Há um ponto que ficou por esclarecer naquilo que fui escrevendo até aqui.
Creio que deixei claro que há fortes motivos para suspeitar de uma ocultação que antecedeu o período de descobrimentos, dizendo respeito a todas as descobertas, indo até à Antiguidade, proibindo praticamente contactos entre as civilizações ocidentais e orientais, ou as explorações marítimas.
No entanto, não apresentei qualquer conexão que se impusesse a Oriente e a Ocidente, de forma minimamente semelhante. Por que razão a China e Índia se haveriam de fechar? Se o Budismo foi uma religião que procurou difusão, que obstáculos tão grandes impediriam uma tentativa de propagação a ocidente? Por que razão o Império Romano, durante vários séculos de apogeu, não procuraria entrar em contacto com as zonas orientais, seguindo a rota de Alexandre Magno, pelo menos em direcção à Índia. Afinal, seria esse "descuido" a oriente que levaria os hunos às suas portas, precipitando o fim do império.
Há uns jogos instrutivos na internet, que permitem simular a evolução de um domínio. O utilizador pode começar em igualdade de circunstâncias numa "aldeia" numa "ilha", estabelece algumas alianças locais, mas rapidamente perceberá que nem todos chegaram ao mesmo tempo, e noutras "ilhas" haverá "alianças mais desenvolvidas". Esquecendo as finalidades comerciais, que deturpam as prestações, os novos jogadores são aliciados para fazerem parte de alianças com jogadores mais experientes... e a filosofia rapidamente se torna num "join or die". A pequena ilha que pareceria inicialmente imune a ataques externos, ver-se-à rapidamente envolvida num jogo global entre duas ou três alianças principais, que se formaram no início do jogo. Em casos mais subtis, as alianças, que parecem antagónicas, são controladas pelo mesmo jogador, que garantirá assim a vitória, fazendo jogo duplo, ou triplo, de aparente oposição a si próprio. Aos iniciados, esse tipo de estratégia escapa-lhes por completo, pelo menos até passarem uns meses, ou anos... porque alguns jogos mentais conseguem ser viciantes, e há muita gente entretida no mercado de "realidades" paralelas ou virtuais.
Isto é apenas ilustrativo de como é possível dissimular antagonismos, objectivos, deturpando a imagem que os outros fazem do seu oponente. Um oponente dissimulado é muitíssimo mais difícil de combater, mas por outro lado requer uma sofisticação, uma sólida ligação entre intervenientes, e precisa ainda de um motivo unificador. Num jogo estabelece-se normalmente um objectivo, agora em termos da nossa vivência humana, os pequenos objectivos tendem-se a confundir com objectivos maiores, ou até com a profunda inexistência de objectivo declarado, na existência humana.
É claro que a nossa raiz animal traz alguns objectivos inerentes, que se prendem com a constituição familiar, com a identificação de um parentesco, de um povo... mas quando a civilização começou a ganhar ascendente por via de novas ideias, essas ideias não tinham marca genética. Podem ter sido entendidas assim pela ligação entre o povo e a sua cultura, mas se as culturas não fossem hostis, só períodos de carência levariam a conflitos, a disputas territoriais, onde regressavam os valores de "base animal", ligados à própria sobrevivência.
O esquema agredir-para-não-ser-agredido deve ter-se tornado rapidamente numa real-politik, e as populações destroçadas passaram a ser remetidas para uma condição de escravatura, onde a sua utilização seria semelhante à que os humanos fariam dos restantes animais. Uns seriam tratados como "bestas de carga", outros seriam mais acarinhados... passando a uma figura semelhante à de "animais de estimação".
Um aspecto, que ainda hoje se pratica, é a castração de "animais de estimação". Também é histórica a utilização de eunucos para serviço cortesão. A sua prática atravessou fronteiras, e encontrou especial aplicação a Oriente. Do Egipto, Babilónia, Pérsia, até à China, os eunucos atingiram um estatuto social que lhes permitia ganhar controlo sobre a pirâmide burocrática dos estados. Mas o que os motivaria?
