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Surge este texto a propósito do comentário de MBP a um outro comentário de Maria da Fonte, que coloquei nesse postal, e que de certa forma falava de uma possível "conspiração" financeira veneziana, que poderia estar ainda na origem da maçonaria internacional.

Em particular, MBP destacou um vídeo:
«Gostaria também de partilhar as fontes que recentemente tenho usado para analisar o enquadramento deste período (mas não só) que se resumem ao trabalho realizado pela fundação La Rouche. Deste enorme trabalho destaco para já este vídeo do historiador Webster Tarpley, e que teve ressonância na minha pessoa pelo facto de colocar a Epistemologia como alvo prioritário do "ataque" à verdade, coisa que o Jung também defendia mas de outra forma.» 
"The Venetian Conspiracy" by Webster Tarpley

Como não é muito habitual ver um trabalho de fundo sobre os bastidores, do que é publicitado e divulgado como verdades inquestionáveis, questionando o trabalho científico de dois "monstros consagrados da ciência", como foram Galileu e Newton, é especialmente interessante ver Webster Tarpley reduzir estas duas figuras a papéis menores, de simples agentes a soldo dos conspiradores venezianos. Mais notável, dá nomes, segue os registos, e aponta culpados para essa conspiração veneziana que transferir o poder para o Império Britânico, então em processo de formação, com a rainha Isabel I. 
Desses vários nomes apontados, destacam-se especialmente dois - Paolo Sarpi (1552-1623), e depois Antonio Conti (1677-1749). 
Quanto a Sarpi está documentado que foi patrono de Galileu, e quanto a Conti terá defendido Newton na disputa que houve com Leibniz, mais tarde, sobre a invenção do cálculo diferencial e integral.
Mas Tarpley não fica por aqui, diz algumas coisas que eu já sabia e outras que foram novidade. Vou enumerar alguns casos, que são suficientemente elucidativos, como se não soubéssemos já de tantos outros (... que vão das máquinas a vapor, às baterias eléctricas, presentes desde a Antiguidade). 

Galileu e o Telescópio
Por exemplo, começando com Galileu, Tarpley questiona a "sua" invenção do telescópio, algo que já é aceite, pois sabe-se da existência de telescópios na Holanda em 1608, em pelo menos três casos (um Hans Lippershey, outro Zacharias Janssen, fabricantes de óculos em Middelburg, e ainda de Jacob Metius of Alkmaar). No entanto, para preservar o mito diz-se que Galileu melhorou os aparelhos holandeses, com o propósito original de observar os planetas.
No entanto, Tarpley aponta Leonardo da Vinci como já tendo usado um telescópio para estudar planetas, como aliás podemos ler aqui:
Isaac Newton developed the design for his reflecting telescope in 1668. Newton's idea of building telescopes using mirrors instead of lenses was not new. The magnifying effect of concave mirrors had been put to practical use as reading aids by medieval monks centuries before (c. 1300). Leonardo da Vinci had used concave mirrors to study the planets more than a century earlier (1513). 
A referência é a Newton e não a Galileu, porque se fala do telescópio reflector, que é normalmente creditado a Newton, 60 anos mais tarde, mas que é aqui atribuído a Leonardo da Vinci, um século antes de Galileu, e 155 anos antes de Newton.
Acreditar que Leonardo da Vinci era um génio, é uma simplificação do problema... tal como Leonardo se "inspirou" em tantas coisas de Vitrúvio, é bem natural que estivesse apenas a transcrever outros tantos trabalhos "perdidos" no incêndio da Biblioteca de Alexandria. 

Não é fácil entender como foi possível a humanidade ter ficado presa durante mais de mil anos, com conhecimento encerrado em "livros proibidos", mas esta particularidade foi ilustrada por Umberto Eco no romance/filme denominado "Nome da Rosa".
Com efeito, como diz MBP, não é difícil concluir que o problema é essencialmente filosófico (ou epistemológico), como tinha dado conta o Padre Agostinho de Macedo, ao criticar a maçonaria (ver os textos "de natura deorum", que escrevi no Odemaia).
Tendo esse antecedente, depois as "descobertas", ou melhor "redescobertas", foram convenientemente creditadas a alguns "génios", que pouco mais foram do que serviçais úteis, para tentar libertar o conhecimento guardado pelo Vaticano, durante milénios.

