Há várias representações no Séc. XVI, do actual Golfo da Califórnia, que lhe atribuíam o nome
Mar Vermelho.
Para além de Lavanha, que já
aqui referimos, temos por exemplo esta representação de Ortelius:
ou esta representação de Ghisolfi
ou ainda mais evidentemente, ambos os mares de vermelho, nesta representação de Batista Agnese (1544):
Há algumas semelhanças geográficas, quer a nível de latitude, quer a nível de forma, entre os dois mares, situados em continentes diferentes. No entanto, esta semelhança de designação e representação parece querer indicar uma relação mais profunda. Em ambos os casos os mares estão próximos de pirâmides, num caso das egípcias, noutro caso das mexicanas; há ainda vastos desertos nas proximidades, e uma costa com mar a ocidente.
O nome Califórnia é ligado a
Califia (amazona lendária introduzida em saga de
Montalvo) e acabou por se tornar numa nova terra prometida. Montalvo associara uma ilha Califórnia, próximo das Indias e do Paraíso Terrestre. A popularidade do seu quarto e quinto romance na sequência da saga de
Amadis de Gales parece ter influenciado a designação desse território.
Apesar de ser bem sabido que se tratava de uma península, a representação da Califórnia enquanto ilha permaneceu durante dois séculos na cartografia europeia. Fazendo parte integrante do México, teve uma curta tentativa independentista enquanto
República da Califórnia, acabando por resultar numa parcial inclusão norte no Estados Unidos. A parte sul, da península e do golfo, ficou sempre sob domínio mexicano.
É ainda na mesma zona da Califórnia, que aparecem novas referências às Sete Cidades:
Notamos que no contemporâneo mapa de Ortelius, a mesma região (o Grand Canyon do Colorado) é designado por Toto Teac, e não por Sete Cidades. As Sete Cidades tendo sido referidas inicialmente no Atlântico (no texto de
Francisco de Souza), associadas possivelmente à zona da Terra Nova ou Acadia, acabaram por ser posteriormente ligadas à Califórnia. Os registos portugueses apontaram sempre para uma ilha atlântica, da qual já se dava notícia na regência do Infante D. Pedro, e com Afonso V, através de um pedido de Fernão Teles.
Esta colocação de lugares míticos na costa oeste americana, e a ausência de exploração oficial a norte da Califórnia, durante mais de dois séculos, revelará talvez a presença de registos de uma cultura americana muito antiga cujos traços acabaram por ser completamente ocultados.
O Mar Vermelho estando ligado a toda a lenda da fuga de Moisés aos Egípcios, sendo associado a uma parte remota na Califórnia, com as semelhanças geográficas e culturais já aqui apontadas, traz alguma dose de mistério adicional.
É pouco natural que havendo a sul civilizações avançadas (Aztecas, Maias, Incas), detectadas logo no início do Séc. XVI, depois não fosse encontrado nenhum registo civilizacional semelhante a norte... quando esses territórios eram tão ou mais férteis e aprazíveis. Ou seja, talvez a ocultação tenha sido impossível a sul, pela tempestividade da conquista espanhola, mas tenha sido possível de forma mais cuidada e laboriosa, durante dois séculos, nos territórios a norte (parte dos quais, como já foi aqui referido, sob domínio colonial chinês em Fusang, o que teria dificultado a progressão).
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