Passando mais de 10 anos, já vai longe o tempo em que me dediquei ao tópico dos descobrimentos, e entenda-se bem, da sua propositada ocultação, desde o seu início até hoje.
Essa ocultação era a tese única, a que chamei tese de Alvor-Silves, e mantém-se inabalável.
Incluíam-se aí os Painéis de S. Vicente, e são daquelas coisas, em que não gosto de falar, porque sendo óbvias, mexer nelas normalmente expõe que o período de nojo se mantém.
Uma coisa seria não haver documentos, e essa versão foi por mim engolida durante décadas, sem me preocupar com o assunto, pensando que estava bem entregue aos especialistas, ditos historiadores.
Outra coisa, completamente diferente, é haver uma quantidade enorme de documentação que, por interpretação enviesada, nunca será suficiente, e é depois escondida, negligenciada, etc...
Tudo isto porque há uma agenda internacional, meio-maçónica, que vai mantendo o status quo.
Vem este texto motivado por uma troca de
comentários com João Ribeiro, em que se fala da pretensa descoberta do Brasil pelo espanhol Pinzon, em 1499.
A descoberta do Brasil é já de si um assunto marginal, que só faz sentido no contexto de que Colombo não fazia ideia por onde andava, e à conta disso ainda hoje chamamos índios aos nativos americanos, e durante séculos a América foi entendida como Índia Ocidental, mesmo depois de desfeito o equívoco. Colombo visitou o continente americano, em concreto a Venezuela, só em 1498, provavelmente até depois de Pacheco Pereira ter chegado ao Brasil, a mando de D. Manuel.
Numa das expedições subsequentes em 1499, Pinzon terá descido pela costa venezuelana até à costa brasileira, e como essa "grande expedição" está documentada, para nuestros hermanos a descoberta do Brasil seria sua.
Só que Pinzon foi onde não podia ir, ou conforme disse D. João II, a propósito da viagem de Colombo, esses territórios estavam reservados à descoberta de Portugal. Se na altura de Colombo, era porque as Caraíbas estavam abaixo do paralelo das Canárias (Tratado de Alcáçovas), no caso de Pinzon era porque o Brasil estava no lado português do Meridiano de Tordesilhas.
No caso de Colombo, foi algo inútil argumentar com os espanhóis, porque eles não percebiam minimamente por onde andavam... mas no caso de Pinzon, já sabiam o suficiente para perceberem que se tinham que calar. O pau brasil era português.
Pau brasil (Paubrasilia echinata) - a árvore de Pernambuco e a cor da sua seiva (jardimcor.com)
Lembrei-me então dos Contos de Canterbury (1387-1400), de Chaucher, onde no final do
Nun's Priest's Tale (conto do sacerdote da freira), se refere à cor escarlate do pau brasil. Procurando o texto, fui dar com uma nota à citação de Chaucer, que diz o seguinte:
With Brasil, ne with grain of Portingale,
que é como quem diz (ver
interpretação do "ne" em Chaucer):
"(
Nem)
com brasil, nem com grão de Portugal".
A nota é colocada por Josiah Conder "
The Modern Traveller... Brazil" (Volume 1), 1825, que aproveita para notar que o nome brasil já existiria antes do Brasil ser descoberto, e que no inventário do rei inglês Henry V (1413-20), surgem "
grandes peças de Brasil..."
Normalmente é dito que as peças de brasil vinham da Índia, pelos mercadores árabes, etc, etc, porque também no Ceilão havia um pau similar, que se denomina
Sappan. Depois
acha-se curioso, o brasil do Brasil ter mantido o nome, deixando o suposto brasil original como
sappan!
Mas este é só o primeiro detalhe... o segundo detalhe é - que raio de coisa é o "grão de Portugal"?
Isso é outra conversa, porque a expressão desapareceu por completo.
Trata-se do
grão-escarlate, que era
supostamente importado de Portugal, e seria uma cor vermelha, denominada
hermes ou
quermes, que substituíra a púrpura fenícia enquanto tom de nobreza, e que era obtida de milhões de insectos, sendo depois substituída na produção pela
cochonilha mexicana, usada para pinturas pelos indígenas.
O problema, está-se a ver, é que aparece o nome de Portugal misturado com o pau brasil e com a cochonilha mexicana, já que não consta ter existido em Portugal nenhuma indústria de insectos para a produção de corantes. Poderia ainda dizer-se que Portugal era um centro comercial, de distribuição de produtos exóticos... mas falamos de 1387, e não do Séc. XVI.
A conclusão muito simples, que se retira, é que, após os acordos comerciais feitos com D. Fernando, e prolongados com D. João I, certas coisas que Portugal tinha iam para a Inglaterra...
Entre essas coisas estava o pau-brasil, e provavelmente o grão-escarlate, que era obtido no México.
Ou seja, há fortes razões para suspeitar que já no tempo de D. Fernando os portugueses para além de terem chegado ao Brasil, e talvez ao México, andavam a comerciar os produtos que ali obtinham.
Citando Camões, no Canto X (140):
Mas cá onde mais se alarga, ali tereis
Parte também, co pau vermelho nota;
De Santa Cruz o nome lhe poreis;
Descobri-la-á a primeira vossa frota.
Ao longo desta costa, que tereis,
Irá buscando a parte mais remota
O Magalhães, no feito, com verdade,
Português, porém não na lealdade.
Fica por saber, que "
primeira vossa frota" era esta, se a de Cabral foi segunda?
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Nota adicional (06/07/2020):
João Ribeiro deixou ainda um comentário acerca da proveniência do Cipreste português, cujo nome científico é Cupressus Lusitanica, que foi plantado na Serra do Bussaco, fazia mais de cem anos, e foi entendido como árvore nacional, sendo com efeito originária do México.
A árvore mais larga do mundo (que se conheça) é um destes ciprestes, chamado cipreste de Montezuma, ou Arbor del Tule, no México, e esse tem mais de 42 metros de perímetro:
Acerca deste bicharoco, há quem especule 6000 anos...