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Com chás (2)

12.07.13
Vieira.
Já aqui tínhamos apresentado uma moeda que tinha o símbolo da empresa de D. Sebastião:

Serena Celsa Favent, era o moto, e se o esclarecimento favorece a excelência, aqui temos uma concha, a vieira venusiana, e um peixe, símbolo cristão, sob uma constelação estelar (Pleiades?) enquadrada com o crescente selene, lunar.
Devemos notar que as conchas estão ligadas ao baptismo, havendo mesmo pias baptismais com essa forma:
 
Pia baptismal - Igreja NªSrª Navegantes (Armação de Pera, imagem).

Portanto, há uma ligação da concha à libertação do "pecado original", da expulsão do Paraíso. 
Bom, e tendo acabado de falar nas ilhas polinésias, do Taiti no texto anterior, de forma algo natural estabelecemos a noção de "ilha paradisíaca"... como se congenitamente o fosse reconhecido naquelas paisagens.


Pelicano.
Para além do peixe, também o pelicano, pelo auto-sacrifício pela prole, é considerado um símbolo de Cristo, tendo sido primeiro adoptado por D. João II como seu símbolo.
Vamos encontrar esse símbolo com um influente conselheiro dos reis ingleses Henrique VII e Henrique VIII, tratava-se de Richard Foxe, bispo de Winchester:

Leito de morte de Henry VII Tudor (1509) com destaque para Richard Fox, Bispo de Winchester, 
vêem-se as quinas portuguesas e o pelicano de D. João II.

O que faria o Bispo de Winchester, o conselheiro mais influente de Henrique VII, e depois de Henrique VIII (até ser substituído por Wolsey), usar armas com quinas e o pelicano, símbolos do já defunto D. João II?
Estava aqui implícito que a política de D. João II teria uma continuação pelo lado inglês?

Richard Foxe vai fundar o Colégio Corpus Christi de Oxford, que ainda hoje usa o símbolo do pelicano:
  
Richard Fox, o pátio central com o Pelicano do Corpus Christi de Oxford, e as armas do colégio,
que incluem ainda as armas de Hugh Oldham (com 3 mochos e rosas vermelhas de Lancaster)

Mais tarde, também Isabel I, filha de Henrique VIII, a rainha que determinará a expansão inglesa, irá adoptar o pelicano como símbolo no seu papel de "mãe" da Igreja Anglicana. A simbologia cristã do pelicano remontará a S. Tomás de Aquino, a sua ligação às quinas portuguesas só fica evidente através de Fox, e da influência que terá tido na regência dos Tudor.

A tomba de Fox está na catedral de Winchester da Santíssima Trindade, que era a mais influente à época, e que curiosamente esteve em perigo de colapso por inundação das fundações, sendo "salva" pelo trabalho contínuo de um escafandrista, William Walker, entre 1906-11, que tem um busto na catedral cuja cripta ainda se encontra imersa em água. 

Catedral de Winchester, o escafandrista Walker, e a cripta inundada (com escultura moderna).

Cordeiros.
Curiosamente, 50 anos antes, outro Bispo de Winchester, Henry Beaufort, ficou famoso por dirigir o processo inquisitório que condenou Joana d'Arc à fogueira. Tratava-se de um meio-irmão de Filipa de Lancastre, sendo um dos muitos filhos de John de Gaunt (com Katherine Swynford, no terceiro casamento que originou a linha Beaufort). 
Henry Beaufort, o inquisidor, e Joana d'Arc... 
um cordeiro entregue à fogueira.

Joana d'Arc tinha sido entregue por Philippe III de Borgonha (casado com Isabel de Portugal, filha de D. João I, sobrinha do inquisidor). Margaret Beaufort, também sobrinha deste Henry, será mãe do rei Henrique VII, que derrota Ricardo III, tornando-se o primeiro dos Tudor. Henrique VII usa a rosa de Lancaster, mas ao casar com uma rosa de York, terminará a Guerra das Rosas com a união.
Um detalhe importante é Henrique VII usar num retrato o colar do Tosão de Ouro, o símbolo da Ordem fundada por Philippe III de Borgonha, aquando do casamento com Isabel de Portugal.
Phillipe III de Bourgogne, fundador da Ordem do Tosão de Ouro (esq.)
Henry VII Tudor, membro da Ordem do Tosão de Ouro (dir.)
Ambos usam o colar da ordem, com o cordeiro sacrificial.

Duque de Kent, chefe da Grande Loja de Londres, com colar da Maçonaria.

Juntei uma imagem de colar da maçonaria porque o compasso, ou o esquadro, descaindo em forma de V invertido, assemelham-se ao cordeiro sacrificial, que vemos nos colares da Ordem do Tosão de Ouro.
Conforme já referi noutros textos, o cordeiro tem vários significados, não apenas ligados à lenda de Jasão e dos Argonautas. É claro que a Ordem surgindo no contexto do casamento da irmã do Infante D. Henrique, carrega um aspecto dos Descobrimentos ligado aos "Argonautas" e ao Velo de Ouro.
Descobrir foi desvelar, tirar véus... na forma Ariana deste carneiro, o Velo seria a pele de Aries, uma pele de Ouro, ou de Oro, forma abreviada de Hórus, o olho vigilante que se pode ligar ao verbo Orar.
Descobrir foi revelar, levantar Velas e não tanto retirá-las. As cara-velas do Infante velaram pelo véus antigos, e a Ordem do Tosão ou "Velo de Ouro", pode ser vista como preservação do "véu de Hórus".
Jasão teve que vencer o Dragão da Cólquida para obter o Velo de Ouro, tal como Hércules teve que vencer o dragão Ládon, que guardava as ocidentais Hespérides, num dos 12 trabalhos (ou 12 Oras...).
Ao mesmo tempo aparecia a Ordem do Dragão, de que fez parte o Infante D. Pedro, e que já ligámos à Dra-cola, ou Cola do Dragão, em que o "Colar" se refere ao pescoço, tal como Coço e Cola se referem à retaguarda, entrelaçada ao pescoço... (sobre o significado antigo de "coço da procissão" ser "atrás da procissão", ler D. Manuel Clemente)

A história do cordeiro tem ainda o aspecto hebraico que remete à Páscoa, ou à paz-côa, quando Abraão é sujeito ao teste de obediência divino, e o seu filho Isaac é substituído pelo cordeiro no sacrifício:
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, miserere nobis... dona nobis pacem
É um bocado complicado falar deste ponto, porque o sacrifício do cordeiro ordeiro envolve aqui um conceito perverso, no outro verso interpretativo. Deus não permitiria o sacrifício do filho eleito, apenas dos cordeiros... e por isso os cordeiros poderiam ser sacrificados, até que Deus se manifestasse em sentido contrário. E quem eram os cordeiros a sacrificar? O sacrifício indiscriminado traria a presença de Deus?
Pois... até que ponto os Árias foram pastores de Aries, cordeiros? Até que ponto os pastores sacrificariam os seus cordeiros para reencontrarem Deus, ou o Messias?
Esta filosofia continha uma aposta tripla 1X2, se Deus não interviesse perante a iniquidade, os pastores beneficiariam do velo de ouro, uma opção hedonista face à ausência divina. De forma oposta, justificariam a sua acção perante o divino, requerendo a sua presença, afinal a sua omnipotência só permitiria o sacrifício dos sacrificáveis. A incógnita X seria a recusa teológica de outras possibilidades... obviamente possível por crença, mas afinal insustentável racionalmente. Azar, este universo foi definido justamente pela racionalidade, e os absurdos levam ao vazio contraditório - o caos irracional fica no seu exterior. O tempo permite o absurdo diferido, temporário, mas não o simultâneo e permanente. Todos os filhos de Gaia são introspectivamente recuperáveis, pela lógica do arrependimento, do reconhecimento de erros, mas não é possível a recuperação dos irrecuperáveis. A persistência eterna no absurdo foi simplesmente excluída, nem tampouco poderia ser humana. Logicamente, não poderia ser doutra forma... os erros podem viver nas ilusões temporárias, que acolhem elementos do caos, mas não o caos completo. Desse oceano caótico importamos a imprevisibilidade, elementos artísticos e sentimentais, mas esses impulsos devem sujeitar-se ao enquadramento racional, sob pena de serem o convite ao estabelecimento do irracional, e à recusa da principal faculdade humana, que nos distingue das alimárias, a racionalidade.

Chapéus...
Há muitos, vários formatos de chapéus. Assim, para além do colar com o cordeirinho sacrificial, também o chapéu usado por Filipe III de Borgonha fez moda, ficou conhecido como "chapéu borgonhês", e resistiu aos tempos, sendo ainda hoje uma indumentária usada pela Confraria do Vinho do Porto:
É claro que no caso da confraria de vinho usa-se no colar uma taça de escanção, para averiguar da cor do vinho, afinal simbolicamente tratado como "sangue de Cristo".
A taça do vinho da Última Ceia foi habitualmente designada como Graal, e houve já quem sugerisse que o nome Portugal encerraria um críptico "por-tu-graal", que assim se complementaria, pela associação de Porto e Gaia, nas caves do famoso vinho, que sozinhas asseguravam as contrapartidas do Tratado de Methuen. Para adivinhos, há outros vinhos... os famosos vinhos da Borgonha, ou de Bordéus, da antiga região da Guiana occitana-basca, entre outros preciosos néctares de um Baco divino di-vinho, cuja preservação de antiguidade necessita do devido arrefecimento em caves bem seladas.

Baptista
Não longe, encontramos a Igreja Matriz de Vila do Conde, cuja a entrada é interessante.
De construção biscainha, apresenta de um lado as armas de D. Manuel (num caso raro, em que ainda aparece a dupla esfera armilar, sugerida por D. João II), e do outro lado temos: a âncora da Póvoa de Varzim, o antigo barco de Vila do Conde, e um outro brazão com uma figura humana que emerge de uma concha (símbolo associado à localidade de S. Pedro de Rates).
Igreja Matriz, de S. João Baptista, em Vila do Conde (imagem).

Como a Igreja é dedicada a S. João Baptista (que aparece no topo da porta), a concha será baptismal, mas também referente à mítica presença do Apóstolo Santiago, que teria ordenado S. Pedro de Rates como primeiro Bispo de Braga (45 a 60 d.C.).
Há assim essa dupla ligação a conchas, cuidando ambas para o simbolismo do renascimento, numa igreja renascentista emanuelina. O homem que sai da concha aparece depois, com D. Sebastião, na forma de peixe, invocando esse Renascimento cristão, que seria o renascimento de Cristo, na forma humana.
O ritual baptista parece remeter para uma origem aquática, pela imersão do baptizado, ou mais simbolicamente vertendo água na sua cabeça.
No entanto, há variações baptistas.
Um outro aspecto de baptismo, era o baptismo com óleo, aplicado na unção de sacerdotes.
Aí podemos ver outro aspecto das vieiras que, virtude dos tempos, são reencontradas no símbolo de uma famosa companhia petrolífera:

A vieira usada como símbolo de petróleo pela Shell.

O petróleo, também designado como "ouro negro", passou a encerrar outros véus, ou velos de ouro negro... mas para essas considerações remetemos para um texto anterior.

Poderíamos ainda falar de outros aspectos interessantes das vieiras, nomeadamente pela sua geometria.
Há uma confluência entre parte de um quadrado e parte de um círculo, podendo ser usado para simbolizar a relação do número Pi na quadratura do círculo.
Por outro lado, as divisões naturais das vieiras (ou outras conchas) poderiam servir para marcar ângulos, constituindo um simples instrumento de posicionamento, semelhante a um vulgar quadrante, para simples uso náutico, em navegações primitivas. Esse seria um aspecto prático de orientação astral para qualquer peregrino, associando a vieira ao cajado do pastor.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 22:13

Com chás (2)

12.07.13
Vieira.
Já aqui tínhamos apresentado uma moeda que tinha o símbolo da empresa de D. Sebastião:

Serena Celsa Favent, era o moto, e se o esclarecimento favorece a excelência, aqui temos uma concha, a vieira venusiana, e um peixe, símbolo cristão, sob uma constelação estelar (Pleiades?) enquadrada com o crescente selene, lunar.
Devemos notar que as conchas estão ligadas ao baptismo, havendo mesmo pias baptismais com essa forma:
 
Pia baptismal - Igreja NªSrª Navegantes (Armação de Pera, imagem)e concha baptismal (imagem)

Portanto, há uma ligação da concha à libertação do "pecado original", da expulsão do Paraíso. 
Bom, e tendo acabado de falar nas ilhas polinésias, do Taiti no texto anterior, de forma algo natural estabelecemos a noção de "ilha paradisíaca"... como se congenitamente o fosse reconhecido naquelas paisagens.


Pelicano.
Para além do peixe, também o pelicano, pelo auto-sacrifício pela prole, é considerado um símbolo de Cristo, tendo sido primeiro adoptado por D. João II como seu símbolo.
Vamos encontrar esse símbolo com um influente conselheiro dos reis ingleses Henrique VII e Henrique VIII, tratava-se de Richard Foxe, bispo de Winchester:

Leito de morte de Henry VII Tudor (1509) com destaque para Richard Fox, Bispo de Winchester, 
vêem-se as quinas portuguesas e o pelicano de D. João II.

O que faria o Bispo de Winchester, o conselheiro mais influente de Henrique VII, e depois de Henrique VIII (até ser substituído por Wolsey), usar armas com quinas e o pelicano, símbolos do já defunto D. João II?
Estava aqui implícito que a política de D. João II teria uma continuação pelo lado inglês?

Richard Foxe vai fundar o Colégio Corpus Christi de Oxford, que ainda hoje usa o símbolo do pelicano:
  
Richard Fox, o pátio central com o Pelicano do Corpus Christi de Oxford, e as armas do colégio,
que incluem ainda as armas de Hugh Oldham (com 3 mochos e rosas vermelhas de Lancaster)

Mais tarde, também Isabel I, filha de Henrique VIII, a rainha que determinará a expansão inglesa, irá adoptar o pelicano como símbolo no seu papel de "mãe" da Igreja Anglicana. A simbologia cristã do pelicano remontará a S. Tomás de Aquino, a sua ligação às quinas portuguesas só fica evidente através de Fox, e da influência que terá tido na regência dos Tudor.

A tomba de Fox está na catedral de Winchester da Santíssima Trindade, que era a mais influente à época, e que curiosamente esteve em perigo de colapso por inundação das fundações, sendo "salva" pelo trabalho contínuo de um escafandrista, William Walker, entre 1906-11, que tem um busto na catedral cuja cripta ainda se encontra imersa em água. 

Catedral de Winchester, o escafandrista Walker, e a cripta inundada (com escultura moderna).

Cordeiros.
Curiosamente, 50 anos antes, outro Bispo de Winchester, Henry Beaufort, ficou famoso por dirigir o processo inquisitório que condenou Joana d'Arc à fogueira. Tratava-se de um meio-irmão de Filipa de Lancastre, sendo um dos muitos filhos de John de Gaunt (com Katherine Swynford, no terceiro casamento que originou a linha Beaufort). 
Henry Beaufort, o inquisidor, e Joana d'Arc... 
um cordeiro entregue à fogueira.

Joana d'Arc tinha sido entregue por Philippe III de Borgonha (casado com Isabel de Portugal, filha de D. João I, sobrinha do inquisidor). Margaret Beaufort, também sobrinha deste Henry, será mãe do rei Henrique VII, que derrota Ricardo III, tornando-se o primeiro dos Tudor. Henrique VII usa a rosa de Lancaster, mas ao casar com uma rosa de York, terminará a Guerra das Rosas com a união.
Um detalhe importante é Henrique VII usar num retrato o colar do Tosão de Ouro, o símbolo da Ordem fundada por Philippe III de Borgonha, aquando do casamento com Isabel de Portugal.
Phillipe III de Bourgogne, fundador da Ordem do Tosão de Ouro (esq.)
Henry VII Tudor, membro da Ordem do Tosão de Ouro (dir.)
Ambos usam o colar da ordem, com o cordeiro sacrificial.