Não haverá muitas dúvidas que, dada a qualidade da produção vidreira romana, seria muito estranho que os Romanos não tivessem telescópios de grande qualidade. Ou, como diria Lewis Carroll, de forma enigmática, na sua Alice no País das Maravilhas: 
«I must be shutting up like a telescope.»
(Devo-me estar a calar/fechar como um telescópio.)
... e foi isso que se terá feito, toda a gente se calou, como se calaram os telescópios durante milénios.

A gravidade do problema
Tarpley é especialmente incisivo na crítica a Newton, sendo sabido e reconhecido que o seu interesse especial era pela Alquimia - o que leva Tarpley a classifícá-lo como herdeiro da Magia Negra dos antigos magos da Caldeia ou Babilónia. 
Tal como Copérnico e Galileu, ao defender o heliocentrismo, não estavam a dizer nada que não tivesse sido dito por Aristarco de Samos, quase dois milénios antes, e que Pedro Nunes terá classificado de "irrelevante" para a Geografia (conforme é); também a Newton a única maçã que lhe terá caído na cabeça terá sido uma maçã dada por maçãos. Que Kepler tinha enunciado as leis do movimento planetário, e a diferença é pequena, não há grande dúvida... mas se Kepler se socorreu das observações cuidadas de Tycho Brahe, essas observações seriam disponíveis desde a Antiguidade, pelo mesmo desde o tempo dos Caldeus.
As considerações sobre a queda dos graves, começadas por Galileu, eram especialmente graves porque a gravidade era ter o assunto arrumado e esquecido, ainda que muito antes Duarte Pacheco Pereira faça considerações similares a Galileu.

Integrar e diferenciar
Outra polémica a que Tarpley dá destaque é a da disputa de Newton com Leibniz, que terá sido Antonio Conti a resolver favoravelmente a Newton.
Convém lembrar a este propósito que o cálculo matemático ficou durante dois milénios preso a construções com régua e compasso... ainda que outras abordagens tivessem sido propostas, nomeadamente por Arquimedes, ou pelo seu antecessor Eudoxo. Se essa linha tivesse sido seguida então pelos gregos, todo o cálculo redescoberto por Descartes, Leibniz e Newton, pertenceria à Antiguidade. 
No entanto, para diferenciar a malta, foram colocados problemas "milenares", como a famosa "quadratura do círculo", cujo interesse era muito mais causar uma dificuldade excessiva, com interesse limitado. Esse problema só foi resolvido no Séc. XIX, e estou convencido que demorou mesmo muito tempo a ser resolvido... Não sei se foram problemas resolvidos pelos próprios a que são creditados, ou foram resolvidos algum tempo antes por outros anónimos, caídos convenientemente no esquecimento.  
A resolução desses problemas milenares corresponde ainda a um desenvolvimento ímpar da tecnologia a nível mundial. Subitamente, o que estava escondido apareceu, umas coisas atrás das outras, sendo particularmente notável as décadas de transição antes e após 1900. A paragem desse desenvolvimento terá ocorrido com a 1ª Guerra Mundial, e especialmente com a 2ª Guerra Mundial, dado que a Alemanha não respeitou a paragem, e continuou a libertar o "génio" da garrafa, contrariando outras ordens... integrando não apenas o génio, mas também se diferenciando pelo mau génio!
Portanto, também me parece que, no máximo, Leibniz estaria a repisar descobertas antigas, mesmo que não o soubesse. Ou seja, se Tarpley salienta a fraude de Newton, não me parece que Leibniz esteja isento de suspeição similar. Convém ainda notar que há conclusões que Pedro Nunes apresenta, e que muito dificilmente seriam deduzíveis sem conhecimento do tal cálculo, que só seria descoberto no século seguinte.

