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Numa publicação da Presidência do Conselho de Ministros, em 1979, Manuel Fernandes Costa faz um resumo das 
Navegações Atlânticas no Século XV

É um texto com 117 páginas, fácil e convidativo a ler. Além disso, é informativo, indo um pouco fora da lengalenga comum, da cartilha oficial. 

Destaco as duas referências que faz ao mapa de Fra Mauro, onde na página 45 diz:
Na segunda metade do século XV, destacamos o mapamundi de Fra Mauro. Tem uma legenda que diz que osnavios portugueses atingiram mais de 2000 milhas alémdo estreito de Gibraltar… «por tal forma que, persistindoem seguir nesse caminho, chegaram a pôr a proa ao Sulquarta de Sudeste, ultrapassaram o meridiano de Tunis e alcançaram quase o de Alexandria, encontrando por todaa parte boas praias, com pouco fundo e navegaçãobastante boa, sempre sem tormenta»
e na página 55 insiste dizendo:
No mapa-mundi de Fra Mauro, elaborado em 1457 e 1459, em Veneza, por mandado de D. Afonso V, e que veio para Portugal, apresenta-se uma legenda no sudoeste da representação do continente africano. Diz que os portugueses chegaram a mais de 2 000 milhas além do estreito de Gibraltar. Sabe-se, por este exemplar, que Fra Mauro teve em seu poder novas cartas portuguesas, concluindo Jaime e Armando Cortesão dos seus estudos, que: «Reconhecemos, em abono dos críticos mais exigentes, que a aceitação da legenda, no seu extraordinário teor, oferece dificuldades, que é temerário incorporá-la, sem discussão à história. Mas mais grave se nos afigura eliminá-la sem apelo, quanto mais não seja como conjectura digna de porfiado estudo.»
Porquê estas palavras? Porque a legenda revela esta coisa espantosa: que antes de 1457 os portugueses teriam dobrado o Cabo da Boa Esperança. Ora o que estranharam os irmãos Cortesão, torna-se dia a dia mais claro, depois da certeza a que se chegou de que se realizaram viagens de portugueses no Índico, antes das de Bartolomeu Dias e Vasco da Gama. 
Este «torna-se dia a dia mais claro», que Manuel Fernandes Costa salienta é, claro está, uma afirmação para sorrirmos, passados mais 40 anos de longa escuridão.

Este é o pormenor da carta de Fra Mauro (meu sublinhado a amarelo) que fala dessas navegações:


Ao contrário dos irmãos Jaime Cortesão e Armando Cortesão, eu não reconheço coisa nenhuma em abono de nenhum crítico exigente, porque não é uma prova circunstancial isolada, é uma constante.
Aliás Fra Mauro, que também é exigente, diz pelo meio que não teve acesso às cartas que os portugueses fizeram... Nem ele, nem nós!

No contexto do Estado Novo, os Cortesão poderiam ter esperança de que houvesse alguma tentativa honesta de procurar desvelar o passado, e em Janeiro de 1979, com o governo de Carlos Mota Pinto, também ainda não se saberia bem a orientação que o regime seguiria... mas quando Luís Albuquerque começou a dominar o panorama histórico, deve ter-se percebido que a ordem era o "bico calado".
Havia um especial grupo de trolls de esquerda, destinados a ridicularizar o passado português, remetendo-o a uma conveniente "alucinação fascista", que conviria esquecer, por mandado... já sabe de quem... da nossa incansável maçonaria.