Duque de Kent, chefe da Grande Loja de Londres, com colar da Maçonaria.

Juntei uma imagem de colar da maçonaria porque o compasso, ou o esquadro, descaindo em forma de V invertido, assemelham-se ao cordeiro sacrificial, que vemos nos colares da Ordem do Tosão de Ouro.
Conforme já referi noutros textos, o cordeiro tem vários significados, não apenas ligados à lenda de Jasão e dos Argonautas. É claro que a Ordem surgindo no contexto do casamento da irmã do Infante D. Henrique, carrega um aspecto dos Descobrimentos ligado aos "Argonautas" e ao Velo de Ouro.
Descobrir foi desvelar, tirar véus... na forma Ariana deste carneiro, o Velo seria a pele de Aries, uma pele de Ouro, ou de Oro, forma abreviada de Hórus, o olho vigilante que se pode ligar ao verbo Orar.
Descobrir foi revelar, levantar Velas e não tanto retirá-las. As cara-velas do Infante velaram pelo véus antigos, e a Ordem do Tosão ou "Velo de Ouro", pode ser vista como preservação do "véu de Hórus".
Jasão teve que vencer o Dragão da Cólquida para obter o Velo de Ouro, tal como Hércules teve que vencer o dragão Ládon, que guardava as ocidentais Hespérides, num dos 12 trabalhos (ou 12 Oras...).
Ao mesmo tempo aparecia a Ordem do Dragão, de que fez parte o Infante D. Pedro, e que já ligámos à Dra-cola, ou Cola do Dragão, em que o "Colar" se refere ao pescoço, tal como Coço e Cola se referem à retaguarda, entrelaçada ao pescoço... (sobre o significado antigo de "coço da procissão" ser "atrás da procissão", ler D. Manuel Clemente)

A história do cordeiro tem ainda o aspecto hebraico que remete à Páscoa, ou à paz-côa, quando Abraão é sujeito ao teste de obediência divino, e o seu filho Isaac é substituído pelo cordeiro no sacrifício:
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, miserere nobis... dona nobis pacem
É um bocado complicado falar deste ponto, porque o sacrifício do cordeiro ordeiro envolve aqui um conceito perverso, no outro verso interpretativo. Deus não permitiria o sacrifício do filho eleito, apenas dos cordeiros... e por isso os cordeiros poderiam ser sacrificados, até que Deus se manifestasse em sentido contrário. E quem eram os cordeiros a sacrificar? O sacrifício indiscriminado traria a presença de Deus?
Pois... até que ponto os Árias foram pastores de Aries, cordeiros? Até que ponto os pastores sacrificariam os seus cordeiros para reencontrarem Deus, ou o Messias?
Esta filosofia continha uma aposta tripla 1X2, se Deus não interviesse perante a iniquidade, os pastores beneficiariam do velo de ouro, uma opção hedonista face à ausência divina. De forma oposta, justificariam a sua acção perante o divino, requerendo a sua presença, afinal a sua omnipotência só permitiria o sacrifício dos sacrificáveis. A incógnita X seria a recusa teológica de outras possibilidades... obviamente possível por crença, mas afinal insustentável racionalmente. Azar, este universo foi definido justamente pela racionalidade, e os absurdos levam ao vazio contraditório - o caos irracional fica no seu exterior. O tempo permite o absurdo diferido, temporário, mas não o simultâneo e permanente. Todos os filhos de Gaia são introspectivamente recuperáveis, pela lógica do arrependimento, do reconhecimento de erros, mas não é possível a recuperação dos irrecuperáveis. A persistência eterna no absurdo foi simplesmente excluída, nem tampouco poderia ser humana. Logicamente, não poderia ser doutra forma... os erros podem viver nas ilusões temporárias, que acolhem elementos do caos, mas não o caos completo. Desse oceano caótico importamos a imprevisibilidade, elementos artísticos e sentimentais, mas esses impulsos devem sujeitar-se ao enquadramento racional, sob pena de serem o convite ao estabelecimento do irracional, e à recusa da principal faculdade humana, que nos distingue das alimárias, a racionalidade.

Chapéus...
Há muitos, vários formatos de chapéus. Assim, para além do colar com o cordeirinho sacrificial, também o chapéu usado por Filipe III de Borgonha fez moda, ficou conhecido como "chapéu borgonhês", e resistiu aos tempos, sendo ainda hoje uma indumentária usada pela Confraria do Vinho do Porto:
É claro que no caso da confraria de vinho usa-se no colar uma taça de escanção, para averiguar da cor do vinho, afinal simbolicamente tratado como "sangue de Cristo".
A taça do vinho da Última Ceia foi habitualmente designada como Graal, e houve já quem sugerisse que o nome Portugal encerraria um críptico "por-tu-graal", que assim se complementaria, pela associação de Porto e Gaia, nas caves do famoso vinho, que sozinhas asseguravam as contrapartidas do Tratado de Methuen. Para adivinhos, há outros vinhos... os famosos vinhos da Borgonha, ou de Bordéus, da antiga região da Guiana occitana-basca, entre outros preciosos néctares de um Baco divino di-vinho, cuja preservação de antiguidade necessita do devido arrefecimento em caves bem seladas.

Baptista
Não longe, encontramos a Igreja Matriz de Vila do Conde, cuja a entrada é interessante.
De construção biscainha, apresenta de um lado as armas de D. Manuel (num caso raro, em que ainda aparece a dupla esfera armilar, sugerida por D. João II), e do outro lado temos: a âncora da Póvoa de Varzim, o antigo barco de Vila do Conde, e um outro brazão com uma figura humana que emerge de uma concha (símbolo associado à localidade de S. Pedro de Rates).
Igreja Matriz, de S. João Baptista, em Vila do Conde (imagem).

Como a Igreja é dedicada a S. João Baptista (que aparece no topo da porta), a concha será baptismal, mas também referente à mítica presença do Apóstolo Santiago, que teria ordenado S. Pedro de Rates como primeiro Bispo de Braga (45 a 60 d.C.).
Há assim essa dupla ligação a conchas, cuidando ambas para o simbolismo do renascimento, numa igreja renascentista emanuelina. O homem que sai da concha aparece depois, com D. Sebastião, na forma de peixe, invocando esse Renascimento cristão, que seria o renascimento de Cristo, na forma humana.
O ritual baptista parece remeter para uma origem aquática, pela imersão do baptizado, ou mais simbolicamente vertendo água na sua cabeça.
No entanto, há variações baptistas.
Um outro aspecto de baptismo, era o baptismo com óleo, aplicado na unção de sacerdotes.
Aí podemos ver outro aspecto das vieiras que, virtude dos tempos, são reencontradas no símbolo de uma famosa companhia petrolífera:

A vieira usada como símbolo de petróleo pela Shell.

O petróleo, também designado como "ouro negro", passou a encerrar outros véus, ou velos de ouro negro... mas para essas considerações remetemos para um texto anterior.

Poderíamos ainda falar de outros aspectos interessantes das vieiras, nomeadamente pela sua geometria.
Há uma confluência entre parte de um quadrado e parte de um círculo, podendo ser usado para simbolizar a relação do número Pi na quadratura do círculo.
Por outro lado, as divisões naturais das vieiras (ou outras conchas) poderiam servir para marcar ângulos, constituindo um simples instrumento de posicionamento, semelhante a um vulgar quadrante, para simples uso náutico, em navegações primitivas. Esse seria um aspecto prático de orientação astral para qualquer peregrino, associando a vieira ao cajado do pastor.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 22:13

Com chás

10.07.13
Perante as informações dispersas, algo contraditórias, abundantes na irrelevância e escassas na importância, é sempre um risco especular novas hipóteses sobre as primeiras migrações humanas. Não há suficiente informação nem para rebater, nem para sustentar categoricamente nenhuma hipótese... o resto é inércia conveniente. Com chás, é mais fácil alinhar pela teoria que se foi estabelecendo, por mais interrogações que se deixem sem resposta... mas o espírito inquieto prefere o caminho das conchas - neste caso procurar uma versão consistente que responda a interrogações fundamentais.

Constava no Séc. XVI que o nome Nova Guiné era devido à oposição à outra Guiné, africana. Tal como a Guiana, todas estas terras partilhavam a proximidade equatorial em diversos continentes. 
O registo mais antigo do nome Guiana é o nome do território basco francês, na zona da Aquitânia, que esteve na origem da Guerra dos Cem Anos.
Essa Guiana occitana fazia parte dos domínios ingleses, nomeadamente de Eduardo III, fundador da Ordem da Jarreteira, que quebrando as promessas de paz com o rei francês, passou o Ducado da Guiana ao filho, o Princípe Negro, Eduardo de Woodstock! A mesma Guiana esteve em posse do irmão, Eduardo de Gant, pai de D. Filipa de Lencastre... e foi reivindicação inglesa até ao fim da Guerra dos Cem Anos.

De forma rápida, chegamos da Guiana occitana/basca ao nome da Nova Guiné, e no texto anterior procurámos ver se fazia sentido o caminho inverso, partindo de uma Velha Guiana.

Tudo isto parece arbitrário, mas há uma questão fundamental, que carece de resposta:
- Como manter no decurso de milénios uma guerra brutal entre tribos rivais numa ilha limitada?
- Não seria natural que uma das tribos ganhasse ascendente, aniquilando as restantes?
Quando a violência vai ao ponto de antropofagia cultural, o único valor dados aos outros parecia ser o de recurso alimentar... No entanto, as diversas tribos coexistiram ao ponto de criarem quase 900 línguas diferentes, o que mostra uma assumida diferença e herança ancestral.
Como manter o equilíbrio entre tribos que visavam aniquilar as outras?
Ao fim de tantos milénios, o que evitou que uma das tribos crescesse a ponto de criar um exército de guerreiros que derrotasse as restantes?... 
Como se deu o controlo populacional na ilha?
Eram as batalhas apenas rituais destinados a esse controlo populacional? Ou seja, não visavam a destruição dos rivais, mas apenas uma "selecção" dos mais jovens?
Afinal, se a agricultura deu ali os primeiros passos, e se havia uma técnica apurada no manejo de arco e flecha, acrescido do uso de venenos naturais, onde foi estabelecido o limite do génio inovador, para estabelecerem novas defesas e armamento? 
A imaginação ficou nos rituais algo estranhos e exóticos? 
Quem orientou essa educação guerreira ineficaz para batalha?
Quem aconselharia uma política não expansionista, deixando a tribo sob ameaça constante de se ver aniquilada (ou comida...) pelas tribos rivais?

Portanto, há aqui uma quantidade apreciável de perguntas que estão sem resposta.
À falta de melhor, a única resposta que encontro é a de uma coordenação global dos xamãs locais.
Os xamãs, conselheiros típicos da favorabilidade da batalha, da educação condicionada por rituais, exerceriam um papel fulcral na formação daquelas sociedades. A eventual fragilidade de cada um seria irrelevante perante o papel coordenado dos restantes. Ou seja, se um fosse banido, essa tribo arriscaria o ataque coordenado das outras tribos, ordenado pelos outros xamãs... 

Esta evolução para uma coordenação entre xamãs seria um processo natural de reflexão social. 
Afinal, quando uma tribo dominasse por completo a ilha, o que se seguiria? 
Uma regência única? Não havendo inimigos na ilha, entrar-se-ia numa competição interna... mas onde apareceriam esses focos de dissensão, seriam controlados pelos xamãs, ou organizariam-se contra eles?
Como se controlaria uma explosão populacional? 
Rapa Nui (pintura de Hodges, 1775) e o problema dos Coelhos da Páscoa...

Um aumento descontrolado da população esgotaria os espaços e os recursos, entrando-se num conflito e colapso social, semelhante ao que se supõe ter ocorrido na Ilha da Páscoa.
As ilhas polinésias apresentavam esta dualidade... por um lado ambientes paradisíacos, mas quando a liberdade permitia o descontrolo populacional, a reprodução dos coelhinhos era um modelo inevitável para prever o que se seguiria - um esgotar de recursos, conflitos crescentes caóticos levando ao colapso social.
Por isso, a nova "Paz-côa", a "paz filtrada", trazia um ovo diferente do de Colombo[*], trazia um acordo de paz que visaria um controlo populacional... o "crescei e multiplicai-vos" tinha o limite Malthusiano, o limite da estrutura para os recursos disponíveis. 
[*] Sobre a tradição dos ovos da Páscoa, 

Não é preciso ler Robinson Crusoe, para ver que os paraísos tropicais traziam vários problemas, onde foram aplicadas diversas soluções ao longo de gerações... normalmente condicionando a mentalidade pela educação, pelos rituais, pela cultura, pelas histórias. Não se trataria apenas de um problema de sobrevivência, seguir-se-ia um problema de vivência... ou seja, que objectivos de vida manteriam um funcionamento regular da sociedade?  Sob esse aspecto, a manutenção dos inimigos tribais, como na Nova Guiné, reteria um foco de atenção para a vivência... parece ter sido essa a solução encontrada, durante inúmeras gerações.
No Taiti, ilha cuja descoberta deve remontar a Pedro Fernandes Queirós[**], ocorreu a famosa história da revolta da Bounty. Alguns marinheiros amotinaram-se, querendo viver em tal paraíso, ofereceram armas para o desequilíbrio de forças, em favor de um rei, Pomare I, que assegurou o controlo total da ilha entre 1788 e 1791. O capitão Bligh retornou, e perante a ameaça externa o rei entregou os amotinados que lhe tinham fornecido o poder. O Taiti entraria em contacto com os ocidentais como reino unificado, mas em 1842 os franceses usariam as famílias dos rivais depostos para impor um protectorado francês contra a rainha Pomare IV, e ainda hoje o Taiti faz parte da França (... o país modelo da liberdade dos povos, que nunca abdicou das suas colónias, sem deixar de acusar os outros de colonialismo).
Sim, é verdade que falta a folha com as páginas 110 e 111, mas o 
borrão consegue fazer ler o nome de Pedro Fernandes Queirós
(... foi pior a emenda que o soneto!)

Ainda sobre o Taiti, o mesmo livro "O Viajante Universal" refere a particularidade de na viagem de Wallis ter sido reportado haver habitantes "ruivos", e Bougainville, chegando no ano seguinte, refere o uso de conchas como castanholas, e de pérolas como o único meio de moeda de troca. 
O Taiti afinal tanto tempo incógnito é abordado por Wallis, Bougainville e Cook em 1767, 1768 e 1769.
Os espanhóis cruzariam o Pacífico durante 250 anos, e afinal parecia difícil era não passar pelo Taiti.
A viagem de Cook tem um propósito científico - o trânsito de Vénus em Junho de 1769.
O mítico nascimento de Vénus, como pérola saída de uma concha
... parece "maluquice" uma mulher sair de uma concha, mas isso depende do tamanho da concha:
Segundo o National Geographic as conchas da 
zona do Recife Australiano podem atingir... 1m 20cm.
Com essa dimensão, poderiam bem albergar uma criança!

Portanto, afinal a ideia de uma criança poder sair de uma concha, faz sentido na zona das Ilhas Malucas, nos Mares Austrais... e as pérolas, as pérolas saem de "Ostras", ou será preciso "ostracizar" para dizer que saem de "Austras"?
Quanto às pérolas taitianas podem ser "pérolas negras", e como dissémos, serviam de moeda. 
Desde os primeiros registos civilizacionais que foi dada grande importância às pérolas, antes mesmo de pedras preciosas, porque saíam naturalmente brilhantes da "ostra". 
Sumérios, chineses, egípcios, japoneses, gregos, romanos, etc... todos tinham os seus pescadores de pérolas... os hindus afirmariam que teria sido Krishna a criar a primeira. Diferentes culturas, algumas que pouco teriam de marítimas, teriam os seus mergulhadores especializados em suster respiração e encontrar pérolas nas ostras. A maior pérola é disforme e ostenta o nome de Lao Tzé. Cleópatra dissolveu uma pérola para mostrar a Marco António que poderia ter uma refeição mais cara que o orçamento de uma cidade, e outras pérolas como "La Peregrina" têm histórias de 500 anos.

