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De um dicionário:
flipar: Perder a calma ou o juízo (ex.: o sujeito flipou).
... e é atribuído com origem inglesa de flip (virar, saltar).
Que os portugueses podem ter flipado com a viragem governativa que ocorreu em 1580 não será uma novidade, e temos uns certos Filipes relacionados com o assunto, começando com este:
Filipe II de Espanha, o primeiro dos três flips que nos fliparam.
Já falei abundantemente sobre a perda de independência, e não vou repetir o assunto.
Uma das marcas da anterior governação foi um ataque à Restauração... curiosamente em dois aspectos diferentes - o serviço de restauração teve imposto acrescido, e o feriado da Restauração foi cortado do calendário. Depois, de o novo governo restaurar o anterior imposto da restauração, finalmente foi hoje restaurado o feriado da Restauração. Já não era sem tempo!

Poderíamos supor que a palavra inglesa "flip" seria antiga, de raiz germânica, ou algo semelhante. Porém, não é bem assim... indo ao dicionário de etimologia inglesa, vemos que a origem desta "viragem" está apontada para 1590-1610, altura em que Filipe II reinava, e tinha forma mais antiga como "fillip" ou ainda como "fyllippe".
flip: (1590s) "to fillip, to toss with the thumb," imitative, or perhaps a thinned form of flap, or else a contraction of fillip (q.v.), which also is held to be imitative. Meaning "toss as though with the thumb" is from 1610s. Meaning "to flip a coin" (to decide something) is by 1879. (...)
fillip: (mid-15c.) philippen "to flip something with the fingers, snap the fingers," possibly of imitative origin. As a noun, from 1520s, fyllippe.
Um problema inglês com Filipe II, ainda antes da ameaça de invasão pelo ataque da Armada Invencível, tinha sido desde logo o casamento em 1554 com a rainha inglesa Maria Tudor, famosa como "Bloody Mary", pelo catolicismo fervoroso e perseguição aos protestantes ingleses.
Este casamento é ilustrado na moeda seguinte:
Moeda inglesa de 1 xelim de 1554, comemorando Filipe II casado com Maria Tudor, rainha inglesa.
Portanto, bastava virar a moeda para se entender que a Inglaterra poderia passar a ser incluída num dos vastos domínios que Filipe II, ou um sucessor de ambos, poderiam herdar. Em 1554 Filipe ainda não é Imperador, só será com a abdicação do pai, Carlos V, em 1556.
No entanto, quando Maria Tudor morre em 1558, sem filhos, a sucessão inglesa cairá em Isabel I, com quem Filipe II tentará ainda casar, mas sem sucesso, começando depois as hostilidades entre Inglaterra e Espanha. 

No espaço de 60 anos em que Portugal fica sob domínio Filipino, Lisboa nunca consegue tornar-se na capital do alargado império espanhol, como era pretensão da maioria da sua nobreza. O império espanhol é atacado de forma decisiva pela Guerra dos Trinta Anos. Quando atinge a sua máxima extensão é também quando entrará em rápido declínio. O casamento por interesse e sem interesse, das duas potências ibéricas, provocou um divórcio irremediável. Nunca mais foram completamente independentes, suplantadas pela crescente força francesa, inglesa, e até holandesa.
A Holanda que não existia formalmente em 1580, passou a ser uma ameaça em 1640 a todo o império português, procurando substituir-se aos portugueses em todas as colónias.
Mas o caso talvez mais significativo é o da Espanha, passados dois séculos. No Séc. XIX, quando as potências europeias partilham o mundo colonial, a anterior grande Espanha estava reduzida praticamente ao seu território europeu, após a libertação colonial de Bolivar e San Martin.

Após 17 anos da Guerra da Restauração, em 13 de Fevereiro de 1668, a Espanha finalmente abdica da tentativa de recuperar o território português. Terá sido a última vez que Portugal, com o Marquês de Marialva, teve um exército capaz de defender um estado independente.
Marquês de Marialva, D. António Luís de Meneses

A independência de Portugal será, depois de Afonso VI, e especialmente depois de D. João V, uma dependência da Inglaterra, e toda a conjuntura maçónica irá reduzir as potências ibéricas à sua impotência, perante o crescimento das novas potências, especialmente inglesa e francesa (e após Napoleão, a alemã).