Numa corte que estabelecia linhagem pela descendência familiar, aos eunucos estaria reservado o papel de meros espectadores, mais ou menos empenhados na garantia da descendência dos genes do seu "senhor", que não eram seguramente os seus. Se eles tinham poder, não serviria essa filosofia de carácter reprodutor... provavelmente o seu povo de origem estava escravizado em condições piores.
É fácil à distância dos factos esquecer os sofrimentos envolvidos, mas a nossa História é uma sucessão de dramas, alguns dos quais difíceis de compreender para além da mera barbárie envolvida.
Se haveria humanos receptivos a uma idealização da humanidade, para além do aspecto animal, da reprodução da espécie, é natural que se encontrassem entre os eunucos. Caso constituíssem uma fraternidade, sem fronteiras, ganhariam o poder de aconselhar os soberanos às melhores e piores decisões, consoante a sua estratégia global. E que motivo teriam eles para as fronteiras? Qual seria o seu povo, se lhes negavam descendência?
O texto já está a ficar longo, e ainda mal comecei... este assunto, ainda que hipotético, afigura-se complicado, pela sua verosimilidade, e génese "casual".
Acontece que alguns estudiosos de Colombo salientaram que o seu nome "Colon" referiria uma afiliação secreta, representada na sua (e noutras) assinaturas com "
:", e estas duas bolinhas têm o nome latino de "
colon". Da mesma forma que são hoje usados para fazer os olhos de um "smile"
:) nada impede que tivessem outro significado... Foi um pouco ao jeito de
smile, que
escrevi no blog Delito de Opinião (onde fazem a gentileza de suportar os inconvenientes):
Quer Rosa, não Rosso, que o Cristobal, o Colón das Méricas não seja intestinal, mas sim um par de bolinhas ":" designadas por colon, que representa ainda "membro".
Sendo vulgar que, por castelhanização, o "ll" em Collon se leria de forma inconveniente, não deixo de reparar que Collons não faltaram, para grandes Mericas.
Mas não é dessa coragem organizada em confrarias, aí falo dos outros membros, "pomodoros", em italiano "tomates", essoutros membros que partiram para o jardim das Hespérides em busca das "maçãs de ouro"... e foram longe desencontrar o fruto proibido escondido no laranjal.
Esta prosa tem um contexto casual... e é claro que a partir desta pequena constatação informal, o "colon" ganha outros signicados, inclusivé o do feminino "cola" para cauda (e já dissertei sobre a cola do dragão, ou
dra-cola).
Pareceu-me consequente que o símbolo ":" pudesse representar um drama, tal como a crux "+" representa outro. E é claro que se encontram casos particularmente significativos desses dramas.
Um deles é o do adolescente
Sporus, ao tempo de Nero, que o apresentou publicamente castrado como sua "noiva", para substituir a mulher, Poppaea Sabina (que Nero tinha morto a pontapé, estando grávida, segundo Suetónio). Após a morte de Nero, Sporus ficou de novo como escravo sexual de Sabino, Oto, e finalmente suicidou-se, quando Vitélio decidiu humilhá-lo publicamente com a representação da "violação de Perséfone (por Hades)".
Conjectura-se que Poppaea seria uma simpatizante do culto cristão, mas como Sabino tratava Sporus com o mesmo nome da anterior imperatriz, em alusão à substituição por Nero, poderá haver confusão de nomes.
Parece provável que o sacrifício de Sporus tenha tido impacto na comunidade cristã.
O Evangelho de S. Mateus (19:12) refere esta passagem:
"Alguns são eunucos porque nasceram assim; outros foram feitos assim pelos homens; outros ainda fizeram-se eunucos por causa do Reino dos Céus. Quem puder aceitar isso, aceite."
São Mateus é contemporâneo do despotismo de Nero e da tragédia de Sporus. De qualquer forma, a Igreja aceita este evangelho, e a associação dos eunucos ao Reino dos Céus parece ligada a votos de castidade, em particular ao celibato na Igreja.
