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Com chás (2)

12.07.13
Vieira.
Já aqui tínhamos apresentado uma moeda que tinha o símbolo da empresa de D. Sebastião:

Serena Celsa Favent, era o moto, e se o esclarecimento favorece a excelência, aqui temos uma concha, a vieira venusiana, e um peixe, símbolo cristão, sob uma constelação estelar (Pleiades?) enquadrada com o crescente selene, lunar.
Devemos notar que as conchas estão ligadas ao baptismo, havendo mesmo pias baptismais com essa forma:
 
Pia baptismal - Igreja NªSrª Navegantes (Armação de Pera, imagem).

Portanto, há uma ligação da concha à libertação do "pecado original", da expulsão do Paraíso. 
Bom, e tendo acabado de falar nas ilhas polinésias, do Taiti no texto anterior, de forma algo natural estabelecemos a noção de "ilha paradisíaca"... como se congenitamente o fosse reconhecido naquelas paisagens.


Pelicano.
Para além do peixe, também o pelicano, pelo auto-sacrifício pela prole, é considerado um símbolo de Cristo, tendo sido primeiro adoptado por D. João II como seu símbolo.
Vamos encontrar esse símbolo com um influente conselheiro dos reis ingleses Henrique VII e Henrique VIII, tratava-se de Richard Foxe, bispo de Winchester:

Leito de morte de Henry VII Tudor (1509) com destaque para Richard Fox, Bispo de Winchester, 
vêem-se as quinas portuguesas e o pelicano de D. João II.

O que faria o Bispo de Winchester, o conselheiro mais influente de Henrique VII, e depois de Henrique VIII (até ser substituído por Wolsey), usar armas com quinas e o pelicano, símbolos do já defunto D. João II?
Estava aqui implícito que a política de D. João II teria uma continuação pelo lado inglês?

Richard Foxe vai fundar o Colégio Corpus Christi de Oxford, que ainda hoje usa o símbolo do pelicano:
  
Richard Fox, o pátio central com o Pelicano do Corpus Christi de Oxford, e as armas do colégio,
que incluem ainda as armas de Hugh Oldham (com 3 mochos e rosas vermelhas de Lancaster)

Mais tarde, também Isabel I, filha de Henrique VIII, a rainha que determinará a expansão inglesa, irá adoptar o pelicano como símbolo no seu papel de "mãe" da Igreja Anglicana. A simbologia cristã do pelicano remontará a S. Tomás de Aquino, a sua ligação às quinas portuguesas só fica evidente através de Fox, e da influência que terá tido na regência dos Tudor.

A tomba de Fox está na catedral de Winchester da Santíssima Trindade, que era a mais influente à época, e que curiosamente esteve em perigo de colapso por inundação das fundações, sendo "salva" pelo trabalho contínuo de um escafandrista, William Walker, entre 1906-11, que tem um busto na catedral cuja cripta ainda se encontra imersa em água. 

Catedral de Winchester, o escafandrista Walker, e a cripta inundada (com escultura moderna).

Cordeiros.
Curiosamente, 50 anos antes, outro Bispo de Winchester, Henry Beaufort, ficou famoso por dirigir o processo inquisitório que condenou Joana d'Arc à fogueira. Tratava-se de um meio-irmão de Filipa de Lancastre, sendo um dos muitos filhos de John de Gaunt (com Katherine Swynford, no terceiro casamento que originou a linha Beaufort). 
Henry Beaufort, o inquisidor, e Joana d'Arc... 
um cordeiro entregue à fogueira.

Joana d'Arc tinha sido entregue por Philippe III de Borgonha (casado com Isabel de Portugal, filha de D. João I, sobrinha do inquisidor). Margaret Beaufort, também sobrinha deste Henry, será mãe do rei Henrique VII, que derrota Ricardo III, tornando-se o primeiro dos Tudor. Henrique VII usa a rosa de Lancaster, mas ao casar com uma rosa de York, terminará a Guerra das Rosas com a união.
Um detalhe importante é Henrique VII usar num retrato o colar do Tosão de Ouro, o símbolo da Ordem fundada por Philippe III de Borgonha, aquando do casamento com Isabel de Portugal.
Phillipe III de Bourgogne, fundador da Ordem do Tosão de Ouro (esq.)
Henry VII Tudor, membro da Ordem do Tosão de Ouro (dir.)
Ambos usam o colar da ordem, com o cordeiro sacrificial.

Duque de Kent, chefe da Grande Loja de Londres, com colar da Maçonaria.

Juntei uma imagem de colar da maçonaria porque o compasso, ou o esquadro, descaindo em forma de V invertido, assemelham-se ao cordeiro sacrificial, que vemos nos colares da Ordem do Tosão de Ouro.
Conforme já referi noutros textos, o cordeiro tem vários significados, não apenas ligados à lenda de Jasão e dos Argonautas. É claro que a Ordem surgindo no contexto do casamento da irmã do Infante D. Henrique, carrega um aspecto dos Descobrimentos ligado aos "Argonautas" e ao Velo de Ouro.
Descobrir foi desvelar, tirar véus... na forma Ariana deste carneiro, o Velo seria a pele de Aries, uma pele de Ouro, ou de Oro, forma abreviada de Hórus, o olho vigilante que se pode ligar ao verbo Orar.
Descobrir foi revelar, levantar Velas e não tanto retirá-las. As cara-velas do Infante velaram pelo véus antigos, e a Ordem do Tosão ou "Velo de Ouro", pode ser vista como preservação do "véu de Hórus".
Jasão teve que vencer o Dragão da Cólquida para obter o Velo de Ouro, tal como Hércules teve que vencer o dragão Ládon, que guardava as ocidentais Hespérides, num dos 12 trabalhos (ou 12 Oras...).
Ao mesmo tempo aparecia a Ordem do Dragão, de que fez parte o Infante D. Pedro, e que já ligámos à Dra-cola, ou Cola do Dragão, em que o "Colar" se refere ao pescoço, tal como Coço e Cola se referem à retaguarda, entrelaçada ao pescoço... (sobre o significado antigo de "coço da procissão" ser "atrás da procissão", ler D. Manuel Clemente)

A história do cordeiro tem ainda o aspecto hebraico que remete à Páscoa, ou à paz-côa, quando Abraão é sujeito ao teste de obediência divino, e o seu filho Isaac é substituído pelo cordeiro no sacrifício:
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, miserere nobis... dona nobis pacem
É um bocado complicado falar deste ponto, porque o sacrifício do cordeiro ordeiro envolve aqui um conceito perverso, no outro verso interpretativo. Deus não permitiria o sacrifício do filho eleito, apenas dos cordeiros... e por isso os cordeiros poderiam ser sacrificados, até que Deus se manifestasse em sentido contrário. E quem eram os cordeiros a sacrificar? O sacrifício indiscriminado traria a presença de Deus?
Pois... até que ponto os Árias foram pastores de Aries, cordeiros? Até que ponto os pastores sacrificariam os seus cordeiros para reencontrarem Deus, ou o Messias?
Esta filosofia continha uma aposta tripla 1X2, se Deus não interviesse perante a iniquidade, os pastores beneficiariam do velo de ouro, uma opção hedonista face à ausência divina. De forma oposta, justificariam a sua acção perante o divino, requerendo a sua presença, afinal a sua omnipotência só permitiria o sacrifício dos sacrificáveis. A incógnita X seria a recusa teológica de outras possibilidades... obviamente possível por crença, mas afinal insustentável racionalmente. Azar, este universo foi definido justamente pela racionalidade, e os absurdos levam ao vazio contraditório - o caos irracional fica no seu exterior. O tempo permite o absurdo diferido, temporário, mas não o simultâneo e permanente. Todos os filhos de Gaia são introspectivamente recuperáveis, pela lógica do arrependimento, do reconhecimento de erros, mas não é possível a recuperação dos irrecuperáveis. A persistência eterna no absurdo foi simplesmente excluída, nem tampouco poderia ser humana. Logicamente, não poderia ser doutra forma... os erros podem viver nas ilusões temporárias, que acolhem elementos do caos, mas não o caos completo. Desse oceano caótico importamos a imprevisibilidade, elementos artísticos e sentimentais, mas esses impulsos devem sujeitar-se ao enquadramento racional, sob pena de serem o convite ao estabelecimento do irracional, e à recusa da principal faculdade humana, que nos distingue das alimárias, a racionalidade.

Chapéus...
Há muitos, vários formatos de chapéus. Assim, para além do colar com o cordeirinho sacrificial, também o chapéu usado por Filipe III de Borgonha fez moda, ficou conhecido como "chapéu borgonhês", e resistiu aos tempos, sendo ainda hoje uma indumentária usada pela Confraria do Vinho do Porto:
É claro que no caso da confraria de vinho usa-se no colar uma taça de escanção, para averiguar da cor do vinho, afinal simbolicamente tratado como "sangue de Cristo".
A taça do vinho da Última Ceia foi habitualmente designada como Graal, e houve já quem sugerisse que o nome Portugal encerraria um críptico "por-tu-graal", que assim se complementaria, pela associação de Porto e Gaia, nas caves do famoso vinho, que sozinhas asseguravam as contrapartidas do Tratado de Methuen. Para adivinhos, há outros vinhos... os famosos vinhos da Borgonha, ou de Bordéus, da antiga região da Guiana occitana-basca, entre outros preciosos néctares de um Baco divino di-vinho, cuja preservação de antiguidade necessita do devido arrefecimento em caves bem seladas.

Baptista
Não longe, encontramos a Igreja Matriz de Vila do Conde, cuja a entrada é interessante.
De construção biscainha, apresenta de um lado as armas de D. Manuel (num caso raro, em que ainda aparece a dupla esfera armilar, sugerida por D. João II), e do outro lado temos: a âncora da Póvoa de Varzim, o antigo barco de Vila do Conde, e um outro brazão com uma figura humana que emerge de uma concha (símbolo associado à localidade de S. Pedro de Rates).
Igreja Matriz, de S. João Baptista, em Vila do Conde (imagem).

Como a Igreja é dedicada a S. João Baptista (que aparece no topo da porta), a concha será baptismal, mas também referente à mítica presença do Apóstolo Santiago, que teria ordenado S. Pedro de Rates como primeiro Bispo de Braga (45 a 60 d.C.).
Há assim essa dupla ligação a conchas, cuidando ambas para o simbolismo do renascimento, numa igreja renascentista emanuelina. O homem que sai da concha aparece depois, com D. Sebastião, na forma de peixe, invocando esse Renascimento cristão, que seria o renascimento de Cristo, na forma humana.
O ritual baptista parece remeter para uma origem aquática, pela imersão do baptizado, ou mais simbolicamente vertendo água na sua cabeça.
No entanto, há variações baptistas.
Um outro aspecto de baptismo, era o baptismo com óleo, aplicado na unção de sacerdotes.
Aí podemos ver outro aspecto das vieiras que, virtude dos tempos, são reencontradas no símbolo de uma famosa companhia petrolífera:

A vieira usada como símbolo de petróleo pela Shell.

O petróleo, também designado como "ouro negro", passou a encerrar outros véus, ou velos de ouro negro... mas para essas considerações remetemos para um texto anterior.

Poderíamos ainda falar de outros aspectos interessantes das vieiras, nomeadamente pela sua geometria.
Há uma confluência entre parte de um quadrado e parte de um círculo, podendo ser usado para simbolizar a relação do número Pi na quadratura do círculo.
Por outro lado, as divisões naturais das vieiras (ou outras conchas) poderiam servir para marcar ângulos, constituindo um simples instrumento de posicionamento, semelhante a um vulgar quadrante, para simples uso náutico, em navegações primitivas. Esse seria um aspecto prático de orientação astral para qualquer peregrino, associando a vieira ao cajado do pastor.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 22:13

Com chás (2)

12.07.13
Vieira.
Já aqui tínhamos apresentado uma moeda que tinha o símbolo da empresa de D. Sebastião:

Serena Celsa Favent, era o moto, e se o esclarecimento favorece a excelência, aqui temos uma concha, a vieira venusiana, e um peixe, símbolo cristão, sob uma constelação estelar (Pleiades?) enquadrada com o crescente selene, lunar.
Devemos notar que as conchas estão ligadas ao baptismo, havendo mesmo pias baptismais com essa forma:
 
Pia baptismal - Igreja NªSrª Navegantes (Armação de Pera, imagem)e concha baptismal (imagem)

Portanto, há uma ligação da concha à libertação do "pecado original", da expulsão do Paraíso. 
Bom, e tendo acabado de falar nas ilhas polinésias, do Taiti no texto anterior, de forma algo natural estabelecemos a noção de "ilha paradisíaca"... como se congenitamente o fosse reconhecido naquelas paisagens.


Pelicano.
Para além do peixe, também o pelicano, pelo auto-sacrifício pela prole, é considerado um símbolo de Cristo, tendo sido primeiro adoptado por D. João II como seu símbolo.
Vamos encontrar esse símbolo com um influente conselheiro dos reis ingleses Henrique VII e Henrique VIII, tratava-se de Richard Foxe, bispo de Winchester:

Leito de morte de Henry VII Tudor (1509) com destaque para Richard Fox, Bispo de Winchester, 
vêem-se as quinas portuguesas e o pelicano de D. João II.

O que faria o Bispo de Winchester, o conselheiro mais influente de Henrique VII, e depois de Henrique VIII (até ser substituído por Wolsey), usar armas com quinas e o pelicano, símbolos do já defunto D. João II?
Estava aqui implícito que a política de D. João II teria uma continuação pelo lado inglês?

Richard Foxe vai fundar o Colégio Corpus Christi de Oxford, que ainda hoje usa o símbolo do pelicano:
  
Richard Fox, o pátio central com o Pelicano do Corpus Christi de Oxford, e as armas do colégio,
que incluem ainda as armas de Hugh Oldham (com 3 mochos e rosas vermelhas de Lancaster)

Mais tarde, também Isabel I, filha de Henrique VIII, a rainha que determinará a expansão inglesa, irá adoptar o pelicano como símbolo no seu papel de "mãe" da Igreja Anglicana. A simbologia cristã do pelicano remontará a S. Tomás de Aquino, a sua ligação às quinas portuguesas só fica evidente através de Fox, e da influência que terá tido na regência dos Tudor.

