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Episódios e Tradições relativos à História Antiga da Lusitania, J. E. dos Santos e Silva (Lisboa, 1917)
“(...) mas que a imaginação e vaidade nacional reuniram n’um só. Supõem que é o Sesác dos livros sagrados; que viveu muito antes da guerra de Troya, no tempo dos Juízes de Israel; que é o Setósis de Maneton; o Egypto, irmão de Danáo; Typhon da Mythologia; o Pharaó submergido nas ondas do Mar Vermelho, quando ia em perseguição de Moysés; e por último que era ou foi chamado o Osíris Egypcio.”
“Não há tambêm unidade de opiniões sôbre se a derrota de Geryon e a sua morte foi simultâneamente com a dos seus três filhos, nem são unânimes os autores em supôr a vinda de Horus distinta da de Osíris. O que é mais seguido e comentado nos livros antigos é a invasão da Península pelo Hércules Egypcio, isto é, por um rei conquistador d’aquela nacionalidade, cujos feitos o fizeram comparar com o deus Hércules, e que ficou conhecido por êste nome. Considerando, portanto, que a existência de Osíris e Horus, a ser verdadeira, teria necessáriamente que remontar-se a uma época muitíssimo anterior à de Geryon, em cujo tempo reinava no Egypto a XVIII dinastia, de que Sesóstris foi um dos últimos reis (1643, antes de Christo), e que a época d’êste rei coincide com a de Geryon, temos que concluir que o Hércules Egypcio, libertador da Ibéria, foi realmente Sesóstris.”
“A história dos diferentes Hércules é um conjunto de prodígios, ou antes, é a história de todos aqueles que tiveram o mesmo nome e suportaram os mesmos trabalhos. Tem-se exagerado os sues feitos, reùnindo-os em um só homem e atribuindo-lhe todas as grandes emprêsas de que se ignorava o autor, cobrindo-os assim d’uma notoriedade que os elevava acima da espécie humana (Diodoro Sículo). Comtudo, o que parece averiguado é que um grande conquistador, que supomos ser Sesóstris e não Osíris nem Orus, e a quem se chamou «o Hércules Egypcio», à frente de forte exército d’esta nacionalidade, depois de ter empreendido uma grande peregrinação, ennobrecendo com os seus feitos quasi todo o mundo, veio à Península Ibérica.”
“Não será, pois, para estranhar e talvez seja esta a verdade histórica que as famosas colunas de Hércules do estreito de Gibráltar, que separa a Península Ibérica da África e que a fantasia transformou nos montes Calpe e Abyla, sejam as colunas colocadas por Sesóstris em Cádiz quando conquistou a Península e derrotou o rei Geryon.”.
“Estamos, pois, em presença d’outra grande invasão na Península, constituida pelo povo Egypcio e por todos aqueles que o conquistador arrastou na sua passagem; Ethiopes, Assyrios, Persas, Scythas e Thrácios; os quais, como veremos, prolongaram aqui o seu império por muitos anos, devendo ter deixado forçosamente vestígios da sua passagem na raça peninsular.”
“(...) ficando na memória dos povos como um mito de virtudes cuja tradição constitue uma parte das suas crenças religiosas. Estas circunstâncias e o facto de Sesóstris ter sido chamado Osíris confirmam a suposição de ser aquele rei egypcio o Hércules que veio à Península e não o verdadeiro Osíris que, se existiu, foi em tempos muito mais remotos.”
“Há contudo uma consideração que, se bem não altera fundamentalmente a tradição, modifica-a na forma como os acontecimentos se teriam dado. Geryon, conhecido pelo monstro de três cabeças, por ter três filhos ou três exércitos, podia ter sido derrotado em Tarifa, na primeira invasão dos Egypcios, juntamente com os filhos, ou em três batalhas dadas em vários pontos da Península; e, n’êste caso, fica posta de parte a vinda de Horos para castigar os filhos de Geryon. O que porém, importa verdadeiramente é o facto, que parece fóra de dúvida, de ter-se dado na Península uma grande invasão egypcia acompanhada de Ethiopes, Assyrios, Persas, Scythas e Thrácios, catorze a dezasseis séculos antes de Christo.”
“Carteya, diz Strabão, mantinha grande comércio com os Iberos e foi tomada por Amilcar, carthaginês, no ano de 236 da fundação de Roma. Era a povoação mais importante junto ao Estreito de Gibráltar (fretum Herculeum ou Gaditano), que para os antigos estava situado entre o cabo de Espartel (Ampelusa), junto ao monte Almina (Abyla), termo de Ceuta e o promontorium Junonis, antigo monte Calpe ao noroeste da ponta d’Europa, na montanha de Gibráltar. Êstes montes, Abyla e Calpe, eram as colunas de Hércules da Mythologia; as verdadeiras e reais deviam porêm, ser as de Sesóstris, edificadas em Cádiz.”
“As colunas de Hércules passavam por ser antigamente, as portas do mundo. Êste monumento substiu até 1145. Constava de uma estrutura de pilares de pedra sobrepostos, formando uma espécie de torre levantada na praia ou já no mar. Cada pilar tinha quinze côvados de circunferência e dez de altura. O conjunto, que media de 60 a 100 côvados de alto, estava ligado sólidamente por barras de ferro chumbadas. Sôbre esta tôrre, em que todavia não existiam portas nem câmaras interiores, levantava-se uma estátua de bronze doirado, de Melkarth, o Hércules phenício, da altura de 6 côvados, representando o deus sob a figura de um homem barbado, com cinto e manto que lhe descia até ao joelho. Com a mão esquerda apanhava as dobras do manto contra o peito, e no braço direito estendido, a mão segurava uma chave ao mesmo tempo que o indicador apontava para o Estreito. O facto, porêm, de existir sôbre as colunas a estátua de Melkarth, não significa que elas fôssem construidas pelos Phenícios, mas unicamente a sua consagração àquele deus, efectuada posteriormente por aqueles povos invasores.Os Cruzados e os piratas normandos chamavam ao Estreito, Karlsar, ' as águas do homem'; e Isidoro de Beja, no tempo do domínio árabe, atribuia uma significação profética à atitude da dextra de Melkarth: a chave que empunha era o símbolo de que era essa a porta do país; e o dedo, apontando para o Estreito, queria dizer o caminho por onde vieram os exércitos de Muza.As colunas de Hércules foram destruídas em 1145 pelo almirante árabe Ali-ibn-Isa-ibn-Maimun, que se sublevára em Cádiz. Corria a tradição que a estátua era de oiro puro e por isso o Árabe a abateu: era doirada, mas ainda assim a douradura produzio 12.000 dinàrs. (Dozy, Histoire et Littérature d’Espagne).”
“(...) outros dão a entender que Espanha quer dizer, terra desconhecida e afastada. Em língua euskara (vascongada) Espanha significa extremidade, isto é, extremo do mundo conhecido, convicção antiga que deu origem ao non plus ultra que dizem estava escrito nas colunas d’Hércules, e que se vê reproduzido nas moedas peninsulares.”No fim de ler isto lembrei-me da questão levantada pela Maria da Fonte sobre o haplogrupo de Tutankhamun ser da Península Ibérica...
Episódios e Tradições relativos à História Antiga da Lusitania, J. E. dos Santos e Silva (Lisboa, 1917)
“(...) mas que a imaginação e vaidade nacional reuniram n’um só. Supõem que é o Sesác dos livros sagrados; que viveu muito antes da guerra de Troya, no tempo dos Juízes de Israel; que é o Setósis de Maneton; o Egypto, irmão de Danáo; Typhon da Mythologia; o Pharaó submergido nas ondas do Mar Vermelho, quando ia em perseguição de Moysés; e por último que era ou foi chamado o Osíris Egypcio.”
