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Procurando seguir a linha científica mais sustentada, afastando-nos apenas por ausência ou insuficiência explicativa, vamos tentar apresentar um resumo actualizado do que foi aqui apresentado, juntando outras informações.

A ligação genética coloca quase como evidente uma evolução com ponto comum nalgum primata. Não é por aí que contestamos o darwinismo: - o problema é que quem fala em origem acidental omite a origem do acidente!
De forma análoga, quem fala em origem fabricada não responde sobre a origem do fabricante... e por aí contestamos a pertinência do criacionismo, seja ele extra-terrestre ou divino.
A perspectiva que seguimos é a da inevitabilidade lógica - foi assim, pois não podia ter sido doutra forma. Esta filosofia de inevitabilidade não serve a previsão, serve a pós-visão. Serve o compreender descomprometido e não o prever pré-intencionado.

A existência requer uma observação... mas não observação literal, não é uma réplica ou espelho.
A existência confronta a não-existência, e portanto há um olhar além do simples constatar.
Assim, a existência do universo implicaria um "olhar inteligente" - é o caso humano.
A história serve o nexo da formação desse olhar.

Saindo da macacada
A vivência pacífica de hominídeos em estado tribal podia ter prosseguido por gerações incontáveis.
O desejo de subjugar o adversário não se deve ter mostrado imediatamente. A competição entre elementos da mesma espécie é ocorrência animal recente. Passou por três fases notórias, desde a competição se resumir à constatação de selecção pela alimentação e reprodução, a uma competição por confronto singular - na disputa da liderança local por um território, e finalmente à competição por confronto de grupos, tribos, algo que se manifesta nalguns hominídeos e de forma clara nos humanos.

Quando os animais se organizam em grupos, podemos entender que é formada uma nova estrutura animal, diferente do animal singular. O indivíduo aparece fragilizado e pode ser vítima do novo predador, que é o grupo. Essa nova estrutura domina e pode alimentar-se dos indivíduos de diferentes formas. Uma é a simples aniquilação, outra é a exploração, e ainda outra, a cooperação.
Na aniquilação, o indivíduo pode ser destruído ou não integrado - visando o desaparecimento daquele indivíduo, mas ignorando que o problema não desaparece. Na exploração, o indivíduo é inserido na estrutura como uma parte funcional dela, faz parte de um órgão, mas o peso da sua individualidade é apenas o de uma unidade na funcionalidade. Finalmente, na cooperação, o indivíduo insere-se na estrutura, num órgão, e a sua individualidade é tão importante quanto o conjunto, pois o conjunto visa o benefício de todos os indivíduos, e o número não se sobrepõe à unidade.

Portanto, numa fase inicial é natural que os hominídeos se preocupassem mais em estabelecer a sua sobrevivência e domínio sobre as outras espécies, e não vissem os outros com preocupação, excepto na questão de alguma interacção social ligada a uma hierarquia tribal. 
Os primatas mais próximos dos humanos são os chimpanzés e bonobos. Ao partilharem 90-98% da genética, estão mais próximos de humanos que de gorilas ou orangotangos (os outros hominídeos), mas têm atitudes sociais diferentes. Ao invés da agressividade característica dos chimpanzés, os bonobos são mais cooperativos, resolvendo muitos dos seus problemas por interacção sexual. 
É aliás bem conhecido que os bonobos e chimpanzés conseguem realizar tarefas de forma muito similar aos humanos, e são sujeitos a experimentação no campo da linguagem, onde os resultados são quase sempre limitados. A palavra "limitado" é propositada, pois a questão é justamente essa... o que faltará a esses hominídeos será uma constatação da sua limitação. Não procuram por si próprios colmatar as suas falhas, e estando satisfeitos com o seu conhecimento, com a sua compreensão, não os move o desejo do ilimitado, do infinito. Não estando condenados a essa permanente insatisfação humana, podem reagir, mas não têm a necessária curiosidade que move um evoluir, por aceitarem as lacunas. Afinal, o seu conservadorismo, pode ter mantido a herança da sua ancestral linhagem genealógica, mas nunca os aventurou para além das florestas tropicais.
Bonobos -África Central

