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Bronze, liga de cobre e estanho, tem pronúncia e escrita semelhante em quase todas as línguas europeias (mesmo no basco, magiar, suomi...), com excepção do grego onde a palavra é bastante diferente - Kratéroma.
Quem leu as traduções que nos passam do relato de Platão sobre a Atlântida, deve ter reparado na referência a um metal quase tão valioso quanto o ouro... o chamado oricalco

Oricalco (Ορείχαλκο) é a palavra grega para a liga de cobre e zinco, ou seja, o latão ou pechisbeque!
Está instalada mais uma confusão... já que as designações para bronze e latão confundem-se em várias línguas.
Por exemplo, em grego, a Idade do Bronze é também chamada Idade do Oricalco.

O disco Nebra. Um artefacto de bronze e ouro, de índole astronómica, 
onde se vê a Lua, o Sol, e provavelmente as 7 Pleiades, entre outras estrelas. 

A transição da Idade do Bronze para a Idade do Ferro parece ter sido devastadora.
É natural que os efeitos dessa devastação ainda se façam sentir hoje, pelas razões que tentamos explicar.
Em quase todas as culturas permaneceu a ideia de que a felicidade se teria perdido nessa transição.
Na cultura greco-romana isso é simbolicamente representado pela deposição de Saturno/Cronos pelo seu filho, Júpiter/Zeus. 
As saturnálias, correspondentes carnavalescas em Roma, pretendiam reviver esse tempo de felicidade popular, ao ponto dos escravos, por um dia, trocarem de lugar com os seus senhores. Este indício de metáfora, talvez signifique ter sido exactamente nessa altura que foi generalizada a escravidão, enquanto sistema social. De qualquer forma, havendo diversos registos megalíticos impressionantes na Idade do Bronze, isso envolveria trabalho necessariamente pesado para uma parte da população.

Há um progresso substancial ao passar do cobre para o bronze ou latão, mais complexos no fabrico das ligas metálicas, do que na consolidação do ferro em aço pela adição de carbono.
Torna-se quase indiscutível que isto levou a uma civilização comercial de cariz global, pelo simples facto de serem raras as minas de estanho, necessário ao bronze. Os pontos de extracção eram tipicamente as ilhas britânicas e também a península ibérica. Há aliás traços claros de uma civilização do Atlântico Ocidental, que ligava toda a costa atlântica, começando em Portugal, indo até às ilhas britânicas e estendendo-se até à Dinamarca ou Noruega, provavelmente.

Cassitérides
As Cassitérides foram tomadas literalmente como Ilhas do Estanho (Κασσίτερος), sendo normalmente identificadas à Grã-Bretanha, havendo porém quem advogue tratarem-se de ilhas na Aquitânia, antes do assoreamento... entre outras teorias. Eram ainda alvo de referência longínqua para os Romanos, e aparentemente não foi dada nenhuma indicação de confusão com a Britânia.

O geógrafo Estrabão (séc. I) coloca as ilhas Cassitérides a noroeste da Hispania, em número de 10 pequenas ilhas, dispostas em forma de anel... Para esta descrição, a única localização que nos ocorre é a do Arquipélago dos Açores, se bem que sendo hoje 9 ilhas, e só o grupo central se poderá considerar disposto em forma minimamente anelar... Para além disso, é claro que não há nenhuma referência a exploração de nenhum minério nessas ilhas (a menos que o chá se dê bem com o estanho).

Os touros de Creta
Os vestígios da civilização minóica, em Cnossos, são um dos mais interessantes monumentos da idade do Bronze. Magníficos murais ilustram uma paixão pelos touros...
... e como bem sabemos são conhecidos os enormes prados com inúmeros touros em Creta! 
Bom, não será bem em Creta... talvez na Grécia, talvez em Itália, talvez na Turquia. 
É escusado, se há local onde sempre se associaram touros, e uma forte tradição taurina, é a Hispania!
Creta dificilmente teria condições para a criação taurina, tal como toda a Grécia, em geral.