“Não há tambêm unidade de opiniões sôbre se a derrota de Geryon e a sua morte foi simultâneamente com a dos seus três filhos, nem são unânimes os autores em supôr a vinda de Horus distinta da de Osíris. O que é mais seguido e comentado nos livros antigos é a invasão da Península pelo Hércules Egypcio, isto é, por um rei conquistador d’aquela nacionalidade, cujos feitos o fizeram comparar com o deus Hércules, e que ficou conhecido por êste nome. Considerando, portanto, que a existência de Osíris e Horus, a ser verdadeira, teria necessáriamente que remontar-se a uma época muitíssimo anterior à de Geryon, em cujo tempo reinava no Egypto a XVIII dinastia, de que Sesóstris foi um dos últimos reis (1643, antes de Christo), e que a época d’êste rei coincide com a de Geryon, temos que concluir que o Hércules Egypcio, libertador da Ibéria, foi realmente Sesóstris.”
“A história dos diferentes Hércules é um conjunto de prodígios, ou antes, é a história de todos aqueles que tiveram o mesmo nome e suportaram os mesmos trabalhos. Tem-se exagerado os sues feitos, reùnindo-os em um só homem e atribuindo-lhe todas as grandes emprêsas de que se ignorava o autor, cobrindo-os assim d’uma notoriedade que os elevava acima da espécie humana (Diodoro Sículo). Comtudo, o que parece averiguado é que um grande conquistador, que supomos ser Sesóstris e não Osíris nem Orus, e a quem se chamou «o Hércules Egypcio», à frente de forte exército d’esta nacionalidade, depois de ter empreendido uma grande peregrinação, ennobrecendo com os seus feitos quasi todo o mundo, veio à Península Ibérica.”
“Não será, pois, para estranhar e talvez seja esta a verdade histórica que as famosas colunas de Hércules do estreito de Gibráltar, que separa a Península Ibérica da África e que a fantasia transformou nos montes Calpe e Abyla, sejam as colunas colocadas por Sesóstris em Cádiz quando conquistou a Península e derrotou o rei Geryon.”.
“Estamos, pois, em presença d’outra grande invasão na Península, constituida pelo povo Egypcio e por todos aqueles que o conquistador arrastou na sua passagem; Ethiopes, Assyrios, Persas, Scythas e Thrácios; os quais, como veremos, prolongaram aqui o seu império por muitos anos, devendo ter deixado forçosamente vestígios da sua passagem na raça peninsular.”
“(...) ficando na memória dos povos como um mito de virtudes cuja tradição constitue uma parte das suas crenças religiosas. Estas circunstâncias e o facto de Sesóstris ter sido chamado Osíris confirmam a suposição de ser aquele rei egypcio o Hércules que veio à Península e não o verdadeiro Osíris que, se existiu, foi em tempos muito mais remotos.”
“Há contudo uma consideração que, se bem não altera fundamentalmente a tradição, modifica-a na forma como os acontecimentos se teriam dado. Geryon, conhecido pelo monstro de três cabeças, por ter três filhos ou três exércitos, podia ter sido derrotado em Tarifa, na primeira invasão dos Egypcios, juntamente com os filhos, ou em três batalhas dadas em vários pontos da Península; e, n’êste caso, fica posta de parte a vinda de Horos para castigar os filhos de Geryon. O que porém, importa verdadeiramente é o facto, que parece fóra de dúvida, de ter-se dado na Península uma grande invasão egypcia acompanhada de Ethiopes, Assyrios, Persas, Scythas e Thrácios, catorze a dezasseis séculos antes de Christo.”
“Carteya, diz Strabão, mantinha grande comércio com os Iberos e foi tomada por Amilcar, carthaginês, no ano de 236 da fundação de Roma. Era a povoação mais importante junto ao Estreito de Gibráltar (fretum Herculeum ou Gaditano), que para os antigos estava situado entre o cabo de Espartel (Ampelusa), junto ao monte Almina (Abyla), termo de Ceuta e o promontorium Junonis, antigo monte Calpe ao noroeste da ponta d’Europa, na montanha de Gibráltar. Êstes montes, Abyla e Calpe, eram as colunas de Hércules da Mythologia; as verdadeiras e reais deviam porêm, ser as de Sesóstris, edificadas em Cádiz.”
“As colunas de Hércules passavam por ser antigamente, as portas do mundo. Êste monumento substiu até 1145. Constava de uma estrutura de pilares de pedra sobrepostos, formando uma espécie de torre levantada na praia ou já no mar. Cada pilar tinha quinze côvados de circunferência e dez de altura. O conjunto, que media de 60 a 100 côvados de alto, estava ligado sólidamente por barras de ferro chumbadas. Sôbre esta tôrre, em que todavia não existiam portas nem câmaras interiores, levantava-se uma estátua de bronze doirado, de Melkarth, o Hércules phenício, da altura de 6 côvados, representando o deus sob a figura de um homem barbado, com cinto e manto que lhe descia até ao joelho. Com a mão esquerda apanhava as dobras do manto contra o peito, e no braço direito estendido, a mão segurava uma chave ao mesmo tempo que o indicador apontava para o Estreito. O facto, porêm, de existir sôbre as colunas a estátua de Melkarth, não significa que elas fôssem construidas pelos Phenícios, mas unicamente a sua consagração àquele deus, efectuada posteriormente por aqueles povos invasores.Os Cruzados e os piratas normandos chamavam ao Estreito, Karlsar, ' as águas do homem'; e Isidoro de Beja, no tempo do domínio árabe, atribuia uma significação profética à atitude da dextra de Melkarth: a chave que empunha era o símbolo de que era essa a porta do país; e o dedo, apontando para o Estreito, queria dizer o caminho por onde vieram os exércitos de Muza.As colunas de Hércules foram destruídas em 1145 pelo almirante árabe Ali-ibn-Isa-ibn-Maimun, que se sublevára em Cádiz. Corria a tradição que a estátua era de oiro puro e por isso o Árabe a abateu: era doirada, mas ainda assim a douradura produzio 12.000 dinàrs. (Dozy, Histoire et Littérature d’Espagne).”
“(...) outros dão a entender que Espanha quer dizer, terra desconhecida e afastada. Em língua euskara (vascongada) Espanha significa extremidade, isto é, extremo do mundo conhecido, convicção antiga que deu origem ao non plus ultra que dizem estava escrito nas colunas d’Hércules, e que se vê reproduzido nas moedas peninsulares.”No fim de ler isto lembrei-me da questão levantada pela Maria da Fonte sobre o haplogrupo de Tutankhamun ser da Península Ibérica...
Episódios e Tradições relativos à História Antiga da Lusitania, J. E. dos Santos e Silva (Lisboa, 1917)
“(...) mas que a imaginação e vaidade nacional reuniram n’um só. Supõem que é o Sesác dos livros sagrados; que viveu muito antes da guerra de Troya, no tempo dos Juízes de Israel; que é o Setósis de Maneton; o Egypto, irmão de Danáo; Typhon da Mythologia; o Pharaó submergido nas ondas do Mar Vermelho, quando ia em perseguição de Moysés; e por último que era ou foi chamado o Osíris Egypcio.”
