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Surge este texto a propósito do comentário de MBP a um outro comentário de Maria da Fonte, que coloquei nesse postal, e que de certa forma falava de uma possível "conspiração" financeira veneziana, que poderia estar ainda na origem da maçonaria internacional.

Em particular, MBP destacou um vídeo:
«Gostaria também de partilhar as fontes que recentemente tenho usado para analisar o enquadramento deste período (mas não só) que se resumem ao trabalho realizado pela fundação La Rouche. Deste enorme trabalho destaco para já este vídeo do historiador Webster Tarpley, e que teve ressonância na minha pessoa pelo facto de colocar a Epistemologia como alvo prioritário do "ataque" à verdade, coisa que o Jung também defendia mas de outra forma.» 
"The Venetian Conspiracy" by Webster Tarpley

Como não é muito habitual ver um trabalho de fundo sobre os bastidores, do que é publicitado e divulgado como verdades inquestionáveis, questionando o trabalho científico de dois "monstros consagrados da ciência", como foram Galileu e Newton, é especialmente interessante ver Webster Tarpley reduzir estas duas figuras a papéis menores, de simples agentes a soldo dos conspiradores venezianos. Mais notável, dá nomes, segue os registos, e aponta culpados para essa conspiração veneziana que transferir o poder para o Império Britânico, então em processo de formação, com a rainha Isabel I. 
Desses vários nomes apontados, destacam-se especialmente dois - Paolo Sarpi (1552-1623), e depois Antonio Conti (1677-1749). 
Quanto a Sarpi está documentado que foi patrono de Galileu, e quanto a Conti terá defendido Newton na disputa que houve com Leibniz, mais tarde, sobre a invenção do cálculo diferencial e integral.
Mas Tarpley não fica por aqui, diz algumas coisas que eu já sabia e outras que foram novidade. Vou enumerar alguns casos, que são suficientemente elucidativos, como se não soubéssemos já de tantos outros (... que vão das máquinas a vapor, às baterias eléctricas, presentes desde a Antiguidade). 

Galileu e o Telescópio
Por exemplo, começando com Galileu, Tarpley questiona a "sua" invenção do telescópio, algo que já é aceite, pois sabe-se da existência de telescópios na Holanda em 1608, em pelo menos três casos (um Hans Lippershey, outro Zacharias Janssen, fabricantes de óculos em Middelburg, e ainda de Jacob Metius of Alkmaar). No entanto, para preservar o mito diz-se que Galileu melhorou os aparelhos holandeses, com o propósito original de observar os planetas.
No entanto, Tarpley aponta Leonardo da Vinci como já tendo usado um telescópio para estudar planetas, como aliás podemos ler aqui:
Isaac Newton developed the design for his reflecting telescope in 1668. Newton's idea of building telescopes using mirrors instead of lenses was not new. The magnifying effect of concave mirrors had been put to practical use as reading aids by medieval monks centuries before (c. 1300). Leonardo da Vinci had used concave mirrors to study the planets more than a century earlier (1513). 
A referência é a Newton e não a Galileu, porque se fala do telescópio reflector, que é normalmente creditado a Newton, 60 anos mais tarde, mas que é aqui atribuído a Leonardo da Vinci, um século antes de Galileu, e 155 anos antes de Newton.
Acreditar que Leonardo da Vinci era um génio, é uma simplificação do problema... tal como Leonardo se "inspirou" em tantas coisas de Vitrúvio, é bem natural que estivesse apenas a transcrever outros tantos trabalhos "perdidos" no incêndio da Biblioteca de Alexandria. 

Não é fácil entender como foi possível a humanidade ter ficado presa durante mais de mil anos, com conhecimento encerrado em "livros proibidos", mas esta particularidade foi ilustrada por Umberto Eco no romance/filme denominado "Nome da Rosa".
Com efeito, como diz MBP, não é difícil concluir que o problema é essencialmente filosófico (ou epistemológico), como tinha dado conta o Padre Agostinho de Macedo, ao criticar a maçonaria (ver os textos "de natura deorum", que escrevi no Odemaia).
Tendo esse antecedente, depois as "descobertas", ou melhor "redescobertas", foram convenientemente creditadas a alguns "génios", que pouco mais foram do que serviçais úteis, para tentar libertar o conhecimento guardado pelo Vaticano, durante milénios.

