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Nave espiritual

20.10.13
É suposto a palavra "nave" derivar de "navis" do latim, que por sua vez sairia de um "naos" grego.
Em todos os casos tratam-se de embarcações para... navegar.
Se "navio" pode advir do latim e "nau" do grego, é de notar que a letra "v" apresentou duplicidades, não apenas na troca dos "b" pelos "v", mas também na troca de "v" por "u"... ou seja, o "navis" latino poderia pronunciar-se "nauis", da mesma forma que "Julius" seria escrito "IVLIVS". 
Esta duplicidade entre o "u" e o "v" não desapareceu com a invenção do "w" que também manteve a duplicidade de ser lido como "u", pela via inglesa, e como "v", pela via francesa e germânica.

Ao contrário dos ingleses não falamos de "navio espacial", e a designação "nave espacial" parece ser tipicamente das línguas ibéricas, porquanto a palavra "nave" solitariamente teria perdido o significado marítimo e seria mais aplicada na arquitectura de catedrais, falando-se habitualmente da sua "nave central".
 
Naves centrais do Mosteiro de Alcobaça e do Mosteiro da Batalha

A relação da nave marítima com a estrutura das catedrais é bem conhecida. Havia uma grande semelhança invertida entre o fundo dos navios e o tecto das catedrais. Os fiéis seriam assim convidados para uma embarcação que teria a sua quilha penetrante nos céus, tal como a quilha dos navios entraria nas águas... afinal também a parte espiritual sediada na cabeça estaria mais próxima dos céus do que os pés que conduziam o corpo.
É num mundo medieval, onde as navegações marítimas estavam praticamente proibidas que vamos encontrar alusões a outras naves, de carácter espiritual. Ao contrário de anfiteatros, o formato linear, sob o comprido, que passaria a ser característica típica das igrejas, não era o mais adequado para comunicar a uma plateia de fiéis. Envolvia uma direcção - as igrejas estavam normalmente viradas a Nascente, e o próprio sacerdote, virando costas aos fiéis, tomava posição semelhante na embarcação, primeiro na proa em direcção a esse renascimento figurado numa alvorada (após o controverso Concílio do Vaticano II, em 1962, estas tradições caem, diz-se que por influência maçónica na igreja).

Movendo-nos um pouco para outra parte do globo, para as Caves de Ellora, Índia, datadas do Séc. VII, encontramos uma estrutura de topo curiosamente semelhante... em que o tecto poderia bem representar o fundo de um navio:
Nave da Cave... Cave 10 (dita do Buda Carpinteiro)

De acordo com a Revista Panorama (número de 8 Julho 1837), já Diogo Couto dava conta da existência destas Grutas de Ellora, bem como da Ilha de Elefanta (ou Elefante) e da Ilha de Salsete. É interessante que a Ilha de Elefanta tenha feito parte do dote de Catarina de Bragança a Carlos II de Inglaterra, o que simbolicamente mostra já uma cedência do poder aos ingleses sobre a Índia. No entanto, creio que na Ilha de Elefanta, dedicada a Xiva não se apresenta este tipo de estrutura.

As estruturas dedicadas a Xiva envolviam mais construções de Pirâmides, como são os vários templos Tamil, como seja Chidambaram (partes atribuídas ao Séc. XIII):

ou os templos hindús de Annamalayiar (datados do Séc. XV):

ou ainda, do mais recente Templo de Meenakshi (datado do Séc. XVII):

bem como de vários outros (ver lista). Estes templos piramidais têm também uma linha de orientação definida, ao contrário do que acontece com as habituais pirâmides... mas não deixam de exibir características que remetem para conjuntos monumentais egípcios ou mexicanos. É mais difícil perceber aqui se havia algum significado religioso especial, mas a orientação não é constante, e o efeito de nave não estará presente nestes templos. 

