As questões abordadas neste comentário são muito pertinentes, questionando a possibilidade de enquadramento global pela inerente complexidade global. Como esse é o propósito primeiro deste blog - o enquadramento global, importaria questionar a possibilidade disso, desde logo.
Poderia ser algo demagógico e referir que a imensidão do mar não foi impedimento de construir um batel para nos aventurarmos nele, e tem sido um pouco essa a nossa postura face a grandes desconhecidos - ter consciência do desafio, mas não temer naufragar na primeira vaga, ainda que se possa meter alguma água.
Porém, parece-me mais adequada outra imagem. Podemos perder tempo a analisar cada um dos detalhes com que nos deparamos, mas qual é o referencial global para isso?
Ou seja, caminhamos pelo simples acidente casual da inspiração que nos faz inventar ou descobrir coisas, ou há uma lógica nessa pesquisa, que não é o simples acaso de uma invenção suceder a outra, uma descoberta suceder a outra?
Foi por aí que decidi ir há quatro anos atrás, pelo questionar se haveria uma lógica global. Por um lado a lógica global na maquinação humana - associada à "teoria da conspiração". E é engraçado o teor pejorativo que o termo ganhou, porque todo o historiador tem que reconhecer as múltiplas conspirações que sempre existiram na História, mas por outro lado é quase proibido pensar que hoje existe, ou que foi prolongada por quase todo o tempo histórico.
Ou seja, quem fala em pequenas conspirações é historiador, quem fala em grandes conspirações é maluco... Ora, sendo inquestionável a presença de conspirações ao longo da História, só há uns interessados óbvios em que não se fale em conspiração - são os conspiradores!
Isso é pelo lado humano, mas o que mais me surpreendeu foi começar a ver uma lógica que transcendia a própria componente humana conspirativa. Ou seja, se os humanos trabalhavam ardilosamente, quais abelhinhas, numa conspiração que servia interesses dalguns, desenhava-se uma outra "conspiração", muitíssimo mais poderosa, que usara múltiplos mecanismos evolutivos, dos quais os humanos eram apenas o resultado mais recente. Poderia falar-se em "conspiração divina"? Talvez, ou ET, conforme os gostos, mas ainda que isso fosse uma parte explicativa, não era suficiente... antes da galinha há sempre o ovo, e antes de qualquer Fénix há sempre a sua geração. Antes da inteligência houve o não-inteligente. Por muitas semelhanças que se vejam, há sempre diferenças, porque o processo informativo é uma espiral sem fim. Não devemos afundar na
simplificação do remoinho de Caribdis, nem permanecer imóveis dirigindo-nos contra a rocha de Scila... há um compromisso entre o querer tudo conhecer e o recusar conhecer.
Assim, o próprio processo do acordar da consciência é inerentemente conspirativo, e replica a sua estrutura, fecundando incessantemente novos filhos, sempre semelhantes, sempre diferentes. E isso é natural, é matemático, é lógico, é inevitável. O Universo é uma mulher caprichosa, e o Homem (com letra maiúscula) saiu duma sua costela. Porquê? Porque esta bela rainha precisava de um espelho, que não fosse apenas uma réplica de si mesma. As réplicas seriam iguais, mas havendo diferença teriam que ser criados olhos que o vissem. Haverá alguém mais bela que eu? Oh, minha rainha, se não vemos maior perfeição é pelos pobres olhos que nos deste... resposta errada! Como poderia alguém perfeito fazer tal imperfeição? Por isso, e como não queremos apanhar com a ira de tal potência caprichosa, devemos lembrar Vénus que tem no passado o perfil fecundo da mãe neolítica, como presente a graciosidade da amante grega, mas será também uma filha com futuro. Por isso há um entrelaçar de papéis, numa história complementar entre ovo e galinha, entre masculino e feminino.
É claro que as ideias seriam todas equivalentes, mesmo as mais absurdas, quando não se tem um referencial de raciocínio... e isso pagou-se caro, com a vida. Raciocínios desajustados à realidade eram colocados "fora de jogo" rapidamente, pela pragmática sobrevivência. A partir desse momento, as ideias não passaram a ser todas equivalentes. Umas ajustam-se mais que outras à lógica que presenciamos. Não creio que a
nossa origem seja nenhuma incógnita. Mas haverá sempre quem persista em manter dúvida sobre tudo... quem persista em ideias absurdas, e até isso se pode compreender como necessário, faz parte das contradições e dúvidas que esse grande feminino exige à certeza da boa escolha no pequeno masculino. No fundo, a cognição presente evidencia a imperfeição passada, e a ideia da perfeição futura permanecerá como canção do bandido... até que seja unânime, não o podendo ser. Complicado, mas natural.
Portanto, há um avanço pelo detalhe, pela análise, em que a ciência faz o seu papel, mas é bom não descurar o avanço pelo geral, pela síntese, mais próprio da filosofia. As duas coisas em simultâneo não será possível, aí seria a tal pretensão do conhecimento universal, esmagador, fora de alcance.
Mas há essas duas componentes, a multiplicidade da divisão na análise, no detalhe, que vejo como lado feminino, e uma visão mais unitária, sintética, determinada, pelo lado masculino, com vista a uma conciliação. É claro que uma é sempre alvo de crítica da outra. Uma não se ajustará logo à outra.
Mas alguém quereria que a história terminasse? Onde ficaria o futuro?
Lá está, acabei por parar a série "Estória Alternativa", porque cedi ao lado do detalhe, e em vez de prosseguir no âmbito geral, comecei a tentar colar todos os detalhes... algo manifestamente desajustado nesta fase.