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Por vezes os novelos são tão intrincados trazem à memória coisas tão simples, como lembranças de infância, em que via a minha avó a tricotar, rendas (que não eram de altice, ou doutra chulice), e que me renderam apenas uma colcha, e sobretudo agradáveis memórias. 

A empresa Âncora já não existe, mas basicamente era a que fornecia todos os fios de tricotar, saindo da revolução industrial na cidade paroquial escocesa de Paisley (por via de George Clark), onde as instalações Anchor Mills já servem apenas como museu.
Esta memória teria relevo num blog de nostalgias, mas aqui o relevo diz respeito ao símbolo da cidade de Ancara, capital turca, que era expresso em moedas romanas antigas:
 
A representação de Ancara com o símbolo da âncora, em moedas romanas (imagens daqui, daqui e daqui).

Há assim uma ligação entre Ancara e Âncora.
Claro que poderíamos dizer que "âncora" e "ancara" são palavras muito parecidas, mas isso não seria nada mais do que simples especulação... e há bastante mais que isso!

Pausanias
Primeiro, é razoavelmente estranho associar uma âncora a uma cidade muito longe da costa, a 1000 metros de altitude face ao actual nível do mar. No entanto, há um registo lendário sobre o nome que justifica a âncora. É o geógrafo Pausanias que o refere, quando menciona a invasão gaulesa:
Este povo ocupou a terra na parte mais distante do rio Sangarius, capturando Ancyra, uma cidade dos Frígios, que Midas, filho de Górdio, tinha fundado em tempos antigos. E a âncora que Midas encontrou, até ao meu tempo [Séc. II], estava ainda no santuário de Zeus, bem como uma fonte, chamada Fonte de Midas, cuja água, dizem, Midas misturou com vinho para capturar Sileno.
Pausanias: Description of Greece (Tradução de W. H. S. Jones & H. A. Ormerod). Londres, 1918. 

Na tradução inglesa usa-se "Ancyra", outra escrita de Ancara, pois é usada a transliteração do upsilon em ípsilon, senão ficaria Ancura - quase idêntico à pronúncia de Âncora. Os tradutores colocam até uma nota de rodapé, afirmando "A legend invented to explain the name Ancyra, which means anchor". Por outro lado, a palavra grega tem um gama e deveria ler-se "agcura", que foneticamente continua quase igual a "âncora", e daí pode surgido a variante Angorá, adjectivo gentílico usado para dessa região turca. Em particular, gatos e cabras felpudas, angorás, cuja lã era apreciada em tempos vitorianos - levando à sua exportação para a Austrália, por exemplo. Poderia haver assim uma sugestão de ligação da marca Âncora à lã angorá, através do símbolo da âncora da cidade turca.

Âncora em altitude
Se Midas (ou quem quer que fosse) encontrou uma âncora em Ancara, o problema seria de saber como teria ido ali parar... ou seja, se fazia parte de uma construção para uma embarcação - e nesse caso não seria nada de muito estranho, que merecesse referência especial... ou se essa âncora fazia parte de um navio ali encalhado - bom, e nesse caso, a hipótese seria um dilúvio mundial. Ora, isso seria já algo digno de registo, que mereceria menção para a posterioridade, e daria um sentido profundo ao nome de Ancara.
É nessa hipótese que coloco este texto na sequência de outros textos sobre âncoras suíças, porque também na questão das âncoras encontradas em Basileia, o problema era semelhante... mas com menos de metade da altitude.
Há ainda um outro ponto... é que Ancara não está muito longe do Monte Ararat, a referência bíblica para o evento diluviano. Portanto, seja por razão histórica ou lendária, os eventos conjugam-se.

Galácia
Já falámos da invasão celta que Breno levou até às portas de Roma em 390 a.C. Essa mesma expansão celta teve um outro episódio significativo, com movimentações armadas que ameaçaram os gregos em 278 a.C., sob direcção de um outro Breno, tendo os gauleses sido derrotados nas Termópilas, antes de poderem saquear os tesouros gregos de Delfos.
Diversas expansões celtas entre o Séc. VI a.C. e o Séc. III a.C.

