A ligação é feita à divindade celta
Belenos, associada ao Sol, e depois identificada a Apolo.
Há um festival seguinte, no Verão, dedicado a Lugh, outra divindade celta, que
pode estar na origem do nome Lusitânia, e onde ainda falámos da sua ligação à peregrinação celta a Lugo, depois mais catolicamente transformada em peregrinação a Santiago.
Tal como falamos em Sicrano e Beltrano, remetemos então a Sicano.
Curiosamente, o Google inquiriu imediatamente se não procurava "cigano", o que me pareceu uma sugestão pertinente...
Sic Ano é nome de rei na mitologia da "Monarquia Lusitana", de Bernardo de Brito (e de muitos outros). Seguindo
a sua lista de capítulos, lembramos:
Cap. 12:
Do tempo em que Hércules reinou em Espanha, e dos favores que sempre fez aos Lusitanos.Cap. 13:
Do tempo em que na Espanha reinaram Hespero e Atlante Italo, das guerras que entre si tiveram, e da fundação de Roma, feita por gente Lusitana.Cap. 14:
Do tempo em que reinaram em Lusitania Sic Oro (Sicoro), filho de Atlante Italo, e seu neto Sic Ano (Sicano), com algumas coisas particulares, que em seu tempo sucederam.Cap. 15:
Do reino de Sic Celeo (Siceleu) e de Luso em Espanha, e de como esta parte Ocidental se começou a chamar Lusitania, como muitas outras particularidades acerca desta matéria.
Cap. 16:
De como Sic Ulo (Siculo) começou a governar o reino de Lusitania, e das coisas que lhe sucederam, durando seu Império, dentro e fora de Espanha.
Os nomes Sicano, Siceleu, Siculo, remetem todos à Sicília.
Na realidade os
Sicanos são entendidos como primeiros povoadores da Sicília, e a sua origem é ibérica. Também é considerado que esses Sicanos entraram na península itálica (ver
p.ex. aqui), e instalaram-se na região da Lácio, podendo estar na origem de Roma. Claro que na Monarquia Lusitana, a coisa é ainda mais explícita, e a fundação de Roma é entendida mesmo como tendo origem Lusitana. Roma seria o nome da filha de
Atlante Italo (nota: as páginas da Wikipedia sobre a Monarquia Lusitana foram escritas por mim, de forma que esta referência é circular).
O nome Fulano, sendo de origem árabe ("
fulan" significa "
alguém"), e sendo usado em Espanha mais frequentemente, passou a usar-se em Portugal, após o reinado dos Filipes (pelo menos não o encontrei em textos portugueses antes disso).
Assim, falar-se de Fulano, Sicrano e Beltrano, remete a três invasores da Península Ibérica - os mais recentes, os fulanos (de origem árabe), antes os sicanos (na origem romana), e ainda antes disso, os beltanos (na origem céltica francesa) - que repetiram depois a graça, com Napoleão.
Os territórios de influência céltica confundem-se com a distribuição genética do Haplogrupo R1b, talvez com excepção da zona basca... Apresenta-se um mapa interessante relacionando o R1b com a cultura "Bell Beaker" - vasos campaniformes:
Há uma forte corrente sugerindo que a cultura Bell Beaker se difundiu a partir da Estremadura portuguesa... porque os registos mais antigos (c. 2800 a.C.) foram encontrados aí. Se tivesse sido na Extremadura espanhola, a teoria teria mais adeptos... assim, o mais habitual é ver esta teoria ser defendida por não-portugueses. É algo a que nos habituamos. Mas, como é hábito nos últimos séculos, mantêm-se ferozes críticas contra origens vindas da península ibérica, sendo claro que há
tradições irlandeses e escocesas que remetem a sua origem a estas paragens.
O principal problema é que na península ibérica, restou pouco da tradição e língua celta... admitindo que a língua celta é o que é suposto ser, e não aquilo que foi. Na minha opinião, poderá ter havido uma movimentação celta, marítima, que partiu de Portugal para a Europa Ocidental, e que depois tomou formas diferentes, em cada local. Ao ponto de que os celtas franceses, que entraram na Ibéria há 2500 anos, com cultura
Hallstatt, já tinham perdido a ligação original, e o mesmo teria acontecido com os sicanos da Lácio, de Roma. No entanto, em termos linguísticos, os romanos da Lácio poderiam ter algo em comum com os povos da Ibéria - a origem do latim e da língua romana.