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Apenso 3 do Processo, onde se relata que o estribeiro José Manuel tinha saúde para receber trato no "potro" |
Apenso 3 do Processo, onde se relata que o estribeiro José Manuel tinha saúde para receber trato no "potro" |
Note-se que as freguezias que augmentaram de população depois do terramoto, é porque, dos bairros que mais sofreram, ficando ruas inteiras completamente destruídas e desertas, se mudaram os seus habitantes para os outros, a que o terramoto tinha causado menos destruições.Como podemos ver houve bairros arrasados enquanto os vizinhos passavam incólumes. A palavra fogos é aqui apropriada, porque o problema terão sido apenas os incêndios.
A 1ª pedra foi colocada por duas vezes, em 15 de Agosto de 1917 e novamente a 13 de Maio de 1926. Só oito anos depois a estátua era colocada sobre o fuste (12 de Dezembro de 1933) e inaugurada em 1934.
Note-se que as freguezias que augmentaram de população depois do terramoto, é porque, dos bairros que mais sofreram, ficando ruas inteiras completamente destruídas e desertas, se mudaram os seus habitantes para os outros, a que o terramoto tinha causado menos destruições.Como podemos ver houve bairros arrasados enquanto os vizinhos passavam incólumes. A palavra fogos é aqui apropriada, porque o problema terão sido apenas os incêndios.
A 1ª pedra foi colocada por duas vezes, em 15 de Agosto de 1917 e novamente a 13 de Maio de 1926. Só oito anos depois a estátua era colocada sobre o fuste (12 de Dezembro de 1933) e inaugurada em 1934.
Ao Hiperbólico, Fantástico, Extravagante, Antidevoto, Antideista, Sebastião José de Carvalho,
Primeiro-Ministro, e Marquês do Pombal, D. Quixote dos Ministros do Estado, Sublime Engenheiro de Castelos de Vento, Legislador de vacatelas [bagatelas], Autor de Leis Enigmáticas, Inimitável criador de palavras gigantescas, Único descobridor da pedra filosofal, Defensor em voz, Destruidor na ré, Virtuoso nas palavras, Vicioso nas obras, Abundante de projecto, Falto de execuções, Restaurador quimérico das letras, Real perseguidor dos sábios, Protector aparente do comércio, Arruinador verdadeiro da lavoura, Povoador dos cárceres, Despovoador dos campos, Grande dentro, Pequeno fora, Richelieu na vingança, Mazarin na ambição, Nas virtudes, nem um nem outro, Agradecido por sistema, Ingrato por natureza, Digno para vizir de um príncipe maometano, Indigno par ministro de um príncipe cristão.
O Povo Português, Sumamente agradecido à sua odiosa memória, Pelo haver governado com ceptro de ferro, Por ter armado uma parte dos seus cidadãos contra a outra parte, Por ter enriquecido o particular, empobrecendo o público, Por ter aniquilado a antiga nobreza, e levantando outra de nova invenção, Por ter acrescentado o número dos processos, como a censura multidão de informes leis, Por ter enriquecido a língua, com uma prodigiosa cópia de palavras exóticas, e insignificantes, Por outros muitos favores, que deve à sua liberal e prodigiosa mão, Mandou levantar este mausoléu, construído de ossos de inumeráveis homens vítimas do seu bárbaro, cruel e sanguinário génio, amassados com lágrimas: De tantas desamparadas viúvas, De tantas arruinadas donzelas, De tantos órfãos pupilos, Cujo servirá de memória indelével à posteridade, depois de fielmente se ter dado a execução, o seu bem justo, como abominável testamento e última vontade, bem conforme à sua depravada vida, por ele feito na forma seguinte (...)Bom, e a sátira prossegue, não com muito sucesso humorístico ou literário, inventando um "Testamento secreto" que começava por
Sebastião 2º, isto é 2º carrasco, e primeiro Nero português. Monstro de todas as maldades, inimigo comum da Pátria (...)Interessa aqui notar que, apesar de todo este rancor, raramente se encontra algo de objectivo que contrarie as versões oficiais e oficializadas. Ou seja, se procuramos elementos mais contundentes sobre a fabricação dos estragos do terramoto, a única coisa que se vê sistematicamente é o epíteto de "Nero".