Não haverá muitas dúvidas que, dada a qualidade da produção vidreira romana, seria muito estranho que os Romanos não tivessem telescópios de grande qualidade. Ou, como diria Lewis Carroll, de forma enigmática, na sua Alice no País das Maravilhas: 
«I must be shutting up like a telescope.»
(Devo-me estar a calar/fechar como um telescópio.)
... e foi isso que se terá feito, toda a gente se calou, como se calaram os telescópios durante milénios.

A gravidade do problema
Tarpley é especialmente incisivo na crítica a Newton, sendo sabido e reconhecido que o seu interesse especial era pela Alquimia - o que leva Tarpley a classifícá-lo como herdeiro da Magia Negra dos antigos magos da Caldeia ou Babilónia. 
Tal como Copérnico e Galileu, ao defender o heliocentrismo, não estavam a dizer nada que não tivesse sido dito por Aristarco de Samos, quase dois milénios antes, e que Pedro Nunes terá classificado de "irrelevante" para a Geografia (conforme é); também a Newton a única maçã que lhe terá caído na cabeça terá sido uma maçã dada por maçãos. Que Kepler tinha enunciado as leis do movimento planetário, e a diferença é pequena, não há grande dúvida... mas se Kepler se socorreu das observações cuidadas de Tycho Brahe, essas observações seriam disponíveis desde a Antiguidade, pelo mesmo desde o tempo dos Caldeus.
As considerações sobre a queda dos graves, começadas por Galileu, eram especialmente graves porque a gravidade era ter o assunto arrumado e esquecido, ainda que muito antes Duarte Pacheco Pereira faça considerações similares a Galileu.

Integrar e diferenciar
Outra polémica a que Tarpley dá destaque é a da disputa de Newton com Leibniz, que terá sido Antonio Conti a resolver favoravelmente a Newton.
Convém lembrar a este propósito que o cálculo matemático ficou durante dois milénios preso a construções com régua e compasso... ainda que outras abordagens tivessem sido propostas, nomeadamente por Arquimedes, ou pelo seu antecessor Eudoxo. Se essa linha tivesse sido seguida então pelos gregos, todo o cálculo redescoberto por Descartes, Leibniz e Newton, pertenceria à Antiguidade. 
No entanto, para diferenciar a malta, foram colocados problemas "milenares", como a famosa "quadratura do círculo", cujo interesse era muito mais causar uma dificuldade excessiva, com interesse limitado. Esse problema só foi resolvido no Séc. XIX, e estou convencido que demorou mesmo muito tempo a ser resolvido... Não sei se foram problemas resolvidos pelos próprios a que são creditados, ou foram resolvidos algum tempo antes por outros anónimos, caídos convenientemente no esquecimento.  
A resolução desses problemas milenares corresponde ainda a um desenvolvimento ímpar da tecnologia a nível mundial. Subitamente, o que estava escondido apareceu, umas coisas atrás das outras, sendo particularmente notável as décadas de transição antes e após 1900. A paragem desse desenvolvimento terá ocorrido com a 1ª Guerra Mundial, e especialmente com a 2ª Guerra Mundial, dado que a Alemanha não respeitou a paragem, e continuou a libertar o "génio" da garrafa, contrariando outras ordens... integrando não apenas o génio, mas também se diferenciando pelo mau génio!
Portanto, também me parece que, no máximo, Leibniz estaria a repisar descobertas antigas, mesmo que não o soubesse. Ou seja, se Tarpley salienta a fraude de Newton, não me parece que Leibniz esteja isento de suspeição similar. Convém ainda notar que há conclusões que Pedro Nunes apresenta, e que muito dificilmente seriam deduzíveis sem conhecimento do tal cálculo, que só seria descoberto no século seguinte.

A conexão Veneziana
A relação deste assunto com uma conexão veneziana, que eu saiba, é mérito de Tarpley, dado que estabeleceu até quais os personagens venezianos que serviram de promotores, nomeadamente de promotores da ascendência do Império britânico. Por outro lado, também pelo lado de Veneza temos todo um historial da banca, ligado a acontecimentos chave, que a Maria da Fonte relatou. Portanto, essa conexão poderá estabelecer-se.

