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A independência portuguesa tem aspectos de acidente circunstancial.
Do ponto de vista das populações não é muito natural a quebra de ligação à Galiza, ainda que as dioceses de Braga e Santiago se definissem por conventos territoriais distintos. A Galiza e Minho não faziam parte da Lusitania romana, mas praticamente definiram em conjunto o reino suevo que sucedeu.
O reino de Leão seria um natural sucessor dessa junção, e a independência portuguesa acaba por mergulhar mais numa questão de heranças e no sucesso de Afonso VI, rei de Leão, avô de D. Afonso Henriques, que conquistando os tronos aos irmãos se consagra Imperador da Hispânia.
O final do Séc. XI é o tempo de Afonso VI, mas também do lendário Cid, o Campeador, e do início das Cruzadas que levam Godofredo de Bulhão à conquista de Jerusalém.
A luta contra os muçulmanos assume aspectos decisivos que conquistam grande adesão das populações e torna-se assim numa época lendária, com duas frentes bem definidas - uma na Península Ibérica e outra directamente na Terra Santa.

Afonso VI, então já rei de Leão e Castela desde 1072, para além de anexar Toledo e a sua taifa, em 1085, chega mesmo a conquistar Lisboa e Sintra. A posição das taifas muçulmanas ibéricas fica fragilizada, o que origina uma resposta com auxílio árabe do norte de África, na Batalha de Zalaca, em 1086, onde Afonso VI defronta quatro reis árabes, e onde nem mesmo o lendário Cid evitará a derrota cristã. Grande parte dos territórios conquistados, inclusive Lisboa, regressará a mãos muçulmanas.

Neste final de século inicia-se um movimento dirigido contra os reinos muçulmanos, onde uma boa parte da nobreza europeia, especialmente das regiões francesas, irá procurar a sua glória. Se Cid tinha conquistado a sua quota de fama nas canções populares, apesar da derrota em Zalaca, o estatuto de Godofredo de Bulhão, ao reconquistar Jerusalém em 1099, foi elevado quase a uma segunda vinda de Cristo.
Os irmãos de Bulhão, do condado de Bolonha (Boulogne-sur-mer, Bouillon), tinham a sua mãe colocada como Santa Ida... e a Ida era a reconquista da Terra Santa. Após Godofredo, seria o irmão Balduíno o primeiro rei de Jerusalém. O nome Balduíno seria usado pela Casa da Bélgica para afirmar essa filiação a Bouillon, ou seja, ao Bulhão e a tais heróis da reconquista cristã. A empresa que o Infante D. Henrique lançará contra Tanger terá a designação de "Ida", suficientemente ambígua para invocar a filiação ao Bulhão.

É nesta parte da história que entram os condes Raimundo e Henrique, que irão casar com Urraca e Teresa, filhas do imperador Afonso VI. Teresa é a mãe de D. Afonso Henriques, e Urraca, mais velha é a sucessora do pai na herança imperial. Dado esse estatuto imperial, Teresa podia mesmo assinar como rainha de Portugal, mantendo vassalagem à irmã.
D. Urraca ao centro, com a irmã Teresa (à direita) 
e o posterior amante Fernão Peres Trava.

Raimundo e Henrique são tidos como borgonheses, porém Damião de Goes vai fazer a sua investigação pessoal, concluindo que Henrique seria afinal descendente da linhagem do Bulhão. Já abordámos a sustentabilidade dessa tese (com a colaboração de Calisto) aqui:


O casamento de Teresa com Henrique é em 1093, dois anos antes da partida de Godofredo que irá liderar a 1ª Cruzada com sucesso em 1099. Portanto, seria algo natural que Teresa, filha ilegítima de Afonso VI tivesse um casamento com menor importância do que o de Urraca, herdeira do trono. Raimundo poderia ser  filho do Conde da Borgonha, mas a documentação de Goes aponta para que Henrique não fosse seu primo.
Esse casamento de menor importância de Teresa, revelar-se-ia afinal, pouco depois, como uma herança significativa para D. Afonso Henriques se o pai Henrique fosse sobrinho dos reis de Jerusalém.

Pode assim perceber-se que a situação ficasse incómoda para D. Urraca e para o filho Afonso Raimundes, futuro Afonso VII, primo de Afonso Henriques, que iria consagrar-se como Imperador da Hispânia. O casamento de Teresa, passava a ter uma importância que transcenderia o de Urraca, e é natural que esses factos tivessem procurado ser abafados à época. Isto iria no sentido de confirmar a tese de Damião de Goes, e a versão dos dois primos borgonheses seria um remendo conveniente à história.

O Conde D. Henrique, para além de se ter notabilizado numa efémera conquista de Sintra em 1109, terá mesmo visitado o Reino de Jerusalém, onde supostamente reinaria o tio Balduíno. Esse seria um trunfo de Teresa, uma filha ilegítima, que passa a assinar como "rainha", ainda que mantivesse vassalagem à irmã.
Quando o problema passa para os filhos, D. Afonso Henriques vai mesmo recusar a vassalagem ao primo imperador, Afonso VII.

É assim neste contexto que a Batalha de Ourique assume uma importância significativa.
Afonso VI tinha conseguido conquistar territórios até Lisboa e Sintra, e o Conde D. Henrique teria mesmo recuperado Sintra, só que muito provavelmente de forma diferente.
Repare-se que a incursão não é a Leiria, que seria o castelo mais próximo, vai mais longe, a Sintra.

Tal conquista efémera sugere uma abordagem naval. Um desembarque em território inimigo.
Esta seria a mudança que se iria introduzir nas conquistas portuguesas. Está bem documentado que a conquista de Lisboa se deveu a um auxílio com cruzados estrangeiros que rumavam à Terra Santa.
Essa deve ter sido a estratégia tomada pelo Conde D. Henrique no ataque a Sintra e seguida pelo filho Afonso Henriques no ataque que o levou a Ourique.
Há vários dados que sugerem essa abordagem, e que expusemos no primeiro texto sobre este tópico:


A isso acresce uma preciosa informação que nos foi facultada agora pelo comentador apostolo, e que passo a citar:
Nos almanaques alentejanos dos anos 1950-60 o arqueólogo Prof. Abel Viana, põe a hipótese, segundo lendas locais, que D. Afonso Henriques subiu o Rio Mira e atacou o Castro da Cola - Marachique, vindo os seus soldados dissimulados com estevas - notar que nessa altura os Cruzados ajudaram os portugueses com os seus barcos e armas, na conquista de Lisboa, Santarém, etc. Havendo provas muito recentes de que Ricardo Coração de Leão levou os seus barcos até Odemira - para abastecimento, na passagem para o Médio Oriente. (Até aos anos de 1950 os veleiros de 2 mastros atracavam no cais de Odemira).
Portanto, por outras razões, o Prof. Abel Viana chegou praticamente à mesma conclusão, ou seja que o ataque a Ourique teria começado por Odemira, através de iniciativa naval.
Isto não deve surpreender, porque a novidade trazida pelo movimento dos Cruzados em direcção à Terra Santa iria fazer-se sobretudo por via marítima e implicaria algum domínio dos mares.