A tomba de Fox está na catedral de Winchester da Santíssima Trindade, que era a mais influente à época, e que curiosamente esteve em perigo de colapso por inundação das fundações, sendo "salva" pelo trabalho contínuo de um escafandrista, William Walker, entre 1906-11, que tem um busto na catedral cuja cripta ainda se encontra imersa em água. 

Catedral de Winchester, o escafandrista Walker, e a cripta inundada (com escultura moderna).

Cordeiros.
Curiosamente, 50 anos antes, outro Bispo de Winchester, Henry Beaufort, ficou famoso por dirigir o processo inquisitório que condenou Joana d'Arc à fogueira. Tratava-se de um meio-irmão de Filipa de Lancastre, sendo um dos muitos filhos de John de Gaunt (com Katherine Swynford, no terceiro casamento que originou a linha Beaufort). 
Henry Beaufort, o inquisidor, e Joana d'Arc... 
um cordeiro entregue à fogueira.

Joana d'Arc tinha sido entregue por Philippe III de Borgonha (casado com Isabel de Portugal, filha de D. João I, sobrinha do inquisidor). Margaret Beaufort, também sobrinha deste Henry, será mãe do rei Henrique VII, que derrota Ricardo III, tornando-se o primeiro dos Tudor. Henrique VII usa a rosa de Lancaster, mas ao casar com uma rosa de York, terminará a Guerra das Rosas com a união.
Um detalhe importante é Henrique VII usar num retrato o colar do Tosão de Ouro, o símbolo da Ordem fundada por Philippe III de Borgonha, aquando do casamento com Isabel de Portugal.
Phillipe III de Bourgogne, fundador da Ordem do Tosão de Ouro (esq.)
Henry VII Tudor, membro da Ordem do Tosão de Ouro (dir.)
Ambos usam o colar da ordem, com o cordeiro sacrificial.

Duque de Kent, chefe da Grande Loja de Londres, com colar da Maçonaria.

Juntei uma imagem de colar da maçonaria porque o compasso, ou o esquadro, descaindo em forma de V invertido, assemelham-se ao cordeiro sacrificial, que vemos nos colares da Ordem do Tosão de Ouro.
Conforme já referi noutros textos, o cordeiro tem vários significados, não apenas ligados à lenda de Jasão e dos Argonautas. É claro que a Ordem surgindo no contexto do casamento da irmã do Infante D. Henrique, carrega um aspecto dos Descobrimentos ligado aos "Argonautas" e ao Velo de Ouro.
Descobrir foi desvelar, tirar véus... na forma Ariana deste carneiro, o Velo seria a pele de Aries, uma pele de Ouro, ou de Oro, forma abreviada de Hórus, o olho vigilante que se pode ligar ao verbo Orar.
Descobrir foi revelar, levantar Velas e não tanto retirá-las. As cara-velas do Infante velaram pelo véus antigos, e a Ordem do Tosão ou "Velo de Ouro", pode ser vista como preservação do "véu de Hórus".
Jasão teve que vencer o Dragão da Cólquida para obter o Velo de Ouro, tal como Hércules teve que vencer o dragão Ládon, que guardava as ocidentais Hespérides, num dos 12 trabalhos (ou 12 Oras...).
Ao mesmo tempo aparecia a Ordem do Dragão, de que fez parte o Infante D. Pedro, e que já ligámos à Dra-cola, ou Cola do Dragão, em que o "Colar" se refere ao pescoço, tal como Coço e Cola se referem à retaguarda, entrelaçada ao pescoço... (sobre o significado antigo de "coço da procissão" ser "atrás da procissão", ler D. Manuel Clemente)

A história do cordeiro tem ainda o aspecto hebraico que remete à Páscoa, ou à paz-côa, quando Abraão é sujeito ao teste de obediência divino, e o seu filho Isaac é substituído pelo cordeiro no sacrifício:
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, miserere nobis... dona nobis pacem
É um bocado complicado falar deste ponto, porque o sacrifício do cordeiro ordeiro envolve aqui um conceito perverso, no outro verso interpretativo. Deus não permitiria o sacrifício do filho eleito, apenas dos cordeiros... e por isso os cordeiros poderiam ser sacrificados, até que Deus se manifestasse em sentido contrário. E quem eram os cordeiros a sacrificar? O sacrifício indiscriminado traria a presença de Deus?
Pois... até que ponto os Árias foram pastores de Aries, cordeiros? Até que ponto os pastores sacrificariam os seus cordeiros para reencontrarem Deus, ou o Messias?
Esta filosofia continha uma aposta tripla 1X2, se Deus não interviesse perante a iniquidade, os pastores beneficiariam do velo de ouro, uma opção hedonista face à ausência divina. De forma oposta, justificariam a sua acção perante o divino, requerendo a sua presença, afinal a sua omnipotência só permitiria o sacrifício dos sacrificáveis. A incógnita X seria a recusa teológica de outras possibilidades... obviamente possível por crença, mas afinal insustentável racionalmente. Azar, este universo foi definido justamente pela racionalidade, e os absurdos levam ao vazio contraditório - o caos irracional fica no seu exterior. O tempo permite o absurdo diferido, temporário, mas não o simultâneo e permanente. Todos os filhos de Gaia são introspectivamente recuperáveis, pela lógica do arrependimento, do reconhecimento de erros, mas não é possível a recuperação dos irrecuperáveis. A persistência eterna no absurdo foi simplesmente excluída, nem tampouco poderia ser humana. Logicamente, não poderia ser doutra forma... os erros podem viver nas ilusões temporárias, que acolhem elementos do caos, mas não o caos completo. Desse oceano caótico importamos a imprevisibilidade, elementos artísticos e sentimentais, mas esses impulsos devem sujeitar-se ao enquadramento racional, sob pena de serem o convite ao estabelecimento do irracional, e à recusa da principal faculdade humana, que nos distingue das alimárias, a racionalidade.

Chapéus...
Há muitos, vários formatos de chapéus. Assim, para além do colar com o cordeirinho sacrificial, também o chapéu usado por Filipe III de Borgonha fez moda, ficou conhecido como "chapéu borgonhês", e resistiu aos tempos, sendo ainda hoje uma indumentária usada pela Confraria do Vinho do Porto:
É claro que no caso da confraria de vinho usa-se no colar uma taça de escanção, para averiguar da cor do vinho, afinal simbolicamente tratado como "sangue de Cristo".
A taça do vinho da Última Ceia foi habitualmente designada como Graal, e houve já quem sugerisse que o nome Portugal encerraria um críptico "por-tu-graal", que assim se complementaria, pela associação de Porto e Gaia, nas caves do famoso vinho, que sozinhas asseguravam as contrapartidas do Tratado de Methuen. Para adivinhos, há outros vinhos... os famosos vinhos da Borgonha, ou de Bordéus, da antiga região da Guiana occitana-basca, entre outros preciosos néctares de um Baco divino di-vinho, cuja preservação de antiguidade necessita do devido arrefecimento em caves bem seladas.

Baptista
Não longe, encontramos a Igreja Matriz de Vila do Conde, cuja a entrada é interessante.
De construção biscainha, apresenta de um lado as armas de D. Manuel (num caso raro, em que ainda aparece a dupla esfera armilar, sugerida por D. João II), e do outro lado temos: a âncora da Póvoa de Varzim, o antigo barco de Vila do Conde, e um outro brazão com uma figura humana que emerge de uma concha (símbolo associado à localidade de S. Pedro de Rates).
Igreja Matriz, de S. João Baptista, em Vila do Conde (imagem).

Como a Igreja é dedicada a S. João Baptista (que aparece no topo da porta), a concha será baptismal, mas também referente à mítica presença do Apóstolo Santiago, que teria ordenado S. Pedro de Rates como primeiro Bispo de Braga (45 a 60 d.C.).
Há assim essa dupla ligação a conchas, cuidando ambas para o simbolismo do renascimento, numa igreja renascentista emanuelina. O homem que sai da concha aparece depois, com D. Sebastião, na forma de peixe, invocando esse Renascimento cristão, que seria o renascimento de Cristo, na forma humana.
O ritual baptista parece remeter para uma origem aquática, pela imersão do baptizado, ou mais simbolicamente vertendo água na sua cabeça.
No entanto, há variações baptistas.
Um outro aspecto de baptismo, era o baptismo com óleo, aplicado na unção de sacerdotes.
Aí podemos ver outro aspecto das vieiras que, virtude dos tempos, são reencontradas no símbolo de uma famosa companhia petrolífera:

A vieira usada como símbolo de petróleo pela Shell.

O petróleo, também designado como "ouro negro", passou a encerrar outros véus, ou velos de ouro negro... mas para essas considerações remetemos para um texto anterior.

Poderíamos ainda falar de outros aspectos interessantes das vieiras, nomeadamente pela sua geometria.
Há uma confluência entre parte de um quadrado e parte de um círculo, podendo ser usado para simbolizar a relação do número Pi na quadratura do círculo.
Por outro lado, as divisões naturais das vieiras (ou outras conchas) poderiam servir para marcar ângulos, constituindo um simples instrumento de posicionamento, semelhante a um vulgar quadrante, para simples uso náutico, em navegações primitivas. Esse seria um aspecto prático de orientação astral para qualquer peregrino, associando a vieira ao cajado do pastor.

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publicado às 22:13

Cobertura

21.05.13
Por vezes é conveniente sintetizar algumas ideias, revendo o panorama geral a partir das várias análises parcelares. Já fiz isso nalguns textos, mas é talvez altura de fazer nova revisão, explicando algumas das razões que podem ter ficado menos claras. 
Há muitas opções que se podem tomar... quem quiser seguir a via da História oficial ficará descansado na conveniência de estórias com a documentação oficial seleccionada que sustenta períodos isolados, mas deixa múltiplas questões globais em aberto, às quais nem se procura responder. 
Quem quiser seguir as teorias de civilizações extraterrestres, poderá fazê-lo, mas faltará mostrar a sua necessidade. Ou seja, o que foi encontrado que não possa ser alcançado por tecnologia humana desenvolvida num espaço de dois ou três séculos? - que eu saiba, nada! 
Outra hipótese é ir pela versão das grandes civilizações desaparecidas, ao estilo Atlântida. Já escrevi sobre a versão Atlântida=América que circulou à época dos descobrimentos (Séc. XVII), mas faço notar uma outra hipótese que tem sido ignorada. A estória de Platão contava que os Atlantes dominavam a zona mediterrânica, e mesmo todo o mundo. Depois desapareceram, por via de um cataclismo... 
- Será que desapareceram? - E esse desaparecimento seria ou não conveniente? 
- Afinal quem colocava sempre os limites da expansão no Mediterrâneo nas Colunas de Hércules?
- Por que razão não se prosseguia pela África? Só o Infante D. Henrique obterá autorização?
Ou seja, por que razão não considerar que toda a zona europeia estava sob controlo de uma potência "atlântica-atlante", ou seja "americana"? - Porque será isso apenas coisa moderna, ou muito antiga, perdida no tempo? - Havia ou não fortes restrições na condução das políticas europeias, quase desde sempre?

Como vemos, mesmo esquecendo outras vertentes místicas/religiosas, há sempre muitas formas de abordar os problemas. A que me parece melhor é também talvez a mais difícil... ou seja, aceitar tanto quanto possível as histórias oficiais, e só sair delas quando não houver respostas ou nexo lógico. Ainda que esse seja um caminho cheio de armadilhas, pelo menos seguimos o rasto de um nexo já criado, em vez de fazermos fé numa qualquer hipótese mais fantasiosa, só porque há uma grande corrente de seguidores.

1) A ocultação greco-romana.
Todo o propósito do blog se deve à ideia de ocultação persistente, e para isso bastam algumas provas que deixei bem claras no texto sobre "contas". Podemos ir buscar os mapas, a documentação, etc... mas tudo isso é acessório, bastam simples contas. Basta saber que a andar normalmente, com muito tempo de descanso, os homens podem caminhar 1000 Km num mês. Isso destrói por completo a ideia de limitação de exploração do mundo aos sítios convencionais. A única barreira à exploração seriam imposições humanas, a partir do momento em que o Homem tinha capacidade de lidar com outros obstáculos.

Desde quando vem essa limitação?
No texto sobre "Era dos Cobres" sugeri que poderia ter acontecido na época de aparecimento dos metais. Porquê tão remotamente? Primeiro, porque me parece claro que os Romanos sofreram de restrições às suas explorações, circunscrevendo-se à bacia mediterrânica. Para uma civilização que idolatrava os feitos de Alexandre Magno, parece improvável que os imperadores romanos não se preocupassem em enviar barcos para explorar a costa africana, ou simplesmente enviar legiões expedicionárias - mesmo a pé - com o intuito de traçar o continente africano (resolveriam o assunto num par de anos). Note-se ainda o registo de animais exóticos encontrados nos frescos de algumas povoações romanas, como em Villa Romana del Casale.
Não poderiam ser ameaçadas as suas povoações norte-africanas por algum inimigo vindo desse grande continente africano, que lhes era desconhecido? Estranhamente, isso não os parecia preocupar. Tal como sabiam bem dos registos de circum-navegação africana dos cartagineses, e não se interessaram em segui-los nesse feito marítimo.
Também não seguiram muito a senda de Alexandre em direcção à Índia, apesar de terem sido herdeiros de parte do Império Seleucida, o que os colocava na zona do Médio Oriente, a pouca distância da Índia. 
Foram contemporâneos do Império Greco-Báctrio e depois do Império Indo-Báctrio, ambos de grandes raízes gregas, o que permitiria uma ligação facilitada, pelo menos linguística, com os Romanos.
Édito de Ashoka (rei Indiano), em língua grega e aramaica, em Kandahar (Afeganistão)

O báctrio Demetrius, fundador do Reino Indo-Grego (c. 180 a.C.)