Se há local que tipicamente se prestava a uma população marítima vocacionada para apanhar as primeiras pérolas terá sido a Oceania. Bom, e agora vamos regressar ao mapa do logotipo:
O que tem de especial, de novo, este mapa?
Não é o que tem... é o que falta.
O último registo marcado a Oriente... é a Nova Guiné!
Os mapas começam a ser modificados, e são sucessivamente inventados contornos alternativos...
A Nova Guiné vai ficar incompleta, a Austrália não vai aparecer, o mundo fica suspenso até Cook.
Timidamente serão marcadas as Ilhas Salomão (o nome parece simbólico), ao lado da Nova Guiné, e os holandeses vão arriscar entrar pela Austrália até ao limite definido pelo meridiano português de Tordesilhas (convém reparar que os holandeses se especializaram mais no hemisfério português).

A pérola com o nome "La Peregrina" leva-nos à continuação!
Qual era a rota de peregrinação típica durante quase toda a Idade Média?
Havia a cruzada a Jerusalém, a via Francigena, que levava a Roma... mas curiosamente a peregrinação mais importante, era a de Santiago de Compostela:
Caminhos europeus de Santiago de Compostela
"Estrada de Santiago"... a Via Láctea 
A vieira indicando o Caminho de Santiago.

O que fazia tantos peregrinos europeus seguirem a rota do Apóstolo Santo Iago?
É claro que havia todo o factor religioso, mas nem sequer podemos considerar que se tratasse de uma figura crucial no cristianismo, e mesmo a lenda envolvendo a sua presença na Galiza seria muito controversa.
Acresce que a Estrada de Santiago nem acabaria ali... muitos seguiam o caminho até Finisterra!
Finisterra, onde seria o ponto mais ocidental (por erro, já que era o Cabo Magno), e constando que as rotas eram mais ancestrais, remetem-nos para uma tradição celta, associada a quê?
- À Vieira... que se diz também "venera", ou seja, a uma Vénus, saída da concha!

É claro que a vieira foi tida como símbolo do peregrino pela sua eventual utilidade para beber água, tal como a cabaça... mas sobre a cabaça evitarei falar. Apenas direi que se a concha tinha este lado feminino, a cabaça, um dos primeiros alvos de agricultura, poderia encerrar um aspecto masculino... que se resume no contexto da Oceania à palavra koteka, porque as coisas são como são, e o resto são preconceitos induzidos pelos xamãs da nossa cultura. É assumido que os cultos de fertilidade foram primevos.
Bom, e se as taitianas usavam conchas, a migração cigana da Índia até à Andaluzia popularizou as castanholas
... que têm origem reportada aos fenícios, afinal a civilização que se baseou num domínio marítimo, desde o Mediterrâneo até ao Atlântico. Seriam os fenícios a definir o alfabeto que dominaria o mundo das línguas indo-europeias, e não só.

Compostela poderia aparecer no contexto de peregrinação marítima como uma rota que terminava num grande lago proibido à navegação, seria um "santo lago" que se ligava a "Santo Iago", tal como alguns cultos de Santo Antão estão claramente ligados às Antas. Curiosamente a outra Santiago, do Chile, foi repousar à beira de um lago ainda maior, o oceano Pacífico. Com o decorrer das descobertas, o caminho estava aberto para o lago atlântico, e a contra-reforma terminou a harmonia católica - o caminho de Santiago deixou de ser popular durante os quase cinco séculos seguintes, tendo apenas sido reavivado recentemente.

Objectivamente, o que se pode reter daqui?
Muito pouco, grande parte do texto pode ser considerado especulativo e arbitrário nas associações.
Afinal, se Vénus é Venera, daí tanto vem a palavra "venerar" como a palavra "venérea". 
Se um Puto é um pequeno anjo, associável a Cupido, para fazermos o feminino associado à mãe Vénus, devemos recorrer ao filme japonês LaPuta: Castle in the Sky, em que o nome Laputa se refere a uma cidade nos céus, na obra Gulliver de Jonathan Swift.
Os xamãs guardaram os métodos e as conchinhas, os cravos e as pimentas, e no seu percurso peregrino fizeram as naves subir aos céus, até que reencontraram o simbolismo perdido. Superada a prova, passaram a magos que bebem chá... os problemas são os mesmos, e os métodos pouco diferentes.

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publicado às 06:48

Com chás

10.07.13
Perante as informações dispersas, algo contraditórias, abundantes na irrelevância e escassas na importância, é sempre um risco especular novas hipóteses sobre as primeiras migrações humanas. Não há suficiente informação nem para rebater, nem para sustentar categoricamente nenhuma hipótese... o resto é inércia conveniente. Com chás, é mais fácil alinhar pela teoria que se foi estabelecendo, por mais interrogações que se deixem sem resposta... mas o espírito inquieto prefere o caminho das conchas - neste caso procurar uma versão consistente que responda a interrogações fundamentais.

Constava no Séc. XVI que o nome Nova Guiné era devido à oposição à outra Guiné, africana. Tal como a Guiana, todas estas terras partilhavam a proximidade equatorial em diversos continentes. 
O registo mais antigo do nome Guiana é o nome do território basco francês, na zona da Aquitânia, que esteve na origem da Guerra dos Cem Anos.
Essa Guiana occitana fazia parte dos domínios ingleses, nomeadamente de Eduardo III, fundador da Ordem da Jarreteira, que quebrando as promessas de paz com o rei francês, passou o Ducado da Guiana ao filho, o Princípe Negro, Eduardo de Woodstock! A mesma Guiana esteve em posse do irmão, Eduardo de Gant, pai de D. Filipa de Lencastre... e foi reivindicação inglesa até ao fim da Guerra dos Cem Anos.

De forma rápida, chegamos da Guiana occitana/basca ao nome da Nova Guiné, e no texto anterior procurámos ver se fazia sentido o caminho inverso, partindo de uma Velha Guiana.

Tudo isto parece arbitrário, mas há uma questão fundamental, que carece de resposta:
- Como manter no decurso de milénios uma guerra brutal entre tribos rivais numa ilha limitada?
- Não seria natural que uma das tribos ganhasse ascendente, aniquilando as restantes?
Quando a violência vai ao ponto de antropofagia cultural, o único valor dados aos outros parecia ser o de recurso alimentar... No entanto, as diversas tribos coexistiram ao ponto de criarem quase 900 línguas diferentes, o que mostra uma assumida diferença e herança ancestral.
Como manter o equilíbrio entre tribos que visavam aniquilar as outras?
Ao fim de tantos milénios, o que evitou que uma das tribos crescesse a ponto de criar um exército de guerreiros que derrotasse as restantes?... 
Como se deu o controlo populacional na ilha?
Eram as batalhas apenas rituais destinados a esse controlo populacional? Ou seja, não visavam a destruição dos rivais, mas apenas uma "selecção" dos mais jovens?
Afinal, se a agricultura deu ali os primeiros passos, e se havia uma técnica apurada no manejo de arco e flecha, acrescido do uso de venenos naturais, onde foi estabelecido o limite do génio inovador, para estabelecerem novas defesas e armamento? 
A imaginação ficou nos rituais algo estranhos e exóticos? 
Quem orientou essa educação guerreira ineficaz para batalha?
Quem aconselharia uma política não expansionista, deixando a tribo sob ameaça constante de se ver aniquilada (ou comida...) pelas tribos rivais?

Portanto, há aqui uma quantidade apreciável de perguntas que estão sem resposta.
À falta de melhor, a única resposta que encontro é a de uma coordenação global dos xamãs locais.
Os xamãs, conselheiros típicos da favorabilidade da batalha, da educação condicionada por rituais, exerceriam um papel fulcral na formação daquelas sociedades. A eventual fragilidade de cada um seria irrelevante perante o papel coordenado dos restantes. Ou seja, se um fosse banido, essa tribo arriscaria o ataque coordenado das outras tribos, ordenado pelos outros xamãs... 

Esta evolução para uma coordenação entre xamãs seria um processo natural de reflexão social. 
Afinal, quando uma tribo dominasse por completo a ilha, o que se seguiria? 
Uma regência única? Não havendo inimigos na ilha, entrar-se-ia numa competição interna... mas onde apareceriam esses focos de dissensão, seriam controlados pelos xamãs, ou organizariam-se contra eles?
Como se controlaria uma explosão populacional? 
Rapa Nui (pintura de Hodges, 1775) e o problema dos Coelhos da Páscoa...

Um aumento descontrolado da população esgotaria os espaços e os recursos, entrando-se num conflito e colapso social, semelhante ao que se supõe ter ocorrido na Ilha da Páscoa.
As ilhas polinésias apresentavam esta dualidade... por um lado ambientes paradisíacos, mas quando a liberdade permitia o descontrolo populacional, a reprodução dos coelhinhos era um modelo inevitável para prever o que se seguiria - um esgotar de recursos, conflitos crescentes caóticos levando ao colapso social.
Por isso, a nova "Paz-côa", a "paz filtrada", trazia um ovo diferente do de Colombo[*], trazia um acordo de paz que visaria um controlo populacional... o "crescei e multiplicai-vos" tinha o limite Malthusiano, o limite da estrutura para os recursos disponíveis. 
[*] Sobre a tradição dos ovos da Páscoa, 

Não é preciso ler Robinson Crusoe, para ver que os paraísos tropicais traziam vários problemas, onde foram aplicadas diversas soluções ao longo de gerações... normalmente condicionando a mentalidade pela educação, pelos rituais, pela cultura, pelas histórias. Não se trataria apenas de um problema de sobrevivência, seguir-se-ia um problema de vivência... ou seja, que objectivos de vida manteriam um funcionamento regular da sociedade?  Sob esse aspecto, a manutenção dos inimigos tribais, como na Nova Guiné, reteria um foco de atenção para a vivência... parece ter sido essa a solução encontrada, durante inúmeras gerações.
No Taiti, ilha cuja descoberta deve remontar a Pedro Fernandes Queirós[**], ocorreu a famosa história da revolta da Bounty. Alguns marinheiros amotinaram-se, querendo viver em tal paraíso, ofereceram armas para o desequilíbrio de forças, em favor de um rei, Pomare I, que assegurou o controlo total da ilha entre 1788 e 1791. O capitão Bligh retornou, e perante a ameaça externa o rei entregou os amotinados que lhe tinham fornecido o poder. O Taiti entraria em contacto com os ocidentais como reino unificado, mas em 1842 os franceses usariam as famílias dos rivais depostos para impor um protectorado francês contra a rainha Pomare IV, e ainda hoje o Taiti faz parte da França (... o país modelo da liberdade dos povos, que nunca abdicou das suas colónias, sem deixar de acusar os outros de colonialismo).
Sim, é verdade que falta a folha com as páginas 110 e 111, mas o 
borrão consegue fazer ler o nome de Pedro Fernandes Queirós
(... foi pior a emenda que o soneto!)

Ainda sobre o Taiti, o mesmo livro "O Viajante Universal" refere a particularidade de na viagem de Wallis ter sido reportado haver habitantes "ruivos", e Bougainville, chegando no ano seguinte, refere o uso de conchas como castanholas, e de pérolas como o único meio de moeda de troca. 
O Taiti afinal tanto tempo incógnito é abordado por Wallis, Bougainville e Cook em 1767, 1768 e 1769.
Os espanhóis cruzariam o Pacífico durante 250 anos, e afinal parecia difícil era não passar pelo Taiti.
A viagem de Cook tem um propósito científico - o trânsito de Vénus em Junho de 1769.
O mítico nascimento de Vénus, como pérola saída de uma concha
... parece "maluquice" uma mulher sair de uma concha, mas isso depende do tamanho da concha:
Segundo o National Geographic as conchas da 
zona do Recife Australiano podem atingir... 1m 20cm.
Com essa dimensão, poderiam bem albergar uma criança!

Portanto, afinal a ideia de uma criança poder sair de uma concha, faz sentido na zona das Ilhas Malucas, nos Mares Austrais... e as pérolas, as pérolas saem de "Ostras", ou será preciso "ostracizar" para dizer que saem de "Austras"?
Quanto às pérolas taitianas podem ser "pérolas negras", e como dissémos, serviam de moeda. 
Desde os primeiros registos civilizacionais que foi dada grande importância às pérolas, antes mesmo de pedras preciosas, porque saíam naturalmente brilhantes da "ostra". 
Sumérios, chineses, egípcios, japoneses, gregos, romanos, etc... todos tinham os seus pescadores de pérolas... os hindus afirmariam que teria sido Krishna a criar a primeira. Diferentes culturas, algumas que pouco teriam de marítimas, teriam os seus mergulhadores especializados em suster respiração e encontrar pérolas nas ostras. A maior pérola é disforme e ostenta o nome de Lao Tzé. Cleópatra dissolveu uma pérola para mostrar a Marco António que poderia ter uma refeição mais cara que o orçamento de uma cidade, e outras pérolas como "La Peregrina" têm histórias de 500 anos.

Se há local que tipicamente se prestava a uma população marítima vocacionada para apanhar as primeiras pérolas terá sido a Oceania. Bom, e agora vamos regressar ao mapa do logotipo:
O que tem de especial, de novo, este mapa?
Não é o que tem... é o que falta.
O último registo marcado a Oriente... é a Nova Guiné!
Os mapas começam a ser modificados, e são sucessivamente inventados contornos alternativos...
A Nova Guiné vai ficar incompleta, a Austrália não vai aparecer, o mundo fica suspenso até Cook.
Timidamente serão marcadas as Ilhas Salomão (o nome parece simbólico), ao lado da Nova Guiné, e os holandeses vão arriscar entrar pela Austrália até ao limite definido pelo meridiano português de Tordesilhas (convém reparar que os holandeses se especializaram mais no hemisfério português).

A pérola com o nome "La Peregrina" leva-nos à continuação!
Qual era a rota de peregrinação típica durante quase toda a Idade Média?
Havia a cruzada a Jerusalém, a via Francigena, que levava a Roma... mas curiosamente a peregrinação mais importante, era a de Santiago de Compostela:
Caminhos europeus de Santiago de Compostela
"Estrada de Santiago"... a Via Láctea 
A vieira indicando o Caminho de Santiago.

O que fazia tantos peregrinos europeus seguirem a rota do Apóstolo Santo Iago?
É claro que havia todo o factor religioso, mas nem sequer podemos considerar que se tratasse de uma figura crucial no cristianismo, e mesmo a lenda envolvendo a sua presença na Galiza seria muito controversa.
Acresce que a Estrada de Santiago nem acabaria ali... muitos seguiam o caminho até Finisterra!
Finisterra, onde seria o ponto mais ocidental (por erro, já que era o Cabo Magno), e constando que as rotas eram mais ancestrais, remetem-nos para uma tradição celta, associada a quê?
- À Vieira... que se diz também "venera", ou seja, a uma Vénus, saída da concha!

É claro que a vieira foi tida como símbolo do peregrino pela sua eventual utilidade para beber água, tal como a cabaça... mas sobre a cabaça evitarei falar. Apenas direi que se a concha tinha este lado feminino, a cabaça, um dos primeiros alvos de agricultura, poderia encerrar um aspecto masculino... que se resume no contexto da Oceania à palavra koteka, porque as coisas são como são, e o resto são preconceitos induzidos pelos xamãs da nossa cultura. É assumido que os cultos de fertilidade foram primevos.
Bom, e se as taitianas usavam conchas, a migração cigana da Índia até à Andaluzia popularizou as castanholas
... que têm origem reportada aos fenícios, afinal a civilização que se baseou num domínio marítimo, desde o Mediterrâneo até ao Atlântico. Seriam os fenícios a definir o alfabeto que dominaria o mundo das línguas indo-europeias, e não só.