A ideia de que os primeiros hominídeos seriam agressivos (ao contrário dos bonobos ou orangotangos), mais agressivos que gorilas, ou até que os chimpanzés, parece carecer de sustentação: 
However, the picture of early hominins as “killer ape‑like creatures” is not realistic, considering the hard evidence from fossil remains, primatology, and ethnography (cf. Sousa e Casanova, 2006)

Portanto, inicialmente não terá havido uma movimentação de conquista, nem domínio, mas uma natural expansão territorial, semelhante à que acontece com outros animais. As florestas tropicais da África Central (bonobos, chimpanzés, gorilas) e da Indonésia-Melanésia (orangotangos), podem revelar uma expansão antiga de hominídeos, entre África e o sul da Ásia, mas que não chegou a paragens americanas. A chegada americana deu-se posteriormente, com migrações humanas.

Do saber à compreensão
Algumas proezas humanas estão longe de ser proezas absolutas. O homem mais rápido não é o animal mais rápido, muito menos será o veículo mais rápido ou mais forte. Nem o homem com melhor memória ou maior capacidade de cálculo suplanta uma máquina programada para a mesma tarefa.
A capacidade de memorizar ou efectuar tarefas mecanicamente não é sintoma de nenhuma inteligência humana. Um robot pode ser programado para saber fazer tarefas mecânicas específicas. A inteligência humana manifesta-se na capacidade de compreensão, pela abstracção subjacente, podendo ser aplicada noutros contextos. Assim acontece com as simples histórias infantis, onde não é tão importante o enredo literal, mas sim a apreensão da moral subjacente.

Por isso, quando vemos algumas pedras lascadas, e outros artefactos que denunciam intencionalidade de aplicação, não significam "inteligência humana", apesar de poderem ter precedido essa inteligência humana. O mesmo olhar que vê inteligência no uso de uma pedra lascada, não pode deixar de ver inteligência num camaleão que adopta uma cor de camuflagem. Porém onde está essa inteligência?
É um reflexo interpretativo, está na génese do executor, ou no executor?
A simples constatação de que uma pedra lascada serviria o propósito de trinchar alimentos, de que uma lança poderia perfurar, ou de que o uso do fogo permitia cozinhar alimentos não é ainda revelador da transcendência humana. Há vários exemplos de animais que recorrem a utensílios, e mesmo a agricultura não é um sintoma claro dessa inteligência humana. As formigas saúvas (leaf-cutters) usam folhas para cultivar fungos, entre outros exemplos (há inclusive um peixe da família da  Castanheta que cultiva algas). Mesmo o simples construir de estruturas não revelaria essa inteligência não-programada, bastando lembrar os ninhos das aves, ou as construções das térmitas. Também encontramos entre vários animais uma interacção em estrutura social, pré-programada, onde os esquemas de servidão, actuação em matilha, obediência a hierarquia, etc... estão bem presentes e dificilmente denunciam mais inteligência do que a simples vivência para sobrevivência. 
Castanheta néon (Pomacentrus coelestis, Timor Leste)

Onde se manifesta então a inteligência humana? Na necessidade de compreender o desconhecido, na aquisição e incorporação desse desconhecido numa linguagem não literal. A religiosidade, a filosofia, ao procurarem um significado para a compreensão da existência, manifestam isso. O activo entendimento superior da natureza, procurando uma previsão de fenómenos naturais, também.
O ponto comum é a capacidade de o homem subir para se ver a si próprio e ao restante, não aceitar apenas a oferta das suas faculdades, compreender que há um racional para além delas. Por isso, o homem ciente duma ilimitação vê-se inicialmente incompleto por constatar a sua limitação... se não adquirir que, ao poder interiorizar o ilimitado, isso é prova de que não é limitado.
Máquinas ou animais que não questionem o nexo, não precisam de nexo. No entanto, o nexo ganhou existência a partir do momento em que houve animais que o viram - os humanos. Esse nexo funciona como um estômago faminto, que precisa de ser alimentado, até à completa consistência. Toda a filosofia humana passou a alimentar essa fome de compreensão, que a espécie herdou. A incompreensão gerava incompreensão... e se os bonobos podiam usar a actividade sexual para resolver os seus problemas sociais, aos humanos restava ainda resolver os problemas existenciais.

