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Portugal, 1917... não é novidade que, ao longo dos séculos, muitos foram aqueles que tentaram publicar, para transmitir à população, um conhecimento que parecia ser destinado à ocultação.
Calisto encontrou uma preciosidade de J. E. dos Santos e Silva, então engenheiro da Direcção Geral das Colónias, que procurava compilar conhecimento que se afastava "dos modernos historiadores portugueses" que faziam surgir "quase espontaneamente" a nossa História com D. Afonso Henriques (cito o autor).

Para além de no excelente material compilado por Calisto ficar evidenciada uma outra estória sobre as Colunas e Torres de Hérculesparece ainda clara uma ligação Egiptânia e não só... temos uma confirmação para a existência de um Canal do Suez na Antiguidade.

Não podemos deixar de notar que Estrabo dá a entender que os Pilares/Colunas seriam no seu tempo as torres que estavam em Cadiz:
... while the Iberians and Libyans place them at Gades, alleging that 
there is nothing at all resembling pillars close by the strait.

pelo que talvez haja uma confusão no texto com essas torres, que já teriam desaparecido por altura das invasões napoleónicas, fazia mais de um século quando Santos e Silva escreveu o livro (em vez de livro apetece aqui dizer balanço de balança, se libro vier de libra).


------------------- email de Calisto Barbuda  -------------------

Quando há pouco tempo andava à procura de informações sobre os Coni/Cynetes/Cunetes, deparei-me com este livro:
Episódios e Tradições relativos à História Antiga da LusitaniaJ. E. dos Santos e Silva (Lisboa, 1917) 
foi aqui que encontrei umas informações sobre Hércules que achei curiosas, pondo de parte algumas coisas que não percebi como por exemplo ter o nome de Rhamsés II, e a data 1600, quando Sesóstris I reinou 1908-1875 a.c.

Segundo o autor, sobre a vida de Sesóstris I (Rhamsés II), diz que os episódios relatados podem ser relativos a vários dos seus Reis 
“(...) mas que a imaginação e vaidade nacional reuniram n’um só. Supõem que é o Sesác dos livros sagrados; que viveu muito antes da guerra de Troya, no tempo dos Juízes de Israel; que é o Setósis de Maneton; o Egypto, irmão de Danáo; Typhon da Mythologia; o Pharaó submergido nas ondas do Mar Vermelho, quando ia em perseguição de Moysés; e por último que era ou foi chamado o Osíris Egypcio.
Heródoto coloca este rei um século antes da guerra de Tróia (1300 a 1100 A.C.), Cantù coloca em 1600, época em que a península Ibérica foi reinada por Geryon, e como o Sesóstris foi chamado de Osiris, parece lógico que o libertador da Península tenha sido ele.

A data de Heródoto, segundo o autor do livro, coincidiria com a invasão dos Pelasgos na Península, mas refere também que antes destas invasões podem ter havido outras, por outro lado entre os historiadores tem havido confusões chamando Pelasgos aos Tyrrhenos, por isto será (para o autor) a data que Cantù menciona; ou um século depois, na opinião de Bossuet (ou seja, 1491-1457 a.c.).

O autor continua dizendo que: 
Não há tambêm unidade de opiniões sôbre se a derrota de Geryon e a sua morte foi simultâneamente com a dos seus três filhos, nem são unânimes os autores em supôr a vinda de Horus distinta da de Osíris. O que é mais seguido e comentado nos livros antigos é a invasão da Península pelo Hércules Egypcio, isto é, por um rei conquistador d’aquela nacionalidade, cujos feitos o fizeram comparar com o deus Hércules, e que ficou conhecido por êste nome. Considerando, portanto, que a existência de Osíris e Horus, a ser verdadeira, teria necessáriamente que remontar-se a uma época muitíssimo anterior à de Geryon, em cujo tempo reinava no Egypto a XVIII dinastia, de que Sesóstris foi um dos últimos reis (1643, antes de Christo), e que a época d’êste rei coincide com a de Geryon, temos que concluir que o Hércules Egypcio, libertador da Ibéria, foi realmente Sesóstris.
Segundo Heródoto, Hércules teve origem no Egipto, de onde Gregos e Fenícios o adoptaram dando esse nome aos seus heróis, assim na Fenícia era Hércules Tyriano ou Melkarth, na Grécia era Hércules Thebano ou Heraklés, na Gália identificaram-no como Ogmios dos Celtas, chamando-lhe Hércules Gaulês, e na Itália também foi introduzido o culto do Hércules Tebano. Toledo e Huesca consagram vitimas a Hércules Endovecélio (ou Endovélico), mas Leite Vasconcelos (Religiões da Luzitânia) diz supor serem falsas as inscrições.
A história dos diferentes Hércules é um conjunto de prodígios, ou antes, é a história de todos aqueles que tiveram o mesmo nome e suportaram os mesmos trabalhos. Tem-se exagerado os sues feitos, reùnindo-os em um só homem e atribuindo-lhe todas as grandes emprêsas de que se ignorava o autor, cobrindo-os assim d’uma notoriedade que os elevava acima da espécie humana (Diodoro Sículo). Comtudo, o que parece averiguado é que um grande conquistador, que supomos ser Sesóstris e não Osíris nem Orus, e a quem se chamou «o Hércules Egypcio», à frente de forte exército d’esta nacionalidade, depois de ter empreendido uma grande peregrinação, ennobrecendo com os seus feitos quasi todo o mundo, veio à Península Ibérica.
O autor continua dizendo que por todas as partes extremas a que ele chegou erigiu colunas simbólicas das suas vitórias com inscrição do seu nome, pátria e a resenha das vitórias obtidas pelo seu exército sobre os povos subjugados, segundo Heródoto só Sesóstris usou a prática de establecer estas colunas, encontrando-se no tempo de Heródoto as de Scythia e da Thrácia, 
“Não será, pois, para estranhar e talvez seja esta a verdade histórica que as famosas colunas de Hércules do estreito de Gibráltar, que separa a Península Ibérica da África e que a fantasia transformou nos montes Calpe e Abyla, sejam as colunas colocadas por Sesóstris em Cádiz quando conquistou a Península e derrotou o rei Geryon.”.
Fala depois da introdução da agricultura na Península por ele, e diz que: 
“Estamos, pois, em presença d’outra grande invasão na Península, constituida pelo povo Egypcio e por todos aqueles que o conquistador arrastou na sua passagem; Ethiopes, Assyrios, Persas, Scythas e Thrácios; os quais, como veremos, prolongaram aqui o seu império por muitos anos, devendo ter deixado forçosamente vestígios da sua passagem na raça peninsular.”
Fala depois dos seus feitos, da abertura do canal do Suez que terminaram no tempo dos primeiros Lagidas (250 a.c.), tendo depois ficado obstruida e tornou-se novamente navegável no tempo de Trajano e Adriano conservando-se até ao séc. VI quando foi novamente obstruido sendo reaberto em 1869.
Para o autor, as lendas de Osiris e Sesóstris são semelhantes, os dois saem do Egipto, conquistam nações bárbaras, estabelecem a ordem social, fomentam a riqueza, etc, sendo “endeusados”, 
“(...) ficando na memória dos povos como um mito de virtudes cuja tradição constitue uma parte das suas crenças religiosas. Estas circunstâncias e o facto de Sesóstris ter sido chamado Osíris confirmam a suposição de ser aquele rei egypcio o Hércules que veio à Península e não o verdadeiro Osíris que, se existiu, foi em tempos muito mais remotos.”
Mais à frente diz: 
Há contudo uma consideração que, se bem não altera fundamentalmente a tradição, modifica-a na forma como os acontecimentos se teriam dado. Geryon, conhecido pelo monstro de três cabeças, por ter três filhos ou três exércitos, podia ter sido derrotado em Tarifa, na primeira invasão dos Egypcios, juntamente com os filhos, ou em três batalhas dadas em vários pontos da Península; e, n’êste caso, fica posta de parte a vinda de Horos para castigar os filhos de Geryon. O que porém, importa verdadeiramente é o facto, que parece fóra de dúvida, de ter-se dado na Península uma grande invasão egypcia acompanhada de Ethiopes, Assyrios, Persas, Scythas e Thrácios, catorze a dezasseis séculos antes de Christo.
Quando o autor fala dos Sírios diz o seguinte: 
“Carteya, diz Strabão, mantinha grande comércio com os Iberos e foi tomada por Amilcar, carthaginês, no ano de 236 da fundação de Roma. Era a povoação mais importante junto ao Estreito de Gibráltar (fretum Herculeum ou Gaditano), que para os antigos estava situado entre o cabo de Espartel (Ampelusa), junto ao monte Almina (Abyla), termo de Ceuta e o promontorium Junonis, antigo monte Calpe ao noroeste da ponta d’Europa, na montanha de Gibráltar. Êstes montes, Abyla e Calpe, eram as colunas de Hércules da Mythologia; as verdadeiras e reais deviam porêm, ser as de Sesóstris, edificadas em Cádiz.”
Sobre as colunas de Hércules o autor diz o seguinte: 
As colunas de Hércules passavam por ser antigamente, as portas do mundo. Êste monumento substiu até 1145. Constava de uma estrutura de pilares de pedra sobrepostos, formando uma espécie de torre levantada na praia ou já no mar. Cada pilar tinha quinze côvados de circunferência e dez de altura. O conjunto, que media de 60 a 100 côvados de alto, estava ligado sólidamente por barras de ferro chumbadas. Sôbre esta tôrre, em que todavia não existiam portas nem câmaras interiores, levantava-se uma estátua de bronze doirado, de Melkarth, o Hércules phenício, da altura de 6 côvados, representando o deus sob a figura de um homem barbado, com cinto e manto que lhe descia até ao joelho. Com a mão esquerda apanhava as dobras do manto contra o peito, e no braço direito estendido, a mão segurava uma chave ao mesmo tempo que o indicador apontava para o Estreito. O facto, porêm, de existir sôbre as colunas a estátua de Melkarth, não significa que elas fôssem construidas pelos Phenícios, mas unicamente a sua consagração àquele deus, efectuada posteriormente por aqueles povos invasores.

            Os Cruzados e os piratas normandos chamavam ao Estreito, Karlsar, ' as águas do homem'; e Isidoro de Beja, no tempo do domínio árabe, atribuia uma significação profética à atitude da dextra de Melkarth: a chave que empunha era o símbolo de que era essa a porta do país; e o dedo, apontando para o Estreito, queria dizer o caminho por onde vieram os exércitos de Muza.

            As colunas de Hércules foram destruídas em 1145 pelo almirante árabe Ali-ibn-Isa-ibn-Maimun, que se sublevára em Cádiz. Corria a tradição que a estátua era de oiro puro e por isso o Árabe a abateu: era doirada, mas ainda assim a douradura produzio 12.000 dinàrs. (Dozy, Histoire et Littérature d’Espagne).”
Só uma última referência em que é dito que 


“(...) outros dão a entender que Espanha quer dizer, terra desconhecida e afastada. Em língua euskara (vascongada) Espanha significa extremidade, isto é, extremo do mundo conhecido, convicção antiga que deu origem ao  non plus ultra que dizem estava escrito nas colunas d’Hércules, e que se vê reproduzido nas moedas peninsulares.”
No fim de ler isto lembrei-me da questão levantada pela Maria da Fonte sobre o haplogrupo de Tutankhamun ser da Península Ibérica...

Estátuas do templo de Melkarth em Cadiz...
cuja pose parece ser tipicamente egípcia. 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 06:31


Portugal, 1917... não é novidade que, ao longo dos séculos, muitos foram aqueles que tentaram publicar, para transmitir à população, um conhecimento que parecia ser destinado à ocultação.
Calisto encontrou uma preciosidade de J. E. dos Santos e Silva, então engenheiro da Direcção Geral das Colónias, que procurava compilar conhecimento que se afastava "dos modernos historiadores portugueses" que faziam surgir "quase espontaneamente" a nossa História com D. Afonso Henriques (cito o autor).

Para além de no excelente material compilado por Calisto ficar evidenciada uma outra estória sobre as Colunas e Torres de Hérculesparece ainda clara uma ligação Egiptânia e não só... temos uma confirmação para a existência de um Canal do Suez na Antiguidade.

Não podemos deixar de notar que Estrabo dá a entender que os Pilares/Colunas seriam no seu tempo as torres que estavam em Cadiz:
... while the Iberians and Libyans place them at Gades, alleging that 
there is nothing at all resembling pillars close by the strait.

pelo que talvez haja uma confusão no texto com essas torres, que já teriam desaparecido por altura das invasões napoleónicas, fazia mais de um século quando Santos e Silva escreveu o livro (em vez de livro apetece aqui dizer balanço de balança, se libro vier de libra).


------------------- email de Calisto Barbuda  -------------------

Quando há pouco tempo andava à procura de informações sobre os Coni/Cynetes/Cunetes, deparei-me com este livro:
Episódios e Tradições relativos à História Antiga da LusitaniaJ. E. dos Santos e Silva (Lisboa, 1917) 
foi aqui que encontrei umas informações sobre Hércules que achei curiosas, pondo de parte algumas coisas que não percebi como por exemplo ter o nome de Rhamsés II, e a data 1600, quando Sesóstris I reinou 1908-1875 a.c.

Segundo o autor, sobre a vida de Sesóstris I (Rhamsés II), diz que os episódios relatados podem ser relativos a vários dos seus Reis 
“(...) mas que a imaginação e vaidade nacional reuniram n’um só. Supõem que é o Sesác dos livros sagrados; que viveu muito antes da guerra de Troya, no tempo dos Juízes de Israel; que é o Setósis de Maneton; o Egypto, irmão de Danáo; Typhon da Mythologia; o Pharaó submergido nas ondas do Mar Vermelho, quando ia em perseguição de Moysés; e por último que era ou foi chamado o Osíris Egypcio.
Heródoto coloca este rei um século antes da guerra de Tróia (1300 a 1100 A.C.), Cantù coloca em 1600, época em que a península Ibérica foi reinada por Geryon, e como o Sesóstris foi chamado de Osiris, parece lógico que o libertador da Península tenha sido ele.

A data de Heródoto, segundo o autor do livro, coincidiria com a invasão dos Pelasgos na Península, mas refere também que antes destas invasões podem ter havido outras, por outro lado entre os historiadores tem havido confusões chamando Pelasgos aos Tyrrhenos, por isto será (para o autor) a data que Cantù menciona; ou um século depois, na opinião de Bossuet (ou seja, 1491-1457 a.c.).