Portanto, apesar de uma presença "ocidentalizada" na Índia, durante alguns séculos, a partir do Séc. I (ano 10 d.C.) esse reino de herança greco-báctria irá sucumbir a invasores Citas, e a Índia ficará afastada do contacto ocidental próximo até à chegada dos portugueses.

Os Romanos pareciam estar assim limitados.
O mesmo se tinha passado antes com os Gregos, e quem tivera o ensejo de modificar isso fora Alexandre Magno, sob influência do seu mentor Aristóteles.
De acordo com o registo greco-romano, mesmo Cartagineses e Fenícios, apesar da sua grande capacidade naval tinham razoáveis limitações. Aristóteles referia a pena de morte para quem ousasse permanecer nas terras exploradas. 
Porquê? - poderia ser apenas para evitar a saída, e a constituição de colónias rivais, tal como Cartago o foi face a Tiro e Sídon... mas isso não parece ser consistente com a constituição de outras colónias, como por exemplo as colónias ibéricas, nomeadamente Cartagena, na Espanha.

2) Ocultação anterior aos Gregos.
As descrições gregas, começando por Heródoto, revelam um conhecimento circunscrito, semelhante ao que se verificaria em período Romano. Os egípcios, apesar de terem enviado algumas embarcações exploratórias, como as do faraó Senusret, anteriores à Guerra de Troia, também parecem não ter tido grande interesse pela parte restante do continente africano - excepção feita à Núbia, território contíguo ao sul do Egipto.
Há referências soltas a explorações significativas. Ao rei Salomão são atribuídas expedições rentáveis a um indeterminado país de Ofir, expedição com o auxílio de Hirão, rei de Tiro (há uma curiosa "Lenda dos Cavalos de Fão", na Praia de Ofir, que remete a essa origem salomónica). Para além dos Fenícios, temos ainda os registos Aqueus, os antigos gregos, quer das viagens de Ulisses e Menelau, ou ainda antes de Jasão e dos Argonautas.
Uma possível situação marítima à época da viagem de Jasão.

Dante na sua Divina Comédia, coloca Ulisses no 8º fosso do 8º círculo do Inferno... o herói grego era colocado bem nas profundezas dos infernos medievais, mas aí se veria também o seu "renascimento".
Porém, associa-lhe claramente uma viagem atlântica (canto 26), quando refere que na "mão direita deixou Sevilha e na outra Ceuta", ou seja, parte para além das Colunas de Hércules, e quando "os astros do outro pólo à noite via", refere-se claramente a uma passagem da linha equatorial - alusão semelhante que Camões usará nos Lusíadas. Há ainda quem considere que Dante poderia sugerir mesmo que Ulisses tivesse alcançado a América...
Dante - Divina Comédia - coloca Ulisses no Inferno, mas também lhe 
associa uma viagem pelo Atlântico Sul, passando a linha Equatorial.

Para outra provável referência a grandes viagens, ainda anteriores, já referimos Sargão, o seu reino de Acádia, e até a designação dos Sargaços. E será nos textos sumérios c. 2000 a.C. que encontramos os eventuais primeiros relatos exploratórios. Podemos ainda referir os Tartéssios, na zona do Guadiana - Guadalquivir, talvez ilustrados no mito de "Jonas e da Baleia", que refere uma eventual fuga da violenta Ninive para um refúgio em Tarsis.

Aqui já estamos no final de todos os registos sejam históricos ou estóricos, parece haver um limite por volta de 3000 a.C, onde até os mitos escasseiam. Ainda que os Caldeus invocassem registos astronómicos de vários milhares de anos, diz-se que a sua medida de "ano" seria o "mês lunar", pelo que uma divisão por 12 remeteria valores de 30 mil "anos" para aquele período. Será nessa época que poderemos colocar o lendário Nimrod (Nembroth) da Torre de Babel, um nome hebraico que não consta na lista de reis sumérios, talvez sendo o avô de Sargão. A lista mais extensa dos assírios parece remeter mesmo a reis nómadas enquanto "reis que viviam em tendas".

Quanto aos egípcios, ainda que os mitos remetam a períodos anteriores, também os seus registos mais antigos surgem por volta de 3000 a.C. com uma primeira dinastia fundada pelo faraó Menes. Durante esses 3000 anos até à chegada dos Romanos, o Egipto parece ter-se mantido como uma forte nação independente, não sujeita a tantas instabilidades como as vividas pelos vizinhos mesopotâmicos ou persas.

É claro que uma prolongada estabilidade poderia ter levado a grandes viagens, não apenas pelo Mediterrânico, onde teriam sido óbvias, mas também pelo Índico, dado o acesso directo através do Mar Vermelho... e navegando pelo mais calmo Oceano Índico, poderiam ter chegado longe... até à Austrália?
Recentemente houve uma polémica acerca dos hieróglifos de Gosford (Austrália):
 Hieroglifos de Gosford na Austrália (imagens)

Tratam-se de hieróglifos algo "toscos", encontrados gravados numa rocha de New South Wales (Austrália), e é claro houve alguma pressa em classificá-los como fraude, ou então como brincadeira antiga (de um militar estacionado no Egipto na 1ª Guerra Mundial), juntando-se a isto novas inscrições que iam aparecendo, ridicularizando mais, ou deturpando as anteriores.
Lembremo-nos que, aquando das figuras de Foz Côa, também houve candidatos que apareceram como pretensos autores de fraude, dizendo que "tinham desenhado os bois quando eram crianças"... Acaba por ser mais fácil encontrar mentiras prontas para encobrir estes achados do que propriamente os achados resultarem de mentiras...

3) A Síria, Assíria, Ciro e Tiro... 
A estes primeiros registos reportados a 3000 a.C. podemos juntar os registos do fim do Neolítico europeu, com a Cerâmica Campaniforme, de que falámos nas "Linhas Velhas de Torres".

Porém, fora desta cronologia ocorrem importantes registos soltos.
Já falámos de Gobekli Tepe ou Çatal Huyuk na Turquia, cuja datação aponta para mais de 10 000 a.C., tal como na Síria, nomeadamente em Tell Qaramel e Tell Aswad, ou Jericó (na Palestina), com datações entr 10 000 e 8 000 a.C., ou ainda Ain Ghazal (na Jordânia), c. 6500 a.C.
No caso de Tell Aswad e Jericó há uma semelhança na tentativa de preservação do rosto através de uma cobertura de barro, conforme se verifica neste crânios revestidos:
Tell Aswad (Síria)
Jericó (Palestina)
Ain Ghazal (Jordânia)

As formas humanas em Ain Ghazal mostram uma estilização com ênfase nos olhos, trazendo uma rápida lembrança da estilização que se popularizou na figura de humanóides. Há por vezes aspectos estranhos em representações humanas que remetem para esse tipo de especulações recentes. Fazemos notar que a associação entre duas representações tem dois sentidos... Só depois de se popularizarem as figuras de capacetes astronautas é que se começaram a ver capacetes de astronautas em muitas figuras antigas. Portanto, nessas associações convém sempre perceber a origem e motivo das interpretações.

Há ainda registos orientais muito antigos, nomeadamente em Yangshao (China), c. 5000 a.C, com registos cerâmicos muito notáveis até 10 000 a.C., havendo mesmo uma datação de fragmentos de cerâmica na Caverna Xianren que é colocada no Paleolítico, c. 20 000 a.C.
Vaso da fase Majiayao c. 3000 a.C (Yangshao, China)

Regressamos à zona da Síria, Turquia, Jordânia, relembrando o texto sobre o Campo Damasceno, nomeadamente a frase algo enigmática de Camões (Lusíadas Canto III, 9):
"Para que do mais certo se informara, ao campo Damasceno o perguntara".
Segundo Camões a disputa sobre a antiguidade humana seria mais certamente informada com os registos da zona de Damasco, na Síria. Consequência de muitas guerras com pretextos infernais ou primaveris, tem havido uma considerável devastação em muitos destes sítios arqueológicos... seja pela intervenção externa na Mesopotâmia/Iraque, ou pelas acções externas-internas mais recentes, na Líbia ou Síria, etc...

Aquilo que fazemos notar é que haveria uma História... ou Estória, que se enredava numa parte lendária, com teor religioso que remetia o seu início para um período c. 4000-3500 a.C. Até há pouco mais de 150 anos era considerado por cristãos, judeus, árabes, etc... que o primeiro homem teria surgido por essa altura. Ora, isso correspondia aproximadamente ao início dos registos históricos, desde Egípcios, Sumérios, etc...
A arqueologia com as suas datações subsequentes veio alterar muito esse panorama, mas não propriamente com o aparecimento de grandes culturas anteriores, excepção feita a alguns casos, como estes que aqui referimos. No entanto, estes registos soltos, à excepção de Jericó, não se enquadram em nenhum registo antigo, nem mesmo mítico.

Grande parte da tradição que sobreviveu passou por muitas influências, cada uma colocando maior ou menor deturpação para as gerações seguintes. Uma considerável influência passou-se com a acção das primeiras monarquias, dos Assírios/Babilónios, e depois pelos persas de Ciro.
Quando Ciro faz regressar os povos escravizados ao pretenso lugar de origem, nomeadamente os judeus/ hebreus, estes levam já uma versão adaptada pelos próprios magos Assírios. As semelhanças entre mitos babilónicos e mitos bíblicos não pode ser desligada do longo período de cativeiro.
É ainda na altura de Ciro que a cidade fenícia de Tiro começará a perder a sua relevância, já muito abalada pelo cerco de Nabucodonosor. Mesmo os Egípcios não ficaram incólumes a esta influência.

Se os sacerdotes egípcios acusavam os gregos de Sólon de serem crianças sem memória, quando lhes relataram a oposição heróica Aqueia/grega face ao domínio Atlante, não parece haver um enquadramento cronológico desse evento em função da Guerra de Tróia. Corresponderiam os Atlantes aos Troianos, na perspectiva egípcia? Sólon ou Platão não se teriam lembrado dessa vitória grega sobre uma potência externa para, ao menos, levantarem a questão?
21/05/2013

(continua...)

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publicado às 04:03

Cobertura

21.05.13
Por vezes é conveniente sintetizar algumas ideias, revendo o panorama geral a partir das várias análises parcelares. Já fiz isso nalguns textos, mas é talvez altura de fazer nova revisão, explicando algumas das razões que podem ter ficado menos claras. 
Há muitas opções que se podem tomar... quem quiser seguir a via da História oficial ficará descansado na conveniência de estórias com a documentação oficial seleccionada que sustenta períodos isolados, mas deixa múltiplas questões globais em aberto, às quais nem se procura responder. 
Quem quiser seguir as teorias de civilizações extraterrestres, poderá fazê-lo, mas faltará mostrar a sua necessidade. Ou seja, o que foi encontrado que não possa ser alcançado por tecnologia humana desenvolvida num espaço de dois ou três séculos? - que eu saiba, nada! 
Outra hipótese é ir pela versão das grandes civilizações desaparecidas, ao estilo Atlântida. Já escrevi sobre a versão Atlântida=América que circulou à época dos descobrimentos (Séc. XVII), mas faço notar uma outra hipótese que tem sido ignorada. A estória de Platão contava que os Atlantes dominavam a zona mediterrânica, e mesmo todo o mundo. Depois desapareceram, por via de um cataclismo... 
- Será que desapareceram? - E esse desaparecimento seria ou não conveniente? 
- Afinal quem colocava sempre os limites da expansão no Mediterrâneo nas Colunas de Hércules?
- Por que razão não se prosseguia pela África? Só o Infante D. Henrique obterá autorização?
Ou seja, por que razão não considerar que toda a zona europeia estava sob controlo de uma potência "atlântica-atlante", ou seja "americana"? - Porque será isso apenas coisa moderna, ou muito antiga, perdida no tempo? - Havia ou não fortes restrições na condução das políticas europeias, quase desde sempre?

Como vemos, mesmo esquecendo outras vertentes místicas/religiosas, há sempre muitas formas de abordar os problemas. A que me parece melhor é também talvez a mais difícil... ou seja, aceitar tanto quanto possível as histórias oficiais, e só sair delas quando não houver respostas ou nexo lógico. Ainda que esse seja um caminho cheio de armadilhas, pelo menos seguimos o rasto de um nexo já criado, em vez de fazermos fé numa qualquer hipótese mais fantasiosa, só porque há uma grande corrente de seguidores.

1) A ocultação greco-romana.
Todo o propósito do blog se deve à ideia de ocultação persistente, e para isso bastam algumas provas que deixei bem claras no texto sobre "contas". Podemos ir buscar os mapas, a documentação, etc... mas tudo isso é acessório, bastam simples contas. Basta saber que a andar normalmente, com muito tempo de descanso, os homens podem caminhar 1000 Km num mês. Isso destrói por completo a ideia de limitação de exploração do mundo aos sítios convencionais. A única barreira à exploração seriam imposições humanas, a partir do momento em que o Homem tinha capacidade de lidar com outros obstáculos.

Desde quando vem essa limitação?
No texto sobre "Era dos Cobres" sugeri que poderia ter acontecido na época de aparecimento dos metais. Porquê tão remotamente? Primeiro, porque me parece claro que os Romanos sofreram de restrições às suas explorações, circunscrevendo-se à bacia mediterrânica. Para uma civilização que idolatrava os feitos de Alexandre Magno, parece improvável que os imperadores romanos não se preocupassem em enviar barcos para explorar a costa africana, ou simplesmente enviar legiões expedicionárias - mesmo a pé - com o intuito de traçar o continente africano (resolveriam o assunto num par de anos). Note-se ainda o registo de animais exóticos encontrados nos frescos de algumas povoações romanas, como em Villa Romana del Casale.
Não poderiam ser ameaçadas as suas povoações norte-africanas por algum inimigo vindo desse grande continente africano, que lhes era desconhecido? Estranhamente, isso não os parecia preocupar. Tal como sabiam bem dos registos de circum-navegação africana dos cartagineses, e não se interessaram em segui-los nesse feito marítimo.
Também não seguiram muito a senda de Alexandre em direcção à Índia, apesar de terem sido herdeiros de parte do Império Seleucida, o que os colocava na zona do Médio Oriente, a pouca distância da Índia. 
Foram contemporâneos do Império Greco-Báctrio e depois do Império Indo-Báctrio, ambos de grandes raízes gregas, o que permitiria uma ligação facilitada, pelo menos linguística, com os Romanos.
Édito de Ashoka (rei Indiano), em língua grega e aramaica, em Kandahar (Afeganistão)
 
O báctrio Demetrius, fundador do Reino Indo-Grego (c. 180 a.C.)