Esse era o contributo novo que Afonso Henriques trazia com o novo reino de Portugal, o que se for acrescido à eventual descendência do Bulhão, lhe daria razões suficientes para reclamar para si um reino independente que respondesse apenas perante o papa, e não no quadro peninsular, de vassalagem ao primo. Em 1143, ainda antes da conquista de Lisboa, Inocêncio II reconhece o título de rei, mas é só em 1179, pouco antes de morrer, que Afonso Henriques verá reconhecida a dependência exclusiva pelo Papa Alexandre III, numa altura em que o primo morrera, e já não havia imperador da Hispânia.

Tem-se procurado questionar ou desvalorizar a Batalha de Ourique, porém parece pouco verosímil que Afonso VII de Leão e Castela impondo-se como imperador ibérico tivesse anuído à constituição de um novo reino sem nenhuma batalha ou facto decisivo. Sem a importância de Ourique, ou a ascendência, os feitos de Afonso Henriques não justificariam um Tratado de Zamora, onde surge como igual perante o imperador, ainda antes da conquista de Lisboa. Para a consolidação dessa independência será importante as concessões feitas às ordens religiosas, nomeadamente à Ordem de Cister do Mosteiro de Alcobaça.
Estátua de D. Afonso Henriques no Arco da Memória
Actualmente junto ao Castelo de Leiria. [foto]

A própria invocação de S. Vicente, e da barca com os corvos, do brasão lisboeta, sugerem uma extensão de domínio naval que se estendia até ao Cabo de S. Vicente, e que teria como figura principal o almirante D. Fuas Roupinho. As incursões de resposta muçulmana que se seguiram vieram pela parte terrestre, e a linha marítima esteve desde essa altura consolidada, com o apoio das rotas dos Cruzados que se dirigiam à Terra Santa por via marítima. O reino português seria constituído por essa ligação à reconquista de Jerusalém, tema que seria perseguido como motivação militar nos descobrimentos - a táctica da cunha no ataque pelo Suez por via do Mar Vermelho.
Acabava por resultar dessa proeza dos Cruzados liderados pela família do Bulhão, Godofredo e Balduíno, prováveis tios-avôs de Afonso Henriques... mas também da aceitação natural de um reino no contexto imperial ibérico. A península só voltaria a ter imperadores com Carlos V e já no contexto europeu.
A tentativa anterior de colocar a península ibérica sob controlo do Sacro-Império Germânico tinha sido derrotada em Roncesvalles, quando os exércitos de Carlos Magno foram derrotados pelos bascos nos desfiladeiros dos Pirinéus. Curiosamente, a Canção de Rolando ou a saga Orlando Furioso, iriam contar uma história diferente, de guerra entre o exército de Carlos Magno e os sarracenos, quando na realidade tinham sido os próprios ibéricos, os bascos, a repelir a invasão. A península afinal só cederia a uma invasão externa com os exércitos de Napoleão.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 06:09

A independência portuguesa tem aspectos de acidente circunstancial.
Do ponto de vista das populações não é muito natural a quebra de ligação à Galiza, ainda que as dioceses de Braga e Santiago se definissem por conventos territoriais distintos. A Galiza e Minho não faziam parte da Lusitania romana, mas praticamente definiram em conjunto o reino suevo que sucedeu.
O reino de Leão seria um natural sucessor dessa junção, e a independência portuguesa acaba por mergulhar mais numa questão de heranças e no sucesso de Afonso VI, rei de Leão, avô de D. Afonso Henriques, que conquistando os tronos aos irmãos se consagra Imperador da Hispânia.
O final do Séc. XI é o tempo de Afonso VI, mas também do lendário Cid, o Campeador, e do início das Cruzadas que levam Godofredo de Bulhão à conquista de Jerusalém.
A luta contra os muçulmanos assume aspectos decisivos que conquistam grande adesão das populações e torna-se assim numa época lendária, com duas frentes bem definidas - uma na Península Ibérica e outra directamente na Terra Santa.

Afonso VI, então já rei de Leão e Castela desde 1072, para além de anexar Toledo e a sua taifa, em 1085, chega mesmo a conquistar Lisboa e Sintra. A posição das taifas muçulmanas ibéricas fica fragilizada, o que origina uma resposta com auxílio árabe do norte de África, na Batalha de Zalaca, em 1086, onde Afonso VI defronta quatro reis árabes, e onde nem mesmo o lendário Cid evitará a derrota cristã. Grande parte dos territórios conquistados, inclusive Lisboa, regressará a mãos muçulmanas.

Neste final de século inicia-se um movimento dirigido contra os reinos muçulmanos, onde uma boa parte da nobreza europeia, especialmente das regiões francesas, irá procurar a sua glória. Se Cid tinha conquistado a sua quota de fama nas canções populares, apesar da derrota em Zalaca, o estatuto de Godofredo de Bulhão, ao reconquistar Jerusalém em 1099, foi elevado quase a uma segunda vinda de Cristo.
Os irmãos de Bulhão, do condado de Bolonha (Boulogne-sur-mer, Bouillon), tinham a sua mãe colocada como Santa Ida... e a Ida era a reconquista da Terra Santa. Após Godofredo, seria o irmão Balduíno o primeiro rei de Jerusalém. O nome Balduíno seria usado pela Casa da Bélgica para afirmar essa filiação a Bouillon, ou seja, ao Bulhão e a tais heróis da reconquista cristã. A empresa que o Infante D. Henrique lançará contra Tanger terá a designação de "Ida", suficientemente ambígua para invocar a filiação ao Bulhão.

É nesta parte da história que entram os condes Raimundo e Henrique, que irão casar com Urraca e Teresa, filhas do imperador Afonso VI. Teresa é a mãe de D. Afonso Henriques, e Urraca, mais velha é a sucessora do pai na herança imperial. Dado esse estatuto imperial, Teresa podia mesmo assinar como rainha de Portugal, mantendo vassalagem à irmã.
D. Urraca ao centro, com a irmã Teresa (à direita) 
e o posterior amante Fernão Peres Trava.

Raimundo e Henrique são tidos como borgonheses, porém Damião de Goes vai fazer a sua investigação pessoal, concluindo que Henrique seria afinal descendente da linhagem do Bulhão. Já abordámos a sustentabilidade dessa tese (com a colaboração de Calisto) aqui:


O casamento de Teresa com Henrique é em 1093, dois anos antes da partida de Godofredo que irá liderar a 1ª Cruzada com sucesso em 1099. Portanto, seria algo natural que Teresa, filha ilegítima de Afonso VI tivesse um casamento com menor importância do que o de Urraca, herdeira do trono. Raimundo poderia ser  filho do Conde da Borgonha, mas a documentação de Goes aponta para que Henrique não fosse seu primo.
Esse casamento de menor importância de Teresa, revelar-se-ia afinal, pouco depois, como uma herança significativa para D. Afonso Henriques se o pai Henrique fosse sobrinho dos reis de Jerusalém.