Planta de Lisboa em 1909 - um ano antes da implantação da República... os nomes eram outros! |
Quinta-feira, 6 de Outubro de 1910 - Alterações na toponímia da cidade de Lisboa
Em Reunião na Câmara Municipal de Lisboa, presidida por Anselmo Braamcamp Freire, Nunes Loureiro apresenta uma proposta aprovada por aclamação. A Avenida Ressano Garcia passou a denominar-se Avenida da República e a Rua António Maria de Avelar passou a designar-se Avenida Cinco de Outubro. Uma semana depois são feitas novas alterações: a Rua Bela da Rainha passa a denominar-se Rua da Prata; a Avenida D. Amélia passa a Avenida Almirante Reis; a Rua D. Carlos I passa a chamar-se Avenida das Cortes; a Rua d'el-Rei passa a Rua do Comércio; a Avenida José Luciano passa a denominar-se Avenida Elias Garcia; a praça D. Fernando passa a praça Afonso de Albuquerque; a Avenida Hintze Ribeiro passa a Avenida Miguel Bombarda; a rua da Princesa a Rua dos Fanqueiros; a praça do Príncipe Real passa a praça Rio de Janeiro; o Paço da Rainha passa a largo da Escola do Exército.
Ao Hiperbólico, Fantástico, Extravagante, Antidevoto, Antideista, Sebastião José de Carvalho,
Primeiro-Ministro, e Marquês do Pombal, D. Quixote dos Ministros do Estado, Sublime Engenheiro de Castelos de Vento, Legislador de vacatelas [bagatelas], Autor de Leis Enigmáticas, Inimitável criador de palavras gigantescas, Único descobridor da pedra filosofal, Defensor em voz, Destruidor na ré, Virtuoso nas palavras, Vicioso nas obras, Abundante de projecto, Falto de execuções, Restaurador quimérico das letras, Real perseguidor dos sábios, Protector aparente do comércio, Arruinador verdadeiro da lavoura, Povoador dos cárceres, Despovoador dos campos, Grande dentro, Pequeno fora, Richelieu na vingança, Mazarin na ambição, Nas virtudes, nem um nem outro, Agradecido por sistema, Ingrato por natureza, Digno para vizir de um príncipe maometano, Indigno par ministro de um príncipe cristão.
O Povo Português, Sumamente agradecido à sua odiosa memória, Pelo haver governado com ceptro de ferro, Por ter armado uma parte dos seus cidadãos contra a outra parte, Por ter enriquecido o particular, empobrecendo o público, Por ter aniquilado a antiga nobreza, e levantando outra de nova invenção, Por ter acrescentado o número dos processos, como a censura multidão de informes leis, Por ter enriquecido a língua, com uma prodigiosa cópia de palavras exóticas, e insignificantes, Por outros muitos favores, que deve à sua liberal e prodigiosa mão, Mandou levantar este mausoléu, construído de ossos de inumeráveis homens vítimas do seu bárbaro, cruel e sanguinário génio, amassados com lágrimas: De tantas desamparadas viúvas, De tantas arruinadas donzelas, De tantos órfãos pupilos, Cujo servirá de memória indelével à posteridade, depois de fielmente se ter dado a execução, o seu bem justo, como abominável testamento e última vontade, bem conforme à sua depravada vida, por ele feito na forma seguinte (...)Bom, e a sátira prossegue, não com muito sucesso humorístico ou literário, inventando um "Testamento secreto" que começava por
Sebastião 2º, isto é 2º carrasco, e primeiro Nero português. Monstro de todas as maldades, inimigo comum da Pátria (...)Interessa aqui notar que, apesar de todo este rancor, raramente se encontra algo de objectivo que contrarie as versões oficiais e oficializadas. Ou seja, se procuramos elementos mais contundentes sobre a fabricação dos estragos do terramoto, a única coisa que se vê sistematicamente é o epíteto de "Nero".
