História Universal dos Terramotos que tem havido no mundo, de que há notícia, desde a sua Criação até ao Século Presente: com uma narração individual do Terramoto do 1º de Novembro de 1755, e notícia verdadeira dos seus efeitos em Lisboa, todo Portugal, Algarves, e mais partes de Europa, África, e América, aonde se estendeu: e uma dissertação física sobre as causas gerais dos terramotos, seus efeitos, diferenças e prognósticos, e as particularidades do último.
Mendonça, para além de descrever parte do que se tinha passado em 1755, vai buscar uma extensa lista de ocorrências. Se não estava já compilado, o trabalho seria enorme, mesmo para os 2 ou 3 anos que demorou a escrever a obra, após o sismo de 1755.
Ora, já falámos abundantemente do golpe maçónico, engendrado pelo Marquês de Pombal, na ocasião do sismo, dos fogos que consumiam a cidade, perante uma inoperância total, e presumida propositada, bem como das notícias de um maremoto, que verdadeiramente teria ocorrido no grande sismo de 1531, altura em que se construiu o Bairro Alto. O mesmo sismo de de 26 de Janeiro de 1531 que terá servido descrições falseadas de 1755, ao ponto de se ter ocultado da memória o registo de 1531 até reaparecer em documentação trazida a lume na revolução republicana. Trazida a lume... é a expressão quase certa, porque da mesma forma que foi trazida, voltou a ser "queimada", e ainda hoje o sismo de 1531 é ensombrado pelas descrições convenientes transportadas para o de 1755.
Porque, só tolos, académicos crédulos, ou coniventes, podem recusar que o Bairro Alto tinha já o famoso planeamento em quadrícula, e que o natural em caso de maremoto seria a população habitar um "bairro alto", e não insistir em habitar a "baixa pombalina".
A propósito dos sismos em Itália, que depois de
Áquila voltaram a ocorrer em
Amatrice, e
agora de novo, Olinda sinalizou-nos então por email, a notícia de um sismo em 382 d.C. que teria submergido algumas ilhas ao largo do Cabo de S. Vicente.
Mendonça refere esse sismo da seguinte forma (página 26):
382 d.C. Neste ano houve um Terramoto por quase toda a orbe, no qual padeceram muito as terras marítimas de Portugal,. Subverteram-se ilhas, de que ainda ao presente aparecem algumas eminências defronte do Cabo de S. Vicente. Laymundo (Livro 6), segundo Bernardo de Brito, se conforma muito com o que refere Eutropio. Talvez, que fosse nesta ocasião que desapareceu a Ilha Eritreia que esteve na Costa da Lusitânia, segundo Pompónio Mela (Livro 3) e outros.
A existência de ilhas ao largo de S. Vicente é assinalada por Estrabão nos seguintes termos: o litoral adjacente ao promontório sagrado (Cabo de S. Vicente) forma o começo do lado ocidental da Ibéria até à boca do Tejo e o começo do lado meridional até à foz de outro rio chamado Anas (Guadiana)... Este cabo (promontório Sagrado) marca o extremo ocidente não só da Europa, mas de toda a terra habitada... Artimidoro, que diz ter estado naquele sítio, compara-o na forma de um navio; segundo ele, o que ainda mais faz lembrar um navio é a proximidade das três ilhotas de tal modo colocadas, que uma figura o esporão, e as outras duas com o duplo porto assaz considerável que formam, figuram epótides do navio. São estas as ilhas que, segundo Eutrópio, desapareceram em consequência do sismo e maremoto. No que se refere à ilha Eritreia que frei Bernardo Brito conjectura que tenha desaparecido por ocasião deste terramoto, não pode ser localizada com precisão, pois parece ter havido mais do que uma com o mesmo nome. (Moreira, 1991)
Como referi então, a coisa que mais se aproxima com possíveis ilhas próximo do Cabo de S. Vicente será o
Banco de Gorringe (
mapa de detalhe)... sendo que há outros bancos que meteram água em negócios submersos, dada tendência a afundar as poupanças dos contribuintes.
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Banco de Gorringe, imagem com uma raia eléctrica. |
Como curiosidade adicional, Mendonça refere igualmente um grande sismo em 33 d.C, dizendo o seguinte:
33 d.C. O Terramoto sucedido na morte de Cristo, foi o maior, que tem experimentado o Mundo. Foi sentido em todo o Globo terráqueo. Ainda que Orósio, seguindo Plínio (Livro 2, cap. 84) pretende que fosse neste a destruição referida das cidades de Ásia, Tácito e Dion põem aquela fatalidade no consulado de Celio Rufo, e Pompónio Flaco, que foi no ano 20 d.C., segundo Eusébio no seu Chronicon. Neste violentíssimo terramoto, diz Santo Agostinho, que foram subvertidas onze cidades na Trácia. Também dizem que se abriram o monte Alvernia na Toscana, e o promontório de Gaeta em Nápoles. É muito provável que no mesmo terramoto se precipitou no mar uma parte da cidade de Tyndarida. Desta fatalidade escreve Plínio, atribuindo-a só às águas, que tinham cavado o monte em que estava fundada. Laymundo diz que foi muito formidável em Portugal, porque se mostravam rochas abertas desde aquele tempo.