Falando no celibato, temos o culto de
Cíbele, entendida como equivalente a Raia, a Perséfone, talvez na sua variante mais popular, enquanto deusa-da-terra, a Maia. Os sacerdotes de Cibele eram eunucos, denominados
"Galli" ou Galos, de origem "frígia"... e acho que já disse o suficiente sobre o prefixo "Galo", e a sua ligação a toda cultura "celta". Se por um lado os galos anunciam o amanhecer... e há todo um simbolismo com a alvorada. Por outro lado há uma relação a Cale - via, caminho, de onde surge a palavra "Galactica" - ou via láctea, por alterações entre "G" e "C".
Assim, a representação da violação de Perséfone, a ser feita a Sporus, eunuco, tinha uma conotação de perversidade cultural.
Cíbele era entendida como Magna Mater, ou Alma Mater, uma designação que se aplicaria depois à Virgem Maria. Também não deixei de notar que o Papa tem o poder de atribuir a
Ordem da Espora Dourada, uma prestigiosa condecoração para a fé Católica, tendo como "patrono" a Virgem Maria.
A "espora" tornou-se um símbolo da cavalaria (também em
westerns), e a sua forma de estrela não será acidental. Parece-me ter sido visto algo estelar num "esporo"... numa
borboleta esmagada por uma roda, citando Pope, que pareceu ridicularizar Sporus.
O outro ponto estelar acaba por ser representado literalmente por
Ganimedes.
Ganimedes nesta representação com um barrete frígio, sendo a sua origem troiana, terá sido raptado por Júpiter/Zeus, por ser o mais belo de entre os mortais. Tal como os outros satélites de Júpiter, a saber - Io, Europa e Calisto, todos foram vítimas de rapto de Zeus, para atribuições sexuais.
Assim, o maior satélite natural de Júpiter, Ganimedes, foi nomeado desta forma, não porque Galileu quisesse (não quis), mas porque tinha que ser assim. Dessa forma não esquecemos que a potência de Zeus tinha também o seu lado perverso, num desequilíbrio de atribuições que não poderia ser estável.
Há muitos "eus" nesta história, e estão no plural, em "meus", "teus", "seus", "Deus", "Zeus", "Teos", "Céus"... Porquê "eu"? Por que não "eu"?, e raramente se conjuga no plural vendo todos os "Eus", apenas esperando que o outro "eu" também veja o seu "eu".
Voltamos ao "eu nuca", nuca no suporte da cabeça. Ganimedes foi também um eunuco egípcio que ficou famoso por combater Júlio César, sendo a nuca de Ptolomeu XIII e não de Cleópatra. Tempos complicados, em que Crasso cometia o "erro crasso" de crucificar 30 mil escravos na Via Ápia, após a revolta de Spartacus, dando uma outra dimensão para a crux "+", para além da que lhe reconhecemos.
Se a sociedade romana era violenta com os escravos, não usava eunucos, e o caso de Sporus pode ser considerado dentro das excepções a essa castração violenta. Aliás a sociedade romana (tal como a grega) teria costumes sexuais que não tornariam a posição de nenhum eunuco humilhante, o estatuto humilhante seria colocado na escravatura... tendo como escape romano nas Saturnálias, que estão na origem do Carnaval.
A abdicação religiosa de função sexual esteve ligada a esse ritual que remonta a Cibele, e que se liga aos eunucos, dedicados a um projecto social que ultrapassava o mero conceito da reprodução. Essa limitação sexual de uns pode ainda justificar toda a necessidade de ser imposta religiosamente a outros, não por uma mera questão "vingativa", mas para ligar a existência humana a objectivos que ultrapassassem a efemeridade. Por outro lado, convém não esquecer o papel secundário a que foram remetidas as mulheres, consideradas para o objectivo "menor", reprodutor, mais ligadas à sua descendência genética, e talvez consideradas menos aptas para uma visão que ultrapassasse o seio familiar, a que estariam instintivamente mais presas.
Por outro lado, um outro culto primitivo, ligado à terra, é o de Pan, ou Fauno.