Esta como é óbvio, não é prova única, acrescem várias outras que fomos trazendo, e podemos citar aquilo que António Galvão referiu, sobre um mapa no cartório de Alcobaça que seria anterior a 1408.
Mesmo já tendo escrito num postal anterior, volto a citar:
No ano de 1428 diz que foi o Infante dom Pedro a Inglaterra, França, Alemanha, à casa sancta, e a outras daquela banda, tornou por Itália, esteve em Roma, & Veneza, trouxe de lá um Mapamundo que tinha todo o âmbito da terra, & o estreito do Magalhães se chamava Cola do dragam [Cauda do Dragão], o cabo de Boa esperança, fronteira de Africa, e que deste padrão se ajudava o Infante dom Anrique em seu descobrimento. Francisco de sousa tauarez [Francisco de Sousa Tavares] me disse que no ano de 528 [... 1528] o Infante dom Fernando lhe amostrara um Mapa que se achara no cartório Dalcobaça [de Alcobaça] que havia mais de cento & vinte anos que era feito, o qual tinha toda navegação da Índia, com o cabo de Boa esperança, como as de agora, se assim é isto, já em tempo passado era tanto como agora, ou mais descoberto. 

Repare-se que é mesmo dito que a carta seria "como as de agora", ou seja, como as do Séc. XVI, que no que diz respeito a África eram extremamente precisas. Os mais "exigentes", leia-se quiçá a soldo duma exigência maçónica, poderão dizer que nada disto é válido, etc, etc... who cares?

Serve este pequeno apontamento para ilustrar, mais uma vez, como para além de Faustino da Fonseca, Garcia Redondo, e aqui, Jaime e Armando Cortesão, Manuel Fernandes Costa, toda essa rapaziada, tal como o próprio Almirante Gago Coutinho, estiveram a pregar aos infiéis, sendo certo que seria sempre inúteis as suas tentativas, face à santa inquisição, digo, face à crítica exigente.

Basta pensar um pouco, fazer as contas, como sugeri, para ver que mesmo a pé, pelas praias, chegava-se ao Cabo da Boa Esperança em pouco mais que um ano, e sem grandes pressas...

Quais grandes cabos, difíceis e mostrengos?
Os cabos foram cabos dos trabalhos, para conseguir as permissões de exploração, mas quanto à via de facto, citamos de novo Fra Mauro: "encontrando por toda a parte boas praias, com pouco fundo e navegação bastante boa, sempre sem tormenta". Basta pensar que os cabos complicados, deixaram de o ser assim que foram domesticados... ou seja, "passados".

Finalmente, apenas para esclarecer que 2000 mil léguas portuguesas eram mais de 12 000 Km, o que corresponde bem com a distância à Cidade do Cabo que serão 11 mil Km.
Além disso, passar o meridiano de Tunis, significava ter chegado às ilhas de S. Tomé e Príncipe, mas estar perto do meridiano de Alexandria significava ter passado o Cabo da Boa Esperança e ter-se ficado pelo Rio do Infante... curiosamente foi o que fez depois a viagem de "Bartolomeu Dias".

Os meridianos de Tunis e de Alexandria, mencionados por Fra Mauro.

Portanto, e citando Pedro Nunes em 1537... dizia ele:
E fizeram o mar tão chão que não há hoje quem ouse dizer que achasse novamente alguma pequena ilha, alguns baixos, ou se quer algum penedo, que por nossas navegações não seja já descoberto.
Ora manifesto é que estes descobrimentos de coisas, não se fizeram indo acertar, mas partiam os nossos mareantes muito ensinados e providos de instrumentos e regras de astrologia e geometria, que são coisas que os cosmógrafos hão-de andar apercebidos, segundo diz Ptolomeu no primeiro livro da sua Geografia. Levavam cartas mui particularmente rumadas e não já as que os antigos usavam, que não tinham mais figurados que doze ventos e navegam sem agulha.
Mas, enfim, Pedro Nunes, Jaime Cortesão, Armando Cortesão, Gago Coutinho, serão figuras "pouco credíveis", quando confrontados com os membros dos partidos, dos sindicatos, da maçonaria, os donos das editoras, os intelectuais de pacotilha, os anónimos burocratas, etc, enfim, todos esses grandes vultos da mediocridade outorgada, que decidem a "verdade chancelada" pelo politicamente correcto... ou como Mao Tsé Tung lhe chamou - Revolução cultural.

Em suma, não devo escrever estas coisas sem tomar antes um calmante...

