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Numa publicação da Presidência do Conselho de Ministros, em 1979, Manuel Fernandes Costa faz um resumo das 
Navegações Atlânticas no Século XV

É um texto com 117 páginas, fácil e convidativo a ler. Além disso, é informativo, indo um pouco fora da lengalenga comum, da cartilha oficial. 

Destaco as duas referências que faz ao mapa de Fra Mauro, onde na página 45 diz:
Na segunda metade do século XV, destacamos o mapamundi de Fra Mauro. Tem uma legenda que diz que osnavios portugueses atingiram mais de 2000 milhas alémdo estreito de Gibraltar… «por tal forma que, persistindoem seguir nesse caminho, chegaram a pôr a proa ao Sulquarta de Sudeste, ultrapassaram o meridiano de Tunis e alcançaram quase o de Alexandria, encontrando por todaa parte boas praias, com pouco fundo e navegaçãobastante boa, sempre sem tormenta»
e na página 55 insiste dizendo:
No mapa-mundi de Fra Mauro, elaborado em 1457 e 1459, em Veneza, por mandado de D. Afonso V, e que veio para Portugal, apresenta-se uma legenda no sudoeste da representação do continente africano. Diz que os portugueses chegaram a mais de 2 000 milhas além do estreito de Gibraltar. Sabe-se, por este exemplar, que Fra Mauro teve em seu poder novas cartas portuguesas, concluindo Jaime e Armando Cortesão dos seus estudos, que: «Reconhecemos, em abono dos críticos mais exigentes, que a aceitação da legenda, no seu extraordinário teor, oferece dificuldades, que é temerário incorporá-la, sem discussão à história. Mas mais grave se nos afigura eliminá-la sem apelo, quanto mais não seja como conjectura digna de porfiado estudo.»
Porquê estas palavras? Porque a legenda revela esta coisa espantosa: que antes de 1457 os portugueses teriam dobrado o Cabo da Boa Esperança. Ora o que estranharam os irmãos Cortesão, torna-se dia a dia mais claro, depois da certeza a que se chegou de que se realizaram viagens de portugueses no Índico, antes das de Bartolomeu Dias e Vasco da Gama. 
Este «torna-se dia a dia mais claro», que Manuel Fernandes Costa salienta é, claro está, uma afirmação para sorrirmos, passados mais 40 anos de longa escuridão.

Este é o pormenor da carta de Fra Mauro (meu sublinhado a amarelo) que fala dessas navegações:


Ao contrário dos irmãos Jaime Cortesão e Armando Cortesão, eu não reconheço coisa nenhuma em abono de nenhum crítico exigente, porque não é uma prova circunstancial isolada, é uma constante.
Aliás Fra Mauro, que também é exigente, diz pelo meio que não teve acesso às cartas que os portugueses fizeram... Nem ele, nem nós!

No contexto do Estado Novo, os Cortesão poderiam ter esperança de que houvesse alguma tentativa honesta de procurar desvelar o passado, e em Janeiro de 1979, com o governo de Carlos Mota Pinto, também ainda não se saberia bem a orientação que o regime seguiria... mas quando Luís Albuquerque começou a dominar o panorama histórico, deve ter-se percebido que a ordem era o "bico calado".
Havia um especial grupo de trolls de esquerda, destinados a ridicularizar o passado português, remetendo-o a uma conveniente "alucinação fascista", que conviria esquecer, por mandado... já sabe de quem... da nossa incansável maçonaria.