Panspérmia e Gaya
Entendendo a vida como um corpo "Gaya", que engloba todos os seres vivos, a vida apareceu e nunca desapareceu. A morte de uma célula não é a morte do corpo, e olhando o conjunto, a morte de um ser pouco afecta o conjunto da vida.
Analogamente, a vida, enquanto conjunto, esteve a evoluir, como evolui um embrião, desde a sua formação até atingir a fase adulta.
Um ser complexo tem uma individualidade que está para além da individualidade celular. Nesse mesmo sentido o conjunto da vida pode bem ser encarada como uma individualidade para além dos seus seres. Tem múltiplos componentes, tal como os animais tem múltiplos órgãos. As células morrem, o animal não. Os seres morrem, a vida na Terra não.
E, se a vida nunca cessou, esse organismo global apenas esteve em processo de formação... passando por várias fases, como uma borboleta. Podemos ter o preconceito de ver um corpo conectado pela união das células, mas se pela disjunção há diferença, há também um património genético comum entre todos os seres vivos... tal como há diferença entre as células dos diferentes órgãos de um mesmo corpo, não deixando de terem o mesmo DNA.
Os transplantes mostram até que as células não têm uma fidelidade excessiva, podendo servir a diferentes corpos. Assim, mais do que servirem exclusivamente um ser, servem o propósito maior do conjunto da vida.

Isto pode remeter para uma teoria chamada Panspérmia (ver Portugalliae - José Manuel).
O planeta Terra (ou outro planeta), funcionaria como óvulo, pronto a ser fecundado por matéria extraterrestre, da mesma forma que um óvulo aguarda a fecundação por um espermatozóide.
Se virmos essa matéria genética transportada por um cometa... as analogias são "claras no ovo".
O Sol seria a fonte materna de energia que iria alimentar essa vida, e embelezando o cenário, a própria Lua pode ser o que resta da colisão fecundadora, pairando vigilante sobre o embrião de vida que crescia e evoluía na Terra.
Tendo-se descoberto sinais de matéria orgânica nos cometas, isso dá algum suporte a uma teoria que remonta a Anaxágoras, ou mais recentemente a H. Helmholtz. Faltaria dizer de onde viria então essa matéria reprodutora, que inseria nos cometas matéria orgânica tão significativa que levaria à formação de vida em planetas distantes. Ou seja, podemos falar de um "Úrano" que fecunda Gaya?
[Escrevo "Gaya" e não Gaia, porque tenho usado o nome Gaia para algo muito maior, quase identificável ao próprio universo, e este conceito de Gaya é muito mais restrito, pois aplica-se apenas ao universo físico, e em concreto à vida na Terra. No entanto, e mais uma vez, podem ver-se analogias.]

Supernova Simeis 147 (Constelação de Touro)

Ora, há uma outra questão que normalmente é evitada. A Terra tem metais e outra "matéria pesada" que não cabe na simples produção nuclear solar, que envolve hidrogénio e hélio. Isso indica uma proveniência diferente - que remete à explosão de uma supernova, onde tal fusão seria possível. Ou seja, a matéria terrestre é suposto ter vindo de uma "estrela morta" (isto é a teoria oficial), a que acresce a própria matéria orgânica poder seguir, depois, em cometas ou asteróides. Assim sendo, um "Úrano" emissor de panspérmia, não seria destas paragens, e poderia ter gerado filhos em diversos sistemas solares.
A intencionalidade disso é assunto mais especulativo, e não liberta o criador de tal fonte emissora da sua própria origem... que até poderia ser semelhante. Por isso, como a ausência de intencionalidade precede sempre a intencionalidade, basta remeter a essa ausência. A introdução que fizemos explica onde está a razão das razões.
De qualquer forma, por um lado este é um quadro perfeitamente sustentável para admitir uma replicação de situações semelhantes à da Terra, à geração de vida análoga, e possibilidade de vida inteligente extra-terrestre. Por outro lado, interessa-nos apenas o quadro da origem sem nenhuma interferência inteligente externa, porque mais uma vez, o oposto iria remeter os "pais" aos "pais dos pais", e a uma estéril lengalenga da "galinha e do ovo".
Por perfeição, o nexo deverá ser simultaneamente circular e linear. Circular no que diz respeito à unidade, linear no que diz respeito à multiplicidade e diversidade. A junção desses dois olhares é um outro olhar, que não deixa de ser interior aos dois outros.




