Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]



Horror
O grito. Edvard Munch (1893)
Se há coisa a que os seres humanos nunca foram poupados, foi à presença real ou imaginada do pior dos horrores. Diria mais, a literatura, a arte em geral, encheu-se de tragédias, e de descrições, numa perspectiva de "tanto quanto pior melhor". 

Um quadro simples, como o grito de Munch, conseguiu um efeito icónico, perturbador para a maioria dos espectadores. Podemos ir mais atrás, aos quadros de Hieronymus Bosch, que são também suficientemente desconcertantes e complexos, mas que estão fora da realidade do observador. Normalmente a situação mais perturbadora leva o espectador para uma realidade que não o coloca apenas no campo da ficção.

A principal questão é a de perceber a "convocatória de horror", com que somos confrontados, convidados a assistir, a sofrer, em primeira pessoa ou em pessoa alheia, trazendo para nós sentimentos de que poderíamos bem prescindir.

Ser humano
O ser humano apareceu num contexto extremamente violento, onde a natureza já exercia toda a espécie de experiências nefastas aos animais que tinha criado. Não foi o homem que criou o horror. Nasceu dele e cresceu convivendo diariamente com ele.
Não poderia ser doutra forma, sejamos claros. Se a matéria era aglomerada, praticamente do nada, de um ovo, para se constituir como ser vivo, enquanto aglomerado natural, não faria sentido uma lei natural que inviabilizasse a sua destruição, a sua remissão às partes que formavam o todo.
Em muitos casos isso era e é literalmente assim, a presa entra dentro do sistema digestivo do predador, e sai já reduzida a estrume, matéria pronta a entrar noutro ciclo de vida. A natureza não esteve preocupada em anular a dor da presa, assim como forçava o predador a esse jogo, sob pena da lancinante dor da fome, antevisão do seu próprio desfalecimento.

Energia
A lógica algo sinistra da vida está relacionada com esse imposto pago a cada instante de tempo.
As partículas não podem decidir mover-se de um lado para o outro, sem pagar o imposto energético.
No caso de serem partículas inanimadas, qualquer movimento seu resulta de energia transmitida por outra fonte. As partículas animadas, por moto próprio, são animais (aliás, como o nome indica).
Um grão de areia pode voar levado pelo vento, pode ser arrastado pela água, mas todos esses movimentos não têm origem em si, são resultado da dinâmica de fluidos, na maior parte das vezes definida pela energia do Sol, ou pela conversão da energia da Terra (por exemplo, a energia potencial gravítica). Quando pequenas partículas tentam rumar contra essa corrente, por iniciativa própria, são animais, desde as mais pequenas amebas, até às maiores baleias.
Cada vez que manifestam a sua vida, pagam esse seu movimento em energia.

Como a lei universal é de conservação de energia, se algum animal quer gastar energia, tem que ir tirá-la algures... Ora, praticamente a única fonte gratuita de energia é o Sol, e o aproveitamento directo dessa energia é feito pelas plantas na fotossíntese. Animais movidos por fotossíntese foi coisa que não vingou, provavelmente por insuficiência energética, e assim os primeiros animais foram herbívoros, retirando energia das plantas. Até aqui a coisa não era muito atroz, porque as plantas eram desprovidas de sistema nervoso... o problema começou quando a natureza decidiu avançar para a crueldade seguinte, permitindo que uns animais fossem predadores de outros, especialmente dos herbívoros. A natureza já tinha exercido a sua crueldade com as plantas, através de secas e outros mimos, mas passa a outro nível com os herbívoros, chegando ao nível do sarcasmo quando condena uma tartaruga à morte por impossibilidade de se virar sobre si mesma.

Propósito
Isto tudo poderia ocorrer sem qualquer propósito, e essa é a versão oficializada da ciência maçónica, mas nos bastidores vai correndo outra ciência, sem pecadilhos religiosos, de uma religião que é anti-religiosa. Já aqui falámos do Princípio Antrópico, e essa é praticamente a única resposta a esta questão. Mais concretamente, quando a natureza introduz os seres vivos e os animais vai cumprir os passos necessários para o "conheça-se a si mesmo" universal. Desde a primeira existência de olhos, ou melhor, desde o primeiro instante em que os animais tiveram sentidos, assimilaram dentro de si uma parte exterior. Com os primeiros animais, o universo ganhava pela primeira vez seres que interpretavam uma parte do universo onde estavam. Admitindo que esses animais eram herbívoros, o seu conjunto iria interpretar ou codificar o mundo exterior. Com o cérebro herbívoro, o mundo terrestre poderia ser todo visto e previsto, nas suas leis mais básicas. Os herbívoros, sujeitos às maiores atrocidades, poderiam ir sobrevivendo num mundo quase caótico, restando os que melhor o entendessem. No entanto, sem inimigos acima de si, não teriam que se entender a si mesmos.