A pesada derrota celta, com a morte/suicídio de Breno, forçou os restantes a tentarem uma incursão pela Ásia Menor, cercando Bizâncio, e acabando por se fixar na região de Ancara, depois de terem sido convidados pelo rei Nicomedes da Bitínia e derrotados pelas tropas de Antíoco, numa história conturbada.
Interessa que um grande número de celtas, ou galátas, como eram também conhecidos pelos gregos, acabou por se instalar na região de Âncara, levando à definição de uma região que em tempos romanos - e ainda hoje - se chama Galácia (e que dá origem ao nome Galatasaray, como principal clube de Âncara).
É assim interessante que no centro da região turca, em torno de Ancara, se encontrasse um grupo de gauleses, que definiram um estado e identidade próprias, durante vários séculos.
Terão aderido ao culto da deusa Cíbele e de Átis, culto que era próprio da região vizinha da Frígia, e que foi adoptado pelos gregos e também pelos romanos. Os sacerdotes eram eunucos, denominados Galos (ou Galli) nome suficientemente ambíguo, mas que remeteria para também para os gauleses emigrados, que nas partes da Lídia, eram abstinentes de carne de porco (constando essa ideia de que teriam sido javalis e porcos, enviados por Zeus, a alimentarem-se dos restos humanos de Átis).

Bom, mas tirando os diversos detalhes, mais ou menos soltos, não deixa de ser curiosa esta ligação antiga entre a Gália e a Galácia... ao ponto de que as invasões turcas nunca parecem ter incomodado os franceses. De facto, entre França e Turquia basicamente houve sempre um "clima de paz", até à Primeira Guerra Mundial, onde a Turquia se teve que redefinir, para evitar a completa partilha do território pelos vencedores... mas já não com a capital em Istambul, mas sim em Ancara.
Assim, quando enquadramos a acção e documentação turca quinhentista, nomeadamente na cartografia, convirá não esquecer que pelo lado da Turquia aparecia também a França.


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publicado às 16:31

Na sequência do texto antigo Basiliscos de Basileia e Medos de Medusa, e de outros dois sobre âncoras suiças (1) e (2), onde se relatava a descoberta numa mina suiça de restos de um barco antigo afundado, acrescentamos alguns elementos.
Antes de prosseguir, notamos que a Suiça tem Marinha, porque apesar de não ser evidente o contacto com o mar, os suiços são precavidos.

A descoberta dos restos do navio foi tornada pública em 1460, e a mina foi descrita como sendo próxima de Basileia. 
Precisamente nesse ano será fundada a Universidade de Basileia, e curiosamente, num postal de Ano Novo de 1460 (também de Basileia), é apresentada esta figura:
(imagem)
Até aqui nada de especial, ainda que seja estranho o destaque dado à âncora, e a forma da proa do navio ser em forma de "pato, ganso ou cisne"... iremos optar por pensar que é um cisne galináceo, e já explicaremos porquê. É claro, maior coincidência é ser no exacto ano em que saem as notícias do achado do navio, na mina de Basileia... adiante!

Não há muitas imagens de navios fenícios, tirando as várias representações em moedas, normalmente vemos duas mais habituais, uma será de um vaso de guerra (num alto-relevo que está partido), e outra é uma representação num sarcófago, identificada como "navio fenício":
(imagem)
Ora, foi esta que nos despertou a atenção, tendo considerado que poderia ser um "cisne" a encabeçar a proa do navio... e só depois encontrámos o postal de ano novo de 1460 em Basileia. Para além da cabeça do pato, ou cisne, as imagens são muito semelhantes, até na forma como caem as cordas do mastro principal que segura a vela.