Compostela poderia aparecer no contexto de peregrinação marítima como uma rota que terminava num grande lago proibido à navegação, seria um "santo lago" que se ligava a "Santo Iago", tal como alguns cultos de Santo Antão estão claramente ligados às Antas. Curiosamente a outra Santiago, do Chile, foi repousar à beira de um lago ainda maior, o oceano Pacífico. Com o decorrer das descobertas, o caminho estava aberto para o lago atlântico, e a contra-reforma terminou a harmonia católica - o caminho de Santiago deixou de ser popular durante os quase cinco séculos seguintes, tendo apenas sido reavivado recentemente.

Objectivamente, o que se pode reter daqui?
Muito pouco, grande parte do texto pode ser considerado especulativo e arbitrário nas associações.
Afinal, se Vénus é Venera, daí tanto vem a palavra "venerar" como a palavra "venérea". 
Se um Puto é um pequeno anjo, associável a Cupido, para fazermos o feminino associado à mãe Vénus, devemos recorrer ao filme japonês LaPuta: Castle in the Sky, em que o nome Laputa se refere a uma cidade nos céus, na obra Gulliver de Jonathan Swift.
Os xamãs guardaram os métodos e as conchinhas, os cravos e as pimentas, e no seu percurso peregrino fizeram as naves subir aos céus, até que reencontraram o simbolismo perdido. Superada a prova, passaram a magos que bebem chá... os problemas são os mesmos, e os métodos pouco diferentes.

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publicado às 06:48

Conforme referido no texto anterior, em condições favoráveis uma pequena tribo familiar teria a possibilidade de constituir um grande aglomerado populacional, digamos que ao fim de mil anos poderia atingir um milhão de pessoas. 
Porém, para o grande aumento populacional teria que se fazer uma mudança radical na sociedade... teria que se organizar como sociedade agrícola. Essa mudança parece ser recente.

(Como facto lateral, este mapa dá uma ideia de como a agricultura nalgumas zonas verdes ou amareladas 
poderiam ter o óbice de estar sob gelo, ou debaixo de água... noutros tempos)

Expansão da agricultura na Europa (fonte: eupedia.com
e possíveis origens mundiais:
Médio Oriente (9000 a.C., trigo, centeio),  Nova Guiné (9000 a.C., inhame), China (7000 a.C., arroz),
México (3000 a.C., milho, feijão, cacau), Peru (3000 a.C., batata, cabaças), 
África (2000 a.C., sorgo), EUA (2000 a.C., girassol).

A dedução destes mapas virá da arqueologia neolítica, considerando a datação de algumas sementes encontradas. Notável é o primitivo aparecimento de agricultura na Nova Guiné, Timor, Ilhas Salomão, que chega a ser considerado existente há 25 000 anos, nas Salomão.
Este aspecto é interessante para nos reportarmos a culturas que pouco terão mudado nos últimos 10 mil anos. Talvez uma causa comece por rituais iniciáticos. É especialmente curioso este ritual encontrado numa tribo da Papua-Nova Guiné, onde os jovens rapam o cabelo e colam ao rosto, para parecerem mais velhos:
imagem em themonthly.com.au ... de fotos © James Morgan 

Há por isso uma questão - tradição versus necessidade. A tradição tende a preservar, a necessidade a mudar.
Uma das primeiras zonas que parece ter introduzido a agricultura é também aquela que menos parece apresentar evolução face aos ancestrais ritos. O que encontramos nestas zonas é uma estrutura social dimensionada para um conjunto limitado de habitantes, que é replicada pelo território circundante.

Creio que não é preciso ser antropólogo para perceber uma provável transição.
1) Tribos primitivas. Terão sido as primeiras, e não se afastariam muito do padrão social de muitos primatas superiores. Comunidades familiares até algumas dezenas de elementos. Passado esse número, alguns jovens sairiam do território original, movimentando-se para territórios adjacentes, fazendo novas famílias, novas tribos. Enquanto a expansão territorial fosse possível, por exemplo em África, teríamos essencialmente uma disseminação pouco competitiva. A competição entre animais da mesma espécie é quase sempre reduzida ao mínimo confronto possível. O grande confronto interno à espécie aparece depois como característica humana.
A sedentarização das tribos aparecerá primeiro ligada a um território favorável. Um bom território de caça, fixaria tribos de caçadores-colectores. Não haveria uma subespeciação evidente porque acabaria por haver uma mistura de elementos no mesmo território. Poderia ocorrer subespeciação por rejeição de elementos... um caso frequente ainda em África são os albinos. A rejeição de albinos é uma causa provável de diferenciação na tez da pele. Foi provavelmente mais frequente em período glaciar, e poderá ter levado a um isolamento de elementos que se definiriam na subespeciação, talvez como os neandertais. Mas seria o excesso populacional, ocorrendo ao fim de poucos milhares de anos, que levaria a confrontos pela inevitável escassez de recursos com o sucessivo aumento das tribos. 
Se os animais lutavam individualmente por um território, o homem passando a ser animal social transformou o conceito de individualidade à tribo. Em vez de termos um leão a desafiar outro pela posse de um território, teríamos uma tribo a desafiar outra. Onde isso poderia ocorrer? O mais natural é que ocorresse num local donde já não haveria migração possível e onde o confronto fosse inevitável.
Não falamos aqui de nenhuma razão civilizacional, os propósitos seriam essencialmente de sobrevivência por coexistência. Os territórios deveriam ser inicialmente suficientemente vastos para permitirem o direito de passagem sem confronto... a ideia de um território cuidadosamente guardado será noção recente. O único cuidado antigo seria com um abuso de permanência que ameaçaria os mesmos recursos. Isso iria mudar com a agricultura, podendo requerer uma efectiva vigilância do espaço, e uma disputa de carácter mais letal.
Iremos tomar o exemplo da Oceania com particular importância.
Porque a Oceania com o fim da Idade do Gelo passaria a uma situação de várias ilhas onde se poderia formar uma competição feroz, devido à limitação territorial. Em pequenas ilhas talvez não se formassem muitas tribos, e o destino de alguns passou por uma migração marítima, resultando numa expansão polinésia. O resultado mais violento e letal desse confronto talvez se tenha dado na Papua - Nova Guiné, onde o espaço era suficientemente grande para múltiplas tribos, hoje culturalmente desligadas por quase 900 línguas diferentes. Aí a expansão populacional implicaria um confronto mortal entre tribos. Ainda na 2ª Guerra Mundial, apesar de estar incluída na Austrália, as tribos da Nova Guiné alinhavam com australianos ou com japoneses consoante o alinhamento das tribos rivais. Havia uma guerra cultural local e intemporal que não parecia afectada pela presença dos novos deuses da guerra, externos ao seu micro-confronto ancestral.

2) Primeiras civilizações. Para se constituírem as primeiras civilizações, a sociedade teve que mudar de paradigma. Precisaria de tempo suficiente para se constituir numa estrutura estável de divisão de tarefas, tendo por um lado elementos autoritários, e por outro, elementos obedientes. Ou seja, a menos de grande entendimento, havia uma coabitação de duas culturas... a cultura de mandar e a cultura de obedecer. Deixamos de ter uma tribo onde todos eram vistos como iguais, recebiam rituais iniciáticos semelhantes, e partilhariam a mesma cultura transmitida pelos anciãos. Nas civilizações passaria a haver uma cultura cortesã ou sacerdotal, diferente da cultura popular.
As múltiplas tribos que adoptaram a filosofia de partilha comunitária cultural acabaram por não se desenvolver... desde as ultra-competitivas tribos da Nova Guiné, às tribos da Guiné, passando pelas da Guiana. 
Onde terá ocorrido esta mudança de paradigma? Um sistema de castas antigo, não sabemos se o mais antigo, é sem dúvida o indo-europeu, onde sobressai o velho sistema de castas indiano.
De qualquer forma, o incremento populacional numa metrópole não permitiria uma cultura tribal equalitária. De entre os irmãos surgiam os varões que passavam a barões. Ao fim de poucas gerações, a prole dos restantes irmãos constituiria uma enorme massa populacional... a prole passava a proletariado.
Esse era um mecanismo, o outro mais evidente era o da simples conquista. Se nos confrontos das tribos da Nova Guiné o resultado era habitualmente a aniquilação, as primeiras civilizações passaram a usar uma estrutura social de escravos, resultante das capturas de tribos derrotadas.

A linguagem comum passou a ser fulcral nas comunicações e a língua comum da civilização impôs-se pelo seu sucesso a todos os intervenientes, passando a ser uma caracterização de nova estrutura - o povo. Poderia haver uma linguagem diferente falada pela elite da varonia, mas a longo termo a linguagem comum da população iria dominar. Deve ter sido esse o caso do latim, que a longo termo acabou apenas por ter espaço na erudição, tal como foi o caso do francês usado pela corte inglesa normanda que desapareceu.
A comunicação específica no poder passou a usar preferencialmente alegorias, símbolos e códigos abstractos, cujo significado escaparia à generalidade da população. Ao estilo dos hieróglifos egípcios, um mesmo texto poderia ter vários significados.

Munda.
Na filogenia dos haplogrupos Y-DNA aparece uma origem comum K que irá variar para diferentes haplogrupos que constituem a maioria da população mundial, gerando os L, M, N, O, P, Q, R, S, T.
Já vimos no texto "abertura genética" os mapas dos N, O, Q, R, que constituem a maioria da população terrestre, faltava mostrar, os M e S que se situam justamente na Oceania, e os L e T de pequena expressão (especialmente Oceano Índico, na zona do Indo (L) e do corno de África (T)).

  
Haplogrupos M e S
 
Haplogrupos L e T


Bom, falta ainda o P... mas sobre esse não encontrei mapa, tal como o K, talvez por serem comuns aos "descendentes" não aparecem especificados. Mas encontrei esta frase (Abe-Sandes, Human Biology, 2004)
This haplogroup P-92R7 is frequently observed among Europeans: 44.0% among Italians (Previdere` et al. 2000), 52.0% among Portuguese, and 54.0% among Spaniards...
Por outro lado, no site eupedia.com é basicamente afirmado que o P é hoje inexistente, e na wikipedia remete-se para a zona central asiática ou para os Munda, no Bangladesh. Visitando um pequena discussão técnica aquando publicação de resultados sobre Portugal diz-se: "The authors have no individuals who would have been typed as P (92R7) who are not also typed as R1a or R1b, so there is no way to associate it with or exclude it from P."
Ou seja, mudou-se a classificação, e na prática os P foram misturados nos R1b.
Atendendo a como a academia encara a Grota do Medo, usa-se o habitual "método científico":
- os resultados servem para provar a teoria (existente).
Dificilmente temos acesso a dados que não estejam enquadrados numa teoria... se isso acontecesse, ou os resultados estariam mal (o que não interessa aos autores), ou seria a teoria vigente a estar mal (o que não interessa à academia). Mudanças ou falhas na teoria só aparecem garantindo os devidos cuidados na divulgação e divulgadores, assegurando os interesses da academia...

Qual o problema? Bom, o haplogrupo P é suposto preceder o Q, dos ameríndios, e seria estranho ter uma maioria P entre os latinos, conforme reportada no artigo de Abe-Sandes. Como a disciplina era recente no início de 2000, não excluo uma confusão nas primeiras análises de resultados.
Porém, também cada vez mais será difícil ver resultados genuínos... há uma flagrante tentativa de apresentar os resultados numa linha politicamente correcta, indo sempre buscar um centro euro-asiático de onde tudo se espalha.
Ironizando... pode ver-se como uma teoria da estrelinha dispersora, assim:

Nova ou Velha Guiné?
Como referimos, a forte presença dos M e S na Nova Guiné parece sugerir algo bem diferente (mesmo não sabendo por onde andam os P)... porque a questão é que os P não deveriam estar longe da Oceania, já que o haplogrupo "pai", o K é ainda encontrado com grande frequência aí. Pode ler-se na wikipedia:
"Paragroup K - Specially in Oceania. Also in Timor, Philippines and East India."
Esse haplogrupo K originaria os actuais orientais, siberianos, ameríndios, e indo-europeus.

A hipótese que se levanta aqui é completamente diferente. A origem dessas linhas estaria na imensidão de ilhas entre o Pacífico e o Índico, na zona da Oceania. Alguns australianos queixam-se, e com razão, que toda a cultura aborígene parece ter sido esquecida, apesar de ter os registos de pinturas mais antigas da humanidade.
Ora, uma hipótese bem plausível é que um primeiro degelo tenha levado ao isolamento de populações naquelas ilhas. Tratavam-se ainda de mares mais susceptíveis à navegação... e se há povos que associemos à água são justamente os povos da Oceania.
Com o degelo as águas subiam mergulhando o seu continente, digamos Mu, e ficariam afastados de populações vizinhas, em ilhas que podiam ver à distância. Que fazer então?
Os mais próximos do continente asiático podem ter retornado a "terra firme", mas os restantes acabariam por ter uma vertente mais aquática. Já sabemos onde foram parar os M e S... estão concentrados nas diversas ilhas da Oceania. E os outros?
Os P que vão dar os Q ameríndios e os R indo-europeus podem ter tomado um caminho mais complicado!

A questão é que há semelhanças entre as culturas tribais dos ameríndios e das tribos da Oceania.
Um desses aspectos é a adaptabilidade à água. As canoas, as pirogas, são um desses elementos comuns.
As culturas da Oceania usavam e abusavam das pirogas, tal como depois os europeus foram encontrar essa tradição entre os índios americanos, especialmente na zona do Canadá ou da Amazónia, mas também na zona das Caraíbas, ou similares (até em esquimós). Note-se que não é assim tão comum ver noutras paragens uma antiga vocação humana aquática, apesar dos inúmeros cursos de água.
Alguns hábitos antropofágicos de indígenas americanos, e a extrema violência contra outras tribos também parecem ser um ponto comum com a Nova Guiné, competição atroz que a priori não se justificaria nos novos territórios americanos, de grandes espaços desabitados.
Ou seja, aqui seria precisa a teoria Kon-Tiki inversa... uma migração dos polinésios no sentido americano. A América já estaria povoada pelo haplogrupo C3 (mongol), pelo que pode ter havido aspectos de invasão, onde figurou o elemento masculino Q no Y-DNA, mas o mtDNA, pelo lado feminino, teria emprestado um aspecto oriental à descendência invasora. Convém notar que os Olmecas, civilização primeira na mesoamérica, teriam um aspecto menos oriental do que o que se viria a encontrar depois.
Cabeça Olmeca  (La Venta, 1400 a 400 a.C.)

Algo semelhante se poderá ter passado com violência no Japão. Os Ainos D terão sido suplantados pelo haplogrupo O, o traço vencedor que se disseminou pela China e sudeste asiático, talvez remetendo os N para paragens siberianas.

Nesta pequena especulação alternativa falta falar dos R, que originariam os Indo-Europeus.
Bom, os R são "irmãos" genéticos dos ameríndios Q, ambos descendendo do haplogrupo P, de que se perdeu o rasto.
Por muito que se tente esconder, há um registo R na costa leste americana, na zona do Canadá, dos grandes lagos, típica zona de canoas ou caiaques. Também, como descendentes dos K, temos os L que se estabeleceram na zona do Indo e os T que entraram em África.
Vou considerar duas hipóteses para a migração dos R:
a) A mais plausível, com os dados conhecidos, leva a uma entrada dessas populações da Oceania no subcontinente indiano, onde há ainda um grande registo R (R2 e R1a). Aí, na Índia, submeteram as populações anteriores (E,F,H), instituindo um sistema de castas, e prosseguiram na direcção do continente europeu, que praticamente esmagaram com o seu ímpeto característico. A sua língua, que seria afinal uma das centenas de variantes na Oceania, ganhou uma dimensão igual à sua expansão conquistadora. Entraram pelo Oceano Índico e só pararam quando viram mar de novo... no Oceano Atlântico, ou teriam prosseguido (ainda em caiaques?) para as paragens canadianas.
b) A mais especulativa, indo pela teoria de Schwennhagen. Os R (tal como os Q) também teriam migrado para a América e constituído aí uma civilização dominante (no norte da América). Chegariam como colonizadores à Europa Atlântica, em particular à península Ibérica onde teriam feito a sua progressão na direcção indiana. Isto seria a versão de uma "Atlântida americana", que teria sido colonizadora da bacia mediterrânica, segundo os registos egípcios comunicados a Sólon, reportados por Platão no Timeu. Esta hipótese pode ter várias falhas...