Finalmente, sobre as construções com forma do fundo de barco, convém lembrar a menção que já fizemos às mapalias da Numídia, no relato do Rei Hiempsal II. Segundo esse relato, os persas que acompanharam Hércules na expedição que este fez à Hispânia, ficaram a habitar a costa africana, usando os cascos invertidos dos seus navios para fazerem casas. Esta tradição ter-se-ia mantido como forma de construção no Norte de África, no fabrico das mapalias (também chamadas magalias). 
Mapalias da Numídia - inversão dos cascos dos barcos dos companheiros persas de Hércules.


Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 06:04

Nave espiritual

20.10.13
É suposto a palavra "nave" derivar de "navis" do latim, que por sua vez sairia de um "naos" grego.
Em todos os casos tratam-se de embarcações para... navegar.
Se "navio" pode advir do latim e "nau" do grego, é de notar que a letra "v" apresentou duplicidades, não apenas na troca dos "b" pelos "v", mas também na troca de "v" por "u"... ou seja, o "navis" latino poderia pronunciar-se "nauis", da mesma forma que "Julius" seria escrito "IVLIVS". 
Esta duplicidade entre o "u" e o "v" não desapareceu com a invenção do "w" que também manteve a duplicidade de ser lido como "u", pela via inglesa, e como "v", pela via francesa e germânica.

Ao contrário dos ingleses não falamos de "navio espacial", e a designação "nave espacial" parece ser tipicamente das línguas ibéricas, porquanto a palavra "nave" solitariamente teria perdido o significado marítimo e seria mais aplicada na arquitectura de catedrais, falando-se habitualmente da sua "nave central".
 
Naves centrais do Mosteiro de Alcobaça e do Mosteiro da Batalha

A relação da nave marítima com a estrutura das catedrais é bem conhecida. Havia uma grande semelhança invertida entre o fundo dos navios e o tecto das catedrais. Os fiéis seriam assim convidados para uma embarcação que teria a sua quilha penetrante nos céus, tal como a quilha dos navios entraria nas águas... afinal também a parte espiritual sediada na cabeça estaria mais próxima dos céus do que os pés que conduziam o corpo.
É num mundo medieval, onde as navegações marítimas estavam praticamente proibidas que vamos encontrar alusões a outras naves, de carácter espiritual. Ao contrário de anfiteatros, o formato linear, sob o comprido, que passaria a ser característica típica das igrejas, não era o mais adequado para comunicar a uma plateia de fiéis. Envolvia uma direcção - as igrejas estavam normalmente viradas a Nascente, e o próprio sacerdote, virando costas aos fiéis, tomava posição semelhante na embarcação, primeiro na proa em direcção a esse renascimento figurado numa alvorada (após o controverso Concílio do Vaticano II, em 1962, estas tradições caem, diz-se que por influência maçónica na igreja).

Movendo-nos um pouco para outra parte do globo, para as Caves de Ellora, Índia, datadas do Séc. VII, encontramos uma estrutura de topo curiosamente semelhante... em que o tecto poderia bem representar o fundo de um navio:
Nave da Cave... Cave 10 (dita do Buda Carpinteiro)

De acordo com a Revista Panorama (número de 8 Julho 1837), já Diogo Couto dava conta da existência destas Grutas de Ellora, bem como da Ilha de Elefanta (ou Elefante) e da Ilha de Salsete. É interessante que a Ilha de Elefanta tenha feito parte do dote de Catarina de Bragança a Carlos II de Inglaterra, o que simbolicamente mostra já uma cedência do poder aos ingleses sobre a Índia. No entanto, creio que na Ilha de Elefanta, dedicada a Xiva não se apresenta este tipo de estrutura.

As estruturas dedicadas a Xiva envolviam mais construções de Pirâmides, como são os vários templos Tamil, como seja Chidambaram (partes atribuídas ao Séc. XIII):

ou os templos hindús de Annamalayiar (datados do Séc. XV):

ou ainda, do mais recente Templo de Meenakshi (datado do Séc. XVII):

bem como de vários outros (ver lista). Estes templos piramidais têm também uma linha de orientação definida, ao contrário do que acontece com as habituais pirâmides... mas não deixam de exibir características que remetem para conjuntos monumentais egípcios ou mexicanos. É mais difícil perceber aqui se havia algum significado religioso especial, mas a orientação não é constante, e o efeito de nave não estará presente nestes templos. 