Mas podemos ir um pouco mais longe, notando que a região do Veneto, era anteriormente conhecida como Gália Cisalpina, onde Celtas se impuseram a Etruscos. E esta ligação aos Venetos, é tanto mais particular, já que os Venetos habitavam ainda a região da Normandia, e segundo Júlio César, eram hábeis navegadores (ver Conan-o-bretão). Não é ainda de excluir que estes mesmos Venetos não fossem mais que uma remniscência fenícia, resultado de navegações ao longo da costa atlântica e mediterrânica.
Essa é a parte mais antiga, de conexão mais dúbia, mas já é mais claro que no decurso das invasões bárbaras, e a pretensa queda de Roma, uma variante do poder cortesão romano tivesse feito de Veneza um ponto estratégico para combater uma Roma que seria o centro de um obscurantismo cristão. As frequentes disputas internas em Itália pelo controlo papal, entre Génova e Veneza, foram outro desses aspectos.

No entanto, nesta conexão não há propriamente uma ligação que se prenda à região de Veneza. Ou seja, não se exporta facilmente um controlo com base numa cidade estrangeira. Por isso, se outros reinos acabaram por adoptar essa influência veneziana, não foi por comungarem de ideias para uma pátria em Veneza. O que se parece encontrar é um ponto comum de filosofia/região, que usou Veneza como posto de influência, mas terá origem noutro lugar.

Aditamento (18/11/2016):
Coloco nos comentários um texto integral de Webster Tarpley, que aborda os mesmos assuntos, e cujo PDF pode ser lido aqui: Schiller Institute (Archive, 1995).

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publicado às 05:13


21 comentários

De Alvor-Silves a 21.11.2016 às 04:17

Há que notar que a visão que Webster Tarpley coloca aqui tem, por outro lado, o demérito de acentuar tanto o carácter negativo do partido veneziano, que parece esquecer por completo que a oposição não eram os livres pensadores, mas sim o mundo medieval de onde saía a sociedade cristã no Séc. XVI.

Não sei se foi por recurso estilístico, mas o exagero de Tarpley parece tão grande, que parece propositadamente cego.
Força o esquecimento de que a sociedade medieval era muitíssimo mais oligárquica, com todo o privilégio concentrado numa pequena aristocracia cortesã. Falar numa oligarquia em Delfos, e dar como exemplo Licurgo de Esparta, chega a soar ao completo ridículo, já que segundo Plutarco, o mítico fundador da legislação espartana, Licurgo, seria o protótipo da abnegação, da redução do valor do dinheiro, promotor da igualdade, etc...

Se Tarpley tem o mérito de desmascarar uma conexão veneziana, tem o demérito de não clarificar qual era a alternativa a que se opunha...
Ora, a alternativa não era a linha mais benemérita, representada por diversos pensadores livres, a alternativa dominante era a que tinha arrastado a Europa para uma milenar Idade das Trevas, e que não estava disposta a trocar a estabilidade feudal por uma nova instabilidade comercial, capitalista.

Sendo muito crítico da maçonaria, e da falsidade dos intérpretes do movimento iluminista que se seguiu, não podemos deixar de pesar numa balança o que trouxe, relativamente ao que havia...

Ou seja, ainda que Galileu e Newton fossem fraudes promovidas pelo partido veneziano, conseguiram trazer definitivamente para o domínio público uma quantidade de conhecimento que doutra forma poderia ter ficado circunscrito a um acesso secreto em universidades medievais.
Também não terá sido para benefício dos nomes de Sarpi e Conti, que permaneceram obscuros e desconhecidos. Portanto entre a alternativa de não ter nada, ou ter algo com os autores falseados, parece opção correcta promover a difusão do conhecimento, sem ligar aos nomes dos actores para o efeito.

Mesmo que Kepler ou Leibniz tivessem redescoberto por conta própria, sem auxílio de leituras da Antiguidade (algo que duvido bastante), os seus nomes não ficaram propriamente esquecidos na poeira dos tempos, como ficaram tantos outros (e até os próprios nomes de Sarpi e Conti).
Acresce que Kepler, por exemplo, andava a tentar explicar o movimento planetário com sólidos platónicos, quando de repente inverte toda essa fantasia, que publica no "Mysterium Cosmographicum", sem correspondência nas observações. A passagem para subitamente enunciar as leis planetárias com sentido, invertendo toda a sua linha de pensamento, é tão ou mais misteriosa que os reparos feitos sobre as actividades laterais de Galileu ou Newton.

Portanto, se Tarpley mostra uma conexão, falha por completo ao esquecer "o outro lado da força", muito mais negro e poderoso, à época.

De João Ribeiro a 21.11.2016 às 14:03

Em termos de brincadeira mas expondo também um pouco razões de cepticismo...

Acho que o desafio hoje em dia é achar alguma fonte de poder seja ele artístico, cientifico, politico, governativo, etc que não esteja ligado à Maçonaria...