Inevitabilidade
Quando uma célula se divide em duas, o conjunto das duas não é visto por nenhuma delas, mas é inegável para o universo onde se dá. Uma pode ver a outra, mas quem vê as duas tem que estar num plano superior. Por isso, a duplicação, a réplica, não coloca de um lado o original e no outro a imagem literal. A duplicação não é vista pelo indivíduo, manifesta-se sim no observador acima.
No início dos inícios, o único observador disso, por inevitabilidade, seria o universo onde a réplica aparecia. Até criar um nível superior de análise, essa "visão-constatação" era exclusividade inerente.
Num nível superior podemos colocar seres que constatam o mundo anterior, podem estar acima e ver os outros, da mesma forma que o universo anterior constatava. Só que, mais uma vez, não se vêm a si mesmos... vêem o nível abaixo, mas não vêm o próprio nível onde estão. Essa diferença/união só é constatada pelo novo universo que os contém, noutro nível acima.
Voltamos por isso à situação anterior, que parece não ter fim...

Porém, esse não ter fim, é já uma constatação muito superior que, levada ao infinito, constata a sua invariância. E é nesse plano de observação, que esgota todos os planos de observação, que surgem constatações invariantes. São as noções abstractas que fundam a nossa linguagem, a nossa lógica e matemática, que constatamos como verdades universais... por exemplo, a parte está no todo, o número existe para além dos objectos contados, etc.
Esse é o nosso universo, o universo que se viu a si mesmo e onde as noções invariantes foram aparecer sob a forma de linguagem na comunicação. Tudo o resto abstracto seria redundante, no sentido em que poderia ser descrito por composição das noções base de uma linguagem.
O que faltava ver? Toda a matéria que sobrava, que não era definitiva, e que seria apresentada como deliciosos frutos ou perigosos monstros, passageiros.
Essa matéria não invariante poderia ser encapsulada de muitas formas, desde que entrasse na compreensão abstracta que era oferecida. O observado e o observador ajustam-se. Não podemos ver para além da compreensão que podemos ter, estamos apenas circunscritos à evolução dessa compreensão.
Temos a característica fundamental de sabermos que somos incompletos... como será sempre o universo, quando cada nível faz surgir um novo nível superior. Isso motiva-nos a ver mais, e nunca parece bastar o que sabemos. Porém há o outro lado... quanto mais soubermos menos resta por saber, quanto maior for o entendimento, menor será o deslumbre. Por isso, se as nossas capacidades fossem infinitas, apenas apressaríamos o fim... e o fim é tudo ver. Sendo que esse fim total é nada, porque nada mais restaria. Move-nos a incompletude, procurando a completude, mas faltava dizer que a completude é um total equivalente ao nada.
A parte e o todo coincidem na unidade... e tudo se repetiria desde o início.

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publicado às 20:17


100 comentários

De Paulo Cruz a 23.11.2013 às 01:33

Eu tenho este documentário,em algures,para um disco rígido e gostava que o vissem.

http://www.youtube.com/watch?v=oybzYdZ8zfY

De Sid a 23.11.2013 às 02:12

A obra da Filosofia é um facto, «penso logo existo» facto é também que, tal como tudo o que é material, ela teve um principio, tem um crescimento uma história, um andamento. Facto é, que antes do cérebro pensar a filosofia não existe, ou mais desconcertante ainda é que o seu principio só existe na prova que se faz sobre as suas origens, o que leva a considerar a hipótese de que o pensamento só existe dentro da nossa cabeça e nos livros, ou seja nos registos. Quanto a estes, se quisermos questionar todas a respostas, também por certo podemos questionar se são mais do que meras doutrinas eleitas por uma qualquer conveniência particular, pois o habilidade de comunicar está condicionada a duas ou mais unidades a exercer a sua prática entre si, e a comunicação só existe quando uma das partes entende a outra, por assim ser, a que entende pode também não concordar justificando a sua não concordância, a esta podemos então afirmar que é uma segunda linha de pensamento, por divergir da primeira. Se esta não for registada, por certo deixa de existir e por conseguinte deixa de poder ser escolhida, o que me leva a crer que a que ficou perdida deixa de poder ser escolha, e a que prossegue esta como dado garantido, o que por si só já condiciona a História do pensamento. Não sei se me fiz entender, as vezes as minhas limitações criam-me dificuldades em me exprimir, no fundo quero dizer que há sempre uma escolha, cada um faz as suas, e as dos que têm mais força, mais poder, vão ser sempre as que vão continuar, vão prosseguir ficando na historia. Mais uma vez, até no conhecimento, a selecção natural revela-se.