Pode assim perceber-se que a situação ficasse incómoda para D. Urraca e para o filho Afonso Raimundes, futuro Afonso VII, primo de Afonso Henriques, que iria consagrar-se como Imperador da Hispânia. O casamento de Teresa, passava a ter uma importância que transcenderia o de Urraca, e é natural que esses factos tivessem procurado ser abafados à época. Isto iria no sentido de confirmar a tese de Damião de Goes, e a versão dos dois primos borgonheses seria um remendo conveniente à história.

O Conde D. Henrique, para além de se ter notabilizado numa efémera conquista de Sintra em 1109, terá mesmo visitado o Reino de Jerusalém, onde supostamente reinaria o tio Balduíno. Esse seria um trunfo de Teresa, uma filha ilegítima, que passa a assinar como "rainha", ainda que mantivesse vassalagem à irmã.
Quando o problema passa para os filhos, D. Afonso Henriques vai mesmo recusar a vassalagem ao primo imperador, Afonso VII.

É assim neste contexto que a Batalha de Ourique assume uma importância significativa.
Afonso VI tinha conseguido conquistar territórios até Lisboa e Sintra, e o Conde D. Henrique teria mesmo recuperado Sintra, só que muito provavelmente de forma diferente.
Repare-se que a incursão não é a Leiria, que seria o castelo mais próximo, vai mais longe, a Sintra.

Tal conquista efémera sugere uma abordagem naval. Um desembarque em território inimigo.
Esta seria a mudança que se iria introduzir nas conquistas portuguesas. Está bem documentado que a conquista de Lisboa se deveu a um auxílio com cruzados estrangeiros que rumavam à Terra Santa.
Essa deve ter sido a estratégia tomada pelo Conde D. Henrique no ataque a Sintra e seguida pelo filho Afonso Henriques no ataque que o levou a Ourique.
Há vários dados que sugerem essa abordagem, e que expusemos no primeiro texto sobre este tópico:


A isso acresce uma preciosa informação que nos foi facultada agora pelo comentador apostolo, e que passo a citar:
Nos almanaques alentejanos dos anos 1950-60 o arqueólogo Prof. Abel Viana, põe a hipótese, segundo lendas locais, que D. Afonso Henriques subiu o Rio Mira e atacou o Castro da Cola - Marachique, vindo os seus soldados dissimulados com estevas - notar que nessa altura os Cruzados ajudaram os portugueses com os seus barcos e armas, na conquista de Lisboa, Santarém, etc. Havendo provas muito recentes de que Ricardo Coração de Leão levou os seus barcos até Odemira - para abastecimento, na passagem para o Médio Oriente. (Até aos anos de 1950 os veleiros de 2 mastros atracavam no cais de Odemira).
Portanto, por outras razões, o Prof. Abel Viana chegou praticamente à mesma conclusão, ou seja que o ataque a Ourique teria começado por Odemira, através de iniciativa naval.
Isto não deve surpreender, porque a novidade trazida pelo movimento dos Cruzados em direcção à Terra Santa iria fazer-se sobretudo por via marítima e implicaria algum domínio dos mares.

Esse era o contributo novo que Afonso Henriques trazia com o novo reino de Portugal, o que se for acrescido à eventual descendência do Bulhão, lhe daria razões suficientes para reclamar para si um reino independente que respondesse apenas perante o papa, e não no quadro peninsular, de vassalagem ao primo. Em 1143, ainda antes da conquista de Lisboa, Inocêncio II reconhece o título de rei, mas é só em 1179, pouco antes de morrer, que Afonso Henriques verá reconhecida a dependência exclusiva pelo Papa Alexandre III, numa altura em que o primo morrera, e já não havia imperador da Hispânia.

Tem-se procurado questionar ou desvalorizar a Batalha de Ourique, porém parece pouco verosímil que Afonso VII de Leão e Castela impondo-se como imperador ibérico tivesse anuído à constituição de um novo reino sem nenhuma batalha ou facto decisivo. Sem a importância de Ourique, ou a ascendência, os feitos de Afonso Henriques não justificariam um Tratado de Zamora, onde surge como igual perante o imperador, ainda antes da conquista de Lisboa. Para a consolidação dessa independência será importante as concessões feitas às ordens religiosas, nomeadamente à Ordem de Cister do Mosteiro de Alcobaça.
Estátua de D. Afonso Henriques no Arco da Memória
Actualmente junto ao Castelo de Leiria. [foto]

A própria invocação de S. Vicente, e da barca com os corvos, do brasão lisboeta, sugerem uma extensão de domínio naval que se estendia até ao Cabo de S. Vicente, e que teria como figura principal o almirante D. Fuas Roupinho. As incursões de resposta muçulmana que se seguiram vieram pela parte terrestre, e a linha marítima esteve desde essa altura consolidada, com o apoio das rotas dos Cruzados que se dirigiam à Terra Santa por via marítima. O reino português seria constituído por essa ligação à reconquista de Jerusalém, tema que seria perseguido como motivação militar nos descobrimentos - a táctica da cunha no ataque pelo Suez por via do Mar Vermelho.
Acabava por resultar dessa proeza dos Cruzados liderados pela família do Bulhão, Godofredo e Balduíno, prováveis tios-avôs de Afonso Henriques... mas também da aceitação natural de um reino no contexto imperial ibérico. A península só voltaria a ter imperadores com Carlos V e já no contexto europeu.
A tentativa anterior de colocar a península ibérica sob controlo do Sacro-Império Germânico tinha sido derrotada em Roncesvalles, quando os exércitos de Carlos Magno foram derrotados pelos bascos nos desfiladeiros dos Pirinéus. Curiosamente, a Canção de Rolando ou a saga Orlando Furioso, iriam contar uma história diferente, de guerra entre o exército de Carlos Magno e os sarracenos, quando na realidade tinham sido os próprios ibéricos, os bascos, a repelir a invasão. A península afinal só cederia a uma invasão externa com os exércitos de Napoleão.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 06:09

Aparentemente, o único registo de estradas romanas está contido num manuscrito do Séc. XIII, a chamada "Tabula Peutingeriana", um extenso mapa mundi distorcido, privilegiando a topologia à topografia (ao estilo dos esquemas de linhas de metropolitano, hoje em dia). A versão sobrevivente, num museu de Viena, está amputada da parte mais ocidental, com a Península Ibérica, Ilhas Britânicas e Marrocos. Foi reconstruída posteriormente no final do Séc. XIX, da forma que se apresenta:

Tabela Peutingeriana com a extensão ibérica
Tabula Peutingeriana - Detalhe da reconstrução da Península Ibérica (Konrad Miller, 1898).