Planta de Lisboa em 1909 - um ano antes da implantação da República... os nomes eram outros! |
Quinta-feira, 6 de Outubro de 1910 - Alterações na toponímia da cidade de Lisboa
Em Reunião na Câmara Municipal de Lisboa, presidida por Anselmo Braamcamp Freire, Nunes Loureiro apresenta uma proposta aprovada por aclamação. A Avenida Ressano Garcia passou a denominar-se Avenida da República e a Rua António Maria de Avelar passou a designar-se Avenida Cinco de Outubro. Uma semana depois são feitas novas alterações: a Rua Bela da Rainha passa a denominar-se Rua da Prata; a Avenida D. Amélia passa a Avenida Almirante Reis; a Rua D. Carlos I passa a chamar-se Avenida das Cortes; a Rua d'el-Rei passa a Rua do Comércio; a Avenida José Luciano passa a denominar-se Avenida Elias Garcia; a praça D. Fernando passa a praça Afonso de Albuquerque; a Avenida Hintze Ribeiro passa a Avenida Miguel Bombarda; a rua da Princesa a Rua dos Fanqueiros; a praça do Príncipe Real passa a praça Rio de Janeiro; o Paço da Rainha passa a largo da Escola do Exército.
Lisboa sobre o Tejo, Capital da Província da Estremadura, e de todo o Portugal. Um terramoto acontecido no 1 de Novembro de 1755 a arrasou inteiramente.
O Autor, mal informado do que aconteceu a esta capital no referido Terramoto, asseverou que ela ficara inteiramente arrasada, quando é certo que em mais de duas partes ficou em pé, e que somente o incêndio, que lhe sobreveio, abrasou, e consumiu os edifícios, tesouros, móveis, riquezas, preciosidades, alfaias, etc. ficando unicamente as paredes. Porém, de tudo o mais raro, que se perdeu, foi a grande Livraria de Sua Majestade - rara pelos manuscritos e originais da Antiguidade que conservava - perda sem dúvida lamentável para os sábios.
Planta comparativa : antes e depois de 1755 (Rev. Obras Públicas e Minas, 1909) - detalhe. A castanho escuro - os edifícios "destruídos ou quasi-destruídos" - inclui-se aí Sé de Lisboa (nº96)! A azul - edifícios que "em grande parte resistiram". A vermelho - edifícios que "resistiram". A amarelo - a terraplanagem do Marquês após 1755, planta quadriculada da Baixa. Linha vermelha - Planta quadriculada do Bairro Alto, feita após o Terramoto de 1531. |
Nem obsta dizer-se vulgarmente que o Terramoto presente foi maior que o de 1531, por se verem arruinadas a Torre da Basílica de Stª Maria, e muitas igrejas, que naquele não caíram. A isto respondo que também neste ainda ficou sem ruína a outra Torre da mesma antiga Sé; e que as igrejas que caíram agora naquele tempo eram muito novas e ressentiram da mesma forma que ao presente sucedeu às duas Igrejas de S. Bento, à de Nª Srª das Necessidades, à do Menino Deus, à dos Paulistas e outras, com alguns palácios, e casas novas, que não padeceram ruína considerável.
Havia muita gente buscado as margens do Tejo, por se livrarem dos edifícios, cheios de horror da vista das suas ruínas. Eis que de repente entra o mar pela barra com uma furiosa inundação de águas, que não fizeram igual estrago em Lisboa que em outras partes, pela distância que há de mais de duas léguas desta Cidade à foz do rio. Contudo, passando os seus antigos limites se lançou por cima de muitos edifícios e alagou o bairro de S. Paulo. Cresceu em todos os que haviam procurado as praias o espanto das águas, e o novo perigo se difundiu por toda a Cidade, e seus subúrbios, com uma voz vaga, que dizia que vinha o mar cobrindo tudo.
"Estas vozes se atribuíram depois a alguns homens malvados, que quiseram ver a Cidade desamparada para roubarem as casas do mais precioso. Causou este boato uma grande ruína, porque podendo-se nalgumas partes atalhar o fogo, correu este livremente destruindo tudo quanto o Terramoto havia perdoado(...)".Por exemplo, o Mendonça afirma ter conseguido evitar que o fogo atingisse o cartório de Lisboa, com o registo de propriedades, que estava a seu cargo, com pouca ajuda.
