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Uma situação razoavelmente estranha será encontrar navios encalhados em terra, longe do mar.
Imagem emblemática dessa temática, será a do filme "Encontros imediatos do 3º grau", de Spielberg (1977), em que o Cotopaxi (navio perdido em 1925 no Triângulo das Bermudas) seria encontrado no meio do Deserto de Gobi (China/Mongólia).

Com efeito, há poucos dias, surgiu a notícia de que o Cotopaxi teria sido agora encontrado no fundo do mar, na área do Triângulo das Bermudas:

Missing Bermuda Triangle shipwreck found 100 years after it vanished mysteriously 
(The Sun, 30.01.2020)

Bom Jesus 1533
Vem este assunto também na sequência de ter sido encontrada a carga do navio Bom Jesus em 2016, na Namíbia, e da controvérsia (sinalizada nos comentários de J. Ribeiro e J. M. Oliveira) do governo português, de António Costa, ter prescindido por completo desse tesouro, entregando tudo à Namíbia.
Tesouro do navio Bom Jesus incluía moedas de ouro no valor de 13 milhões de dólares,
foi doado pelo governo português à Namíbia (FOX-News).
(Moeda de Fernando e Isabel, reis católicos) 

O navio está declarado no livro de Lisuarte de Abreu, no ano 1533, como tendo sido capitaneado por D. Francisco de Noronha, e ter-se-ia perdido na viagem da Armada para a Índia.
Livro de Lisuarte de Abreu - em baixo "dom fcº denoronha q se perdeo"

Conforme se pode ler no artigo da Fox-News ("500 year-old shipwreck loaded with gold found in Namibian desert"), apesar do navio pertencer a Portugal, o governo socialista prescindiu de todos os direitos:
And in this case the ship belonged to the King of Portugal, making it a ship of state – with the ship and its entire contents belonging to Portugal.  The Portuguese government, however, very generously waived that right, allowing Namibia to keep the lot.”
Para além do desprezo e facilidade com que o governo socialista prescinde de toda a recordação do navio português ali perdido, como se houvesse peçonha no nosso passado, há mais curiosidades.

Uma delas é que o navio foi encontrado por mineiros da De Beers, a conhecida companhia holandesa de diamantes que explorava a zona de Oranjemunde. Ou seja, este navio foi já encontrado enterrado no deserto, ainda que perto da costa, onde terá encalhado. 
Esta situação faz ainda lembrar o caso das Âncoras Suiças, aqui abordado.

Eduard Bohlen
Mas podemos ainda encontrar na Namíbia um outro caso, de um navio mais recente, que avançou  400 metros para o interior. Trata-se do navio Eduard Bohlen, que naufragou em 1909 e ao fim de cem anos, houve um movimento de terras que o teria puxado para o interior do continente africano.
O navio Eduard Bohlen (1909) no deserto da Namíbia.

USS Wateree, Marjorie Glen
Um caso mais invulgar é o do navio USS Wateree, de 1863, que estava ao largo do Peru, perto da cidade de Arica, actualmente no Chile, quando um maremoto o terá levado também 410 metros para o interior do deserto chileno (antes peruano).
 
Resto do USS Wateree no deserto chileno (à esquerda). Resto do Marjorie Glen (à direita).

Ainda na América do Sul, um outro caso conhecido é o Marjorie Glen, que em 1911 encalhou na Argentina, em Rio Gallegos. Avançou em terra, e actualmente está afastado alguns metros da costa:
El Naufragio del Marjory Glen

Mar Aral
Uma situação invulgar aconteceu com o progressivo desaparecimento do Mar de Aral. Os barcos e navios que aí se encontravam passaram a formar um cemitério de navios

Desaparecimento do Mar de Aral - cemitério de navios.

Este caso, poderia ainda ter ocorrido noutros lagos, rios, ou extensões de terra que foram assoreadas, e será um dos mais frequentes de "navios em desertos"...

Colorado
Há ainda uma história, que ficou como lenda, acerca de um possível navio no deserto do Colorado, conforme se encontra registado na wikipedia: Lost ship in the desert. Ver também DesertUSA, onde se pode ler
Implausible as it sounds, the wreck of an ocean-going ship 100 miles or more inland from either the Pacific or the Gulf of California, the story has persisted for centuries in reports from Indian peoples, Spanish explorers, prospectors, migrants and treasure hunters.
Haverá mais casos, mais ou menos vulgares, mais ou menos explicáveis, em que navios aparecem fora do seu habitat natural, por exemplo, arruinados no meio de um deserto.
Se estes casos aconteceram num passado recente, também seria natural que tais vestígios fossem encontrados em passado mais remoto. No entanto foi informação que se perdeu...