Finalmente, sobre as construções com forma do fundo de barco, convém lembrar a menção que já fizemos às mapalias da Numídia, no relato do Rei Hiempsal II. Segundo esse relato, os persas que acompanharam Hércules na expedição que este fez à Hispânia, ficaram a habitar a costa africana, usando os cascos invertidos dos seus navios para fazerem casas. Esta tradição ter-se-ia mantido como forma de construção no Norte de África, no fabrico das mapalias (também chamadas magalias). 
Mapalias da Numídia - inversão dos cascos dos barcos dos companheiros persas de Hércules.


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publicado às 06:04

Na sequência do texto anterior, sobre a eventual presença de Cristo na Índia, comentei sobre o papel dos missionários budistas na divulgação da religião. Esse aspecto está bem salientado no livro 
"An Inglorious Columbus", de Edward Vining, 1885

O livro fala do relato missionário de Hui Shan, monge budista do Séc. V, que teria abordado o desconhecido país de Fusang em conjunto com um grupo de budistas do Afeganistão.  Este seria o mesmo Fusang reportado por Marco Polo, e que começava a constar na Cartografia do Séc. XVIII, conforme já aqui abordámos.
Na realidade este debate sobre uma Fusang americana começa a ser explícito em França, em 1761, por Joseph de Guignes, que lança nesse ano duas memórias (cf. wiki):
  • Recherches sur les Navigations des Chinois du Cote de l'Amerique, et sur quelques Peuples situés a l'extremite orientale de l"asie. (1761)
  • Le Fou-Sang des Chinois est-il l'Amérique? Mémoires de l'Académie des Inscriptions et Belles Lettres, tome 28, Paris, 1761
A Companhia das Índias Francesa cessaria funções pouco depois, e passados 5 anos Cook é autorizado a zarpar pelo Pacífico - o Fusang americano desaparece sem rasto. No entanto, durante o Séc. XIX e até à 1ª Guerra Mundial, a questão da ligação chinesa à América estará presente nas discussões, como verificámos com Cândido Costa
Dez anos antes de Vining, em 1875 Charles Leland já tinha lançado o livro:
 Fusang or the Discovery of America by Chinese Buddhist Priests in the Fifth Century
que praticamente aborda o mesmo tema. Ou ainda, 
Notices of Fusang de William Wells, 1881, traduzido de Ma Twan-Lin (Séc. XIII).

É perfeitamente natural que a determinação dos monges budistas, na propagação da sua religião, os tivesse levado a paragens americanas. As civilizações americanas, por exemplo a Azteca ou a Inca não parecem ter acolhido essa filosofia, e se os houve, não restaram nenhuns Budas de pé, nem sentados ou mesmo deitados... ainda que Vining tenha procurado encontrar poses budistas nalgumas figuras Aztecas. De acordo com Vining, a rota seguida por Hwui Shan teria sido a seguinte:
E. Vining - suposta navegação feita por Hwui Sheng

A terra de Fusang, Fu Sang Kwoh, situar-se-ia na região californiana, e já na parte mexicana encontramos assinalado o "país das mulheres"... lembrando a motivação feminina que levou à designação do Amazonas, já em plena América do Sul.

Fu sang seria o nome dado a uma árvore sagrada, associada ao Aloe ou Agave Americano (ver chinahistoryforum.com), ou Piteira, uma espécie de cacto que quando floresce produz uma notável árvore:
A "árvore" da Piteira - Aloe ou Agave Americano

Noutra versão, o nome Fu Sang é associado a uma outra árvore - a Amoreira. A este propósito, citamos Alexander M'Alan:
Mulberry land is there, say the Chinese.
Mulberry land is here, say the Mexicans.
no livro Ancient Chinese account of the Grand Canyon (1913).