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publicado às 07:59


1 comentário

De Anónimo a 15.07.2020 às 17:23

Caro Alvor,

Começo por dizer que me ausentei um pouco do blogue, mas trago aqui um documento “recente” que pode iluminar um pouco a frase do (frade) quando o Alvor traduz (e eu componho com pontuação): "… e máxima (vontade), qual será? a do Rei de Portugal, que mandou <> as suas caravelas e ver de olho…".
Esta frase é muito intrigante, pois obviamente o frade não sabia os motivos da partida de tantas caravelas par o mar.
Como comprova isso, e outras "cousas" fica um documento que me chegou hoje por correio eletrónico vindo do portal "Academia" e que por ser um portal com entrada "limitada", partilho com um link público.

Título: Antecedentes da construção naval em Portugal
Autor: Rosa Varela Gomes
Link: https://bit.ly/3fxFAKq

Destaco na página 28, sobre o capítulo "Madeiras", o crescente desespero pela procura de madeira para construção naval, relembrando, que não seria pelo facto de não termos boa madeira pois eramos exportadores de madeira em tempos mais remotos, mas sim pelo crescimento avultado da construção naval, tudo isto antes de 1415:

“… D. Afonso IV, entre 1340 e 1353, autorizava que se mandasse cortar, e acarretar madeiras das “suas matas de Alcobaça”, para construir galés, tendo em vista defender o Reino e, ulteriormente, D. Fernando I, em 1377,alargava aquela concessão a todas as matas reais, isentando o pagamento de impostos (Marques, 1988, pp. 93,158; Reboredo e Pais, 2012, p. 34).
Aquele último monarca autorizou mesmo a obtenção de madeiras em propriedades do clero, o que deu origem a abusos por parte da população, conforme se verificou quando, em 1372, os abades do Porto se queixaram ao rei que os carpinteiros daquela cidade e de Gaia cortaram madeiras nas propriedades da Igreja, “autorizados por carta régia que lhes dá permissão para cortarem madeira a fim de construírem barcos e navios”, mas que depois a vendiam ou lhes davam outro uso (Devy-Vareta, 1985, p. 57).
Tendo em vista controlar a utilização de madeiras, em1378, o concelho de Loulé fixou regras para o seu corte (Devy-Vareta, 1985, p. 58)… ….A necessidade de madeiras para a construção naval era tal que fez com que D. João I autorizasse a obtenção, mesmo de madeira verde, nas matas de Leça, Peio, Caraboy e do Bispo, para remos de seus navios e seca do pescado ao sol e, ainda, para tingir redes, conforme lhe foi pedido pelos moradores de Buarcos (Marques,1988, p.203).
A madeira verde era empregue, apenas, nos remos das embarcações, dado que a sua utilização na estrutura daquelas reduzia a resistência e durabilidade…”

Voltando à dúvida do Frade Mauro, sim, é evidente que havia um propósito para mandar “el rey de Portugal” pegar nas suas caravelas, comprovar que o que os mapas mostravam, era exploração e comercio Português.

Outro aparte, deste documento, página 27 e 28, é o facto de existir um documento datado de 1 de Fevereiro 1478, que confirma a construção de caravelas, nos estaleiros da Pederneira, incompletas, quase como hoje se faz na construção naval, construíam-se os cascos em série na Pederneira, (provavelmente seriam rebocados a Lisboa) para ai serem terminadas.

Este aparte liga perfeitamente, com o outro pormenor de engenharia e design, já falados aqui no seu blog, com um registo documental, que fala do transporte de uma caravela desmontada no convés de uma das naus na segunda viagem de Vasco da Gama à Índia, e que terá sido montada na ilha de Moçambique. Sem falar das fortalezas e provavelmente as casas de pedra, mencionadas no comentário acima, pelo IRF.

Empurrar para o esquecimento global coletivo, toda esta evolução e avanços industriais, como algo secundário, fazendo o público em geral acreditar que do nada nos tornamos senhores dos mares, que foi um ataque a Ceuta que nos ensinou a construir naus, bateis, batelões, picotos, galés e caravelas, é de louvar.

E a mentira repetida passa a verdade!


Cumprimentos,
Djorge

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