Parece até que a Maçonaria é a norma e os que não o são, os conspiradores. É tudo Maçonaria ou pré maçonaria! Neste artigo Veneza é maçónica porque quis levantar o antigo Império romano, (ou seja a velha oligarquia que por sua vez já bebia das fontes de outras velhas oligarquias. Grécia, Pérsia, Egipto...Portanto tudo pré maçónico!) mas no Reino Unido! Então, estes conspiradores ao mesmo tempo que espalham método cientifico mas que ao mesmo tempo o atrasam erguem o império Inglês. Império este que é maçónico porque 3 ou 4 venezianos maçons ou pré maçons o ergueram com a ajuda de Newton que (re)descobriu a gravidade numa das suas orgias homossexuais embruxadas. Já agora, estranho este Império Inglês ter-se tantas vezes oposto aos interesses do velho aliado Império Português, também ele maçon! Já D. Afonso Henriques deveria de ser maçon. Afinal convidou os templários que são mais uma da génese da Maçonaria e já a mãe dele com aquele selo em forma de rosa dá que desconfiar... Com tanta Maçonaria já deve existir maçonaria de 1ª e de 2ª ou 3ª... Veneza por esta altura deve estar atulhada de riquezas e os maçons como António Conti deverão ter sido os magnatas da época. Nunca pensou o arquitecto do Rei Salomão enterrado debaixo de uma simples acácia no movimento que iria criar. Cá para mim estes maçons que detêm a conhecimento da biblioteca de Alexandria já estão eles próprios baralhados com o que é maçon ou não. Ainda têm alguns razão e estes maçons com todo este conhecimento, só poderão vir do espaço.

Acho que damos muita importância a estes Srs e os usamos como bode expiatório para tudo o que não sabemos e para tudo o que corre mal. Acho a Maçonaria sobrevalorizada.



De Anónimo a 22.11.2016 às 02:19

Crypt of Civilization

https://en.wikipedia.org/wiki/Crypt_of_Civilization

https://www.youtube.com/watch?v=xnLFe9r27I0

Cpts.
José Manuel

De Alvor-Silves a 22.11.2016 às 03:08

Eh, eh!
Bom, conforme já vi dito por um dirigente maçon - qualquer organização existente, terá nos seus corpos dirigentes um maçon. Isto foi dito numa reportagem passada há uns anos sobre a maçonaria, e quem o dizia era um dirigente da maçonaria americana, e aí não distinguia o âmbito da organização, nem sequer referia o tamanho, mas presumo que se estivesse a referir a organizações com dimensão e importância considerável, e não propriamente a condomínios.

Portanto, essa fama de omnipresença não cresceu sozinha, foi alimentada pelos próprios.
Até porque é conveniente, para o mito, parecer-se maior do que se é.

Por exemplo, a relação com a herança templária, e com outros símbolos anteriores (judaicos, egípcios, etc.), é feita pelos próprios, até nas designações que adoptam:
http://odemaia.blogspot.pt/2014/03/os-pequenos-vagabundos-e-os-velhos.html

Ora, mesmo que não tenha havido qualquer relação entre os templários e a maçonaria, ou entre os templários e os judeus ou fenícios, ou que essa relação seja apenas circunstancial, se uns clamam a herança dos outros, resta saber se os levamos a sério, ou não.

Na série "Véus" que transcrevi o ano passado, havia uma história da génese, pelo Abade LeFranc, diferente ou complementar, da que é pretendida por Tarpley, e que também ligava a Vicenza, perto de Veneza:
http://alvor-silves.blogspot.pt/2015/12/veus-5.html

Podemos achar que os maçons são simples trolhas armados em aristocratas, ou que são aristocratas disfarçados como trolhas, no fundo, é um bocado indiferente.

Há diversos grupos ad-hoc que ainda hoje reclamam para si a herança templária, não é difícil encontrá-los na internet, outros reclamam serem representantes de outras heranças míticas, extintas, etc... Há inúmeras igrejas brasileiras, com os seus bispos e outros cargos auto-nomeados, reclamando serem a verdadeira igreja cristã, etc.
Há malucos para tudo, e gente disposta a acreditar, para disso tirar vantagens pessoais.

Aliás, pior que isso, num certo conforto de inércia, a maior parte do pessoal dificilmente mudará de ideias, simplesmente tende a ignorar o que não entende, ou não quer entender. Por isso, designações pejorativas são muito úteis para o efeito.
Noutros casos, tenta-se racionalizar isso num quadro familiar, umas vezes simplificando o que é mais complicado, outras vezes, complicando o que é mais simples.

