O canal História tem difusão quase mundial, por integrar praticamente todos os serviços de TV por cabo. Para além de ter passado a integrar rubricas de lojas de penhores, tem sistematicamente apostado na difusão da teoria dos "deuses astronautas", lançada por Erich Von Däniken em 1968, há já quase 50 anos.
Nas caixas de comentários já abordei este assunto com o José Manuel, até com respeito ao próprio personagem Däniken, que vê agora no final da sua vida, uma divulgação surpreendente, com uma legião de seguidores, personagens que vão dos mais aos menos ridículos.
A atitude da academia perante as referidas bizarrias é simplesmente ignorar, e não havendo espaço ao contraditório, há já quase uma meia dúzia de anos que o canal História insiste nesta linha "alien", ou melhor, "alienada".
Apesar de "alienada" e "ali é nada" serem expressões homófonas, o significado é diferente.
A teoria pode ser "alienada" e ali haver qualquer coisa, ou não ser alienada, e não haver mesmo nada.
Nesse aspecto prefiro a versão "alienada" às versões que assumem "ali é nada".
Porém, convém distinguir a substância da mera aldrabice.
Entretanto, como é natural, houve quem se tivesse dedicado a rebater praticamente tudo:
Trata-se de um filme de mais de 3 horas, que ainda não vi na totalidade, mas vi alguns tópicos, nomeadamente alguns tratados neste blog. Talvez depois na caixa de comentários escreva algo mais detalhado sobre cada um dos tópicos.
Não nos fechando às nossas convicções iniciais, é um filme que merece ser visto. Mas, como não há bela sem senão, se faz uma boa e severa crítica a algumas afirmações do programa "Ancient Aliens", inclusivé demonstrando que são ali ditas mentiras descaradas, por outro lado não deixa de incorrer em defeitos que critica.
Começando por Puma Punku, ou Tiahuanaco, fiquei surpreendido com as diversas "mentiras" apontadas ao programa, pois desde a dureza da pedra à precisão dos recortes, tudo é sempre afirmado com grande peremptoriedade. Mas é de facto caricato um dos personagens da série estar a tentar mostrar um perfeito ângulo recto, quando por isso mesmo, se vê que não é perfeito...
No texto
Tiahuanaco Liliputiano já tinha notado que as dimensões do monumento eram muito mais reduzidas do que aparentavam, agora surgem mais estas novidades que este filme "desmascara", e que desvalorizam a "importância misteriosa" da mítica cidade inca. Claro que quando não podemos confirmar, ficamos apenas sujeitos ao contraditório dos que nos informam, nem sequer sabendo se ainda estão lá ou não as pedras originais...
Passando à frente, e sobre o assunto das "lâmpadas egípcias" figuradas em Dendera, parece-me claramente que o filme tenta simplificar o problema que tratei aqui no texto
Lucerna. Primeiro porque ignora propositadamente a "pilha de Bagdad", como prova de electricidade em tempos antigos, e depois para tentar mostrar que há fuligem nos tectos dá como exemplo de limpeza numa parte que não é câmara subterrânea, conforme relatado pelos "alienados". A interpretação do desenho pode ser facultativa, e não tem que representar nenhuma ampola de vidro, mas ainda é mais discutível que não seja ambígua como representação.
Por isso, este é um dos casos em que o autor se esforça tanto por contrariar a tese dos outros, que cai nos mesmos erros de raciocínio claramente tendencioso. De qualquer forma, não seria por isso que as lâmpadas egípcias me merecem crédito. O que me deixa mais convencido nesta matéria é o texto de Rafael Bluteau em 1717 - que volto a citar:
Maravilhosas, mas tristes, inúteis, e sempre fúnebres foram as tão celebradas lâmpadas ou lucernas inextinguíveis dos Egípcios. Que maior maravilha, do que luz perene de uma incombustível matéria, sempre ardendo e sempre luzindo, sem socorro de novo alimento, porque sem consumo do primeiro?
... e Bluteau estaria longe no tempo e no espaço da descoberta de Dendera, para sequer pensarmos em tal afirmação como sendo mera especulação sua.
Os restantes assuntos só levemente foram aqui mencionados... mais nos comentários. Por exemplo, o assunto dos "
crânios de cristal" vi-o sempre da mesma forma que vejo os
emails de "banqueiros do Niger" que me querem dar dinheiro. Puro preconceito - não acreditei naquilo nem nos emails dos "banqueiros", pronto. Mas, não é preciso o crânio de cristal para nada. Basta termos visto aqui como os romanos processavam vidro delicado, induzindo filtros dicróicos (texto
dos Comentários (5)), algo aparentemente mais complicado do que a manufactura do crânio de cristal.
É especialmente curioso ver que esta substituição de Deuses por Aliens é motivada pela crença científica moderna. Quis-se banir a religião, mas como ela é inata, acaba por manifestar-se de maneira semelhante. Um ateu ferrenho é capaz de negar deuses e anjos, argumentando que "nunca foram vistos", mas já admitirá a existência de vida extraterrestre, sem nunca a ter visto! Admite uma vida num espaço mais largo que a Terra, porque foi ensinado a pensar dessa forma, tal como antes eram ensinados a acreditar num espaço mais largo que a Terra, chamado Céu, onde viviam os anjos.
Portanto, esta mudança de "deuses" para "extraterrestres" não é nenhuma mudança, é vestir os mesmos conceitos, de poderes superiores externos, com outra roupagem.
Se os cientistas modernos fossem mesmo cientistas, deveriam admitir com o mesmo grau de probabilidade - quer a existência de vida noutro espaço (extraterrestres), quer a existência de vida noutras dimensões (anjos)... e se não o fazem, é por mero interesse político, ou mais vulgarmente, por simples ignorância. Nada tem de objectivo admitir uma possibilidade e não a outra.
Mais objectivo é prescindir das duas, e colocar o problema de onde ele nunca saiu - da Terra, e de uma hierarquia que a comandou desde o início das civilizações - de xamãs a magos, de sacerdotes a maçons.
Os "alienados" dos "Ancient Aliens" podem cometer diversos erros graves, mas nada é comparável à versão dos "oficializados" académicos que consideram aceitável historicamente terem-se passado mais de 150 anos entre a descoberta da Austrália Ocidental e a descoberta da Austrália Oriental.
Nisso, a teoria oficial é tão ridícula, que faz os mais malucos parecerem gente séria e credível.
Mesmo com todas as imprecisões, e até falsidades, é melhor saber da existência de coisas "suspeitas" por via de uma história alienada, do que se querer omitir dizendo que ali não há nada. Depois do fumo, podemos averiguar se há alguma chama, ou não.