“Não há tambêm unidade de opiniões sôbre se a derrota de Geryon e a sua morte foi simultâneamente com a dos seus três filhos, nem são unânimes os autores em supôr a vinda de Horus distinta da de Osíris. O que é mais seguido e comentado nos livros antigos é a invasão da Península pelo Hércules Egypcio, isto é, por um rei conquistador d’aquela nacionalidade, cujos feitos o fizeram comparar com o deus Hércules, e que ficou conhecido por êste nome. Considerando, portanto, que a existência de Osíris e Horus, a ser verdadeira, teria necessáriamente que remontar-se a uma época muitíssimo anterior à de Geryon, em cujo tempo reinava no Egypto a XVIII dinastia, de que Sesóstris foi um dos últimos reis (1643, antes de Christo), e que a época d’êste rei coincide com a de Geryon, temos que concluir que o Hércules Egypcio, libertador da Ibéria, foi realmente Sesóstris.”
“A história dos diferentes Hércules é um conjunto de prodígios, ou antes, é a história de todos aqueles que tiveram o mesmo nome e suportaram os mesmos trabalhos. Tem-se exagerado os sues feitos, reùnindo-os em um só homem e atribuindo-lhe todas as grandes emprêsas de que se ignorava o autor, cobrindo-os assim d’uma notoriedade que os elevava acima da espécie humana (Diodoro Sículo). Comtudo, o que parece averiguado é que um grande conquistador, que supomos ser Sesóstris e não Osíris nem Orus, e a quem se chamou «o Hércules Egypcio», à frente de forte exército d’esta nacionalidade, depois de ter empreendido uma grande peregrinação, ennobrecendo com os seus feitos quasi todo o mundo, veio à Península Ibérica.”
“Não será, pois, para estranhar e talvez seja esta a verdade histórica que as famosas colunas de Hércules do estreito de Gibráltar, que separa a Península Ibérica da África e que a fantasia transformou nos montes Calpe e Abyla, sejam as colunas colocadas por Sesóstris em Cádiz quando conquistou a Península e derrotou o rei Geryon.”.
“Estamos, pois, em presença d’outra grande invasão na Península, constituida pelo povo Egypcio e por todos aqueles que o conquistador arrastou na sua passagem; Ethiopes, Assyrios, Persas, Scythas e Thrácios; os quais, como veremos, prolongaram aqui o seu império por muitos anos, devendo ter deixado forçosamente vestígios da sua passagem na raça peninsular.”
“(...) ficando na memória dos povos como um mito de virtudes cuja tradição constitue uma parte das suas crenças religiosas. Estas circunstâncias e o facto de Sesóstris ter sido chamado Osíris confirmam a suposição de ser aquele rei egypcio o Hércules que veio à Península e não o verdadeiro Osíris que, se existiu, foi em tempos muito mais remotos.”
“Há contudo uma consideração que, se bem não altera fundamentalmente a tradição, modifica-a na forma como os acontecimentos se teriam dado. Geryon, conhecido pelo monstro de três cabeças, por ter três filhos ou três exércitos, podia ter sido derrotado em Tarifa, na primeira invasão dos Egypcios, juntamente com os filhos, ou em três batalhas dadas em vários pontos da Península; e, n’êste caso, fica posta de parte a vinda de Horos para castigar os filhos de Geryon. O que porém, importa verdadeiramente é o facto, que parece fóra de dúvida, de ter-se dado na Península uma grande invasão egypcia acompanhada de Ethiopes, Assyrios, Persas, Scythas e Thrácios, catorze a dezasseis séculos antes de Christo.”
“Carteya, diz Strabão, mantinha grande comércio com os Iberos e foi tomada por Amilcar, carthaginês, no ano de 236 da fundação de Roma. Era a povoação mais importante junto ao Estreito de Gibráltar (fretum Herculeum ou Gaditano), que para os antigos estava situado entre o cabo de Espartel (Ampelusa), junto ao monte Almina (Abyla), termo de Ceuta e o promontorium Junonis, antigo monte Calpe ao noroeste da ponta d’Europa, na montanha de Gibráltar. Êstes montes, Abyla e Calpe, eram as colunas de Hércules da Mythologia; as verdadeiras e reais deviam porêm, ser as de Sesóstris, edificadas em Cádiz.”
“As colunas de Hércules passavam por ser antigamente, as portas do mundo. Êste monumento substiu até 1145. Constava de uma estrutura de pilares de pedra sobrepostos, formando uma espécie de torre levantada na praia ou já no mar. Cada pilar tinha quinze côvados de circunferência e dez de altura. O conjunto, que media de 60 a 100 côvados de alto, estava ligado sólidamente por barras de ferro chumbadas. Sôbre esta tôrre, em que todavia não existiam portas nem câmaras interiores, levantava-se uma estátua de bronze doirado, de Melkarth, o Hércules phenício, da altura de 6 côvados, representando o deus sob a figura de um homem barbado, com cinto e manto que lhe descia até ao joelho. Com a mão esquerda apanhava as dobras do manto contra o peito, e no braço direito estendido, a mão segurava uma chave ao mesmo tempo que o indicador apontava para o Estreito. O facto, porêm, de existir sôbre as colunas a estátua de Melkarth, não significa que elas fôssem construidas pelos Phenícios, mas unicamente a sua consagração àquele deus, efectuada posteriormente por aqueles povos invasores.Os Cruzados e os piratas normandos chamavam ao Estreito, Karlsar, ' as águas do homem'; e Isidoro de Beja, no tempo do domínio árabe, atribuia uma significação profética à atitude da dextra de Melkarth: a chave que empunha era o símbolo de que era essa a porta do país; e o dedo, apontando para o Estreito, queria dizer o caminho por onde vieram os exércitos de Muza.As colunas de Hércules foram destruídas em 1145 pelo almirante árabe Ali-ibn-Isa-ibn-Maimun, que se sublevára em Cádiz. Corria a tradição que a estátua era de oiro puro e por isso o Árabe a abateu: era doirada, mas ainda assim a douradura produzio 12.000 dinàrs. (Dozy, Histoire et Littérature d’Espagne).”
“(...) outros dão a entender que Espanha quer dizer, terra desconhecida e afastada. Em língua euskara (vascongada) Espanha significa extremidade, isto é, extremo do mundo conhecido, convicção antiga que deu origem ao non plus ultra que dizem estava escrito nas colunas d’Hércules, e que se vê reproduzido nas moedas peninsulares.”No fim de ler isto lembrei-me da questão levantada pela Maria da Fonte sobre o haplogrupo de Tutankhamun ser da Península Ibérica...