Porém, de entre estes autores, Joseph de Guignes levanta uma hipótese surpreendente, e que foi fortemente rebatida pelos seus contemporâneos - Teria sido a China uma colónia egípcia?
E se a argumentação assentava essencialmente no carácter ideográfico de ambas as escritas, não sei por que razão não seria de levantar o recíproco... até porque o Egipto apareceu quase singular a ocidente na sua faceta ideográfica. Essa argumentação continha ainda a pretensão da ligação chinesa aos povos mexicanos, que também tinham desenvolvido escritas ideográficas.

É interessante encontrar estas possibilidades abordados no Séc. XVIII, e talvez só pecassem por tardias... e por mais inverosímeis que possam parecer, é mais estranho terem desaparecido, e no meio do politicamente correcto, numa altura em que sabemos já da existência de pirâmides na China, ninguém ousa retomar as ligações.

Será que os construtores de pirâmides estavam destinados a desenvolver escritas ideográficas? 
Não parecerá estranho terem sido desenvolvidas pirâmides no Egipto, na China, no México, e sempre associadas a povos com escritas ideográficas? Não será de suspeitar de um elo comum?
Para esse efeito, Vining vai buscar uma notável associação feita por Humboldt, entre a designação dos animais associados aos signos tibetanos e os hieróglifos mexicanos para a ordem dos dias, evidenciando uma coincidência que dificilmente se poderá tomar como acidental:
Tabela de Humboldt - signos tibetanos e dias mexicanos

Ainda que se ofereça perguntar por que razão os mexicanos falariam em tigres, talvez se trate de associação com o jaguar, não sendo de excluir outras possibilidades menos convencionais - afinal foram encontradas representações de leões - ver Leão de Techialoyan, e ver agora também as piteiras, que constavam na página ao lado...

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publicado às 05:31

Na sequência do texto anterior, sobre a eventual presença de Cristo na Índia, comentei sobre o papel dos missionários budistas na divulgação da religião. Esse aspecto está bem salientado no livro 
"An Inglorious Columbus", de Edward Vining, 1885

O livro fala do relato missionário de Hui Shan, monge budista do Séc. V, que teria abordado o desconhecido país de Fusang em conjunto com um grupo de budistas do Afeganistão.  Este seria o mesmo Fusang reportado por Marco Polo, e que começava a constar na Cartografia do Séc. XVIII, conforme já aqui abordámos.
Na realidade este debate sobre uma Fusang americana começa a ser explícito em França, em 1761, por Joseph de Guignes, que lança nesse ano duas memórias (cf. wiki):
  • Recherches sur les Navigations des Chinois du Cote de l'Amerique, et sur quelques Peuples situés a l'extremite orientale de l"asie. (1761)
  • Le Fou-Sang des Chinois est-il l'Amérique? Mémoires de l'Académie des Inscriptions et Belles Lettres, tome 28, Paris, 1761
A Companhia das Índias Francesa cessaria funções pouco depois, e passados 5 anos Cook é autorizado a zarpar pelo Pacífico - o Fusang americano desaparece sem rasto. No entanto, durante o Séc. XIX e até à 1ª Guerra Mundial, a questão da ligação chinesa à América estará presente nas discussões, como verificámos com Cândido Costa
Dez anos antes de Vining, em 1875 Charles Leland já tinha lançado o livro:
 Fusang or the Discovery of America by Chinese Buddhist Priests in the Fifth Century
que praticamente aborda o mesmo tema. Ou ainda, 
Notices of Fusang de William Wells, 1881, traduzido de Ma Twan-Lin (Séc. XIII).