O autor continua dizendo que: 
Não há tambêm unidade de opiniões sôbre se a derrota de Geryon e a sua morte foi simultâneamente com a dos seus três filhos, nem são unânimes os autores em supôr a vinda de Horus distinta da de Osíris. O que é mais seguido e comentado nos livros antigos é a invasão da Península pelo Hércules Egypcio, isto é, por um rei conquistador d’aquela nacionalidade, cujos feitos o fizeram comparar com o deus Hércules, e que ficou conhecido por êste nome. Considerando, portanto, que a existência de Osíris e Horus, a ser verdadeira, teria necessáriamente que remontar-se a uma época muitíssimo anterior à de Geryon, em cujo tempo reinava no Egypto a XVIII dinastia, de que Sesóstris foi um dos últimos reis (1643, antes de Christo), e que a época d’êste rei coincide com a de Geryon, temos que concluir que o Hércules Egypcio, libertador da Ibéria, foi realmente Sesóstris.
Segundo Heródoto, Hércules teve origem no Egipto, de onde Gregos e Fenícios o adoptaram dando esse nome aos seus heróis, assim na Fenícia era Hércules Tyriano ou Melkarth, na Grécia era Hércules Thebano ou Heraklés, na Gália identificaram-no como Ogmios dos Celtas, chamando-lhe Hércules Gaulês, e na Itália também foi introduzido o culto do Hércules Tebano. Toledo e Huesca consagram vitimas a Hércules Endovecélio (ou Endovélico), mas Leite Vasconcelos (Religiões da Luzitânia) diz supor serem falsas as inscrições.
A história dos diferentes Hércules é um conjunto de prodígios, ou antes, é a história de todos aqueles que tiveram o mesmo nome e suportaram os mesmos trabalhos. Tem-se exagerado os sues feitos, reùnindo-os em um só homem e atribuindo-lhe todas as grandes emprêsas de que se ignorava o autor, cobrindo-os assim d’uma notoriedade que os elevava acima da espécie humana (Diodoro Sículo). Comtudo, o que parece averiguado é que um grande conquistador, que supomos ser Sesóstris e não Osíris nem Orus, e a quem se chamou «o Hércules Egypcio», à frente de forte exército d’esta nacionalidade, depois de ter empreendido uma grande peregrinação, ennobrecendo com os seus feitos quasi todo o mundo, veio à Península Ibérica.
O autor continua dizendo que por todas as partes extremas a que ele chegou erigiu colunas simbólicas das suas vitórias com inscrição do seu nome, pátria e a resenha das vitórias obtidas pelo seu exército sobre os povos subjugados, segundo Heródoto só Sesóstris usou a prática de establecer estas colunas, encontrando-se no tempo de Heródoto as de Scythia e da Thrácia, 
“Não será, pois, para estranhar e talvez seja esta a verdade histórica que as famosas colunas de Hércules do estreito de Gibráltar, que separa a Península Ibérica da África e que a fantasia transformou nos montes Calpe e Abyla, sejam as colunas colocadas por Sesóstris em Cádiz quando conquistou a Península e derrotou o rei Geryon.”.
Fala depois da introdução da agricultura na Península por ele, e diz que: 
“Estamos, pois, em presença d’outra grande invasão na Península, constituida pelo povo Egypcio e por todos aqueles que o conquistador arrastou na sua passagem; Ethiopes, Assyrios, Persas, Scythas e Thrácios; os quais, como veremos, prolongaram aqui o seu império por muitos anos, devendo ter deixado forçosamente vestígios da sua passagem na raça peninsular.”
Fala depois dos seus feitos, da abertura do canal do Suez que terminaram no tempo dos primeiros Lagidas (250 a.c.), tendo depois ficado obstruida e tornou-se novamente navegável no tempo de Trajano e Adriano conservando-se até ao séc. VI quando foi novamente obstruido sendo reaberto em 1869.
Para o autor, as lendas de Osiris e Sesóstris são semelhantes, os dois saem do Egipto, conquistam nações bárbaras, estabelecem a ordem social, fomentam a riqueza, etc, sendo “endeusados”, 
“(...) ficando na memória dos povos como um mito de virtudes cuja tradição constitue uma parte das suas crenças religiosas. Estas circunstâncias e o facto de Sesóstris ter sido chamado Osíris confirmam a suposição de ser aquele rei egypcio o Hércules que veio à Península e não o verdadeiro Osíris que, se existiu, foi em tempos muito mais remotos.”
Mais à frente diz: 
Há contudo uma consideração que, se bem não altera fundamentalmente a tradição, modifica-a na forma como os acontecimentos se teriam dado. Geryon, conhecido pelo monstro de três cabeças, por ter três filhos ou três exércitos, podia ter sido derrotado em Tarifa, na primeira invasão dos Egypcios, juntamente com os filhos, ou em três batalhas dadas em vários pontos da Península; e, n’êste caso, fica posta de parte a vinda de Horos para castigar os filhos de Geryon. O que porém, importa verdadeiramente é o facto, que parece fóra de dúvida, de ter-se dado na Península uma grande invasão egypcia acompanhada de Ethiopes, Assyrios, Persas, Scythas e Thrácios, catorze a dezasseis séculos antes de Christo.
Quando o autor fala dos Sírios diz o seguinte: 
“Carteya, diz Strabão, mantinha grande comércio com os Iberos e foi tomada por Amilcar, carthaginês, no ano de 236 da fundação de Roma. Era a povoação mais importante junto ao Estreito de Gibráltar (fretum Herculeum ou Gaditano), que para os antigos estava situado entre o cabo de Espartel (Ampelusa), junto ao monte Almina (Abyla), termo de Ceuta e o promontorium Junonis, antigo monte Calpe ao noroeste da ponta d’Europa, na montanha de Gibráltar. Êstes montes, Abyla e Calpe, eram as colunas de Hércules da Mythologia; as verdadeiras e reais deviam porêm, ser as de Sesóstris, edificadas em Cádiz.”
Sobre as colunas de Hércules o autor diz o seguinte: 
As colunas de Hércules passavam por ser antigamente, as portas do mundo. Êste monumento substiu até 1145. Constava de uma estrutura de pilares de pedra sobrepostos, formando uma espécie de torre levantada na praia ou já no mar. Cada pilar tinha quinze côvados de circunferência e dez de altura. O conjunto, que media de 60 a 100 côvados de alto, estava ligado sólidamente por barras de ferro chumbadas. Sôbre esta tôrre, em que todavia não existiam portas nem câmaras interiores, levantava-se uma estátua de bronze doirado, de Melkarth, o Hércules phenício, da altura de 6 côvados, representando o deus sob a figura de um homem barbado, com cinto e manto que lhe descia até ao joelho. Com a mão esquerda apanhava as dobras do manto contra o peito, e no braço direito estendido, a mão segurava uma chave ao mesmo tempo que o indicador apontava para o Estreito. O facto, porêm, de existir sôbre as colunas a estátua de Melkarth, não significa que elas fôssem construidas pelos Phenícios, mas unicamente a sua consagração àquele deus, efectuada posteriormente por aqueles povos invasores.

            Os Cruzados e os piratas normandos chamavam ao Estreito, Karlsar, ' as águas do homem'; e Isidoro de Beja, no tempo do domínio árabe, atribuia uma significação profética à atitude da dextra de Melkarth: a chave que empunha era o símbolo de que era essa a porta do país; e o dedo, apontando para o Estreito, queria dizer o caminho por onde vieram os exércitos de Muza.

            As colunas de Hércules foram destruídas em 1145 pelo almirante árabe Ali-ibn-Isa-ibn-Maimun, que se sublevára em Cádiz. Corria a tradição que a estátua era de oiro puro e por isso o Árabe a abateu: era doirada, mas ainda assim a douradura produzio 12.000 dinàrs. (Dozy, Histoire et Littérature d’Espagne).”
Só uma última referência em que é dito que 


“(...) outros dão a entender que Espanha quer dizer, terra desconhecida e afastada. Em língua euskara (vascongada) Espanha significa extremidade, isto é, extremo do mundo conhecido, convicção antiga que deu origem ao  non plus ultra que dizem estava escrito nas colunas d’Hércules, e que se vê reproduzido nas moedas peninsulares.”
No fim de ler isto lembrei-me da questão levantada pela Maria da Fonte sobre o haplogrupo de Tutankhamun ser da Península Ibérica...

Estátuas do templo de Melkarth em Cadiz...
cuja pose parece ser tipicamente egípcia. 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 06:31


Portugal, 1917... não é novidade que, ao longo dos séculos, muitos foram aqueles que tentaram publicar, para transmitir à população, um conhecimento que parecia ser destinado à ocultação.
Calisto encontrou uma preciosidade de J. E. dos Santos e Silva, então engenheiro da Direcção Geral das Colónias, que procurava compilar conhecimento que se afastava "dos modernos historiadores portugueses" que faziam surgir "quase espontaneamente" a nossa História com D. Afonso Henriques (cito o autor).

Para além de no excelente material compilado por Calisto ficar evidenciada uma outra estória sobre as Colunas e Torres de Hérculesparece ainda clara uma ligação Egiptânia e não só... temos uma confirmação para a existência de um Canal do Suez na Antiguidade.

Não podemos deixar de notar que Estrabo dá a entender que os Pilares/Colunas seriam no seu tempo as torres que estavam em Cadiz:
... while the Iberians and Libyans place them at Gades, alleging that 
there is nothing at all resembling pillars close by the strait.

pelo que talvez haja uma confusão no texto com essas torres, que já teriam desaparecido por altura das invasões napoleónicas, fazia mais de um século quando Santos e Silva escreveu o livro (em vez de livro apetece aqui dizer balanço de balança, se libro vier de libra).


------------------- email de Calisto Barbuda  -------------------

Quando há pouco tempo andava à procura de informações sobre os Coni/Cynetes/Cunetes, deparei-me com este livro:
Episódios e Tradições relativos à História Antiga da LusitaniaJ. E. dos Santos e Silva (Lisboa, 1917) 
foi aqui que encontrei umas informações sobre Hércules que achei curiosas, pondo de parte algumas coisas que não percebi como por exemplo ter o nome de Rhamsés II, e a data 1600, quando Sesóstris I reinou 1908-1875 a.c.

Segundo o autor, sobre a vida de Sesóstris I (Rhamsés II), diz que os episódios relatados podem ser relativos a vários dos seus Reis 
“(...) mas que a imaginação e vaidade nacional reuniram n’um só. Supõem que é o Sesác dos livros sagrados; que viveu muito antes da guerra de Troya, no tempo dos Juízes de Israel; que é o Setósis de Maneton; o Egypto, irmão de Danáo; Typhon da Mythologia; o Pharaó submergido nas ondas do Mar Vermelho, quando ia em perseguição de Moysés; e por último que era ou foi chamado o Osíris Egypcio.
Heródoto coloca este rei um século antes da guerra de Tróia (1300 a 1100 A.C.), Cantù coloca em 1600, época em que a península Ibérica foi reinada por Geryon, e como o Sesóstris foi chamado de Osiris, parece lógico que o libertador da Península tenha sido ele.

A data de Heródoto, segundo o autor do livro, coincidiria com a invasão dos Pelasgos na Península, mas refere também que antes destas invasões podem ter havido outras, por outro lado entre os historiadores tem havido confusões chamando Pelasgos aos Tyrrhenos, por isto será (para o autor) a data que Cantù menciona; ou um século depois, na opinião de Bossuet (ou seja, 1491-1457 a.c.).

O autor continua dizendo que: 
Não há tambêm unidade de opiniões sôbre se a derrota de Geryon e a sua morte foi simultâneamente com a dos seus três filhos, nem são unânimes os autores em supôr a vinda de Horus distinta da de Osíris. O que é mais seguido e comentado nos livros antigos é a invasão da Península pelo Hércules Egypcio, isto é, por um rei conquistador d’aquela nacionalidade, cujos feitos o fizeram comparar com o deus Hércules, e que ficou conhecido por êste nome. Considerando, portanto, que a existência de Osíris e Horus, a ser verdadeira, teria necessáriamente que remontar-se a uma época muitíssimo anterior à de Geryon, em cujo tempo reinava no Egypto a XVIII dinastia, de que Sesóstris foi um dos últimos reis (1643, antes de Christo), e que a época d’êste rei coincide com a de Geryon, temos que concluir que o Hércules Egypcio, libertador da Ibéria, foi realmente Sesóstris.
Segundo Heródoto, Hércules teve origem no Egipto, de onde Gregos e Fenícios o adoptaram dando esse nome aos seus heróis, assim na Fenícia era Hércules Tyriano ou Melkarth, na Grécia era Hércules Thebano ou Heraklés, na Gália identificaram-no como Ogmios dos Celtas, chamando-lhe Hércules Gaulês, e na Itália também foi introduzido o culto do Hércules Tebano. Toledo e Huesca consagram vitimas a Hércules Endovecélio (ou Endovélico), mas Leite Vasconcelos (Religiões da Luzitânia) diz supor serem falsas as inscrições.
A história dos diferentes Hércules é um conjunto de prodígios, ou antes, é a história de todos aqueles que tiveram o mesmo nome e suportaram os mesmos trabalhos. Tem-se exagerado os sues feitos, reùnindo-os em um só homem e atribuindo-lhe todas as grandes emprêsas de que se ignorava o autor, cobrindo-os assim d’uma notoriedade que os elevava acima da espécie humana (Diodoro Sículo). Comtudo, o que parece averiguado é que um grande conquistador, que supomos ser Sesóstris e não Osíris nem Orus, e a quem se chamou «o Hércules Egypcio», à frente de forte exército d’esta nacionalidade, depois de ter empreendido uma grande peregrinação, ennobrecendo com os seus feitos quasi todo o mundo, veio à Península Ibérica.
O autor continua dizendo que por todas as partes extremas a que ele chegou erigiu colunas simbólicas das suas vitórias com inscrição do seu nome, pátria e a resenha das vitórias obtidas pelo seu exército sobre os povos subjugados, segundo Heródoto só Sesóstris usou a prática de establecer estas colunas, encontrando-se no tempo de Heródoto as de Scythia e da Thrácia, 
“Não será, pois, para estranhar e talvez seja esta a verdade histórica que as famosas colunas de Hércules do estreito de Gibráltar, que separa a Península Ibérica da África e que a fantasia transformou nos montes Calpe e Abyla, sejam as colunas colocadas por Sesóstris em Cádiz quando conquistou a Península e derrotou o rei Geryon.”.
Fala depois da introdução da agricultura na Península por ele, e diz que: 
“Estamos, pois, em presença d’outra grande invasão na Península, constituida pelo povo Egypcio e por todos aqueles que o conquistador arrastou na sua passagem; Ethiopes, Assyrios, Persas, Scythas e Thrácios; os quais, como veremos, prolongaram aqui o seu império por muitos anos, devendo ter deixado forçosamente vestígios da sua passagem na raça peninsular.”
Fala depois dos seus feitos, da abertura do canal do Suez que terminaram no tempo dos primeiros Lagidas (250 a.c.), tendo depois ficado obstruida e tornou-se novamente navegável no tempo de Trajano e Adriano conservando-se até ao séc. VI quando foi novamente obstruido sendo reaberto em 1869.
Para o autor, as lendas de Osiris e Sesóstris são semelhantes, os dois saem do Egipto, conquistam nações bárbaras, estabelecem a ordem social, fomentam a riqueza, etc, sendo “endeusados”, 
“(...) ficando na memória dos povos como um mito de virtudes cuja tradição constitue uma parte das suas crenças religiosas. Estas circunstâncias e o facto de Sesóstris ter sido chamado Osíris confirmam a suposição de ser aquele rei egypcio o Hércules que veio à Península e não o verdadeiro Osíris que, se existiu, foi em tempos muito mais remotos.”
Mais à frente diz: 
Há contudo uma consideração que, se bem não altera fundamentalmente a tradição, modifica-a na forma como os acontecimentos se teriam dado. Geryon, conhecido pelo monstro de três cabeças, por ter três filhos ou três exércitos, podia ter sido derrotado em Tarifa, na primeira invasão dos Egypcios, juntamente com os filhos, ou em três batalhas dadas em vários pontos da Península; e, n’êste caso, fica posta de parte a vinda de Horos para castigar os filhos de Geryon. O que porém, importa verdadeiramente é o facto, que parece fóra de dúvida, de ter-se dado na Península uma grande invasão egypcia acompanhada de Ethiopes, Assyrios, Persas, Scythas e Thrácios, catorze a dezasseis séculos antes de Christo.
Quando o autor fala dos Sírios diz o seguinte: 
“Carteya, diz Strabão, mantinha grande comércio com os Iberos e foi tomada por Amilcar, carthaginês, no ano de 236 da fundação de Roma. Era a povoação mais importante junto ao Estreito de Gibráltar (fretum Herculeum ou Gaditano), que para os antigos estava situado entre o cabo de Espartel (Ampelusa), junto ao monte Almina (Abyla), termo de Ceuta e o promontorium Junonis, antigo monte Calpe ao noroeste da ponta d’Europa, na montanha de Gibráltar. Êstes montes, Abyla e Calpe, eram as colunas de Hércules da Mythologia; as verdadeiras e reais deviam porêm, ser as de Sesóstris, edificadas em Cádiz.”
Sobre as colunas de Hércules o autor diz o seguinte: 
As colunas de Hércules passavam por ser antigamente, as portas do mundo. Êste monumento substiu até 1145. Constava de uma estrutura de pilares de pedra sobrepostos, formando uma espécie de torre levantada na praia ou já no mar. Cada pilar tinha quinze côvados de circunferência e dez de altura. O conjunto, que media de 60 a 100 côvados de alto, estava ligado sólidamente por barras de ferro chumbadas. Sôbre esta tôrre, em que todavia não existiam portas nem câmaras interiores, levantava-se uma estátua de bronze doirado, de Melkarth, o Hércules phenício, da altura de 6 côvados, representando o deus sob a figura de um homem barbado, com cinto e manto que lhe descia até ao joelho. Com a mão esquerda apanhava as dobras do manto contra o peito, e no braço direito estendido, a mão segurava uma chave ao mesmo tempo que o indicador apontava para o Estreito. O facto, porêm, de existir sôbre as colunas a estátua de Melkarth, não significa que elas fôssem construidas pelos Phenícios, mas unicamente a sua consagração àquele deus, efectuada posteriormente por aqueles povos invasores.