Portanto, apesar de uma presença "ocidentalizada" na Índia, durante alguns séculos, a partir do Séc. I (ano 10 d.C.) esse reino de herança greco-báctria irá sucumbir a invasores Citas, e a Índia ficará afastada do contacto ocidental próximo até à chegada dos portugueses.

Os Romanos pareciam estar assim limitados.
O mesmo se tinha passado antes com os Gregos, e quem tivera o ensejo de modificar isso fora Alexandre Magno, sob influência do seu mentor Aristóteles.
De acordo com o registo greco-romano, mesmo Cartagineses e Fenícios, apesar da sua grande capacidade naval tinham razoáveis limitações. Aristóteles referia a pena de morte para quem ousasse permanecer nas terras exploradas. 
Porquê? - poderia ser apenas para evitar a saída, e a constituição de colónias rivais, tal como Cartago o foi face a Tiro e Sídon... mas isso não parece ser consistente com a constituição de outras colónias, como por exemplo as colónias ibéricas, nomeadamente Cartagena, na Espanha.

2) Ocultação anterior aos Gregos.
As descrições gregas, começando por Heródoto, revelam um conhecimento circunscrito, semelhante ao que se verificaria em período Romano. Os egípcios, apesar de terem enviado algumas embarcações exploratórias, como as do faraó Senusret, anteriores à Guerra de Troia, também parecem não ter tido grande interesse pela parte restante do continente africano - excepção feita à Núbia, território contíguo ao sul do Egipto.
Há referências soltas a explorações significativas. Ao rei Salomão são atribuídas expedições rentáveis a um indeterminado país de Ofir, expedição com o auxílio de Hirão, rei de Tiro (há uma curiosa "Lenda dos Cavalos de Fão", na Praia de Ofir, que remete a essa origem salomónica). Para além dos Fenícios, temos ainda os registos Aqueus, os antigos gregos, quer das viagens de Ulisses e Menelau, ou ainda antes de Jasão e dos Argonautas.
Uma possível situação marítima à época da viagem de Jasão.

Dante na sua Divina Comédia, coloca Ulisses no 8º fosso do 8º círculo do Inferno... o herói grego era colocado bem nas profundezas dos infernos medievais, mas aí se veria também o seu "renascimento".
Porém, associa-lhe claramente uma viagem atlântica (canto 26), quando refere que na "mão direita deixou Sevilha e na outra Ceuta", ou seja, parte para além das Colunas de Hércules, e quando "os astros do outro pólo à noite via", refere-se claramente a uma passagem da linha equatorial - alusão semelhante que Camões usará nos Lusíadas. Há ainda quem considere que Dante poderia sugerir mesmo que Ulisses tivesse alcançado a América...
Dante - Divina Comédia - coloca Ulisses no Inferno, mas também lhe 
associa uma viagem pelo Atlântico Sul, passando a linha Equatorial.

Para outra provável referência a grandes viagens, ainda anteriores, já referimos Sargão, o seu reino de Acádia, e até a designação dos Sargaços. E será nos textos sumérios c. 2000 a.C. que encontramos os eventuais primeiros relatos exploratórios. Podemos ainda referir os Tartéssios, na zona do Guadiana - Guadalquivir, talvez ilustrados no mito de "Jonas e da Baleia", que refere uma eventual fuga da violenta Ninive para um refúgio em Tarsis.

Aqui já estamos no final de todos os registos sejam históricos ou estóricos, parece haver um limite por volta de 3000 a.C, onde até os mitos escasseiam. Ainda que os Caldeus invocassem registos astronómicos de vários milhares de anos, diz-se que a sua medida de "ano" seria o "mês lunar", pelo que uma divisão por 12 remeteria valores de 30 mil "anos" para aquele período. Será nessa época que poderemos colocar o lendário Nimrod (Nembroth) da Torre de Babel, um nome hebraico que não consta na lista de reis sumérios, talvez sendo o avô de Sargão. A lista mais extensa dos assírios parece remeter mesmo a reis nómadas enquanto "reis que viviam em tendas".

Quanto aos egípcios, ainda que os mitos remetam a períodos anteriores, também os seus registos mais antigos surgem por volta de 3000 a.C. com uma primeira dinastia fundada pelo faraó Menes. Durante esses 3000 anos até à chegada dos Romanos, o Egipto parece ter-se mantido como uma forte nação independente, não sujeita a tantas instabilidades como as vividas pelos vizinhos mesopotâmicos ou persas.

É claro que uma prolongada estabilidade poderia ter levado a grandes viagens, não apenas pelo Mediterrânico, onde teriam sido óbvias, mas também pelo Índico, dado o acesso directo através do Mar Vermelho... e navegando pelo mais calmo Oceano Índico, poderiam ter chegado longe... até à Austrália?
Recentemente houve uma polémica acerca dos hieróglifos de Gosford (Austrália):
 
Hieroglifos de Gosford na Austrália (imagens)

Tratam-se de hieróglifos algo "toscos", encontrados gravados numa rocha de New South Wales (Austrália), e é claro houve alguma pressa em classificá-los como fraude, ou então como brincadeira antiga (de um militar estacionado no Egipto na 1ª Guerra Mundial), juntando-se a isto novas inscrições que iam aparecendo, ridicularizando mais, ou deturpando as anteriores.
Lembremo-nos que, aquando das figuras de Foz Côa, também houve candidatos que apareceram como pretensos autores de fraude, dizendo que "tinham desenhado os bois quando eram crianças"... Acaba por ser mais fácil encontrar mentiras prontas para encobrir estes achados do que propriamente os achados resultarem de mentiras...

3) A Síria, Assíria, Ciro e Tiro... 
A estes primeiros registos reportados a 3000 a.C. podemos juntar os registos do fim do Neolítico europeu, com a Cerâmica Campaniforme, de que falámos nas "Linhas Velhas de Torres".

Porém, fora desta cronologia ocorrem importantes registos soltos.
Já falámos de Gobekli Tepe ou Çatal Huyuk na Turquia, cuja datação aponta para mais de 10 000 a.C., tal como na Síria, nomeadamente em Tell Qaramel e Tell Aswad, ou Jericó (na Palestina), com datações entr 10 000 e 8 000 a.C., ou ainda Ain Ghazal (na Jordânia), c. 6500 a.C.
No caso de Tell Aswad e Jericó há uma semelhança na tentativa de preservação do rosto através de uma cobertura de barro, conforme se verifica neste crânios revestidos:
 
Tell Aswad (Síria)
Jericó (Palestina)
Ain Ghazal (Jordânia)

As formas humanas em Ain Ghazal mostram uma estilização com ênfase nos olhos, trazendo uma rápida lembrança da estilização que se popularizou na figura de humanóides. Há por vezes aspectos estranhos em representações humanas que remetem para esse tipo de especulações recentes. Fazemos notar que a associação entre duas representações tem dois sentidos... Só depois de se popularizarem as figuras de capacetes astronautas é que se começaram a ver capacetes de astronautas em muitas figuras antigas. Portanto, nessas associações convém sempre perceber a origem e motivo das interpretações.

Há ainda registos orientais muito antigos, nomeadamente em Yangshao (China), c. 5000 a.C, com registos cerâmicos muito notáveis até 10 000 a.C., havendo mesmo uma datação de fragmentos de cerâmica na Caverna Xianren que é colocada no Paleolítico, c. 20 000 a.C.
Vaso da fase Majiayao c. 3000 a.C (Yangshao, China)

Regressamos à zona da Síria, Turquia, Jordânia, relembrando o texto sobre o Campo Damasceno, nomeadamente a frase algo enigmática de Camões (Lusíadas Canto III, 9):
"Para que do mais certo se informara, ao campo Damasceno o perguntara".
Segundo Camões a disputa sobre a antiguidade humana seria mais certamente informada com os registos da zona de Damasco, na Síria. Consequência de muitas guerras com pretextos infernais ou primaveris, tem havido uma considerável devastação em muitos destes sítios arqueológicos... seja pela intervenção externa na Mesopotâmia/Iraque, ou pelas acções externas-internas mais recentes, na Líbia ou Síria, etc...

Aquilo que fazemos notar é que haveria uma História... ou Estória, que se enredava numa parte lendária, com teor religioso que remetia o seu início para um período c. 4000-3500 a.C. Até há pouco mais de 150 anos era considerado por cristãos, judeus, árabes, etc... que o primeiro homem teria surgido por essa altura. Ora, isso correspondia aproximadamente ao início dos registos históricos, desde Egípcios, Sumérios, etc...
A arqueologia com as suas datações subsequentes veio alterar muito esse panorama, mas não propriamente com o aparecimento de grandes culturas anteriores, excepção feita a alguns casos, como estes que aqui referimos. No entanto, estes registos soltos, à excepção de Jericó, não se enquadram em nenhum registo antigo, nem mesmo mítico.

Grande parte da tradição que sobreviveu passou por muitas influências, cada uma colocando maior ou menor deturpação para as gerações seguintes. Uma considerável influência passou-se com a acção das primeiras monarquias, dos Assírios/Babilónios, e depois pelos persas de Ciro.
Quando Ciro faz regressar os povos escravizados ao pretenso lugar de origem, nomeadamente os judeus/ hebreus, estes levam já uma versão adaptada pelos próprios magos Assírios. As semelhanças entre mitos babilónicos e mitos bíblicos não pode ser desligada do longo período de cativeiro.
É ainda na altura de Ciro que a cidade fenícia de Tiro começará a perder a sua relevância, já muito abalada pelo cerco de Nabucodonosor. Mesmo os Egípcios não ficaram incólumes a esta influência.

Se os sacerdotes egípcios acusavam os gregos de Sólon de serem crianças sem memória, quando lhes relataram a oposição heróica Aqueia/grega face ao domínio Atlante, não parece haver um enquadramento cronológico desse evento em função da Guerra de Tróia. Corresponderiam os Atlantes aos Troianos, na perspectiva egípcia? Sólon ou Platão não se teriam lembrado dessa vitória grega sobre uma potência externa para, ao menos, levantarem a questão?
21/05/2013

(continua...)

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publicado às 04:03

Há um ponto que ficou por esclarecer naquilo que fui escrevendo até aqui.
Creio que deixei claro que há fortes motivos para suspeitar de uma ocultação que antecedeu o período de descobrimentos, dizendo respeito a todas as descobertas, indo até à Antiguidade, proibindo praticamente contactos entre as civilizações ocidentais e orientais, ou as explorações marítimas.
No entanto, não apresentei qualquer conexão que se impusesse a Oriente e a Ocidente, de forma minimamente semelhante. Por que razão a China e Índia se haveriam de fechar? Se o Budismo foi uma religião que procurou difusão, que obstáculos tão grandes impediriam uma tentativa de propagação a ocidente? Por que razão o Império Romano, durante vários séculos de apogeu, não procuraria entrar em contacto com as zonas orientais, seguindo a rota de Alexandre Magno, pelo menos em direcção à Índia. Afinal, seria esse "descuido" a oriente que levaria os hunos às suas portas, precipitando o fim do império.

Há uns jogos instrutivos na internet, que permitem simular a evolução de um domínio. O utilizador pode começar em igualdade de circunstâncias numa "aldeia" numa "ilha", estabelece algumas alianças locais, mas rapidamente perceberá que nem todos chegaram ao mesmo tempo, e noutras "ilhas" haverá "alianças mais desenvolvidas". Esquecendo as finalidades comerciais, que deturpam as prestações, os novos jogadores são aliciados para fazerem parte de alianças com jogadores mais experientes... e a filosofia rapidamente se torna num "join or die". A pequena ilha que pareceria inicialmente imune a ataques externos, ver-se-à rapidamente envolvida num jogo global entre duas ou três alianças principais, que se formaram no início do jogo. Em casos mais subtis, as alianças, que parecem antagónicas, são controladas pelo mesmo jogador, que garantirá assim a vitória, fazendo jogo duplo, ou triplo, de aparente oposição a si próprio. Aos iniciados, esse tipo de estratégia escapa-lhes por completo, pelo menos até passarem uns meses, ou anos... porque alguns jogos mentais conseguem ser viciantes, e há muita gente entretida no mercado de "realidades" paralelas ou virtuais.

Isto é apenas ilustrativo de como é possível dissimular antagonismos, objectivos, deturpando a imagem que os outros fazem do seu oponente. Um oponente dissimulado é muitíssimo mais difícil de combater, mas por outro lado requer uma sofisticação, uma sólida ligação entre intervenientes, e precisa ainda de um motivo unificador. Num jogo estabelece-se normalmente um objectivo, agora em termos da nossa vivência humana, os pequenos objectivos tendem-se a confundir com objectivos maiores, ou até com a profunda inexistência de objectivo declarado, na existência humana.

É claro que a nossa raiz animal traz alguns objectivos inerentes, que se prendem com a constituição familiar, com a identificação de um parentesco, de um povo... mas quando a civilização começou a ganhar ascendente por via de novas ideias, essas ideias não tinham marca genética. Podem ter sido entendidas assim pela ligação entre o povo e a sua cultura, mas se as culturas não fossem hostis, só períodos de carência levariam a conflitos, a disputas territoriais, onde regressavam os valores de "base animal", ligados à própria sobrevivência.
O esquema agredir-para-não-ser-agredido deve ter-se tornado rapidamente numa real-politik, e as populações destroçadas passaram a ser remetidas para uma condição de escravatura, onde a sua utilização seria semelhante à que os humanos fariam dos restantes animais. Uns seriam tratados como "bestas de carga", outros seriam mais acarinhados... passando a uma figura semelhante à de "animais de estimação".