"(...) Além destas referências ao modo de combater peculiar aos povos ibéricos e seus cavalos, que demonstram uma ininterrupta sequência milenária, existem outras que o designam como único. São elas as descrições do emprego de cavaleiros ibéricos na Itália ou Norte da África em que se diz que aqueles tinham que levar seus cavalos e quando era impossível o seu transporte, tinham pelo menos que levar os seus arreios, demonstrando assim que lhes eram peculiares e únicos." (cf. [2])
"Em nenhum outro local existem evidências da existência de cavalos montados há tanto tempo. Embora noutras paragens, como na Grécia ou no Egipto, também já se utilizasse o cavalo na guerra, essa utilização era sempre feita como animal de tiro, puxando os carros de combate. Isto permite-nos colocar a hipótese da origem ibérica da própria equitação. A confirmar-se, o cavalo Peninsular seria, então, o primeiro cavalo de sela conhecido.Os cavaleiros ibéricos evoluíam nos campos de batalha de uma forma característica. Tirando enorme partido da obediência e agilidade das suas montadas, movimentavam-se com rápidas transições e bruscas mudanças de direcção, o que dificultava em muito as manobras dos seus inimigos. Esta equitação peculiar, foi dada a conhecer ao mundo pelos Cynetes, quando esta tribo do sudoeste da Península combateu na Grécia contra os Atenienses, auxiliando a vitória dos Espartanos na guerra do Peloponeso (séc. IV a.C.). Tal facto justifica a origem do termo “gineta”, ainda hoje utilizado para classificar esta forma de montar.Seleccionado, durante séculos, como suporte de uma técnica específica de combater, o cavalo Peninsular vai surpreendendo, pelas suas invulgares capacidades, todos os que contra ele se batem. É o caso de Romanos e Mouros, que o vieram encontrar na Península e prontamente reconheceram as suas inegáveis qualidades." (cf. [3])
"Para os gregos montar a cavalo é um hábito que vem depois do cavalo atrelado. Mesmo com Homero as passagens são mal interpretadas pois todo o tom da poesia épica prova que a condução era a prática comum. Os heróis combatem em carros de combate, a maior parte do exército a pé, mesmo em viagens sobre montanhas eram feitas com carros de cavalos"
"Não se sabe quando, mas ao longo dos séculos houve uma mudança. Facto: jogos Olímpicos (776 a.C) em que originalmente a única prova era corrida de carros, só na 33º Olimpíada (648 a.C) aparece corrida de cavalos.Em batalha o carro de cavalos desaparece antes das guerras persas (499-448 a.C), mas o seu lugar não foi preenchido até depois delas. Na guerra de maratona (guerra greco-persa 490 a.C) os atenienses não tinham cavalaria. Havia criação de cavalos provavelmente para corridas. Sem duvida foi o contacto com a cavalaria persa que levou à organização de um corpo de cavalaria ateniense. Os gregos nunca conseguiram a revolução na arte militar que deu à cavalaria um papel decisivo. Isto estava reservado para os Macedónios."
"A cavalaria Grega era usada para assediar um exército em marcha ou completar uma vitória já garantida. Só os ricos serviam na cavalaria. O solo e morfologia grega não se adptavam/adaptam à criação de cavalos ao contrário dos tessalianos. Já eram reconhecidos desde os primeiros tempos, mas para o carro e não para cavaleiro. Encontram-se raças descritas nas éguas do rei Diomedes (trabalhos hercules), que comiam carne humana, os cavalos de Rhesus (rei tarcio que combateu ao lado dos troianos), Aquiles e Orestes nas corridas descritas por Sophocles “Electra”- finalmente da mitologia para a história, Bucephalo de Alexandre. Outras raças eram Argive, Acarnanian, Arcadian, e Epidaurian."
"(...) cavaleiros ibéricos na Itália ou Norte da África em que se diz que aqueles tinham que levar seus cavalos e quando era impossível o seu transporte, tinham pelo menos que levar os seus arreios, demonstrando assim que lhes eram peculiares e únicos." (cf. [2])
"(...) outros narram muitos combates singulares de cavaleiros íberos com Cartagineses e Romanos por onde se infere não só a superioridade ibérica neste género de combates, como ainda que ele era um apanágio ibérico. O mesmo se pode verificar mais tarde das crónicas moiras do século XI, de Abu Bakr al Tartusi, autor de Sirg al Muluk, em que cita um combate de um cristão com moiros das hostes de Al Nansur Ibn Amin, em que o Cristão venceu sucessivamente três adversários antes de ser vencido. No final, frisa-se que o vencedor era um homem da fronteira, habituado às lutas com Cristãos e diz-se que como aquele guerreiro nas hostes árabes não havia ‘- nem mil, nem quinhentos, nem cem, nem cinquenta, nem vinte, nem dez’." (cf.[2])
"Alguns séculos depois da guerra de Tróia, os tempos mudaram na Hélade e muitos costumes locais foram substituídos. Os gregos já não podiam mais viver sob aquele tipo de sociedade, na qual monarcas mandavam com poderes irrestritos, e isso demandava alterações radicais. Contudo, vale lembrar que Ílion não foi o único reino destruído naquela época. Segundo o historiador Robert Drews, da Universidade de Vanderbilt (Estados Unidos), inúmeros palácios caíram naquele período, causando o fim da Idade do Bronze. Tebas, Micenas, Tirinto e Canaã tiveram o mesmo destino da cidade de Príamo.
Um dos motivos foi a mudança na estrutura militar. No caso da Hélade, os gregos abriram mão das eficientes cavalarias e, com isso, desenvolveram um novo tipo de estratégia bélica para fortalecer as infantarias. O problema é que, até então, os carros de guerra eram as armas mais eficazes de combate: um condutor bem treinado guiava a biga enquanto "passageiros" atiravam lanças e flechas nos inimigos. Os novos exércitos foram obrigados a encontrar formas de combater essas máquinas militares de forma mais eficiente.
Com isso, as batalhas envolvendo cavalarias e bigas foram substituídas por pelejas entre homens a pé, os cidadãos-soldados: pessoas que passavam a fazer parte da sociedade de forma mais incisiva e, além disso, vivenciavam a rotina do exército e da polis.
Assim, os clãs foram extintos, para que todos os homens fossem agrupados em uma mesma cidade, onde poderiam treinar em conjunto por mais tempo para se preparar melhor para a guerra. Isso fez que não tivessem apenas relações familiares, mas sim com os pares, criando um sentimento de cidadania colectiva. Era uma forma de despertar conceitos cívicos nas pessoas. Além disso, os heróis também se transformaram em figuras ultrapassadas. Não havia mais espaço para guerreiros como Aquiles e Heitor, que deixavam os companheiros para trás a fim de ir de encontro ao adversário para obter glórias individuais. Tudo passa a girar em torno da sobrevivência da cidade: os soldados deveriam permanecer unidos no campo de batalha para minimizar os riscos de derrota e, desta forma, resguardar a polis.
O herói homérico, o bom condutor de carros, podia ainda sobreviver na pessoa do hippeis; já não tem muita coisa em comum com o hoplita, esse soldado-cidadão. O que contava no primeiro era a façanha individual, a proeza feita em combate singular", explica o helenista Jean-Pierre Vernant em seu clássico As origens do pensamento grego. "Mas o hoplita não conhece o combate singular; deve recusar, se lhe oferecer, a tentação de uma proeza puramente individual. É o homem da batalha de braço a braço, da luta ombro a ombro. Foi treinado em manter a posição, marchar em ordem, lançar-se com passos iguais contra o inimigo, cuidar, no meio da peleja, de não deixar sem posto.
Nesse novo conceito de exército, as infantarias dependiam muito da força do conjunto e da unidade, portanto, todos os homens deveriam se unir como um só bloco para vencer as batalhas. Surgem aí as temíveis falanges, em que os guerreiros passavam a vida toda treinando para desenvolver uma "dependência" de um para com o outro. Deste modo, os generais formavam unidades de combate sólidas e coesas - como ocorreu com a eficiente infantaria de Esparta, que de tão competente foi apelidada de "usina de cadáveres" durante a Segunda Guerra Médica.
Com a mudança, os monarcas também perderam seu espaço, afinal, os homens já viviam em conjunto para o bem comum da polis, então, sentiam-se capazes de decidir os rumos políticos da cidade-estado. O cidadão passa a se confundir com o soldado, pois a partir do momento em que ganha direitos, também assume seus deveres com a defesa da pátria. Os reis espartanos foram reduzidos a meros generais, sem desempenhar funções administrativas, mas apenas militares. Em seu lugar, quem passou a tomar as decisões políticas foram os conselhos criados pelo legislador Licurgo, que na verdade são os primeiros focos de instituições democráticas no Mundo Antigo.