            Os Cruzados e os piratas normandos chamavam ao Estreito, Karlsar, ' as águas do homem'; e Isidoro de Beja, no tempo do domínio árabe, atribuia uma significação profética à atitude da dextra de Melkarth: a chave que empunha era o símbolo de que era essa a porta do país; e o dedo, apontando para o Estreito, queria dizer o caminho por onde vieram os exércitos de Muza.

            As colunas de Hércules foram destruídas em 1145 pelo almirante árabe Ali-ibn-Isa-ibn-Maimun, que se sublevára em Cádiz. Corria a tradição que a estátua era de oiro puro e por isso o Árabe a abateu: era doirada, mas ainda assim a douradura produzio 12.000 dinàrs. (Dozy, Histoire et Littérature d’Espagne).”
Só uma última referência em que é dito que 


“(...) outros dão a entender que Espanha quer dizer, terra desconhecida e afastada. Em língua euskara (vascongada) Espanha significa extremidade, isto é, extremo do mundo conhecido, convicção antiga que deu origem ao  non plus ultra que dizem estava escrito nas colunas d’Hércules, e que se vê reproduzido nas moedas peninsulares.”
No fim de ler isto lembrei-me da questão levantada pela Maria da Fonte sobre o haplogrupo de Tutankhamun ser da Península Ibérica...

Estátuas do templo de Melkarth em Cadiz...
cuja pose parece ser tipicamente egípcia. 

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publicado às 22:31


Colocamos aqui uma importante contribuição de Calisto sobre a cavalaria e os cavalos lusitanos, recebida por email, na sequência da discussão sobre o Cavaleiro do Corvo.



--------------------- email de Calisto Barbuda ------------------------

Concordo sobre quem seriam os cavaleiros Lusitanos. 
A maior referência que encontrei estavam associados aos Coni, por outro lado a melhor zona de criação de cavalos é a Andaluzia incluindo o território a Sul de Portugal, é claro que esta questão é um pouco melindrosa, visto que há quem diga que, quem defende esta ideia é Iberista. O cavalo na Andaluzia famoso no séc XV a XVII, poderá ser descendente do de Portugal, e até concordo com as razões apontadas:
- Platão coloca na Andaluzia, mais concretamente na Bética a criação de cabras e carneiros.
- Do lado do Tejo Português temos planícies fabulosas para a criação de cavalos.
- Por outro lado (e em tempos mais recentes) repare-se que os reinos Árabes foram sendo empurrados para Sul e já não se podia escolher as terras entre o Tejo e Guadalquivir para continuar a selecionar e melhorar cavalos, já não havia Santarém (cf. [1]).
Posto isto, a faixa geográfica com que ficamos presumo que seja a dos Cónios.
"(...) Além destas referências ao modo de combater peculiar aos povos ibéricos e seus cavalos, que demonstram uma ininterrupta sequência milenária, existem outras que o designam como único. São elas as descrições do emprego de cavaleiros ibéricos na Itália ou Norte da África em que se diz que aqueles tinham que levar seus cavalos e quando era impossível o seu transporte, tinham pelo menos que levar os seus arreios, demonstrando assim que lhes eram peculiares e únicos." (cf. [2])
Uma coisa curiosa é o seguinte detalhe, os cavaleiros Ibéricos eram conhecidos com 'frenati', conduzidos com um freio (cf. [2]), ou seja o freio em vez do bridão (utilizados por todos os outros povos, salvo o erro) permite uma condução com uma só mão (poderia lhe dar o exemplo das touradas, mas infelizmente hoje já não há ninguém que utilize uma só mão para conduzir o seu cavalo perante qualquer situação), e para completar deixo-lhe um texto que encontrei na internet: 
"Em nenhum outro local existem evidências da existência de cavalos montados há tanto tempo. Embora noutras paragens, como na Grécia ou no Egipto, também já se utilizasse o cavalo na guerra, essa utilização era sempre feita como animal de tiro, puxando os carros de combate. Isto permite-nos colocar a hipótese da origem ibérica da própria equitação. A confirmar-se, o cavalo Peninsular seria, então, o primeiro cavalo de sela conhecido.
Os cavaleiros ibéricos evoluíam nos campos de batalha de uma forma característica. Tirando enorme partido da obediência e agilidade das suas montadas, movimentavam-se com rápidas transições e bruscas mudanças de direcção, o que dificultava em muito as manobras dos seus inimigos. Esta equitação peculiar, foi dada a conhecer ao mundo pelos Cynetes, quando esta tribo do sudoeste da Península combateu na Grécia contra os Atenienses, auxiliando a vitória dos Espartanos na guerra do Peloponeso (séc. IV a.C.). Tal facto justifica a origem do termo “gineta”, ainda hoje utilizado para classificar esta forma de montar.
Seleccionado, durante séculos, como suporte de uma técnica específica de combater, o cavalo Peninsular vai surpreendendo, pelas suas invulgares capacidades, todos os que contra ele se batem. É o caso de Romanos e Mouros, que o vieram encontrar na Península e prontamente reconheceram as suas inegáveis qualidades." (cf. [3])
Rapidamente se percebe que os ataques de cavalaria, na minha opinião, seriam quase actos "individuais", e não através de uma estrutura de combate sólida e coesa.
E isto tem uma ligação curiosa com a Guerra de Tróia, uma vez que a estrutura militar muda depois da dita guerra.

Sobre o cavalo Ibérico eu sabia alguma coisa, tal como sobre equitação do séc XVIII/XIX (nomeadamente Francesa), mas sobre a cavalaria na Antiguidade é que não sabia quase nada.
Antes da idade do Bronze o papel da cavalaria era essencialmente desempenhado por carros ligeiros puxados por cavalos.

Quando os Persas foram derrotados por Alexandre o Grande, o carro de combate puxado por cavalos já era obsoleto, no entanto continuaram a ser usados, por exemplo, pelos povos do sul da Grã-Bretanha quando da Invasão Romana comandada por Júlio César (55,54 a.C.), por essa altura, os carros já eram usados praticamente em cerimónias ou em corridas.
Xenofonte (430-355 a.c.) escreveu o mais antigo tratado conhecido de equitação ( há um mais antigo escrito por Simão/Simião, mas não se conhece o seu conteúdo), é interessante encontrar lá coisas que ainda hoje em dia fazemos, no entanto a ideia com que fiquei foi que ele preconizava uma cavalaria montada e não atrelada, uma força de cavalaria pequena mas bem treinada.
Xenofonte

O que de seguida transcrevo já não me lembro qual foi a fonte:
"Para os gregos montar a cavalo é um hábito que vem depois do cavalo atrelado. Mesmo com Homero as passagens são mal interpretadas pois todo o tom da poesia épica prova que a condução era a prática comum. Os heróis combatem em carros de combate, a maior parte do exército a pé, mesmo em viagens sobre montanhas eram feitas com carros de cavalos" 
Esta questão da viagens é curiosa, é que para a deslocação com carros de cavalos a rede viária Grega deveria rivalizar com a Romana.
Continuando: 
"Não se sabe quando, mas ao longo dos séculos houve uma mudança. Facto: jogos Olímpicos (776 a.C) em que originalmente a única prova era corrida de carros, só na 33º Olimpíada (648 a.C) aparece corrida de cavalos.
Em batalha o carro de cavalos desaparece antes das guerras persas (499-448 a.C), mas o seu lugar não foi preenchido até depois delas. Na guerra de maratona (guerra greco-persa 490 a.C) os atenienses não tinham cavalaria. Havia criação de cavalos provavelmente para corridas. Sem duvida foi o contacto com a cavalaria persa que levou à organização de um corpo de cavalaria ateniense. Os gregos nunca conseguiram a revolução na arte militar que deu à cavalaria um papel decisivo. Isto estava reservado para os Macedónios."
Um aparte, talvez para perceber a influência Persa é que Xenofonte em 401 alistou-se no exército de Ciro irmão de Artaxerxes II na luta contra este, juntou-se depois aos espartanos e lutou contra Atenas e Tebas na batalha de Coronea 394 a.C.
Continuando: 
"A cavalaria Grega era usada para assediar um exército em marcha ou completar uma vitória já garantida. Só os ricos serviam na cavalaria. O solo e morfologia grega não se adptavam/adaptam à criação de cavalos ao contrário dos tessalianos. Já eram reconhecidos desde os primeiros tempos, mas para o carro e não para cavaleiro. Encontram-se raças descritas nas éguas do rei Diomedes (trabalhos hercules), que comiam carne humana, os cavalos de Rhesus (rei tarcio que combateu ao lado dos troianos), Aquiles e Orestes nas corridas descritas por Sophocles “Electra”- finalmente da mitologia para a história, Bucephalo de Alexandre. Outras raças eram Argive, Acarnanian, Arcadian, e Epidaurian."
Sobre a Peninsula Ibérica nunca encontrei nada sobre carros de cavalos, tudo o que encontrei referia-se a cavalos montados, e isto deixa-me baralhado...
Da outra vez eu referi que foram levados cavaleiros Ibéricos por Dionísio tirano de Siracusa nas guerras do Peloponeso (369 a.C.), a forma de combater e montar em nada era semelhante à forma Grega de então. Também referi que : 
"(...) cavaleiros ibéricos na Itália ou Norte da África em que se diz que aqueles tinham que levar seus cavalos e quando era impossível o seu transporte, tinham pelo menos que levar os seus arreios, demonstrando assim que lhes eram peculiares e únicos."  (cf. [2]) 
ou seja teríamos mais uma vez a vantagem tecnológica do nosso lado.

Disse também (desta vez um pouco mais completo) que:
"(...) outros narram muitos combates singulares de cavaleiros íberos com Cartagineses e Romanos por onde se infere não só a superioridade ibérica neste género de combates, como ainda que ele era um apanágio ibérico. O mesmo se pode verificar mais tarde das crónicas moiras do século XI, de Abu Bakr al Tartusi, autor de Sirg al Muluk, em que cita um combate de um cristão com moiros das hostes de Al Nansur Ibn Amin, em que o Cristão venceu sucessivamente três adversários antes de ser vencido. No final, frisa-se que o vencedor era um homem da fronteira, habituado às lutas com Cristãos e diz-se que como aquele guerreiro nas hostes árabes não havia ‘- nem mil, nem quinhentos, nem cem, nem cinquenta, nem vinte, nem dez’."  (cf.[2]) 
por aqui consegue-se visualizar como seria a forma de combater Ibérica (apesar de se referir ao séc XI presumo que podemos transportar o mesmo para os anteriores).