Um aspecto, que ainda hoje se pratica, é a castração de "animais de estimação". Também é histórica a utilização de eunucos para serviço cortesão. A sua prática atravessou fronteiras, e encontrou especial aplicação a Oriente. Do Egipto, Babilónia, Pérsia, até à China, os eunucos atingiram um estatuto social que lhes permitia ganhar controlo sobre a pirâmide burocrática dos estados. Mas o que os motivaria?
Numa corte que estabelecia linhagem pela descendência familiar, aos eunucos estaria reservado o papel de meros espectadores, mais ou menos empenhados na garantia da descendência dos genes do seu "senhor", que não eram seguramente os seus. Se eles tinham poder, não serviria essa filosofia de carácter reprodutor... provavelmente o seu povo de origem estava escravizado em condições piores.
É fácil à distância dos factos esquecer os sofrimentos envolvidos, mas a nossa História é uma sucessão de dramas, alguns dos quais difíceis de compreender para além da mera barbárie envolvida.

Se haveria humanos receptivos a uma idealização da humanidade, para além do aspecto animal, da reprodução da espécie, é natural que se encontrassem entre os eunucos. Caso constituíssem uma fraternidade, sem fronteiras, ganhariam o poder de aconselhar os soberanos às melhores e piores decisões, consoante a sua estratégia global. E que motivo teriam eles para as fronteiras? Qual seria o seu povo, se lhes negavam descendência?

O texto já está a ficar longo, e ainda mal comecei... este assunto, ainda que hipotético, afigura-se complicado, pela sua verosimilidade, e génese "casual". 
Acontece que alguns estudiosos de Colombo salientaram que o seu nome "Colon" referiria uma afiliação secreta, representada na sua (e noutras) assinaturas com ":", e estas duas bolinhas têm o nome latino de "colon". Da mesma forma que são hoje usados para fazer os olhos de um "smile" :) nada impede que tivessem outro significado... Foi um pouco ao jeito de smile, que escrevi no blog  Delito de Opinião (onde fazem a gentileza de suportar os inconvenientes):
Quer Rosa, não Rosso, que o Cristobal, o Colón das Méricas não seja intestinal, mas sim um par de bolinhas ":" designadas por colon, que representa ainda "membro".
Sendo vulgar que, por castelhanização, o "ll" em Collon se leria de forma inconveniente, não deixo de reparar que Collons não faltaram, para grandes Mericas.
Mas não é dessa coragem organizada em confrarias, aí falo dos outros membros, "pomodoros", em italiano "tomates", essoutros membros que partiram para o jardim das Hespérides em busca das "maçãs de ouro"... e foram longe desencontrar o fruto proibido escondido no laranjal.

Esta prosa tem um contexto casual... e é claro que a partir desta pequena constatação informal, o "colon" ganha outros signicados, inclusivé o do feminino "cola" para cauda (e já dissertei sobre a cola do dragão, ou dra-cola).

Pareceu-me consequente que o símbolo ":" pudesse representar um drama, tal como a crux "+" representa outro. E é claro que se encontram casos particularmente significativos desses dramas.
Um deles é o do adolescente Sporus, ao tempo de Nero, que o apresentou publicamente castrado como sua "noiva", para substituir a mulher, Poppaea Sabina (que Nero tinha morto a pontapé, estando grávida, segundo Suetónio).  Após a morte de Nero, Sporus ficou de novo como escravo sexual de Sabino, Oto, e finalmente suicidou-se, quando Vitélio decidiu humilhá-lo publicamente com a representação da "violação de Perséfone (por Hades)".
Conjectura-se que Poppaea seria uma simpatizante do culto cristão, mas como Sabino tratava Sporus com o mesmo nome da anterior imperatriz, em alusão à substituição por Nero, poderá haver confusão de nomes. 
Parece provável que o sacrifício de Sporus tenha tido impacto na comunidade cristã.
O Evangelho de S. Mateus (19:12) refere esta passagem:
                      "Alguns são eunucos porque nasceram assim; outros foram feitos assim pelos homens; outros ainda fizeram-se eunucos por causa do Reino dos Céus. Quem puder aceitar isso, aceite."

São Mateus é contemporâneo do despotismo de Nero e da tragédia de Sporus. De qualquer forma, a Igreja aceita este evangelho, e a associação dos eunucos ao Reino dos Céus parece ligada a votos de castidade, em particular ao celibato na Igreja. 


Falando no celibato, temos o culto de Cíbele, entendida como equivalente a Raia, a Perséfone, talvez na sua variante mais popular, enquanto deusa-da-terra, a Maia. Os sacerdotes de Cibele eram eunucos, denominados "Galli" ou Galos, de origem "frígia"... e acho que já disse o suficiente sobre o prefixo "Galo", e a sua ligação a toda cultura "celta". Se por um lado os galos anunciam o amanhecer... e há todo um simbolismo com a alvorada. Por outro lado há uma relação a Cale - via, caminho, de onde surge a palavra "Galactica" - ou via láctea, por alterações entre "G" e "C".
Assim, a representação da violação de Perséfone, a ser feita a Sporus, eunuco, tinha uma conotação de perversidade cultural.

Cíbele era entendida como Magna Mater, ou Alma Mater, uma designação que se aplicaria depois à Virgem Maria. Também não deixei de notar que o Papa tem o poder de atribuir a Ordem da Espora Dourada, uma prestigiosa condecoração para a fé Católica, tendo como "patrono" a Virgem Maria.

A "espora" tornou-se um símbolo da cavalaria (também em westerns), e a sua forma de estrela não será acidental. Parece-me ter sido visto algo estelar num "esporo"... numa borboleta esmagada por uma roda, citando Pope, que pareceu ridicularizar Sporus. 

O outro ponto estelar acaba por ser representado literalmente por Ganimedes.

Ganimedes nesta representação com um barrete frígio, sendo a sua origem troiana, terá sido raptado por Júpiter/Zeus, por ser o mais belo de entre os mortais. Tal como os outros satélites de Júpiter, a saber - Io, Europa e Calisto, todos foram vítimas de rapto de Zeus, para atribuições sexuais.
Assim, o maior satélite natural de Júpiter, Ganimedes, foi nomeado desta forma, não porque Galileu quisesse (não quis), mas porque tinha que ser assim. Dessa forma não esquecemos que a potência de Zeus tinha também o seu lado perverso, num desequilíbrio de atribuições que não poderia ser estável.

Há muitos "eus" nesta história, e estão no plural, em "meus", "teus", "seus", "Deus", "Zeus", "Teos", "Céus"... Porquê "eu"? Por que não "eu"?, e raramente se conjuga no plural vendo todos os "Eus", apenas esperando que o outro "eu" também veja o seu "eu".

Voltamos ao "eu nuca", nuca no suporte da cabeça. Ganimedes foi também um eunuco egípcio que ficou famoso por combater Júlio César, sendo a nuca de Ptolomeu XIII e não de Cleópatra. Tempos complicados, em que Crasso cometia o "erro crasso" de crucificar 30 mil escravos na Via Ápia, após a revolta de Spartacus, dando uma outra dimensão para a crux "+", para além da que lhe reconhecemos.

Se a sociedade romana era violenta com os escravos, não usava eunucos, e o caso de Sporus pode ser considerado dentro das excepções a essa castração violenta. Aliás a sociedade romana (tal como a grega) teria costumes sexuais que não tornariam a posição de nenhum eunuco humilhante, o estatuto humilhante seria colocado na escravatura... tendo como escape romano nas Saturnálias, que estão na origem do Carnaval.

A abdicação religiosa de função sexual esteve ligada a esse ritual que remonta a Cibele, e que se liga aos eunucos, dedicados a um projecto social que ultrapassava o mero conceito da reprodução. Essa limitação sexual de uns pode ainda justificar toda a necessidade de ser imposta religiosamente a outros, não por uma mera questão "vingativa", mas para ligar a existência humana a objectivos que ultrapassassem a efemeridade. Por outro lado, convém não esquecer o papel secundário a que foram remetidas as mulheres, consideradas para o objectivo "menor", reprodutor, mais ligadas à sua descendência genética, e talvez consideradas menos aptas para uma visão que ultrapassasse o seio familiar, a que estariam instintivamente mais presas.

Por outro lado, um outro culto primitivo, ligado à terra, é o de Pan, ou Fauno.
A apresentação deste deus, com cornos e pés de cabra, tem uma conotação directa com uma figura popularizada do Diabo, e o quadro "El gran cabron" de Goya representa uma adoração pagã associada a bruxaria. Em português popular não é de desconsiderar o prefixo "pan" associado a "pânico", e as outras terminações  em "ilas", "asca", "eiro"... ainda que a natureza do deus seja mais a da luxúria e não a misogenia. É aliás habitual a sua ligação a Dionísio, ou a Baco, de onde vem a palavra "bacanal" e talvez "baca" (com "v"). Os seus cornos (talvez cifras em chifres) podem ser ligados à cornucópia de Cibele, e também tomam uma ligação a Cronos, não apenas linguística, mas pela sua origem ao panteão remoto. Tal como Zeus, Pan teria sido criado por Amalteia e alimentado da mesma cabra, podendo ser irmão de Arcas, havendo um outro Pan, mais antigo, filho de Cronos. Pelo lado de Arcas, encontramos a sua mãe Calisto, uma das vítimas dos apetites de Zeus, e colocada também como Ursa Maior, enquanto o seu filho Arcas, corresponde à Ursa Menor. 
Há uma ligação comum à Lua, que Pan cortejou, e digamos que uma floresta ao luar será o ambiente que associamos a faunos. Por outro lado, no rabo de peixe, é considerado Capricórnio, talvez devendo  ainda ser associado à figura mítica do centauro.

O prefixo "pan" leva-nos a outras considerações, nomeadamente globais, já que significa "tudo".
Em particular, o sistema "panóptico" desenhado por Bentham no Séc. XVIII para prisões:
foi também considerado por Michel Foucault como um modelo aplicável a outras vigilâncias. A ideia é a de um vigilante que vê todas as celas, sem que os presos se apercebam que estão a ser vigiados. No fundo, uma visão Orwelliana já com alguns séculos, mas que peca por ter apenas um olho, que julga que tudo vê. Estes sistemas são aplicados hoje em dia, e convivemos com eles sem dar por isso... e não será apenas nas câmaras de vigilância, nem só na comunicação da internet, nos telemóveis, ou nas webcameras. É já velho o ditado que diz "as paredes têm ouvidos"... porque apenas conhecemos uma parte da tecnologia que é divulgada. Hoje em dia há máquinas, e micro-máquinas...
Se essa concepção prisional favorece a nossa segurança, admitindo que o vigilante é bem intencionado, deixa-nos também numa fragilidade desconfortante, quando esse vigilante perde a noção dos seus limites éticos. 
Quando a intrusão não é consentida, trata-se de violação... seja ela de Sporus, de Perséfone, ou de Ganimedes, apareça Zeus ou Hades sob forma dissimulada, com pretensos propósitos de amor, que não passam de simples lascívia, escondida sob as cores do arco-íris, e pantominas de pote-de-ouro.

Foi este óvulo que se construiu, não um ovo, não de colombo, mas sim de colon.
No filme de Kubrick, "2001, Odisseia no Espaço", o epílogo é curiosamente uma nova forma de vida, que surge na ida a Júpiter. Há coisas que não são obviamente coincidência, nomeadamente o módulo chamar-se EVA, ou computador chamar-se HAL. O epilogo com uma nova forma de vida, posso entendê-lo, no sentido do "ovo de colon", quando colocado em Ganimedes... funcionando como o resultado final do projecto de gestação social, numa visão primeva de alguém a quem foi suprimida a possibilidade de outra descendência. Agora, o remake com um "2010, ano do contacto", só o consigo ver como sequela fortuita... tal como seria fortuita uma navegação em mar alto sem entender as estrelas, ou desaproveitado o entender as estrelas sem ousar navegar.

As ocultações podem servir um olho, mas comprometem definitivamente a visão de conjunto, remetendo-nos a uma sombra do que somos. Não se trata aqui do que uns sabem e outros não, mas sim do que uns não querem saber, enquanto que os outros caminharão inevitavelmente nesse sentido. Uns presos nos medos, outros movidos por sonhos. O controlo dos medos ou dos sonhos só superficialmente se condiciona. É um paradoxo do próprio julgar que domina o seu pensamento, e quem pensar o contrário, simplesmente não pensou no assunto. 

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publicado às 07:16

Há um ponto que ficou por esclarecer naquilo que fui escrevendo até aqui.
Creio que deixei claro que há fortes motivos para suspeitar de uma ocultação que antecedeu o período de descobrimentos, dizendo respeito a todas as descobertas, indo até à Antiguidade, proibindo praticamente contactos entre as civilizações ocidentais e orientais, ou as explorações marítimas.
No entanto, não apresentei qualquer conexão que se impusesse a Oriente e a Ocidente, de forma minimamente semelhante. Por que razão a China e Índia se haveriam de fechar? Se o Budismo foi uma religião que procurou difusão, que obstáculos tão grandes impediriam uma tentativa de propagação a ocidente? Por que razão o Império Romano, durante vários séculos de apogeu, não procuraria entrar em contacto com as zonas orientais, seguindo a rota de Alexandre Magno, pelo menos em direcção à Índia. Afinal, seria esse "descuido" a oriente que levaria os hunos às suas portas, precipitando o fim do império.

Há uns jogos instrutivos na internet, que permitem simular a evolução de um domínio. O utilizador pode começar em igualdade de circunstâncias numa "aldeia" numa "ilha", estabelece algumas alianças locais, mas rapidamente perceberá que nem todos chegaram ao mesmo tempo, e noutras "ilhas" haverá "alianças mais desenvolvidas". Esquecendo as finalidades comerciais, que deturpam as prestações, os novos jogadores são aliciados para fazerem parte de alianças com jogadores mais experientes... e a filosofia rapidamente se torna num "join or die". A pequena ilha que pareceria inicialmente imune a ataques externos, ver-se-à rapidamente envolvida num jogo global entre duas ou três alianças principais, que se formaram no início do jogo. Em casos mais subtis, as alianças, que parecem antagónicas, são controladas pelo mesmo jogador, que garantirá assim a vitória, fazendo jogo duplo, ou triplo, de aparente oposição a si próprio. Aos iniciados, esse tipo de estratégia escapa-lhes por completo, pelo menos até passarem uns meses, ou anos... porque alguns jogos mentais conseguem ser viciantes, e há muita gente entretida no mercado de "realidades" paralelas ou virtuais.