Um abraço
Sidónio

De Alvor-Silves a 23.11.2013 às 03:13

Caro Paulo,
olhando para esse vídeo que colocou no final, e que pediu para ver, você pode olhar para uma das milhentas manipulações que por aí andam.
No final, basicamente a ideia é que as pessoas fiquem confusas, intrigadas, amedrontadas, qualquer coisa que as faça ir parar a um grupo, juntar-se a alguém, etc.
Só vi o vídeo porque você pediu, mas francamente eu tenho pouco tempo para vídeos desses, e como compreenderá não vou ver todos os vídeos que aqui indicar.
Esse tipo de coisas não me assusta. Assusta-me mais ver as pessoas confusas com coisas dessas.
O factor psicológico é muito importante, e há múltiplas técnicas de condicionar as pessoas.
Por exemplo, de acordo com a Bíblia antiga, Deus teria ordenado a Abraão para sacrificar o seu filho, mas afinal era só uma paródia, e podia sacrificar um carneiro.
Não há nada de errado aí? De que lado é que está o bem e o mal?
Você aceita que está do lado que lhe disserem que está, ou sabe julgar por si próprio? Se quer que lhe diga, um crente que não questione essa atitude é um bom elemento para servir numa tropa. Aceita ordens erradas, desde que esteja no "lado certo", e por isso é útil a um exército. Por outro lado, enquanto as pessoas se colocarem na posição de aceitar o lado errado, isso mostra que não estão maduras para serem autónomas nas suas decisões. São facilmente influenciáveis, e isso é uma justificação para que os dirigentes as conduzam como rebanho.
Portanto, como vê, tanto pode seguir literalmente a estorieta, como pode pensar que essa estorieta permite avaliar o discernimento individual.

Mais, na minha opinião essa estorieta serve para ilustrar outra coisa. Serve para ilustrar que em vez de sacrificarem os filhos da elite, podiam sacrificar à vontade os carneiros - que são os elementos do povo. Não havia mal nenhum, porque se alguém "dos eleitos" fosse ameaçado, Deus iria impedir, tal como impediu que fosse morto Isaac...

O filme Prometheus é muito engraçado, mas não mete medo a ninguém que não tenha medo.
E esse é o ponto principal. Se quer ver um filme instrutivo, veja o Apocalypto, realizado pelo Mel Gibson. Perante o caos e o medo dos outros, o pai vira-se para o filho e diz-lhe: "Não sejas escravo do medo", ou algo similar. Nada mais há a dizer. Não deixemos que o medo nos condicione.
É bom ter medo por precaução, é ser escravo ter medo como obsessão. As pessoas podem morrer a qualquer altura da forma mais atroz, sem culpa de ninguém. Não é por isso que deixamos de sair à rua, e fazer uma vida normal. No dia em que deixarmos que estas coisas nos condicionem acima do normal, estamos a ser escravos de um futuro que não existe, mas que poderia existir se tivéssemos cedido aos seus medos. Porque, o primeiro passo para as coisas poderem acontecer é as pessoas estarem dispostas a aceitá-lo como possível.
A primeira coisa que se deve fazer perante uma situação caótica é perguntarmo-nos se aquilo faz sentido. Se soubermos por que razão não faz, então não tem presença, e devolve-se a mensagem ao remetente. O caso típico é não podermos sonhar com a nossa morte... se ainda continua a pensar é porque não morreu.
É assim que se derrotam "monstros impossíveis", com simples lógica, não deixando que eles ganhem estatuto de verdade no nosso mundo.
Porém, não se consegue derrotar a presença de "anomalias" em pessoas mais susceptíveis, e só podemos evitar que essas pessoas espalhem o seu medo pelos outros.
Por uma questão de equilíbrio, não há mais mal do que bem, há oscilações em que umas coisas compensam outras. É claro que para essa compensação ter lugar, não se pode considerar que a morte é o fim humano.
Um homem tem medo de morrer porquê? Se não acredita em nada, o nada não o deveria de preocupar. Se acredita em alguma coisa depois da morte, por que razão há-de achar que não haverá equilíbrio?