Continuando com os Gregos: 
"Alguns séculos depois da guerra de Tróia, os tempos mudaram na Hélade e muitos costumes locais foram substituídos. Os gregos já não podiam mais viver sob aquele tipo de sociedade, na qual monarcas mandavam com poderes irrestritos, e isso demandava alterações radicais. Contudo, vale lembrar que Ílion não foi o único reino destruído naquela época. Segundo o historiador Robert Drews, da Universidade de Vanderbilt (Estados Unidos), inúmeros palácios caíram naquele período, causando o fim da Idade do Bronze. Tebas, Micenas, Tirinto e Canaã tiveram o mesmo destino da cidade de Príamo. 
Um dos motivos foi a mudança na estrutura militar. No caso da Hélade, os gregos abriram mão das eficientes cavalarias e, com isso, desenvolveram um novo tipo de estratégia bélica para fortalecer as infantarias. O problema é que, até então, os carros de guerra eram as armas mais eficazes de combate: um condutor bem treinado guiava a biga enquanto "passageiros" atiravam lanças e flechas nos inimigos. Os novos exércitos foram obrigados a encontrar formas de combater essas máquinas militares de forma mais eficiente. 
Com isso, as batalhas envolvendo cavalarias e bigas foram substituídas por pelejas entre homens a pé, os cidadãos-soldados: pessoas que passavam a fazer parte da sociedade de forma mais incisiva e, além disso, vivenciavam a rotina do exército e da polis. 
Assim, os clãs foram extintos, para que todos os homens fossem agrupados em uma mesma cidade, onde poderiam treinar em conjunto por mais tempo para se preparar melhor para a guerra. Isso fez que não tivessem apenas relações familiares, mas sim com os pares, criando um sentimento de cidadania colectiva. Era uma forma de despertar conceitos cívicos nas pessoas. Além disso, os heróis também se transformaram em figuras ultrapassadas. Não havia mais espaço para guerreiros como Aquiles e Heitor, que deixavam os companheiros para trás a fim de ir de encontro ao adversário para obter glórias individuais. Tudo passa a girar em torno da sobrevivência da cidade: os soldados deveriam permanecer unidos no campo de batalha para minimizar os riscos de derrota e, desta forma, resguardar a polis.  
O herói homérico, o bom condutor de carros, podia ainda sobreviver na pessoa do hippeis; já não tem muita coisa em comum com o hoplita, esse soldado-cidadão. O que contava no primeiro era a façanha individual, a proeza feita em combate singular", explica o helenista Jean-Pierre Vernant em seu clássico As origens do pensamento grego. "Mas o hoplita não conhece o combate singular; deve recusar, se lhe oferecer, a tentação de uma proeza puramente individual. É o homem da batalha de braço a braço, da luta ombro a ombro. Foi treinado em manter a posição, marchar em ordem, lançar-se com passos iguais contra o inimigo, cuidar, no meio da peleja, de não deixar sem posto. 
Nesse novo conceito de exército, as infantarias dependiam muito da força do conjunto e da unidade, portanto, todos os homens deveriam se unir como um só bloco para vencer as batalhas. Surgem aí as temíveis falanges, em que os guerreiros passavam a vida toda treinando para desenvolver uma "dependência" de um para com o outro. Deste modo, os generais formavam unidades de combate sólidas e coesas - como ocorreu com a eficiente infantaria de Esparta, que de tão competente foi apelidada de "usina de cadáveres" durante a Segunda Guerra Médica.  
Com a mudança, os monarcas também perderam seu espaço, afinal, os homens já viviam em conjunto para o bem comum da polis, então, sentiam-se capazes de decidir os rumos políticos da cidade-estado. O cidadão passa a se confundir com o soldado, pois a partir do momento em que ganha direitos, também assume seus deveres com a defesa da pátria. Os reis espartanos foram reduzidos a meros generais, sem desempenhar funções administrativas, mas apenas militares. Em seu lugar, quem passou a tomar as decisões políticas foram os conselhos criados pelo legislador Licurgo, que na verdade são os primeiros focos de instituições democráticas no Mundo Antigo. 
O período da grande batalha de Tróia e das memoráveis aretéias entre heróis lendários chegava ao fim porque os homens, treinados para ficar unidos nas guerras, passaram a querer lutar juntos para decidir os rumos da comunidade, de forma coletiva. Caem os reis e, no lugar, ergue-se a imponente democracia."A formação do exército no período clássico carrega elementos das relações sociais, tanto no caso dos espartanos como dos atenienses", explica Álvaro Allegrette, da PUC. "Com as mudanças sociais, as pessoas passaram a viver em comunidade e, assim, as relações entre os cidadãos fica mais evidente." 
A polis, explica Werner Jaeger, representa um princípio novo para os helenos, com reflexos importantes para a vida nas cidades, e surge também a definição de Estado, criado em Esparta: essa instituição pública representa, pela primeira vez, o agente educador do povo. 
Hesíodo, outro poeta grego da Antiguidade, dizia que o heroísmo não surge apenas nos combates. Segundo ele, em O Trabalho e os Dias, o verdadeiro herói mítico e exemplar é forjado em qualquer situação nas quais a disciplina é necessária para enaltecer as qualidades humanas. Um desses momentos era o acto de erguer-se na ágora e, dotado de um senso cidadão apurado, incitar o povo a votar por mudanças importantes para a vida colectiva. Isso reforça a idéia de que era fundamental aprimorar a erudição do povo. A educação seria, portanto, uma forma de obter mais condições de tomar decisões coletivas corretas. Surgem, assim, os políticos (a própria palavra deriva de polis)." 
(ver referência [4])
A cavalaria (penso eu) é boa para partir formações de infantaria (coisa que os cavaleiros Ibéricos eram exímios), a nova estrutura militar Grega parece uma forma de combater a cavalaria, digo eu...
Continuando: 
"a Tessália era, amplamente, conhecida por produzir exímios cavaleiros e experiências posteriores em guerras, tanto com como contra o Império Persa ensinaram aos Gregos o elevado valor da cavalaria em ações de perseguição e em escaramuças.
Em contrapartida, a Macedónia, ao norte, desenvolveu uma forte cavalaria pesada que culminou nos hetaroi (cavalaria dos Companheiros) de Filipe II e de Alexandre o Grande. Além desta cavalaria pesada, o exército de armas combinadas macedónio também empregou soldados de cavalaria ligeira, chamados "prodromoi, em missões de exploração e de cobertura. Foram também empregues os ippiko, soldados de cavalaria média, armados com lança e espada, protegidos com uma couraça de pele, cota de malha e chapéu, usados como exploradores e caçadores a cavalo. Esta cavalaria era usada em conjunto com a infantaria ligeira e a famosa falange macedónica. A eficiência do sistema de armas combinadas foi demonstrado nas conquistas asiáticas de Alexandre o Grande."  (cf. [5])
Sobre esta cavalaria média, armados com lança e espada, fez-me lembrar a lança contrapesada dos Ibéros. Encontra um texto interessante aqui: 
A maioria (se não toda) da informação sobre o cavalo Ibérico encontra com Sommer d'Andrade.

Posto isto continuo sem perceber o que levou a cavalaria Ibérica evoluir da forma que evoluiu, talvez a equitação tenha começado aqui na Península.

Referências:
[1] Arsénio Raposo Cordeiro: Cavalo Lusitano. O filho do vento. Edições INAPA, 1989.
[2] Fernando D'Andrade: O cavalo Lusitano. Lisboa, 10 Março 1986.

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publicado às 07:11


Colocamos aqui uma importante contribuição de Calisto sobre a cavalaria e os cavalos lusitanos, recebida por email, na sequência da discussão sobre o Cavaleiro do Corvo.



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Concordo sobre quem seriam os cavaleiros Lusitanos. 
A maior referência que encontrei estavam associados aos Coni, por outro lado a melhor zona de criação de cavalos é a Andaluzia incluindo o território a Sul de Portugal, é claro que esta questão é um pouco melindrosa, visto que há quem diga que, quem defende esta ideia é Iberista. O cavalo na Andaluzia famoso no séc XV a XVII, poderá ser descendente do de Portugal, e até concordo com as razões apontadas:
- Platão coloca na Andaluzia, mais concretamente na Bética a criação de cabras e carneiros.
- Do lado do Tejo Português temos planícies fabulosas para a criação de cavalos.
- Por outro lado (e em tempos mais recentes) repare-se que os reinos Árabes foram sendo empurrados para Sul e já não se podia escolher as terras entre o Tejo e Guadalquivir para continuar a selecionar e melhorar cavalos, já não havia Santarém (cf. [1]).
Posto isto, a faixa geográfica com que ficamos presumo que seja a dos Cónios.
"(...) Além destas referências ao modo de combater peculiar aos povos ibéricos e seus cavalos, que demonstram uma ininterrupta sequência milenária, existem outras que o designam como único. São elas as descrições do emprego de cavaleiros ibéricos na Itália ou Norte da África em que se diz que aqueles tinham que levar seus cavalos e quando era impossível o seu transporte, tinham pelo menos que levar os seus arreios, demonstrando assim que lhes eram peculiares e únicos." (cf. [2])
Uma coisa curiosa é o seguinte detalhe, os cavaleiros Ibéricos eram conhecidos com 'frenati', conduzidos com um freio (cf. [2]), ou seja o freio em vez do bridão (utilizados por todos os outros povos, salvo o erro) permite uma condução com uma só mão (poderia lhe dar o exemplo das touradas, mas infelizmente hoje já não há ninguém que utilize uma só mão para conduzir o seu cavalo perante qualquer situação), e para completar deixo-lhe um texto que encontrei na internet: 
"Em nenhum outro local existem evidências da existência de cavalos montados há tanto tempo. Embora noutras paragens, como na Grécia ou no Egipto, também já se utilizasse o cavalo na guerra, essa utilização era sempre feita como animal de tiro, puxando os carros de combate. Isto permite-nos colocar a hipótese da origem ibérica da própria equitação. A confirmar-se, o cavalo Peninsular seria, então, o primeiro cavalo de sela conhecido.
Os cavaleiros ibéricos evoluíam nos campos de batalha de uma forma característica. Tirando enorme partido da obediência e agilidade das suas montadas, movimentavam-se com rápidas transições e bruscas mudanças de direcção, o que dificultava em muito as manobras dos seus inimigos. Esta equitação peculiar, foi dada a conhecer ao mundo pelos Cynetes, quando esta tribo do sudoeste da Península combateu na Grécia contra os Atenienses, auxiliando a vitória dos Espartanos na guerra do Peloponeso (séc. IV a.C.). Tal facto justifica a origem do termo “gineta”, ainda hoje utilizado para classificar esta forma de montar.
Seleccionado, durante séculos, como suporte de uma técnica específica de combater, o cavalo Peninsular vai surpreendendo, pelas suas invulgares capacidades, todos os que contra ele se batem. É o caso de Romanos e Mouros, que o vieram encontrar na Península e prontamente reconheceram as suas inegáveis qualidades." (cf. [3])
Rapidamente se percebe que os ataques de cavalaria, na minha opinião, seriam quase actos "individuais", e não através de uma estrutura de combate sólida e coesa.
E isto tem uma ligação curiosa com a Guerra de Tróia, uma vez que a estrutura militar muda depois da dita guerra.

Sobre o cavalo Ibérico eu sabia alguma coisa, tal como sobre equitação do séc XVIII/XIX (nomeadamente Francesa), mas sobre a cavalaria na Antiguidade é que não sabia quase nada.
Antes da idade do Bronze o papel da cavalaria era essencialmente desempenhado por carros ligeiros puxados por cavalos.

Quando os Persas foram derrotados por Alexandre o Grande, o carro de combate puxado por cavalos já era obsoleto, no entanto continuaram a ser usados, por exemplo, pelos povos do sul da Grã-Bretanha quando da Invasão Romana comandada por Júlio César (55,54 a.C.), por essa altura, os carros já eram usados praticamente em cerimónias ou em corridas.
Xenofonte (430-355 a.c.) escreveu o mais antigo tratado conhecido de equitação ( há um mais antigo escrito por Simão/Simião, mas não se conhece o seu conteúdo), é interessante encontrar lá coisas que ainda hoje em dia fazemos, no entanto a ideia com que fiquei foi que ele preconizava uma cavalaria montada e não atrelada, uma força de cavalaria pequena mas bem treinada.
Xenofonte

O que de seguida transcrevo já não me lembro qual foi a fonte:
"Para os gregos montar a cavalo é um hábito que vem depois do cavalo atrelado. Mesmo com Homero as passagens são mal interpretadas pois todo o tom da poesia épica prova que a condução era a prática comum. Os heróis combatem em carros de combate, a maior parte do exército a pé, mesmo em viagens sobre montanhas eram feitas com carros de cavalos" 
Esta questão da viagens é curiosa, é que para a deslocação com carros de cavalos a rede viária Grega deveria rivalizar com a Romana.
Continuando: 
"Não se sabe quando, mas ao longo dos séculos houve uma mudança. Facto: jogos Olímpicos (776 a.C) em que originalmente a única prova era corrida de carros, só na 33º Olimpíada (648 a.C) aparece corrida de cavalos.
Em batalha o carro de cavalos desaparece antes das guerras persas (499-448 a.C), mas o seu lugar não foi preenchido até depois delas. Na guerra de maratona (guerra greco-persa 490 a.C) os atenienses não tinham cavalaria. Havia criação de cavalos provavelmente para corridas. Sem duvida foi o contacto com a cavalaria persa que levou à organização de um corpo de cavalaria ateniense. Os gregos nunca conseguiram a revolução na arte militar que deu à cavalaria um papel decisivo. Isto estava reservado para os Macedónios."
Um aparte, talvez para perceber a influência Persa é que Xenofonte em 401 alistou-se no exército de Ciro irmão de Artaxerxes II na luta contra este, juntou-se depois aos espartanos e lutou contra Atenas e Tebas na batalha de Coronea 394 a.C.
Continuando: 
"A cavalaria Grega era usada para assediar um exército em marcha ou completar uma vitória já garantida. Só os ricos serviam na cavalaria. O solo e morfologia grega não se adptavam/adaptam à criação de cavalos ao contrário dos tessalianos. Já eram reconhecidos desde os primeiros tempos, mas para o carro e não para cavaleiro. Encontram-se raças descritas nas éguas do rei Diomedes (trabalhos hercules), que comiam carne humana, os cavalos de Rhesus (rei tarcio que combateu ao lado dos troianos), Aquiles e Orestes nas corridas descritas por Sophocles “Electra”- finalmente da mitologia para a história, Bucephalo de Alexandre. Outras raças eram Argive, Acarnanian, Arcadian, e Epidaurian."
Sobre a Peninsula Ibérica nunca encontrei nada sobre carros de cavalos, tudo o que encontrei referia-se a cavalos montados, e isto deixa-me baralhado...
Da outra vez eu referi que foram levados cavaleiros Ibéricos por Dionísio tirano de Siracusa nas guerras do Peloponeso (369 a.C.), a forma de combater e montar em nada era semelhante à forma Grega de então. Também referi que : 
"(...) cavaleiros ibéricos na Itália ou Norte da África em que se diz que aqueles tinham que levar seus cavalos e quando era impossível o seu transporte, tinham pelo menos que levar os seus arreios, demonstrando assim que lhes eram peculiares e únicos."  (cf. [2]) 
ou seja teríamos mais uma vez a vantagem tecnológica do nosso lado.

Disse também (desta vez um pouco mais completo) que:
"(...) outros narram muitos combates singulares de cavaleiros íberos com Cartagineses e Romanos por onde se infere não só a superioridade ibérica neste género de combates, como ainda que ele era um apanágio ibérico. O mesmo se pode verificar mais tarde das crónicas moiras do século XI, de Abu Bakr al Tartusi, autor de Sirg al Muluk, em que cita um combate de um cristão com moiros das hostes de Al Nansur Ibn Amin, em que o Cristão venceu sucessivamente três adversários antes de ser vencido. No final, frisa-se que o vencedor era um homem da fronteira, habituado às lutas com Cristãos e diz-se que como aquele guerreiro nas hostes árabes não havia ‘- nem mil, nem quinhentos, nem cem, nem cinquenta, nem vinte, nem dez’."  (cf.[2]) 
por aqui consegue-se visualizar como seria a forma de combater Ibérica (apesar de se referir ao séc XI presumo que podemos transportar o mesmo para os anteriores).