A Tabula Peutingeriana terá sido encontrada por Conrad Celtes na cidade de Worms, sobre o Reno, uma cidade que teria como designação celta Barbetomagus, centro da saga dos Nibelungos. Talvez a versão original da Tabula estivesse ainda completa, mas Conrad Celtes não a conseguiu publicar, tendo ficada associada a Peutinger, antiquário que a traz à luz em 1508 (já mutilada?) e lhe dará o corrente nome.
Brazão da cidade de Worms - Barbetomagus

É interessante esta ligação a Worms, e ao reino de Gunther da Borgonha, entre 406-411 d.C, com a migração de Alanos, Vândalos, e Suevos, que terminará depois na Península Ibérica, pois é nessa altura que o poder imperial romano de Honório começará a ser ilusório. Nestas paragens do Reno consta que Gunther iria controlar o anterior pretendente ao império, Jovinius. Este é um dos enredos da saga dos Nibelungos que envolve ainda o fim do reino de Gunther pelo ataque dos romanos com a ajuda de mercenários hunos. Siegfried é personagem central, e as figuras de Krimhilda e Brunhilda lembram ainda a posterior querela entre Fredegunda e Brunilda, já sob implantação merovíngia. Já tinhamos referido que o mapa de Piri Reis reporta a chegada da informação por via dos francos (burgúndios ou vândalos?) que fugiram do Egipto, aquando da expansão árabe em 641 d.C.
 
Execução da visigoda Brunilda, rainha da Austrásia (à esq.)
Siegfried e Krimhilda, com um falcão (à dir.)

A parte inicial da saga dos Nibelungos, começa com um sonho de Krimhilda sobre um falcão morto por duas águias, adicionando a decoração. As águias podem estar associadas aos dois impérios que acabaram por destruir o reino de Gunther, o romano e o tártaro, mongol, dos hunos. Quanto ao falcão, podemos associar ao legado cultural egípcio...
Num mundo em que a informação era controlada em cidades isoladas, havia um meio expedito de passar informação, já usado ao tempo dos egípcios e persas... o pombo-correio. Contra os pombos, havia outra arma... os falcões! Portanto, convém aqui explicitar que o falcão, enquanto representação de Hórus e também símbolo aqueménida de Ciro, torna implícito um "olho apurado" e ainda um interceptor de comunicação, de mensagens.

Assim, quando aparece um Colombo passando a mensagem d'A Mérica, será figurativamente um pombo que escapa aos falcões, que lançavam o seu olhar acutilante e as suas garras para manter o mundo restrito às fronteiras da Antiguidade, representadas na Tabula Peutingeriana.
Também de forma columbófila, encontramos o deus Hermes/Mercúrio, filho de uma "pomba" que é Maia, já que as Pleiades são pombas (gr. peleiades) filhas do titã Atlas, inseridas na constelação de Touro, na sua fuga ao gigante caçador Orion (ou Oriœnte). Também no cristianismo, a mensagem que Maria recebe é figurativamente representada, enquanto Espírito Santo, por um pombo, sem corpo de autor, relevando apenas o conteúdo. A utilização da columbofilia na expedição de mensagens teve como contraponto o desenvolvimento da falcoaria, como actividade nobre, especialmente nas monarquias medievais.

A saga dos Nibelungos, com Gunther de Borgonha, no séc. V, será escrita no séc. XII, e depois adaptada por Wagner, no magnífico Anel dos Nibelungos, sendo reincorporada no nacionalismo alemão, então mutilado pela cisão do Sacro-Império Germânico no Tratado de Vestfália, mostrando como aquela encruzilhada cultural no Reno se arrastaria por séculos e por diferentes paragens.
A migração ibérica dos suevos, aliados de Gunther, irá definir um isolamento histórico, que estará na origem de substanciais diferenças com a parte sob domínio visigodo. Desse lado temos a constituição de Espanha, e do lado suevo a constituição de Portugal, um reino que irá definir uma origem dinástica de Borgonha, apesar da ligação a Bolonha evidenciada por Damião de Goes. Os limites do mundo da Tabula Peutingeriana seriam ultrapassados justamente com a autorizada expansão portuguesa, conseguida pelo Infante D. Henrique, e por uma motivação comercial própria de Hermes.

Há duas concepções de Hermes, que acabam por se misturar. Na mitologia grega, sendo um deus mensageiro ligado a viagens, ao comércio, tem também um aspecto menos honesto, ludibrioso, que o liga aos trapaceiros. A mensagem, tendo em vista uma transacção comercial, pode ser distorcida com o intuito de um lucro facilitado. Assim, subjacente a um poder de moto comercial está também uma mensagem deturpada, sugestiva, como acontece na propaganda. O referencial de verdade colectiva, anteriormente representado pelo poder monárquico, foi com a ascensão comercial substituído na governação, onde a balança do comércio passou a balança de poder, numa hierarquia segura pelos segredos das transações, pelas ilusões criadas, que se pode dar ao luxo de responsabilizar os cidadãos pelas suas escolhas, sem nunca perder o controlo sobre a mensagem publicitada, e assim obter o maior controlo da verdade colectiva, à escala mundial. A ideia subjacente deixou de ser a falcoaria, como meio de caçar pombos... ao inundar os céus de pombos, inunda-se o meio informativo de mensagens, deixando como efeito residual e marginal qualquer mensagem incómoda.
caduceu de Hermes, para além das asas do mensageiro, mostra o confronto entre duas serpentes, o confronto entre o conhecimento e a sua oposição, um lado real e um lado ficcionado, serpentes que podem mudar de pele, enrolando-se num bastão de poder.
A outra concepção é a de Hermes Trimegisto, ligada ao gnosticismo, que esteve inicialmente ligado ao cristianismo, e que surge como ligação ptolomaica entre o deus grego Hermes e o egípcio Tot, que já referimos, mencionando a ligação à tradição maçónica. Aqui a simbologia destoutro Hermes embebe em filosofia fundamental (que se encontra também em Parménides), e é representado equilibrando uma esfera armilar, semelhante à que encontramos na bandeira portuguesa, e que remonta a D. João II e D. Manuel.
Se os descobrimentos levaram à consolidação comercial através das Companhias das Índias, dando asas um desenvolvimento técnico e social, as duas serpentes de conhecimento, real e ficcional, confundem-se e têm deixado submerso o homónimo Hermes, o total de Tot que aparece nas três componentes do Trimegisto (tendo a sua Tabula Esmeralda sido chamada o "segredo dos segredos").


