais impressiona será a do atrofiamento financeiro a que se vetou, para o bom governo. Em consequência teria empenhado os ossos do filho morto, e depois as barbas.
Já nessa altura ficava evidente um poder financeiro que beneficiava sem pudor, e não contribuía para as necessárias despesas do governo.
Afinal, sempre a questão que ficaria velha... emergia uma canalha privada que usufruía de benefícios governativos sem pagar nada por isso. Personagens como D. João de Castro seriam D. Quixotes, numa altura em que a honra e o dever pátrio já não pagariam dívidas.

Para além dessa faceta militar e de governo desprendido de posses, levou a cabo a investigação sobre as navegações, ficando conhecido por ter descoberto que o magnetismo terrestre que orientava a bússola tinha perturbações. A sua pesquisa dos fundos marítimos fez que descobrisse a perturbação magnética ao largo de Moçambique (julgo que nos baixios que ficaram com o seu nome, perto da Ilha Comore), o que mostrava que a influência da bússola para além do Pólo Norte Magnético.
Isto é natural que já fosse conhecido de João de Lisboa, que estudara a bússola, mas já estava em curso o apagar de conhecimento anterior, pelos movimentos inquisitórios.

Quanto às compilações e trabalho de divulgação nunca é tempo perdido se for movido pelo interesse do próprio. O interesse dos outros é naturalmente variável, e por isso é melhor não ser muito influenciado por isso. A educação é feita de forma pragmática para que se siga um trilho definido, vendo tudo o resto como uma perda de tempo... quando na realidade a principal perda de tempo é avançar, ou deixar-se ir, sem questionar o caminho.

Um abraço.

De Luis Baltazar a 26.09.2013 às 10:36

Desculpem, mas este artigo começa com um erro "a descoberta de um banco com formato piramidal"...
O que se vê ali é apenas a representação generalizada de um pequeno cone vulcânico. Num sistema vectorial, as linhas são compostas de segmentos de reta que ligam pontos, por uma questão de eficiência e rapidez dos sistemas existe uma distância minima entre pontos (vejam as linhas em volta) resultanto o aspeto retilineo das "curvas" (batimétricas)... se alguém quizer representar um circulo com 4 pontos ligados entre si por segmentos de reta resultará sempre um quadrilátero... agora podem vir as especulações que quizerem e as teorias da conspiração do costume... A não ser que alguém mostre imagens reais da suposta pirâmide... isto é apenas mau jornalismo!!!

De da Maia a 26.09.2013 às 11:06

Caro Luis Baltazar,
Se tivesse lido o texto todo, teria encontrado o seguinte parágrafo:
No caso em concreto convém notar apenas que a formação pode ser natural, pois o aparelho usado pelo velejador parecia estar no limite da sua resolução, e nessa altura as linhas curvas podem ser apresentadas simplificadamente por quatro linhas, e a forma quadrangular pode sugerir uma forma piramidal (as curvas de nível da montanha do Pico numa má resolução poderiam aparecer da mesma maneira).

... que diz exactamente o mesmo que você está a dizer.

Portanto, a relevância do seu comentário parece reduzir-se à sua opinião do "ver para crer".

De qualquer forma, acrescento que essa ligação poligonal quadrangular envolve distâncias cada vez mais curtas, dando a ideia piramidal, isso pode ou não ser um defeito do software. Não é por esse argumento que vem a suspeita sobre problema do software, a suspeita sobre simplificação do software vem pelo alinhamento perfeito cardeal, mencionado pelo navegador, isso também pode indiciar a simplificação da representação barimétrica.

De qualquer forma, até estamos de acordo no "ver para crer". Mas isso compete mais à Marinha ou à Academia que tem certamente estudos e fotos do local. Se já os tivesse divulgado, e houvesse uma boa informação online, nada disto tinha ocorrido.

Cumprimentos.

De da Maia a 26.09.2013 às 11:10

Mais uma vez, obrigado.