A conexão Veneziana
A relação deste assunto com uma conexão veneziana, que eu saiba, é mérito de Tarpley, dado que estabeleceu até quais os personagens venezianos que serviram de promotores, nomeadamente de promotores da ascendência do Império britânico. Por outro lado, também pelo lado de Veneza temos todo um historial da banca, ligado a acontecimentos chave, que a Maria da Fonte relatou. Portanto, essa conexão poderá estabelecer-se.

Mas podemos ir um pouco mais longe, notando que a região do Veneto, era anteriormente conhecida como Gália Cisalpina, onde Celtas se impuseram a Etruscos. E esta ligação aos Venetos, é tanto mais particular, já que os Venetos habitavam ainda a região da Normandia, e segundo Júlio César, eram hábeis navegadores (ver Conan-o-bretão). Não é ainda de excluir que estes mesmos Venetos não fossem mais que uma remniscência fenícia, resultado de navegações ao longo da costa atlântica e mediterrânica.
Essa é a parte mais antiga, de conexão mais dúbia, mas já é mais claro que no decurso das invasões bárbaras, e a pretensa queda de Roma, uma variante do poder cortesão romano tivesse feito de Veneza um ponto estratégico para combater uma Roma que seria o centro de um obscurantismo cristão. As frequentes disputas internas em Itália pelo controlo papal, entre Génova e Veneza, foram outro desses aspectos.

No entanto, nesta conexão não há propriamente uma ligação que se prenda à região de Veneza. Ou seja, não se exporta facilmente um controlo com base numa cidade estrangeira. Por isso, se outros reinos acabaram por adoptar essa influência veneziana, não foi por comungarem de ideias para uma pátria em Veneza. O que se parece encontrar é um ponto comum de filosofia/região, que usou Veneza como posto de influência, mas terá origem noutro lugar.

Aditamento (18/11/2016):
Coloco nos comentários um texto integral de Webster Tarpley, que aborda os mesmos assuntos, e cujo PDF pode ser lido aqui: Schiller Institute (Archive, 1995).

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 05:13

Surge este texto a propósito do comentário de MBP a um outro comentário de Maria da Fonte, que coloquei nesse postal, e que de certa forma falava de uma possível "conspiração" financeira veneziana, que poderia estar ainda na origem da maçonaria internacional.

Em particular, MBP destacou um vídeo:
«Gostaria também de partilhar as fontes que recentemente tenho usado para analisar o enquadramento deste período (mas não só) que se resumem ao trabalho realizado pela fundação La Rouche. Deste enorme trabalho destaco para já este vídeo do historiador Webster Tarpley, e que teve ressonância na minha pessoa pelo facto de colocar a Epistemologia como alvo prioritário do "ataque" à verdade, coisa que o Jung também defendia mas de outra forma.» 
"The Venetian Conspiracy" by Webster Tarpley

Como não é muito habitual ver um trabalho de fundo sobre os bastidores, do que é publicitado e divulgado como verdades inquestionáveis, questionando o trabalho científico de dois "monstros consagrados da ciência", como foram Galileu e Newton, é especialmente interessante ver Webster Tarpley reduzir estas duas figuras a papéis menores, de simples agentes a soldo dos conspiradores venezianos. Mais notável, dá nomes, segue os registos, e aponta culpados para essa conspiração veneziana que transferir o poder para o Império Britânico, então em processo de formação, com a rainha Isabel I. 
Desses vários nomes apontados, destacam-se especialmente dois - Paolo Sarpi (1552-1623), e depois Antonio Conti (1677-1749). 
Quanto a Sarpi está documentado que foi patrono de Galileu, e quanto a Conti terá defendido Newton na disputa que houve com Leibniz, mais tarde, sobre a invenção do cálculo diferencial e integral.
Mas Tarpley não fica por aqui, diz algumas coisas que eu já sabia e outras que foram novidade. Vou enumerar alguns casos, que são suficientemente elucidativos, como se não soubéssemos já de tantos outros (... que vão das máquinas a vapor, às baterias eléctricas, presentes desde a Antiguidade). 