De Alvor-Silves a 23.11.2013 às 03:13

Finalmente, há uma coisa que derrota qualquer medo mortal - é que não dura uma eternidade, apesar de poder parecer uma eternidade, será apenas uma má memória no futuro. Sobre os medos acima disso, há o medo de não ser amado por ninguém... e com esse medo se tenta condicionar o amor dos outros. Sobre isso, apenas acho que não é o melhor caminho numa situação de liberdade.

Abraço,
da Maia

De Alvor-Silves a 23.11.2013 às 04:22

Caro Sid,
creio que sim, que percebi a sua perspectiva, e a questão é muito pertinente. Sobre isso creio que já escrevi, mas isso também não interessa, nem vou procurar, é melhor repetir o argumento, porque sai sempre qualquer coisa de diferente.
Indo pelo lado científico. A partir do momento em que os animais desenvolveram técnicas de modelação do mundo exterior, construíram um modelo razoável, mas não exacto - é por isso que as moscas ainda embatem nos vidros - numa prova que os vidros são bem mais recentes que as moscas (isto para responder en passant a quem põe a humanidade em milhões de anos, e coiso e tal).
Portanto tem um confronto entre o modelo errado e uma realidade... inevitavelmente certa. O modelo errado desaparece? Desaparece do estatuto de realidade, porque nunca o teve, desde o início. Tinha lacunas, estava feito para uma compreensão do mundo, e se o mundo muda, esse modelo cai. Por isso, as teorias físicas são muito giras, mas têm uma validade limitadíssima, apesar de pretenderem o contrário. Seria como se as moscas recusassem a existência de vidros. Paciência. Podem partir os vidros todos, mas os vidros já lhes demonstraram que podem existir. Assim, os modelos falhados, correspondentes a universos que não tinham lugar neste, não têm mesmo lugar neste. Porque este universo tem uma consistência lógica, e essa sim não há volta a dar-lhe. Porém, o universo não lhes tira o estatuto de existência, existem num campo fora desta realidade, e por isso será numa imaginação, num modelo. Não cabem neste, porque não pode ter dois universos diferentes ao mesmo tempo. Há um limite para o equidade, seja ela de possibilidades, seja do que for. Esse limite é que o 1 surge antes do 2... e não há volta a dar-lhe. Por isso há um compromisso entre a linearidade, a ordem que se revela, e a circularidade, a abstracção que trata tudo como igual - o 1 é apenas um número tal como o 2. No entanto, creio que de forma perfeita, a incerteza sobre o passado será tal que não haverá possibilidade de atribuir números nem ordenações.
Nós veremos o universo à nossa medida, num ajuste de compromisso entre o observado e o observador. Só estamos limitados por nós próprios, o que se resume a nada, se não recusarmos ver o que se nos apresenta. Mesmo a recusa é um simples adiar... e esse adiar não é limitação é uma diferença, porque todos somos diferentes, como uma fotografia tirada de um ângulo é diferente de outra. São precisas muitas fotografias para ver a imensidão, desde a fotografia panorâmica à fotografia de detalhe. Aquilo que fiz foi apenas me afastar o suficiente para ver se conseguia tirar essa fotografia ao longe, abarcando o mais que consegui, numa perspectiva. Mas haverá outras, muitas outras, já para não falar na beleza que se encontrará quando os detalhes começam a encaixar, ligando o passado ao presente.
Por isso, se cheguei a ponderar sobre a razão de existir este e não outro, ficou claro que só poderia existir desta forma. O resto pura e simplesmente era uma visão limitada que não tinha lugar no grande quadro, a não ser como uma passagem temporária, sem estatuto definitivo. Por isso o tempo nada mais é do que uma visão do que não é perene, e vemos isso à luz de noções que o são. Não porque queiramos que sejam, mas simplesmente porque foram o que ficou, definindo uma linguagem. Por isso a linguagem é inquestionável nas suas bases mais abstractas, matemáticas. E se houve algum geómetra que experimentou o Pi, teve uma surpresa para além de si próprio... porque a geometria é apenas um detalhe. E os piolhos ficaram de olhos nas cabeças que saíram do pi... eh eh!

