Com o efeito, o relatório afirma que Marcelo Caetano tentava uma autonomia dos territórios africanos, ao que a oligarquia familiar (dos 40 barões) tentou fazer Américo Thomaz depô-lo em Dezembro de 1973, no que foram contrariados por pressão militar dos seus apoiantes.
Diz que "
evidentemente Caetano aprovou o livro de Spínola", fazendo notar que o livro de Spínola continuou a ser vendido em Lisboa, mesmo depois do "
golpe das Caldas". Assinala que os planos de Caetano para lidar com os focos de tensão seriam obscuros...
Só faltou dizer que o 25 de Abril de 1974 teria sido aprovado por Marcelo Caetano!
Não é certamente isso que o próprio disse no
seu livro a "Verdade sobre o 25 de Abril", afirmando: "
A única informação extensa e concreta que dos serviços recebi, já nas vésperas do 25 de Abril, sobre as intenções dos militares, veio de Moçambique", acrescentando que "
só na madrugada do dia 25 de Abril o Director-Geral da PIDE telefonou a comunicar que a revolução estava na rua".
Já
deixámos aqui a pergunta... quem decidiu ocultar a Salazar que este tinha sido substituído por Marcelo? Quem tinha o poder para tal?
Não seria Américo Thomaz sem os 40 barões que dominavam o país (segundo o relatório, dominavam-no não apenas economicamente, mas também nos jornais, rádio e televisão, na representação nos corpos legislativos, e tinham ligação aos altos cargos governamentais). Precisaram desse completo domínio para convencer Salazar de uma ficção, em que permanecia a governar.
Marcelo Caetano, poderia ter promovido/aceitado um golpe de estado contra si mesmo?
Não parece, mas parece claro que quem o apoiou não o deixou cair, e cuidou que fosse exilado em segurança no Brasil.
Parte dos 40 ladrões, desde a Lapa até Cascais, podem ter passado por algumas contrariedades nos anos seguintes, não sem que tivessem regressado e aparecido outros tantos, ou muitos mais.
Sempre cá estiveram, se dirá...
Sim, mas durante o tempo de D. João II podem ter falado mais fininho.
Os que ainda não perceberam por que caíram então, vão falando alto, para se ouvirem a si mesmos.
Os outros, porque não são surdos, não precisam.
Segue-se o memorando, que pode ser encontrado no site da CIA:
Onde se diz que o interesse das colónias está num reduzido número de famílias oligarcas:
Except for Portuguese Guinea, the African provinces do in fact offer significant immediate and long-term economic returns to certain economic groups in Portugal. Large corporations in the metropole, owned by a few powerful families, control virtually all aspects of the territories’ modern economic sectors, including local industry, commerce, banking, and plantation agriculture. The metropole receives preferential trade treatment, and it controls the territories’ sizable foreign exchange receipts.
Repare-se como as partes sublinhadas a negro são ocultadas da referência ao memorando da CIA, feita por S. R. Butler, na sua tese de doutoramento "
Into the Storm: American Covert Involvement in the Angolan Civil War, 1974-1975" numa
nota da página 221.
A tese é de 2008, e provavelmente Butler teve acesso a uma versão censurada a negro, diferente da que foi disponibilizada em 2010, que é aquela que transcrevemos. Repare-se qual foi a escolha de palavras a serem censuradas... no mínimo, os piquenos são engraçadíssimooos!
Note-se ainda neste delicioso parágrafo sobre a Oligarquia das 40 famílias, da cosa nostra:
The Oligarchy
12. In the context of the authoritarian system that as prevailed so long, these stirrings of dissident were, of course, unusual. Since Salazar's time a group of perhaps 40 families who control most of the country's wealth have played a decisive role in the exercise of political power. Their position is derived from their control of the economy, ownership of news media, representation in the legislative bodies, and their close connection with top government officials. Consequently, government policy has reflected the conservative political, economic, and social views of this group. Their business interests in Portuguese Africa are immensely profitable, and hence they have long opposed any loosening of Portugal's overseas ties even though this meant the continuation of a large and expensive military force to combat the African insurgents.