Quando a natureza define predadores e presas, não está apenas a ser cruel... ou a arranjar alternativas para o sucesso energético. Nessa altura, as presas têm que prever os predadores, e vice-versa. O cérebro de um herbívoro deixa de estar apenas preocupado com os seus locais de pasto, uma tarefa simples, quando comparada com o prever da acção dos predadores que lhe ameaçam a vida.
Desenvolvendo-se essa capacidade de previsão dos outros, isso tanto ocorre para a presa, no sentido de escapar ao predador, como para este, no sentido de apanhar a presa.
Em breve, o conjunto dos animais tanto conseguem entender minimamente os fenómenos físicos, como conseguem prever-se uns aos outros, entre os pares presa-predador. Mas como estas entidades são diferentes, ou seja, as espécies predadoras não caçam animais da mesma espécie, estes animais não estavam pressionados para se entenderem a si mesmos.

É com os primatas, e especialmente com os humanos, que o sucesso da espécie torna os humanos como potenciais predadores de humanos. Não se tratou apenas do canibalismo, que também ocorreu, os homens passaram à função de predadores de si mesmos, quando levaram as disputas territoriais e sexuais ao nível letal, o que raramente acontecia com os restantes animais.

Ser o mano
Nessa altura, quando o maior inimigo do homem é o próprio homem, a espécie tem que se conhecer a si mesmo. O maior propósito universal estava quase alcançado... não era apenas importante ao universo entender o funcionamento de uma parte, era especialmente importante entender-se a si mesmo. Se a espécie era resultado da natureza, para além de entender a outra natureza, teria que se entender a si mesma. Poderia dispensar isso, se não houvesse uma pressão, e essa pressão foi o horror, na nova forma que os humanos o trouxeram. Nas dilacerações que os humanos foram fazendo uns aos outros, foram sempre juntando novas ideias de horror, como forma de temor, como forma de se impor como potência perante os outros.
Os humanos criaram novos animais, muito mais temíveis, que tudo o existente anteriormente.
Esses novos animais eram as sociedades, que de famílias passaram a tribos, e de tribos a nações.
Se os homens eram mortais, essas sociedades poderiam não o ser, enquanto o legado cultural fosse preservado.
Até aqui funcionaria a lógica dos grupos, dos manos, mas não dos humanos.
Um homem teria que entender outro homem, mais do que isso teria que entender os grupos humanos, as sociedades aí desenvolvidas, etc. Ainda assim, cada homem estava dispensado de se entender a si mesmo. Entendia o outro como inimigo, poderia entendê-lo como mano, como companheiro, mas não surgia nenhuma pressão para se conhecer a si mesmo.

Creio que a pressão para se conhecer a si mesmo só resultou quando se percebeu que o problema não estava nos outros, estava no próprio. Para esse efeito, vejo um chefe tenebroso, que depois de se ver livre de todos os inimigos, começou a inventar novos inimigos, nos mais próximos, ao ponto de tendo o controlo sobre todos, seria forçado a perceber que os novos inimigos resultavam da sua paranóia. Esta reflexão pode nem ter partido de si, pode ter partido de algum conselheiro, que arriscaria ser o próximo na lista.
Esta constatação será motivo pelo qual a inscrição "conhece-te a ti mesmo" aparecia em destaque no Templo de Delfos, mas já resultaria de tempos mais remotos, muito anteriores a Zaratustra. Basicamente seria com esse início da verdadeira consciência do eu que a filosofia teria despontado para começar a abordar o problema fulcral.