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publicado às 05:53


14 comentários

De Anónimo a 09.02.2020 às 15:10

Muito bom, muito interessante.

Temos de nos livrar de todos os Socialistas e do Socialismo, custe o que custar!

Cumprimentos,
IRF

De Amélia Saavedra a 10.02.2020 às 08:58

Deixo um link interessante sobre a origem da língua portuguesa...
https://observador.pt/2020/02/08/e-promiscua-e-e-liberal-afinal-de-onde-vem-a-lingua-portuguesa/#comments-post-3669184

De João Ribeiro a 10.02.2020 às 09:13

"governo português, de António Costa, ter prescindido por completo desse tesouro, entregando tudo à Namíbia."

Isto é triste e revoltante...

De da Maia a 10.02.2020 às 14:37

Obrigado, Amélia.
Pena é que ele faça essa teoria assumindo o habitual, porque não se afasta quase nada do que tem sido sempre dito.
Bastava que ele explicasse como se perdeu toda a gramática e estrutura sintáctica do latim, nas línguas que são supostamente derivadas dele. Mas isso, nunca vi feito.
De qualquer forma, tem razão, porque tem alguma informação interessante.
Abraços.

De Anónimo a 10.02.2020 às 14:40

Até 1400 a língua que se falava na região de Lisboa e Algarves era o árabe, as elites, e o berbere o povinho que querem pintar de moçárabe!... já disse isto aqui e vêm com a historiéta dos bispos moçárabes...

DA ENTREVISTA a Fernando Venâncio :
Explique-nos então que história é essa do “galaico-português” com o qual supostamente se escreveu a lírica trovadoresca. Existiu ou a história está mal contada?

Fernando Venâncio:
Para começar pelo fim: sim, é uma história mal contada. Uma história à nossa medida, para nos tranquilizar. A língua em que a lírica chamada «galaico-portuguesa» foi escrita foi, sem sombra de dúvida, o galego. Por esta razão simples: o português ainda não existia, e só seria criado, como tenho vindo a lembrar, no século de Quatrocentos. Nesta obra mostra como insistimos em ver-nos como se caídos do céu, um país, um estado, uma língua, um povo, tudo pronto desde 1143. Uma mistificação que a história da Língua Portuguesa nega com veemência.

Fernando Venâncio é linguista, foi docente de língua e cultura portuguesa em várias universidades dos Países Baixos (Holanda). É também autor de vários ensaios sobre literatura e romancista.
Tirado do Jornal Observador e do meu Facebook

José Manuel

De da Maia a 10.02.2020 às 14:47

Caros IRF e João Ribeiro,
a questão é que no meio desta socialite parece-me mais vir uma ordem de agachamento, de outras paragens, e que tanto afectam à esquerda como à direita.

Afinal convém não esquecer que em 2015, mesmo com Passos Coelho e Paulo Portas, a comemoração dos 600 anos da tomada de Ceuta, ou da invocação de Afonso Albuquerque, foi um grande nada:
https://alvor-silves.blogspot.com/2015/08/uma-cepta-em-africa.html

Da mesma forma que os impeachments de Dilma e de Trump parecem caminhar em sentidos opostos, mas visavam uma mesma lógica de conveniência, que consiste em arrumar os inconvenientes da globalização, comandada à distância.

Abraços.

De João Ribeiro a 10.02.2020 às 16:11

Atenção que que o PSD é um partido de esquerda disfarçado de "direita". Após 1975 convinha que a oposição ao socialismo não fosse assim tão "oposta" de forma a que tudo o que se situasse à direita do PPD (PSD) fosse apelidado de "extrema-direita". Resultou, pois ainda hoje em dia tudo o que seria considerado de direita por essa Europa fora, cá é considerado de extrema direita. Típica manobra de de controlo da comunicação social por parte dos poderes políticos de esquerda. O Paulo Portas mesmo sendo do CDS-PP também não valia, nem vale grande coisa.

Mas na questão de fundo considero que tem razão, pois mais do que direcções geográficas que é aquilo que considero a dicotomia esquerda-direita, são todos desprovidos de amor pátrio, essa sim deveria ser a camisola a vestir todos os dias, a de Portugal.

Ab.