 
Hermes Trimegisto e a Tabula Esmeralda (que surge na literatura árabe como
referência de carta de Aristóteles a Alexandre Magno) 

Para além do conhecimento filosófico, gnóstico, tido como secreto, haveria outros segredos de ouro na tradição egípcia, ptolomaica. Em particular, deveria estar conhecimento secreto que justificou limitar o mundo ocidental às fronteiras atlânticas, ao limite persa, e a um trópico acima de Cancer. O mundo em que "todos os caminhos iam dar a Roma", é o mundo da Tabula Peutingeriana.
Hércules abriu a passagem pelo Atlas que segurava o mundo antigo nos ombros, deixando o Mediterrâneo de ser limite navegável, abrindo caminho para as ilhas britânicas. Nova abertura foi lentamente conseguida pela dinastia de Avis, ensinando a cavalgar em toda a sela, domesticando os garranos. Adamastor cedeu e o mundo abriu-se o suficiente para que todo o Atlas viesse a ser revelado uns séculos depois.
Mas se os Atlas de hoje nos mostram muito mais que a Tabula Peutingeriana, também é certo que outras Pleiades, as pombas filhas de Atlas, permanecem sob segredo, e a diferença entre o ocultado e o descoberto será da mesma monta.




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publicado às 17:25

Aparentemente, o único registo de estradas romanas está contido num manuscrito do Séc. XIII, a chamada "Tabula Peutingeriana", um extenso mapa mundi distorcido, privilegiando a topologia à topografia (ao estilo dos esquemas de linhas de metropolitano, hoje em dia). A versão sobrevivente, num museu de Viena, está amputada da parte mais ocidental, com a Península Ibérica, Ilhas Britânicas e Marrocos. Foi reconstruída posteriormente no final do Séc. XIX, da forma que se apresenta:

Tabela Peutingeriana com a extensão ibérica
Tabula Peutingeriana - Detalhe da reconstrução da Península Ibérica (Konrad Miller, 1898).

A Tabula Peutingeriana terá sido encontrada por Conrad Celtes na cidade de Worms, sobre o Reno, uma cidade que teria como designação celta Barbetomagus, centro da saga dos Nibelungos. Talvez a versão original da Tabula estivesse ainda completa, mas Conrad Celtes não a conseguiu publicar, tendo ficada associada a Peutinger, antiquário que a traz à luz em 1508 (já mutilada?) e lhe dará o corrente nome.
Brazão da cidade de Worms - Barbetomagus

É interessante esta ligação a Worms, e ao reino de Gunther da Borgonha, entre 406-411 d.C, com a migração de Alanos, Vândalos, e Suevos, que terminará depois na Península Ibérica, pois é nessa altura que o poder imperial romano de Honório começará a ser ilusório. Nestas paragens do Reno consta que Gunther iria controlar o anterior pretendente ao império, Jovinius. Este é um dos enredos da saga dos Nibelungos que envolve ainda o fim do reino de Gunther pelo ataque dos romanos com a ajuda de mercenários hunos. Siegfried é personagem central, e as figuras de Krimhilda e Brunhilda lembram ainda a posterior querela entre Fredegunda e Brunilda, já sob implantação merovíngia. Já tinhamos referido que o mapa de Piri Reis reporta a chegada da informação por via dos francos (burgúndios ou vândalos?) que fugiram do Egipto, aquando da expansão árabe em 641 d.C.
 
Execução da visigoda Brunilda, rainha da Austrásia (à esq.)
Siegfried e Krimhilda, com um falcão (à dir.)

A parte inicial da saga dos Nibelungos, começa com um sonho de Krimhilda sobre um falcão morto por duas águias, adicionando a decoração. As águias podem estar associadas aos dois impérios que acabaram por destruir o reino de Gunther, o romano e o tártaro, mongol, dos hunos. Quanto ao falcão, podemos associar ao legado cultural egípcio...
Num mundo em que a informação era controlada em cidades isoladas, havia um meio expedito de passar informação, já usado ao tempo dos egípcios e persas... o pombo-correio. Contra os pombos, havia outra arma... os falcões! Portanto, convém aqui explicitar que o falcão, enquanto representação de Hórus e também símbolo aqueménida de Ciro, torna implícito um "olho apurado" e ainda um interceptor de comunicação, de mensagens.

Assim, quando aparece um Colombo passando a mensagem d'A Mérica, será figurativamente um pombo que escapa aos falcões, que lançavam o seu olhar acutilante e as suas garras para manter o mundo restrito às fronteiras da Antiguidade, representadas na Tabula Peutingeriana.
Também de forma columbófila, encontramos o deus Hermes/Mercúrio, filho de uma "pomba" que é Maia, já que as Pleiades são pombas (gr. peleiades) filhas do titã Atlas, inseridas na constelação de Touro, na sua fuga ao gigante caçador Orion (ou Oriœnte). Também no cristianismo, a mensagem que Maria recebe é figurativamente representada, enquanto Espírito Santo, por um pombo, sem corpo de autor, relevando apenas o conteúdo. A utilização da columbofilia na expedição de mensagens teve como contraponto o desenvolvimento da falcoaria, como actividade nobre, especialmente nas monarquias medievais.

A saga dos Nibelungos, com Gunther de Borgonha, no séc. V, será escrita no séc. XII, e depois adaptada por Wagner, no magnífico Anel dos Nibelungos, sendo reincorporada no nacionalismo alemão, então mutilado pela cisão do Sacro-Império Germânico no Tratado de Vestfália, mostrando como aquela encruzilhada cultural no Reno se arrastaria por séculos e por diferentes paragens.
A migração ibérica dos suevos, aliados de Gunther, irá definir um isolamento histórico, que estará na origem de substanciais diferenças com a parte sob domínio visigodo. Desse lado temos a constituição de Espanha, e do lado suevo a constituição de Portugal, um reino que irá definir uma origem dinástica de Borgonha, apesar da ligação a Bolonha evidenciada por Damião de Goes. Os limites do mundo da Tabula Peutingeriana seriam ultrapassados justamente com a autorizada expansão portuguesa, conseguida pelo Infante D. Henrique, e por uma motivação comercial própria de Hermes.