Galileu e o Telescópio
Por exemplo, começando com Galileu, Tarpley questiona a "sua" invenção do telescópio, algo que já é aceite, pois sabe-se da existência de telescópios na Holanda em 1608, em pelo menos três casos (um Hans Lippershey, outro Zacharias Janssen, fabricantes de óculos em Middelburg, e ainda de Jacob Metius of Alkmaar). No entanto, para preservar o mito diz-se que Galileu melhorou os aparelhos holandeses, com o propósito original de observar os planetas.
No entanto, Tarpley aponta Leonardo da Vinci como já tendo usado um telescópio para estudar planetas, como aliás podemos ler aqui:
Isaac Newton developed the design for his reflecting telescope in 1668. Newton's idea of building telescopes using mirrors instead of lenses was not new. The magnifying effect of concave mirrors had been put to practical use as reading aids by medieval monks centuries before (c. 1300). Leonardo da Vinci had used concave mirrors to study the planets more than a century earlier (1513). 
A referência é a Newton e não a Galileu, porque se fala do telescópio reflector, que é normalmente creditado a Newton, 60 anos mais tarde, mas que é aqui atribuído a Leonardo da Vinci, um século antes de Galileu, e 155 anos antes de Newton.
Acreditar que Leonardo da Vinci era um génio, é uma simplificação do problema... tal como Leonardo se "inspirou" em tantas coisas de Vitrúvio, é bem natural que estivesse apenas a transcrever outros tantos trabalhos "perdidos" no incêndio da Biblioteca de Alexandria. 

Não é fácil entender como foi possível a humanidade ter ficado presa durante mais de mil anos, com conhecimento encerrado em "livros proibidos", mas esta particularidade foi ilustrada por Umberto Eco no romance/filme denominado "Nome da Rosa".
Com efeito, como diz MBP, não é difícil concluir que o problema é essencialmente filosófico (ou epistemológico), como tinha dado conta o Padre Agostinho de Macedo, ao criticar a maçonaria (ver os textos "de natura deorum", que escrevi no Odemaia).
Tendo esse antecedente, depois as "descobertas", ou melhor "redescobertas", foram convenientemente creditadas a alguns "génios", que pouco mais foram do que serviçais úteis, para tentar libertar o conhecimento guardado pelo Vaticano, durante milénios.

Não haverá muitas dúvidas que, dada a qualidade da produção vidreira romana, seria muito estranho que os Romanos não tivessem telescópios de grande qualidade. Ou, como diria Lewis Carroll, de forma enigmática, na sua Alice no País das Maravilhas: 
«I must be shutting up like a telescope.»
(Devo-me estar a calar/fechar como um telescópio.)
... e foi isso que se terá feito, toda a gente se calou, como se calaram os telescópios durante milénios.

A gravidade do problema
Tarpley é especialmente incisivo na crítica a Newton, sendo sabido e reconhecido que o seu interesse especial era pela Alquimia - o que leva Tarpley a classifícá-lo como herdeiro da Magia Negra dos antigos magos da Caldeia ou Babilónia. 
Tal como Copérnico e Galileu, ao defender o heliocentrismo, não estavam a dizer nada que não tivesse sido dito por Aristarco de Samos, quase dois milénios antes, e que Pedro Nunes terá classificado de "irrelevante" para a Geografia (conforme é); também a Newton a única maçã que lhe terá caído na cabeça terá sido uma maçã dada por maçãos. Que Kepler tinha enunciado as leis do movimento planetário, e a diferença é pequena, não há grande dúvida... mas se Kepler se socorreu das observações cuidadas de Tycho Brahe, essas observações seriam disponíveis desde a Antiguidade, pelo mesmo desde o tempo dos Caldeus.
As considerações sobre a queda dos graves, começadas por Galileu, eram especialmente graves porque a gravidade era ter o assunto arrumado e esquecido, ainda que muito antes Duarte Pacheco Pereira faça considerações similares a Galileu.