A partir de certa altura, a forma mais comum que se encontra a encabeçar a proa, nas moedas fenícias, não é nenhum cisne, mas sim um hipocampo (ou seja, um grande cavalo marinho... nome que é usado também para a sede da memória no cérebro). No entanto, restou-nos ainda uma lenda germânica, de Lohengrin, filho de Parseval, um dos cavaleiros da Távola Redonda do Rei Artur. 
A estranha embarcação onde segue Lohengrin é justamente encabeçada por um cisne... 
Lohengrin é conduzido num barco com um cisne.
Como já vimos anteriormente, o símbolo de Basileia, não é nenhum cisne, mas sim um galináceo com grande pescoço, temível pela sua capacidade de petrificar pessoas, como Medusa. Esse galináceo, chamado Basilisco, está representado numa moeda comemorativa dos 500 anos da Universidade de Basileia (a mais antiga na Suiça):
O basilisco de Basileia, numa moeda, e no seu verso uma possível
alusão a uma passagem bíblica - talvez do dilúvio, ou da criação
do mundo (devido aos símbolos binários usados) - (imagem)
Ora, sobre essa capacidade de petrificar pessoas, trazemos um texto que ilustra bem o problema:
"Organic Remains of a Former World"  - James Parkinson
(June 1805, Monthly Review)
Conforme se poderá ler, dá-se conta do relato de vários autores sobre a descoberta de 1460, mas explicitando mais. 
Foi encontrado o navio inteiro, com as suas âncoras, mastros partidos, e 40 marinheiros, bem como a sua mercadoria. O barco estava a cerca de 100 metros de profundidade (50 fathom - 300 pés), e aqui é referida a proximidade a Berna e não a Basileia (mas a distância entre ambas é só 100 Km).
O relato prossegue com outros casos de "petrificação", falando em cidades inteiras - poderia ser referente a Pompeia e Herculano (primeiras escavações em 1738-48, pelo espanhol Alcubierre), mas as outras não encontrei traço. O registo de cavaleiros hispânicos petrificados, por exemplo, parece-me desconhecido hoje. 

Porém, o registo que vi originalmente refere um comentário de Sabinus às "Metamorfoses" do escritor romano Ovídio, que aqui deixo sublinhada a referência a "âncoras encontradas em montanhas"... ou seja, sugeria Sabinus que já seria do conhecimento dos romanos este tipo de achados, que surpreenderam alguns em 1460, mas que não seriam surpresa para o Bispo de Basileia que ostentava o báculo com o formato condicente ao achado.

(link)

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publicado às 07:22

Ainda sobre as Âncoras Suiças (2), convém esclarecer algo sobre os símbolos de Basileia.
Como é óbvio, não há nenhuma relação oficial do símbolo a quaisquer proas de navios... é suposto vermos aí a parte superior de um ceptro bispal (báculo), e não só, costuma estar acompanhado de Basiliscos, que são seres míticos (com aspecto de Gallos) capazes de "matar com o simples olhar"...

Pretender-se-à que o símbolo seja o báculo do bispo, como protector de Basileia, porém já explicámos nesse texto que as descobertas nas minas suiças - de barcos incrustados nas montanhas - poderiam ter um efeito semelhante às do Basilisco, sendo capaz de petrificar o mais céptico, com um simples olhar!

Para além destes Basiliscos de Basileia, encontramos uma lenda semelhante com Medusa.
Medusa seria uma das três Górgonas, e a única delas mortal, que sucumbiu à espada de Perseu.
É interessante saber que para além de Medusa, as irmãs imortais Esteno e Euríale, habitariam o Ocidente. Isso é consistente com a lenda que coloca Perseu a repousar nas terras de Atlas, e a petrificar o titã por olhar para a cabeça da Medusa. Já não é tão consistente colocar o artifício de Hércules que substituiu temporariamente Atlas na sustentação do mundo, pois Atlas já estaria então petrificado como montanha.

Perseu, depois Hércules, e depois Jasão, são colocados a efectuar estas viagens a paragens ocidentais, onde se deparam com um mundo inóspito, polvilhado de perigos, onde contam com a protecção de Atena. Perseu, acabará por libertar uma Andrómeda de ascendência fenícia, ameaçada pelo monstro marinho Cetus (... um cetáceo). Perseu e Andrómeda são colocados como ancestrais dos persas.
Andrómeda acorrentada, será salva de Cetus por um Perseu, 
montado no Pégaso que resultou da morte de Medusa

Também Hércules se depara com um monstro, o dragão Ládon (descendente de Cetus), que guardava os pomos de ouro (... ou laranjas) no Jardim das Hespérides. Na viagem de regresso com os Argonautas, Jasão encontra ainda o rasto desse dragão (mas que não é a mesma serpente que guarda o Tosão de Ouro).
A colaboração de Atena, já munida com a aegis da cabeça de Medusa (oferecida por Perseu), na questa de Jasão é evidenciada nesta imagem, onde o salva da serpente:

A deusa do conhecimento guardará como seu escudo a cabeça aterradora da Medusa, mas colabora com os diversos heróis nas suas viagens marítimas intrépidas.
Se a viagem de Hércules está de sobremaneira associada à Hespanha, o mesmo não acontece com a de Jasão que é colocada no Mar Negro, por isso de forma alguma se poderia Jasão na rota das Hespérides e de Hércules... a menos que consideremos o nível do mar diferente, como já temos insistido!