De da Maia a 26.09.2013 às 11:27

Ah!... e para um certo tipo de "bancos", usar alternativamente a expressão "baixios" seria apropriado, tem razão ;-).

De José Manuel de Oliveira a 26.09.2013 às 21:48

Olá boa noite,

Re: “O que se vê ali é apenas a representação generalizada de um pequeno cone vulcânico”

Tem aqui uma explicação dum perito sobre uma outra “Atlântida” do Google http://google-latlong.blogspot.ch/2009/02/atlantis-no-it-atlant-isnt.html

Mas o que se lê aqui no Alvor são os restantes achados dos Açores sobre remotas ocupações antes da “descoberta” do arquipélago pelos portugueses, é isso que importa divulgar, claro que o título da RTP e outros são “relativos/especulativos” mas é preferível uma má notícia ao que se tem vindo a fazer com o “ovo estrelado” esse ninguém o desmente mas não falam nem dizem as coordenadas, meteoro à superfície é impossível, que vão lá ver o que é... mas isso não o fazem, ninguem quer perder direitos de autor de livros escolares nem os Estados querem gastar dinheiro a reescrever compêndios de ciências, história etc. É tudo uma questão de dinheiro... tudo vale até tirar olhos...

Se houver algo nos Açores este não o deixa escapar, Graham Hancock...:

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10151939256807354&set=a.10151524582402354.1073741825.31260747353&type=1&theater

Boas leituras, cumprimentos, José Manuel CH-GE

De Alvor-Silves a 27.09.2013 às 10:29

O motor de busca do Google baralhou-se todo com esta do velejador...
Curiosamente, o pico submarino também deu aqui um pico de visitas, chegando a ~400, e já é o tópico mais visitado deste mês. A maioria apareceu via facebook, do que pude concluir, pois a Google Search praticamente ignorou este tópico aqui, como aliás tem vindo a fazer sucessivamente com quase todos os outros... restrição que nem acontecia há uns anos atrás, onde grande parte das visitas chegavam por via do Google Search.
Só me merece este comentário, porque a baralhação foi tanta que, por outro lado, indexaram imagens que nem aqui pus, só tinha link externo. Quando estava a acabar de escrever o comentário fui ver de novo e já não aparecia, foi corrigido.
É claro que deixei de ligar a estas coisas desde o princípio, assim que aconteceu a primeira vez; mas acho sempre piada... especialmente quando há resultados injusticáveis.

De José Manuel de Oliveira a 27.09.2013 às 18:27

O aparelho utilizado pelo Dr. Diocleciano Silva é um monitor processador GPSMAP 520, depois depende da carta que utilize e aparelhos acoplados (sonar, radar etc.) pode mesmo ter o Fish Eye View – Visão 3D submarina dos fundos marinhos:

Carte BlueChart G2 Vision microSD/SD Large Atlantique
L'Autoguidage : exclusivité Garmin. Avec la fonction autoguidage, votre traceur de cartes calcule automatiquement la meilleure route à suivre en fonction des obstacles à la navigation et des caractéristiques de votre bateau.
Mariner's Eye View – Vue 3D aérienne des données cartographiques.
Fish Eye View – Vue 3D sous-marine des fonds marins.
Imagerie satellite haute résolution des zones côtières jusqu'à 5 miles à l'intérieur des terres.
Photos aériennes des ports, des marinas, des routes côtières…

Não esquecer que este GPSMAP 520 Dr. Diocleciano Silva tem certamente um SONAR / RADAR...
Não esquecer que a “pirâmide” do Dr. Diocleciano Silva é indicada no centro de linhas irregulares duma montanha...

O aparelho do navegador Diocleciano não é de comparar ao GPS do seu auto...

http://www.ciencia-online.net/2013/09/piramide-submersa-acores.html#.UkK47ciNpcM.facebook

Boas leituras, cumprimentos, José Manuel CH-GE

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