Esta como é óbvio, não é prova única, acrescem várias outras que fomos trazendo, e podemos citar aquilo que António Galvão referiu, sobre um mapa no cartório de Alcobaça que seria anterior a 1408.
Mesmo já tendo escrito num postal anterior, volto a citar:
No ano de 1428 diz que foi o Infante dom Pedro a Inglaterra, França, Alemanha, à casa sancta, e a outras daquela banda, tornou por Itália, esteve em Roma, & Veneza, trouxe de lá um Mapamundo que tinha todo o âmbito da terra, & o estreito do Magalhães se chamava Cola do dragam [Cauda do Dragão], o cabo de Boa esperança, fronteira de Africa, e que deste padrão se ajudava o Infante dom Anrique em seu descobrimento. Francisco de sousa tauarez [Francisco de Sousa Tavares] me disse que no ano de 528 [... 1528] o Infante dom Fernando lhe amostrara um Mapa que se achara no cartório Dalcobaça [de Alcobaça] que havia mais de cento & vinte anos que era feito, o qual tinha toda navegação da Índia, com o cabo de Boa esperança, como as de agora, se assim é isto, já em tempo passado era tanto como agora, ou mais descoberto. 

Repare-se que é mesmo dito que a carta seria "como as de agora", ou seja, como as do Séc. XVI, que no que diz respeito a África eram extremamente precisas. Os mais "exigentes", leia-se quiçá a soldo duma exigência maçónica, poderão dizer que nada disto é válido, etc, etc... who cares?

Serve este pequeno apontamento para ilustrar, mais uma vez, como para além de Faustino da Fonseca, Garcia Redondo, e aqui, Jaime e Armando Cortesão, Manuel Fernandes Costa, toda essa rapaziada, tal como o próprio Almirante Gago Coutinho, estiveram a pregar aos infiéis, sendo certo que seria sempre inúteis as suas tentativas, face à santa inquisição, digo, face à crítica exigente.

Basta pensar um pouco, fazer as contas, como sugeri, para ver que mesmo a pé, pelas praias, chegava-se ao Cabo da Boa Esperança em pouco mais que um ano, e sem grandes pressas...

Quais grandes cabos, difíceis e mostrengos?
Os cabos foram cabos dos trabalhos, para conseguir as permissões de exploração, mas quanto à via de facto, citamos de novo Fra Mauro: "encontrando por toda a parte boas praias, com pouco fundo e navegação bastante boa, sempre sem tormenta". Basta pensar que os cabos complicados, deixaram de o ser assim que foram domesticados... ou seja, "passados".

Finalmente, apenas para esclarecer que 2000 mil léguas portuguesas eram mais de 12 000 Km, o que corresponde bem com a distância à Cidade do Cabo que serão 11 mil Km.
Além disso, passar o meridiano de Tunis, significava ter chegado às ilhas de S. Tomé e Príncipe, mas estar perto do meridiano de Alexandria significava ter passado o Cabo da Boa Esperança e ter-se ficado pelo Rio do Infante... curiosamente foi o que fez depois a viagem de "Bartolomeu Dias".

Os meridianos de Tunis e de Alexandria, mencionados por Fra Mauro.

Portanto, e citando Pedro Nunes em 1537... dizia ele:
E fizeram o mar tão chão que não há hoje quem ouse dizer que achasse novamente alguma pequena ilha, alguns baixos, ou se quer algum penedo, que por nossas navegações não seja já descoberto.
Ora manifesto é que estes descobrimentos de coisas, não se fizeram indo acertar, mas partiam os nossos mareantes muito ensinados e providos de instrumentos e regras de astrologia e geometria, que são coisas que os cosmógrafos hão-de andar apercebidos, segundo diz Ptolomeu no primeiro livro da sua Geografia. Levavam cartas mui particularmente rumadas e não já as que os antigos usavam, que não tinham mais figurados que doze ventos e navegam sem agulha.
Mas, enfim, Pedro Nunes, Jaime Cortesão, Armando Cortesão, Gago Coutinho, serão figuras "pouco credíveis", quando confrontados com os membros dos partidos, dos sindicatos, da maçonaria, os donos das editoras, os intelectuais de pacotilha, os anónimos burocratas, etc, enfim, todos esses grandes vultos da mediocridade outorgada, que decidem a "verdade chancelada" pelo politicamente correcto... ou como Mao Tsé Tung lhe chamou - Revolução cultural.