Usando a topografia actual, apresentamos a situação que permitiria um contorno da Europa, levado por Jasão e Argonautas, seguindo pelo Mar Negro, que aqui invadiria as extensas planícies da Europa de Leste, conectando com o Mar Báltico, de forma a ser possível o regresso pelo lado da Península Ibérica, entrando pelo lado oposto das colunas de Hércules... conforme ilustrado aqui:
É claro que tal situação topográfica apresenta tabus inquebráveis...
Ninguém aceitará de bom grado ter uma Irlanda e Britania quase submersa e reduzida quase a Gales e Escócia, ter uma França polvilhada de ilhas, ter uma Polónia quase debaixo de água (apesar das extensas minas de sal que tem), ter uma Líbia reduzida à zona de Cyrene (sirenes, sereias), e ter uma Hungria abaixo do nível do mar. São demasiadas coisas para aceitar, ainda que possam dar consistência a relatos inconsistentes, em particular a António Galvão e à viagem de Alceus.
Como já referimos a situação poderia ainda ser mais exagerada, abrindo mais o caminho pela zona da Europa de Leste, que é particularmente baixa... mas para isso temos que aceitar que o nível do mar não foi sempre o mesmo, e houve alterações consideráveis, ao longo dos tempos - e não dos milhões de anos geológico-evolucionistas, mas apenas de milhares de anos de testemunho humano.

Dificilmente, mesmo assim, se conseguiriam explicar os registos de embarcações na Suiça... ainda que Basileia esteja apenas a 244m acima do nível do mar, e por isso as minas nas redondezas possam atingir zonas que não necessitariam mais do que pouco mais de uma centena de metros de aumento do nível do mar. Qualquer outra coisa implicaria transformações geológicas de magnitude planetária.

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publicado às 05:50

Quando falámos aqui sobre as Âncoras Suiças, já tinhamos também lido relatos de terem sido encontradas embarcações na Lagoa da Serra da Estrela. Coisa um pouco estranha... mas nada impedia terem sido feitas embarcações para a Lagoa (Comprida). Ao mesmo tempo esses relatos invocavam uma profundidade insondável e a suspeita dessa Lagoa ter comunicação com o mar... pelo que demos mais relevo ao relato notável da descoberta de âncoras incrustadas nas montanhas suiças, conforme afirmava António Galvão.

Na sequência do post anterior, voltamos a abordar a questão das âncoras suiças, porque fomos encontrar um relato notável de 1878, de Edward B. Tylor. Ele localiza a história que Galvão contava, porque Buffon na sua Teoria da Terra invoca essa descoberta:
Sur la montagne de Stella au Portugal, il y a un lac dans lequel on a trouvé des débris de vaisseaux, quoique cette montagen soit éloignée de la mer de plus de douze lieues (Voyez la Geographie de Gordon, édit. de Londres 1733, page 149). Sabinus, dans ses commentaires sur les métamorphoses d'Ovide, dit qu'il paroît para les monumens de l'Histoire, qu'en l'année 1460 on trouva dans une mine des Alpes un vaisseau avec ses ancres.
 Temos aqui o relato da Serra da Estrela, e ao mesmo tempo o relato da Suiça, mais detalhado.
A origem é Angelo Sabino que num comentário a um texto de Ovídio relata a descoberta do navio com as âncoras numa mina dos Alpes.
Barcos incrustados numa mina dos Alpes... e que forma teriam as suas proas?
Olhando para os símbolos dos cantões suiços, percebe-se que houve uma Jura em Basileia:
  
brasões dos 2 cantóes de Basileia e brasão do cantão do Jura
... a semelhança com proas de navios antigos fica justificada!