Um abraço,
da Maia

De Sid a 23.11.2013 às 04:32

Sr Paulo Cruz
A vida é um mistério. Como disse, eu tenho pontos de vista muito próprios, mas não me explicam tudo, são apenas a minha compreensão que tenho sobre as coisas. As lacunas das minhas fracas teorias são muitas. Já vi coisas que me deixaram de tal maneira chocado que hoje parecem que foram apenas um pesadelo, mas no momento acredito que estava acordado e era uma realidade. Talvez, no fundo tenha escolhido não entrar por aí. E o nosso caminho,, uma parte temos e outra parte fazemos.
Obrigado por partilhar esse episódio duro da sua vida, sei que é uma abertura corajosa.
Peço desculpa,


Cumprimentos
Sidónio

De Sid a 23.11.2013 às 04:56

Somos nós que construímos a realidade? Ou - Somos personagens duma realidade?

De Paulo Cruz a 23.11.2013 às 10:43

Bom dia.

Estive a ler por alto...Eu disse,lá para trás,que a bíblia foi alterada em algum momento por alguém e vou mais longe faltam-lhe vários livros no novo testamento.Eu não quero ,de maneira alguma,influenciar ninguém,apenas,partilhei essa fase da minha convosco.Cada um é dono da sua vida e que faça o que o bem entender dela...Eu sou um ser pensador e não manipulável.Há por varias falsas Igrejas em que a historia é sempre a mesma:Há um Pastor e abaixo há os obreiros e todos trabalham para o falso Pastor que é o dono da Igreja,em que,é o que ganha o dinheiro a custa das misérias dos outros.Quando encontro alguém,de alguma religião,que me quer impingir o banho da cobra eu só digo que vou de vez em quando aquela "seita",que é para alguns,e simplesmente já não querem conversa...Nessa Igreja que lá vou de vez em quando funciona,para terem uma ideia,desta maneira " http://www.youtube.com/watch?v=X2eH8mtW7kQ" em que desde o Ministério até ao senhor que abre as portas,na igreja,ninguém ganha dinheiro com a Igreja.Eu entrei lá e só dou dinheiro de longe a longe,há essa liberdade e não há o dizimo ,esse dinheiro serve para pagar rendas,luz etc...quando o dinheiro de uma igreja não dá para os custos,as outras,enviam para essas que estão em necessidade.Para terminar digo-vós que por dezenas,se não forem centenas,que "algo" falou num futuro na minha vida que,muitas vezes,demoram anos para se cumprirem....Acreditem se quiserem.


Um grande abraço.

De Alvor-Silves a 23.11.2013 às 12:19

Essa é a mesma questão que falei acima. Pela simples lógica mudei de opinião, e não foi para algo mais agradável. Não temos qualquer poder para construir o que quer que seja, e nem poder efectivo temos sobre o nosso pensamento. Não há liberdade nenhuma, está tudo pré-determinado, e nem poderia ser doutra forma. Porém podemos perfeitamente falar em liberdade e em acção, etc. no sentido habitual, prático das coisas, só que no sentido profundo não pode existir. Entre uma escolha A ou B, você pode pensar em escolher A, sabe porque escolheu A, mas não controla o seu pensamento. Aliás não sabe o que vai pensar dentro de 1 minuto. Por isso é uma bela ilusão, bem construída.
Esse é o grande erro da linha hinduísta-budista, e foram ao ponto de se isolar para poderem controlar por completo o pensamento... sem perceberem aquilo a que chamei o "paradoxo do pensador". Quem pensa assim não se libertou do profundo egocentrismo, e julga que há um subconsciente que é seu, e por isso também podem achar que podem construir uma realidade. Mas tal como não controlam o que sonham, não controlam qualquer realidade.
Como disse, isto é apenas a um nível mais profundo. Na prática, não incomoda ninguém, excepto os fanáticos do controlo. Tanto quiseram controlar os outros que não perceberam que estavam a ser controlados por algo muito maior... e isto aplica-se a tudo, inclusive a pretensas divindades pensantes. A inevitabilidade está acima do poder de quem quer que seja.
Na prática, estamos forçados a compreender o universo em que estamos metidos. Floreando a coisa, eu diria que Gaia (o universo de todas as possibilidades) exigiria ser visto, nem que tivesse que atar alguém a uma cadeira e aplicasse uma dose de filmes malucos em cima, e Maia (o universo que presenciamos) foi a única maneira auto-consistente de se apresentar, com um nexo no caminho, com a possibilidade de compreensão do observador. Isso era inevitável, porque a partir do momento em que o universo tem um observador inteligente, há um nexo que levou a isso.
Como já disse acima, a realidade é a intersecção de todas as visões individuais, enquanto a ilusão é a visão individual ou parcial. Por isso os sonhos não são reais, porque correspondem a uma visão pessoal, que não é partilhável com todos os outros.
Abraço,
da Maia