Ambas as hipóteses ajustam-se a uma predominância R na Europa, e justificam haver um diferente haplogrupo R-M173 na zona oeste da Austrália e na parte atlântica canadiana, que doutra forma tem permanecido como "mistério". Só este detalhe inviabiliza muito da teoria habitual sobre a expansão centrada no Cáucaso.

Em qualquer caso, antes da chegada dos R, a Europa deveria ter uma distribuição do haplogrupo E (especialmente na Grécia), do J (na bacia mediterrânica), do I (Escandinávia e Balcãs), e do G, que se espalhava pela Europa (mas que hoje se concentra apenas no Cáucaso). A chegada dos indo-europeus terá embatido com todas estas populações, quase fez desaparecer os G, dividiu os I, e entrou nos territórios dos E e J.
A língua indo-europeia tornou-se quase exclusiva na Europa, com variantes adaptadas aos povos sucessivamente conquistados. O caso basco, tido como singular, por não ser língua indo-europeia, mas ter a maior concentração de R1b, pode ter duas explicações simples... por um lado na Oceania a variação linguística seria uma técnica defensiva básica, por outro lado isso só seria feito num ambiente exclusivo de elementos da tribo... que teriam escolhido aquela região como assento próprio, não se misturando com os habitantes primitivos. Os casos magiar ou finlandês são substancialmente diferentes, prendendo-se com as migrações posteriores, nomeadamente dos hunos.

Esta invasão indo-europeia do haplogrupo R pode ter acontecido nos milénios subsequentes à época glaciar, na sequência do degelo. Isto seria um registo demasiado tardio, mesmo para mais velhos mitos que nos levam apenas até ~ 4000 a.C. A subsequente evolução teria misturado populações, mas também a separação do continente europeu na zona do Mar Negro terá contribuído para a separação R1a e R1b.

Os R1b formariam depois a indistinta população celta que habitou a Europa Ocidental.
Não teriam conquistado a zona mediterrânica, mas também não há propriamente registos míticos de que tenha havido qualquer conquista europeia. Curiosamente, ou não, nem mesmo os mitos parecem esclarecer o que se passou nesse passado remoto. Talvez seguindo os gregos se possa dar sentido às guerras com Titãs, Gigantes, ou Centauros... mas isso será outra história.

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publicado às 08:04

Conforme referido no texto anterior, em condições favoráveis uma pequena tribo familiar teria a possibilidade de constituir um grande aglomerado populacional, digamos que ao fim de mil anos poderia atingir um milhão de pessoas. 
Porém, para o grande aumento populacional teria que se fazer uma mudança radical na sociedade... teria que se organizar como sociedade agrícola. Essa mudança parece ser recente.

(Como facto lateral, este mapa dá uma ideia de como a agricultura nalgumas zonas verdes ou amareladas 
poderiam ter o óbice de estar sob gelo, ou debaixo de água... noutros tempos)

Expansão da agricultura na Europa (fonte: eupedia.com
e possíveis origens mundiais:
Médio Oriente (9000 a.C., trigo, centeio),  Nova Guiné (9000 a.C., inhame), China (7000 a.C., arroz),
México (3000 a.C., milho, feijão, cacau), Peru (3000 a.C., batata, cabaças), 
África (2000 a.C., sorgo), EUA (2000 a.C., girassol).

A dedução destes mapas virá da arqueologia neolítica, considerando a datação de algumas sementes encontradas. Notável é o primitivo aparecimento de agricultura na Nova Guiné, Timor, Ilhas Salomão, que chega a ser considerado existente há 25 000 anos, nas Salomão.
Este aspecto é interessante para nos reportarmos a culturas que pouco terão mudado nos últimos 10 mil anos. Talvez uma causa comece por rituais iniciáticos. É especialmente curioso este ritual encontrado numa tribo da Papua-Nova Guiné, onde os jovens rapam o cabelo e colam ao rosto, para parecerem mais velhos:
imagem em themonthly.com.au ... de fotos © James Morgan 

Há por isso uma questão - tradição versus necessidade. A tradição tende a preservar, a necessidade a mudar.
Uma das primeiras zonas que parece ter introduzido a agricultura é também aquela que menos parece apresentar evolução face aos ancestrais ritos. O que encontramos nestas zonas é uma estrutura social dimensionada para um conjunto limitado de habitantes, que é replicada pelo território circundante.

Creio que não é preciso ser antropólogo para perceber uma provável transição.
1) Tribos primitivas. Terão sido as primeiras, e não se afastariam muito do padrão social de muitos primatas superiores. Comunidades familiares até algumas dezenas de elementos. Passado esse número, alguns jovens sairiam do território original, movimentando-se para territórios adjacentes, fazendo novas famílias, novas tribos. Enquanto a expansão territorial fosse possível, por exemplo em África, teríamos essencialmente uma disseminação pouco competitiva. A competição entre animais da mesma espécie é quase sempre reduzida ao mínimo confronto possível. O grande confronto interno à espécie aparece depois como característica humana.
A sedentarização das tribos aparecerá primeiro ligada a um território favorável. Um bom território de caça, fixaria tribos de caçadores-colectores. Não haveria uma subespeciação evidente porque acabaria por haver uma mistura de elementos no mesmo território. Poderia ocorrer subespeciação por rejeição de elementos... um caso frequente ainda em África são os albinos. A rejeição de albinos é uma causa provável de diferenciação na tez da pele. Foi provavelmente mais frequente em período glaciar, e poderá ter levado a um isolamento de elementos que se definiriam na subespeciação, talvez como os neandertais. Mas seria o excesso populacional, ocorrendo ao fim de poucos milhares de anos, que levaria a confrontos pela inevitável escassez de recursos com o sucessivo aumento das tribos. 
Se os animais lutavam individualmente por um território, o homem passando a ser animal social transformou o conceito de individualidade à tribo. Em vez de termos um leão a desafiar outro pela posse de um território, teríamos uma tribo a desafiar outra. Onde isso poderia ocorrer? O mais natural é que ocorresse num local donde já não haveria migração possível e onde o confronto fosse inevitável.
Não falamos aqui de nenhuma razão civilizacional, os propósitos seriam essencialmente de sobrevivência por coexistência. Os territórios deveriam ser inicialmente suficientemente vastos para permitirem o direito de passagem sem confronto... a ideia de um território cuidadosamente guardado será noção recente. O único cuidado antigo seria com um abuso de permanência que ameaçaria os mesmos recursos. Isso iria mudar com a agricultura, podendo requerer uma efectiva vigilância do espaço, e uma disputa de carácter mais letal.
Iremos tomar o exemplo da Oceania com particular importância.
Porque a Oceania com o fim da Idade do Gelo passaria a uma situação de várias ilhas onde se poderia formar uma competição feroz, devido à limitação territorial. Em pequenas ilhas talvez não se formassem muitas tribos, e o destino de alguns passou por uma migração marítima, resultando numa expansão polinésia. O resultado mais violento e letal desse confronto talvez se tenha dado na Papua - Nova Guiné, onde o espaço era suficientemente grande para múltiplas tribos, hoje culturalmente desligadas por quase 900 línguas diferentes. Aí a expansão populacional implicaria um confronto mortal entre tribos. Ainda na 2ª Guerra Mundial, apesar de estar incluída na Austrália, as tribos da Nova Guiné alinhavam com australianos ou com japoneses consoante o alinhamento das tribos rivais. Havia uma guerra cultural local e intemporal que não parecia afectada pela presença dos novos deuses da guerra, externos ao seu micro-confronto ancestral.

2) Primeiras civilizações. Para se constituírem as primeiras civilizações, a sociedade teve que mudar de paradigma. Precisaria de tempo suficiente para se constituir numa estrutura estável de divisão de tarefas, tendo por um lado elementos autoritários, e por outro, elementos obedientes. Ou seja, a menos de grande entendimento, havia uma coabitação de duas culturas... a cultura de mandar e a cultura de obedecer. Deixamos de ter uma tribo onde todos eram vistos como iguais, recebiam rituais iniciáticos semelhantes, e partilhariam a mesma cultura transmitida pelos anciãos. Nas civilizações passaria a haver uma cultura cortesã ou sacerdotal, diferente da cultura popular.
As múltiplas tribos que adoptaram a filosofia de partilha comunitária cultural acabaram por não se desenvolver... desde as ultra-competitivas tribos da Nova Guiné, às tribos da Guiné, passando pelas da Guiana. 
Onde terá ocorrido esta mudança de paradigma? Um sistema de castas antigo, não sabemos se o mais antigo, é sem dúvida o indo-europeu, onde sobressai o velho sistema de castas indiano.
De qualquer forma, o incremento populacional numa metrópole não permitiria uma cultura tribal equalitária. De entre os irmãos surgiam os varões que passavam a barões. Ao fim de poucas gerações, a prole dos restantes irmãos constituiria uma enorme massa populacional... a prole passava a proletariado.
Esse era um mecanismo, o outro mais evidente era o da simples conquista. Se nos confrontos das tribos da Nova Guiné o resultado era habitualmente a aniquilação, as primeiras civilizações passaram a usar uma estrutura social de escravos, resultante das capturas de tribos derrotadas.

A linguagem comum passou a ser fulcral nas comunicações e a língua comum da civilização impôs-se pelo seu sucesso a todos os intervenientes, passando a ser uma caracterização de nova estrutura - o povo. Poderia haver uma linguagem diferente falada pela elite da varonia, mas a longo termo a linguagem comum da população iria dominar. Deve ter sido esse o caso do latim, que a longo termo acabou apenas por ter espaço na erudição, tal como foi o caso do francês usado pela corte inglesa normanda que desapareceu.
A comunicação específica no poder passou a usar preferencialmente alegorias, símbolos e códigos abstractos, cujo significado escaparia à generalidade da população. Ao estilo dos hieróglifos egípcios, um mesmo texto poderia ter vários significados.

Munda.
Na filogenia dos haplogrupos Y-DNA aparece uma origem comum K que irá variar para diferentes haplogrupos que constituem a maioria da população mundial, gerando os L, M, N, O, P, Q, R, S, T.
Já vimos no texto "abertura genética" os mapas dos N, O, Q, R, que constituem a maioria da população terrestre, faltava mostrar, os M e S que se situam justamente na Oceania, e os L e T de pequena expressão (especialmente Oceano Índico, na zona do Indo (L) e do corno de África (T)).

  
Haplogrupos M e S
 
Haplogrupos L e T


Bom, falta ainda o P... mas sobre esse não encontrei mapa, tal como o K, talvez por serem comuns aos "descendentes" não aparecem especificados. Mas encontrei esta frase (Abe-Sandes, Human Biology, 2004)
This haplogroup P-92R7 is frequently observed among Europeans: 44.0% among Italians (Previdere` et al. 2000), 52.0% among Portuguese, and 54.0% among Spaniards...
Por outro lado, no site eupedia.com é basicamente afirmado que o P é hoje inexistente, e na wikipedia remete-se para a zona central asiática ou para os Munda, no Bangladesh. Visitando um pequena discussão técnica aquando publicação de resultados sobre Portugal diz-se: "The authors have no individuals who would have been typed as P (92R7) who are not also typed as R1a or R1b, so there is no way to associate it with or exclude it from P."
Ou seja, mudou-se a classificação, e na prática os P foram misturados nos R1b.
Atendendo a como a academia encara a Grota do Medo, usa-se o habitual "método científico":
- os resultados servem para provar a teoria (existente).
Dificilmente temos acesso a dados que não estejam enquadrados numa teoria... se isso acontecesse, ou os resultados estariam mal (o que não interessa aos autores), ou seria a teoria vigente a estar mal (o que não interessa à academia). Mudanças ou falhas na teoria só aparecem garantindo os devidos cuidados na divulgação e divulgadores, assegurando os interesses da academia...

Qual o problema? Bom, o haplogrupo P é suposto preceder o Q, dos ameríndios, e seria estranho ter uma maioria P entre os latinos, conforme reportada no artigo de Abe-Sandes. Como a disciplina era recente no início de 2000, não excluo uma confusão nas primeiras análises de resultados.
Porém, também cada vez mais será difícil ver resultados genuínos... há uma flagrante tentativa de apresentar os resultados numa linha politicamente correcta, indo sempre buscar um centro euro-asiático de onde tudo se espalha.
Ironizando... pode ver-se como uma teoria da estrelinha dispersora, assim:

Nova ou Velha Guiné?
Como referimos, a forte presença dos M e S na Nova Guiné parece sugerir algo bem diferente (mesmo não sabendo por onde andam os P)... porque a questão é que os P não deveriam estar longe da Oceania, já que o haplogrupo "pai", o K é ainda encontrado com grande frequência aí. Pode ler-se na wikipedia:
"Paragroup K - Specially in Oceania. Also in Timor, Philippines and East India."
Esse haplogrupo K originaria os actuais orientais, siberianos, ameríndios, e indo-europeus.

A hipótese que se levanta aqui é completamente diferente. A origem dessas linhas estaria na imensidão de ilhas entre o Pacífico e o Índico, na zona da Oceania. Alguns australianos queixam-se, e com razão, que toda a cultura aborígene parece ter sido esquecida, apesar de ter os registos de pinturas mais antigas da humanidade.
Ora, uma hipótese bem plausível é que um primeiro degelo tenha levado ao isolamento de populações naquelas ilhas. Tratavam-se ainda de mares mais susceptíveis à navegação... e se há povos que associemos à água são justamente os povos da Oceania.
Com o degelo as águas subiam mergulhando o seu continente, digamos Mu, e ficariam afastados de populações vizinhas, em ilhas que podiam ver à distância. Que fazer então?
Os mais próximos do continente asiático podem ter retornado a "terra firme", mas os restantes acabariam por ter uma vertente mais aquática. Já sabemos onde foram parar os M e S... estão concentrados nas diversas ilhas da Oceania. E os outros?
Os P que vão dar os Q ameríndios e os R indo-europeus podem ter tomado um caminho mais complicado!

A questão é que há semelhanças entre as culturas tribais dos ameríndios e das tribos da Oceania.
Um desses aspectos é a adaptabilidade à água. As canoas, as pirogas, são um desses elementos comuns.
As culturas da Oceania usavam e abusavam das pirogas, tal como depois os europeus foram encontrar essa tradição entre os índios americanos, especialmente na zona do Canadá ou da Amazónia, mas também na zona das Caraíbas, ou similares (até em esquimós). Note-se que não é assim tão comum ver noutras paragens uma antiga vocação humana aquática, apesar dos inúmeros cursos de água.
Alguns hábitos antropofágicos de indígenas americanos, e a extrema violência contra outras tribos também parecem ser um ponto comum com a Nova Guiné, competição atroz que a priori não se justificaria nos novos territórios americanos, de grandes espaços desabitados.
Ou seja, aqui seria precisa a teoria Kon-Tiki inversa... uma migração dos polinésios no sentido americano. A América já estaria povoada pelo haplogrupo C3 (mongol), pelo que pode ter havido aspectos de invasão, onde figurou o elemento masculino Q no Y-DNA, mas o mtDNA, pelo lado feminino, teria emprestado um aspecto oriental à descendência invasora. Convém notar que os Olmecas, civilização primeira na mesoamérica, teriam um aspecto menos oriental do que o que se viria a encontrar depois.
Cabeça Olmeca  (La Venta, 1400 a 400 a.C.)

Algo semelhante se poderá ter passado com violência no Japão. Os Ainos D terão sido suplantados pelo haplogrupo O, o traço vencedor que se disseminou pela China e sudeste asiático, talvez remetendo os N para paragens siberianas.