O problema fulcral é simples, ainda que esteja enredado numa teia de preconceitos.
Como poderia o universo existir, se não desenvolvesse em si uma consciência autónoma, capaz de o observar e entender? - Conforme já disse aqui múltiplas vezes, não seriam os calhaus, as árvores, os burros ou os ursos, a entenderem a sua existência. Só os homens têm essa capacidade, a capacidade de reflexão e auto-reflexão, de definir mini-universos em si mesmos. O universo precisou de uma inteligência autónoma para se reflectir em si mesmo.
Tudo o que existe, existe por uma razão. A razão de tudo não pode ser exterior ao universo, sob pena de o universo não incluir tudo o que existe, e contrariar a sua própria definição. Também não será nenhuma parte do universo a conter essa razão, sob pena de se identificar com ele. Mas ainda que a razão completa esteja fora de alcance, podemos saber o suficiente para compreender o assunto na sua generalidade, e mais do que isso, não nos interessarmos pelos detalhes, e sabendo porquê.

Concluindo, o horror foi uma prenda do processo, e tendo existido antes, não tem razão para agora desaparecer por si. Pode deixar de ter utilidade prática, como teve antes, e levar para caminhos que já trilhámos. Interessa saber que a existência teórica do horror não é apagável, mas será opção própria entender onde isso leva - normalmente a lado nenhum..

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 05:35


34 comentários

De Anónimo a 20.10.2019 às 20:01

Nah... os animais da mesma espécie lutam e combatem entre si, muitas vezes até à morte...

Isso não é novidade dos humanos nem dos primatas...

"Até aqui funcionaria a lógica dos grupos, dos manos... mas não dos humanos"

O que é isto?
Quando foi isto - esta lógica - abolida?
Mas que mariquice subserviente aos contos de fadas dos maçons e dos socialistas é esta?

Está a ver, caro Alvor Silves, o limite da sua visão liberal do "vive e deixa viver"?
Aquela que eu já aqui critiquei do "não me compete a mim definir e orientar"?

O senhor é culpado de dois crimes:

1) Endeusar o Homem; Pôr o homem, enquanto espécie ou entidade abstracta (é a mesma coisa) no centro do Universo, um certo Antropocentrismo...
2) Esquecer-se de Deus, o Alfa e o Ómega.

...

A grande novidade do Homem é que este é o único capaz de olhar o infinito, mesmo que saiba que não o conseguirá ver, apreendendo assim, talvez mais instintivamente que intelectualmente que haverá algo mais.
Aqueles que têm o intelecto, passam a ter a certeza que haverá...

A Grande Novidade do Homem é que este é o único capaz de compreender a existência de Deus.

Os melhores cumprimentos,
IRF

De Anónimo a 20.10.2019 às 20:07

Não creio que aquilo que refere como o conhecer-se a si - mais ou menos como o perigo - tenha advindo de um paranóico.
Não.
Advém de um Carlos V que luta pela monarquia universal, até é bem sucedido, mas chega à conclusão que não vale a pena.
Advém de um Alexandre que atinge a imortalidade mas que depois não tem legado...

Advém, enfim, de um homem que sendo bem sucedido em eliminar todos os que era suposto eliminar percebe que não é por aqui a solução.
Porque depois dele, novos inimigos vão surgir. E os pequenos crescem e tornam-se fortes à medida que os fortes envelhecem e se tornam fracos.

IRF

De Alvor-Silves a 20.10.2019 às 23:18

Caríssimo,
pode ver animais lutando por um território e pela sua corte, e essas lutas raramente visam a aniquilação do adversário, visam a desistência. Normalmente, o vencedor não prossegue as investidas quando o outro está derrotado, e o que acontece por vezes é a morte do outro devido aos ferimentos.
Nem me parece interessar continuar esta discussão por aqui, porque é óbvia a diferença de comportamento que os humanos tomaram uns relativamente aos outros, incluindo a morte do outro como possibilidade sempre presente. Não tem qualquer comparação com o comportamento dos animais, mesmo entre aqueles que exibem alguma sociedade.

Quanto à mariquice... não percebo, sentiu-se atacado?
As estruturas de grupo definidas pelos humanos, definem novos "animais", no sentido em que, nos casos de sucesso, ganham vida própria, e vivem além dos seus líderes ou fundadores.
Ninguém disse que foi abolida... creio que não percebeu o que escrevi.
O que eu disse é que esses grupos ainda remetiam para um inimigo diferente, e não remetiam a uma necessidade de auto-reflexão do próprio.

Sim, a visão é antropocêntrica, não vejo qualquer problema nisso.
Quanto à falha de Deus, não será... eu prefiro chamar-lhe Universo, e não o antropomorfizo nem com barbas brancas, nem com atributos de mágico ou ET.

Quanto às duas últimas frases, subscrevo, no sentido em que Deus é o Universo.