Isto é apenas ilustrativo de como é possível dissimular antagonismos, objectivos, deturpando a imagem que os outros fazem do seu oponente. Um oponente dissimulado é muitíssimo mais difícil de combater, mas por outro lado requer uma sofisticação, uma sólida ligação entre intervenientes, e precisa ainda de um motivo unificador. Num jogo estabelece-se normalmente um objectivo, agora em termos da nossa vivência humana, os pequenos objectivos tendem-se a confundir com objectivos maiores, ou até com a profunda inexistência de objectivo declarado, na existência humana.

É claro que a nossa raiz animal traz alguns objectivos inerentes, que se prendem com a constituição familiar, com a identificação de um parentesco, de um povo... mas quando a civilização começou a ganhar ascendente por via de novas ideias, essas ideias não tinham marca genética. Podem ter sido entendidas assim pela ligação entre o povo e a sua cultura, mas se as culturas não fossem hostis, só períodos de carência levariam a conflitos, a disputas territoriais, onde regressavam os valores de "base animal", ligados à própria sobrevivência.
O esquema agredir-para-não-ser-agredido deve ter-se tornado rapidamente numa real-politik, e as populações destroçadas passaram a ser remetidas para uma condição de escravatura, onde a sua utilização seria semelhante à que os humanos fariam dos restantes animais. Uns seriam tratados como "bestas de carga", outros seriam mais acarinhados... passando a uma figura semelhante à de "animais de estimação".

Um aspecto, que ainda hoje se pratica, é a castração de "animais de estimação". Também é histórica a utilização de eunucos para serviço cortesão. A sua prática atravessou fronteiras, e encontrou especial aplicação a Oriente. Do Egipto, Babilónia, Pérsia, até à China, os eunucos atingiram um estatuto social que lhes permitia ganhar controlo sobre a pirâmide burocrática dos estados. Mas o que os motivaria?
Numa corte que estabelecia linhagem pela descendência familiar, aos eunucos estaria reservado o papel de meros espectadores, mais ou menos empenhados na garantia da descendência dos genes do seu "senhor", que não eram seguramente os seus. Se eles tinham poder, não serviria essa filosofia de carácter reprodutor... provavelmente o seu povo de origem estava escravizado em condições piores.
É fácil à distância dos factos esquecer os sofrimentos envolvidos, mas a nossa História é uma sucessão de dramas, alguns dos quais difíceis de compreender para além da mera barbárie envolvida.

Se haveria humanos receptivos a uma idealização da humanidade, para além do aspecto animal, da reprodução da espécie, é natural que se encontrassem entre os eunucos. Caso constituíssem uma fraternidade, sem fronteiras, ganhariam o poder de aconselhar os soberanos às melhores e piores decisões, consoante a sua estratégia global. E que motivo teriam eles para as fronteiras? Qual seria o seu povo, se lhes negavam descendência?

O texto já está a ficar longo, e ainda mal comecei... este assunto, ainda que hipotético, afigura-se complicado, pela sua verosimilidade, e génese "casual". 
Acontece que alguns estudiosos de Colombo salientaram que o seu nome "Colon" referiria uma afiliação secreta, representada na sua (e noutras) assinaturas com ":", e estas duas bolinhas têm o nome latino de "colon". Da mesma forma que são hoje usados para fazer os olhos de um "smile" :) nada impede que tivessem outro significado... Foi um pouco ao jeito de smile, que escrevi no blog  Delito de Opinião (onde fazem a gentileza de suportar os inconvenientes):
Quer Rosa, não Rosso, que o Cristobal, o Colón das Méricas não seja intestinal, mas sim um par de bolinhas ":" designadas por colon, que representa ainda "membro".
Sendo vulgar que, por castelhanização, o "ll" em Collon se leria de forma inconveniente, não deixo de reparar que Collons não faltaram, para grandes Mericas.
Mas não é dessa coragem organizada em confrarias, aí falo dos outros membros, "pomodoros", em italiano "tomates", essoutros membros que partiram para o jardim das Hespérides em busca das "maçãs de ouro"... e foram longe desencontrar o fruto proibido escondido no laranjal.

Esta prosa tem um contexto casual... e é claro que a partir desta pequena constatação informal, o "colon" ganha outros signicados, inclusivé o do feminino "cola" para cauda (e já dissertei sobre a cola do dragão, ou dra-cola).

Pareceu-me consequente que o símbolo ":" pudesse representar um drama, tal como a crux "+" representa outro. E é claro que se encontram casos particularmente significativos desses dramas.
Um deles é o do adolescente Sporus, ao tempo de Nero, que o apresentou publicamente castrado como sua "noiva", para substituir a mulher, Poppaea Sabina (que Nero tinha morto a pontapé, estando grávida, segundo Suetónio).  Após a morte de Nero, Sporus ficou de novo como escravo sexual de Sabino, Oto, e finalmente suicidou-se, quando Vitélio decidiu humilhá-lo publicamente com a representação da "violação de Perséfone (por Hades)".
Conjectura-se que Poppaea seria uma simpatizante do culto cristão, mas como Sabino tratava Sporus com o mesmo nome da anterior imperatriz, em alusão à substituição por Nero, poderá haver confusão de nomes. 
Parece provável que o sacrifício de Sporus tenha tido impacto na comunidade cristã.
O Evangelho de S. Mateus (19:12) refere esta passagem:
                      "Alguns são eunucos porque nasceram assim; outros foram feitos assim pelos homens; outros ainda fizeram-se eunucos por causa do Reino dos Céus. Quem puder aceitar isso, aceite."

São Mateus é contemporâneo do despotismo de Nero e da tragédia de Sporus. De qualquer forma, a Igreja aceita este evangelho, e a associação dos eunucos ao Reino dos Céus parece ligada a votos de castidade, em particular ao celibato na Igreja. 


Falando no celibato, temos o culto de Cíbele, entendida como equivalente a Raia, a Perséfone, talvez na sua variante mais popular, enquanto deusa-da-terra, a Maia. Os sacerdotes de Cibele eram eunucos, denominados "Galli" ou Galos, de origem "frígia"... e acho que já disse o suficiente sobre o prefixo "Galo", e a sua ligação a toda cultura "celta". Se por um lado os galos anunciam o amanhecer... e há todo um simbolismo com a alvorada. Por outro lado há uma relação a Cale - via, caminho, de onde surge a palavra "Galactica" - ou via láctea, por alterações entre "G" e "C".
Assim, a representação da violação de Perséfone, a ser feita a Sporus, eunuco, tinha uma conotação de perversidade cultural.

Cíbele era entendida como Magna Mater, ou Alma Mater, uma designação que se aplicaria depois à Virgem Maria. Também não deixei de notar que o Papa tem o poder de atribuir a Ordem da Espora Dourada, uma prestigiosa condecoração para a fé Católica, tendo como "patrono" a Virgem Maria.

A "espora" tornou-se um símbolo da cavalaria (também em westerns), e a sua forma de estrela não será acidental. Parece-me ter sido visto algo estelar num "esporo"... numa borboleta esmagada por uma roda, citando Pope, que pareceu ridicularizar Sporus. 

O outro ponto estelar acaba por ser representado literalmente por Ganimedes.

Ganimedes nesta representação com um barrete frígio, sendo a sua origem troiana, terá sido raptado por Júpiter/Zeus, por ser o mais belo de entre os mortais. Tal como os outros satélites de Júpiter, a saber - Io, Europa e Calisto, todos foram vítimas de rapto de Zeus, para atribuições sexuais.
Assim, o maior satélite natural de Júpiter, Ganimedes, foi nomeado desta forma, não porque Galileu quisesse (não quis), mas porque tinha que ser assim. Dessa forma não esquecemos que a potência de Zeus tinha também o seu lado perverso, num desequilíbrio de atribuições que não poderia ser estável.

Há muitos "eus" nesta história, e estão no plural, em "meus", "teus", "seus", "Deus", "Zeus", "Teos", "Céus"... Porquê "eu"? Por que não "eu"?, e raramente se conjuga no plural vendo todos os "Eus", apenas esperando que o outro "eu" também veja o seu "eu".

Voltamos ao "eu nuca", nuca no suporte da cabeça. Ganimedes foi também um eunuco egípcio que ficou famoso por combater Júlio César, sendo a nuca de Ptolomeu XIII e não de Cleópatra. Tempos complicados, em que Crasso cometia o "erro crasso" de crucificar 30 mil escravos na Via Ápia, após a revolta de Spartacus, dando uma outra dimensão para a crux "+", para além da que lhe reconhecemos.

Se a sociedade romana era violenta com os escravos, não usava eunucos, e o caso de Sporus pode ser considerado dentro das excepções a essa castração violenta. Aliás a sociedade romana (tal como a grega) teria costumes sexuais que não tornariam a posição de nenhum eunuco humilhante, o estatuto humilhante seria colocado na escravatura... tendo como escape romano nas Saturnálias, que estão na origem do Carnaval.

A abdicação religiosa de função sexual esteve ligada a esse ritual que remonta a Cibele, e que se liga aos eunucos, dedicados a um projecto social que ultrapassava o mero conceito da reprodução. Essa limitação sexual de uns pode ainda justificar toda a necessidade de ser imposta religiosamente a outros, não por uma mera questão "vingativa", mas para ligar a existência humana a objectivos que ultrapassassem a efemeridade. Por outro lado, convém não esquecer o papel secundário a que foram remetidas as mulheres, consideradas para o objectivo "menor", reprodutor, mais ligadas à sua descendência genética, e talvez consideradas menos aptas para uma visão que ultrapassasse o seio familiar, a que estariam instintivamente mais presas.

Por outro lado, um outro culto primitivo, ligado à terra, é o de Pan, ou Fauno.
A apresentação deste deus, com cornos e pés de cabra, tem uma conotação directa com uma figura popularizada do Diabo, e o quadro "El gran cabron" de Goya representa uma adoração pagã associada a bruxaria. Em português popular não é de desconsiderar o prefixo "pan" associado a "pânico", e as outras terminações  em "ilas", "asca", "eiro"... ainda que a natureza do deus seja mais a da luxúria e não a misogenia. É aliás habitual a sua ligação a Dionísio, ou a Baco, de onde vem a palavra "bacanal" e talvez "baca" (com "v"). Os seus cornos (talvez cifras em chifres) podem ser ligados à cornucópia de Cibele, e também tomam uma ligação a Cronos, não apenas linguística, mas pela sua origem ao panteão remoto. Tal como Zeus, Pan teria sido criado por Amalteia e alimentado da mesma cabra, podendo ser irmão de Arcas, havendo um outro Pan, mais antigo, filho de Cronos. Pelo lado de Arcas, encontramos a sua mãe Calisto, uma das vítimas dos apetites de Zeus, e colocada também como Ursa Maior, enquanto o seu filho Arcas, corresponde à Ursa Menor. 
Há uma ligação comum à Lua, que Pan cortejou, e digamos que uma floresta ao luar será o ambiente que associamos a faunos. Por outro lado, no rabo de peixe, é considerado Capricórnio, talvez devendo  ainda ser associado à figura mítica do centauro.

O prefixo "pan" leva-nos a outras considerações, nomeadamente globais, já que significa "tudo".
Em particular, o sistema "panóptico" desenhado por Bentham no Séc. XVIII para prisões:
foi também considerado por Michel Foucault como um modelo aplicável a outras vigilâncias. A ideia é a de um vigilante que vê todas as celas, sem que os presos se apercebam que estão a ser vigiados. No fundo, uma visão Orwelliana já com alguns séculos, mas que peca por ter apenas um olho, que julga que tudo vê. Estes sistemas são aplicados hoje em dia, e convivemos com eles sem dar por isso... e não será apenas nas câmaras de vigilância, nem só na comunicação da internet, nos telemóveis, ou nas webcameras. É já velho o ditado que diz "as paredes têm ouvidos"... porque apenas conhecemos uma parte da tecnologia que é divulgada. Hoje em dia há máquinas, e micro-máquinas...
Se essa concepção prisional favorece a nossa segurança, admitindo que o vigilante é bem intencionado, deixa-nos também numa fragilidade desconfortante, quando esse vigilante perde a noção dos seus limites éticos. 
Quando a intrusão não é consentida, trata-se de violação... seja ela de Sporus, de Perséfone, ou de Ganimedes, apareça Zeus ou Hades sob forma dissimulada, com pretensos propósitos de amor, que não passam de simples lascívia, escondida sob as cores do arco-íris, e pantominas de pote-de-ouro.

Foi este óvulo que se construiu, não um ovo, não de colombo, mas sim de colon.
No filme de Kubrick, "2001, Odisseia no Espaço", o epílogo é curiosamente uma nova forma de vida, que surge na ida a Júpiter. Há coisas que não são obviamente coincidência, nomeadamente o módulo chamar-se EVA, ou computador chamar-se HAL. O epilogo com uma nova forma de vida, posso entendê-lo, no sentido do "ovo de colon", quando colocado em Ganimedes... funcionando como o resultado final do projecto de gestação social, numa visão primeva de alguém a quem foi suprimida a possibilidade de outra descendência. Agora, o remake com um "2010, ano do contacto", só o consigo ver como sequela fortuita... tal como seria fortuita uma navegação em mar alto sem entender as estrelas, ou desaproveitado o entender as estrelas sem ousar navegar.

As ocultações podem servir um olho, mas comprometem definitivamente a visão de conjunto, remetendo-nos a uma sombra do que somos. Não se trata aqui do que uns sabem e outros não, mas sim do que uns não querem saber, enquanto que os outros caminharão inevitavelmente nesse sentido. Uns presos nos medos, outros movidos por sonhos. O controlo dos medos ou dos sonhos só superficialmente se condiciona. É um paradoxo do próprio julgar que domina o seu pensamento, e quem pensar o contrário, simplesmente não pensou no assunto. 