Uma das maneiras mais simples de controlar alguém é dar-lhe mérito e razão, se essa pessoa for sensível e influenciável por isso. Tornando-se dependente do mérito e da razão que lhe dão, irá normalmente fazer o possível para não perder esse reconhecimento, que preza.
Não é à toa que uma das estratégias para fazer alguém perder muito dinheiro no jogo, é começar por deixá-lo ganhar algum.

Em suma, se será verdade que Tarpley faz uma exagerada baralhação, ridícula nalguns casos, também não devemos ignorar que estabelece uma conexão histórica válida e pertinente.

E o que é que interessam as conexões?
Aqui respondo com outra pergunta... as plantas, ou os animais, precisam de conhecer astronomia para saberem que o sol renasce após a noite? Ou para anteverem as estações?

A importância da Astronomia foi quase nula na Humanidade até ao Séc. XIX, pelo menos.
Não adiantava rigorosamente estabelecer mais conexões sobre os astros, para efeitos práticos.
No entanto, como havia quem sabia mais e quem sabia menos, os que sabiam mais, arranjaram maneira de condicionar os ignorantes, pela sua ignorância.

De Alvor-Silves a 22.11.2016 às 03:09

A única forma de um astrónomo se evidenciar foi na previsão de eclipses, mas esses dois ou três minutos de fama, não lhe valeriam de nada, se não associasse a isso toda uma mitologia, de que o mundo poderia acabar à chegada de um eclipse... e que era preciso sacrifícios, vítimas, etc.
Prever eclipses não servia para nada, não influenciaria nada, excepto se a população acreditasse.
Da mesma forma, prever a posição dos astros, levou à Astrologia, porque as pessoas deram valor a uma previsão de futuro sobre si, fosse qual fosse, porque são naturalmente egocêntricas.
Mais uma vez, vemos como um conhecimento quase inútil, podia afinal ser utilizado como um ardil, para quem desconhece as coisas.

Com as "teorias da conspiração" passa-se algo semelhante.
É um pouco como a previsão do tempo... não saberá se daqui a um mês vai chover ou não, e pode argumentar que ninguém sabe. No entanto, foi olhando para o registo histórico que se foi percebendo que havia estações, e que estando no Inverno, é mais provável que chova.
Só isso. Antigamente poderiam argumentar que também chovia no Verão, etc... e que era inútil dividir o tempo em estações, mas quem tentasse perceber conexões passadas, entenderia as coisas de outra forma.
Para quem não vive da terra é indiferente, umas vezes molha-se, outras não. Mas tentando fazer alguma agricultura, vemos que não é indiferente cultivar numa estação ou noutra.

Abç

De Alvor-Silves a 22.11.2016 às 03:40

Obrigado pelo link, José Manuel.
Creio que já tinha visto esse documentário, que não deixa de ser um bom retrato de como desapareceria rapidamente o que cá deixamos.
Um aspecto que não é abordado, é que qualquer civilização futura, ao ignorar a anterior, tenderia a tomar como naturais, construções que eram artificiais. Ou seja, os futuros geólogos também poderiam ser tentados a dizer que um simples edifício, sendo algo comum, não seria mais que uma construção natural.

Quanto às cápsulas do tempo, no postal que deixei no Odemaia
http://odemaia.blogspot.pt/2016/10/o-futuro-do-passado-1.html

há um link que aponta para a descoberta de várias cápsulas de tempo... que podem ser privadas, já que não têm que ser deixadas apenas por instituições e ser muito formais:

http://paleofuture.gizmodo.com/the-10-best-time-capsules-opened-in-2015-1747956945

neste caso foca apenas nas descobertas em 2015, mas eles andam a fazer isto há algum tempo, e tem várias outras, para outros anos.

Abraço.

De João Ribeiro a 22.11.2016 às 09:31

Por um lado não devemos excluir essas "conexões" por outro lado também não devemos explicar tudo pelas mesmas. Se por um lado é comodismo ignorar, por outro também é cómodo acreditar em tudo. Giro - no duplo sentido de engraçado e de andar à roda - como volto ao meu comentário original... Umas coisas serão verdadeiras e outras não, o difícil é descortinar quais são quais.