De Alvor-Silves a 20.10.2019 às 23:22

Eu não disse que viria de um paranóico, poderia ainda vir de quem teve que conviver com uma circunstância desse tipo. Poderia até ter sido resultado de um pensamento meramente teórico, mas parece-me mais natural que resultasse da própria circunstância.

Certamente que é anterior a Alexandre, ou não veria no Templo de Delfos esse "conhece-te a ti mesmo" como o moto do seu portão principal.

Cumprimentos, e obrigado pelos comentários,
da Maia

De Anónimo a 21.10.2019 às 23:09

Os animais - especialmente os mais avançados, mamíferos superiores carnívoros - matam.

Como explica os lobos que expulsam alcateias e procuram eliminar mesmo um ou outro lobo "inimigo" para dar o exemplo?
Estes mesmos lobos por vezes matam outros animais para dar o exemplo, não os comem nem nada... matam-nos porque os consideram de alguma forma aliados dos lobos ou alcateia que expulsaram.

E os leões, que matam os filhos dos outros mal os vejam?
E os tigres que não perdoam e geralmente as suas lutas são sempre até à morte, especialmente entre machos, ficando o vencedor com o território do eliminado?
Geralmente os grandes felinos tendem a proceder assim.

O Homem só levou a coisa um degrau acima, porque é a espécie que está um degrau acima.

Pelo menos é assim que vejo as coisas...

Quanto à mariquice:

Estava mais ou menos a brincar. Não me senti atacado mas senti-me desiludido.
Porque parece-me óbvio que essa lógica nunca mudará e nunca poderá ser ultrapassada.

E porque me parece que o Alvor Silves como que percebe o que lhe digo mas que se recusa a aceitá-lo. Parece, não fique ofendido.

Sabe, meu caro, eu cheguei há uns anos à conclusão que a nossa "sociedade" é profundamente anti-natural devido ás influências de certas pessoas: Marxismo, Socialismo, Maçonismo, etc.
E depois, há menos de três anos cheguei à chocante conclusão que a própria hierarquia da Igreja está completamente tomada por esta gente e suas ideias.

Pelo que urge revoltar-mo-nos contra este estado de coisas e construir uma sociedade mais natural.

Essa lógica "de grupo", "dos manos", nunca será ultrapassada porque no dia em que alguém tente ir além dela e a renuncie, será nesse dia em que muitos outros a seguirão e aniquilarão aquele que dela se desviou.

Essencialmente: O individualismo é completamente impossível; A ideia que os vários grupos terão todos mais ou menos o mesmo "poder" é falsa, porque isso também é impossível.

Alvor Silves: Se pensa que o Catolicismo pode ser resumido a um velhinho que vive no céu ou ETs... claro que não pensa assim!

É interessante esta discussão, mas parece-me que não estamos ao mesmo nível para entrarmos em diálogo:

O Alvor Silves diz que não vê problema nenhum numa visão antropocêntrica, mas junta-lhe o Universo, a substituir Deus.

A mim pareceu-me claramente que o Alvor Silves estava a querer de alguma forma ultrapassar ou que fosse ultrapassada "a lógica dos manos", ou de gruupo.
Mas depois diz que não foi abolida.
Mas toda a prosa do seu texto parece aludir que "seria bom, ou desejável" que tal lógica fosse ultrapassada.

Que lógica lhe precederia, então?

Cumprimentos,
IRF

De Anónimo a 21.10.2019 às 23:13

Claro que é anterior a Alexandre.
Mas talvez não à circunstância de Alexandres que o precederam.

Há vários graus de "sociopatia" ou se quiser... de maldade.

Esta Reflexão poderia advir de um Churchill que se pergunta se é justo destruir aqueles que foram brandos para os deles em Dunquerque porque senão os destruir, pode ser que os destruam a ele e aos seus no futuro.

Pode ser...

Até que ponto podemos agir com base nessa dúvida...
há muitos graus... há muitos graus...

Isto parece-me mais uma problemática quanto à teoria da legitimidade do poder do que outra coisa...

IRF

De Alvor-Silves a 22.10.2019 às 03:43

Caro IRF,
vou apenas responder aqui, porque os outros assuntos estão mais ou menos abordados.
Começando pelo fim, não se trata de legitimidade do poder, uma vez que a natureza não coloca limites morais ao seu exercício.
Mas sim, o horror foi muitas vezes justificado por razões de poder, quando na verdade o problema é muito mais cruel. Muito do horror exercido não teve qualquer justificação racional, foi feito "porque sim". Será erro pensar-se que isso resulta de deformação mental do perpetrador, é pior que isso... ocorre simplesmente porque pode ocorrer.