O período da grande batalha de Tróia e das memoráveis aretéias entre heróis lendários chegava ao fim porque os homens, treinados para ficar unidos nas guerras, passaram a querer lutar juntos para decidir os rumos da comunidade, de forma coletiva. Caem os reis e, no lugar, ergue-se a imponente democracia."A formação do exército no período clássico carrega elementos das relações sociais, tanto no caso dos espartanos como dos atenienses", explica Álvaro Allegrette, da PUC. "Com as mudanças sociais, as pessoas passaram a viver em comunidade e, assim, as relações entre os cidadãos fica mais evidente."
A polis, explica Werner Jaeger, representa um princípio novo para os helenos, com reflexos importantes para a vida nas cidades, e surge também a definição de Estado, criado em Esparta: essa instituição pública representa, pela primeira vez, o agente educador do povo.
Hesíodo, outro poeta grego da Antiguidade, dizia que o heroísmo não surge apenas nos combates. Segundo ele, em O Trabalho e os Dias, o verdadeiro herói mítico e exemplar é forjado em qualquer situação nas quais a disciplina é necessária para enaltecer as qualidades humanas. Um desses momentos era o acto de erguer-se na ágora e, dotado de um senso cidadão apurado, incitar o povo a votar por mudanças importantes para a vida colectiva. Isso reforça a idéia de que era fundamental aprimorar a erudição do povo. A educação seria, portanto, uma forma de obter mais condições de tomar decisões coletivas corretas. Surgem, assim, os políticos (a própria palavra deriva de polis)."
(ver referência [4])
"a Tessália era, amplamente, conhecida por produzir exímios cavaleiros e experiências posteriores em guerras, tanto com como contra o Império Persa ensinaram aos Gregos o elevado valor da cavalaria em ações de perseguição e em escaramuças.Em contrapartida, a Macedónia, ao norte, desenvolveu uma forte cavalaria pesada que culminou nos hetaroi (cavalaria dos Companheiros) de Filipe II e de Alexandre o Grande. Além desta cavalaria pesada, o exército de armas combinadas macedónio também empregou soldados de cavalaria ligeira, chamados "prodromoi, em missões de exploração e de cobertura. Foram também empregues os ippiko, soldados de cavalaria média, armados com lança e espada, protegidos com uma couraça de pele, cota de malha e chapéu, usados como exploradores e caçadores a cavalo. Esta cavalaria era usada em conjunto com a infantaria ligeira e a famosa falange macedónica. A eficiência do sistema de armas combinadas foi demonstrado nas conquistas asiáticas de Alexandre o Grande." (cf. [5])
"(...) Além destas referências ao modo de combater peculiar aos povos ibéricos e seus cavalos, que demonstram uma ininterrupta sequência milenária, existem outras que o designam como único. São elas as descrições do emprego de cavaleiros ibéricos na Itália ou Norte da África em que se diz que aqueles tinham que levar seus cavalos e quando era impossível o seu transporte, tinham pelo menos que levar os seus arreios, demonstrando assim que lhes eram peculiares e únicos." (cf. [2])
"Em nenhum outro local existem evidências da existência de cavalos montados há tanto tempo. Embora noutras paragens, como na Grécia ou no Egipto, também já se utilizasse o cavalo na guerra, essa utilização era sempre feita como animal de tiro, puxando os carros de combate. Isto permite-nos colocar a hipótese da origem ibérica da própria equitação. A confirmar-se, o cavalo Peninsular seria, então, o primeiro cavalo de sela conhecido.Os cavaleiros ibéricos evoluíam nos campos de batalha de uma forma característica. Tirando enorme partido da obediência e agilidade das suas montadas, movimentavam-se com rápidas transições e bruscas mudanças de direcção, o que dificultava em muito as manobras dos seus inimigos. Esta equitação peculiar, foi dada a conhecer ao mundo pelos Cynetes, quando esta tribo do sudoeste da Península combateu na Grécia contra os Atenienses, auxiliando a vitória dos Espartanos na guerra do Peloponeso (séc. IV a.C.). Tal facto justifica a origem do termo “gineta”, ainda hoje utilizado para classificar esta forma de montar.Seleccionado, durante séculos, como suporte de uma técnica específica de combater, o cavalo Peninsular vai surpreendendo, pelas suas invulgares capacidades, todos os que contra ele se batem. É o caso de Romanos e Mouros, que o vieram encontrar na Península e prontamente reconheceram as suas inegáveis qualidades." (cf. [3])
"Para os gregos montar a cavalo é um hábito que vem depois do cavalo atrelado. Mesmo com Homero as passagens são mal interpretadas pois todo o tom da poesia épica prova que a condução era a prática comum. Os heróis combatem em carros de combate, a maior parte do exército a pé, mesmo em viagens sobre montanhas eram feitas com carros de cavalos"
"Não se sabe quando, mas ao longo dos séculos houve uma mudança. Facto: jogos Olímpicos (776 a.C) em que originalmente a única prova era corrida de carros, só na 33º Olimpíada (648 a.C) aparece corrida de cavalos.Em batalha o carro de cavalos desaparece antes das guerras persas (499-448 a.C), mas o seu lugar não foi preenchido até depois delas. Na guerra de maratona (guerra greco-persa 490 a.C) os atenienses não tinham cavalaria. Havia criação de cavalos provavelmente para corridas. Sem duvida foi o contacto com a cavalaria persa que levou à organização de um corpo de cavalaria ateniense. Os gregos nunca conseguiram a revolução na arte militar que deu à cavalaria um papel decisivo. Isto estava reservado para os Macedónios."
"A cavalaria Grega era usada para assediar um exército em marcha ou completar uma vitória já garantida. Só os ricos serviam na cavalaria. O solo e morfologia grega não se adptavam/adaptam à criação de cavalos ao contrário dos tessalianos. Já eram reconhecidos desde os primeiros tempos, mas para o carro e não para cavaleiro. Encontram-se raças descritas nas éguas do rei Diomedes (trabalhos hercules), que comiam carne humana, os cavalos de Rhesus (rei tarcio que combateu ao lado dos troianos), Aquiles e Orestes nas corridas descritas por Sophocles “Electra”- finalmente da mitologia para a história, Bucephalo de Alexandre. Outras raças eram Argive, Acarnanian, Arcadian, e Epidaurian."
"(...) cavaleiros ibéricos na Itália ou Norte da África em que se diz que aqueles tinham que levar seus cavalos e quando era impossível o seu transporte, tinham pelo menos que levar os seus arreios, demonstrando assim que lhes eram peculiares e únicos." (cf. [2])
"(...) outros narram muitos combates singulares de cavaleiros íberos com Cartagineses e Romanos por onde se infere não só a superioridade ibérica neste género de combates, como ainda que ele era um apanágio ibérico. O mesmo se pode verificar mais tarde das crónicas moiras do século XI, de Abu Bakr al Tartusi, autor de Sirg al Muluk, em que cita um combate de um cristão com moiros das hostes de Al Nansur Ibn Amin, em que o Cristão venceu sucessivamente três adversários antes de ser vencido. No final, frisa-se que o vencedor era um homem da fronteira, habituado às lutas com Cristãos e diz-se que como aquele guerreiro nas hostes árabes não havia ‘- nem mil, nem quinhentos, nem cem, nem cinquenta, nem vinte, nem dez’." (cf.[2])
"Alguns séculos depois da guerra de Tróia, os tempos mudaram na Hélade e muitos costumes locais foram substituídos. Os gregos já não podiam mais viver sob aquele tipo de sociedade, na qual monarcas mandavam com poderes irrestritos, e isso demandava alterações radicais. Contudo, vale lembrar que Ílion não foi o único reino destruído naquela época. Segundo o historiador Robert Drews, da Universidade de Vanderbilt (Estados Unidos), inúmeros palácios caíram naquele período, causando o fim da Idade do Bronze. Tebas, Micenas, Tirinto e Canaã tiveram o mesmo destino da cidade de Príamo.