Nesta pequena especulação alternativa falta falar dos R, que originariam os Indo-Europeus.
Bom, os R são "irmãos" genéticos dos ameríndios Q, ambos descendendo do haplogrupo P, de que se perdeu o rasto.
Por muito que se tente esconder, há um registo R na costa leste americana, na zona do Canadá, dos grandes lagos, típica zona de canoas ou caiaques. Também, como descendentes dos K, temos os L que se estabeleceram na zona do Indo e os T que entraram em África.
Vou considerar duas hipóteses para a migração dos R:
a) A mais plausível, com os dados conhecidos, leva a uma entrada dessas populações da Oceania no subcontinente indiano, onde há ainda um grande registo R (R2 e R1a). Aí, na Índia, submeteram as populações anteriores (E,F,H), instituindo um sistema de castas, e prosseguiram na direcção do continente europeu, que praticamente esmagaram com o seu ímpeto característico. A sua língua, que seria afinal uma das centenas de variantes na Oceania, ganhou uma dimensão igual à sua expansão conquistadora. Entraram pelo Oceano Índico e só pararam quando viram mar de novo... no Oceano Atlântico, ou teriam prosseguido (ainda em caiaques?) para as paragens canadianas.
b) A mais especulativa, indo pela teoria de Schwennhagen. Os R (tal como os Q) também teriam migrado para a América e constituído aí uma civilização dominante (no norte da América). Chegariam como colonizadores à Europa Atlântica, em particular à península Ibérica onde teriam feito a sua progressão na direcção indiana. Isto seria a versão de uma "Atlântida americana", que teria sido colonizadora da bacia mediterrânica, segundo os registos egípcios comunicados a Sólon, reportados por Platão no Timeu. Esta hipótese pode ter várias falhas...

Ambas as hipóteses ajustam-se a uma predominância R na Europa, e justificam haver um diferente haplogrupo R-M173 na zona oeste da Austrália e na parte atlântica canadiana, que doutra forma tem permanecido como "mistério". Só este detalhe inviabiliza muito da teoria habitual sobre a expansão centrada no Cáucaso.

Em qualquer caso, antes da chegada dos R, a Europa deveria ter uma distribuição do haplogrupo E (especialmente na Grécia), do J (na bacia mediterrânica), do I (Escandinávia e Balcãs), e do G, que se espalhava pela Europa (mas que hoje se concentra apenas no Cáucaso). A chegada dos indo-europeus terá embatido com todas estas populações, quase fez desaparecer os G, dividiu os I, e entrou nos territórios dos E e J.
A língua indo-europeia tornou-se quase exclusiva na Europa, com variantes adaptadas aos povos sucessivamente conquistados. O caso basco, tido como singular, por não ser língua indo-europeia, mas ter a maior concentração de R1b, pode ter duas explicações simples... por um lado na Oceania a variação linguística seria uma técnica defensiva básica, por outro lado isso só seria feito num ambiente exclusivo de elementos da tribo... que teriam escolhido aquela região como assento próprio, não se misturando com os habitantes primitivos. Os casos magiar ou finlandês são substancialmente diferentes, prendendo-se com as migrações posteriores, nomeadamente dos hunos.

Esta invasão indo-europeia do haplogrupo R pode ter acontecido nos milénios subsequentes à época glaciar, na sequência do degelo. Isto seria um registo demasiado tardio, mesmo para mais velhos mitos que nos levam apenas até ~ 4000 a.C. A subsequente evolução teria misturado populações, mas também a separação do continente europeu na zona do Mar Negro terá contribuído para a separação R1a e R1b.

Os R1b formariam depois a indistinta população celta que habitou a Europa Ocidental.
Não teriam conquistado a zona mediterrânica, mas também não há propriamente registos míticos de que tenha havido qualquer conquista europeia. Curiosamente, ou não, nem mesmo os mitos parecem esclarecer o que se passou nesse passado remoto. Talvez seguindo os gregos se possa dar sentido às guerras com Titãs, Gigantes, ou Centauros... mas isso será outra história.

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publicado às 08:04

Vamos fazer uma pequena mistura antigo-moderno neste texto.

Catedral de Salamanca
Muitos foram vendo na catedral espanhola a escultura de um astronauta, e isso ganhou algum espaço de divulgação, devido à internet, nos últimos anos:
Catedral de Salamanca - escultura de astronauta. (imagem)

O que isto tem de especial? Nada. Nada, porque descobre-se que afinal é habitual os escultores de catedrais espanholas colocarem astronautas, fotógrafos, dragões a comer gelados, telemóveis, etc...
Sim é verdade, mas a versão oficial diz-nos que não foram os escultores antigos... é fruto da inspiração artística dos restauradores modernos! A Igreja ou o Estado encomendam o restauro, e o sujeito pensa - não, vou mas é aqui colocar um astronauta (deve ser pelo efeito Axe, com um cheiro de sovaco diferente).

Depois alguém publica uma foto diferente... que tanto circula como sendo uma foto anterior (versão de que existia antes do restauro), como posterior (versão de que foi vandalizado o restauro - creio que correcta).
Por isso aparece uma terceira versão, que creio ser a actual, com um restauro mais grosseiro, substituindo a anterior cara por uma máscara, tirando a expressão dos olhos.

Curiosamente não encontrei fotos dessa parte da Catedral sem o astronauta, antes do restauro, algo que teria acontecido em 1992 (parece ser uma teoria lançada pela Wikipedia portuguesa), e vi muitas pessoas a queixarem-se do mesmo problema - ausência de fotos anteriores (ninguém fotografou antes de 1992?).
Num dos sites apresentam-se testemunhos de que o astronauta já estaria representado na catedral em 1970. Antes dos anos 1960 era natural que as pessoas nem soubessem o que era um astronauta, e por isso nem notavam nada de especial numa representação com aquele aspecto.

Há quem também possa ver referências a astronautas nas esculturas de Pensacola:
Seria possível que o "astronauta" da Catedral de Salamanca tivesse sido inspirado nas esculturas encontradas na América-Latina? 
Após 1960, pela sua parecença com os astronautas, talvez isso tivesse motivado a ideia de um restauro original... ou seja, substituir a imagem que se parecia com um astronauta por uma verdadeira representação de astronauta moderno. Isso seria uma solução para evitar polémicas - criando uma figura mais explícita eliminava-se a parecença. As imagens anteriores não teriam entretanto sido divulgadas porque afinal iriam revelar essa semelhança, não resolvendo o problema.

Isto é obviamente uma hipótese... outra hipótese será que qualquer dia se veja uma garrafa de Coca-Cola esculpida no túmulo de Camões, por inspiração dos restauradores. 
Finalmente, a outra hipótese é a de que a evolução da tecnologia pode não ter sido o que se pensa... e já assim dizia Fernão de Oliveira.

Artilharia de Fernão de Oliveira 
Fernão de Oliveira escreveu também uma "Arte da Guerra do Mar", em 1555.
Não, não encontramos na decoração do livro nada de estranho. Talvez se destaque uma Fénix que sempre renasce das cinzas, um poder que renasce sempre de todas revoluções... porque, enfim, parece que tem sido preciso "mudar para que nada mude". Esta "arte" de Fernão de Oliveira tinha sido "novamente escrita", agora "vista e admitida pelos senhores deputados da Santa Inquisição". Há uma parte rasgada, e a data de 1555 é confirmada no final.

Há mais uma vez muito material de interesse, começando por uma dissertação sobre a necessidade de manter guerra constante para não ser surpreendido em paz pela guerra alheia.
Passamos directamente à artilharia. Diz ele, na página XXV:
A invenção da artilharia, segundo dizem alguns, foi achada na Alemanha do ano de Cristo de c. 1380, mas a mim me parece que é mais antiga. Porque nós temos que os homens da Fenícia se defendiam de Alexandre Manho com tiros de fogo. E que as gentes de Russia pelejavam com pelouros de chumbo lançados de canos de metal com fogo de enxofre. E alguns filósofos que fizeram fogo artificial que voava, o que parece que fariam com os materiais de pólvora que se acostuma nas bombardas e arcabuzes. Finalmente a fábula de Prometeu, o qual dizem que quis imitar os trovões e coriscos de Jupiter, disto parece que teve seu fundamento, que no princípio da Grécia sendo ela rústica, Prometeu trouxe este artifício de tiros de fogo do exército de Jupiter, rei de Creta ou da África, o qual artifício os rústicos Gregos imaginaram ser trovões, como também cuidaram que os homens de cavalo eram monstros. Como quer que seja, a invenção da artilharia quer velha, quer nova, ela é mais danosa que proveitosa para a geração humana.
(clique na figura para aumentar)

Portanto temos aqui uma explícita referência à existência de armas de fogo, artilharia, desde o tempo dos Fenícios, contra Alexandre Magno (ele diz Manho), e que também era usada na Rússia (muitas vezes o nome aparece só Rusia ou ainda como Rufia...).
Se "tiros de fogo" pode ter alguma ambiguidade, saber que o cerco foi a Tiro, diz muito sobre o conceito de "tiro"... e depois não atirem mais nossa língua, com o objectivo de atirar para a tirar.

No caso russo a descrição é bastante completa, e não parece oferecer grandes dúvidas. Afinal, já é aceite a utilização de dispositivos explosivos na China, praticamente desde a Antiguidade. A sua utilização apenas para efeitos pirotécnicos seria uma limitação filosófica benigna, pouco realista dada a capacidade humana, e desumana, de transformar invenções positivas em armas negativas... conforme Fernão de Oliveira salienta no final.

A referência a um Júpiter rei de Creta (ou África, talvez Cyrene, Líbia, que seria ilha), é bem mais antiga, e tem muito maior ambiguidade interpretativa. Pode servir como pista para entendermos como um rei passou a ser associado a raios e coriscos, e depois a um deus de raios e trovões, pela utilização da artilharia.
Não deixa ainda de ser curioso Fernão de Oliveira dizer que os gregos primitivos entendiam os cavaleiros como um conjunto monstruoso... sendo natural que daí tivesse surgido a noção de Centauro

Lembramos que também é dito que os cavaleiros espanhóis foram vistos como um conjunto homem-cavalo pelos Incas.

No fundo...
O que hoje é associado a representações de "antigos astronautas" tem algo de moda passageira...
Podemos usar uma imagem meso-americana, que encontrámos, para ilustrar a questão:

Acontece que hoje pode ser habitual ver esta figura como um Astronauta... mas no Séc. XIX seria muito mais natural ver esta representação como um Escafandrista.
Escafandristas em 1873 (wikipedia)

Portanto, estas interpretações estão sujeitas às modas dos tempos... convenientemente confundidas.
Depois, é preciso rever um pouco da história do mergulho.
No fundo, chegamos mesmo aos Assírios, que nos ofereceram esta representação:
Representação de um mergulhador num friso Assírio (c. 900 a.C.)

Trata-se provavelmente de um Anedoto, do homem-bacalhau, de que já falámos... e aqui torna-se mais evidente como ele poderia desaparecer nos mares, parecendo um homem-peixe.
A imagem pode ser encontrada no US-Navy Diving Manual. Acrescenta-se aí que a origem do mergulho poderia ser remetida a 3000 a.C., há ainda a lenda de Scyllis e da filha Cyana, ao tempo de Xerxes.

Mas, ainda mais interessante, voltamos ao cerco de Alexandre "Manho" aos fenícios de Tiro, que usavam "tiros", a que se contrapunha a "manha" de mandar mergulhadores ao fundo do Porto de Tiro para remover os obstáculos, em 332 a.C.
Nesse manual encontra-se ainda uma figura de 1511, que ilustra a utilização de um tubo de respiração:
Ilustração de 1511, mostrando o uso de um tubo de respiração em mergulho.

Bom... e haverá quem possa ver no mergulhador uma cabeça com aspecto alienígena?
Talvez... porém, serviria para isolar a cabeça para a respiração.
Outras imagens que nos aparecem com aspecto alienígena são, por exemplo, estas:

Ora, fica mais ou menos evidente que o halo que envolve a cabeça também poderia ser visto como uma "representação de santidade".
Essa foi uma outra interpretação... mas nos tempos que correm nem sequer se pensa em santos, nem em capacetes de escafrandos, vai-se directamente para astronautas ou alienígenas.

Enfim... o que concluir?
- Não vou discutir a versão dos "restauradores brincalhões", até porque esse caminho é uma contradição com a noção de obra "restaurada", é mais uma visão de "rês tourada". Quando a cozinha aventar uma "restauração" com ares desses, acaba-se a credibilidade do serviço, entra-se no fast-food justificativo.
- Tenho dúvidas sobre a capacidade tecnológica dos Anedotos. Já percebemos que impressionavam as civilizações menos desenvolvidas com um aspecto estranho. Tanto poderiam ser homens-peixe, como homens-falcão, homens-crocodilo, etc... dependia do povo e da religião que quisessem impor. Pelo lado homem-peixe justificar-se-iam os acessórios de mergulho. Porém, creio que o mais importante seria protegerem o seu corpo... A última imagem indicia uma possível vestimenta imune a alguma flecha perdida, que os poderia vitimar. Assim, para não serem vítimas de ataques de populações hostis, ou de um atirador incauto, uma fatiota-armadura com um elmo de vidro espesso seria suficiente para lhes conferir um estatuto de imunidade, de divindade.
- Bom, e sobre os Anedotos mais não sei, mas como também percebemos, as Anedotas continuam...

14/06/2013

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publicado às 07:54

Vamos fazer uma pequena mistura antigo-moderno neste texto.

Catedral de Salamanca
Muitos foram vendo na catedral espanhola a escultura de um astronauta, e isso ganhou algum espaço de divulgação, devido à internet, nos últimos anos:
Catedral de Salamanca - escultura de astronauta. (imagem)

O que isto tem de especial? Nada. Nada, porque descobre-se que afinal é habitual os escultores de catedrais espanholas colocarem astronautas, fotógrafos, dragões a comer gelados, telemóveis, etc...
Sim é verdade, mas a versão oficial diz-nos que não foram os escultores antigos... é fruto da inspiração artística dos restauradores modernos! A Igreja ou o Estado encomendam o restauro, e o sujeito pensa - não, vou mas é aqui colocar um astronauta (deve ser pelo efeito Axe, com um cheiro de sovaco diferente).

Depois alguém publica uma foto diferente... que tanto circula como sendo uma foto anterior (versão de que existia antes do restauro), como posterior (versão de que foi vandalizado o restauro - creio que correcta).
Por isso aparece uma terceira versão, que creio ser a actual, com um restauro mais grosseiro, substituindo a anterior cara por uma máscara, tirando a expressão dos olhos.
Curiosamente não encontrei fotos dessa parte da Catedral sem o astronauta, antes do restauro, algo que teria acontecido em 1992 (parece ser uma teoria lançada pela Wikipedia portuguesa), e vi muitas pessoas a queixarem-se do mesmo problema - ausência de fotos anteriores (ninguém fotografou antes de 1992?).
Num dos sites apresentam-se testemunhos de que o astronauta já estaria representado na catedral em 1970. Antes dos anos 1960 era natural que as pessoas nem soubessem o que era um astronauta, e por isso nem notavam nada de especial numa representação com aquele aspecto.

Há quem também possa ver referências a astronautas nas esculturas de Pensacola:
Seria possível que o "astronauta" da Catedral de Salamanca tivesse sido inspirado nas esculturas encontradas na América-Latina? 
Após 1960, pela sua parecença com os astronautas, talvez isso tivesse motivado a ideia de um restauro original... ou seja, substituir a imagem que se parecia com um astronauta por uma verdadeira representação de astronauta moderno. Isso seria uma solução para evitar polémicas - criando uma figura mais explícita eliminava-se a parecença. As imagens anteriores não teriam entretanto sido divulgadas porque afinal iriam revelar essa semelhança, não resolvendo o problema.

Isto é obviamente uma hipótese... outra hipótese será que qualquer dia se veja uma garrafa de Coca-Cola esculpida no túmulo de Camões, por inspiração dos restauradores. 
Finalmente, a outra hipótese é a de que a evolução da tecnologia pode não ter sido o que se pensa... e já assim dizia Fernão de Oliveira.