É essa ainda a maior diferença para os restantes animais. Os casos que enunciou têm uma justificação natural. Não tem morte só porque podem matar. É conhecido o caso de orcas que brincam com a morte das focas, seu alimento; mas nesse caso estamos já com animais com inteligência sofisticada, que tal como no caso dos lobos, se aproxima dos primatas.

Aquilo que enunciei é que não há aqui nenhum horror que se remeta em exclusivo à maldade do perpetrante. Tanto tem um berbequim apontado à cabeça por um médico, como por um torturador, como por um simples acidente de trabalho. Pode pedir a um torturador para parar, mas é inútil gritar contra um rochedo que lhe esmague os ossos. Aliás, teve pessoal médico que praticou torturas, sem que a maioria dos pacientes os visse como torturadores... porque justamente, estavam mentalizados como "pacientes".

Não nenhuma "naturalidade" boa, e pode ser bastante cruel.
Mais do que isso, pelo simples facto de "poder acontecer", a "natureza" arranja as formas mais improváveis para que muita coisa aconteça, no sentido bom ou mau. Sem o homem (ou ET similar) seria impossível à "natureza" tornar natural tanta anormalidade.
Se as improbabilidades positivas são vistas como milagres, e as negativas como calamidades, pois isso é apenas um wishful thinking de dualidade entre o senhor das barbas brancas e a sua negação.
A humanidade sempre procurou os limites do horror, exerceu-os sem que ninguém lhe impedisse do contrário, e a única benção da "divindade" será pensar que poderia ter sido muito pior. Ou seja, a benevolência reside na imaginação. Só partiu um osso e poderia ter partido dois...

O individualismo é impossível se os grupos forem ignorados. Os grupos devem existir a favor de cada indivíduo e nunca contra ele. A contrario, hoje os grupos favorecem quem se sacrifique pelo conjunto, e desvalorizam o indivíduo, praticamente ignorando as diferenças que os definem, nos casos mais patológicos de socialismo.

Escrevi alguns textos sobre este assunto, que deixo aqui:

O mais relevante para esta discussão será este:
https://alvor-silves.blogspot.com/2012/12/arquitecturas-4.html

Tem os outros Arquitecturas (1), (2) e (3) aqui:
https://alvor-silves.blogspot.com/2012/05/
e aqui:
https://alvor-silves.blogspot.com/2013/02/arquitecturas-5.html

Cumprimentos,
da Maia

De Anónimo a 22.10.2019 às 21:47

Responderei noutra altura, não concordo consigo.

Espero que não leve a mal este meu "retirar estratégico".

CUmprimentos,
IRF

De Anónimo a 23.10.2019 às 13:38

O horror ocorre porque sim. Ocorre simplesmente porque pode ocorrer.

Não, meu caro.
Não posso aceitar isso como resposta. Haverá sempre uma causa, mesmo que seja a "vontade" do perpetrador - se bem que não me parece tão simplista.
E havendo uma causa, haverá um "motivo" e/ou uma "consequência".

Tudo, portanto, ocorre por um motivo na medida em que tem de haver uma causa primordial à la Tomás de Aquinas.
Para além deste motivo a "montante", terá também de haver um motivo a "jusante", ou seja: as coisas que acontecem, acontecem porque deverão originar outras coisas posteriormente.

Cabe ao homem compreender isto, ou seja, que causas são essas? Não. Especialmente a jusante.

"Não há aqui nenhum horror que remeta em exclusivo á maldade do perpetrante".

Concordo. Com ênfase no exclusivo.
E porque é assim? Porque tanto a montante como a jusante há razões que levam àquilo ou que só podem vir precedidas daquilo.
E isto está para lá daquilo que é possível ao Homem conhecer.

A ideia de que o Homem tudo poderá desvendar nesta vida é uma lenga lenga do positivismo típico ou derivado do iluminismo, em que se criou mais ou menos uma religião da ciência: A crença de que tudo saberemos, tudo dominaremos e que isto será assim por causa do progresso.

Na verdade, quanto mais soubermos mais claro fica que desconhecemos ainda mais do que préviamente imaginávamos.