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publicado às 07:16

Nota de Rodopé

01.02.13
A Rodopé foi atribuída a mais pequena das três pirâmides de Gizé (Miquerinos). A situação começa logo por ser confusa porque aparentemente Rodopé era um pedreiro escravo no Egipto. Porém, a atribuição a si da construção de uma pirâmide faz pensar mais em "pedreiro livre". 
A sua ligação a Esopo, outro escravo, é feita por La Fontaine, e a ligação de La Fontaine a Esopo faz-se através das fábulas, que são surpreendentemente semelhantes... Se escreveu sobre ele, é provável que La Fontaine tenha também lido a fábula de Esopo sobre "a formiga e o gafanhoto", a história de uma formiga trabalhadora e de um gafanhoto folião, que depois se vê obrigado a pedir-lhe comida no inverno. Agora, o que é que esta história de Esopo tem a ver com a bem conhecida Fábula de La Fontaine entitulada "A cigarra e a formiga"? O gafanhoto ter passado a cigarra? Uma lista de fábulas de Esopo pode ser encontrada aqui, e as várias coincidências de histórias podem dever-se a um olhar inculto, que não capte a inovação. E, sendo irónico, ao mesmo tempo não sou - a outra hipótese não deve ser descartada, porque as pequenas subtilezas fazem o gosto do secretismo cortesão.

Ora, esta nota de Rodapé, encontrei-a num livro de 1665, de Olfert Dapper, "Description d'Afrique", pag. 67, onde pouco antes se encontram duas ilustrações que concatenei:
Assinalei com duas setas vermelhas dois bustos. Um, próximo do Nilo, será a Esfinge com corpo de leão, quanto ao outro busto... não faço ideia. Seria liberdade criativa do autor? Finges ou Esfinges?
E todas aquelas pirâmides juntas? Contavam-se 17, segundo o relato citado do Príncipe Radzivil, que diferencia as duas principais, atribui a 3ª a Rhodopé, que dizia ser a mais perfeita em acabamento... ao contrário do que se vê hoje.

Mas, hoje, também se sabe que as esfinges, quando lhes cresce o nariz, pode cair pela gravidade.
Conforme se ilustra na wikipedia há algumas imagens da esfinge (e talvez da outra estátua) ainda com o nariz, pelo menos até 1700. Depois, o nariz cai... e há quem diga que foram os soldados de Napoleão, mas há uma imagem reportada a 1755, de F. L. Norden, que mostra uma estátua sem nariz.
Porém, nestas coisas conviria haver menor suspeição. Não ajuda as imagens terem uma legenda em francês, reportando a uma tradução de 1798, consequentemente posterior à expedição. Por azar, não se encontram as imagens originais, e também por azar, há um inglês que tendo viajado em 1755 desenhou a estátua com nariz. O cuidado que a expedição francesa teve, em deixar tudo como tinha encontrado... ou quase(!), também ajuda pouco. Mas isso faz parte da história, e é preciso compreendê-la, antes de a julgar. 

Ora, fomos de Rodopé às Esfinges. As esfinges cumpriam um papel importante na mitologia, e lembramos imediatamente de Édipo e de Tebas, ensombrada por uma esfinge. O coitado do Édipo, apesar de resolver o enigma da esfinge, e libertar Tebas do pesadelo, não lhe bastavam as chagas nos pés, teve ainda uma vida desgraçada.
Porém, aqui é ilustrativo fazer uma pequena comparação abusiva. A esfinge que atormentava Tebas seria também aquela que serviria para lhe levar o melhor rei, ou pelo menos um rei suficientemente perspicaz para resolver aquele enigma. Nesse sentido, o papel de "mau da fita" da esfinge acabaria por servir o propósito de salvaguardar Tebas, e o próprio Édipo... assumindo que só ele poderia resolver o enigma. O inimigo dos falsos pretendentes seria amigo do pretendente correcto... afastando-se nessa altura.
A comparação abusiva é com o papel da gestação humana. Os espermatozóides surgem todos como inúmeros pretendentes a uma estrutura ovular, que faz de virgem ofendida, colocando uma parede à sua investida, deixando-os perecer à sua sorte. Normalmente o que o óvulo não saberá é que também se não escolher nenhum, estas coisas têm regras...
Entendido desta forma, o papel de Édipo é o do espermatozóide bem sucedido, que passa a parede da esfinge, para encontrar uma Tebas, que quer afinal cruzar os seus cromossomas com o os do sábio forasteiro. Imagino que este tipo de mitologia esteja presente desde os tempos do culto de fertilidade, e pode invocar uma replicação de estrutura fisiológica, para o campo social.
Porém, estas coisas nem sempre são como nós queremos, e parece que o destino de Édipo estava traçado... ao invés de pastar ovelhas, foi bater nas paredes de Tebas. E também sabemos, que se Édipo não fosse ter com a Esfinge, era natural que a Esfinge aumentasse o seu raio de acção, acabando por o apoquentar no seu pasto... como já dizia Maomé.

Podia falar, analogamente, da figura do "Mecias", e escrevo assim, sem "ss", porque o "c" permite uma pequena variação de letras para "em Isac", e referir como são sacrificados cordeiros para lembrar a poupança do filho eleito de Abrão. Ora eu não fiz a linguagem, mas não posso deixar de notar no Velo de Ouro, ou no Tosão de Hórus... enfim, trocadilhos a desvelar, com colares menos explícitos, já agora.

Na parte da mitologia que falta contar, em Gaia, há uma estrutura suporte, que detém a ordem, uma visão, metade do sistema... a outra metade é externa, será filha do caos, do exterior, e terá a outra visão. Nessa mitologia de contornos fisiológicos, mas que é uma figuração de ideias, a estrutura ovular é preservada, pois é dela que sairá o ovo. É claro que se não houver ovo, entramos numa figuração diluviana.

Por outro lado, se é preciso dar nome ao ovo, ele está há muito presente como ícone. Primeiro, porque se deve separar "i-cone". E o cone numa perspectiva, numa sombra, parece uma pirâmide, mas pela base é um círculo. Sobre o equilíbrio entre as duas estruturas, já falei aqui. Sem as duas visões falha a perspectiva da outra dimensão. De um lado, do lado da realidade, do entendimento da ordem, está a perspectiva mãe, do outro lado, naquilo que parece ser acaso, caos, está a parte paterna.
O cone tem figurações que escapam à pirâmide quadrangular, justamente porque a base não é de raiz quadrangular... tem como génese a "quadratura do círculo", ou se quisermos, a "circulatura do quadrado", e o seu nome é Pi, e "ainda não tem vida". Pi está no nome "pirâmide", mas não na sua estrutura... aliás o prefixo "pi", podemos encontrá-lo em "pico", "pilar", e mais não "falo".
Porquê?
Porque haveria de a relação entre uma estrutura e outra se estabelecer com um número particular?
Teria que ser algum... é claro, mas não há nenhuma razão particular de não se estabelecer de forma racional, e sim transcendental. Na nossa compreensão do universo essa razão estabelece-se. Essa é uma ligação entre a nossa compreensão racional possível e o universo. Uma limitação que eventualmente está ligada à nossa condição material, e até biológica... onde somos meros seres definidos pelo número 5. 

Em resumo, para a parte de História, o que interessará mais será perceber o que aconteceu aos monumentos das pirâmides... o resto pode ser visto, se quiserem, como fabuloso, não de fábula de La Fontaine, nem de Esopo, mas de quem está farto de assistir à tosquia.

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publicado às 07:55

Nota de Rodopé

01.02.13
A Rodopé foi atribuída a mais pequena das três pirâmides de Gizé (Miquerinos). A situação começa logo por ser confusa porque aparentemente Rodopé era um pedreiro escravo no Egipto. Porém, a atribuição a si da construção de uma pirâmide faz pensar mais em "pedreiro livre". 
A sua ligação a Esopo, outro escravo, é feita por La Fontaine, e a ligação de La Fontaine a Esopo faz-se através das fábulas, que são surpreendentemente semelhantes... Se escreveu sobre ele, é provável que La Fontaine tenha também lido a fábula de Esopo sobre "a formiga e o gafanhoto", a história de uma formiga trabalhadora e de um gafanhoto folião, que depois se vê obrigado a pedir-lhe comida no inverno. Agora, o que é que esta história de Esopo tem a ver com a bem conhecida Fábula de La Fontaine entitulada "A cigarra e a formiga"? O gafanhoto ter passado a cigarra? Uma lista de fábulas de Esopo pode ser encontrada aqui, e as várias coincidências de histórias podem dever-se a um olhar inculto, que não capte a inovação. E, sendo irónico, ao mesmo tempo não sou - a outra hipótese não deve ser descartada, porque as pequenas subtilezas fazem o gosto do secretismo cortesão.

Ora, esta nota de Rodapé, encontrei-a num livro de 1665, de Olfert Dapper, "Description d'Afrique", pag. 67, onde pouco antes se encontram duas ilustrações que concatenei:
Assinalei com duas setas vermelhas dois bustos. Um, próximo do Nilo, será a Esfinge com corpo de leão, quanto ao outro busto... não faço ideia. Seria liberdade criativa do autor? Finges ou Esfinges?
E todas aquelas pirâmides juntas? Contavam-se 17, segundo o relato citado do Príncipe Radzivil, que diferencia as duas principais, atribui a 3ª a Rhodopé, que dizia ser a mais perfeita em acabamento... ao contrário do que se vê hoje.

Mas, hoje, também se sabe que as esfinges, quando lhes cresce o nariz, pode cair pela gravidade.
Conforme se ilustra na wikipedia há algumas imagens da esfinge (e talvez da outra estátua) ainda com o nariz, pelo menos até 1700. Depois, o nariz cai... e há quem diga que foram os soldados de Napoleão, mas há uma imagem reportada a 1755, de F. L. Norden, que mostra uma estátua sem nariz.
Porém, nestas coisas conviria haver menor suspeição. Não ajuda as imagens terem uma legenda em francês, reportando a uma tradução de 1798, consequentemente posterior à expedição. Por azar, não se encontram as imagens originais, e também por azar, há um inglês que tendo viajado em 1755 desenhou a estátua com nariz. O cuidado que a expedição francesa teve, em deixar tudo como tinha encontrado... ou quase(!), também ajuda pouco. Mas isso faz parte da história, e é preciso compreendê-la, antes de a julgar. 

Ora, fomos de Rodopé às Esfinges. As esfinges cumpriam um papel importante na mitologia, e lembramos imediatamente de Édipo e de Tebas, ensombrada por uma esfinge. O coitado do Édipo, apesar de resolver o enigma da esfinge, e libertar Tebas do pesadelo, não lhe bastavam as chagas nos pés, teve ainda uma vida desgraçada.
Porém, aqui é ilustrativo fazer uma pequena comparação abusiva. A esfinge que atormentava Tebas seria também aquela que serviria para lhe levar o melhor rei, ou pelo menos um rei suficientemente perspicaz para resolver aquele enigma. Nesse sentido, o papel de "mau da fita" da esfinge acabaria por servir o propósito de salvaguardar Tebas, e o próprio Édipo... assumindo que só ele poderia resolver o enigma. O inimigo dos falsos pretendentes seria amigo do pretendente correcto... afastando-se nessa altura.
A comparação abusiva é com o papel da gestação humana. Os espermatozóides surgem todos como inúmeros pretendentes a uma estrutura ovular, que faz de virgem ofendida, colocando uma parede à sua investida, deixando-os perecer à sua sorte. Normalmente o que o óvulo não saberá é que também se não escolher nenhum, estas coisas têm regras...
Entendido desta forma, o papel de Édipo é o do espermatozóide bem sucedido, que passa a parede da esfinge, para encontrar uma Tebas, que quer afinal cruzar os seus cromossomas com o os do sábio forasteiro. Imagino que este tipo de mitologia esteja presente desde os tempos do culto de fertilidade, e pode invocar uma replicação de estrutura fisiológica, para o campo social.
Porém, estas coisas nem sempre são como nós queremos, e parece que o destino de Édipo estava traçado... ao invés de pastar ovelhas, foi bater nas paredes de Tebas. E também sabemos, que se Édipo não fosse ter com a Esfinge, era natural que a Esfinge aumentasse o seu raio de acção, acabando por o apoquentar no seu pasto... como já dizia Maomé.

Podia falar, analogamente, da figura do "Mecias", e escrevo assim, sem "ss", porque o "c" permite uma pequena variação de letras para "em Isac", e referir como são sacrificados cordeiros para lembrar a poupança do filho eleito de Abrão. Ora eu não fiz a linguagem, mas não posso deixar de notar no Velo de Ouro, ou no Tosão de Hórus... enfim, trocadilhos a desvelar, com colares menos explícitos, já agora.

Na parte da mitologia que falta contar, em Gaia, há uma estrutura suporte, que detém a ordem, uma visão, metade do sistema... a outra metade é externa, será filha do caos, do exterior, e terá a outra visão. Nessa mitologia de contornos fisiológicos, mas que é uma figuração de ideias, a estrutura ovular é preservada, pois é dela que sairá o ovo. É claro que se não houver ovo, entramos numa figuração diluviana.

Por outro lado, se é preciso dar nome ao ovo, ele está há muito presente como ícone. Primeiro, porque se deve separar "i-cone". E o cone numa perspectiva, numa sombra, parece uma pirâmide, mas pela base é um círculo. Sobre o equilíbrio entre as duas estruturas, já falei aqui. Sem as duas visões falha a perspectiva da outra dimensão. De um lado, do lado da realidade, do entendimento da ordem, está a perspectiva mãe, do outro lado, naquilo que parece ser acaso, caos, está a parte paterna.
O cone tem figurações que escapam à pirâmide quadrangular, justamente porque a base não é de raiz quadrangular... tem como génese a "quadratura do círculo", ou se quisermos, a "circulatura do quadrado", e o seu nome é Pi, e "ainda não tem vida". Pi está no nome "pirâmide", mas não na sua estrutura... aliás o prefixo "pi", podemos encontrá-lo em "pico", "pilar", e mais não "falo".
Porquê?
Porque haveria de a relação entre uma estrutura e outra se estabelecer com um número particular?
Teria que ser algum... é claro, mas não há nenhuma razão particular de não se estabelecer de forma racional, e sim transcendental. Na nossa compreensão do universo essa razão estabelece-se. Essa é uma ligação entre a nossa compreensão racional possível e o universo. Uma limitação que eventualmente está ligada à nossa condição material, e até biológica... onde somos meros seres definidos pelo número 5. 