A apresentação deste deus, com cornos e pés de cabra, tem uma conotação directa com uma figura popularizada do Diabo, e o quadro "
El gran cabron" de Goya representa uma adoração pagã associada a bruxaria. Em português popular não é de desconsiderar o prefixo "pan" associado a "pânico", e as outras terminações em "ilas", "asca", "eiro"... ainda que a natureza do deus seja mais a da luxúria e não a misogenia. É aliás habitual a sua ligação a Dionísio, ou a Baco, de onde vem a palavra "bacanal" e talvez "baca" (com "v"). Os seus cornos (talvez cifras em chifres) podem ser ligados à cornucópia de Cibele, e também tomam uma ligação a Cronos, não apenas linguística, mas pela sua origem ao panteão remoto. Tal como Zeus, Pan teria sido criado por Amalteia e alimentado da mesma cabra, podendo ser irmão de Arcas, havendo um outro Pan, mais antigo, filho de Cronos. Pelo lado de Arcas, encontramos a sua mãe
Calisto, uma das vítimas dos apetites de Zeus, e colocada também como Ursa Maior, enquanto o seu filho Arcas, corresponde à Ursa Menor.
Há uma ligação comum à Lua, que Pan cortejou, e digamos que uma floresta ao luar será o ambiente que associamos a faunos. Por outro lado, no rabo de peixe, é considerado Capricórnio, talvez devendo ainda ser associado à figura mítica do centauro.
O prefixo "pan" leva-nos a outras considerações, nomeadamente globais, já que significa "tudo".
Em particular, o sistema "
panóptico" desenhado por Bentham no Séc. XVIII para prisões:
foi também considerado por Michel Foucault como um modelo aplicável a outras vigilâncias. A ideia é a de um vigilante que vê todas as celas, sem que os presos se apercebam que estão a ser vigiados. No fundo, uma visão Orwelliana já com alguns séculos, mas que peca por ter apenas um olho, que julga que tudo vê. Estes sistemas são aplicados hoje em dia, e convivemos com eles sem dar por isso... e não será apenas nas câmaras de vigilância, nem só na comunicação da internet, nos telemóveis, ou nas webcameras. É já velho o ditado que diz "as paredes têm ouvidos"... porque apenas conhecemos uma parte da tecnologia que é divulgada. Hoje em dia há máquinas, e micro-máquinas...
Se essa concepção prisional favorece a nossa segurança, admitindo que o vigilante é bem intencionado, deixa-nos também numa fragilidade desconfortante, quando esse vigilante perde a noção dos seus limites éticos.
Quando a intrusão não é consentida, trata-se de violação... seja ela de Sporus, de Perséfone, ou de Ganimedes, apareça Zeus ou Hades sob forma dissimulada, com pretensos propósitos de amor, que não passam de simples lascívia, escondida sob as cores do arco-íris, e pantominas de pote-de-ouro.
Foi este óvulo que se construiu, não um ovo, não de colombo, mas sim de colon.
No filme de Kubrick, "2001, Odisseia no Espaço", o epílogo é curiosamente uma nova forma de vida, que surge na ida a Júpiter. Há coisas que não são obviamente coincidência, nomeadamente o módulo chamar-se EVA, ou computador chamar-se HAL. O epilogo com uma nova forma de vida, posso entendê-lo, no sentido do "ovo de colon", quando colocado em Ganimedes... funcionando como o resultado final do projecto de gestação social, numa visão primeva de alguém a quem foi suprimida a possibilidade de outra descendência. Agora, o remake com um "2010, ano do contacto", só o consigo ver como sequela fortuita... tal como seria fortuita uma navegação em mar alto sem entender as estrelas, ou desaproveitado o entender as estrelas sem ousar navegar.
As ocultações podem servir um olho, mas comprometem definitivamente a visão de conjunto, remetendo-nos a uma sombra do que somos. Não se trata aqui do que uns sabem e outros não, mas sim do que uns não querem saber, enquanto que os outros caminharão inevitavelmente nesse sentido. Uns presos nos medos, outros movidos por sonhos. O controlo dos medos ou dos sonhos só superficialmente se condiciona. É um paradoxo do próprio julgar que domina o seu pensamento, e quem pensar o contrário, simplesmente não pensou no assunto.