Em suma, não devo escrever estas coisas sem tomar antes um calmante...

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publicado às 07:59


26 comentários

De Anónimo a 12.07.2020 às 16:51

Não li nada ainda.
Vim só largar aqui algo que podem achar interessante.

Estando eu a fazer uma investigaçãozinha relativamente ao Brasil, mais própriamente à Ilha de Itamaracá, a Norte do Recife, no Nordeste Brasileiro, encontrei o seguinte parágrafo na wikipédia relativamente à História da Ilha de Itamaracá:

"Os primeiros habitantes seriam náufragos, havendo também registros sobre a passagem dos portugueses João Coelho da Porta da Cruz e Duarte Pacheco Pereira, em 1493 e 1498, respectivamente.[10][11]"

https://pt.wikipedia.org/wiki/Ilha_de_Itamarac%C3%A1#Hist%C3%B3ria

Ora, isto antecede a descoberta oficial do Brasil em 7 e 1 anos.
Mas fui seguir as fontes... fontes oficiais do governo Brasileiro...

A primeira fonte refere-se a uma espécie de banco de dados da História dos Municípios Brasileiros. Dados oficiais do governo Brasileiro, claro está. Encontrei isto:

"Itamaracá abrigou um dos mais antigos núcleos habitacionais da colônia portuguesa , já que remontam a 1508 as primeiras referências a essa ilha. No entanto , existem relatos (Documentação Territorial Brasileira , do IBGE) da presença de náufragos portugueses e piratas franceses nessa ilha , antes mesmo do descobrimento oficial do Brasil. Informa-se até o nome de dois portugueses (João Coelho da Porta da Cruz e Duarte Pacheco Pereira) que teriam estado no Brasil em 1493 e 1498 , respectivamente."

http://www.bde.pe.gov.br/visualizacao/Visualizacao_formato2.aspx?codFormatacao=745&CodInformacao=915&Cod=1

Depois, a outra fonte era uma espécie de "biblioteca" quiçá digital... oficialmente relacionada com o governo do Brasil relativamente à Ilha de Itamaracá:

"Segundo o 1º Processo Judicial, quando se discutia no Tribunal Bayone, na França, os crimes do Navio Lá Pélerino, nove anos antes do Descobrimento do Brasil (1491), portugueses “moraram na Ilha de Itamaracá e possuiam casas de alvenaria”. "

https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/dtbs/pernambuco/ilhadeitamaraca.pdf

Portanto, 9 anos antes da descoberta oficial do Brasil e 1 ano antes da "descoberta da América" por Cristóvão Colombo.
Interessantíssimo...

Não pesquisei mais, porque creio que o Alvor Silves é bem mais competente do que eu e também não tenho tempo... "já me estiquei como o caraças" em relação ao tempo, e continuo... mas vamos lá:

Bayonne é uma cidade costeira no País Basco Francês pouco após a fronteira entre em que o mar encontra os Pirinéus entre a França e o País Basco.
Quanto ao Navio Là Pélerino... não faço ideia.
Mas parece que houve um julgamento em Bayonne relativamente a crimes ocorridos durante uma navegação no Atlântico... e parece que isto aconteceu em 1491 e que alguém falou de que havia Portugueses a morar em casas de Pedra numa ilha de Itamaracá...

Itamaracá não é um nome muito comum.
De acordo com a wikipedia - e parece-me óbvio - é de origem Ameríndia Tupi e signica Ita (Pedra) mbaraká (chocalhar ou que canta).

Portanto os Índios Tupi - que aparentemente só existem no Brasil - chamaram a uma ilha em que segundo os Franceses havia Portugueses a morar em casas de Pedra, chamaram a tal ilha de Ilha das Pedras que cantam ou chocalham ou fazem barulho...
Isto quando os tupis, os Índios do Brasil, praticamente nunca tiveram casas de pedra.