De Alvor-Silves a 23.11.2013 às 14:46

Caro Paulo,
sim, mesmo oficialmente, é bem sabido que havia múltiplos testamentos, e num dos concílios iniciais foram definidos uns e recusados outros. Por isso houve propositadamente uma selecção do que era para ler e não era. Se quer que lhe diga, não é lógico que Jesus se tenha colocado num estatuto divino acima dos outros homens, porque o propósito era justamente a identificação a Deus-Homem, ao mesmo tempo que se identificava aos seus semelhantes. Isso ia contra a doutrina judaica, do velho testamento, e o cristianismo oficial acabou por optar essa posição de o colocar num patamar superior.
Num texto antigo, disse que uma possibilidade muito verosímil, para não dizer certa, é que cada um de nós seja uma parte de uma entidade superior, que é o conjunto de todos. Por isso, a nossa linguagem oferece-nos parte da solução... cada um de nós é um Eu, todos somos Eus, e falamos assim De Eus, D'Eus, Deus.
E dou-lhe mais uma indicação.
Quando se vê no espelho, vê outro que identifica a si porque responde directamente ao que você faz. Isso é uma visão limitada de ver os outros à nossa imagem.
Agora imagine que vê outra pessoa. Se houvesse uma maneira de ligar o seu cérebro ao do outro, havia duas pessoas, ou passava apenas a haver uma? O que distinguia um do outro? Subitamente o corpo do outro era o seu, os pensamentos do outro eram seus... e isso era válido para ambos. Nada distinguia, em vez de dois que se opunham, passavam a ser apenas um. Agora aplique isto a toda a humanidade, a todos os seres pensantes. Esse conjunto ao comunicar deteria todo o pensamento.
Só que no momento em que isso acontecesse, esses múltiplos seres passavam a ser um. Óptimo para o entendimento, certo, mas seriam o ser mais sozinho do universo. Não havia mais ninguém, por todos estavam unidos num só. Não havia oposição, nem discussão, só uma visão.
Por isso, isso até poderia ter acontecido, levando a um Deus, só que isso levava a uma prisão de isolamento universal. Por isso, um ponto fundamental seria reverter essa união numa multiplicidade de Eus e não num único Deus. Para evitar essa comunicação perfeita, que levava à união perfeita no isolamento, a comunicação passou a ser imperfeita, feita através da linguagem. Assim somos diferentes, mas parte da mesma estrutura pensante universal. É nesse sentido que em cada Eu está uma parte de Eus, que foi unido em Deus. Só que cada Eu, recusando ver o outro opõe-se-lhe pelo desconhecimento, pela recusa de comunicação, por isso o caminho é uma comunicação alargada, sem egos individuais, permitindo a diferença que é rica e não nos deixa sozinhos, mas também pelo entendimento comum que respeita o outro como semelhante - essa era a mensagem de Cristo.
Acho tanto mais que esta hipótese é verosímil porque para além desse papel fulcral de Cristo, também Zaratustra advogaria uma junção numa entidade universal, de comunicação de todos os eus. Ou seja, ambos transportavam essa mensagem perdida, mas que nunca se perdeu... está aí para ser reencontrada.

Abraço,
da Maia

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