Continuando com os Gregos: 
"Alguns séculos depois da guerra de Tróia, os tempos mudaram na Hélade e muitos costumes locais foram substituídos. Os gregos já não podiam mais viver sob aquele tipo de sociedade, na qual monarcas mandavam com poderes irrestritos, e isso demandava alterações radicais. Contudo, vale lembrar que Ílion não foi o único reino destruído naquela época. Segundo o historiador Robert Drews, da Universidade de Vanderbilt (Estados Unidos), inúmeros palácios caíram naquele período, causando o fim da Idade do Bronze. Tebas, Micenas, Tirinto e Canaã tiveram o mesmo destino da cidade de Príamo. 
Um dos motivos foi a mudança na estrutura militar. No caso da Hélade, os gregos abriram mão das eficientes cavalarias e, com isso, desenvolveram um novo tipo de estratégia bélica para fortalecer as infantarias. O problema é que, até então, os carros de guerra eram as armas mais eficazes de combate: um condutor bem treinado guiava a biga enquanto "passageiros" atiravam lanças e flechas nos inimigos. Os novos exércitos foram obrigados a encontrar formas de combater essas máquinas militares de forma mais eficiente. 
Com isso, as batalhas envolvendo cavalarias e bigas foram substituídas por pelejas entre homens a pé, os cidadãos-soldados: pessoas que passavam a fazer parte da sociedade de forma mais incisiva e, além disso, vivenciavam a rotina do exército e da polis. 
Assim, os clãs foram extintos, para que todos os homens fossem agrupados em uma mesma cidade, onde poderiam treinar em conjunto por mais tempo para se preparar melhor para a guerra. Isso fez que não tivessem apenas relações familiares, mas sim com os pares, criando um sentimento de cidadania colectiva. Era uma forma de despertar conceitos cívicos nas pessoas. Além disso, os heróis também se transformaram em figuras ultrapassadas. Não havia mais espaço para guerreiros como Aquiles e Heitor, que deixavam os companheiros para trás a fim de ir de encontro ao adversário para obter glórias individuais. Tudo passa a girar em torno da sobrevivência da cidade: os soldados deveriam permanecer unidos no campo de batalha para minimizar os riscos de derrota e, desta forma, resguardar a polis.  
O herói homérico, o bom condutor de carros, podia ainda sobreviver na pessoa do hippeis; já não tem muita coisa em comum com o hoplita, esse soldado-cidadão. O que contava no primeiro era a façanha individual, a proeza feita em combate singular", explica o helenista Jean-Pierre Vernant em seu clássico As origens do pensamento grego. "Mas o hoplita não conhece o combate singular; deve recusar, se lhe oferecer, a tentação de uma proeza puramente individual. É o homem da batalha de braço a braço, da luta ombro a ombro. Foi treinado em manter a posição, marchar em ordem, lançar-se com passos iguais contra o inimigo, cuidar, no meio da peleja, de não deixar sem posto. 
Nesse novo conceito de exército, as infantarias dependiam muito da força do conjunto e da unidade, portanto, todos os homens deveriam se unir como um só bloco para vencer as batalhas. Surgem aí as temíveis falanges, em que os guerreiros passavam a vida toda treinando para desenvolver uma "dependência" de um para com o outro. Deste modo, os generais formavam unidades de combate sólidas e coesas - como ocorreu com a eficiente infantaria de Esparta, que de tão competente foi apelidada de "usina de cadáveres" durante a Segunda Guerra Médica.  
Com a mudança, os monarcas também perderam seu espaço, afinal, os homens já viviam em conjunto para o bem comum da polis, então, sentiam-se capazes de decidir os rumos políticos da cidade-estado. O cidadão passa a se confundir com o soldado, pois a partir do momento em que ganha direitos, também assume seus deveres com a defesa da pátria. Os reis espartanos foram reduzidos a meros generais, sem desempenhar funções administrativas, mas apenas militares. Em seu lugar, quem passou a tomar as decisões políticas foram os conselhos criados pelo legislador Licurgo, que na verdade são os primeiros focos de instituições democráticas no Mundo Antigo. 
O período da grande batalha de Tróia e das memoráveis aretéias entre heróis lendários chegava ao fim porque os homens, treinados para ficar unidos nas guerras, passaram a querer lutar juntos para decidir os rumos da comunidade, de forma coletiva. Caem os reis e, no lugar, ergue-se a imponente democracia."A formação do exército no período clássico carrega elementos das relações sociais, tanto no caso dos espartanos como dos atenienses", explica Álvaro Allegrette, da PUC. "Com as mudanças sociais, as pessoas passaram a viver em comunidade e, assim, as relações entre os cidadãos fica mais evidente." 
A polis, explica Werner Jaeger, representa um princípio novo para os helenos, com reflexos importantes para a vida nas cidades, e surge também a definição de Estado, criado em Esparta: essa instituição pública representa, pela primeira vez, o agente educador do povo. 
Hesíodo, outro poeta grego da Antiguidade, dizia que o heroísmo não surge apenas nos combates. Segundo ele, em O Trabalho e os Dias, o verdadeiro herói mítico e exemplar é forjado em qualquer situação nas quais a disciplina é necessária para enaltecer as qualidades humanas. Um desses momentos era o acto de erguer-se na ágora e, dotado de um senso cidadão apurado, incitar o povo a votar por mudanças importantes para a vida colectiva. Isso reforça a idéia de que era fundamental aprimorar a erudição do povo. A educação seria, portanto, uma forma de obter mais condições de tomar decisões coletivas corretas. Surgem, assim, os políticos (a própria palavra deriva de polis)." 
(ver referência [4])
A cavalaria (penso eu) é boa para partir formações de infantaria (coisa que os cavaleiros Ibéricos eram exímios), a nova estrutura militar Grega parece uma forma de combater a cavalaria, digo eu...
Continuando: 
"a Tessália era, amplamente, conhecida por produzir exímios cavaleiros e experiências posteriores em guerras, tanto com como contra o Império Persa ensinaram aos Gregos o elevado valor da cavalaria em ações de perseguição e em escaramuças.
Em contrapartida, a Macedónia, ao norte, desenvolveu uma forte cavalaria pesada que culminou nos hetaroi (cavalaria dos Companheiros) de Filipe II e de Alexandre o Grande. Além desta cavalaria pesada, o exército de armas combinadas macedónio também empregou soldados de cavalaria ligeira, chamados "prodromoi, em missões de exploração e de cobertura. Foram também empregues os ippiko, soldados de cavalaria média, armados com lança e espada, protegidos com uma couraça de pele, cota de malha e chapéu, usados como exploradores e caçadores a cavalo. Esta cavalaria era usada em conjunto com a infantaria ligeira e a famosa falange macedónica. A eficiência do sistema de armas combinadas foi demonstrado nas conquistas asiáticas de Alexandre o Grande."  (cf. [5])
Sobre esta cavalaria média, armados com lança e espada, fez-me lembrar a lança contrapesada dos Ibéros. Encontra um texto interessante aqui: 
O Eng.Fernando Sommer de Andrade e o Cavalo Lusitano (pitamarissa.wordpress.com)
A maioria (se não toda) da informação sobre o cavalo Ibérico encontra com Sommer d'Andrade.

Posto isto continuo sem perceber o que levou a cavalaria Ibérica evoluir da forma que evoluiu, talvez a equitação tenha começado aqui na Península.

Referências:
[1] Arsénio Raposo Cordeiro: Cavalo Lusitano. O filho do vento. Edições INAPA, 1989.
[2] Fernando D'Andrade: O cavalo Lusitano. Lisboa, 10 Março 1986.
[3] http://www.lusitanos.org/pdf.pdf
[4] http://www.revistafilosofia.com.br/ESLH/Edicoes/17/imprime125438.asp
[5] http://dicionario.sensagent.com/cavalaria/pt-pt/#Gr.C3.A9cia_antiga_e_Maced.C3.B3nia

Puro Sangue Lusitano

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publicado às 07:11


Colocamos aqui uma importante contribuição de Calisto sobre a cavalaria e os cavalos lusitanos, recebida por email, na sequência da discussão sobre o Cavaleiro do Corvo.



--------------------- email de Calisto Barbuda ------------------------

Concordo sobre quem seriam os cavaleiros Lusitanos. 
A maior referência que encontrei estavam associados aos Coni, por outro lado a melhor zona de criação de cavalos é a Andaluzia incluindo o território a Sul de Portugal, é claro que esta questão é um pouco melindrosa, visto que há quem diga que, quem defende esta ideia é Iberista. O cavalo na Andaluzia famoso no séc XV a XVII, poderá ser descendente do de Portugal, e até concordo com as razões apontadas:
- Platão coloca na Andaluzia, mais concretamente na Bética a criação de cabras e carneiros.
- Do lado do Tejo Português temos planícies fabulosas para a criação de cavalos.
- Por outro lado (e em tempos mais recentes) repare-se que os reinos Árabes foram sendo empurrados para Sul e já não se podia escolher as terras entre o Tejo e Guadalquivir para continuar a selecionar e melhorar cavalos, já não havia Santarém (cf. [1]).
Posto isto, a faixa geográfica com que ficamos presumo que seja a dos Cónios.
"(...) Além destas referências ao modo de combater peculiar aos povos ibéricos e seus cavalos, que demonstram uma ininterrupta sequência milenária, existem outras que o designam como único. São elas as descrições do emprego de cavaleiros ibéricos na Itália ou Norte da África em que se diz que aqueles tinham que levar seus cavalos e quando era impossível o seu transporte, tinham pelo menos que levar os seus arreios, demonstrando assim que lhes eram peculiares e únicos." (cf. [2])
Uma coisa curiosa é o seguinte detalhe, os cavaleiros Ibéricos eram conhecidos com 'frenati', conduzidos com um freio (cf. [2]), ou seja o freio em vez do bridão (utilizados por todos os outros povos, salvo o erro) permite uma condução com uma só mão (poderia lhe dar o exemplo das touradas, mas infelizmente hoje já não há ninguém que utilize uma só mão para conduzir o seu cavalo perante qualquer situação), e para completar deixo-lhe um texto que encontrei na internet: 
"Em nenhum outro local existem evidências da existência de cavalos montados há tanto tempo. Embora noutras paragens, como na Grécia ou no Egipto, também já se utilizasse o cavalo na guerra, essa utilização era sempre feita como animal de tiro, puxando os carros de combate. Isto permite-nos colocar a hipótese da origem ibérica da própria equitação. A confirmar-se, o cavalo Peninsular seria, então, o primeiro cavalo de sela conhecido.
Os cavaleiros ibéricos evoluíam nos campos de batalha de uma forma característica. Tirando enorme partido da obediência e agilidade das suas montadas, movimentavam-se com rápidas transições e bruscas mudanças de direcção, o que dificultava em muito as manobras dos seus inimigos. Esta equitação peculiar, foi dada a conhecer ao mundo pelos Cynetes, quando esta tribo do sudoeste da Península combateu na Grécia contra os Atenienses, auxiliando a vitória dos Espartanos na guerra do Peloponeso (séc. IV a.C.). Tal facto justifica a origem do termo “gineta”, ainda hoje utilizado para classificar esta forma de montar.
Seleccionado, durante séculos, como suporte de uma técnica específica de combater, o cavalo Peninsular vai surpreendendo, pelas suas invulgares capacidades, todos os que contra ele se batem. É o caso de Romanos e Mouros, que o vieram encontrar na Península e prontamente reconheceram as suas inegáveis qualidades." (cf. [3])
Rapidamente se percebe que os ataques de cavalaria, na minha opinião, seriam quase actos "individuais", e não através de uma estrutura de combate sólida e coesa.
E isto tem uma ligação curiosa com a Guerra de Tróia, uma vez que a estrutura militar muda depois da dita guerra.

Sobre o cavalo Ibérico eu sabia alguma coisa, tal como sobre equitação do séc XVIII/XIX (nomeadamente Francesa), mas sobre a cavalaria na Antiguidade é que não sabia quase nada.
Antes da idade do Bronze o papel da cavalaria era essencialmente desempenhado por carros ligeiros puxados por cavalos.

Quando os Persas foram derrotados por Alexandre o Grande, o carro de combate puxado por cavalos já era obsoleto, no entanto continuaram a ser usados, por exemplo, pelos povos do sul da Grã-Bretanha quando da Invasão Romana comandada por Júlio César (55,54 a.C.), por essa altura, os carros já eram usados praticamente em cerimónias ou em corridas.
Xenofonte (430-355 a.c.) escreveu o mais antigo tratado conhecido de equitação ( há um mais antigo escrito por Simão/Simião, mas não se conhece o seu conteúdo), é interessante encontrar lá coisas que ainda hoje em dia fazemos, no entanto a ideia com que fiquei foi que ele preconizava uma cavalaria montada e não atrelada, uma força de cavalaria pequena mas bem treinada.
Xenofonte

O que de seguida transcrevo já não me lembro qual foi a fonte:
"Para os gregos montar a cavalo é um hábito que vem depois do cavalo atrelado. Mesmo com Homero as passagens são mal interpretadas pois todo o tom da poesia épica prova que a condução era a prática comum. Os heróis combatem em carros de combate, a maior parte do exército a pé, mesmo em viagens sobre montanhas eram feitas com carros de cavalos" 
Esta questão da viagens é curiosa, é que para a deslocação com carros de cavalos a rede viária Grega deveria rivalizar com a Romana.
Continuando: 
"Não se sabe quando, mas ao longo dos séculos houve uma mudança. Facto: jogos Olímpicos (776 a.C) em que originalmente a única prova era corrida de carros, só na 33º Olimpíada (648 a.C) aparece corrida de cavalos.
Em batalha o carro de cavalos desaparece antes das guerras persas (499-448 a.C), mas o seu lugar não foi preenchido até depois delas. Na guerra de maratona (guerra greco-persa 490 a.C) os atenienses não tinham cavalaria. Havia criação de cavalos provavelmente para corridas. Sem duvida foi o contacto com a cavalaria persa que levou à organização de um corpo de cavalaria ateniense. Os gregos nunca conseguiram a revolução na arte militar que deu à cavalaria um papel decisivo. Isto estava reservado para os Macedónios."
Um aparte, talvez para perceber a influência Persa é que Xenofonte em 401 alistou-se no exército de Ciro irmão de Artaxerxes II na luta contra este, juntou-se depois aos espartanos e lutou contra Atenas e Tebas na batalha de Coronea 394 a.C.
Continuando: 
"A cavalaria Grega era usada para assediar um exército em marcha ou completar uma vitória já garantida. Só os ricos serviam na cavalaria. O solo e morfologia grega não se adptavam/adaptam à criação de cavalos ao contrário dos tessalianos. Já eram reconhecidos desde os primeiros tempos, mas para o carro e não para cavaleiro. Encontram-se raças descritas nas éguas do rei Diomedes (trabalhos hercules), que comiam carne humana, os cavalos de Rhesus (rei tarcio que combateu ao lado dos troianos), Aquiles e Orestes nas corridas descritas por Sophocles “Electra”- finalmente da mitologia para a história, Bucephalo de Alexandre. Outras raças eram Argive, Acarnanian, Arcadian, e Epidaurian."
Sobre a Peninsula Ibérica nunca encontrei nada sobre carros de cavalos, tudo o que encontrei referia-se a cavalos montados, e isto deixa-me baralhado...
Da outra vez eu referi que foram levados cavaleiros Ibéricos por Dionísio tirano de Siracusa nas guerras do Peloponeso (369 a.C.), a forma de combater e montar em nada era semelhante à forma Grega de então. Também referi que : 
"(...) cavaleiros ibéricos na Itália ou Norte da África em que se diz que aqueles tinham que levar seus cavalos e quando era impossível o seu transporte, tinham pelo menos que levar os seus arreios, demonstrando assim que lhes eram peculiares e únicos."  (cf. [2]) 
ou seja teríamos mais uma vez a vantagem tecnológica do nosso lado.