Para que se perceba o silêncio sobre o assunto... que deveria constar nalgum livro de teorias de conspiração, de civilizações antigas, ou algo semelhante... basta fazer uma pesquisa no Google sobre o assunto. Em particular experimente-se "mine des Alpes un vaisseau avec ses ancres"... alguém deveria ter citado o Conde Buffon, autor largamente conhecido, considerado percursor da teoria da evolução.
Ora, aparecem 5 resultados antes do Séc. XX, e a partir daí o assunto morre por completo, ou quase...
Poderá dizer-se que é por ser em francês... mas então vamos experimentar encontrar uma citação ao texto de Edward Tylor:
"in the year 1460 a vessel was found with its anchors"
ocorrem 3 resultados ligados ao próprio texto que encontrámos!      [as aspas são necessárias]
Se o Google estiver a funcionar bem, acrescem os novos resultados deste blog, após publicar o post. Ou seja, será que há quase 150 anos que não se publica nada sobre o assunto?!
É natural, os "teóricos da conspiração" seguem aquele caminho habitual que é seguir o guru anterior, e não fazem pesquisa própria... repetem o que é suposto ser repetido, interessam-se sobre aquilo que lhes é dito ser interessante, e vão calcorreando o caminho das pedras gastas. Como o objectivo é quase sempre o reconhecimento comunitário, não faz aí nenhum sentido caminhar isolado. Apesar de estarem habitualmente fora da academia oficial, vão desenvolvendo uma academia alternativa imitando a hierarquia pelos seus sucessos livreiros... e ficam assim facilmente manipuláveis, mesmo que alguns não o saibam.

Desculpando-me por estas divagações, resultado da irritação de ver mais um "assunto escaldante" que foi escondido com sucesso, regresso ao assunto principal.

Estamos em 1460, e uns mineiros da Suiça comunicam a descoberta de navios incrustados nas minas... o efeito deve ter sido avassalador! A Suiça que pouco mais seria do que um projecto de intenções anti-domínio Habsburgo fica subitamente armada com uma besta letal.
Se Hércules segurava uma Maça numa mão e uma Maçã na outra... Guilherme Tell apontou directamente à maçã, sendo certo que no tiro da besta arriscava a aniquilação do filho. 
A lenda de Guilherme Tell aparece não em 1460, mas sim por volta de 1470, e algumas décadas depois os suiços vão ocupar lugar de destaque na protecção do Papa. A partir daí a história da independência Suiça é uma história de sucesso, e apesar de alinharem pelo lado protestante ou calvinista, nunca deixarão de ter aquele lugar especial no coração ultra-católico do Vaticano.

Quer Buffon, quer Tylor, alongam-se no discurso sobre as eventuais evidências de um nível marítimo superior ao contemporâneo, nomeadamente pelo registo fóssil. Em particular é referida a evidência da presença marítima no deserto da Mongólia, conforme já abordámos.
Tylor apanha já a transição para o Darwinismo, e essa mudança de mentalidades é bem denunciada nalgumas frases:
            "In the ninth edition of Home's 'Introduction to the Scriptures,' published in 1846, the evidence of fossils is confidently held to prove the universality of the Deluge; but the argument disappears from the next edition, published ten years later."
Aproximava-se uma "entente cordiale" que recolocaria a educação no devido lugar.

