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Ainda no seguimento do postal anterior sobre Ludovico Varthema e o seu Itinerário, pela página da wikipedia segue-se a um manuscrito da Biblioteca Casanatense, biblioteca italiana que tem um original português com diversas gravações reportando os povos com os trajos típicos desde o Médio Oriente ao Extremo Oriente.
Num comentário mais extenso, que enviou por email, Djorge dá justamente conta deste manuscrito, datado de circa 1540, juntando informação adicional, que transcrevo em baixo.


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Para adoçar, mais ainda, a vontade de ler este belo itinerário, segue o link para o Codex Casanatense MS. 1889 (mais um documento Português a habitar em terras alheias), na Biblioteca Casanatense em Roma.
 http://opac.casanatense.it/Record.htm?idlist=&record=19917226124917354089

METADADOS
Data: A wikipedia justifica assim a data de 1540 
Several of its inscriptions provide information as to the date it was made, namely the allusion to the Siege of Diu of 1538, but the absence of any mention of the Japanese, whom the Portuguese contacted in 1541-43. It is therefore possible it was made circa 1540
Autor: A mesma wikipedia “The creator has not been identified and many hypotheses have proven inconclusive” 
 https://en.wikipedia.org/wiki/Códice_Casanatense

ITINERÁRIO ACOMPANHADO DA DISCRIÇÃO VISUAL NO CODEX 1889
Ao leitor do itinerário, poderia parecer-lhe que Ludovico certamente preencheria os requisitos para ser o autor das pinturas, ou que de alguma forma, estas poderiam ter sido executadas a seu pedido para ajudar o seu relato. No entanto, os factos não são favoráveis a esta tese. As imagens não constam no dito itinerário, não é conhecida a veia artística plástica de Ludovico, e a sua morte em 1517 é anterior à data atribuída às pinturas. Factos que, neste momento, são suficientes para, à partida, afastar o seu nome da autoria deste manuscrito. 

SOBRE AS PINTURAS (AUTOR/PINTOR)
A ideia transmitida em algumas teses recentes aponta para as seguintes origens:
"The artist’s complete reliance on faces in three-quarter profile indicates he was trained in a Sultanate studio further north, at a date earlier in the century than that of the Codex. Either Mandu or Gujarat would seem to be the most obvious candidates for where he received his training.” …” We would suggest that he must have moved to Goa soon after his initial training in order for him to become acclimatised to the different female costumes of the Deccanand the south, so that they become a stereotyped part of his output.
ou outra:
"Our artist has been divorced from the elegant stylisations of the human figure seen inthe Sultanate schools”… “and trained to draw by his Portuguese patrons in a more naturalistic European manner.”…”this artist’s most extensive landscape painting, which with its broad strokes of brushwork, and alert and intelligent peasants, is surely not too far from what was going on in the early Mughal school."
in» http://tiny.cc/b4qwdz
Ambos os casos apontam para uma origem Indo com influência mista Cristã e Persa.
Já Maria Manuela da Mota em 2001 afirmou confiantemente que o autor seria de origem Indo-asiático (Persa?) tendo como base o estilo artístico.

SOBRE O PATRONO (CLIENTE)
Noutro estudo, Rui Manuel Loureiro em 2013 publicou in “Anais de Historia de Além-mar” a seguinte tese INFORMATION NETWORKS IN THE ESTADO DA ÍNDIA, A CASE STUDY: WAS GARCIA DE ORTA THE ORGANIZER OF THE CODEX CASANATENSE 1889? 
Cujo abstrato cito:
Several Portuguese writers working in India during the sixteenth century on specific cultural projects were able to mobilize important information networks across maritime Asia. Outstanding examples, among many others, include Duarte Barbosa, Gaspar Correia, Dom João de Castro and Garcia de Orta. Each one of them worked and wrote under diverse circumstances, using different methods and receiving dissimilar support from the Portuguese authorities. But they were able to muster many of the official textual resources available from the Estado da Índia, while at the same time availing themselves of the collaboration of countless European and Asian informers.

