O texto anterior sobre as antiguidades indonésias, ia na linha da tese que temos vimos a desenvolver há mais de um ano - a origem da maioria das raças humanas na Oceania, com duas grandes vagas de migração para a Europa, Ásia, e depois para a América.
Antes de ter concluído a muito provável origem das migrações na região da Melanésia, já o José Manuel me tinha chamado a atenção para o seu importante texto:
Ora, tivesse-me eu lembrado deste texto do José Manuel, e certamente que o teria incluído no anterior, onde falei de Timor. Porém, as coisas escapam da memória, e se fiz aí um comentário sobre os óculos do Bornéu, já não me lembro em que texto li isso (... mas lembro que tinha sido surpresa dos navegadores portugueses na chegada ao Bornéu verem os óculos popularizados nesse reino).
Este é sempre um problema de atenção - as informações nem sempre nos chegam no momento em que estamos mais predispostos a lhes dedicar maior cuidado.
Ontem, a informação sobre estas cavernas de Maros, na Indonésia, surgiu em catadupa na comunicação social, por exemplo aqui:
... notando que a primeira imagem parece de gado caprino, e a segunda de gado bovino.
Podemos ver nas notícias que a datação varia entre 35 e 40 mil anos, sendo assim o valor 39 900, uma precisão bizarra do jornal suiço, pois estas datações não funcionam ao tom do relógio suiço.
O caso das pedras com 120 milhões de anos é até demasiado grotesco (literalmente) para ser comentado. Mesmo 120 mil anos são uma passagem de tempo que ninguém concebe seriamente. Quando se acende o génio humano, é preciso justificar-se o que as pessoas faziam, tendo em conta os últimos 120 anos. Portanto, ou as lâmpadas estavam fundidas, e não acendiam nenhum génio, não havendo aí humanos com registos claros de inteligência, ou então falamos de uma evolução cada vez mais rápida - até ao ponto em que pode ter sido devastada por acidentes naturais, ou pela sua inconsciência. Se foi mais por razão de inconsciência, o mais natural é um recomeçar repensado, guardando o génio na lâmpada, para evitar novos problemas. Esse foi um claro papel dos educadores religiosos, dos xamãs - criar medos, criar condicionantes, conforme
já aqui mencionámos. Manter os medos, para evitar que o rebanho se transformasse numa alcateia de lobos.
Encontrar relevo numa pedra que "parecem os montes Urais", pois não deve ser difícil, e até se podem encontrar relevos com os contornos da Irlanda numa nuvem vulgar. O resto é folclore.
Interessa aqui não tanto a natureza da informação, mas por que razão a creditamos, ou seja, por que razão acreditamos.
A informação é um processo social, e distinguem-se dois tipos:
--- a informação auto-suficiente,--- a informação insuficiente.A auto-suficiente é aquela em que o receptor a pode verificar com os dados que lhe são disponibilizados. É essa informação que aqui coloco. Coloco os dados e como chego às conclusões.
Há ainda uma informação auto-suficiente experimental, em que o receptor é convidado a experimentar uma receita - os primeiros cientistas foram, sem grandes dúvidas, cozinheiros(as).
Ora se uma receita culinária está ao alcance do supermercado, não há supermercados científicos onde se possam comprar os ingredientes para fazer experiências científicas... que são mais perigosas do que errar no tempero do sal.
Assim, dentro da informação experimental, a mais complexa não é auto-suficiente, o receptor tem que acreditar nos resultados, e a ciência perde o seu carácter absoluto, para passar a ser uma religião, uma fé na comunidade.
Acontece assim com os processos de datação. Os arqueólogos podem dizer 40 mil ou 10 mil (era a datação anterior atribuída aos mesmos desenhos), e o público pode acreditar ou não. Não terá informação suficiente para disputar o resultado, apenas as suas contradições, o seu bom senso, face a outro conhecimento.
Quando formulei a hipótese de que fazia sentido a vinda da Melanésia, não foi por acreditar nos estudos haplogrupos, nem por acreditar que haviam 800 línguas na Papua, nem por mais nenhuma razão particular entre muitas. O que interessava é que a soma de razões diferentes ia apontando no mesmo sentido. Quando muitas razões distintas apontam para o mesmo resultado, é menos provável que haja ali grande vício informativo, menos provável ainda quando resulta também de uma conclusão lógica (darwiniana) - as ilhas têm maior apetência para serem o berço de maior diversidade genética. Sobretudo quando estamos numa região que estaria sujeita à transição entre ilha e continente pelo baixo nível do mar.
Por isso, o que traz de novo esta notícia?
Não é a suspeita de que havia pinturas com 35 mil anos na Melanésia, porque isso já o José Manuel reportara sobre Timor. A novidade é que este facto ganhou credibilidade na comunidade, sendo propagado por importantes órgãos de comunicação. Assim, ficamos também a saber que isto de uma pintura rupestre ter 10 ou 35 mil anos, depende muito de quem faz o processo de datação, datação que está longe de ser uma ciência muito exacta. Se já se apontavam essas datas para Lara Hara, o facto parece ter sido mais negligenciado do que este.
E a pintura de mãos em cavernas dessa zona não é aqui novidade, pois
já tinhamos falado de Awin Cave, na Nova Guiné:
Certamente que estas "mãos" têm datação mais recente - até pelo colorido interessante, mas podemos entender que isso não é assim "tão científico". Interessa que as manifestações culturais primitivas se espalharam por todo o planeta - desde cavernas na Nova Guiné à Europa, e até à Argentina (
Cueva de las Manos). Como já vimos, não apenas neste aspecto rupestre, mas até na questão dos dólmens, dos menires, e da mumificação. Portanto, a datação acaba por ser algo secundária, se supusermos que foi uma população com a mesma origem que produziu a mesma expressão cultural.
Finalmente, regressando à informação, é conveniente ser cauteloso com informação insuficiente.
Uma medida para a informação insuficiente é a sua possibilidade de falsificação, ao contrário da auto-suficiente. Somos por educação demasiado crédulos com muitas fontes de informação que se vieram a revelar igualmente dignas de suspeita.
Por exemplo, a história desde que há jornais, está cheia de notícias falsas, algumas das quais se destinaram a convencer populações a alinhar numa causa, numa guerra, por via de notícias que foram depois reconhecidas falsas (o caso das armas de destruição massiva no Iraque é só um exemplo, até ao ponto de
não sabermos se alguma ameaça tinha existido
ou não).
Convém notar que o próprio desmascarar, e levantar suspeita, sobre notícias fabricadas, é uma forma de manipulação - porque torna as pessoas mais desconfiadas, e com maior sentimento de isolamento num mundo de falsidades.
A informação insuficiente é inevitável, porque é óbvio que há situações que não podemos verificar, apenas temos um "confio" com um fio muito frágil, que se rompe pela mentira. E a mentira nem sempre é propositada, pode resultar de uma diferente interpretação da comunicação, por isso os canais devem estar abertos para aclarar.
O
crédito nem sempre deve ser um "crê dito", e a
falsidade nem sempre é uma "falsa idade" das datações... tudo pode resultar de simples erro. Podemos sempre ser mais
tolerantes, mas não tolo-errantes, aceitando persistentes erros e propositadas mentiras.