Nos Mapas de Dieppe (ver, por exemplo, descrição em
portugalliae) encontramos, para além de possíveis representações da Austrália... assunto sobre o qual não vale a pena insistir (é quase inquestionável que à época, c. 1547, a Austrália era já bem conhecida), encontramos nos frisos circundantes cenas evocativas de cariz mitológico. Neste primeiro friso, um governante Rei entrega a Hermes/Mercúrio uma mensagem que entrega a uma deusa dos mares, provavelmente Tétis. O pormenor mais interessante é a representada cidade com altas torres, envolta num certo cinzentismo, que seria mais apropriado para representa uma cidade industrial, 3 séculos depois. Nota-se ainda um sol poente sobre o mar habitado por ninfas...
No outro friso, a cena mitológica repete-se, com a entrega da mensagem a Diana/Artemisa, passando eventualmente por Marte e Vénus... Diana está numa quadriga!
A referência a este frisos com motivos mitológicos prende-se com os fados mitológicos que regressaram no Séc.XVI, sendo bem ilustrados nos Lusíadas de Camões.
Numa corte que durante um milénio negou o transporte por meio da roda, pode perceber-se até que ponto as condicionantes regressivas embebiam as políticas decididas. Essas políticas implícitas, secretas, que condicionaram o transporte, que condicionaram o conhecimento, só transpareciam subrepticiamente nas obras artísticas.
Podemos falar em condicionantes tenebrosas do obscurantismo religioso, mas é surpreendente o ressurgimento de toda a mitologia greco-romana no período renascentista.
À parte as variações na nomenclatura, os romanos adoptaram a mitologia grega. A conquista da Grécia/Corinto (146 BCE) está ligada a dois nomes que também tiveram relevância na Hispania:
Coincidência ou não, o mundo estagnou durante o milénio medieval em que se omitiu a mitologia greco-romana, ainda que prevalecesse o calendário juliano.
As navegações seriam retomadas oficialmente para as Américas quando houve uma chancela papal obtida por Colombo para navegar. Em Natal, Brasil, encontra-se uma coluna romana, denominada "
capitolina"... (
supostamente oferecida por Itália para comemorar um acto de aviação - fica o registo, abstendo-me de comentar o estranho presente da Itália nacionalista de Mussolini).
Se em 1492 houve uma autorização de estender o território conhecido para as Américas, houve uma parcela significativa do mundo que permaneceu obscura. Compreendia basicamente toda a costa oeste americana, acima da Califórnia, e a Austrália. Só após 1775, quando os EUA se libertavam do jugo inglês, as viagens de Cook permitiriam abrir esse Novo mundo, reconhecido, visitado, mas oculto.
Cândido Costa, no final do Séc.XIX chega a falar em 5000 monumentos que atestariam evidências de presença pré-columbiana.
Será difícil de determinar se os jogos cortesãos eram produto de uma corte enfastiada, desejosa de mostrar a sua prevalência divina, ou se ainda acima disso, estariam sujeitos a determinações externas, para além das cortes europeias. Estariam os territórios ocultos abandonados, ou sob domínio civilizacional anterior?
Ou seja, tanto podemos crer que os territórios eram silvestres, abandonados sem propósito, ou albergavam um eventual paraíso terrestre, dominado por uma civilização tão antiga que controlaria as restantes, de tal forma superior, que seriam vistos como deuses. Afinal, o que distingue o homem actual do homem do Séc.XVIII senão pouco mais de dois séculos de civilização.
Do mundo dos coches ao mundo dos foguetões pareceram bastar dois séculos de progresso... quantos dois séculos houve na história da humanidade? Quantas vezes houve oportunidade de dar o salto para um avanço tecnológico significativo? Desde egípcios, babilónios, gregos, hindus, chineses, houve inúmeros avanços da ciência interrompidos para só serem retomados após o renascimento. Estagnações de milénios para rompantes avanços num par de séculos... Estagnações de facto, ou induzidas?
Termino com o mote para o próximo post:
... porque, para além das cortes europeias, estes Magos, de barretes frígios, quais portadores da revolução republicana, foram intervenientes pontuais em várias Estórias.
Figuraram em histórias, em nomes de ilhas, praias, terras, fortes, mas a sua proveniência foi sempre misteriosa e aclamada.
Autoria e outros dados (tags, etc)