Um dos motivos foi a mudança na estrutura militar. No caso da Hélade, os gregos abriram mão das eficientes cavalarias e, com isso, desenvolveram um novo tipo de estratégia bélica para fortalecer as infantarias. O problema é que, até então, os carros de guerra eram as armas mais eficazes de combate: um condutor bem treinado guiava a biga enquanto "passageiros" atiravam lanças e flechas nos inimigos. Os novos exércitos foram obrigados a encontrar formas de combater essas máquinas militares de forma mais eficiente.
Com isso, as batalhas envolvendo cavalarias e bigas foram substituídas por pelejas entre homens a pé, os cidadãos-soldados: pessoas que passavam a fazer parte da sociedade de forma mais incisiva e, além disso, vivenciavam a rotina do exército e da polis.
Assim, os clãs foram extintos, para que todos os homens fossem agrupados em uma mesma cidade, onde poderiam treinar em conjunto por mais tempo para se preparar melhor para a guerra. Isso fez que não tivessem apenas relações familiares, mas sim com os pares, criando um sentimento de cidadania colectiva. Era uma forma de despertar conceitos cívicos nas pessoas. Além disso, os heróis também se transformaram em figuras ultrapassadas. Não havia mais espaço para guerreiros como Aquiles e Heitor, que deixavam os companheiros para trás a fim de ir de encontro ao adversário para obter glórias individuais. Tudo passa a girar em torno da sobrevivência da cidade: os soldados deveriam permanecer unidos no campo de batalha para minimizar os riscos de derrota e, desta forma, resguardar a polis.
O herói homérico, o bom condutor de carros, podia ainda sobreviver na pessoa do hippeis; já não tem muita coisa em comum com o hoplita, esse soldado-cidadão. O que contava no primeiro era a façanha individual, a proeza feita em combate singular", explica o helenista Jean-Pierre Vernant em seu clássico As origens do pensamento grego. "Mas o hoplita não conhece o combate singular; deve recusar, se lhe oferecer, a tentação de uma proeza puramente individual. É o homem da batalha de braço a braço, da luta ombro a ombro. Foi treinado em manter a posição, marchar em ordem, lançar-se com passos iguais contra o inimigo, cuidar, no meio da peleja, de não deixar sem posto.
Nesse novo conceito de exército, as infantarias dependiam muito da força do conjunto e da unidade, portanto, todos os homens deveriam se unir como um só bloco para vencer as batalhas. Surgem aí as temíveis falanges, em que os guerreiros passavam a vida toda treinando para desenvolver uma "dependência" de um para com o outro. Deste modo, os generais formavam unidades de combate sólidas e coesas - como ocorreu com a eficiente infantaria de Esparta, que de tão competente foi apelidada de "usina de cadáveres" durante a Segunda Guerra Médica.
Com a mudança, os monarcas também perderam seu espaço, afinal, os homens já viviam em conjunto para o bem comum da polis, então, sentiam-se capazes de decidir os rumos políticos da cidade-estado. O cidadão passa a se confundir com o soldado, pois a partir do momento em que ganha direitos, também assume seus deveres com a defesa da pátria. Os reis espartanos foram reduzidos a meros generais, sem desempenhar funções administrativas, mas apenas militares. Em seu lugar, quem passou a tomar as decisões políticas foram os conselhos criados pelo legislador Licurgo, que na verdade são os primeiros focos de instituições democráticas no Mundo Antigo.
O período da grande batalha de Tróia e das memoráveis aretéias entre heróis lendários chegava ao fim porque os homens, treinados para ficar unidos nas guerras, passaram a querer lutar juntos para decidir os rumos da comunidade, de forma coletiva. Caem os reis e, no lugar, ergue-se a imponente democracia."A formação do exército no período clássico carrega elementos das relações sociais, tanto no caso dos espartanos como dos atenienses", explica Álvaro Allegrette, da PUC. "Com as mudanças sociais, as pessoas passaram a viver em comunidade e, assim, as relações entre os cidadãos fica mais evidente."
A polis, explica Werner Jaeger, representa um princípio novo para os helenos, com reflexos importantes para a vida nas cidades, e surge também a definição de Estado, criado em Esparta: essa instituição pública representa, pela primeira vez, o agente educador do povo.
Hesíodo, outro poeta grego da Antiguidade, dizia que o heroísmo não surge apenas nos combates. Segundo ele, em O Trabalho e os Dias, o verdadeiro herói mítico e exemplar é forjado em qualquer situação nas quais a disciplina é necessária para enaltecer as qualidades humanas. Um desses momentos era o acto de erguer-se na ágora e, dotado de um senso cidadão apurado, incitar o povo a votar por mudanças importantes para a vida colectiva. Isso reforça a idéia de que era fundamental aprimorar a erudição do povo. A educação seria, portanto, uma forma de obter mais condições de tomar decisões coletivas corretas. Surgem, assim, os políticos (a própria palavra deriva de polis)."
(ver referência [4])
"a Tessália era, amplamente, conhecida por produzir exímios cavaleiros e experiências posteriores em guerras, tanto com como contra o Império Persa ensinaram aos Gregos o elevado valor da cavalaria em ações de perseguição e em escaramuças.Em contrapartida, a Macedónia, ao norte, desenvolveu uma forte cavalaria pesada que culminou nos hetaroi (cavalaria dos Companheiros) de Filipe II e de Alexandre o Grande. Além desta cavalaria pesada, o exército de armas combinadas macedónio também empregou soldados de cavalaria ligeira, chamados "prodromoi, em missões de exploração e de cobertura. Foram também empregues os ippiko, soldados de cavalaria média, armados com lança e espada, protegidos com uma couraça de pele, cota de malha e chapéu, usados como exploradores e caçadores a cavalo. Esta cavalaria era usada em conjunto com a infantaria ligeira e a famosa falange macedónica. A eficiência do sistema de armas combinadas foi demonstrado nas conquistas asiáticas de Alexandre o Grande." (cf. [5])
"(...) Além destas referências ao modo de combater peculiar aos povos ibéricos e seus cavalos, que demonstram uma ininterrupta sequência milenária, existem outras que o designam como único. São elas as descrições do emprego de cavaleiros ibéricos na Itália ou Norte da África em que se diz que aqueles tinham que levar seus cavalos e quando era impossível o seu transporte, tinham pelo menos que levar os seus arreios, demonstrando assim que lhes eram peculiares e únicos." (cf. [2])
"Em nenhum outro local existem evidências da existência de cavalos montados há tanto tempo. Embora noutras paragens, como na Grécia ou no Egipto, também já se utilizasse o cavalo na guerra, essa utilização era sempre feita como animal de tiro, puxando os carros de combate. Isto permite-nos colocar a hipótese da origem ibérica da própria equitação. A confirmar-se, o cavalo Peninsular seria, então, o primeiro cavalo de sela conhecido.Os cavaleiros ibéricos evoluíam nos campos de batalha de uma forma característica. Tirando enorme partido da obediência e agilidade das suas montadas, movimentavam-se com rápidas transições e bruscas mudanças de direcção, o que dificultava em muito as manobras dos seus inimigos. Esta equitação peculiar, foi dada a conhecer ao mundo pelos Cynetes, quando esta tribo do sudoeste da Península combateu na Grécia contra os Atenienses, auxiliando a vitória dos Espartanos na guerra do Peloponeso (séc. IV a.C.). Tal facto justifica a origem do termo “gineta”, ainda hoje utilizado para classificar esta forma de montar.Seleccionado, durante séculos, como suporte de uma técnica específica de combater, o cavalo Peninsular vai surpreendendo, pelas suas invulgares capacidades, todos os que contra ele se batem. É o caso de Romanos e Mouros, que o vieram encontrar na Península e prontamente reconheceram as suas inegáveis qualidades." (cf. [3])
"Para os gregos montar a cavalo é um hábito que vem depois do cavalo atrelado. Mesmo com Homero as passagens são mal interpretadas pois todo o tom da poesia épica prova que a condução era a prática comum. Os heróis combatem em carros de combate, a maior parte do exército a pé, mesmo em viagens sobre montanhas eram feitas com carros de cavalos"
"Não se sabe quando, mas ao longo dos séculos houve uma mudança. Facto: jogos Olímpicos (776 a.C) em que originalmente a única prova era corrida de carros, só na 33º Olimpíada (648 a.C) aparece corrida de cavalos.Em batalha o carro de cavalos desaparece antes das guerras persas (499-448 a.C), mas o seu lugar não foi preenchido até depois delas. Na guerra de maratona (guerra greco-persa 490 a.C) os atenienses não tinham cavalaria. Havia criação de cavalos provavelmente para corridas. Sem duvida foi o contacto com a cavalaria persa que levou à organização de um corpo de cavalaria ateniense. Os gregos nunca conseguiram a revolução na arte militar que deu à cavalaria um papel decisivo. Isto estava reservado para os Macedónios."