Tylor vai ainda muito mais longe... 
Both in Scotland and in South America, upheaval of land in more or less modern times is a recognized fact, and the finding of boats, as of various other productions of human art, in places where they could hardly have been placed by man, is readily accounted for between this upheaval and the effects of ordinary accumulation and degradation.
(estes barcos e artefactos em posições estranhas não são muito relatados... a menos de algum conto de reis de Garcia Marquez, que colocava barcos em desertos)
... e atreve-se a falar na questão dos gigantes.
Deixo uma larga citação que é instrutiva em muitos aspectos:
In the Old World, myths both old and new connected with huge bones, fossil or recent, are common enough. Marcus Scaurus brought to Rome, from Joppa, the bones of the monster who was to have devoured Andromeda, while the vestiges of the chains which bound her were to be seen there on the rock; and the sepulchre of Antaeus, containing his skeleton, 60 cubits long, was found in Mauritania. 
Don Quixote was beforehand with Dr. Falconer in reasoning on the huge fossil bones so common in Sicily as remains of ancient inhabitants, as appears from his answer to the barber's question, how big he thought the giant Morgante might have been? "... Moreover, in the island of Sicily there have been found long-bones and shoulder-bones so huge, that their size manifests their owners to have been giants, and as big as great towers, for this truth geometry sets beyond doubt." Again, the fossil bones so plentifully strewed over the Sewalik, or lowest ranges of the Himalayas, belonged to the slain Rakis, [p.324] the gigantic Eakshasas of the Indian mythology. 
The remains of the Dun Cow that Guy Earl of Warwick slew are or were to be seen in England, in the shape of a whale's rib in the church of St. Mary Redcliffe, and some great fossil bone kept, I believe, in Warwick Castle. "The giant sixteen feet high, whose bones were found in 1577 near Heyden under an uprooted oak, and examined and celebrated in song by Felix Plater, the renowned physician of Basle, has been long ago banished by later naturalists into a very distant department of zoology; but the giant has from that time forth got a firm standing ground beside the arms of Lucerne, and will keep it, all critics to the contrary notwithstanding."
Ao contrário do que julgava Tylor, o brazão de Lucerna já não inclui nenhum gigante de Felix Plater, reportado com 18 ou 19 pés de altura, e que era citado por Júlio Verne na sua "Viagem ao centro da Terra"... Agora ficou bastante simplificado:

... em compensação temos o monumento de Lucerna, que ilustra a protecção que o leão dos mercenários suiços tentou fazer aquando da Revolução Francesa. A protecção da flor-de-lis da casa real francesa custou a vida a esses suiços, que tal como Buffon obedeciam ao rei francês, e que talvez lhe tivessem feito confidência do assunto esquecido das âncoras suiças.

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publicado às 06:35

Âncoras suiças

01.02.11
Fala-se frequentemente das evoluções climáticas e geográficas que podem ter ocorrido durante a história da Terra, e em particular durante a presença humana. A teoria de que o planeta teria saído de uma idade do gelo há 12 500 anos é do suiço Agassiz.

Se houve mudanças climáticas recentes assinaláveis, o mesmo já não se pode dizer de alterações geográficas. Essas grandes mudanças são reportados a períodos de milhões de anos... eventualmente os únicos testemunhos de tais mudanças seriam contemporâneos de dinossauros. É claro que são reportados achados de pegadas humanas em conjunto com as de dinossauros - coisa típica de sites criacionistas, e difícil de atestar a veracidade ou não.... afinal um achado desses implicaria uma revisão de toda a enfabulação "científica" de datações. Neste momento deveria dizer que sendo possível datar com seriedade a evolução terrestre, também seria do universo... e isto só não é uma piada, porque é suposto ser teoria científica aceite a datação do universo!

Afinal, as amibas também podem construir uma teoria semi-consistente do seu universo, antes de serem confrontadas com um corante na lamela do microscópio.
O que se passa é simples, e bem conhecido estatisticamente - com um conjunto qualquer de dados pode fazer-se uma teoria e uma extrapolação que se adaptará à maioria dos casos conhecidos... quando há dados que caem fora do intervalo, pois esses dados são tornados secretos e eliminados. Chama-se a isto manipulação científica - quem aceita está dentro, quem não aceita fica de fora.

Vem esta introdução a propósito do relato de António Galvão sobre achados na Suiça:
(...) "Assim contam que acharam cascos de naus, âncoras de ferro,
 nas montanhas da Suissa, muy metidas pela terra, 
onde parece que nunca houve mar nem água salgada".

Galvão faz este relato nos anos 1560's, e só encontramos figuras ilustrativas na Austrália, em Wreck Beach

Que os ingleses levaram Galvão muito a sério, e traduziram-no antes de começarem os seus descobrimentos, é facto assente, como já aqui mencionámos várias vezes. Nós também levamos, e se Galvão escreve que era relatado esse achado na Suiça, é porque ele daria crédito a essa informação, que circulava na época.

Âncoras e cascos de navios incrustados nos Alpes... 
Dir-se-ia que isto seria um daqueles segredos do Vaticano, guardado pelos suiços, desde essa época, ou talvez um pouco antes, desde 1506:
(guarda suiça no Vaticano)

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publicado às 23:37


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