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Retomo o tema da Cola do Dragão, a que os espanhóis chamam La Cola del Drágon, o que significa "Cauda do Dragão". Na versão inglesa anterior coloquei o termo "Dragon Cola", por não me parecer clara qual a melhor tradução... só o significado espanhol de "Cauda" para "Cola" parece apropriado (na idade moderna, no português, esse significado deve ter-se perdido).
No entanto, nem é claro que essa Draco-Cola (usando uma versão latinizada) fosse exactamente o Estreito de Magalhães... conforme podemos ver no mapa seguinte, quer a parte sul da América, quer a península que emerge da Antártida têm um aspecto que justificaria o nome "Cauda de Dragão".

É claro que a contracção do termo Draco-Cola leva a Dracola...
O célebre personagem de Bram-Stoker era inspirado em Vlad III Dracula, cujo pai em 1431 teria aderido à Ordem do Dragão (criada pelo Imperador Sigismundo em 1408). A presença do mapa antigo, do Infante D. Pedro, que teria a referência à Cola do Dragão, é de 1428, de acordo com o relato do séc. XVI de António Galvão. Reparemos num dos símbolos da Ordem do Dragão:
Insignia da Ordem do Dragão

Podemos comentar o pormenor curioso de na Insígnia da Ordem do Dragão, a Cauda fechar, amarrando o pescoço. Há muitas maneiras de representar dragões, mas não com esta utilização da Cauda... isto dá um sentido seguro na designação Draco Cola se referir à cauda. Notamos ainda que há uma folha nas costas do dragão que poderia passar por um mapa da América do Sul, com uma cruz. O combate da Ordem do Dragão seria para manter esse círculo fechado, amarrando o dragão americano... talvez o medo de que o sonho americano se tornasse num pesadelo de políticas draconianas.

As curiosidades não ficam por aqui... para além de Luís de Camões e Ana Mendonza de La Cerda, também Oswald von Wolkenstein, um poeta viajante que participou na tomada de Ceuta, teve essa particularidade de ser zarolho direito. Foi nomeado ao mesmo tempo que Vlad II Dracula, em 1431, para a Ordem do Dragão. (*)
.. ..
Caolhos direitos: Camões, Ana de La Cerda, Wolkenstein

Sobre a história malfadada de Bram Stoker, sobre o mais famoso membro da Ordem do Dragão, o Conde Drácula... a sua ligação a vampiros, enquanto elite supra-humana que se alimentaria do sangue humano para manter a sua imortalidade, tem assim um significado próprio! É difícil perceber se haverá um lado mau ou bom, no meio de toda esta história vampiresca... A cauda do dragão foi solta, e o sonho americano libertou-se para a descoberta europeia. Por outro lado, de acordo com a fábula de Stoker, muito popularizada na Inglaterra imperial, esses vampiros da ordem draconiana, apesar de mortos ainda existiriam nas remotas paisagens da Transilvânia. Restou-nos uma efabulação permanente e as políticas draconianas.

______________________________________________
(*) Nota (10.07.2016):
Suprimi uma frase acerca de uma sugestão na Wikipedia, entretanto retirada:
Acrescenta-se a isso o facto do Infante Dom Pedro, pelos seus serviços ao Imperador Segismundo, ter sido nomeado membro da Ordem do Dragão, tendo usado a sigla DESIR que significaria (sugestão na wikipedia)
D.E.S.I.R.: Draconis Equitas Societas Imperatur et Regis
Sociedade Imperial e Régia dos Cavaleiros do Dragão
Como foi notado entretanto (ex: David Soares), este acrónimo não parece corresponder a nada existente sobre a Ordem do Dragão, cujo nome em latim seria Societas Draconica seu Draconistarum, e assim pode ser algo simplesmente inventado para ligar à divisa DESIR. 
No entanto, penso que uma ligação de Avis à Ordem do Dragão faz sentido, quer pela participação de Wolkenstein na tomada de Ceuta, quer pela recompensa de Treviso, que o Imperador Sigismundo fez ao Infante D. Pedro.
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publicado às 14:35


21 comentários

De Alvor-Silves a 10.07.2016 às 17:15

Cara Fernanda Durão, obrigado de novo pelos comentários.