Interessantíssimo.
Alerto que tenho tido dificuldades a publicar comentários neste blogue nos últimos dias.

Cumprimentos,
IRF

De Alvor-Silves a 12.07.2020 às 19:54

Transcrição da legenda (desde o princípio até meio):
-----------------
Molte opiniõ e leture se trova che ile parte meridional la q
nõ circunda questo md habitabile e temperato zona. ma
aldando molte testimoniãze i contrario e maxime qli i qual
la mai esta del Re de portogallo a mandato cule suo caravele
acerchar e veder a d'ochio. i qual dice haver circuito le spiaze de
garbi piu de 2000 mia oltra el streto de cibelter i tanto che a voler
seguir ql cami hano y venuto dar la pd a quarta d'ostro i ver sirocho
e p suo cudisio hano passato li dromo de tunisto e qsi son cõnti a ql d alexã
dria peuto trovato bone spiaze cũ puoco fondo e navegar assai bõ e sepre
seça fortuna. e i diti hano fato nuove carte de quel navegar. e hano posto
nomi nuovi a fiumee cossi cavi porti. di ql ne ho habuto copia.
-----------------

Tradução aproximada do anterior:
-----------------
Muitas opiniões e leituras se encontram que a parte sul
não circunda este mundo habitável e zona temperada. Mas
há muitos testemunhos em contrário e máxima qual será
a do Rei de Portugal que mandou que as suas caravelas
acercar-se e ver de olho. O qual diz haver circuito no espaço
de mais de 2000 milhas após o Estreito de Gibraltar e tanto que quis
seguir aquele caminho que foram dar à quarta parte do Austro e Siroco (ventos sul, sudeste)
e que ... passaram a linha de Tunis e quasi são chegados à qual de Alexandria
puderam encontrar bom espaço com pouco fundo e navegar muito bem e sempre
sem fortuna. E disse que fizeram novas cartas de navegar. E puseram
novos nomes aos rios e portos. Do qual não obtive cópia.

De Alvor-Silves a 12.07.2020 às 20:24

Caro IRF, muito interessante ter feito essa pesquisa e encontrado novas coisas.
Parece-me muito boa pista, mas curiosamente há um navio "La Pélerine" (aliás podem ter existido vários) que faz essa exploração na zona de Pernambuco, mas já em 1531.
Veja por exemplo aqui:
http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1645-64322018000100001

The second voyage is that of the French ship Pèlerine. Bertrand d'Ornesan, Baron of Saint-Blancard, funded the expedition to trade with the natives and establish a fort in Brazil to allow further commerce. The ship sailed from Normandy in 1531 with 120 men, goods to trade, and all the necessary materials to construct the fort. When the Pèlerine landed in Pernambuco, six Portuguese and a large number of natives attacked the French crew.

Até ao Séc. XIX a informação vinda do Brasil era de grande qualidade... acerca da actual, convém ter em atenção esta história que me parece ser ilustrativa.

Depois de falar algum tempo com uma senhora numa loja, onde estava a ver presentes, ela percebeu que eu não era brasileiro, e pergunta-me de onde vinha. Eu respondo, Portugal. E ela saiu-se com esta espectacular: - Ah é? E em Portugau cês falam português?

Os brasileiros são tão tristes com a ideia de que teria sido melhor se tivessem sido colónia holandesa ou francesa, que chega a meter dó, quando falam nisso. Isto poderá ainda vir de alguma ideia nesse sentido...

De qualquer forma, ainda podemos procurar melhor, para confirmar as fontes - nestas coisas não costuma haver fumo sem fogo...

Quanto às dificuldades na publicação no blog, tive-as durante anos e anos, e chegava a ser bastante "suspeito"... mas enfim, não convém ir por aí. Agora tem estado bastante bem. De qualquer forma, agradeço que me indiquem dificuldades, ainda que não possa fazer quase nada.

Cumprimentos.

De Anónimo a 14.07.2020 às 22:55

Comentarei noutro dia...
... falta de tempo para pesquisar e arguemntar.

