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É instrutiva a consulta do atlas de João Teixeira Albernaz, de 1630:

Taboas geraes de toda a navegação, divididas e emendadas por Dom Ieronimo de Attayde com todos os portos principaes das conquistas de Portugal delineadas por Ioão Teixeira cosmographo de Sua Magestade, anno de 1630

... porque, para além de outros detalhes é bastante explícita na descoberta da Austrália por Manuel Godinho de Erédia em 1601:
(clicar no mapa para aumentar)

Há duas coisas escritas, na parte que corresponde à Austrália, que são:

  • NUCA ANTARA - descuberta por Manoel Godinho de Eredia : Ano 1601.
  • Terra descuberta pelos Holandezes a q chamárão Eendracht ou Concordia
A descoberta holandesa é remetida a 1606 por avistamento do holandês Janszoon. 
Ou seja, é exactamente como a carta que estava no fac-simile que Richard Major apresentou em 1863, assunto que abordámos em postal anterior:

Mapas de Dieppe (3) Nuca Antara



O mapa global adiciona à inscrição "por mandado do Vizo Rei Aires de Saldanha":
(clicar no mapa para aumentar)

Como já debati este assunto demasiadas vezes, não vou insistir sobre ele, remetendo esta parte ao postal de Maio de 2011 já referido.

Fica no entanto uma questão razoável.
- O que teria acontecido se portugueses e espanhóis tivessem que dividir a Austrália ao longo do meridiano de Saragoça, o anti-meridiano de Tordesilhas?
Deslocar-se-iam exércitos para a Austrália, um para cada lado da ilha?

Estes atlas de Albernaz aparecem com uma carta espanhola, que se queixa dos enganos sucessivos, e propositados, que os portugueses faziam na demarcação dos meridianos. Aliás, é à conta dessa entrada por território espanhol que o Brasil tem quase o dobro do tamanho que normalmente teria.
O mesmo tipo de problemas iria ocorrer sem dúvida na parte australiana.
Ora, curiosamente, ao longo de toda a exploração marítima acabaram por ser muito reduzidos os conflitos entre Portugal e Espanha. 
Talvez porque se passaram a preocupar com os outros intervenientes na partilha do bolo, foram diminuindo de forma considerável os conflitos de vizinhos. 
A Austrália não parecia ser suficientemente interessante para deslocar grandes exércitos. 
Talvez tenha ficado decidido ser uma "terra de concórdia", afastada da atenção, até que os conflitos na América ficassem resolvidos... porque foi isso que acabou por acontecer. Quando finalmente a Inglaterra saiu vencedora da Guerra dos Sete Anos, o seu domínio marítimo era já completo, e foi justamente James Cook, um oficial que combateu no Canadá, que 5 anos depois irá fazer o protocolo das viagens de "descobertas" pacíficas, em particular, a australiana.

Sob esse aspecto, a Austrália foi de facto o único território que se livrou das contínuas guerras entre potências ocidentais, e poderia chamar-se "terra de concórdia"... se não tivesse depois ocorrido uma chacina ainda mal documentada, que vitimou os aborígenes e especialmente uma população malaia (a única a fazer resistência aos europeus) que nem entra na contabilidade nos livros de história.


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publicado às 05:55


2 comentários

De Anónimo a 03.01.2019 às 14:32

Falta notar que a página 29 desse livro, contempla a carta do lado ESTE da australia com a nota sobre a descuberta em 1606 por P. Queiroz.
Ou na página 30 a "TERRA DO FOGO" corrigida manualmente para "Terra del Fuego".

Cumprimentos,
Djorge

De da Maia a 04.01.2019 às 12:06

Sim, o atlas de Albernaz é bastante instrutivo e está cheio de interessantes detalhes.
Essa inscrição acerca de Queiroz está também no mapa do globo que aqui coloquei, mas vê-se muito mal nesta resolução.
O que também é bastante interessante é que a costa norte da Rússia tem um contorno muito próximo do actual, e acima do que seria esperado num mapa de 1630. Por exemplo, chama "Terra Verde" à ilha de Svalbard, e continua apontando Nova Zembla (não muito bem), mas vai até às ilhas do Mar de Leptev, região que só foi explorada pelos russos 100 anos mais tarde.

A parte da Terra do Fogo está toda riscada pelos espanhóis, que marcaram uma série de traduções, feitas à pressão...

Todo o atlas é muito instrutivo.
Abraço.

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