Os cartagineses são praticamente contemporâneos de Roma, e sobre a formação das duas metrópoles, com uma diferença de poucas décadas falei há pouco tempo:

http://alvor-silves.blogspot.pt/2016/06/arrisca-seguir-risca.html

A minha perspectiva é um pouco diferente, e sendo claramente impraticável estar a ler tudo que fui escrevendo, vou tentar grosseiramente dar-lhe um pouco a ideia geral.

Nos textos "Estado da Arte (1-5)" que escrevi há um ano (Julho e Agosto de 2015):

http://alvor-silves.blogspot.pt/2015/07/estado-da-arte.html

procurei alguma continuidade entre uma civilização que foi capaz de dominar a Arte humana no tempo da Idade do Gelo, e a sua evaporação aparente nos milénios seguintes.

Quando temos referências aos Fenícios, apesar de muito antigas, elas não são anteriores às de civilizações "clássicas", como os Egípcios ou Sumérios. De certa maneira, os Gregos admitem uma precedência Fenícia relativamente a si, de onde teriam até herdado o alfabeto.

Só que... e isto é suficientemente estranho, Estrabão fala dos Turdulos Velhos, habitantes acima da zona dos Cónios, a quem atribui escrita desde 6 mil anos antes de Cristo. Falei mais concretamente sobre isto aqui:

http://alvor-silves.blogspot.pt/2016/02/dos-comentarios-19-ibn-eriq-oriq.html

em particular que os Turdetanos, Tartéssios, Cónios, seriam descendentes mais novos que não partilhariam da política de ficar na sombra... seguida pelos Turdulos Velhos.
Essa parece-me ter sido a política geralmente seguida pelos druidas Celtas, uma política eremita, de influência nos bastidores... no fundo uma política de inspiração muito mais feminina, trazida dos tempos das velhas Vénus, em sociedade matriarcal.

Conforme também li no que escreveu, é minha opinião que houve uma inundação de territórios, pelo degelo, após a Idade do Gelo, que destruiu as principais cidades costeiras desse anterior poder "celta", atlântico, de que os Turdulos Velhos seriam os principais herdeiros directos.

Deixo mais dois links:
http://alvor-silves.blogspot.pt/2016/01/estoria-alternativa-4.html
http://alvor-silves.blogspot.pt/2016/01/dos-comentarios-17-s-s-jesmond.html

que penso que podem explicar melhor o que penso.

Só um pequeno esclarecimento. O facto de não a acompanhar nas suas associações de geoglifos, não significa que não tenha apreciado e dado a devida atenção ao que escreveu, conforme deixei claro no que escrevi ontem:
http://alvor-silves.blogspot.pt/2016/07/dos-comentarios-21-da-coca-cola.html

e penso ainda seguir, acrescentado algo de ouvido... no sentido em que a palavra grega Ofio, significando Cobra ou Serpente, é muito convenientemente apropriada ao português, já que uma cobra tem forma de "fio", "ofio".
Para mais, a diferença entre "Braga" e "Draga", é pequena tal como será próxima a localização dos Draganos. Mas aqui já é preciso ter algum cuidado, e não começar a querer ver o que nos interessa.
Porque também me interessaria aqui ligar Corda a Draco, e ainda que haja as mesmas letras, recuso o anagrama simples. Ainda assim, e atendendo a que as vogais eram suprimidas, passar de CRD para DRC, é uma questão de direcção de leitura... que mudou (até os Romanos escreveram inicialmente da direita para a esquerda).

Hoje tive que colocar aqui uma nota relativa ao DESIR, porque descobri que a associação feita na Wikipedia à Ordem do Dragão, não era baseada em coisa nenhuma... foi mera invenção, que foi repetida por muitos que a leram, sem confirmar - eu incluído. Ora, devemos evitar espalhar lixo, e tentar separar o trigo do joio, tanto quanto possível.

Abraço,
da Maia

De João Ribeiro a 12.07.2016 às 14:54

Ofis, O POVO que venerava as serpentes e que exterminou os Estrímnios. Parece que o Grifo ou Dragão da Casa Real Portuguesa assim como o símbolo do Porto será uma reminiscência desse povo...

http://www.vortexmag.net/antes-da-lusitania-quando-portugal-se-chamava-ofiussa-e-nele-viviam-os-ofis/

Ab

De Alvor-Silves a 13.07.2016 às 03:40

Ou isso, ou até temos o dragão como símbolo na bandeira do País de Gales... como pudemos ver no Euro 2016. E, como curiosidade engraçada, o Fernando Santos até se referiu "a ser simples como pombas e prudentes como serpentes", ao que não deixei de achar alguma piada, dado que tinha acabado de escrever sobre este tema de serpentes, aqui trazido pela Fernanda Durão.