Há duas concepções de Hermes, que acabam por se misturar. Na mitologia grega, sendo um deus mensageiro ligado a viagens, ao comércio, tem também um aspecto menos honesto, ludibrioso, que o liga aos trapaceiros. A mensagem, tendo em vista uma transacção comercial, pode ser distorcida com o intuito de um lucro facilitado. Assim, subjacente a um poder de moto comercial está também uma mensagem deturpada, sugestiva, como acontece na propaganda. O referencial de verdade colectiva, anteriormente representado pelo poder monárquico, foi com a ascensão comercial substituído na governação, onde a balança do comércio passou a balança de poder, numa hierarquia segura pelos segredos das transações, pelas ilusões criadas, que se pode dar ao luxo de responsabilizar os cidadãos pelas suas escolhas, sem nunca perder o controlo sobre a mensagem publicitada, e assim obter o maior controlo da verdade colectiva, à escala mundial. A ideia subjacente deixou de ser a falcoaria, como meio de caçar pombos... ao inundar os céus de pombos, inunda-se o meio informativo de mensagens, deixando como efeito residual e marginal qualquer mensagem incómoda.
caduceu de Hermes, para além das asas do mensageiro, mostra o confronto entre duas serpentes, o confronto entre o conhecimento e a sua oposição, um lado real e um lado ficcionado, serpentes que podem mudar de pele, enrolando-se num bastão de poder.
A outra concepção é a de Hermes Trimegisto, ligada ao gnosticismo, que esteve inicialmente ligado ao cristianismo, e que surge como ligação ptolomaica entre o deus grego Hermes e o egípcio Tot, que já referimos, mencionando a ligação à tradição maçónica. Aqui a simbologia destoutro Hermes embebe em filosofia fundamental (que se encontra também em Parménides), e é representado equilibrando uma esfera armilar, semelhante à que encontramos na bandeira portuguesa, e que remonta a D. João II e D. Manuel.
Se os descobrimentos levaram à consolidação comercial através das Companhias das Índias, dando asas um desenvolvimento técnico e social, as duas serpentes de conhecimento, real e ficcional, confundem-se e têm deixado submerso o homónimo Hermes, o total de Tot que aparece nas três componentes do Trimegisto (tendo a sua Tabula Esmeralda sido chamada o "segredo dos segredos").

 
Hermes Trimegisto e a Tabula Esmeralda (que surge na literatura árabe como
referência de carta de Aristóteles a Alexandre Magno) 

Para além do conhecimento filosófico, gnóstico, tido como secreto, haveria outros segredos de ouro na tradição egípcia, ptolomaica. Em particular, deveria estar conhecimento secreto que justificou limitar o mundo ocidental às fronteiras atlânticas, ao limite persa, e a um trópico acima de Cancer. O mundo em que "todos os caminhos iam dar a Roma", é o mundo da Tabula Peutingeriana.
Hércules abriu a passagem pelo Atlas que segurava o mundo antigo nos ombros, deixando o Mediterrâneo de ser limite navegável, abrindo caminho para as ilhas britânicas. Nova abertura foi lentamente conseguida pela dinastia de Avis, ensinando a cavalgar em toda a sela, domesticando os garranos. Adamastor cedeu e o mundo abriu-se o suficiente para que todo o Atlas viesse a ser revelado uns séculos depois.
Mas se os Atlas de hoje nos mostram muito mais que a Tabula Peutingeriana, também é certo que outras Pleiades, as pombas filhas de Atlas, permanecem sob segredo, e a diferença entre o ocultado e o descoberto será da mesma monta.




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publicado às 17:25

Aparentemente, o único registo de estradas romanas está contido num manuscrito do Séc. XIII, a chamada "Tabula Peutingeriana", um extenso mapa mundi distorcido, privilegiando a topologia à topografia (ao estilo dos esquemas de linhas de metropolitano, hoje em dia). A versão sobrevivente, num museu de Viena, está amputada da parte mais ocidental, com a Península Ibérica, Ilhas Britânicas e Marrocos. Foi reconstruída posteriormente no final do Séc. XIX, da forma que se apresenta:

Tabela Peutingeriana com a extensão ibérica
Tabula Peutingeriana - Detalhe da reconstrução da Península Ibérica (Konrad Miller, 1898).

A Tabula Peutingeriana terá sido encontrada por Conrad Celtes na cidade de Worms, sobre o Reno, uma cidade que teria como designação celta Barbetomagus, centro da saga dos Nibelungos. Talvez a versão original da Tabula estivesse ainda completa, mas Conrad Celtes não a conseguiu publicar, tendo ficada associada a Peutinger, antiquário que a traz à luz em 1508 (já mutilada?) e lhe dará o corrente nome.
Brazão da cidade de Worms - Barbetomagus

É interessante esta ligação a Worms, e ao reino de Gunther da Borgonha, entre 406-411 d.C, com a migração de Alanos, Vândalos, e Suevos, que terminará depois na Península Ibérica, pois é nessa altura que o poder imperial romano de Honório começará a ser ilusório. Nestas paragens do Reno consta que Gunther iria controlar o anterior pretendente ao império, Jovinius. Este é um dos enredos da saga dos Nibelungos que envolve ainda o fim do reino de Gunther pelo ataque dos romanos com a ajuda de mercenários hunos. Siegfried é personagem central, e as figuras de Krimhilda e Brunhilda lembram ainda a posterior querela entre Fredegunda e Brunilda, já sob implantação merovíngia. Já tinhamos referido que o mapa de Piri Reis reporta a chegada da informação por via dos francos (burgúndios ou vândalos?) que fugiram do Egipto, aquando da expansão árabe em 641 d.C.
 
Execução da visigoda Brunilda, rainha da Austrásia (à esq.)
Siegfried e Krimhilda, com um falcão (à dir.)

A parte inicial da saga dos Nibelungos, começa com um sonho de Krimhilda sobre um falcão morto por duas águias, adicionando a decoração. As águias podem estar associadas aos dois impérios que acabaram por destruir o reino de Gunther, o romano e o tártaro, mongol, dos hunos. Quanto ao falcão, podemos associar ao legado cultural egípcio...
Num mundo em que a informação era controlada em cidades isoladas, havia um meio expedito de passar informação, já usado ao tempo dos egípcios e persas... o pombo-correio. Contra os pombos, havia outra arma... os falcões! Portanto, convém aqui explicitar que o falcão, enquanto representação de Hórus e também símbolo aqueménida de Ciro, torna implícito um "olho apurado" e ainda um interceptor de comunicação, de mensagens.

Assim, quando aparece um Colombo passando a mensagem d'A Mérica, será figurativamente um pombo que escapa aos falcões, que lançavam o seu olhar acutilante e as suas garras para manter o mundo restrito às fronteiras da Antiguidade, representadas na Tabula Peutingeriana.
Também de forma columbófila, encontramos o deus Hermes/Mercúrio, filho de uma "pomba" que é Maia, já que as Pleiades são pombas (gr. peleiades) filhas do titã Atlas, inseridas na constelação de Touro, na sua fuga ao gigante caçador Orion (ou Oriœnte). Também no cristianismo, a mensagem que Maria recebe é figurativamente representada, enquanto Espírito Santo, por um pombo, sem corpo de autor, relevando apenas o conteúdo. A utilização da columbofilia na expedição de mensagens teve como contraponto o desenvolvimento da falcoaria, como actividade nobre, especialmente nas monarquias medievais.