Como não me ocupei dos diversos relatos, e apenas fiz referência a alguns terramotos listados após a fundação da nacionalidade, junto agora os outros terramotos listados por Mendonça, e que afectaram território nacional.
Começa o relato de um sismo que teria dado origem ao mito grego do Dilúvio de Ogiges, e do Deucalião, e que teria ocorrido em 1815 a.C. Sobre Espanha começa por dar conta da grande seca, ocorrida cerca de 1030 a.C, e que poderia ter durado 26 anos, afectando menos a zona da Galiza, Astúrias e Cantábria. Adiciona que em 880 a.C. teria ocorrido um grande incêndio dos Pirinéus, tendo chegado ao ponto de fundir metais. Mas o primeiro registo que dá em Espanha é de um terramoto ocorrido cerca de 500 a.C. que abrira rochas e descobrira metais, e antes disso tem o cuidado de dizer (pág. 8):
Das Berlengas, ilhas e rochedos, fronteiros à Costa de Portugal, há tradição que foram Terra Firme deste Reino. Algum dos antigos Terramotos fez baixar a terra na parte, que cobriu o mar, como sucedeu noutras regiões do mundo. É muito provável que estas Ilhas e as chamadas Strinia, e Ophiusa, que ainda existiam defronte do Cabo de Espichel, quando Hamilcon veio a Espanha, e depois se submergiram, foram as famosas Ilhas Fortunadaas, e a dos Deuses, que celebraram tanto os Antigos, entre as quais foi muito conhecida a Erithia, Ao erudito Marinho pareceu, que todas estas ilhas foram antes Costas de Portugal, e que separadas por algum terramoto foram depois de muito séculos de existência, ilhas submergidas por outro. O que parece sem dúvida é que o Continente de Portugal era muito extenso para a parte do Ocidente. O promontório chamado dos geógrafos antigos de Magnum é hoje pouco metido ao mar, para merecer por antonomasia, o nome de grande. Devemos supor com Marinho que o mar roubou dele muita terra.
Se as ilhas Strinia e Ofiúsa eram vistas ao tempo de Hamilcon, será talvez nos registos dos terramotos de 245 a.C. e de 216 a.C., que afligiram a Espanha, ou ainda no grande terramoto em 60 a.C, que se poderá ter alterado a situação, dizendo a este propósito "o mar excedendo os seus ordinários limites cobriu muitas terras (...) a gente se retirou a habitar campos e montanhas". Não era ainda tempo do Marquês que conseguia convencer o pessoal a habitar a Baixa, apesar do grande maremoto...
Ainda que tenhamos que dar o devido desconto a estes relatos mais antigos, normalmente há aqui muita névoa da época, que teria também uma alguma sinalização de faroleiro.
Numa parte parece claro que Mendonça estava certo - "sem dúvida é que o Continente de Portugal era muito extenso para a parte do Ocidente", e diríamos mais, entre 30 a 60 Km ou mais para ocidente.
A razão não terão sido os terramotos, como abundantemente Mendonça refere, mas hoje já se começa a aceitar, pelas "conversas do clima", que durante a Idade do Gelo, a extensão territorial era muito maior, em particular fazendo entrar a Costa ocidental europeia no Oceano Atântico.
Foi ficando sempre na população alguns mitos de ilhas perdidas no tempo, submergidas por fenómenos naturais, desde a submersa Atlântida até à perdida Avalon, ou ainda as Hespéridas, dos pomos de ouro, confundidas talvez com as Caraíbas.
Curiosamente em português, usa-se a expressão "abalar" com o significado duplo de estremecer, ou de partir.
Como ainda não mencionei muito Avalon, cito a
wikipedia sobre a etimologia do nome:
All are etymologically related to the Gaulish root *aballo- (as found in the place name Aballo/Aballone, now Avallon in Burgundy or in the Italian surname Avallone) and are derived from a Common Celtic *abal- "apple", which is related at the Proto-Indo-European level to English apple ...
Portanto, poderá haver uma raiz do nome Avalon que se relaciona com "maçãs", o que tendo em atenção que as ocidentais Hespérides tinham o moto das "maçãs de ouro", também entendidas como "laranjas", não deixa de ser curioso.
Seja por causa de um "abalo" sísmico que motivou um "abalar" para outras paragens, seja porque as maçãs caíam por abalar ou abanar a árvore, há uma diferença significativa entre maçãs que abalam, e pêros ou pêras que esperam... porque pêras, adequam-se mais às Hesperas, às Esperas, moto de D. Manuel, que juntou à Esfera, enquanto SPERA, na esfera armilar. E a seu tempo acabou a Spera e foi feita a Sphera na circum-navegação por Magalhães. As Hespérides puderam então ser associadas às ilhas ocidentais paradisíacas das Caraíbas, e tudo parecia correr bem, se não houvessem sempre novas Hesperas e Esperas a cumprir. As maçãs ligam ainda ao deus celta
Abellio, identificado ao grego Apolo, afinal o deus solar, quando os pomos eram de ouro. Apolo que se ligava ao culto da Pítia, pela morte da famosa serpente. Fica assim o encobrimento, o cobre da cobra, dos cobres que cobram, e o abalo das maçãs.