Cumprimentos,
IRF

De Anónimo a 15.07.2020 às 17:23

Caro Alvor,

Começo por dizer que me ausentei um pouco do blogue, mas trago aqui um documento “recente” que pode iluminar um pouco a frase do (frade) quando o Alvor traduz (e eu componho com pontuação): "… e máxima (vontade), qual será? a do Rei de Portugal, que mandou <> as suas caravelas e ver de olho…".
Esta frase é muito intrigante, pois obviamente o frade não sabia os motivos da partida de tantas caravelas par o mar.
Como comprova isso, e outras "cousas" fica um documento que me chegou hoje por correio eletrónico vindo do portal "Academia" e que por ser um portal com entrada "limitada", partilho com um link público.

Título: Antecedentes da construção naval em Portugal
Autor: Rosa Varela Gomes
Link: https://bit.ly/3fxFAKq

Destaco na página 28, sobre o capítulo "Madeiras", o crescente desespero pela procura de madeira para construção naval, relembrando, que não seria pelo facto de não termos boa madeira pois eramos exportadores de madeira em tempos mais remotos, mas sim pelo crescimento avultado da construção naval, tudo isto antes de 1415:

“… D. Afonso IV, entre 1340 e 1353, autorizava que se mandasse cortar, e acarretar madeiras das “suas matas de Alcobaça”, para construir galés, tendo em vista defender o Reino e, ulteriormente, D. Fernando I, em 1377,alargava aquela concessão a todas as matas reais, isentando o pagamento de impostos (Marques, 1988, pp. 93,158; Reboredo e Pais, 2012, p. 34).
Aquele último monarca autorizou mesmo a obtenção de madeiras em propriedades do clero, o que deu origem a abusos por parte da população, conforme se verificou quando, em 1372, os abades do Porto se queixaram ao rei que os carpinteiros daquela cidade e de Gaia cortaram madeiras nas propriedades da Igreja, “autorizados por carta régia que lhes dá permissão para cortarem madeira a fim de construírem barcos e navios”, mas que depois a vendiam ou lhes davam outro uso (Devy-Vareta, 1985, p. 57).
Tendo em vista controlar a utilização de madeiras, em1378, o concelho de Loulé fixou regras para o seu corte (Devy-Vareta, 1985, p. 58)… ….A necessidade de madeiras para a construção naval era tal que fez com que D. João I autorizasse a obtenção, mesmo de madeira verde, nas matas de Leça, Peio, Caraboy e do Bispo, para remos de seus navios e seca do pescado ao sol e, ainda, para tingir redes, conforme lhe foi pedido pelos moradores de Buarcos (Marques,1988, p.203).
A madeira verde era empregue, apenas, nos remos das embarcações, dado que a sua utilização na estrutura daquelas reduzia a resistência e durabilidade…”

Voltando à dúvida do Frade Mauro, sim, é evidente que havia um propósito para mandar “el rey de Portugal” pegar nas suas caravelas, comprovar que o que os mapas mostravam, era exploração e comercio Português.

Outro aparte, deste documento, página 27 e 28, é o facto de existir um documento datado de 1 de Fevereiro 1478, que confirma a construção de caravelas, nos estaleiros da Pederneira, incompletas, quase como hoje se faz na construção naval, construíam-se os cascos em série na Pederneira, (provavelmente seriam rebocados a Lisboa) para ai serem terminadas.

Este aparte liga perfeitamente, com o outro pormenor de engenharia e design, já falados aqui no seu blog, com um registo documental, que fala do transporte de uma caravela desmontada no convés de uma das naus na segunda viagem de Vasco da Gama à Índia, e que terá sido montada na ilha de Moçambique. Sem falar das fortalezas e provavelmente as casas de pedra, mencionadas no comentário acima, pelo IRF.