É que sendo assim, tendo a maçonaria o papel preponderante que se auto atribui ou que outros lhe atribuem, ou não tendo, é quase irrelevante porque é indissociável da História. Ou seja, a Maçonaria por factos ou por ficção tem um papel fulcral na História. É praticamente impossível estudar História a partir de determinada época em que não se associe pelo menos à génese da proto-maçonaria. Para mim neste momento o termo Maçonaria mistura-se com o de "Poder" (ia escrevendo Podre, as letras são as mesmas.

Vou ver esses links.

Ab

De da Maia a 22.11.2016 às 16:23

Essa do "poder" e do "podre", é um excelente exemplo de como as coisas podem ser acidentais... ou, não!

Em Latim, o poder (de ser poderoso) é "potere", enquanto podre é "putrere"... ou seja, temos basicamente uma variação, onde em ambos o "t" passou a "d" (uma variação habitual).

Mas o verbo "poder", significando ser capaz, é em latim "possum" (e dizemos "eu posso", mas os espanhóis dizem "eu puedo").
Não distinguir o "poder" do "poder", também está no francês no verbo "pouvoir" (bastante diferente de "possum" ou "potere"), mas em inglês não é assim, tem "power" e "can".
Porém nas conjugações de "pouvoir" em francês também encontra "pu" (pue: cheirar mal), ou "pourrait" que é próximo de "pourri" (podre).

O que escrevi em cima, como é óbvio, não mostra nada, mas poderá dizer muito, e se assim o quiser entender, dar mais sentido a essa troca de letras... que pode não ser tão acidental quanto parecerá à primeira vista.

E o único mal que pode haver na observação é abrir olhos, ou orelhas, a outro entendimento.
Não é uma questão de querer que alguém acredite, ou deixe de acreditar, se há ou não qualquer conexão.

Se for uma questão de acreditar, por acreditar, então tem razão - é indiferente acreditar em tudo, acreditar em nada, ou acreditar no que calha. Mas isso é diferente de acreditar porque umas coisas fazem sentido com as outras.
É juntando peças que se constrói algo maior.
Mas se for apenas para agrupar, sem ligação entre elas, tem um acreditar em tudo, sem nenhuma razão especial... tem um monte de coisas que não se ligam. Isso é praticamente o mesmo que não ligar nada, e recusar tudo, deixando à mesma tudo amontoado, pela recusa.
Depois, ao ligar coisas, pode usar fio (o tal "com fio" ou "confio"), pode usar corda ("com corda" ou "concorda"), sendo que o confiar é bastante mais frágil que o concordar. Mas convém não ignorar que o "concordar", tal como as cordas, resultam de muito de "confiar", de fios entrelaçados. E quanto mais entrelaçar, mais robusta se torna a corda.

Ora, como poderá reparar, se me der corda, eu tenho bastante corda para lhe dar, independentemente de você concordar ou não.
Eu apenas estendo a corda, mas não interessa ter ninguém preso por fios, de confiar. As únicas ligações que resistem a algum abalo, não são confianças, são "concordanças".
O Tarpley apenas apresentou peças do puzzle, que batendo certo com outras coisas, não se trata apenas de confiança no que ele diz, passa a ser concordância. É claro que ele pode estar a mentir, mas aí não será só ele, será muita gente desligada, e sem se ver particular interesse nessa mentira, começando pelo Abade LeFranc.
Claro que poderá haver interesse antigo da Igreja Católica, mas isso é irrelevante para boa parte das afirmações, que vêm das mais diversas fontes históricas.
Podemos então duvidar de todo o passado, mas como já aqui afirmei, não é tanto a História que interessa, é a história, seja ela falsa ou verdadeira, relativamente a factos, desde que seja consistente.
E o difícil é mentir tanto sem entrar em contradições... ou em absurdos.
Tal como a Inglaterra insistiu em Cook como descobridor da Austrália, do Havai, etc... num absurdo completo, também não é nada difícil supor que insistam nuns tantos outros "descobridores", como Newton, que foram apenas figurantes num teatro.

A mim o que me interessa é a existência do "teatro", e não tanto saber quem é o autor da peça.

Abç

De João Ribeiro a 23.11.2016 às 09:27

Um pouco de graça para não cair em mais repetição.

É portanto como uma moça que con-fio dental mostra tudo menos o centro da questão. Se esse Abade LeFranc fosse francamente franco não mentiria e todo este "Pouer" maçónico seria facilmente "pulverizado".

Ab

De da Maia a 23.11.2016 às 18:02

;)
Très peu il peut, mais il a pu voir le pouvoir que pue, voir que le pouvoir pourrait être pourri.

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