A tradição era de tal forma forte que criou a ideia do Minotauro... do rei Minos. Ora, há especificamente um sítio que tem o registo "Minus", desde o tempo dos Romanos - é o Rio Minho!
Será que no palácio dos nossos Vice-Reis na Índia não haveria murais, ou quadros com representações de paisagens portugueses? Ou seja, por que não considerar que estamos na presença de um palácio num entreposto comercial avançado, em Creta, destinado a negociar com os povos próximos - gregos, egípcios, hititas, etc... 
Não restou um único vestígio semelhante na Hispania, é claro!
Da mesma forma que não restaram vestígios identificáveis da presença árabe em Portugal, apesar de ser bem mais recente e ter sido prolongada, com importantes taifas independentes, como a de Silves.
O nível de destruição de registos históricos em Portugal tem aí um exemplo bem ilustrativo.

Na Hispania, só na tradição dos forcados os touros seriam respeitados da mesma forma que vemos no mural. Pela parte da aristocracia, que entretanto se implantou, o espectáculo consistia, e consiste, em cravar o Ferro num símbolo da idade do Bronze. A luta é propositadamente desigual e não se pretende qualquer surpresa para o desfecho. Nesse ponto, os incas tentaram reproduzir o mesmo cenário desigual atando um condor a um touro, procurando desfazer simbolicamente a invasão, na sua interpretação.

O que mais impressiona é a nossa aceitação natural deste cenário de touros em Creta, sem questionar a ausência de vestígios de touros nessas paragens. A própria presença de touros nos registos mesopotâmicos deixa a dúvida da sua original existência nessas paragens, ainda que aí seja mais natural uma extinção, de forma semelhante à que supostamente ocorreu com os leões.

Os povos do mar
O final da idade do Bronze está muito associado à invasão pelos chamados "povos do mar"... desconhecidos que invadiram e pilharam as civilizações clássicas. É o período que se segue ao registo da Guerra de Tróia, e vai fazer a transição de milénio ~ 1000 a.C. introduzindo a idade do Ferro.

Na linha do que aqui temos sugerido, há uma efectiva hipótese de que uma civilização de carácter comercial e marítimo ligasse toda a Idade do Bronze, não apenas na costa atlântica, mas estendendo-se ainda a entrepostos mediterrânicos, nalgumas ilhas, como Malta, Sicília ou Creta.
A Guerra de Tróia poderá ter significado o fim dessa estrutura organizativa, deixando na sociedade fracturada alguns marinheiros, entregues a um novo destino de pilhagem. Ou seja, os "povos do mar" seriam o resto da sociedade que se fracturava com o fim da organização centrada numa Tróia ocidental.
Uma parte significativa desta população ocidental poderá ter levado a uma reorganização em torno de Tiro, e de Sídon... a fénix iria renascer sob o nome Fenícia, e depois em Cartago, mantendo o espírito e a tradição de navegação.

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publicado às 04:25


1 comentário

De Alvor-Silves a 18.02.2011 às 04:36

Já foi aqui aludido (por Calisto), e a propósito do Cavalo de Tróia, da singularidade dos cavalos lusitanos... quase predestinados ao toureio.

Não conheço muito sobre a literatura acerca da Atlântida, e por isso não sei dessa relação, no entanto ela pode ser enquadrada neste âmbito de uma civilização atlântica, a essência ou o resto de uma civilização atlante.
Convém notar que os geógrafos romanos colocavam "atlantes" como vizinhos dos mauros (Marrocos/Mauritânia), e daí o nome da coordilheira do Atlas!

Os ingleses acabaram por definir o seu Zé Povinho na forma do John Bull... gozariam com uma essência do povo de outra origem?

As touradas eram populares, no entanto não restou uma única praça antiga... talvez tenham caído todas no tempo do Marquês de Pombal, por altura do terramoto, já que ele proibiu as touradas. Há um aspecto dúbio, já que as touradas garantiram a própria sobrevivência da tradição e do animal.

Outro aspecto dúbio é a nomenclatura. Tem o "inteligente", como se houvesse uma "inteligência" secreta que supervisionasse as touradas.

Há um virtual amigo que apreciaria que lembrasse aqui outras touradas:
http://www.youtube.com/watch?v=LbZLQjrB0No (http://www.youtube.com/watch?v=LbZLQjrB0No)

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