Disse também (desta vez um pouco mais completo) que:
"(...) outros narram muitos combates singulares de cavaleiros íberos com Cartagineses e Romanos por onde se infere não só a superioridade ibérica neste género de combates, como ainda que ele era um apanágio ibérico. O mesmo se pode verificar mais tarde das crónicas moiras do século XI, de Abu Bakr al Tartusi, autor de Sirg al Muluk, em que cita um combate de um cristão com moiros das hostes de Al Nansur Ibn Amin, em que o Cristão venceu sucessivamente três adversários antes de ser vencido. No final, frisa-se que o vencedor era um homem da fronteira, habituado às lutas com Cristãos e diz-se que como aquele guerreiro nas hostes árabes não havia ‘- nem mil, nem quinhentos, nem cem, nem cinquenta, nem vinte, nem dez’."  (cf.[2]) 
por aqui consegue-se visualizar como seria a forma de combater Ibérica (apesar de se referir ao séc XI presumo que podemos transportar o mesmo para os anteriores).

Continuando com os Gregos: 
"Alguns séculos depois da guerra de Tróia, os tempos mudaram na Hélade e muitos costumes locais foram substituídos. Os gregos já não podiam mais viver sob aquele tipo de sociedade, na qual monarcas mandavam com poderes irrestritos, e isso demandava alterações radicais. Contudo, vale lembrar que Ílion não foi o único reino destruído naquela época. Segundo o historiador Robert Drews, da Universidade de Vanderbilt (Estados Unidos), inúmeros palácios caíram naquele período, causando o fim da Idade do Bronze. Tebas, Micenas, Tirinto e Canaã tiveram o mesmo destino da cidade de Príamo. 
Um dos motivos foi a mudança na estrutura militar. No caso da Hélade, os gregos abriram mão das eficientes cavalarias e, com isso, desenvolveram um novo tipo de estratégia bélica para fortalecer as infantarias. O problema é que, até então, os carros de guerra eram as armas mais eficazes de combate: um condutor bem treinado guiava a biga enquanto "passageiros" atiravam lanças e flechas nos inimigos. Os novos exércitos foram obrigados a encontrar formas de combater essas máquinas militares de forma mais eficiente. 
Com isso, as batalhas envolvendo cavalarias e bigas foram substituídas por pelejas entre homens a pé, os cidadãos-soldados: pessoas que passavam a fazer parte da sociedade de forma mais incisiva e, além disso, vivenciavam a rotina do exército e da polis. 
Assim, os clãs foram extintos, para que todos os homens fossem agrupados em uma mesma cidade, onde poderiam treinar em conjunto por mais tempo para se preparar melhor para a guerra. Isso fez que não tivessem apenas relações familiares, mas sim com os pares, criando um sentimento de cidadania colectiva. Era uma forma de despertar conceitos cívicos nas pessoas. Além disso, os heróis também se transformaram em figuras ultrapassadas. Não havia mais espaço para guerreiros como Aquiles e Heitor, que deixavam os companheiros para trás a fim de ir de encontro ao adversário para obter glórias individuais. Tudo passa a girar em torno da sobrevivência da cidade: os soldados deveriam permanecer unidos no campo de batalha para minimizar os riscos de derrota e, desta forma, resguardar a polis.  
O herói homérico, o bom condutor de carros, podia ainda sobreviver na pessoa do hippeis; já não tem muita coisa em comum com o hoplita, esse soldado-cidadão. O que contava no primeiro era a façanha individual, a proeza feita em combate singular", explica o helenista Jean-Pierre Vernant em seu clássico As origens do pensamento grego. "Mas o hoplita não conhece o combate singular; deve recusar, se lhe oferecer, a tentação de uma proeza puramente individual. É o homem da batalha de braço a braço, da luta ombro a ombro. Foi treinado em manter a posição, marchar em ordem, lançar-se com passos iguais contra o inimigo, cuidar, no meio da peleja, de não deixar sem posto. 
Nesse novo conceito de exército, as infantarias dependiam muito da força do conjunto e da unidade, portanto, todos os homens deveriam se unir como um só bloco para vencer as batalhas. Surgem aí as temíveis falanges, em que os guerreiros passavam a vida toda treinando para desenvolver uma "dependência" de um para com o outro. Deste modo, os generais formavam unidades de combate sólidas e coesas - como ocorreu com a eficiente infantaria de Esparta, que de tão competente foi apelidada de "usina de cadáveres" durante a Segunda Guerra Médica.  
Com a mudança, os monarcas também perderam seu espaço, afinal, os homens já viviam em conjunto para o bem comum da polis, então, sentiam-se capazes de decidir os rumos políticos da cidade-estado. O cidadão passa a se confundir com o soldado, pois a partir do momento em que ganha direitos, também assume seus deveres com a defesa da pátria. Os reis espartanos foram reduzidos a meros generais, sem desempenhar funções administrativas, mas apenas militares. Em seu lugar, quem passou a tomar as decisões políticas foram os conselhos criados pelo legislador Licurgo, que na verdade são os primeiros focos de instituições democráticas no Mundo Antigo. 
O período da grande batalha de Tróia e das memoráveis aretéias entre heróis lendários chegava ao fim porque os homens, treinados para ficar unidos nas guerras, passaram a querer lutar juntos para decidir os rumos da comunidade, de forma coletiva. Caem os reis e, no lugar, ergue-se a imponente democracia."A formação do exército no período clássico carrega elementos das relações sociais, tanto no caso dos espartanos como dos atenienses", explica Álvaro Allegrette, da PUC. "Com as mudanças sociais, as pessoas passaram a viver em comunidade e, assim, as relações entre os cidadãos fica mais evidente." 
A polis, explica Werner Jaeger, representa um princípio novo para os helenos, com reflexos importantes para a vida nas cidades, e surge também a definição de Estado, criado em Esparta: essa instituição pública representa, pela primeira vez, o agente educador do povo. 
Hesíodo, outro poeta grego da Antiguidade, dizia que o heroísmo não surge apenas nos combates. Segundo ele, em O Trabalho e os Dias, o verdadeiro herói mítico e exemplar é forjado em qualquer situação nas quais a disciplina é necessária para enaltecer as qualidades humanas. Um desses momentos era o acto de erguer-se na ágora e, dotado de um senso cidadão apurado, incitar o povo a votar por mudanças importantes para a vida colectiva. Isso reforça a idéia de que era fundamental aprimorar a erudição do povo. A educação seria, portanto, uma forma de obter mais condições de tomar decisões coletivas corretas. Surgem, assim, os políticos (a própria palavra deriva de polis)." 
(ver referência [4])
A cavalaria (penso eu) é boa para partir formações de infantaria (coisa que os cavaleiros Ibéricos eram exímios), a nova estrutura militar Grega parece uma forma de combater a cavalaria, digo eu...
Continuando: 
"a Tessália era, amplamente, conhecida por produzir exímios cavaleiros e experiências posteriores em guerras, tanto com como contra o Império Persa ensinaram aos Gregos o elevado valor da cavalaria em ações de perseguição e em escaramuças.
Em contrapartida, a Macedónia, ao norte, desenvolveu uma forte cavalaria pesada que culminou nos hetaroi (cavalaria dos Companheiros) de Filipe II e de Alexandre o Grande. Além desta cavalaria pesada, o exército de armas combinadas macedónio também empregou soldados de cavalaria ligeira, chamados "prodromoi, em missões de exploração e de cobertura. Foram também empregues os ippiko, soldados de cavalaria média, armados com lança e espada, protegidos com uma couraça de pele, cota de malha e chapéu, usados como exploradores e caçadores a cavalo. Esta cavalaria era usada em conjunto com a infantaria ligeira e a famosa falange macedónica. A eficiência do sistema de armas combinadas foi demonstrado nas conquistas asiáticas de Alexandre o Grande."  (cf. [5])
Sobre esta cavalaria média, armados com lança e espada, fez-me lembrar a lança contrapesada dos Ibéros. Encontra um texto interessante aqui: 
O Eng.Fernando Sommer de Andrade e o Cavalo Lusitano (pitamarissa.wordpress.com)
A maioria (se não toda) da informação sobre o cavalo Ibérico encontra com Sommer d'Andrade.

Posto isto continuo sem perceber o que levou a cavalaria Ibérica evoluir da forma que evoluiu, talvez a equitação tenha começado aqui na Península.

Referências:
[1] Arsénio Raposo Cordeiro: Cavalo Lusitano. O filho do vento. Edições INAPA, 1989.
[2] Fernando D'Andrade: O cavalo Lusitano. Lisboa, 10 Março 1986.
[3] http://www.lusitanos.org/pdf.pdf
[4] http://www.revistafilosofia.com.br/ESLH/Edicoes/17/imprime125438.asp
[5] http://dicionario.sensagent.com/cavalaria/pt-pt/#Gr.C3.A9cia_antiga_e_Maced.C3.B3nia

Puro Sangue Lusitano

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publicado às 23:11

Este é um daqueles textos que já deveria ter sido escrito há mais tempo... e diz respeito à ortografia.
Antigamente, escrever-se-ia orthographia pela derivação do grego ορθογραφία.
Duarte Nunes de Leão, no Séc. XVI, é muito claro relativamente a este assunto - diz que não deveríamos perder a raiz histórica das palavras, e assim foi convenção europeia que o θ tinha como correspondente o th, e que o φ tinha correspondente no ph. 
Essa ligação histórica perdeu-se no português e castelhano no Séc. XX, já depois de se ter perdido no italiano, mas manteve-se no norte da Europa. O sul terá sido conduzido a uma via fonética...
A ligação fonética até nos poderia levar ainda a tempos mais remotos, mas na prática o que faz é conduzir-nos a uma baralhação de curto prazo, e acentuada perda de memória. 

Aliás, a sociedade está a ser induzida num processo de progressivo Alzheimer, em que só importa o que ocorre no dia de hoje, e que amanhã será esquecido, renascendo sempre infantilmente.
Isso será especialmente notado por quem se dedicar a inspeccionar o sótão da nossa História...

Até aqui... nada de muito novo, e por isso vamos buscar um livro de Plínio ao sótão.
No Livro VII, Cap. 57, Plínio tem um interessante texto sobre as diversas invenções humanas.
Vale a pena ler todas, mas vamos aqui falar da "invenção das letras".
Plínio considera serem de origem Assíria, o que mostra a sua sensatez, mas depois dá outras versões:
- no Egipto, inventadas por Mercúrio!
- pelos Sírios... digamos Fenícios, e que Cadmus teria levado 16 letras para Grécia.

Surge depois o ponto notável, ao estabelecer que outras letras estavam ligadas à Guerra de Tróia:
 θ ξ φ χ      - teriam sido inventadas por Palomedes (que enviou Ulisses a Tróia, e foi traído por ele);
 ζ  η  ψ ω    - teriam sido inventadas pelo poeta Simonides (à época das Termópilas).

Refere ainda que Aristóteles colocava como 18 e não apenas 16 letras originais, a saber:
α β γ δ ε ζ ι κ λ μ ν ο π ρ ς τ υ φ
a que correspondem
A B G D E Z I C L M N O P R S T U F
e em termos de sons, faltam apenas aqui o J e o V, que os gregos não usaram. Jasão era escrito Iasonas, por exemplo, enquanto que o V parece ter sido mesmo ausente.
A substituição dos B pelos V não é só pronúncia do Norte, é também sintoma grego... aliás convém referir que essa é uma relação que pode sustentar a suposta presença grega no Minho.

Estas 18 letras parecem mais plausíveis, pois o ζ e o φ seriam precisos para sons comuns como Z e F.
Já as restantes letras inventadas pelos gregos vieram acrescentar confusão...
- O θ pouco substitui o T, que passou a Th nas transcrições.
- O ξ poderia ser escrito Cs... a menos que tivesse sido pretendido fazer o som Ch. Isto é importante, porque a maioria das línguas europeias usa o som, mas não tem uma só letra para ele. Nós não dizemos "Alecsandre", dizemos "Alechandre"... Um substituto próximo seria o J para "Alejandre" (é isso que os espanhóis fazem, mas fazendo-o R), mas essa letra também não constava no grego.
- Quanto ao χ não fazia falta dado haver o κ ou o ς. O mesmo se passando com os  η, ψ, ω cujo som estava no E, PS, O... a menos que se pretendesse distinguir Ê e É ou Ô e Ó, mas devemos ter em atenção que os gregos usavam acentos.

Poderíamos continuar o relato de Plínio, para a surpreendente revelação de que os Babilónios/Caldeus, teriam registos das estrelas durante centenas de milhares de anos... mas vamos focar-nos na questão das letras.

Uma das letras que os gregos não tinham era o Y.
Já aqui falámos na confusão entre Lusitânia e Lysitânia, e relação com a Lídia ou a Lícia...
Convém perceber melhor porquê. É que o Y (ipsilon) foi usado como substituto do upsilon acentuado ύ e por isso, quando se escreve Cyprus, os gregos escrevem Κύπρος.
Certo!... Mas, e se por acaso se perder o acento na transcrição?
Bom, nesse caso passamos a Κυπρος, Cuprus, que já nada tem a ver com Chipre, tem a ver com Cobre, Cuprum, cujo símbolo químico é aliás Cu...
Acidental, dir-se-à habitualmente e repetidamente... tantos são os acidentes e as coincidências. Porém, voltamos a Plínio, que nos esclarece que a exploração do Cobre teria tido a sua origem onde? No Chipre, pois claro!

