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Conforme assinalámos num postal anterior, sobre o computo pascal, apareciam na Bíblia dos Jerónimos ilustrações de relógios, e portanto aos hieronomitas não seria estranho o artefacto, que aliás era já comum nas torres das nossas igrejas.
Vejamos uma peça escrita em 1853, em que começa assim o 6º capítulo:
Acaba de soar a sexta hora da tarde no relógio do convento dos Jerónimos em Belém, no dia 6 de Novembro de 1640, quando num velho palácio (...)
Esquecendo o enredo, onde está o relógio do Mosteiro dos Jerónimos?
Ora, o Mosteiro dos Jerónimos não apresenta nenhum relógio... agora!
Com efeito, há fotografias do Mosteiro dos Jerónimos com o relógio, que perdeu há 150 anos:
Foto do Mosteiro ou Convento dos Jerónimos, em 1872, com o relógio (ao centro, à esquerda).

A informação relevante está num blog 
https://paixaoporlisboa.blogs.sapo.pt/mosteiro-dos-jeronimos-acervo-73486
que publicou parte do acervo fotográfico de Eduardo Portugal (1900-58), constante da Câmara Municipal de Lisboa.
Pode-se ler que os cenógrafos italianos do São Carlos, vão propor "demolir a galilé e a sala dos reis, construir os torreões do lado nascente do dormitório, a rosácea do coro alto, e substituir a cobertura piramidal da torre sineira por uma cobertura mitrada".
O problema foi que em 1878 dá-se a derrocada do corpo central do dormitório, que tinha o relógio, a reconstrução só é finalizada pouco antes das comemorações dos 400 anos da chegada de Vasco da Gama à Índia, ou seja, em 1894-98.

O projecto de reconstrução fez alterações consideráveis, e tinha outra ambições:
digamos, que não foi só desaparecer o relógio...

Vemos aqui outra foto em que é possível ver o relógio, e as obras na parte superior, que levaram à subsequente derrocada:


Note-se que antes disto, a torre da igreja tinha a tal cobertura piramidal, conforme vemos na figura seguinte, e que foi substituída por um torreão mais alto, dita mitrada. Vemos ainda os alicerces para fazer os torreões do dormitório, junto à igreja (conforme os temos hoje):


Note-se ainda, aqui num esboço mais antigo, como os barcos chegavam praticamente até ao mosteiro (numa altura em que estes barcos à vela poluíam muito, e faziam aumentar o nível do mar... imagine-se o raspanete que a Greta não lhes teria dado).

O que se sabe disto?
Pois, o que é conhecimento público geral é que derrocou a parte central do Mosteiro, conforme está atestado em diversas outras fotografias.
Digamos que não será um assunto secreto... talvez sirva para surpreender uns iniciados na maçonaria, mas pouco mais que isso. 

Conhecendo os bichos que temos, não é nenhuma informação de espantar!
Tão facilmente alterariam o Mosteiro dos Jerónimos, quanto esconderiam os coches antigos de D. Afonso Henriques e de D. Dinis... e foi praticamente na mesma altura.
As fotos terem por vezes escrito "reservado", reportar-se-ia certamente a uma mesa na Trindade.

Agora, se o relógio dos Jerónimos estava lá desde o início, pois isso já é mais complicado saber... até porque houve ainda o Sismo de 1755. Sendo que como se sabe que caiu o Carmo e a Trindade, e não propriamente a Sé e os Jerónimos, é natural que aí o Marquês se tenha dedicado ao espectáculo dos seus horrores no campo ao lado, o chamado Chão Salgado.
Pelo menos, o autor da peça, António Aragão, acreditava que em 1640 estava lá o relógio.

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publicado às 06:54


1 comentário

De Anónimo a 08.06.2020 às 18:14

José Felicidade Alves escreveu três livros 'O Mosteiro dos Jerónimos' (I-II-III), edição Livros Horizonte, com uma exaustiva e interessante explanação sobre as fases da edificação do Mosteiro dos Jerónimos.
Respeitante à simbologia das muitas figuras esculpidas, não aparece nenhuma referência a 'pedreiros livres' ou por não haver ou por não querer dizer.
Por cá, temos muita gente que desconhece que muitos dos 'manuelinos', que agora vemos, são obras do sec. XIX.
Cumpts.

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