Integrar e diferenciar
Outra polémica a que Tarpley dá destaque é a da disputa de Newton com Leibniz, que terá sido Antonio Conti a resolver favoravelmente a Newton.
Convém lembrar a este propósito que o cálculo matemático ficou durante dois milénios preso a construções com régua e compasso... ainda que outras abordagens tivessem sido propostas, nomeadamente por Arquimedes, ou pelo seu antecessor Eudoxo. Se essa linha tivesse sido seguida então pelos gregos, todo o cálculo redescoberto por Descartes, Leibniz e Newton, pertenceria à Antiguidade. 
No entanto, para diferenciar a malta, foram colocados problemas "milenares", como a famosa "quadratura do círculo", cujo interesse era muito mais causar uma dificuldade excessiva, com interesse limitado. Esse problema só foi resolvido no Séc. XIX, e estou convencido que demorou mesmo muito tempo a ser resolvido... Não sei se foram problemas resolvidos pelos próprios a que são creditados, ou foram resolvidos algum tempo antes por outros anónimos, caídos convenientemente no esquecimento.  
A resolução desses problemas milenares corresponde ainda a um desenvolvimento ímpar da tecnologia a nível mundial. Subitamente, o que estava escondido apareceu, umas coisas atrás das outras, sendo particularmente notável as décadas de transição antes e após 1900. A paragem desse desenvolvimento terá ocorrido com a 1ª Guerra Mundial, e especialmente com a 2ª Guerra Mundial, dado que a Alemanha não respeitou a paragem, e continuou a libertar o "génio" da garrafa, contrariando outras ordens... integrando não apenas o génio, mas também se diferenciando pelo mau génio!
Portanto, também me parece que, no máximo, Leibniz estaria a repisar descobertas antigas, mesmo que não o soubesse. Ou seja, se Tarpley salienta a fraude de Newton, não me parece que Leibniz esteja isento de suspeição similar. Convém ainda notar que há conclusões que Pedro Nunes apresenta, e que muito dificilmente seriam deduzíveis sem conhecimento do tal cálculo, que só seria descoberto no século seguinte.

A conexão Veneziana
A relação deste assunto com uma conexão veneziana, que eu saiba, é mérito de Tarpley, dado que estabeleceu até quais os personagens venezianos que serviram de promotores, nomeadamente de promotores da ascendência do Império britânico. Por outro lado, também pelo lado de Veneza temos todo um historial da banca, ligado a acontecimentos chave, que a Maria da Fonte relatou. Portanto, essa conexão poderá estabelecer-se.

Mas podemos ir um pouco mais longe, notando que a região do Veneto, era anteriormente conhecida como Gália Cisalpina, onde Celtas se impuseram a Etruscos. E esta ligação aos Venetos, é tanto mais particular, já que os Venetos habitavam ainda a região da Normandia, e segundo Júlio César, eram hábeis navegadores (ver Conan-o-bretão). Não é ainda de excluir que estes mesmos Venetos não fossem mais que uma remniscência fenícia, resultado de navegações ao longo da costa atlântica e mediterrânica.
Essa é a parte mais antiga, de conexão mais dúbia, mas já é mais claro que no decurso das invasões bárbaras, e a pretensa queda de Roma, uma variante do poder cortesão romano tivesse feito de Veneza um ponto estratégico para combater uma Roma que seria o centro de um obscurantismo cristão. As frequentes disputas internas em Itália pelo controlo papal, entre Génova e Veneza, foram outro desses aspectos.

No entanto, nesta conexão não há propriamente uma ligação que se prenda à região de Veneza. Ou seja, não se exporta facilmente um controlo com base numa cidade estrangeira. Por isso, se outros reinos acabaram por adoptar essa influência veneziana, não foi por comungarem de ideias para uma pátria em Veneza. O que se parece encontrar é um ponto comum de filosofia/região, que usou Veneza como posto de influência, mas terá origem noutro lugar.