Será caso único? Claro que não é, é aliás muito frequente.
Estamos habituados a ouvir falar das Guerras Púnicas... e o que é que Púnico tem a ver com Cartago ou com os fenícios? A própria wikipedia explica:
O adjectivo "púnico" deriva do nome dado aos cartagineses pelos romanos 
(Punici) (de Poenici, ou seja, de ascendência fenícia)
Poenici... porque faltou o H, e deveria ser Phoenici.
Cai uma letra nas transcrições, a moda pega rapidamente, e a palavra passa a ser usada.
Tivesse a coisa sido necessária e os púnicos nada teriam a ver com os fenícios, sem que houvesse suspeita... de tal forma a fonética tinha sido corrompida.

Por isso, quando vamos buscar textos gregos e vemos Lysitanos, devemos lembrar que a diferença para com Lusitanos é só num acento: Λύσιτανῶν ou Λυσιτανῶν e graficamente, se quisermos admitir corrupção em textos antigos é fácil que Lusia: Λυσια, tenha passado para Lydia: Λύδια.
É por isso que é mais importante manter algum espírito e questionar a letra... os relatos de ouro nos rios vinha dos rios lusitanos, enquanto que o rio Pactolo do Rei Creso (ou Midas) só lendariamente foi associado a ouro.
Curiosamente, os franceses mantêm uma pronúncia ambígua no U fazendo soar um I, talvez justamente como resto desta ligação Upsilon-Ypsilon.

Lembrei-me disto, a propósito de uma interessante conversa com Calisto sobre os cavalos lusitanos. Dizia Calisto:
Os cavaleiros ibéricos evoluíam nos campos de batalha de uma forma característica. Tirando enorme partido da obediência e agilidade das suas montadas, movimentavam-se com rápidas transições e bruscas mudanças de direcção, o que dificultava em muito as manobras dos seus inimigos. Esta equitação peculiar, foi dada a conhecer ao mundo pelos Cynetes, quando esta tribo do sudoeste da Península combateu na Grécia contra os Atenienses, auxiliando a vitória dos Espartanos na guerra do Peloponeso (séc. IV a.C.). Tal facto justifica a origem do termo “gineta”, ainda hoje utilizado para classificar esta forma de montar.
Para além do interesse próprio do texto, que espero que o Calisto complete, a referência a Cynetes levou-me imediatamente à variação do Y em U, com a possibilidade de ser Cunetes, e assim referir-se aos Cúnios (ou Cónios). Isto tem algum relevo no sentido da discussão anterior, já que os lusitanos das montanhas, que combatiam a pé e em emboscada, não seriam esses típicos cavaleiros. Houve uma perda do legado dos Cúnios (passando tudo a Lusitano), cujas razões já aqui tentámos explicar...
A transformação do C em G, essa já é mais recente, mas também muito conhecida, por isso o Cynete passou a Ginete... mas de "ginetes" até à ligação com os cónios é que fica a grande distância da suposição de alteração.

Não se trata aqui de encontrar relações soltas... essas podem ser casuais, e haverá certamente muitas que nos levam em erro. Interessa mostrar os casos claros, e alertar para estas diferentes alterações.
A reconstrução tem que ser feita mais pelo espírito da consistência do que pela letra exacta.
Importaria não perder o rasto, já que ele fica mais ténue, a cada mudança ortográfica... perde-se a memória, e perde-se a identidade. Por vezes, surgem surpresas, pelo efeito oposto, como é o caso de Egito e Egitânia... mas dificilmente terá sido essa a intenção, pelo contrário! Temos que contar com os ingleses e franceses para manter a etimologia...

Curiosamente, e a propósito de Egipto, na menção grega de Estrabo tanto aparece Αἰγύπτῳ (Aegypto) como Αἰγυπτῳ (Aegupto)... e se os ingleses têm o Y correctamente, há muito que perderam o AE que era usado pelos romanos neste caso (e também em Etiópia). E se o som PT se mantinha à época romana, a haver alguma conexão em Egitânia, ela perder-se-à nas areias do tempo...

Terminamos apenas com um interessante pormenor, a propósito da relação entre C e G... a cidade de Málaga era denominada Malaca pelos romanos. Aqui não é preciso explicar sobre que outra Malaca falamos... interessa notar que estas alterações produzem um quase total despiste. Nem sequer podemos associar o G ao C... ambas foram terceiras letras de alfabeto, porque o G acabou por ser usado para se substituir a outras letras, ganhando um significado especial até como símbolo maçónico.
Da mesma forma, o H encontrado em textos gregos, como por exemplo em Ἡρακλῆς (Herácles: Hércules) será apenas a forma maiúscula do η (eta), pelo que Eracles seria apropriado... e é por essa razão que não nos importamos de tirar o H a hebreus, ficando Ebreus. Mas, o importante, é que essa razão não basta, é apenas mais um elemento para o acumular de razões... a letra conta, mas apenas como mais um elemento na consistência que pode dar corpo ao espírito de pesquisa.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 07:55

Este é um daqueles textos que já deveria ter sido escrito há mais tempo... e diz respeito à ortografia.
Antigamente, escrever-se-ia orthographia pela derivação do grego ορθογραφία.
Duarte Nunes de Leão, no Séc. XVI, é muito claro relativamente a este assunto - diz que não deveríamos perder a raiz histórica das palavras, e assim foi convenção europeia que o θ tinha como correspondente o th, e que o φ tinha correspondente no ph. 
Essa ligação histórica perdeu-se no português e castelhano no Séc. XX, já depois de se ter perdido no italiano, mas manteve-se no norte da Europa. O sul terá sido conduzido a uma via fonética...
A ligação fonética até nos poderia levar ainda a tempos mais remotos, mas na prática o que faz é conduzir-nos a uma baralhação de curto prazo, e acentuada perda de memória. 

Aliás, a sociedade está a ser induzida num processo de progressivo Alzheimer, em que só importa o que ocorre no dia de hoje, e que amanhã será esquecido, renascendo sempre infantilmente.
Isso será especialmente notado por quem se dedicar a inspeccionar o sótão da nossa História...

Até aqui... nada de muito novo, e por isso vamos buscar um livro de Plínio ao sótão.
No Livro VII, Cap. 57, Plínio tem um interessante texto sobre as diversas invenções humanas.
Vale a pena ler todas, mas vamos aqui falar da "invenção das letras".
Plínio considera serem de origem Assíria, o que mostra a sua sensatez, mas depois dá outras versões:
- no Egipto, inventadas por Mercúrio!
- pelos Sírios... digamos Fenícios, e que Cadmus teria levado 16 letras para Grécia.

Surge depois o ponto notável, ao estabelecer que outras letras estavam ligadas à Guerra de Tróia:
 θ ξ φ χ      - teriam sido inventadas por Palomedes (que enviou Ulisses a Tróia, e foi traído por ele);
 ζ  η  ψ ω    - teriam sido inventadas pelo poeta Simonides (à época das Termópilas).

Refere ainda que Aristóteles colocava como 18 e não apenas 16 letras originais, a saber:
α β γ δ ε ζ ι κ λ μ ν ο π ρ ς τ υ φ
a que correspondem
A B G D E Z I C L M N O P R S T U F
e em termos de sons, faltam apenas aqui o J e o V, que os gregos não usaram. Jasão era escrito Iasonas, por exemplo, enquanto que o V parece ter sido mesmo ausente.
A substituição dos B pelos V não é só pronúncia do Norte, é também sintoma grego... aliás convém referir que essa é uma relação que pode sustentar a suposta presença grega no Minho.

Estas 18 letras parecem mais plausíveis, pois o ζ e o φ seriam precisos para sons comuns como Z e F.
Já as restantes letras inventadas pelos gregos vieram acrescentar confusão...
- O θ pouco substitui o T, que passou a Th nas transcrições.
- O ξ poderia ser escrito Cs... a menos que tivesse sido pretendido fazer o som Ch. Isto é importante, porque a maioria das línguas europeias usa o som, mas não tem uma só letra para ele. Nós não dizemos "Alecsandre", dizemos "Alechandre"... Um substituto próximo seria o J para "Alejandre" (é isso que os espanhóis fazem, mas fazendo-o R), mas essa letra também não constava no grego.
- Quanto ao χ não fazia falta dado haver o κ ou o ς. O mesmo se passando com os  η, ψ, ω cujo som estava no E, PS, O... a menos que se pretendesse distinguir Ê e É ou Ô e Ó, mas devemos ter em atenção que os gregos usavam acentos.

Poderíamos continuar o relato de Plínio, para a surpreendente revelação de que os Babilónios/Caldeus, teriam registos das estrelas durante centenas de milhares de anos... mas vamos focar-nos na questão das letras.

Uma das letras que os gregos não tinham era o Y.
Já aqui falámos na confusão entre Lusitânia e Lysitânia, e relação com a Lídia ou a Lícia...
Convém perceber melhor porquê. É que o Y (ipsilon) foi usado como substituto do upsilon acentuado ύ e por isso, quando se escreve Cyprus, os gregos escrevem Κύπρος.
Certo!... Mas, e se por acaso se perder o acento na transcrição?
Bom, nesse caso passamos a Κυπρος, Cuprus, que já nada tem a ver com Chipre, tem a ver com Cobre, Cuprum, cujo símbolo químico é aliás Cu...
Acidental, dir-se-à habitualmente e repetidamente... tantos são os acidentes e as coincidências. Porém, voltamos a Plínio, que nos esclarece que a exploração do Cobre teria tido a sua origem onde? No Chipre, pois claro!

Será caso único? Claro que não é, é aliás muito frequente.
Estamos habituados a ouvir falar das Guerras Púnicas... e o que é que Púnico tem a ver com Cartago ou com os fenícios? A própria wikipedia explica:
O adjectivo "púnico" deriva do nome dado aos cartagineses pelos romanos 
(Punici) (de Poenici, ou seja, de ascendência fenícia)
Poenici... porque faltou o H, e deveria ser Phoenici.
Cai uma letra nas transcrições, a moda pega rapidamente, e a palavra passa a ser usada.
Tivesse a coisa sido necessária e os púnicos nada teriam a ver com os fenícios, sem que houvesse suspeita... de tal forma a fonética tinha sido corrompida.

Por isso, quando vamos buscar textos gregos e vemos Lysitanos, devemos lembrar que a diferença para com Lusitanos é só num acento: Λύσιτανῶν ou Λυσιτανῶν e graficamente, se quisermos admitir corrupção em textos antigos é fácil que Lusia: Λυσια, tenha passado para Lydia: Λύδια.
É por isso que é mais importante manter algum espírito e questionar a letra... os relatos de ouro nos rios vinha dos rios lusitanos, enquanto que o rio Pactolo do Rei Creso (ou Midas) só lendariamente foi associado a ouro.
Curiosamente, os franceses mantêm uma pronúncia ambígua no U fazendo soar um I, talvez justamente como resto desta ligação Upsilon-Ypsilon.

Lembrei-me disto, a propósito de uma interessante conversa com Calisto sobre os cavalos lusitanos. Dizia Calisto:
Os cavaleiros ibéricos evoluíam nos campos de batalha de uma forma característica. Tirando enorme partido da obediência e agilidade das suas montadas, movimentavam-se com rápidas transições e bruscas mudanças de direcção, o que dificultava em muito as manobras dos seus inimigos. Esta equitação peculiar, foi dada a conhecer ao mundo pelos Cynetes, quando esta tribo do sudoeste da Península combateu na Grécia contra os Atenienses, auxiliando a vitória dos Espartanos na guerra do Peloponeso (séc. IV a.C.). Tal facto justifica a origem do termo “gineta”, ainda hoje utilizado para classificar esta forma de montar.
Para além do interesse próprio do texto, que espero que o Calisto complete, a referência a Cynetes levou-me imediatamente à variação do Y em U, com a possibilidade de ser Cunetes, e assim referir-se aos Cúnios (ou Cónios). Isto tem algum relevo no sentido da discussão anterior, já que os lusitanos das montanhas, que combatiam a pé e em emboscada, não seriam esses típicos cavaleiros. Houve uma perda do legado dos Cúnios (passando tudo a Lusitano), cujas razões já aqui tentámos explicar...
A transformação do C em G, essa já é mais recente, mas também muito conhecida, por isso o Cynete passou a Ginete... mas de "ginetes" até à ligação com os cónios é que fica a grande distância da suposição de alteração.

Não se trata aqui de encontrar relações soltas... essas podem ser casuais, e haverá certamente muitas que nos levam em erro. Interessa mostrar os casos claros, e alertar para estas diferentes alterações.
A reconstrução tem que ser feita mais pelo espírito da consistência do que pela letra exacta.
Importaria não perder o rasto, já que ele fica mais ténue, a cada mudança ortográfica... perde-se a memória, e perde-se a identidade. Por vezes, surgem surpresas, pelo efeito oposto, como é o caso de Egito e Egitânia... mas dificilmente terá sido essa a intenção, pelo contrário! Temos que contar com os ingleses e franceses para manter a etimologia...

Curiosamente, e a propósito de Egipto, na menção grega de Estrabo tanto aparece Αἰγύπτῳ (Aegypto) como Αἰγυπτῳ (Aegupto)... e se os ingleses têm o Y correctamente, há muito que perderam o AE que era usado pelos romanos neste caso (e também em Etiópia). E se o som PT se mantinha à época romana, a haver alguma conexão em Egitânia, ela perder-se-à nas areias do tempo...

Terminamos apenas com um interessante pormenor, a propósito da relação entre C e G... a cidade de Málaga era denominada Malaca pelos romanos. Aqui não é preciso explicar sobre que outra Malaca falamos... interessa notar que estas alterações produzem um quase total despiste. Nem sequer podemos associar o G ao C... ambas foram terceiras letras de alfabeto, porque o G acabou por ser usado para se substituir a outras letras, ganhando um significado especial até como símbolo maçónico.
Da mesma forma, o H encontrado em textos gregos, como por exemplo em Ἡρακλῆς (Herácles: Hércules) será apenas a forma maiúscula do η (eta), pelo que Eracles seria apropriado... e é por essa razão que não nos importamos de tirar o H a hebreus, ficando Ebreus. Mas, o importante, é que essa razão não basta, é apenas mais um elemento para o acumular de razões... a letra conta, mas apenas como mais um elemento na consistência que pode dar corpo ao espírito de pesquisa.

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publicado às 07:55

Este é um daqueles textos que já deveria ter sido escrito há mais tempo... e diz respeito à ortografia.
Antigamente, escrever-se-ia orthographia pela derivação do grego ορθογραφία.
Duarte Nunes de Leão, no Séc. XVI, é muito claro relativamente a este assunto - diz que não deveríamos perder a raiz histórica das palavras, e assim foi convenção europeia que o θ tinha como correspondente o th, e que o φ tinha correspondente no ph. 
Essa ligação histórica perdeu-se no português e castelhano no Séc. XX, já depois de se ter perdido no italiano, mas manteve-se no norte da Europa. O sul terá sido conduzido a uma via fonética...
A ligação fonética até nos poderia levar ainda a tempos mais remotos, mas na prática o que faz é conduzir-nos a uma baralhação de curto prazo, e acentuada perda de memória. 