Empurrar para o esquecimento global coletivo, toda esta evolução e avanços industriais, como algo secundário, fazendo o público em geral acreditar que do nada nos tornamos senhores dos mares, que foi um ataque a Ceuta que nos ensinou a construir naus, bateis, batelões, picotos, galés e caravelas, é de louvar.

E a mentira repetida passa a verdade!


Cumprimentos,
Djorge

De Alvor-Silves a 16.07.2020 às 06:08

Caro IRF,
já pesquisei um pouco mais sobre o assunto, e creio que este artigo


"O conhecimento pré-colombiano do Brasil pelos portugueses"
(https://www.researchgate.net/publication/322612340_O_conhecimento_pre-colombiano_do_Brasil_pelos_portugueses)
Thomaz O. M. Sousa em Revista de história 23(47):149, Junho 1961

responde a uma boa parte das questões.

Em primeiro lugar, o apontamento que descobriu parece-me bastante importante.

Em segundo lugar, se ler o início desse artigo do brasileiro Thomaz Souza, percebe-se que uma boa parte dos historiadores brasileiros tem seguido a linha anti-portuguesa, criticando os outros historiadores por serem coniventes com os colonizadores.

Para este Souza, que escreve em 1961, os portugueses eram chauvinistas que queriam ter o descobrimento de tudo... não interessava se isso seria verosímil ou não, o que interessava é que os historiadores do Estado Novo estavam a chatear o status-quo internacional, e um puxão de orelhas vindo do filho predilecto - o Brasil, iria causar mossa.

Estas coisas vão e vêm em vagas. No Séc. XIX, com Varnhagen, Candido Costa, etc, os brasileiros tinham uma atitude próxima de Portugal, algo que naturalmente veio a ser questionado pela geração seguinte... tal como será natural que neste século as coisas mudem.
Mas aqui a velha ordem e o status-quo internacional levam vantagem, porque é natural favorecerem descobrimentos não-portugueses, e os brasileiros que alinharem nisso ficam com as costas quentes, favorecendo teses pró italianas, francesas, holandesas, etc.

Num outro texto, este Souza é alucinado ao ponto de dizer que a ideia da circum-navegação de Magalhães seria ideia original de Américo Vespúcio... Para além que há esse fenómeno notável de Vespúcio ir quase como passageiro (como ele próprio reconhece) e ao mesmo tempo pretender que seria ele a comandar os navios portugueses onde ia.

Breve, em resumo:

1) Há uma carta de um Estevão Fróis que é apanhado pelos castelhanos na zona venezuelana, e que pede a D. Manuel para ser libertado, argumentando que já iam aquelas paragens os portugueses 20 anos antes ou mais, referindo o nome de João Coelho, das Portas da Cruz (sítio de Lisboa). Como a carta é de 1513, aparece a data 1493, para 20 anos antes.

Este dado parece que foi descoberto por Varnhagen, mas no texto dele não se referem datas, diz apenas que João Coelho teria explorado o Brasil antes de 1514.

https://books.google.pt/books?id=haRtjSPetfQC&pg=PA92&dq=João+Coelho+das+Portas+da+Cruz

2) O navio "La Pélerine" é o que eu referi antes, portanto de 1531-32. Os franceses acharam que podiam tomar conta da ilha em Pernambuco, e Pero Lopes de Sousa arrasou com a instalação. O barão francês que tinha patrocinado o empreendimento levou a coisa a tribunal.
Na argumentação judicial de 1539, em Bayonne, estavam dois juízes franceses e dois de Lisboa, sendo que estes referiram que:
- Há mais de 30 anos existia em Pernambuco fortaleza e castelo (ou seja, desde 1508, pelo menos).
- Os portugueses tinham lá morada há mais de 40 anos (ou seja, pelo menos, desde 1498).

Este argumento parece ser do historiador português Jordão de Freitas.

Mas os dois factos são separados.