FANTASIAS
Relembrando a teoria maioritariamente aceite sobre a origem do autor/pintor das imagens no Codex 1889, juntando a possibilidade ter sido Garcia da Orta o “Cliente” e misturando com a vontade e desejo renascentista de passar conhecimento a livro, especulo um pouco sobre a data de origem de todas as folhas do Codex. Se algumas (as que nitidamente são menos cuidadas no seu traço, as das últimas páginas do manuscrito), poderiam ter sido adicionadas depois, mais tarde, por outro autor que não o original. Fantasio se ter-se-á encontrado este manuscrito já parcialmente preenchido?
Considerando outros possíveis autores contemporâneos com a mesma experiência exploratória de Ludovico, não deixa de ser interessante fantasiar o que terá acontecido ao companheiro de viagem “Persa”, que acompanhou Ludovico até à data em que deserta o Samorim para os Portugueses na India.
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Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 02:49


10 comentários

De Anónimo a 12.10.2019 às 22:15

Será que os Portugueses povoarem aquela área nos séculos XV e XVI?

Voltemos a João Fagundes e ao Tratado das Ilhas Novas e Descobrimento Delas e Outras Cousas, escrito (aparentemente) pelo Capitão Donatário da Ilha da Madeira (posso estar enganado) Francisco de Souza por volta de 1570 (?).
Que diz algo como: Alguns nobres se juntaram em Viana do Castelo, tendo informação da Terra Nova dos Bacalhaus, que estavam determinados a povoá-la e que receberam licença do Rei para tal...
Quantas vezes isso aconteceu?
Não continua o tal escrito com algo como: Achando aquela terra muito fria, foram descendo até que se instalaram noutra e ainda hoje lá estão porque foram encontrados à pouco pois já se tinha perdido o contacto com eles, e estão no Cabo Bretão?

Não havia umas famílias nobres do Minho que tinham no seu registo que alguns partiram para a América do Norte em finais do séc. XV / inícios do XVI?

Que podemos nós saber do povoamento Português nessa zona, se é que realmente foi povoado? E toponomia? E sinais? Portugal Cove, etc...

E agora vou ser ainda mais bruto, que o tempo escasseia cada vez mais:

Aparentemente João Álvares Fagundes foi o descobridor da Nova Escócia.
(O "Gauttier" a que me referi neste "escrito" é o senhor Jacques Cartier, lol... Tenho me referido a ele como "Gauttier")

Álvares Fagundes parece ter descoberto a "Baía de Fundy", entre outras zonas daquela parte do mundo. A wikipedia diz que as ainda hoje Francesas ilhas de Saint Pierre et Miquelon à beira da Terra Nova foram descobertas por Fagundes e chamadas de "Ilhas das Onze Mil Virgens".

Álvares Fagundes, parece ter chegado inclusive ao fim da Baía de Fundy*, entre a Nova Escócia e Nova Brunswick, províncias do Canadá actual.

Atentemos para o nome da área mais ou menos pantanosas e mais ou menos pontuada por uma extrema variabilidade das marés.
Chamam-se hoje "Tantramar Marshes", ou Pântanos de Tantramar. Que nome esquisito para a língua Inglesa... Fui ver a explicação:

A Wikipedia diz que o nome derive do Francês do tempo da colonização Francesa da Acádia: "Tintamarre", falam de cenas inglesas como "din" e "racket" e depois explicam que "Tintamarre" é em referência ás barulhentas aves, provávelmente gansos e patos, que habitam a zona.

Pois como é que o Inglês toma "Tantramar" desde "Tintamarre"?

Como é que o Marrrrrrre francês passa par um simples mar Inglês? Como é que o Tinta passa para Tantra, como aparece o r???

Já, se imaginarmos por ventura que aquela zona era de povoação Portuguesa e se chamava "Entre Mar" poderia facilmente passar para o Inglês "Antremar"
Repare-se na perfeita terminação da palavra em Inglês e em Portugês nas pronúncias das duas línguas:
"Entre Mar" vs "Tantramar" e o aberrante Francês "Tintamarre" que não só tem uma terminação bastante diferente como lhe falta o som tr.
O T no início derivaria da expressão The Entre Mar. Que deveria ficar algo como Dantramar mas que por algum motivo passou a T.
Entre Mar (o Inglês diria) "Antramar" e acrescentaria o som d/t do "the" Dantramar/Tantramar.

Que mais motivos tempos para acreditar na origem Portuguesa do nome do povoado?

É que a zona em questão, os Pântanos (Marshes) de Tantramar, ou de Entre Mar ou de Entre-O-Mar que seria dito em Inglês como qualquer coisa como "The" Antr-a-Mar...

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