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Apresentamos aqui um mapa chinês que tem servido para muita especulação sobre as viagens chinesas.
Pretende ser uma cópia do Séc. XVIII de um mapa de 1418.
Na nossa opinião este mapa pode ter usado um outro mapa de 1418, mas juntou informação típica dos mapas europeus do Séc. XVIII, pelo que será indissociável alguma contaminação.

É completamente improvável que, a ser um mapa chinês de 1418, o cartógrafo viesse a efectuar os mesmos erros que os cartógrafos de Séc. XVII e XVIII fizeram - e cito apenas dois exemplos:
- colocar a Califórnia enquanto ilha
- errar na localização da Austrália, deixando uma ilha maior em posição que era associada ao Borneo ou à Nova Guiné, mal representando essa parte da mesma forma que os cartógrafos europeus.

Ou seja, não há novidades que apontem uma originalidade para além do conhecido à data da cópia, 1763. Não há erros apreciáveis nas partes polares, mas não difere muito dos mapas do final do Séc. XVI, que recomeçavam a ser corrigidos à época (a viagem de Cook dá-se poucos anos depois)... 
A época, especificamos melhor é - depois de 1755, do Terramoto de Lisboa. Esta data que vai marcar uma mudança que se reflectirá na independência americana, na ascensão russa de Catarina, a Grande, e só depois na revolução francesa. Estava definido o início de uma afirmação europeia que passaria a omnipresença mundial, em todos os palcos.

Marco Polo.
O relato de Marco Polo (Marco Paulo, para muitos antigos autores portugueses), que o acabou por levar à prisão, faz notar a época de secretismo e as consequências para quem o desrespeitasse.
A viagem de Marco Polo à China nada teria de tão extraordinário. Era perfeitamente normal que os comerciantes venezianos, mais ousados, pudessem ter seguido nas caravanas pela Rota da Seda até ao Oriente.
O que seria invulgar e notável é que Marco Polo, tendo ganho a confiança do Khan, tivesse conseguido embarcar com a tripulação chinesa em direcção a Fusang, passando pelo Estreito de Anian.
Isso sim, teria marcado uma viragem enorme na política europeia para o Séc. XIV.

Subitamente, a Europa dava-se conta que para além da ameaça a Oriente, poderia ficar cercada com uma ameaça a Ocidente, caso a expansão chinesa por terras americanas chegasse à costa atlântica da América. Ou seja, para além do espectro da invasão dos Hunos, a que se seguiu a expansão árabe/turca, a Europa poderia ser confrontada com uma presença chinesa no continente americano.

É provavelmente nessa altura que começam as dissensões sobre a atitude a tomar face à América, a política de ocultação tinha agora uma outra faceta de defesa de uma ameaça a Ocidente, em terras americanas.
É nesse contexto que surge uma expansão secreta portuguesa na direcção ocidental... que chegará até à colónia de Fusang. A última bandeira que consta no globo de João de Lisboa de 1514 é justamente uma bandeira no norte da Califórnia... acima desse ponto estaria o domínio da colónia chinesa de Fusang.

O reconhecimento do Reino e do Estreito de Anian, nos mapas de Ortelius, de Lavanha, e vários outros,
Estrecho de Anian - Mapa de Willem Barentsz (1597) 
[via portugalliae.blogspot.com]

mostra que os cartógrafos davam como certo o relato de Marco Polo, associando assim a presença chinesa em terras americanas.
O Estreito de Anian só passa a Estreito de Bering com a expansão de Pedro I, da Rússia, o Grande... 
Até essa data haveria o conhecimento do estreito, mas o seu controlo não estaria em poder ocidental, estaria muito provavelmente sob controlo chinês de Fusang, ou do Reino de Anian. Será só em 1784 que os russos irão desembarcar no Alasca, talvez data em que conseguem derrotar a colónia de Fusang/Anian.

Após Marco Polo, cujos relatos procuram ser silenciados e desacreditados, e após alguns séculos, a Europa consolida por completo a sua hegemonia, acabando com o controlo completo de Pacífico (após Cook e Bering). Os russos dominam a parte do Pacífico a norte, que depois cedem aos Estados Unidos, e a Austrália é consolidada como colónia inglesa. A tentativa de ressurgimento chinês, com a revolta dos Boxers termina com uma imposição ocidental através da Aliança de 8 nações.

Nota (o estreito de Anes):
Um interessante mapa apresentado no blog Portugalliae
apresenta o Estreito de Davis como Estreito de Anes. Apesar de datado de 1630, o mapa tem característica de ser anterior, ou de ser uma cópia de mapa anterior. Aparece claramente o meridiano de Tordesilhas, sendo por isso muito semelhante ao mapa "Pedro Reinel a fez". Neste caso, poderia referir-se à celebração de alguma viagem de um certo "Anes", e não ao Estreito de Anian situado em parte oposta. A contracção "Estreito d'Eanes", poderia mesmo levar a uma conjectura simples - o cabo Bojador que Gil Eanes teria passado seria muito mais uma passagem a latitudes árticas... No entanto, não temos nenhum outro dado que corrobore esta simples suposição.

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publicado às 05:08


12 comentários

De José Manuel CH-GE a 09.01.2011 às 21:33

Olá,

Queira desculpar de insistir, mas eu raras vezes sou atraiçoado pela memória, enquanto dura:

The Travels of Marco Polo

http://en.wikipedia.org/wiki/The_Travels_of_Marco_Polo#cite_note-1

Books of the Marvels of the World (French: Livres des merveilles du monde) or Description of the World (Divisament dou monde), also nicknamed Il Milione ("The Million") or Oriente Poliano and commonly called The Travels of Marco Polo, is a 13th-century travelogue written down by Rustichello da Pisa from stories told by Marco Polo, describing the travels of the latter through Asia, Persia, China, and Indonesia between 1271 and 1291.[1]

It was a very famous and popular book, even in the 14th century. The text claims that Marco Polo became an important figure at the court of the Mongol leader Kublai Khan. However, modern scholars debate how much of the account is accurate and some have questioned whether or not Marco Polo ever actually traveled to the court or was just repeating stories that he had heard from other travellers.[2]

Wood, Francis (1996). Did Marco Polo Go to China?. Boulder: Westview Press. ISBN 0813389984, 9780813389981.

O homem nem escreveu livros nem nunca pôs os pés na China...

Cumprimentos,
José Manuel CH-GE

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