Souza arrasa com ambos argumentos de forma "notável"
- como Estevão Fróis estava condenado, dizia o que lhe apetecia.
- Jordão de Freitas dizia que a fortaleza fora destruida em 1531, mas tinha sido em 1532.

Com argumentos destes, o status quo está bem entregue à bicharada.

Cumprimentos.

De Alvor-Silves a 16.07.2020 às 06:58

Caro Djorge, essa informação acerca da procura crescente de madeira, e da sua necessidade para efeitos de construção naval, é bastante relevante.

Contudo, também se poderia colocar a questão noutro sentido, já que aqui defendi que poderia haver exportação de pau-brasil por via de Portugal. Ou seja, se Portugal já tinha acesso a paragens longínquas, pode-se levantar a questão de que poderia fazer os navios com essas madeiras vindas de fora...
Isso seria uma dúvida legítima, mas creio que Portugal, mesmo no período dos descobrimentos, não usou desse dispositivo - as caravelas e naus portuguesas eram feitas de madeira nacional, na sua maioria. O eventual comércio do pau-brasil seria basicamente para "pinturas" e outras obras de dimensão menor, como móveis, etc.
Creio que não seria muito praticável a importação de grandes árvores...

Muito obrigado pela info complementar, e é claro esteja à vontade, pois este sítio não pede nenhuma fidelização aos leitores, e agradece os contributos.

Cumprimentos.

De José Manuel a 16.07.2020 às 13:45

Re: "Creio que não seria muito praticável a importação de grandes árvores..."

Ao desembarcar na Índia Vasco da Gama encontra um polaco judeu que falava português, era um escravo do Sultão e intérprete... as Naus portuguesas eram feitas com mastros das florestas polacas, não havia em Portugal árvores de porte para mastros das Naus, para as Caravelas sim,

o pinho-de-riga deve ter passado a autóctone no território continental português a partir da época dos descobrimentos… Portugal antes dos quiduchos romanos e moça-árabes era coberto de carvalhos anões, carvalhiça.

o que me leva a pensar que muito ainda se confunde alhos com bugalhos em Portugal :

Pinheiro-da-escócia
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pinheiro-da-esc%C3%B3cia

Le pin et le sapin donnent d'excellentes pièces de mâture ; les meilleurs pour cet objet sont les bois gras qui viennent de Pologne ou de Russie, et sont, spécialement, nommés bois ou “mâts du Nord” https://fr.wikipedia.org/wiki/Bois_de_marine#Bonnefoux1

De os portugueses importarem pinhos da Polónia para as naus perdi a referencia.

Cumprimentos

De Alvor-Silves a 17.07.2020 às 06:59

Sim, essa é uma informação complementar interessante.
No entanto, desde cedo, assim que começaram a descer a costa africana, teriam acesso a grandes árvores, de que a selva africana está cheia, especialmente em ambiente tropical.
Mas o transporte dessa mercadoria deveria ser pouco eficiente, face a uma possibilidade de importar a custo razoável, grandes pinheiros, que depois cultivaram.
Para a maioria dos trabalhos, desde que os templários aqui fizeram sede, com D. Dinis, apostou-se numa plantação em larga escala de pinheiros, que deveriam ser considerados como suficientes para os navios. Talvez se exclua nesse caso os mastros das maiores naus, mas a necessidade seria em quantidade reduzida, ou não demasiado grande...

Obrigado pela informação, que desconhecia.
Cumprimentos.

De Valdemar Silva a 17.07.2020 às 17:16

Tenho estado a pensar há vários dias e atendendo à tal ideia de fazer o percurso a pé, talvez a partir de Ceuta até Dakar, sempre pelo areal encostado ao Atlântico (o contorno das grandes lagoas e pântanos de Kihenifss não seria obstáculo) poderia ser possível, mas não se conhece quem o tenha feito, ou por grande dificuldade de concretização nunca ter sido pensado. Mesmo algumas localidades (duas/três) que aparecem na Mauritânia formaram-se por gente vinda em caravanas do interior.
Cumprts.

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