Aditamento (18/11/2016):
Coloco nos comentários um texto integral de Webster Tarpley, que aborda os mesmos assuntos, e cujo PDF pode ser lido aqui: Schiller Institute (Archive, 1995).

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 05:13

Na História Universal dos Terramotos de Joaquim José Moreira de Mendonça... obra de 1758, cujo título completo é:

História Universal dos Terramotos que tem havido no mundo, de que há notícia, desde a sua Criação até ao Século Presente: com uma narração individual do Terramoto do 1º de Novembro de 1755, e notícia verdadeira dos seus efeitos em Lisboa, todo Portugal, Algarves, e mais partes de Europa, África, e América, aonde se estendeu: e uma dissertação física sobre as causas gerais dos terramotos, seus efeitos, diferenças e prognósticos, e as particularidades do último.

Mendonça, para além de descrever parte do que se tinha passado em 1755, vai buscar uma extensa lista de ocorrências. Se não estava já compilado, o trabalho seria enorme, mesmo para os 2 ou 3 anos que demorou a escrever a obra, após o sismo de 1755.

Ora, já falámos abundantemente do golpe maçónico, engendrado pelo Marquês de Pombal, na ocasião do sismo, dos fogos que consumiam a cidade, perante uma inoperância total, e presumida propositada, bem como das notícias de um maremoto, que verdadeiramente teria ocorrido no grande sismo de 1531, altura em que se construiu o Bairro Alto. O mesmo sismo de de 26 de Janeiro de 1531 que terá servido descrições falseadas de 1755, ao ponto de se ter ocultado da memória o registo de 1531 até reaparecer em documentação trazida a lume na revolução republicana. Trazida a lume... é a expressão quase certa, porque da mesma forma que foi trazida, voltou a ser "queimada", e ainda hoje o sismo de 1531 é ensombrado pelas descrições convenientes transportadas para o de 1755. 
Porque, só tolos, académicos crédulos, ou coniventes, podem recusar que o Bairro Alto tinha já o famoso planeamento em quadrícula, e que o natural em caso de maremoto seria a população habitar um "bairro alto", e não insistir em habitar a "baixa pombalina".   

A propósito dos sismos em Itália, que depois de Áquila voltaram a ocorrer em Amatrice, e agora de novo, Olinda sinalizou-nos então por email, a notícia de um sismo em 382 d.C. que teria submergido algumas ilhas ao largo do Cabo de S. Vicente.