JR

De João Ribeiro a 10.02.2020 às 16:42

Grande confusão... E antes de 711 falávamos por linguagem gestual? Ai não! Era o romance, uma mistura do latim trazido pelos romanos com a linguagem local, e antes dos romanos não tínhamos língua(s). Portanto tínhamos pessoas, cultura etc etc etc antes dos árabes cá chegarem. Ser moçárabe não invalida falar árabe (ou não, provavelmente existiria a confluência das duas línguas, a local com a árabe), simplesmente eram populações autóctones sobre o jugo árabe mas mantinham o rito e modo de vida cristão. A língua do norte, a galego (e atenção que a Galécia compreendia território que hoje pertence a Portugal) foi-se expandindo com a reconquista. Tal como em Leão o galaico foi-se acastelhenizando, o galaico para sul foi-se aportuguesando. Isso tem de ver com regionalismos nomeadamente no condado portucalense, daí a designação galego de Portugal ou como quem diz galaico-português. Ou seja era um galego falado em terras de Portugal. Mas afinal quem afirma que Portugal estava pronto em 1143? Nunca ouvi tal coisa, ouvi dizer sim que Portugal à medida que ia crescendo ia com ele a linguagem dos senhores. A linguagem oficial de um país é a linguagem do poder e oficialmente a que foi estipulada por D. Dinis no século XIII foi, imagine-se só, é a Portuguesa! Olhe na Pontinha farto-me de ouvir gente a falar crioulo e não é por isso que a língua oficial de Portugal é o crioulo.
Esse sr F. Venâncio ou é muito fraquinho no que faz ou quer polémica para ajudar vender uns livrinhos.

Cumpts,

JR

De Anónimo a 10.02.2020 às 20:48

Caro da Maia:

O PSD não passa da muleta dos Socialistas quando têm de fingir que estão na oposição.
Não são o mesmo que os Socialistas, não. Mas são-lhes servis e servem apenas com o objectivo de continuar a legitimar os socialistas e o socialismo.

Quanto ao impeachment de Trump, não foi nada senão o reflexo da demência dos socialistas.
Já o impeachment de Dilma resultou mesmo na incrível queda de socialistas muitíssimo bem entrincheirados.
Não vejo como pode pensar que foram para "arrumar os inconvenientes da globalização".

Quanto ao senhor Venâncio e as suas teorias sobre a língua Portugalega, reconheço que ele, como um relógio parado, até acerta de vez em quando... por um bocadinho...

... mas que o homem em questão é louco e o grosso das suas ideias gerais são completamente patéticas e fácilmente desmontáveis, ai isso são.

Aliás, só num país de provincianos rebarbados é que poderíamos imaginar que um Alentejanito com ilusões de grandeza pode ser levado a sério no que toca à língua Portugalega *porque* e só *quando* vai estudar/ensinar Português para a Holanda.

Aqui, de certo que ninguém lhe daria crédito.
E vivemos num país que cometeu o crime do hediondo acordo ortográfico.
E onde certas pessoas com reconhecidas habilitações acima da média não se coíbem de dizer Méstrado ou Mídia porque na cabeçinha tola delas parece mais chique.

Enfim.
Cumprimentos,
IRF

De Alvor-Silves a 12.02.2020 às 03:04

Caro IRF,
pareceu-me haver alguma semelhança nas movimentações brasileiras e norte-americanas no que diz respeito a impeachments.
Normalmente esse dispositivo seria excepcional, e usado não tanto por razões políticas mas sim por razões jurídicas.
Os casos anteriores seriam o Collor de Melo, no Brasil, Clinton livrou-se airosamente do puritanismo, pelo que seria Nixon que se demitiu antes de ser demitido.
Se a situação de Dilma acabou por ser compreensível, dado o caos da política brasileira, não deixou de mostrar as fortes pressões que a Maçonaria brasileira desenvolveu para promover um inenarrável juiz lava-jato. Obviamente que o PT no Brasil se comportou como os camponeses que ocuparam a Torre Bela.
Dilma não teria talvez competência, nem conseguiu travar os excessos, mas quando Portugal entrou em crise, o Brasil ainda era o "B" dos BRIC. Lembro-me perfeitamente de em 2012 avisar os meus amigos brasileiros que o FIFA 2014 e a Olimpíada 2016 seriam um rápido caminho para uma crise financeira, devido à especulação imobiliária promovida do exterior.
Essa receita está muito bem explicada no livro "A Century of War":
https://alvor-silves.blogspot.com/2012/09/a-century-of-war.html

Quanto à iniciativa democrática de promover o impeachment de Trump foi um absurdo de todo o tamanho. É claro que eles tanto promoveram a narrativa de que Trump é um idiota (e em parte será...), que parece que acabaram por acreditar na própria fábula, do politicamente correcto.
Mas é claro que, de uma forma ou de outra, quem joga nos bastidores de um conflito, não aposta só num dos lados, aposta nos dois, para lucrar em qualquer cenário.

Quanto ao resto, estamos de acordo.
Tenho que ver se continuo a série da Qu'estão, ainda que ninguém tenha colocado nenhuma questão...

Cumprimentos.

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