Depois de muitas reflexões feitas em várias ruas e bairros da Cidade, me parece que o fogo consumiu a terceira parte da Cidade, naquele sítio em que era mais populosa, por serem a maior parte das ruas estreitas, e as casas de quatro, cinco e seis andares de sobrados. Parece-me também que o Terramoto lançou por terra a décima parte das casas de Lisboa, deixou inabitáveis mais de duas partes das que ficaram em pé, ficando habitáveis somente ainda menos que uma terça parte das casas. A maior parte destas lhe foram precisos grandes reparos.
Lisboa sobre o Tejo, Capital da Província da Estremadura, e de todo o Portugal. Um terramoto acontecido no 1 de Novembro de 1755 a arrasou inteiramente.
O Autor, mal informado do que aconteceu a esta capital no referido Terramoto, asseverou que ela ficara inteiramente arrasada, quando é certo que em mais de duas partes ficou em pé, e que somente o incêndio, que lhe sobreveio, abrasou, e consumiu os edifícios, tesouros, móveis, riquezas, preciosidades, alfaias, etc. ficando unicamente as paredes. Porém, de tudo o mais raro, que se perdeu, foi a grande Livraria de Sua Majestade - rara pelos manuscritos e originais da Antiguidade que conservava - perda sem dúvida lamentável para os sábios.
Planta comparativa : antes e depois de 1755 (Rev. Obras Públicas e Minas, 1909) - detalhe. A castanho escuro - os edifícios "destruídos ou quasi-destruídos" - inclui-se aí Sé de Lisboa (nº96)! A azul - edifícios que "em grande parte resistiram". A vermelho - edifícios que "resistiram". A amarelo - a terraplanagem do Marquês após 1755, planta quadriculada da Baixa. Linha vermelha - Planta quadriculada do Bairro Alto, feita após o Terramoto de 1531. |
Nem obsta dizer-se vulgarmente que o Terramoto presente foi maior que o de 1531, por se verem arruinadas a Torre da Basílica de Stª Maria, e muitas igrejas, que naquele não caíram. A isto respondo que também neste ainda ficou sem ruína a outra Torre da mesma antiga Sé; e que as igrejas que caíram agora naquele tempo eram muito novas e ressentiram da mesma forma que ao presente sucedeu às duas Igrejas de S. Bento, à de Nª Srª das Necessidades, à do Menino Deus, à dos Paulistas e outras, com alguns palácios, e casas novas, que não padeceram ruína considerável.
Havia muita gente buscado as margens do Tejo, por se livrarem dos edifícios, cheios de horror da vista das suas ruínas. Eis que de repente entra o mar pela barra com uma furiosa inundação de águas, que não fizeram igual estrago em Lisboa que em outras partes, pela distância que há de mais de duas léguas desta Cidade à foz do rio. Contudo, passando os seus antigos limites se lançou por cima de muitos edifícios e alagou o bairro de S. Paulo. Cresceu em todos os que haviam procurado as praias o espanto das águas, e o novo perigo se difundiu por toda a Cidade, e seus subúrbios, com uma voz vaga, que dizia que vinha o mar cobrindo tudo.
"Estas vozes se atribuíram depois a alguns homens malvados, que quiseram ver a Cidade desamparada para roubarem as casas do mais precioso. Causou este boato uma grande ruína, porque podendo-se nalgumas partes atalhar o fogo, correu este livremente destruindo tudo quanto o Terramoto havia perdoado(...)".Por exemplo, o Mendonça afirma ter conseguido evitar que o fogo atingisse o cartório de Lisboa, com o registo de propriedades, que estava a seu cargo, com pouca ajuda.
Depois de muitas reflexões feitas em várias ruas e bairros da Cidade, me parece que o fogo consumiu a terceira parte da Cidade, naquele sítio em que era mais populosa, por serem a maior parte das ruas estreitas, e as casas de quatro, cinco e seis andares de sobrados. Parece-me também que o Terramoto lançou por terra a décima parte das casas de Lisboa, deixou inabitáveis mais de duas partes das que ficaram em pé, ficando habitáveis somente ainda menos que uma terça parte das casas. A maior parte destas lhe foram precisos grandes reparos.