Aliás, a sociedade está a ser induzida num processo de progressivo Alzheimer, em que só importa o que ocorre no dia de hoje, e que amanhã será esquecido, renascendo sempre infantilmente.
Isso será especialmente notado por quem se dedicar a inspeccionar o sótão da nossa História...

Até aqui... nada de muito novo, e por isso vamos buscar um livro de Plínio ao sótão.
No Livro VII, Cap. 57, Plínio tem um interessante texto sobre as diversas invenções humanas.
Vale a pena ler todas, mas vamos aqui falar da "invenção das letras".
Plínio considera serem de origem Assíria, o que mostra a sua sensatez, mas depois dá outras versões:
- no Egipto, inventadas por Mercúrio!
- pelos Sírios... digamos Fenícios, e que Cadmus teria levado 16 letras para Grécia.

Surge depois o ponto notável, ao estabelecer que outras letras estavam ligadas à Guerra de Tróia:
 θ ξ φ χ      - teriam sido inventadas por Palomedes (que enviou Ulisses a Tróia, e foi traído por ele);
 ζ  η  ψ ω    - teriam sido inventadas pelo poeta Simonides (à época das Termópilas).

Refere ainda que Aristóteles colocava como 18 e não apenas 16 letras originais, a saber:
α β γ δ ε ζ ι κ λ μ ν ο π ρ ς τ υ φ
a que correspondem
A B G D E Z I C L M N O P R S T U F
e em termos de sons, faltam apenas aqui o J e o V, que os gregos não usaram. Jasão era escrito Iasonas, por exemplo, enquanto que o V parece ter sido mesmo ausente.
A substituição dos B pelos V não é só pronúncia do Norte, é também sintoma grego... aliás convém referir que essa é uma relação que pode sustentar a suposta presença grega no Minho.

Estas 18 letras parecem mais plausíveis, pois o ζ e o φ seriam precisos para sons comuns como Z e F.
Já as restantes letras inventadas pelos gregos vieram acrescentar confusão...
- O θ pouco substitui o T, que passou a Th nas transcrições.
- O ξ poderia ser escrito Cs... a menos que tivesse sido pretendido fazer o som Ch. Isto é importante, porque a maioria das línguas europeias usa o som, mas não tem uma só letra para ele. Nós não dizemos "Alecsandre", dizemos "Alechandre"... Um substituto próximo seria o J para "Alejandre" (é isso que os espanhóis fazem, mas fazendo-o R), mas essa letra também não constava no grego.
- Quanto ao χ não fazia falta dado haver o κ ou o ς. O mesmo se passando com os  η, ψ, ω cujo som estava no E, PS, O... a menos que se pretendesse distinguir Ê e É ou Ô e Ó, mas devemos ter em atenção que os gregos usavam acentos.

Poderíamos continuar o relato de Plínio, para a surpreendente revelação de que os Babilónios/Caldeus, teriam registos das estrelas durante centenas de milhares de anos... mas vamos focar-nos na questão das letras.

Uma das letras que os gregos não tinham era o Y.
Já aqui falámos na confusão entre Lusitânia e Lysitânia, e relação com a Lídia ou a Lícia...
Convém perceber melhor porquê. É que o Y (ipsilon) foi usado como substituto do upsilon acentuado ύ e por isso, quando se escreve Cyprus, os gregos escrevem Κύπρος.
Certo!... Mas, e se por acaso se perder o acento na transcrição?
Bom, nesse caso passamos a Κυπρος, Cuprus, que já nada tem a ver com Chipre, tem a ver com Cobre, Cuprum, cujo símbolo químico é aliás Cu...
Acidental, dir-se-à habitualmente e repetidamente... tantos são os acidentes e as coincidências. Porém, voltamos a Plínio, que nos esclarece que a exploração do Cobre teria tido a sua origem onde? No Chipre, pois claro!

Será caso único? Claro que não é, é aliás muito frequente.
Estamos habituados a ouvir falar das Guerras Púnicas... e o que é que Púnico tem a ver com Cartago ou com os fenícios? A própria wikipedia explica:
O adjectivo "púnico" deriva do nome dado aos cartagineses pelos romanos 
(Punici) (de Poenici, ou seja, de ascendência fenícia)
Poenici... porque faltou o H, e deveria ser Phoenici.
Cai uma letra nas transcrições, a moda pega rapidamente, e a palavra passa a ser usada.
Tivesse a coisa sido necessária e os púnicos nada teriam a ver com os fenícios, sem que houvesse suspeita... de tal forma a fonética tinha sido corrompida.

Por isso, quando vamos buscar textos gregos e vemos Lysitanos, devemos lembrar que a diferença para com Lusitanos é só num acento: Λύσιτανῶν ou Λυσιτανῶν e graficamente, se quisermos admitir corrupção em textos antigos é fácil que Lusia: Λυσια, tenha passado para Lydia: Λύδια.
É por isso que é mais importante manter algum espírito e questionar a letra... os relatos de ouro nos rios vinha dos rios lusitanos, enquanto que o rio Pactolo do Rei Creso (ou Midas) só lendariamente foi associado a ouro.
Curiosamente, os franceses mantêm uma pronúncia ambígua no U fazendo soar um I, talvez justamente como resto desta ligação Upsilon-Ypsilon.

Lembrei-me disto, a propósito de uma interessante conversa com Calisto sobre os cavalos lusitanos. Dizia Calisto:
Os cavaleiros ibéricos evoluíam nos campos de batalha de uma forma característica. Tirando enorme partido da obediência e agilidade das suas montadas, movimentavam-se com rápidas transições e bruscas mudanças de direcção, o que dificultava em muito as manobras dos seus inimigos. Esta equitação peculiar, foi dada a conhecer ao mundo pelos Cynetes, quando esta tribo do sudoeste da Península combateu na Grécia contra os Atenienses, auxiliando a vitória dos Espartanos na guerra do Peloponeso (séc. IV a.C.). Tal facto justifica a origem do termo “gineta”, ainda hoje utilizado para classificar esta forma de montar.
Para além do interesse próprio do texto, que espero que o Calisto complete, a referência a Cynetes levou-me imediatamente à variação do Y em U, com a possibilidade de ser Cunetes, e assim referir-se aos Cúnios (ou Cónios). Isto tem algum relevo no sentido da discussão anterior, já que os lusitanos das montanhas, que combatiam a pé e em emboscada, não seriam esses típicos cavaleiros. Houve uma perda do legado dos Cúnios (passando tudo a Lusitano), cujas razões já aqui tentámos explicar...
A transformação do C em G, essa já é mais recente, mas também muito conhecida, por isso o Cynete passou a Ginete... mas de "ginetes" até à ligação com os cónios é que fica a grande distância da suposição de alteração.

Não se trata aqui de encontrar relações soltas... essas podem ser casuais, e haverá certamente muitas que nos levam em erro. Interessa mostrar os casos claros, e alertar para estas diferentes alterações.
A reconstrução tem que ser feita mais pelo espírito da consistência do que pela letra exacta.
Importaria não perder o rasto, já que ele fica mais ténue, a cada mudança ortográfica... perde-se a memória, e perde-se a identidade. Por vezes, surgem surpresas, pelo efeito oposto, como é o caso de Egito e Egitânia... mas dificilmente terá sido essa a intenção, pelo contrário! Temos que contar com os ingleses e franceses para manter a etimologia...

Curiosamente, e a propósito de Egipto, na menção grega de Estrabo tanto aparece Αἰγύπτῳ (Aegypto) como Αἰγυπτῳ (Aegupto)... e se os ingleses têm o Y correctamente, há muito que perderam o AE que era usado pelos romanos neste caso (e também em Etiópia). E se o som PT se mantinha à época romana, a haver alguma conexão em Egitânia, ela perder-se-à nas areias do tempo...

Terminamos apenas com um interessante pormenor, a propósito da relação entre C e G... a cidade de Málaga era denominada Malaca pelos romanos. Aqui não é preciso explicar sobre que outra Malaca falamos... interessa notar que estas alterações produzem um quase total despiste. Nem sequer podemos associar o G ao C... ambas foram terceiras letras de alfabeto, porque o G acabou por ser usado para se substituir a outras letras, ganhando um significado especial até como símbolo maçónico.
Da mesma forma, o H encontrado em textos gregos, como por exemplo em Ἡρακλῆς (Herácles: Hércules) será apenas a forma maiúscula do η (eta), pelo que Eracles seria apropriado... e é por essa razão que não nos importamos de tirar o H a hebreus, ficando Ebreus. Mas, o importante, é que essa razão não basta, é apenas mais um elemento para o acumular de razões... a letra conta, mas apenas como mais um elemento na consistência que pode dar corpo ao espírito de pesquisa.

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publicado às 23:55

Apareceram hoje novas notícias sobre achados arqueológicos nos Açores. Seguimos os links que nos foram indicados por Calisto, e ainda o site da APIA:

  

Estas notícias de hoje seguem uma notícia anterior de Março, com novos dados e fotografias, colocando em cima da mesa a presença humana nas ilhas açorianas antes da colonização portuguesa.

Dadas as imagens supra, dificilmente podemos falar em "descobertas", trata-se muito mais de uma tentativa de "des-cobrir", no sentido das nossas explorações quinhentistas, ou seja, trata-se de "retirar do encobrimento" estes achados no Monte Brasil, perto de Angra do Heroísmo... que devem ser conhecidos dos locais e de alguns visitantes. O importante é reunir provas que não deixem dúvidas sobre a antiguidade dos monumentos... e esperar pela resposta do sistema - mas, desde a primária desvalorização, até bizarras explicações alternativas, tudo vai sendo possível para manter o encobrimento!

Ao mesmo tempo fomos encontrar no Arquivo da RTP-Açores um apontamento sobre o livro "Cavaleiro da Ilha do Corvo":
Refere o livro do Prof. Joaquim Fernandes, da Universidade Fernando Pessoa, sobre a estátua que já foi aqui referida várias vezes, mencionada por Damião de Góis, e que teve esboço de Duarte d'Armas.
Esboço da Estátua do Cavaleiro do Corvo (dita Ilha do Marco)

Há três anos, esse autor enviou ao blog.thomar.org um anúncio de publicação do livro "O Cavaleiro da Ilha do Corvo" na colecção Temas e Debates, do Círculo de Leitores, e vimos também agora uma referência à publicação em Abril de 2011, na editora Bússola, do Rio de Janeiro.

Para nosso registo, citamos aqui parte do texto que complementa a informação que já tinhamos:
A este estranho monumento juntou-se a descoberta, no século XVIII, de um não menos perturbador vaso de cerâmica, achado nas ruínas de uma casa, no litoral da mesma ilha, repleto de moedas de ouro e de prata fenícias, que, segundo numismatas da época e não só, datariam de, aproximadamente, entre os anos 340 e 320 antes de Cristo.

As descobertas fabulosas não se ficaram por aqui: viajantes estrangeiros, no decurso do século XVI, alegaram ter encontrado inscrições supostamente fenícias de Canaã (Palestina), numa gruta da ilha de S. Miguel. Por fim, em 1976, nesta mesma ilha, haveria de ser desenterrado um amuleto com inscrições de uma escrita fenícia tardia, entre os séculos VII e IX da era cristã.

Todas estas perplexidades levaram Joaquim Fernandes a encetar uma longa e exaustiva investigação bibliográfica e documental e a escrever O Cavaleiro da Ilha do Corvo.

No romance, o autor refere um testemunho que reforça de modo evidente o relato de Damião de Góis: um mapa dos irmãos Pizzigani, de 1367, descoberto em Parma, apresenta um desenho com uma figura explícita ostentando uma legenda em latim onde se diz: Estas eram as estátuas diante das colunas de Hércules... Ora esse desenho está colocado à latitude dos Açores, no meio do Atlântico, sugerindo a tradição das Estátuas como marcos-limites do oceano navegável ou conhecido e serviriam para avisar os perigos que corriam os navegadores mais ousados. Mais ainda: a historiografia árabe, do século X, por exemplo, faz referência a essas mesmas estátuas e à sua eventual função de marco dos limites navegáveis, o que credibiliza, por outra via, o testemunho de Damião de Góis. Demasiadas coincidências, pois, para um simples rumor ou lenda...


O Cavaleiro e os Corvos
aqui apontámos o facto sui generis de D. Afonso Henriques, indo para além de Ourique, teria feito uma incursão ao Algarve, então território muçulmano, para resgatar o corpo de S. Vicente que estaria no Promontório Sacrum
Concerteza que as "certezas" ficam para a historiografia oficial... aqui, sendo local de hipóteses e "estórias" pessoais, ficamos com uma dúvida pela tradição associada com a presença dos corvos na embarcação, onde seguiu o corpo de S. Vicente. Poderiam os corvos representar o corpo junto à estátua da ilha, no ponto mais ocidental... que ainda antes de ser descoberta já aparecia nos mapas com a referência Corvi Marini
Seria esse o limite de navegação para D. Fuas que ficou simbolizado na Nazaré?... sendo que a latitude em que se situa o Corvo é 39º40' e tem como correspondente continental os pinhais acima da Nazaré, com o Sítio/Pederneira colocado a 39º36' ? Uma diferença de apenas 4 minutos do grau...
Teria resistido D. Fuas a seguir a direcção americana apontada pelo Cavaleiro do Corvo?


Ponta Delgada
Convém notar que nem sempre é preciso afastar-mo-nos muito para encontrarmos peças de interesse.
Numa zona que já faz parte de Ponta Delgada, tirei esta fotografia num baldio que está já delimitado e pronto para intervenção de construção:
Ficamos com a sensação clara de haver aí uma ponte antiga, soterrada por terras agora removidas pelo construtor. Talvez um incómodo para o empreiteiro, mas que arrisca a ser temporário... 
Em Ponta Delgada não podemos fazer aquele exercício habitual de classificar todas as pontes como romanas ou medievais...
Os detalhes intrigantes aparecem-nos à vista desarmada, resta saber se os queremos ver e questionar, ou se nos deixamos guiar como caolhos!


Nota adicional (12/07/2011):
Para além do esboço acima, a conhecida imagem da estátua equestre de Marco Aurélio corresponde razoavelmente à descrição feita por Damião de Góis (a mão direita também aponta uma direcção, porém a esquerda não se coloca sobre o dorso do cavalo). Já tinha colocado antes um comentário sobre uma possível ligação da estátua a Marco Aurélio (ou Alexandre), mas dado o esboço a invocação da estátua equestre de Marco Aurélio quase dispensaria comentários adicionais.
Acrescentamos que após Marco Aurélio, com o filho Cómodo o Império Romano entrou num período conturbado (retratado no filme Gladiador).
Se a pequena Ilha do Corvo foi também chamada Ilha do Marco, talvez dispensasse o Aurélio... já que a direcção apontava para as áureas riquezas americanas. É possível que Marco Aurélio tivesse sido tentado a passar o limite colocado no Marco da ilha, seguindo na direcção do Cavaleiro do Corvo, pelo que se teria associado com uma estátua equestre semelhante.

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  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D