Artilharia de Fernão de Oliveira 
Fernão de Oliveira escreveu também uma "Arte da Guerra do Mar", em 1555.
Não, não encontramos na decoração do livro nada de estranho. Talvez se destaque uma Fénix que sempre renasce das cinzas, um poder que renasce sempre de todas revoluções... porque, enfim, parece que tem sido preciso "mudar para que nada mude". Esta "arte" de Fernão de Oliveira tinha sido "novamente escrita", agora "vista e admitida pelos senhores deputados da Santa Inquisição". Há uma parte rasgada, e a data de 1555 é confirmada no final.

Há mais uma vez muito material de interesse, começando por uma dissertação sobre a necessidade de manter guerra constante para não ser surpreendido em paz pela guerra alheia.
Passamos directamente à artilharia. Diz ele, na página XXV:
A invenção da artilharia, segundo dizem alguns, foi achada na Alemanha do ano de Cristo de c. 1380, mas a mim me parece que é mais antiga. Porque nós temos que os homens da Fenícia se defendiam de Alexandre Manho com tiros de fogo. E que as gentes de Russia pelejavam com pelouros de chumbo lançados de canos de metal com fogo de enxofre. E alguns filósofos que fizeram fogo artificial que voava, o que parece que fariam com os materiais de pólvora que se acostuma nas bombardas e arcabuzes. Finalmente a fábula de Prometeu, o qual dizem que quis imitar os trovões e coriscos de Jupiter, disto parece que teve seu fundamento, que no princípio da Grécia sendo ela rústica, Prometeu trouxe este artifício de tiros de fogo do exército de Jupiter, rei de Creta ou da África, o qual artifício os rústicos Gregos imaginaram ser trovões, como também cuidaram que os homens de cavalo eram monstros. Como quer que seja, a invenção da artilharia quer velha, quer nova, ela é mais danosa que proveitosa para a geração humana.
(clique na figura para aumentar)

Portanto temos aqui uma explícita referência à existência de armas de fogo, artilharia, desde o tempo dos Fenícios, contra Alexandre Magno (ele diz Manho), e que também era usada na Rússia (muitas vezes o nome aparece só Rusia ou ainda como Rufia...).
Se "tiros de fogo" pode ter alguma ambiguidade, saber que o cerco foi a Tiro, diz muito sobre o conceito de "tiro"... e depois não atirem mais nossa língua, com o objectivo de atirar para a tirar.

No caso russo a descrição é bastante completa, e não parece oferecer grandes dúvidas. Afinal, já é aceite a utilização de dispositivos explosivos na China, praticamente desde a Antiguidade. A sua utilização apenas para efeitos pirotécnicos seria uma limitação filosófica benigna, pouco realista dada a capacidade humana, e desumana, de transformar invenções positivas em armas negativas... conforme Fernão de Oliveira salienta no final.

A referência a um Júpiter rei de Creta (ou África, talvez Cyrene, Líbia, que seria ilha), é bem mais antiga, e tem muito maior ambiguidade interpretativa. Pode servir como pista para entendermos como um rei passou a ser associado a raios e coriscos, e depois a um deus de raios e trovões, pela utilização da artilharia.
Não deixa ainda de ser curioso Fernão de Oliveira dizer que os gregos primitivos entendiam os cavaleiros como um conjunto monstruoso... sendo natural que daí tivesse surgido a noção de Centauro
Lembramos que também é dito que os cavaleiros espanhóis foram vistos como um conjunto homem-cavalo pelos Incas.

No fundo...
O que hoje é associado a representações de "antigos astronautas" tem algo de moda passageira...
Podemos usar uma imagem meso-americana, que encontrámos, para ilustrar a questão:

Acontece que hoje pode ser habitual ver esta figura como um Astronauta... mas no Séc. XIX seria muito mais natural ver esta representação como um Escafandrista.
Escafandristas em 1873 (wikipedia)

Portanto, estas interpretações estão sujeitas às modas dos tempos... convenientemente confundidas.
Depois, é preciso rever um pouco da história do mergulho.
No fundo, chegamos mesmo aos Assírios, que nos ofereceram esta representação:
Representação de um mergulhador num friso Assírio (c. 900 a.C.)

Trata-se provavelmente de um Anedoto, do homem-bacalhau, de que já falámos... e aqui torna-se mais evidente como ele poderia desaparecer nos mares, parecendo um homem-peixe.
A imagem pode ser encontrada no US-Navy Diving Manual. Acrescenta-se aí que a origem do mergulho poderia ser remetida a 3000 a.C., há ainda a lenda de Scyllis e da filha Cyana, ao tempo de Xerxes.

Mas, ainda mais interessante, voltamos ao cerco de Alexandre "Manho" aos fenícios de Tiro, que usavam "tiros", a que se contrapunha a "manha" de mandar mergulhadores ao fundo do Porto de Tiro para remover os obstáculos, em 332 a.C.
Nesse manual encontra-se ainda uma figura de 1511, que ilustra a utilização de um tubo de respiração:
Ilustração de 1511, mostrando o uso de um tubo de respiração em mergulho.

Bom... e haverá quem possa ver no mergulhador uma cabeça com aspecto alienígena?
Talvez... porém, serviria para isolar a cabeça para a respiração.
Outras imagens que nos aparecem com aspecto alienígena são, por exemplo, estas:

Ora, fica mais ou menos evidente que o halo que envolve a cabeça também poderia ser visto como uma "representação de santidade".
Essa foi uma outra interpretação... mas nos tempos que correm nem sequer se pensa em santos, nem em capacetes de escafrandos, vai-se directamente para astronautas ou alienígenas.

Enfim... o que concluir?
- Não vou discutir a versão dos "restauradores brincalhões", até porque esse caminho é uma contradição com a noção de obra "restaurada", é mais uma visão de "rês tourada". Quando a cozinha aventar uma "restauração" com ares desses, acaba-se a credibilidade do serviço, entra-se no fast-food justificativo.
- Tenho dúvidas sobre a capacidade tecnológica dos Anedotos. Já percebemos que impressionavam as civilizações menos desenvolvidas com um aspecto estranho. Tanto poderiam ser homens-peixe, como homens-falcão, homens-crocodilo, etc... dependia do povo e da religião que quisessem impor. Pelo lado homem-peixe justificar-se-iam os acessórios de mergulho. Porém, creio que o mais importante seria protegerem o seu corpo... A última imagem indicia uma possível vestimenta imune a alguma flecha perdida, que os poderia vitimar. Assim, para não serem vítimas de ataques de populações hostis, ou de um atirador incauto, uma fatiota-armadura com um elmo de vidro espesso seria suficiente para lhes conferir um estatuto de imunidade, de divindade.
- Bom, e sobre os Anedotos mais não sei, mas como também percebemos, as Anedotas continuam...

14/06/2013

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publicado às 07:54

Teogonias (3)

13.08.11
Um acontecimento não desprezável, e que merece a nossa atenção como "coincidência" notável é o seguinte:
- a filosofia e o saber grego apareceram após a subida ao poder de Ciro, o Grande, e consolidação do Império Aqueménida... na Pérsia!
... mas não só, aparecem ainda pouco depois - Buda, na Índia, e Confúcio, na China.
O que tinha de notável, o novo império aqueménida?
- seguia a doutrina de Zaratustra (Zoroastro), tendo como entidade suprema Mazda (Ahura).

 
(falcão que olha o oriente?... depois no zoroastrismo as águias olhavam o ocidente 
- tal como romanas, americanas, ou mesmo nazis... a  opção dupla cabeça foi Habsburgo)

Os conflitos entre gregos e persas começam justamente com esta expansão aqueménida... (e digamos que se os gregos já escreviam da esquerda para a direita, a língua avéstica fazia o contrário, como era comum à época... apenas um detalhe, como é claro!)

A questão principal é que houve conhecimento similar que foi difundido, e iluminou subitamente vários povos, nas fronteiras da expansão aqueménida, sobretudo feita por Ciro, Cambisses e Dario. É ainda nessa altura que se dá a libertação judaica, do cativeiro na Babilónia, e se recompilam os textos bíblicos. A transição do Séc. VI a.C. para o Séc. V a.C. parece ser assim uma altura de salto no conhecimento e religião.

A expressão mais notável é a grega... podemos dizer que acordam subitamente, e começam a debitar vários tratados, com uma profundidade que não parece ter paralelo anteriormente. É evidente que o conhecimento persa não está ausente, mas muito podia estar presente pelo lado dos babilónios!
Perante a invasão persa, e adopção da nova religião, o Zoroastrismo (que os sacerdotes Medos haviam combatido) era natural algum medo face ao desequilíbrio na ordem hierárquica da classe. Os magos vão ser os novos sacerdotes do zoroastrismo.

Os egípcios não conseguem fazer face ao avanço persa, mas uma Grécia ainda arcaica, acordando para o registo histórico, vai suster de forma surpreendente o embate - em proporções que são ilustradas pela defesa das Termópilas. Havia é claro, toda a Guerra de Tróia, e até uma Guerra contra os Atlantes, que passaram a fazer parte da história que se escreveu e consolidou nessa altura, onde os gregos de então se identificaram com os aqueus, nessa altura já lendas com muitos séculos ou milhares de anos.

A Grécia passou a ser lugar de embate entre duas concepções... um modelo de racionalidade e progresso, mas ao mesmo tempo um modelo místico, que não se desligava do panteão de deuses, dos oráculos, das oferendas, das decisões tomadas pelas entranhas ou voo dos pássaros.
Levantamos a hipótese de a Grécia ser ainda um campo externo de uma guerra interna que se passava no Império Aqueménida... entre os novos magos do zoroastrismo, e os antigos sacerdotes babilónios. Os primeiros procuravam que os gregos aderissem ao império e à filosofia de Zaratustra, os segundos quereriam a resistência grega, como forma de segurar a expansão e voltar ao culto dos velhos deuses. O conflito entre racionalidade e o misticismo teve o seu episódio com Sócrates e a cicuta...
Com Aristóteles e Alexandre, a defesa grega passa a ataque macedónico, e os persas são mais uma vez surpreendentemente derrotados, a ponto de perderem o império num par de anos. Porém, as políticas de Alexandre não corresponderiam exactamente ao acordo de quem tão prontamente o acolheu e inseriu. Alexandre queria ir mais longe, para além da Pérsia, e seguiria a filosofia grega... mas morreu demasiado cedo. O império estilhaçou na divisão interna entre os generais. Preparava-se um novo império, o romano, onde mais uma vez imperou o conflito entre adeptos republicanos e os da monarquia imperial.
Com o fim da República e a instalação do Império Romano terminaram as expansões territoriais significativas, e até o génio inventivo e literário começou a estagnar. O Mundus Clausus, fechado sobre os limites antigos chegou a deixar aventuras para além das Colunas de Hércules como primeiras obras de ficção científica, com reinos alienígenas e viagens à Lua (caso de Luciano de Samosata).
Se o advento cristão teve a benção dos (reis) magos, o modelo que a igreja cristã seguiu foi um modelo de casta sacerdotal, seguido por Roma e Bizâncio, após Constantino.
Ainda assim, o Império Romano seria demasiado heterogéneo, multi-racial e multi-cultural... um imperador poderia resultar de equilíbrios de forças instáveis, e raras vezes seguia a linha hereditária. Os segredos não eram tão estanques, quanto pretendido, e flutuavam numa classe demasiado vasta...
Mais eficaz seria introduzir um factor racial, fácil distintivo... a escolha recaiu sobre os godos, que ficaram encarregues de preservar uma linhagem aristocrata, que se misturasse pouco com as populações autóctones. Como sempre, se os romanos tinham um poder esmagador e conseguiram suster a divisão do Império com Aureliano, nunca conseguiram grandes progressões a norte... já estariam designados os godos/suevos como possíveis sucessores.
Ao mesmo tempo conseguia-se um retrocesso civilizacional, que caracterizou a Idade Média, e que com Carlos Magno assumiu contornos de novo império romano, perfeitamente controlado, com hierarquias e castas bem definidas... nenhum soldado passaria a general e daí a imperador, como podia acontecer em Roma. A casta tinha o modelo ariano, afinal aquele que desde o princípio estava centrado na extensa zona de influência babilónica/persa/indiana, e serviu não só na Europa, mas ainda como modelo racial no sistema de castas da Índia. Curiosamente, é ainda ariano o nome da filosofia monofisista que os godos vão adoptar, mas por nomeação de Arius de Alexandria, seu proponente.
Esta linha ariana acaba por ser derrotada sucessivamente, afinal os magos teriam confirmado o carácter divino de Jesus Cristo,  cuja vida em muitos aspectos tem analogias assinaladas com o percurso do próprio Zaratustra. O ataque ao que restava do Império Romano será feito pelos árabes. Constantinopla resiste até quando pode... e a Península Ibérica fica também embrenhada em guerras de reconquista. O Mediterrâneo antigo mar estável, fica em permanente confronto entre duas civilizações que não se falam, divergindo profundamente na questão da vinda do Messias (e de Maomé enquanto profeta). Será esse o principal foco da discórdia entre cristãos, judeus e árabes.

A Península Ibérica ficou como território ambíguo, resistiu à invasão árabe, e também ao Império de Carlos Magno, na sua derrota em Roncesvalles (haverá uma outra Roncesvalles com Napoleão).
O mais significativo nisto é que só no momento em que o Infante D. Pedro se coloca ao serviço do Imperador Sacro-Germânico é que de alguma forma os reis portugueses se sujeitam a alguma vassalagem imperial, passam a ter o direito a ter Príncipes (deixa de haver Infantes...), e as suas viagens marítimas começam a ter chancela oficial.
A Europa tem autorização de expansão, para além das fronteiras... Portugal e Espanha vão dar relevância aos Reis Magos nalgumas nomeações que vão fazer. A situação é estranha, ao ponto da Europa estar ao mesmo tempo ameaçada com a queda de Constantinopla, até Viena e Veneza, e  ameaçar o Império Otomano nas paragens orientais com a presença portuguesa no Suez, em Ormuz, etc...
As navegações ficam de novo suspensas - há territórios proibidos... e surge novo conflito ideológico.
De um lado, uma cultura protestante procurando manter um monoteísmo, e do outro lado o catolicismo abre uma quantidade enorme de devoções secundárias. O fecho da Igreja Católica usa métodos drásticos, especialmente com a Inquisição, e continua a restringir alguns territórios. O Renascimento já iniciado, que basicamente vai repiscar e republicar toda a literatura antiga, proibida, fica em perigo.
A herança que ficara em Alexandria e Constantinopla, vai passar pela Hispânia, tendo árabes e judeus como transmissores. Mas esse privilégio hispânico cai definitivamente na Guerra dos 30 anos... e o novo avanço será dado pelo lado protestante, que também vai colaborar no esquema de ocultação, mas através de instituições secretas.
Uma coisa será o poder estabelecido e visível, outra coisa completamente diferente serão os acordos entre nações. A ocultação será mantida, e voltamos ao velho problema... como evitar que os segredos ou o poder caia na mão de um cidadão que passa a imperador?
O teste maior terá sido feito na Revolução Francesa e com Napoleão. Viram-se aí os barretes frígios, mas a Verdade não se impõe num ápice sobre a "verdade social". A "verdade social" é volátil, e precisa de um farol de referência... o resultado foi caótico, onde tudo seria alvo de dúvida, e os executores passaram a executados, no Regime de Terror que se seguiu a 1789. Napoleão foi uma solução contra esse caos, mas pelo lado indesejado... julgou deter um poder absoluto, e ao coroar-se imperador, não se terá apercebido da dimensão do problema que enfrentava (aliás, tal como terá ocorrido com D. Sebastião)... o sistema aristocrático implantado deixou de o considerar como um problema, ao ponto da Conferência de Viena ter mesmo começado antes de se ter dado a Batalha de Waterloo (que definiria o seu asilo final).