Em resumo, para a parte de História, o que interessará mais será perceber o que aconteceu aos monumentos das pirâmides... o resto pode ser visto, se quiserem, como fabuloso, não de fábula de La Fontaine, nem de Esopo, mas de quem está farto de assistir à tosquia.

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publicado às 07:55

Carpo

15.07.11
Como complemento dual ao texto Tarso, ficaria incompleto não falar do Carpo, mesmo que pareça ser algo que surge do pé para a mão...
Os primeiros RX de Roentgen, em 1896.

Há sempre alguma dúvida em fazer associações, porque é muito fácil associar coisas completamente distintas, sem que haja necessariamente uma relação. Esse é o caminho restritivo, que conhecemos bem, que nos guia na precaução, mas que não deve conduzir à inibição.
Neste caso do "carpo" a linha condutora não tem a mesma sustentação do "tarso"... tem a sua própria razão.

Cárpatos
Os Cárpatos são montanhas que se estendem da Eslováquia, pela Polónia, Ucrânia, e Roménia até à fronteira Sérvia. O nome das montanhas foi apontado por Ptolomeu e associado a um povo denominado Carpos
Ora, indo recuperar um mapa anterior (sobre a viagem de Jasão), reparamos que as montanhas dos Cárpatos estão praticamente coladas às montanhas dos Balcãs: 

relembrando que já havíamos referido a particularidade da região húngara aparecer como uma planície  ao nível do mar, que assim aparece neste mapa colocada como lago.
O notável é que estas duas grandes cadeias montanhosas separam-se nas chamadas Portas de Ferro, sulcadas pelo curso do Danúbio, numa extensão de 134 Km.
Danúbio nas Portas de Ferro

O Danúbio esculpiu uma paisagem de gargantas, entre as duas cadeias montanhosas, no seu percurso para nascente, que termina no Mar Negro. 
Não foi só o Danúbio que foi escultor nas Portas de Ferro...

Quem fizer o cruzeiro pelo Danúbio, ficará certamente surpreendido por uma enorme escultura na montanha invocando Decebalus, que foi feita entre 1994 e 2004, por um promotor romeno, Constantin Dragan... fecit. Para além das dificuldades inerentes à obra, não devemos esquecer que este período de dez anos inclui uma turbulência na zona, não tanto na parte romena, mas mais na parte sérvia.
Uma estátua desta dimensões num pilar natural do rio, não deixa de despertar a invocação de Tolkien, no filme "Senhor dos Anéis", relativa aos "pilares dos reis" da "terra média". Constantin Dragan, sendo historiador pode apenas ter querido homenagear o mítico rei Decebalus, mas a obra também não deixa de sugerir que naquelas Portas podem ter estado esculturas que o "tempo" apagou...
Filme "Senhor dos Anéis" - pilares dos reis

Não longe, encontra-se a célebre Ponte de Trajano, de que já aqui falámos, a propósito "de uma ponte de Lisboa há muitos mil anos".

Esboço da Ponte de Trajano sobre o Danúbio (comprimento ~ 1 200 metros);
Vestígios da ponte (princípio do Séc. XX); Placa de Trajano (Tabula Traiana)
... o que resta depois da construção da barragem Dardap I em 1972, que submergiu o conjunto.

Na sua expedição contra os Dácios, Trajano terá derrotado Decebalus, que se suicida para evitar o cativeiro, cortando a própria garganta, conforme ilustrado no relevo romano:
Relevo invocando a morte de Decebalus, derrotado por Trajano

O anel dos Cárpatos completa-se juntando a Iliria, as montanhas balcânicas, fechando como uma bacia Ilíaca sobre a planície húngara. A divisão entre os Cárpatos e os Balcãs surge singularmente como uma brecha nos Portões de Ferro (que não devemos confundir com a Cortina de Ferro, ainda que a sua divisão com uma Jugoslávia neutral tivesse passado por esse ponto do Danúbio). 
Esta brecha chega a reduzir-se a 150 metros de largo, mas com 53 metros de profundidade... um trabalho de erosão notável para o Danúbio, podendo mesmo dizer-se quase de precisão cirúrgica! 
Essa erosão é tanto mais um prodígio "natural" se atendermos a que o rio desde a zona de Budapeste vai serpenteando calmamente a Hungria a um nível próximo de 100 m até chegar a Belgrado, com aproximadamente 80 m de altitude... são muitos milhares de quilómetros de extensão, com uma inclinação reduzidíssima, até desaguar no Mar Negro.


Carpetani
Carpetanos era ainda o nome de um dos povos ibéricos assinalados por Estrabo. Ao falar no Tejo diz:
The river contains much fish, and is full of oysters. It takes its rise amongst the Keltiberians, and flows through the [country of the] Vettones, Carpetani, and Lusitani, towards the west;
Portanto os Carpetanos viveriam provavelmente na zona montanhosa da Extremadura espanhola, sendo "vizinhos" dos Lusitanos. É claro que aqui convém não ignorar que etimologicamente temos a palavra "escarpa", que era ainda latina, e que se liga a uma possível origem dos "carpos", tendo o significado de rocha na língua albanesa, na Ilíria. 
Estrabo diz ainda que devido à estóica resistência Galaica, muitos dos Lusitanos tinham passado a designar-se como Galegos.
Já aqui mencionámos que a Galicia era uma região da Ucrânia (e Polónia), convém agora dizer que esta região se situa exactamente na zona dos Cárpatos, nesses países.
A Roménia tem ainda o episódio singular de manter uma língua latina, com a desculpa de ter resultado de uma política romana de colonização agressiva, que basicamente teria substituído os Dácios de Decebalus por colonos romanos. 
Porém, estoutra eventual ligação deixa outra pista para essa ligação linguística... poderia acontecer que esses povos - em partes tão distintas - estivessem ligados por uma língua e cultura semelhante.
Essa conexão seria marítima, não através do Mediterrâneo, mas sim através da costa oceânica europeia, que se estenderia com ligação até ao Mar Negro... até que essa ligação desapareceu, com o fecho final do Tanais. 


Lethes
O que aqui falamos é de uma possível conexão entre povos em extremidades diferentes, e de um esquecimento, tal como o simbolizado pelo Rio Lethes - Lima. Estrabo menciona um outro detalhe relativo à lenda do esquecimento no Rio Lima. Se já tínhamos mencionado a ligação entre os nomes a norte (como Astorga) e os nomes a sul (como Conistorga), e as desavenças internas que podem até ser reflectidas no nome "Endovélico", Estrabo conta que o episódio que teria dado fama ao Lima resultava de uma desavença, da morte de um líder, e da dispersão dos que habitavam as margens do Guadiana para norte do Lima:
Around it dwell the Keltici, a kindred race to those who are situated along the Guadiana. They say that these latter, together with the Turduli, having undertaken an expedition thither, quarrelled after they had crossed the river Lima, and, besides the sedition, their leader having also died, they remained scattered there, and from this circumstance the river was called the Lethe.

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publicado às 07:25

Carpo

15.07.11
Como complemento dual ao texto Tarso, ficaria incompleto não falar do Carpo, mesmo que pareça ser algo que surge do pé para a mão...
Os primeiros RX de Roentgen, em 1896.

Há sempre alguma dúvida em fazer associações, porque é muito fácil associar coisas completamente distintas, sem que haja necessariamente uma relação. Esse é o caminho restritivo, que conhecemos bem, que nos guia na precaução, mas que não deve conduzir à inibição.
Neste caso do "carpo" a linha condutora não tem a mesma sustentação do "tarso"... tem a sua própria razão.

Cárpatos
Os Cárpatos são montanhas que se estendem da Eslováquia, pela Polónia, Ucrânia, e Roménia até à fronteira Sérvia. O nome das montanhas foi apontado por Ptolomeu e associado a um povo denominado Carpos
Ora, indo recuperar um mapa anterior (sobre a viagem de Jasão), reparamos que as montanhas dos Cárpatos estão praticamente coladas às montanhas dos Balcãs: 
relembrando que já havíamos referido a particularidade da região húngara aparecer como uma planície  ao nível do mar, que assim aparece neste mapa colocada como lago.
O notável é que estas duas grandes cadeias montanhosas separam-se nas chamadas Portas de Ferro, sulcadas pelo curso do Danúbio, numa extensão de 134 Km.
Danúbio nas Portas de Ferro

O Danúbio esculpiu uma paisagem de gargantas, entre as duas cadeias montanhosas, no seu percurso para nascente, que termina no Mar Negro. 
Não foi só o Danúbio que foi escultor nas Portas de Ferro...

Quem fizer o cruzeiro pelo Danúbio, ficará certamente surpreendido por uma enorme escultura na montanha invocando Decebalus, que foi feita entre 1994 e 2004, por um promotor romeno, Constantin Dragan... fecit. Para além das dificuldades inerentes à obra, não devemos esquecer que este período de dez anos inclui uma turbulência na zona, não tanto na parte romena, mas mais na parte sérvia.
Uma estátua desta dimensões num pilar natural do rio, não deixa de despertar a invocação de Tolkien, no filme "Senhor dos Anéis", relativa aos "pilares dos reis" da "terra média". Constantin Dragan, sendo historiador pode apenas ter querido homenagear o mítico rei Decebalus, mas a obra também não deixa de sugerir que naquelas Portas podem ter estado esculturas que o "tempo" apagou...
Filme "Senhor dos Anéis" - pilares dos reis

Não longe, encontra-se a célebre Ponte de Trajano, de que já aqui falámos, a propósito "de uma ponte de Lisboa há muitos mil anos".
 
Esboço da Ponte de Trajano sobre o Danúbio (comprimento ~ 1 200 metros);
Vestígios da ponte (princípio do Séc. XX);
Placa de Trajano (Tabula Traiana)... o que resta depois
da construção da barragem Dardap I em 1972, que submergiu o conjunto.

Na sua expedição contra os Dácios, Trajano terá derrotado Decebalus, que se suicida para evitar o cativeiro, cortando a própria garganta, conforme ilustrado no relevo romano:
Relevo invocando a morte de Decebalus, derrotado por Trajano

O anel dos Cárpatos completa-se juntando a Iliria, as montanhas balcânicas, fechando como uma bacia Ilíaca sobre a planície húngara. A divisão entre os Cárpatos e os Balcãs surge singularmente como uma brecha nos Portões de Ferro (que não devemos confundir com a Cortina de Ferro, ainda que a sua divisão com uma Jugoslávia neutral tivesse passado por esse ponto do Danúbio). 
Esta brecha chega a reduzir-se a 150 metros de largo, mas com 53 metros de profundidade... um trabalho de erosão notável para o Danúbio, podendo mesmo dizer-se quase de precisão cirúrgica! 
Essa erosão é tanto mais um prodígio "natural" se atendermos a que o rio desde a zona de Budapeste vai serpenteando calmamente a Hungria a um nível próximo de 100 m até chegar a Belgrado, com aproximadamente 80 m de altitude... são muitos milhares de quilómetros de extensão, com uma inclinação reduzidíssima, até desaguar no Mar Negro.


Carpetani
Carpetanos era ainda o nome de um dos povos ibéricos assinalados por Estrabo. Ao falar no Tejo diz:
The river contains much fish, and is full of oysters. It takes its rise amongst the Keltiberians, and flows through the [country of the] Vettones, Carpetani, and Lusitani, towards the west;
Portanto os Carpetanos viveriam provavelmente na zona montanhosa da Extremadura espanhola, sendo "vizinhos" dos Lusitanos. É claro que aqui convém não ignorar que etimologicamente temos a palavra "escarpa", que era ainda latina, e que se liga a uma possível origem dos "carpos", tendo o significado de rocha na língua albanesa, na Ilíria. 
Estrabo diz ainda que devido à estóica resistência Galaica, muitos dos Lusitanos tinham passado a designar-se como Galegos.
Já aqui mencionámos que a Galicia era uma região da Ucrânia (e Polónia), convém agora dizer que esta região se situa exactamente na zona dos Cárpatos, nesses países.
A Roménia tem ainda o episódio singular de manter uma língua latina, com a desculpa de ter resultado de uma política romana de colonização agressiva, que basicamente teria substituído os Dácios de Decebalus por colonos romanos. 
Porém, estoutra eventual ligação deixa outra pista para essa ligação linguística... poderia acontecer que esses povos - em partes tão distintas - estivessem ligados por uma língua e cultura semelhante.
Essa conexão seria marítima, não através do Mediterrâneo, mas sim através da costa oceânica europeia, que se estenderia com ligação até ao Mar Negro... até que essa ligação desapareceu, com o fecho final do Tanais. 


Lethes
O que aqui falamos é de uma possível conexão entre povos em extremidades diferentes, e de um esquecimento, tal como o simbolizado pelo Rio Lethes - Lima. Estrabo menciona um outro detalhe relativo à lenda do esquecimento no Rio Lima. Se já tínhamos mencionado a ligação entre os nomes a norte (como Astorga) e os nomes a sul (como Conistorga), e as desavenças internas que podem até ser reflectidas no nome "Endovélico", Estrabo conta que o episódio que teria dado fama ao Lima resultava de uma desavença, da morte de um líder, e da dispersão dos que habitavam as margens do Guadiana para norte do Lima:
Around it dwell the Keltici, a kindred race to those who are situated along the Guadiana. They say that these latter, together with the Turduli, having undertaken an expedition thither, quarrelled after they had crossed the river Lima, and, besides the sedition, their leader having also died, they remained scattered there, and from this circumstance the river was called the Lethe.

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publicado às 07:25


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