É perfeitamente natural que a determinação dos monges budistas, na propagação da sua religião, os tivesse levado a paragens americanas. As civilizações americanas, por exemplo a Azteca ou a Inca não parecem ter acolhido essa filosofia, e se os houve, não restaram nenhuns Budas de pé, nem sentados ou mesmo deitados... ainda que Vining tenha procurado encontrar poses budistas nalgumas figuras Aztecas. De acordo com Vining, a rota seguida por Hwui Shan teria sido a seguinte:
E. Vining - suposta navegação feita por Hwui Sheng

A terra de Fusang, Fu Sang Kwoh, situar-se-ia na região californiana, e já na parte mexicana encontramos assinalado o "país das mulheres"... lembrando a motivação feminina que levou à designação do Amazonas, já em plena América do Sul.

Fu sang seria o nome dado a uma árvore sagrada, associada ao Aloe ou Agave Americano (ver chinahistoryforum.com), ou Piteira, uma espécie de cacto que quando floresce produz uma notável árvore:
A "árvore" da Piteira - Aloe ou Agave Americano

Noutra versão, o nome Fu Sang é associado a uma outra árvore - a Amoreira. A este propósito, citamos Alexander M'Alan:
Mulberry land is there, say the Chinese.
Mulberry land is here, say the Mexicans.
no livro Ancient Chinese account of the Grand Canyon (1913).

Porém, de entre estes autores, Joseph de Guignes levanta uma hipótese surpreendente, e que foi fortemente rebatida pelos seus contemporâneos - Teria sido a China uma colónia egípcia?
E se a argumentação assentava essencialmente no carácter ideográfico de ambas as escritas, não sei por que razão não seria de levantar o recíproco... até porque o Egipto apareceu quase singular a ocidente na sua faceta ideográfica. Essa argumentação continha ainda a pretensão da ligação chinesa aos povos mexicanos, que também tinham desenvolvido escritas ideográficas.

É interessante encontrar estas possibilidades abordados no Séc. XVIII, e talvez só pecassem por tardias... e por mais inverosímeis que possam parecer, é mais estranho terem desaparecido, e no meio do politicamente correcto, numa altura em que sabemos já da existência de pirâmides na China, ninguém ousa retomar as ligações.

Será que os construtores de pirâmides estavam destinados a desenvolver escritas ideográficas? 
Não parecerá estranho terem sido desenvolvidas pirâmides no Egipto, na China, no México, e sempre associadas a povos com escritas ideográficas? Não será de suspeitar de um elo comum?
Para esse efeito, Vining vai buscar uma notável associação feita por Humboldt, entre a designação dos animais associados aos signos tibetanos e os hieróglifos mexicanos para a ordem dos dias, evidenciando uma coincidência que dificilmente se poderá tomar como acidental:
Tabela de Humboldt - signos tibetanos e dias mexicanos

Ainda que se ofereça perguntar por que razão os mexicanos falariam em tigres, talvez se trate de associação com o jaguar, não sendo de excluir outras possibilidades menos convencionais - afinal foram encontradas representações de leões - ver Leão de Techialoyan, e ver agora também as piteiras, que constavam na página ao lado...

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Na sequência do texto anterior, sobre a eventual presença de Cristo na Índia, comentei sobre o papel dos missionários budistas na divulgação da religião. Esse aspecto está bem salientado no livro 
"An Inglorious Columbus", de Edward Vining, 1885