Ter a visita de Filipe VI de Espanha na véspera da restauração do feriado da Restauração, não deixa de ser caricato, quando ambos os países reduziram a sua independência, a uma quase total dependência das políticas económicas da União Europeia.

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publicado às 23:52


6 comentários

De Anónimo a 02.12.2016 às 17:55

Ré:"visita de Filipe VI de Espanha na véspera da restauração do feriado da Restauração"

Sinais de união Ibérica em perspetiva, para saída do € ?

Cpts.
José Manuel

De Alvor-Silves a 03.12.2016 às 17:37

Boa interrogação...
se neste domingo, o voto negativo na Itália se confirmar, como parece, a UE começará a ficar mais um projecto sozinho franco-alemão, e será aguardar para as eleições que Le Pen conta ganhar.

A união ibérica seria um total erro, como foi no passado, e ninguém pensa mesmo nisso, tirando uma certa elite nacional, preguiçosa e calona, em que o oportunismo básico é a única forma de inteligência que conhecem.

Os espanhóis já têm dificuldade em manter a Catalunha, mas seria algo mais inteligente começarem a pensar ambos em servir os seus interesses do que os interesses franco-alemães.
Para isso, não era pior se definissem como prioritário o mercado ibero-americano, tal como certamente os ingleses se vão virar para o Atlântico.

Abraços.

De Anónimo a 05.12.2016 às 02:03

Cpts.
José Manuel

https://www.facebook.com/beppegrillo.it/videos/vb.56369076544/10154109149111545/?type=2&theater

De da Maia a 05.12.2016 às 13:40

Numa altura em que a palhaçada impera na política, parece natural que sejam eleitos os que são apontados como verdadeiros palhaços. Ou será que a o establishment pensava que tinha a exclusividade da comédia?
Abraços.

De Anónimo a 05.12.2016 às 14:09

““Mas a verdadeira catástrofe é a informação. É mau que estas coisas sejam conhecidas por nós, comediantes, e não pela imprensa, que só chegou depois” (…)
Um dia, publicou a lista de deputados que tinham sido condenados por vários crimes. Depois, tentou publicá-la nos jornais italianos, que responderam negativamente. De seguida, Beppe Grillo recolheu fundos junto dos seus seguidores e no dia 22 de novembro de 2005 comprou uma página inteira no International Herald Tribune, a versão europeia do The New York Times. Além da sua fotografia e do título “Limpar o parlamento!”, Beppe Grillo remetia para o seu blogue, onde a lista de 23 deputados condenados podia ser consultada. No fundo, lia-se a seguinte assinatura: “Beppe Grillo e milhares de cidadãos italianos”.

O auge disto tudo foi em 2008, quando a 8 de setembro convocou várias cidades a celebrarem o V-Day. V, de vaffanculo. “Nós somos parte de um novo Woodstock!”, bradou à multidão. “Só que desta vez os drogados e os filhos da mãe estão do outro lado!”
http://observador.pt/especiais/beppe-grillo-no-final-da-piada-vem-a-vitoria-eleitoral/

Merece a pena de ler, isto tem andado escondido em Portugal!

Cpts,
José Manuel

De da Maia a 05.12.2016 às 16:50

Re: "Depois, tentou publicá-la nos jornais italianos, que responderam negativamente."

Sim, e depois querem que pensemos que há alguma liberdade de expressão nos meios de comunicação social.
Provavelmente, o Herald Tribune aceitou porque, para além de receber o respectivo montante para publicação, isso não fugia de uma certa estratégia inglesa que se enquadraria na perturbação dos parlamentos europeus.

Na pátria do Pinóquio, o "Grillo falante" aparece assim como uma consciência que é incómoda para uma sociedade de mentiras, e é verdade que os que no Woodstock eram "hippies" passaram nos anos 80 a "yuppies", e alguns a políticos omnipresentes.
Em Portugal, tal como nos outros países, só se publica o que é "politicamente correcto"... ou seja, o que convém que as pessoas pensem para aplicar a política "correcta", segundo o establishment.

Abraços.

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