"A cavalaria Grega era usada para assediar um exército em marcha ou completar uma vitória já garantida. Só os ricos serviam na cavalaria. O solo e morfologia grega não se adptavam/adaptam à criação de cavalos ao contrário dos tessalianos. Já eram reconhecidos desde os primeiros tempos, mas para o carro e não para cavaleiro. Encontram-se raças descritas nas éguas do rei Diomedes (trabalhos hercules), que comiam carne humana, os cavalos de Rhesus (rei tarcio que combateu ao lado dos troianos), Aquiles e Orestes nas corridas descritas por Sophocles “Electra”- finalmente da mitologia para a história, Bucephalo de Alexandre. Outras raças eram Argive, Acarnanian, Arcadian, e Epidaurian."
"(...) cavaleiros ibéricos na Itália ou Norte da África em que se diz que aqueles tinham que levar seus cavalos e quando era impossível o seu transporte, tinham pelo menos que levar os seus arreios, demonstrando assim que lhes eram peculiares e únicos." (cf. [2])
"(...) outros narram muitos combates singulares de cavaleiros íberos com Cartagineses e Romanos por onde se infere não só a superioridade ibérica neste género de combates, como ainda que ele era um apanágio ibérico. O mesmo se pode verificar mais tarde das crónicas moiras do século XI, de Abu Bakr al Tartusi, autor de Sirg al Muluk, em que cita um combate de um cristão com moiros das hostes de Al Nansur Ibn Amin, em que o Cristão venceu sucessivamente três adversários antes de ser vencido. No final, frisa-se que o vencedor era um homem da fronteira, habituado às lutas com Cristãos e diz-se que como aquele guerreiro nas hostes árabes não havia ‘- nem mil, nem quinhentos, nem cem, nem cinquenta, nem vinte, nem dez’." (cf.[2])
"Alguns séculos depois da guerra de Tróia, os tempos mudaram na Hélade e muitos costumes locais foram substituídos. Os gregos já não podiam mais viver sob aquele tipo de sociedade, na qual monarcas mandavam com poderes irrestritos, e isso demandava alterações radicais. Contudo, vale lembrar que Ílion não foi o único reino destruído naquela época. Segundo o historiador Robert Drews, da Universidade de Vanderbilt (Estados Unidos), inúmeros palácios caíram naquele período, causando o fim da Idade do Bronze. Tebas, Micenas, Tirinto e Canaã tiveram o mesmo destino da cidade de Príamo.
Um dos motivos foi a mudança na estrutura militar. No caso da Hélade, os gregos abriram mão das eficientes cavalarias e, com isso, desenvolveram um novo tipo de estratégia bélica para fortalecer as infantarias. O problema é que, até então, os carros de guerra eram as armas mais eficazes de combate: um condutor bem treinado guiava a biga enquanto "passageiros" atiravam lanças e flechas nos inimigos. Os novos exércitos foram obrigados a encontrar formas de combater essas máquinas militares de forma mais eficiente.
Com isso, as batalhas envolvendo cavalarias e bigas foram substituídas por pelejas entre homens a pé, os cidadãos-soldados: pessoas que passavam a fazer parte da sociedade de forma mais incisiva e, além disso, vivenciavam a rotina do exército e da polis.
Assim, os clãs foram extintos, para que todos os homens fossem agrupados em uma mesma cidade, onde poderiam treinar em conjunto por mais tempo para se preparar melhor para a guerra. Isso fez que não tivessem apenas relações familiares, mas sim com os pares, criando um sentimento de cidadania colectiva. Era uma forma de despertar conceitos cívicos nas pessoas. Além disso, os heróis também se transformaram em figuras ultrapassadas. Não havia mais espaço para guerreiros como Aquiles e Heitor, que deixavam os companheiros para trás a fim de ir de encontro ao adversário para obter glórias individuais. Tudo passa a girar em torno da sobrevivência da cidade: os soldados deveriam permanecer unidos no campo de batalha para minimizar os riscos de derrota e, desta forma, resguardar a polis.
O herói homérico, o bom condutor de carros, podia ainda sobreviver na pessoa do hippeis; já não tem muita coisa em comum com o hoplita, esse soldado-cidadão. O que contava no primeiro era a façanha individual, a proeza feita em combate singular", explica o helenista Jean-Pierre Vernant em seu clássico As origens do pensamento grego. "Mas o hoplita não conhece o combate singular; deve recusar, se lhe oferecer, a tentação de uma proeza puramente individual. É o homem da batalha de braço a braço, da luta ombro a ombro. Foi treinado em manter a posição, marchar em ordem, lançar-se com passos iguais contra o inimigo, cuidar, no meio da peleja, de não deixar sem posto.
Nesse novo conceito de exército, as infantarias dependiam muito da força do conjunto e da unidade, portanto, todos os homens deveriam se unir como um só bloco para vencer as batalhas. Surgem aí as temíveis falanges, em que os guerreiros passavam a vida toda treinando para desenvolver uma "dependência" de um para com o outro. Deste modo, os generais formavam unidades de combate sólidas e coesas - como ocorreu com a eficiente infantaria de Esparta, que de tão competente foi apelidada de "usina de cadáveres" durante a Segunda Guerra Médica.
Com a mudança, os monarcas também perderam seu espaço, afinal, os homens já viviam em conjunto para o bem comum da polis, então, sentiam-se capazes de decidir os rumos políticos da cidade-estado. O cidadão passa a se confundir com o soldado, pois a partir do momento em que ganha direitos, também assume seus deveres com a defesa da pátria. Os reis espartanos foram reduzidos a meros generais, sem desempenhar funções administrativas, mas apenas militares. Em seu lugar, quem passou a tomar as decisões políticas foram os conselhos criados pelo legislador Licurgo, que na verdade são os primeiros focos de instituições democráticas no Mundo Antigo.