O livro fala do relato missionário de Hui Shan, monge budista do Séc. V, que teria abordado o desconhecido país de Fusang em conjunto com um grupo de budistas do Afeganistão.  Este seria o mesmo Fusang reportado por Marco Polo, e que começava a constar na Cartografia do Séc. XVIII, conforme já aqui abordámos.
Na realidade este debate sobre uma Fusang americana começa a ser explícito em França, em 1761, por Joseph de Guignes, que lança nesse ano duas memórias (cf. wiki):
  • Recherches sur les Navigations des Chinois du Cote de l'Amerique, et sur quelques Peuples situés a l'extremite orientale de l"asie. (1761)
  • Le Fou-Sang des Chinois est-il l'Amérique? Mémoires de l'Académie des Inscriptions et Belles Lettres, tome 28, Paris, 1761
A Companhia das Índias Francesa cessaria funções pouco depois, e passados 5 anos Cook é autorizado a zarpar pelo Pacífico - o Fusang americano desaparece sem rasto. No entanto, durante o Séc. XIX e até à 1ª Guerra Mundial, a questão da ligação chinesa à América estará presente nas discussões, como verificámos com Cândido Costa
Dez anos antes de Vining, em 1875 Charles Leland já tinha lançado o livro:
 Fusang or the Discovery of America by Chinese Buddhist Priests in the Fifth Century
que praticamente aborda o mesmo tema. Ou ainda, 
Notices of Fusang de William Wells, 1881, traduzido de Ma Twan-Lin (Séc. XIII).

É perfeitamente natural que a determinação dos monges budistas, na propagação da sua religião, os tivesse levado a paragens americanas. As civilizações americanas, por exemplo a Azteca ou a Inca não parecem ter acolhido essa filosofia, e se os houve, não restaram nenhuns Budas de pé, nem sentados ou mesmo deitados... ainda que Vining tenha procurado encontrar poses budistas nalgumas figuras Aztecas. De acordo com Vining, a rota seguida por Hwui Shan teria sido a seguinte:
E. Vining - suposta navegação feita por Hwui Sheng

A terra de Fusang, Fu Sang Kwoh, situar-se-ia na região californiana, e já na parte mexicana encontramos assinalado o "país das mulheres"... lembrando a motivação feminina que levou à designação do Amazonas, já em plena América do Sul.

Fu sang seria o nome dado a uma árvore sagrada, associada ao Aloe ou Agave Americano (ver chinahistoryforum.com), ou Piteira, uma espécie de cacto que quando floresce produz uma notável árvore:
A "árvore" da Piteira - Aloe ou Agave Americano

Noutra versão, o nome Fu Sang é associado a uma outra árvore - a Amoreira. A este propósito, citamos Alexander M'Alan:
Mulberry land is there, say the Chinese.
Mulberry land is here, say the Mexicans.
no livro Ancient Chinese account of the Grand Canyon (1913).

Porém, de entre estes autores, Joseph de Guignes levanta uma hipótese surpreendente, e que foi fortemente rebatida pelos seus contemporâneos - Teria sido a China uma colónia egípcia?
E se a argumentação assentava essencialmente no carácter ideográfico de ambas as escritas, não sei por que razão não seria de levantar o recíproco... até porque o Egipto apareceu quase singular a ocidente na sua faceta ideográfica. Essa argumentação continha ainda a pretensão da ligação chinesa aos povos mexicanos, que também tinham desenvolvido escritas ideográficas.

É interessante encontrar estas possibilidades abordados no Séc. XVIII, e talvez só pecassem por tardias... e por mais inverosímeis que possam parecer, é mais estranho terem desaparecido, e no meio do politicamente correcto, numa altura em que sabemos já da existência de pirâmides na China, ninguém ousa retomar as ligações.

Será que os construtores de pirâmides estavam destinados a desenvolver escritas ideográficas? 
Não parecerá estranho terem sido desenvolvidas pirâmides no Egipto, na China, no México, e sempre associadas a povos com escritas ideográficas? Não será de suspeitar de um elo comum?
Para esse efeito, Vining vai buscar uma notável associação feita por Humboldt, entre a designação dos animais associados aos signos tibetanos e os hieróglifos mexicanos para a ordem dos dias, evidenciando uma coincidência que dificilmente se poderá tomar como acidental:
Tabela de Humboldt - signos tibetanos e dias mexicanos

Ainda que se ofereça perguntar por que razão os mexicanos falariam em tigres, talvez se trate de associação com o jaguar, não sendo de excluir outras possibilidades menos convencionais - afinal foram encontradas representações de leões - ver Leão de Techialoyan, e ver agora também as piteiras, que constavam na página ao lado...

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publicado às 21:31


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