Mendonça refere esse sismo da seguinte forma (página 26):
382 d.C.  Neste ano houve um Terramoto por quase toda a orbe, no qual padeceram muito as terras marítimas de Portugal,. Subverteram-se ilhas, de que ainda ao presente aparecem algumas eminências defronte do Cabo de S. Vicente. Laymundo (Livro 6), segundo Bernardo de Brito, se conforma muito com o que refere Eutropio. Talvez, que fosse nesta ocasião que desapareceu a Ilha Eritreia que esteve na Costa da Lusitânia, segundo Pompónio Mela (Livro 3) e outros.
... e no blogue Montalvo e as Ciências do Nosso Tempo, podemos ler um extracto de um livro de Luis Mendes Victor, sob o título "Sismologia e a dinâmica planetária", que acrescenta:
A existência de ilhas ao largo de S. Vicente é assinalada por Estrabão nos seguintes termos: o litoral adjacente ao promontório sagrado (Cabo de S. Vicente) forma o começo do lado ocidental da Ibéria até à boca do Tejo e o começo do lado meridional até à foz de outro rio chamado Anas (Guadiana)... Este cabo (promontório Sagrado) marca o extremo ocidente não só da Europa, mas de toda a terra habitada... Artimidoro, que diz ter estado naquele sítio, compara-o na forma de um navio; segundo ele, o que ainda mais faz lembrar um navio é a proximidade das três ilhotas de tal modo colocadas, que uma figura o esporão, e as outras duas com o duplo porto assaz considerável que formam, figuram epótides do navio. São estas as ilhas que, segundo Eutrópio, desapareceram em consequência do sismo e maremoto. No que se refere à ilha Eritreia que frei Bernardo Brito conjectura que tenha desaparecido por ocasião deste terramoto, não pode ser localizada com precisão, pois parece ter havido mais do que uma com o mesmo nome. (Moreira, 1991)
Como referi então, a coisa que mais se aproxima com possíveis ilhas próximo do Cabo de S. Vicente será o Banco de Gorringe (mapa de detalhe)... sendo que há outros bancos que meteram água em negócios submersos, dada tendência a afundar as poupanças dos contribuintes.  
Banco de Gorringe, imagem com uma raia eléctrica.
Como curiosidade adicional, Mendonça refere igualmente um grande sismo em 33 d.C, dizendo o seguinte:
33 d.C. O Terramoto sucedido na morte de Cristo, foi o maior, que tem experimentado o Mundo. Foi sentido em todo o Globo terráqueo. Ainda que Orósio, seguindo Plínio (Livro 2, cap. 84) pretende que fosse neste a destruição referida das cidades de Ásia, Tácito e Dion põem aquela fatalidade no consulado de Celio Rufo, e Pompónio Flaco, que foi no ano 20 d.C., segundo Eusébio no seu Chronicon. Neste violentíssimo terramoto, diz Santo Agostinho, que foram subvertidas onze cidades na Trácia. Também dizem que se abriram o monte Alvernia na Toscana, e o promontório de Gaeta em Nápoles. É muito provável que no mesmo terramoto se precipitou no mar uma parte da cidade de Tyndarida. Desta fatalidade escreve Plínio, atribuindo-a só às águas, que tinham cavado o monte em que estava fundada. Laymundo diz que foi muito formidável em Portugal, porque se mostravam rochas abertas desde aquele tempo. 
Como não me ocupei dos diversos relatos, e apenas fiz referência a alguns terramotos listados após a fundação da nacionalidade, junto agora os outros terramotos listados por Mendonça, e que afectaram território nacional.

Começa o relato de um sismo que teria dado origem ao mito grego do Dilúvio de Ogiges, e do Deucalião, e que teria ocorrido em 1815 a.C. Sobre Espanha começa por dar conta da grande seca, ocorrida cerca de 1030 a.C, e que poderia ter durado 26 anos, afectando menos a zona da Galiza, Astúrias e Cantábria. Adiciona que em 880 a.C. teria ocorrido um grande incêndio dos Pirinéus, tendo chegado ao ponto de fundir metais. Mas o primeiro registo que dá em Espanha é de um terramoto ocorrido cerca de 500 a.C. que abrira rochas e descobrira metais, e antes disso tem o cuidado de dizer (pág. 8):
Das Berlengas, ilhas e rochedos, fronteiros à Costa de Portugal, há tradição que foram Terra Firme deste Reino. Algum dos antigos Terramotos fez baixar a terra na parte, que cobriu o mar, como sucedeu noutras regiões do mundo. É muito provável que estas Ilhas e as chamadas Strinia, e Ophiusa, que ainda existiam defronte do Cabo de Espichel, quando Hamilcon veio a Espanha, e depois se submergiram, foram as famosas Ilhas Fortunadaas, e a dos Deuses, que celebraram tanto os Antigos, entre as quais foi muito conhecida a Erithia, Ao erudito Marinho pareceu, que todas estas ilhas foram antes Costas de Portugal, e que separadas por algum terramoto foram depois de muito séculos de existência, ilhas submergidas por outro. O que parece sem dúvida é que o Continente de Portugal era muito extenso para a parte do Ocidente. O promontório chamado dos geógrafos antigos de Magnum é hoje pouco metido ao mar, para merecer por antonomasia, o nome de grande. Devemos supor com Marinho que o mar roubou dele muita terra. 
Se as ilhas Strinia e Ofiúsa eram vistas ao tempo de Hamilcon, será talvez nos registos dos terramotos de 245 a.C. e de 216 a.C., que afligiram a Espanha, ou ainda no grande terramoto em 60 a.C, que se poderá ter alterado a situação, dizendo a este propósito "o mar excedendo os seus ordinários limites cobriu muitas terras (...) a gente se retirou a habitar campos e montanhas". Não era ainda tempo do Marquês que conseguia convencer o pessoal a habitar a Baixa, apesar do grande maremoto...
Ainda que tenhamos que dar o devido desconto a estes relatos mais antigos, normalmente há aqui muita névoa da época, que teria também uma alguma sinalização de faroleiro.
Numa parte parece claro que Mendonça estava certo - "sem dúvida é que o Continente de Portugal era muito extenso para a parte do Ocidente", e diríamos mais, entre 30 a 60 Km ou mais para ocidente.