O período da grande batalha de Tróia e das memoráveis aretéias entre heróis lendários chegava ao fim porque os homens, treinados para ficar unidos nas guerras, passaram a querer lutar juntos para decidir os rumos da comunidade, de forma coletiva. Caem os reis e, no lugar, ergue-se a imponente democracia."A formação do exército no período clássico carrega elementos das relações sociais, tanto no caso dos espartanos como dos atenienses", explica Álvaro Allegrette, da PUC. "Com as mudanças sociais, as pessoas passaram a viver em comunidade e, assim, as relações entre os cidadãos fica mais evidente."
A polis, explica Werner Jaeger, representa um princípio novo para os helenos, com reflexos importantes para a vida nas cidades, e surge também a definição de Estado, criado em Esparta: essa instituição pública representa, pela primeira vez, o agente educador do povo.
Hesíodo, outro poeta grego da Antiguidade, dizia que o heroísmo não surge apenas nos combates. Segundo ele, em O Trabalho e os Dias, o verdadeiro herói mítico e exemplar é forjado em qualquer situação nas quais a disciplina é necessária para enaltecer as qualidades humanas. Um desses momentos era o acto de erguer-se na ágora e, dotado de um senso cidadão apurado, incitar o povo a votar por mudanças importantes para a vida colectiva. Isso reforça a idéia de que era fundamental aprimorar a erudição do povo. A educação seria, portanto, uma forma de obter mais condições de tomar decisões coletivas corretas. Surgem, assim, os políticos (a própria palavra deriva de polis)."
(ver referência [4])
"a Tessália era, amplamente, conhecida por produzir exímios cavaleiros e experiências posteriores em guerras, tanto com como contra o Império Persa ensinaram aos Gregos o elevado valor da cavalaria em ações de perseguição e em escaramuças.Em contrapartida, a Macedónia, ao norte, desenvolveu uma forte cavalaria pesada que culminou nos hetaroi (cavalaria dos Companheiros) de Filipe II e de Alexandre o Grande. Além desta cavalaria pesada, o exército de armas combinadas macedónio também empregou soldados de cavalaria ligeira, chamados "prodromoi, em missões de exploração e de cobertura. Foram também empregues os ippiko, soldados de cavalaria média, armados com lança e espada, protegidos com uma couraça de pele, cota de malha e chapéu, usados como exploradores e caçadores a cavalo. Esta cavalaria era usada em conjunto com a infantaria ligeira e a famosa falange macedónica. A eficiência do sistema de armas combinadas foi demonstrado nas conquistas asiáticas de Alexandre o Grande." (cf. [5])
Os cavaleiros ibéricos evoluíam nos campos de batalha de uma forma característica. Tirando enorme partido da obediência e agilidade das suas montadas, movimentavam-se com rápidas transições e bruscas mudanças de direcção, o que dificultava em muito as manobras dos seus inimigos. Esta equitação peculiar, foi dada a conhecer ao mundo pelos Cynetes, quando esta tribo do sudoeste da Península combateu na Grécia contra os Atenienses, auxiliando a vitória dos Espartanos na guerra do Peloponeso (séc. IV a.C.). Tal facto justifica a origem do termo “gineta”, ainda hoje utilizado para classificar esta forma de montar.Para além do interesse próprio do texto, que espero que o Calisto complete, a referência a Cynetes levou-me imediatamente à variação do Y em U, com a possibilidade de ser Cunetes, e assim referir-se aos Cúnios (ou Cónios). Isto tem algum relevo no sentido da discussão anterior, já que os lusitanos das montanhas, que combatiam a pé e em emboscada, não seriam esses típicos cavaleiros. Houve uma perda do legado dos Cúnios (passando tudo a Lusitano), cujas razões já aqui tentámos explicar...
Os cavaleiros ibéricos evoluíam nos campos de batalha de uma forma característica. Tirando enorme partido da obediência e agilidade das suas montadas, movimentavam-se com rápidas transições e bruscas mudanças de direcção, o que dificultava em muito as manobras dos seus inimigos. Esta equitação peculiar, foi dada a conhecer ao mundo pelos Cynetes, quando esta tribo do sudoeste da Península combateu na Grécia contra os Atenienses, auxiliando a vitória dos Espartanos na guerra do Peloponeso (séc. IV a.C.). Tal facto justifica a origem do termo “gineta”, ainda hoje utilizado para classificar esta forma de montar.Para além do interesse próprio do texto, que espero que o Calisto complete, a referência a Cynetes levou-me imediatamente à variação do Y em U, com a possibilidade de ser Cunetes, e assim referir-se aos Cúnios (ou Cónios). Isto tem algum relevo no sentido da discussão anterior, já que os lusitanos das montanhas, que combatiam a pé e em emboscada, não seriam esses típicos cavaleiros. Houve uma perda do legado dos Cúnios (passando tudo a Lusitano), cujas razões já aqui tentámos explicar...
Os cavaleiros ibéricos evoluíam nos campos de batalha de uma forma característica. Tirando enorme partido da obediência e agilidade das suas montadas, movimentavam-se com rápidas transições e bruscas mudanças de direcção, o que dificultava em muito as manobras dos seus inimigos. Esta equitação peculiar, foi dada a conhecer ao mundo pelos Cynetes, quando esta tribo do sudoeste da Península combateu na Grécia contra os Atenienses, auxiliando a vitória dos Espartanos na guerra do Peloponeso (séc. IV a.C.). Tal facto justifica a origem do termo “gineta”, ainda hoje utilizado para classificar esta forma de montar.Para além do interesse próprio do texto, que espero que o Calisto complete, a referência a Cynetes levou-me imediatamente à variação do Y em U, com a possibilidade de ser Cunetes, e assim referir-se aos Cúnios (ou Cónios). Isto tem algum relevo no sentido da discussão anterior, já que os lusitanos das montanhas, que combatiam a pé e em emboscada, não seriam esses típicos cavaleiros. Houve uma perda do legado dos Cúnios (passando tudo a Lusitano), cujas razões já aqui tentámos explicar...
A este estranho monumento juntou-se a descoberta, no século XVIII, de um não menos perturbador vaso de cerâmica, achado nas ruínas de uma casa, no litoral da mesma ilha, repleto de moedas de ouro e de prata fenícias, que, segundo numismatas da época e não só, datariam de, aproximadamente, entre os anos 340 e 320 antes de Cristo.As descobertas fabulosas não se ficaram por aqui: viajantes estrangeiros, no decurso do século XVI, alegaram ter encontrado inscrições supostamente fenícias de Canaã (Palestina), numa gruta da ilha de S. Miguel. Por fim, em 1976, nesta mesma ilha, haveria de ser desenterrado um amuleto com inscrições de uma escrita fenícia tardia, entre os séculos VII e IX da era cristã.Todas estas perplexidades levaram Joaquim Fernandes a encetar uma longa e exaustiva investigação bibliográfica e documental e a escrever O Cavaleiro da Ilha do Corvo.No romance, o autor refere um testemunho que reforça de modo evidente o relato de Damião de Góis: um mapa dos irmãos Pizzigani, de 1367, descoberto em Parma, apresenta um desenho com uma figura explícita ostentando uma legenda em latim onde se diz: Estas eram as estátuas diante das colunas de Hércules... Ora esse desenho está colocado à latitude dos Açores, no meio do Atlântico, sugerindo a tradição das Estátuas como marcos-limites do oceano navegável ou conhecido e serviriam para avisar os perigos que corriam os navegadores mais ousados. Mais ainda: a historiografia árabe, do século X, por exemplo, faz referência a essas mesmas estátuas e à sua eventual função de marco dos limites navegáveis, o que credibiliza, por outra via, o testemunho de Damião de Góis. Demasiadas coincidências, pois, para um simples rumor ou lenda...