Abç

De João Ribeiro a 13.07.2016 às 11:20

A pomba associo imediatamente ao culto do espírito santo e a serpente mais uma vez ao povo Ofis. Pois é, o nosso passado não desaparece antes anda entre nós por vezes encoberto, disfarçado, desvanecido mas está presente. A questão do dragão faz-me também recordar o dragão militar, título militar que ainda hoje em dia é usado.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Drag%C3%A3o_(militar)

Cumpts para o caro Da Maia e para a Fernanda Durão.

De João Ribeiro a 14.07.2016 às 10:03

Depois ocorreu-me se não seriam estes Ofis a tal ascendência céltica que os Galegos reclamam... GÁLia / País de GALes / GALiza-GALlécia / PortuGAL / GALo (como símbolo, como por exemplo Galo de Barcelos) / Santo GRAAL / GALaaz . Pelo menos existe uma certa similaridade de palavras que podem significar uma origem comum. Enfim, just wondering.

Ab

De Alvor-Silves a 18.07.2016 às 06:37

Complicados estes últimos dias, com diversas ocorrências sangrentas.

O estandarte do Dragão era também usado pela Cavalaria Romana:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Drag%C3%A3o_(estandarte)

e por isso a própria evocação dos Draconários:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Dracon%C3%A1rio

pode estar na motivação da designação das tropas que tomaram depois o nome de "dragões".
É ainda curioso a sua origem estar relacionada com as tropas da Dácia (Roménia), já que "cola" o termo do Drácula com esta origem do símbolo pelos antigos cavaleiros romanos.

Pois, é uma boa dica de observação...

Abç

De Alvor-Silves a 18.07.2016 às 06:48

Há, há diversos pontos comuns nessa ligação de galos e gales... que já andei por aqui a fazer, por diversas vezes.
Por exemplo:
http://alvor-silves.blogspot.pt/2014/09/galos-de-gales.html

não esquecendo que há uma Galícia na Ucrânia:

http://alvor-silves.blogspot.pt/2011/06/pontes-o-lethes-do-esquecimento.html

ou ainda:

Conforme já referimos, esta seria a origem comum do nome da Galiza, da Gália, de Gales, da Galécia ucraniana, e depois da Galácia, na Ásia Menor. Toda esta região seria então navegável, e este ponto comum seria a base de uma cultura celta que ia buscar o seu passado anterior à invasão ariana. O seu porto principal seria, pois, um porto-galo, nos limites anteriores às colunas de Hércules, numa certa Tróia.

http://alvor-silves.blogspot.pt/2014/01/estoria-alternativa-2.html

Mas parece-me que os galos não são necessariamente os mesmos que as serpentes... os ovos podem ser parecidos, mas tenho que ler melhor o tal texto do Avieno.

Abç

De João Ribeiro a 02.08.2016 às 12:28

Boas caro Da Maia,

Ah boa... Porto-galo, como em Portugal, não tinha feito essa associação, fixe. Ninguém o bate nas suas associações hifenizadas :) Tenho de ler esses seus textos.

Agora... Existe uma ligação, pelo menos imaginária, entre galo e serpente (além da compatibilidade no horóscopo chinês), o Basilisco. Uma serpente com cabeça de galo.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Basilisco

Eehhe que trapalhada.

Ab

De Alvor-Silves a 02.08.2016 às 17:13

Caro João Ribeiro,
pois e eu de certa forma estive a responder aos postais mais recentes, e em particular voltei a falar do Basilisco, na semana passada:

http://alvor-silves.blogspot.pt/2016/07/dos-comentarios-22-cobre-e-cobra.html

Provavelmente não reparou, o que é perfeitamente natural.

Abç

De João Ribeiro a 03.08.2016 às 09:00

Bom dia,

Realmente não tinha visto essa "continuação" (estive de férias 2 semaninhas. Estes assuntos de povos que por cá andaram interessam-me.

Ab

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