A saga dos Nibelungos, com Gunther de Borgonha, no séc. V, será escrita no séc. XII, e depois adaptada por Wagner, no magnífico Anel dos Nibelungos, sendo reincorporada no nacionalismo alemão, então mutilado pela cisão do Sacro-Império Germânico no Tratado de Vestfália, mostrando como aquela encruzilhada cultural no Reno se arrastaria por séculos e por diferentes paragens.
A migração ibérica dos suevos, aliados de Gunther, irá definir um isolamento histórico, que estará na origem de substanciais diferenças com a parte sob domínio visigodo. Desse lado temos a constituição de Espanha, e do lado suevo a constituição de Portugal, um reino que irá definir uma origem dinástica de Borgonha, apesar da ligação a Bolonha evidenciada por Damião de Goes. Os limites do mundo da Tabula Peutingeriana seriam ultrapassados justamente com a autorizada expansão portuguesa, conseguida pelo Infante D. Henrique, e por uma motivação comercial própria de Hermes.

Há duas concepções de Hermes, que acabam por se misturar. Na mitologia grega, sendo um deus mensageiro ligado a viagens, ao comércio, tem também um aspecto menos honesto, ludibrioso, que o liga aos trapaceiros. A mensagem, tendo em vista uma transacção comercial, pode ser distorcida com o intuito de um lucro facilitado. Assim, subjacente a um poder de moto comercial está também uma mensagem deturpada, sugestiva, como acontece na propaganda. O referencial de verdade colectiva, anteriormente representado pelo poder monárquico, foi com a ascensão comercial substituído na governação, onde a balança do comércio passou a balança de poder, numa hierarquia segura pelos segredos das transações, pelas ilusões criadas, que se pode dar ao luxo de responsabilizar os cidadãos pelas suas escolhas, sem nunca perder o controlo sobre a mensagem publicitada, e assim obter o maior controlo da verdade colectiva, à escala mundial. A ideia subjacente deixou de ser a falcoaria, como meio de caçar pombos... ao inundar os céus de pombos, inunda-se o meio informativo de mensagens, deixando como efeito residual e marginal qualquer mensagem incómoda.
caduceu de Hermes, para além das asas do mensageiro, mostra o confronto entre duas serpentes, o confronto entre o conhecimento e a sua oposição, um lado real e um lado ficcionado, serpentes que podem mudar de pele, enrolando-se num bastão de poder.
A outra concepção é a de Hermes Trimegisto, ligada ao gnosticismo, que esteve inicialmente ligado ao cristianismo, e que surge como ligação ptolomaica entre o deus grego Hermes e o egípcio Tot, que já referimos, mencionando a ligação à tradição maçónica. Aqui a simbologia destoutro Hermes embebe em filosofia fundamental (que se encontra também em Parménides), e é representado equilibrando uma esfera armilar, semelhante à que encontramos na bandeira portuguesa, e que remonta a D. João II e D. Manuel.
Se os descobrimentos levaram à consolidação comercial através das Companhias das Índias, dando asas um desenvolvimento técnico e social, as duas serpentes de conhecimento, real e ficcional, confundem-se e têm deixado submerso o homónimo Hermes, o total de Tot que aparece nas três componentes do Trimegisto (tendo a sua Tabula Esmeralda sido chamada o "segredo dos segredos").

 
Hermes Trimegisto e a Tabula Esmeralda (que surge na literatura árabe como
referência de carta de Aristóteles a Alexandre Magno) 

Para além do conhecimento filosófico, gnóstico, tido como secreto, haveria outros segredos de ouro na tradição egípcia, ptolomaica. Em particular, deveria estar conhecimento secreto que justificou limitar o mundo ocidental às fronteiras atlânticas, ao limite persa, e a um trópico acima de Cancer. O mundo em que "todos os caminhos iam dar a Roma", é o mundo da Tabula Peutingeriana.
Hércules abriu a passagem pelo Atlas que segurava o mundo antigo nos ombros, deixando o Mediterrâneo de ser limite navegável, abrindo caminho para as ilhas britânicas. Nova abertura foi lentamente conseguida pela dinastia de Avis, ensinando a cavalgar em toda a sela, domesticando os garranos. Adamastor cedeu e o mundo abriu-se o suficiente para que todo o Atlas viesse a ser revelado uns séculos depois.
Mas se os Atlas de hoje nos mostram muito mais que a Tabula Peutingeriana, também é certo que outras Pleiades, as pombas filhas de Atlas, permanecem sob segredo, e a diferença entre o ocultado e o descoberto será da mesma monta.




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publicado às 09:25

Bolhão

07.03.11
Godefroy de Bouillon foi na prática o primeiro Rei de Jerusalém...
... e foi ainda tio do Conde D. Henrique, pai de D. Afonso Henriques, ou seja foi o seu tio-avô.
Godofredo de Bolhão (1058-1100)


A investigação é de Damião de Góis, que tendo acesso aos documentos em França, acabou por reconstruir a linhagem do Conde D. Henrique, pai do fundador de Portugal.
(...) o Conde dom Anrique da parte femenil descende por linha directa dos Reis Daragam [de Aragão] & quanto à linhagem da parte do pai, que é o mais importante, foi pelo modo seguinte. No ano do Senhor de 1019 faleceu Geofroi Duque da Lorraina, & por não deixar filhos sucedeu no ducado seu irmão Gozellon Conde de Bulhom, a este Gozelllon sucedeu Godefroi o brioso, ou barbudo, seu filho: que reinou 26 anos e teve grandes guerras com o Imperador Anrique III, as quais acabadas casou uma sua filha única herdeira, por nome Idaim com Eustácio Conde de Bolonha-sobelo-mar em França, & lhes deu logo em casamento o Condado de Bulhon, do qual casamento procederam Godefroi de Bulhom & Baldoim, reis bem aventurados de Hierusalem, & Eustácio (...)
Convém interromper aqui a citação para explicar algumas confusões habituais. 
Primeiro, confunde-se Boulogne na França com Bouillon na Bélgica ou ainda na Mancha, já para não falar da confusão com a Bolonha italiana. Essa confusão entre Boulogne-sur-mer e Bouillon encontra-se nos historiadores, já que Godefroy de Bouillon era originário de Boulogne-sur-mer, mas teria vendido Bouillon ao Bispo de Liège para participar nas crusadas. O mais natural é que seja sempre Boulogne (... sobre o mar), a actual cidade francesa.
As confusões não terminam aqui, pois não consta Santa Ida (Idaim) ter sido filha única de Godefroi, o barbudo. Para além disso, Damião de Góis vai invocar um segundo casamento de Eustácio II, com D. Mahual - será desse casamento que surge o pai do Conde D. Henrique:
(...) e por morte de D. Idaim mãe destes príncipes, casou Eustácio, Conde de Bolonha, com D. Mahual, filha de dom Giral Conde de Mosalanda, o qual condado jaz entre as ribeiras da Mosa e da Mosella & corria terras de Lorraina, Lucemburgo, Lemburgo & Treuer até à ribeira do Rim (...)  
Desta filha do Conde de Mosalanda (ou Duque, como alguns têm por opinião que era) houve o Conde de Eustácia de Bolonha Guilhelme, barão de Ioynuilla, & quando estes três irmãos Godefroi de Bulhom, Baldoim, & Eustacio foram à guerra de ultra mar, sendo já seu pai falecido, Guilhelme barão de Ioinuilla irmão mais moço, por ordenança deles ficou por governador do ducado de Lorraina, porque o condado de Bulhon vendeu Godefroi ao Bispo de Liege, para despesas destas guerras, & a cidade de Metz em Lorraina, que era sua, vendeu aos mesmos da cidade, o qual Guilhelme de Ioinuilla por morte dos seus irmãos sucedeu no ducado de Lorraina, & foi casado com Allis filha de Tibaut Conde de Champagne da qual senhora houve três filhos. Thierry (ou Thiodorico) que por sua morte sucedeu no Ducado de Lorraina, & Anrique, & Geofroi, que nas guerras da Síria fez grandes proezas, este dom Anrique filho segundo do Conde Guilhelme foi pai del Rei Dom Afonso Anriquez, a quem el Rei D. Afonso VI de Castela  deu o condado Destorga pelos muitos serviços (...)
É claro que aqui as confusões são demasiadas... porque Guilherme de "Ioinuilla" não consta de registos como irmão de Godofredo, Balduíno ou Eustáquio. Supostamente o Conde D. Henrique é filho de Henrique de Borgonha. Passa assim a haver uma versão com borgonha e outra sem borgonha...   