Se a anterior lógica era uma lógica repressiva, dispendiosa e que abria novas brechas de conflito, a implantação monetária definiu novos executantes e um novo sistema. A "verdade social" tinha um preço, que cada nação tinha de preservar na "fabricação"... estímulos monetários, reconhecimentos, etc, tudo iria servir para garantir a preservação dos segredos. Controlando o sistema de publicação, o sistema de divulgação, a "verdade social fabricada" poderia ser mantida, criando manobras de diversão, prémios ou ameaças veladas se necessário.
Para os inseridos no sistema não há outra solução sob pena de se cair na desordem ou fraqueza... uma parte não pode abrir o jogo unilateralmente, sob pena de ser aproveitado pela outra. Após séculos de conflito, não há confiança entre as partes para que possam deixar cair a máscara - até porque ninguém vai querer aparecer como parte fraca na fotografia. Assim, a certeza aparente é a de que o sistema se deve manter, ou então que se deve ainda fechar mais. A pressão de divulgação é vista como tentativa de uns para trocarem os lugares de poder com os outros... porque tudo é sempre visto numa lógica de poder. Será difícil distinguir entre aqueles que o querem fazer sinceramente, e os que o querem fazer aparentemente, preparando a estratégia seguinte. Uns gozam com outros, de maneira explícita ou velada para a população, mas sabendo que há muitos que percebem os códigos, coisas habitualmente infantis e perversas, aprendidas em muitos séculos de diletantismo nas cortes. Esse pretenso elitismo, fruto de um preço inato de silêncio, e de ausência de liberdade, tem assim uma recompensa incompleta num estatuto artificial, sem objectivo, nem outra finalidade que não seja a preservação.
As dívidas são essencialmente dívidas à verdade, que são remetidas ao próprio povo, pela sua felicidade na ignorância, paz e soberania iludida...

É aqui que entra de novo a filosofia de Zaratustra, "o velho camelo".
Se pensarmos que somos cindidos e uma parte de nós se separa da outra, perdendo uma parte das nossas memórias, artes e faculdades de raciocínio para a parte restante, aceitaríamos ou não regressar ao ponto em que pelo menos pudéssemos trocar informação e cooperar com essa parte separada fisicamente? - Claro que sim! Porquê... porque nos lembramos dessa identificação. A menos que uma parte seja colocada em posição de ter que escolher entre si e a outra, poderia haver dúvidas... e mesmo assim, se o próprio der mais valor à sua reflexão, poderá sacrificar-se, no que normalmente se chama amor.
Essa cooperação sente-se mais facilmente em famílias, em aldeias, sem pressões e influências externas... e é claro que está mais afastada numa cidade onde a lógica competitiva ocorre todos os dias, e em várias ocasiões.

Naturalmente um objectivo estável de um universo pensante, separado em diversas componentes, será a troca sincera de informações entre essas componentes separadas. Chama-se a isso curiosidade...
Poderá pensar-se que se podem definir estratos, mas a menos que não sejam comunicantes, de nenhuma forma, uns influenciam-se aos outros, de forma indissociável.
Pode pensar-se em fechar, como protecção... mas isso só significa uma coisa - medo!
E portanto como não está aberto ao desconhecido, ficará aberto ao medo que tem dele.
Estes são alguns dos processos que o Universo usará para um objectivo muito simples - concentrar toda a informação num único ser pensante - que será resultado da junção de todos os seres pensantes, através de canais de comunicação fiáveis. Só assim poderá observar-se em plenitude, e até observar o passado... mas isso é outra história, e por enquanto seguimos adormecidos nas estorietas de quem julga que o sonho que inventa se sobreporá à realidade.

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Teogonias (3)

13.08.11
Um acontecimento não desprezável, e que merece a nossa atenção como "coincidência" notável é o seguinte:
- a filosofia e o saber grego apareceram após a subida ao poder de Ciro, o Grande, e consolidação do Império Aqueménida... na Pérsia!
... mas não só, aparecem ainda pouco depois - Buda, na Índia, e Confúcio, na China.
O que tinha de notável, o novo império aqueménida?
- seguia a doutrina de Zaratustra (Zoroastro), tendo como entidade suprema Mazda (Ahura).

 
(falcão que olha o oriente?... depois no zoroastrismo as águias olhavam o ocidente 
- tal como romanas, americanas, ou mesmo nazis... a  opção dupla cabeça foi Habsburgo)

Os conflitos entre gregos e persas começam justamente com esta expansão aqueménida... (e digamos que se os gregos já escreviam da esquerda para a direita, a língua avéstica fazia o contrário, como era comum à época... apenas um detalhe, como é claro!)

A questão principal é que houve conhecimento similar que foi difundido, e iluminou subitamente vários povos, nas fronteiras da expansão aqueménida, sobretudo feita por Ciro, Cambisses e Dario. É ainda nessa altura que se dá a libertação judaica, do cativeiro na Babilónia, e se recompilam os textos bíblicos. A transição do Séc. VI a.C. para o Séc. V a.C. parece ser assim uma altura de salto no conhecimento e religião.

A expressão mais notável é a grega... podemos dizer que acordam subitamente, e começam a debitar vários tratados, com uma profundidade que não parece ter paralelo anteriormente. É evidente que o conhecimento persa não está ausente, mas muito podia estar presente pelo lado dos babilónios!
Perante a invasão persa, e adopção da nova religião, o Zoroastrismo (que os sacerdotes Medos haviam combatido) era natural algum medo face ao desequilíbrio na ordem hierárquica da classe. Os magos vão ser os novos sacerdotes do zoroastrismo.

Os egípcios não conseguem fazer face ao avanço persa, mas uma Grécia ainda arcaica, acordando para o registo histórico, vai suster de forma surpreendente o embate - em proporções que são ilustradas pela defesa das Termópilas. Havia é claro, toda a Guerra de Tróia, e até uma Guerra contra os Atlantes, que passaram a fazer parte da história que se escreveu e consolidou nessa altura, onde os gregos de então se identificaram com os aqueus, nessa altura já lendas com muitos séculos ou milhares de anos.

A Grécia passou a ser lugar de embate entre duas concepções... um modelo de racionalidade e progresso, mas ao mesmo tempo um modelo místico, que não se desligava do panteão de deuses, dos oráculos, das oferendas, das decisões tomadas pelas entranhas ou voo dos pássaros.
Levantamos a hipótese de a Grécia ser ainda um campo externo de uma guerra interna que se passava no Império Aqueménida... entre os novos magos do zoroastrismo, e os antigos sacerdotes babilónios. Os primeiros procuravam que os gregos aderissem ao império e à filosofia de Zaratustra, os segundos quereriam a resistência grega, como forma de segurar a expansão e voltar ao culto dos velhos deuses. O conflito entre racionalidade e o misticismo teve o seu episódio com Sócrates e a cicuta...
Com Aristóteles e Alexandre, a defesa grega passa a ataque macedónico, e os persas são mais uma vez surpreendentemente derrotados, a ponto de perderem o império num par de anos. Porém, as políticas de Alexandre não corresponderiam exactamente ao acordo de quem tão prontamente o acolheu e inseriu. Alexandre queria ir mais longe, para além da Pérsia, e seguiria a filosofia grega... mas morreu demasiado cedo. O império estilhaçou na divisão interna entre os generais. Preparava-se um novo império, o romano, onde mais uma vez imperou o conflito entre adeptos republicanos e os da monarquia imperial.
Com o fim da República e a instalação do Império Romano terminaram as expansões territoriais significativas, e até o génio inventivo e literário começou a estagnar. O Mundus Clausus, fechado sobre os limites antigos chegou a deixar aventuras para além das Colunas de Hércules como primeiras obras de ficção científica, com reinos alienígenas e viagens à Lua (caso de Luciano de Samosata).
Se o advento cristão teve a benção dos (reis) magos, o modelo que a igreja cristã seguiu foi um modelo de casta sacerdotal, seguido por Roma e Bizâncio, após Constantino.
Ainda assim, o Império Romano seria demasiado heterogéneo, multi-racial e multi-cultural... um imperador poderia resultar de equilíbrios de forças instáveis, e raras vezes seguia a linha hereditária. Os segredos não eram tão estanques, quanto pretendido, e flutuavam numa classe demasiado vasta...
Mais eficaz seria introduzir um factor racial, fácil distintivo... a escolha recaiu sobre os godos, que ficaram encarregues de preservar uma linhagem aristocrata, que se misturasse pouco com as populações autóctones. Como sempre, se os romanos tinham um poder esmagador e conseguiram suster a divisão do Império com Aureliano, nunca conseguiram grandes progressões a norte... já estariam designados os godos/suevos como possíveis sucessores.
Ao mesmo tempo conseguia-se um retrocesso civilizacional, que caracterizou a Idade Média, e que com Carlos Magno assumiu contornos de novo império romano, perfeitamente controlado, com hierarquias e castas bem definidas... nenhum soldado passaria a general e daí a imperador, como podia acontecer em Roma. A casta tinha o modelo ariano, afinal aquele que desde o princípio estava centrado na extensa zona de influência babilónica/persa/indiana, e serviu não só na Europa, mas ainda como modelo racial no sistema de castas da Índia. Curiosamente, é ainda ariano o nome da filosofia monofisista que os godos vão adoptar, mas por nomeação de Arius de Alexandria, seu proponente.
Esta linha ariana acaba por ser derrotada sucessivamente, afinal os magos teriam confirmado o carácter divino de Jesus Cristo,  cuja vida em muitos aspectos tem analogias assinaladas com o percurso do próprio Zaratustra. O ataque ao que restava do Império Romano será feito pelos árabes. Constantinopla resiste até quando pode... e a Península Ibérica fica também embrenhada em guerras de reconquista. O Mediterrâneo antigo mar estável, fica em permanente confronto entre duas civilizações que não se falam, divergindo profundamente na questão da vinda do Messias (e de Maomé enquanto profeta). Será esse o principal foco da discórdia entre cristãos, judeus e árabes.

A Península Ibérica ficou como território ambíguo, resistiu à invasão árabe, e também ao Império de Carlos Magno, na sua derrota em Roncesvalles (haverá uma outra Roncesvalles com Napoleão).
O mais significativo nisto é que só no momento em que o Infante D. Pedro se coloca ao serviço do Imperador Sacro-Germânico é que de alguma forma os reis portugueses se sujeitam a alguma vassalagem imperial, passam a ter o direito a ter Príncipes (deixa de haver Infantes...), e as suas viagens marítimas começam a ter chancela oficial.
A Europa tem autorização de expansão, para além das fronteiras... Portugal e Espanha vão dar relevância aos Reis Magos nalgumas nomeações que vão fazer. A situação é estranha, ao ponto da Europa estar ao mesmo tempo ameaçada com a queda de Constantinopla, até Viena e Veneza, e  ameaçar o Império Otomano nas paragens orientais com a presença portuguesa no Suez, em Ormuz, etc...
As navegações ficam de novo suspensas - há territórios proibidos... e surge novo conflito ideológico.
De um lado, uma cultura protestante procurando manter um monoteísmo, e do outro lado o catolicismo abre uma quantidade enorme de devoções secundárias. O fecho da Igreja Católica usa métodos drásticos, especialmente com a Inquisição, e continua a restringir alguns territórios. O Renascimento já iniciado, que basicamente vai repiscar e republicar toda a literatura antiga, proibida, fica em perigo.
A herança que ficara em Alexandria e Constantinopla, vai passar pela Hispânia, tendo árabes e judeus como transmissores. Mas esse privilégio hispânico cai definitivamente na Guerra dos 30 anos... e o novo avanço será dado pelo lado protestante, que também vai colaborar no esquema de ocultação, mas através de instituições secretas.
Uma coisa será o poder estabelecido e visível, outra coisa completamente diferente serão os acordos entre nações. A ocultação será mantida, e voltamos ao velho problema... como evitar que os segredos ou o poder caia na mão de um cidadão que passa a imperador?
O teste maior terá sido feito na Revolução Francesa e com Napoleão. Viram-se aí os barretes frígios, mas a Verdade não se impõe num ápice sobre a "verdade social". A "verdade social" é volátil, e precisa de um farol de referência... o resultado foi caótico, onde tudo seria alvo de dúvida, e os executores passaram a executados, no Regime de Terror que se seguiu a 1789. Napoleão foi uma solução contra esse caos, mas pelo lado indesejado... julgou deter um poder absoluto, e ao coroar-se imperador, não se terá apercebido da dimensão do problema que enfrentava (aliás, tal como terá ocorrido com D. Sebastião)... o sistema aristocrático implantado deixou de o considerar como um problema, ao ponto da Conferência de Viena ter mesmo começado antes de se ter dado a Batalha de Waterloo (que definiria o seu asilo final).

Se a anterior lógica era uma lógica repressiva, dispendiosa e que abria novas brechas de conflito, a implantação monetária definiu novos executantes e um novo sistema. A "verdade social" tinha um preço, que cada nação tinha de preservar na "fabricação"... estímulos monetários, reconhecimentos, etc, tudo iria servir para garantir a preservação dos segredos. Controlando o sistema de publicação, o sistema de divulgação, a "verdade social fabricada" poderia ser mantida, criando manobras de diversão, prémios ou ameaças veladas se necessário.
Para os inseridos no sistema não há outra solução sob pena de se cair na desordem ou fraqueza... uma parte não pode abrir o jogo unilateralmente, sob pena de ser aproveitado pela outra. Após séculos de conflito, não há confiança entre as partes para que possam deixar cair a máscara - até porque ninguém vai querer aparecer como parte fraca na fotografia. Assim, a certeza aparente é a de que o sistema se deve manter, ou então que se deve ainda fechar mais. A pressão de divulgação é vista como tentativa de uns para trocarem os lugares de poder com os outros... porque tudo é sempre visto numa lógica de poder. Será difícil distinguir entre aqueles que o querem fazer sinceramente, e os que o querem fazer aparentemente, preparando a estratégia seguinte. Uns gozam com outros, de maneira explícita ou velada para a população, mas sabendo que há muitos que percebem os códigos, coisas habitualmente infantis e perversas, aprendidas em muitos séculos de diletantismo nas cortes. Esse pretenso elitismo, fruto de um preço inato de silêncio, e de ausência de liberdade, tem assim uma recompensa incompleta num estatuto artificial, sem objectivo, nem outra finalidade que não seja a preservação.
As dívidas são essencialmente dívidas à verdade, que são remetidas ao próprio povo, pela sua felicidade na ignorância, paz e soberania iludida...

É aqui que entra de novo a filosofia de Zaratustra, "o velho camelo".
Se pensarmos que somos cindidos e uma parte de nós se separa da outra, perdendo uma parte das nossas memórias, artes e faculdades de raciocínio para a parte restante, aceitaríamos ou não regressar ao ponto em que pelo menos pudéssemos trocar informação e cooperar com essa parte separada fisicamente? - Claro que sim! Porquê... porque nos lembramos dessa identificação. A menos que uma parte seja colocada em posição de ter que escolher entre si e a outra, poderia haver dúvidas... e mesmo assim, se o próprio der mais valor à sua reflexão, poderá sacrificar-se, no que normalmente se chama amor.
Essa cooperação sente-se mais facilmente em famílias, em aldeias, sem pressões e influências externas... e é claro que está mais afastada numa cidade onde a lógica competitiva ocorre todos os dias, e em várias ocasiões.

Naturalmente um objectivo estável de um universo pensante, separado em diversas componentes, será a troca sincera de informações entre essas componentes separadas. Chama-se a isso curiosidade...
Poderá pensar-se que se podem definir estratos, mas a menos que não sejam comunicantes, de nenhuma forma, uns influenciam-se aos outros, de forma indissociável.
Pode pensar-se em fechar, como protecção... mas isso só significa uma coisa - medo!
E portanto como não está aberto ao desconhecido, ficará aberto ao medo que tem dele.
Estes são alguns dos processos que o Universo usará para um objectivo muito simples - concentrar toda a informação num único ser pensante - que será resultado da junção de todos os seres pensantes, através de canais de comunicação fiáveis. Só assim poderá observar-se em plenitude, e até observar o passado... mas isso é outra história, e por enquanto seguimos adormecidos nas estorietas de quem julga que o sonho que inventa se sobreporá à realidade.

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