O Alvor Silves parece reduzir a Doutrina Católica e os mistérios do Cristianismo a uma simples superstição, quando na verdade é provávelmente o maior tesouro e maior acumulação de saber alguma vez armazenada pela humanidade.
Isto nada tem que ver com "pontos de vista" ou "benevolência de divindades imaginárias" ou "senhores de barbas".

Tem a ver com a necessidade da existência de um Deus em virtude da pequenez dos Homens.
Pode chamar-lhe Natureza ou Universo. Mas ainda assim achará essa necessidade.

Quanto ao individualismo vs colectivismo, concordo em grosso modo consigo, são duas faces da mesma moeda que precisam encontrar um equilibrio.

Cumprimentos,
IRF

De da Maia a 23.10.2019 às 17:43

Caro IRF,
convém esclarecer que o poder ocorrer não significa ter que ocorrer.
Simplesmente não são colocadas as devidas barreiras para que o tal horror não aconteça. Neste assunto estamos mais próximo, e o ponto maior de discórdia resulta de interpretação diferente.

O que digo é que tendo o homem com inteligência, ela pode ser direccionada em múltiplas direcções, e para isso não interessa apenas a formação que teve.
Simplificando, pode ter a pessoa mais bem formada, e que de um momento para o outro faz algo completamente ilógico, impensado... "porque sim". Nalguns casos até lhe é difícil encontrar o motivo, simplesmente fez. Digamos que ficou "possuído" por "coisa má". Na maioria dos casos, a pessoa não está minimamente alerta de que isso pode efectivamente acontecer, e não age racionalmente, age por outro instinto, e não combate a ausência de racionalidade com racionalidade. Apesar da Igreja ser das poucas instituições que esteve minimamente alerta para o assunto, não trouxe racionalidade para ele. Trouxe mais justificações enfabuladas, e não interessa se há um douto no Vaticano que pensa de forma diferente, esse é o tratamento comum.

Acerca de um link que deu há uns tempos, de Pio X:
http://w2.vatican.va/content/pius-x/pt/encyclicals/documents/hf_p-x_enc_19070908_pascendi-dominici-gregis.html

Se alguém disser que o Deus, único e verdadeiro, criador e Senhor nosso, por meio das coisas criadas não pode ser conhecido com certeza pela luz natural da razão humana, seja anátema.

Ainda que perceba que o intuito seja outro, o que essa frase também diz é que não se deve recorrer ao habitual choradinho de que "há limites que não podemos saber", e devemos aprofundar a "fé", etc, etc.

Que há limites todos sabemos, mas são limites perfeitamente lógicos, não são coisas que terminem com a frase "isso são mistérios da fé". As relações são frágeis pelo confiar, são fortes pelo concordar. A diferença está em "com fio" ou "com corda". Com o fio está a creditar o acreditar no que desconhece. Com corda está a entrelaçá-lo no que conhece.
Outro problema é aceitar esse entrelaçamento sem critério, o concordar por concordar, que nada significa, porque apesar de ter uma corda ela não se prende a nada de fundamental, e não está presa a coisa nenhuma.

Já tive conversas longas e demoradas acerca deste assunto, veja p.ex. aqui:
https://odemaia.blogspot.com/2013/04/as-ideias-contam.html

e não tenho nenhuma pretensão de fazer ninguém mudar de opinião. Não sou pastor de nenhuma fé, nem da minha. Apenas gosto de confrontar as ideias para verificar da sua solidez. As ideias não são de ninguém, mas sabem escravizar pessoas. Aparecem com uns e reaparecem com outros, e não é à toa.

A "pequenez humana" é uma maneira de encarar o exterior. Conforme a religião ou ciência, tem pinturas diferentes desse exterior. Apenas separo o que consigo separar, e junto tudo o que não controlo numa única noção universal. Não tenho nenhuma forma de separar Deus do Universo. No máximo poderia distinguir o universo físico do universo de ideias. Mas isso não adianta à discussão.

Bom, isto tende a ser discussão longa, pelo que se quiser podemos discutir por email.

Cumprimentos,
da Maia

Comentar post


Pág. 1/4



Alojamento principal

alvor-silves.blogspot.com

calendário

Outubro 2019

D S T Q Q S S
12345
6789101112
13141516171819
20212223242526
2728293031



Arquivo

  1. 2020
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2019
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2018
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2017
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2016
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2015
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2014
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2013
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2012
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2011
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2010
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D