Porém, Damião de Góis, que sofrerá vários problemas com a Inquisição, é muito claro... 
- D. Afonso Henriques teria como tio-avôs Godofredo e Balduíno, de Bouillon, ou seja (em bom português) do Bolhão!
O mercado do Bolhão, no Porto.

A importância à época de Godofrey de Bouillon, é clara... em 1099, com a reconquista de Jerusalém pelos cruzados que lidera, fica como regente, recusando o título de Rei, por considerar que esse título era de Deus. Realmente o primeiro Rei de Jerusalém será o irmão Balduíno (Baldouin, Baldwin), que aceita o título. Ambos seriam irmãos de Guilherme, ou seja, o avô de D. Afonso Henriques.

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publicado às 07:02

Bolhão

07.03.11
Godefroy de Bouillon foi na prática o primeiro Rei de Jerusalém...
... e foi ainda tio do Conde D. Henrique, pai de D. Afonso Henriques, ou seja foi o seu tio-avô.
Godofredo de Bolhão (1058-1100)


A investigação é de Damião de Góis, que tendo acesso aos documentos em França, acabou por reconstruir a linhagem do Conde D. Henrique, pai do fundador de Portugal.
(...) o Conde dom Anrique da parte femenil descende por linha directa dos Reis Daragam [de Aragão] & quanto à linhagem da parte do pai, que é o mais importante, foi pelo modo seguinte. No ano do Senhor de 1019 faleceu Geofroi Duque da Lorraina, & por não deixar filhos sucedeu no ducado seu irmão Gozellon Conde de Bulhom, a este Gozelllon sucedeu Godefroi o brioso, ou barbudo, seu filho: que reinou 26 anos e teve grandes guerras com o Imperador Anrique III, as quais acabadas casou uma sua filha única herdeira, por nome Idaim com Eustácio Conde de Bolonha-sobelo-mar em França, & lhes deu logo em casamento o Condado de Bulhon, do qual casamento procederam Godefroi de Bulhom & Baldoim, reis bem aventurados de Hierusalem, & Eustácio (...)
Convém interromper aqui a citação para explicar algumas confusões habituais. 
Primeiro, confunde-se Boulogne na França com Bouillon na Bélgica ou ainda na Mancha, já para não falar da confusão com a Bolonha italiana. Essa confusão entre Boulogne-sur-mer e Bouillon encontra-se nos historiadores, já que Godefroy de Bouillon era originário de Boulogne-sur-mer, mas teria vendido Bouillon ao Bispo de Liège para participar nas crusadas. O mais natural é que seja sempre Boulogne (... sobre o mar), a actual cidade francesa.
As confusões não terminam aqui, pois não consta Santa Ida (Idaim) ter sido filha única de Godefroi, o barbudo. Para além disso, Damião de Góis vai invocar um segundo casamento de Eustácio II, com D. Mahual - será desse casamento que surge o pai do Conde D. Henrique:
(...) e por morte de D. Idaim mãe destes príncipes, casou Eustácio, Conde de Bolonha, com D. Mahual, filha de dom Giral Conde de Mosalanda, o qual condado jaz entre as ribeiras da Mosa e da Mosella & corria terras de Lorraina, Lucemburgo, Lemburgo & Treuer até à ribeira do Rim (...)  
Desta filha do Conde de Mosalanda (ou Duque, como alguns têm por opinião que era) houve o Conde de Eustácia de Bolonha Guilhelme, barão de Ioynuilla, & quando estes três irmãos Godefroi de Bulhom, Baldoim, & Eustacio foram à guerra de ultra mar, sendo já seu pai falecido, Guilhelme barão de Ioinuilla irmão mais moço, por ordenança deles ficou por governador do ducado de Lorraina, porque o condado de Bulhon vendeu Godefroi ao Bispo de Liege, para despesas destas guerras, & a cidade de Metz em Lorraina, que era sua, vendeu aos mesmos da cidade, o qual Guilhelme de Ioinuilla por morte dos seus irmãos sucedeu no ducado de Lorraina, & foi casado com Allis filha de Tibaut Conde de Champagne da qual senhora houve três filhos. Thierry (ou Thiodorico) que por sua morte sucedeu no Ducado de Lorraina, & Anrique, & Geofroi, que nas guerras da Síria fez grandes proezas, este dom Anrique filho segundo do Conde Guilhelme foi pai del Rei Dom Afonso Anriquez, a quem el Rei D. Afonso VI de Castela  deu o condado Destorga pelos muitos serviços (...)
É claro que aqui as confusões são demasiadas... porque Guilherme de "Ioinuilla" não consta de registos como irmão de Godofredo, Balduíno ou Eustáquio. Supostamente o Conde D. Henrique é filho de Henrique de Borgonha. Passa assim a haver uma versão com borgonha e outra sem borgonha...   

Porém, Damião de Góis, que sofrerá vários problemas com a Inquisição, é muito claro... 
- D. Afonso Henriques teria como tio-avôs Godofredo e Balduíno, de Bouillon, ou seja (em bom português) do Bolhão!
O mercado do Bolhão, no Porto.

A importância à época de Godofrey de Bouillon, é clara... em 1099, com a reconquista de Jerusalém pelos cruzados que lidera, fica como regente, recusando o título de Rei, por considerar que esse título era de Deus. Realmente o primeiro Rei de Jerusalém será o irmão Balduíno (Baldouin, Baldwin), que aceita o título. Ambos seriam irmãos de Guilherme, ou seja, o avô de D. Afonso Henriques.

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