A razão não terão sido os terramotos, como abundantemente Mendonça refere, mas hoje já se começa a aceitar, pelas "conversas do clima", que durante a Idade do Gelo, a extensão territorial era muito maior, em particular fazendo entrar a Costa ocidental europeia no Oceano Atântico.

Foi ficando sempre na população alguns mitos de ilhas perdidas no tempo, submergidas por fenómenos naturais, desde a submersa Atlântida até à perdida Avalon, ou ainda as Hespéridas, dos pomos de ouro, confundidas talvez com as Caraíbas.
Curiosamente em português, usa-se a expressão "abalar" com o significado duplo de estremecer, ou de partir.
Como ainda não mencionei muito Avalon, cito a wikipedia sobre a etimologia do nome:
All are etymologically related to the Gaulish root *aballo- (as found in the place name Aballo/Aballone, now Avallon in Burgundy or in the Italian surname Avallone) and are derived from a Common Celtic *abal- "apple", which is related at the Proto-Indo-European level to English apple ...
Portanto, poderá haver uma raiz do nome Avalon que se relaciona com "maçãs", o que tendo em atenção que as ocidentais Hespérides tinham o moto das "maçãs de ouro", também entendidas como "laranjas", não deixa de ser curioso.
Seja por causa de um "abalo" sísmico que motivou um "abalar" para outras paragens, seja porque as maçãs caíam por abalar ou abanar a árvore, há uma diferença significativa entre maçãs que abalam, e pêros ou pêras que esperam... porque pêras, adequam-se mais às Hesperas, às Esperas, moto de D. Manuel, que juntou à Esfera, enquanto SPERA, na esfera armilar. E a seu tempo acabou a Spera e foi feita a Sphera na circum-navegação por Magalhães. As Hespérides puderam então ser associadas às ilhas ocidentais paradisíacas das Caraíbas, e tudo parecia correr bem, se não houvessem sempre novas Hesperas e Esperas a cumprir. As maçãs ligam ainda ao deus celta Abellio, identificado ao grego Apolo, afinal o deus solar, quando os pomos eram de ouro. Apolo que se ligava ao culto da Pítia, pela morte da famosa serpente. Fica assim o encobrimento, o cobre da cobra, dos cobres que cobram, e o abalo das maçãs.

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publicado às 05:58

Na História Universal dos Terramotos de Joaquim José Moreira de Mendonça... obra de 1758, cujo título completo é:

História Universal dos Terramotos que tem havido no mundo, de que há notícia, desde a sua Criação até ao Século Presente: com uma narração individual do Terramoto do 1º de Novembro de 1755, e notícia verdadeira dos seus efeitos em Lisboa, todo Portugal, Algarves, e mais partes de Europa, África, e América, aonde se estendeu: e uma dissertação física sobre as causas gerais dos terramotos, seus efeitos, diferenças e prognósticos, e as particularidades do último.

Mendonça, para além de descrever parte do que se tinha passado em 1755, vai buscar uma extensa lista de ocorrências. Se não estava já compilado, o trabalho seria enorme, mesmo para os 2 ou 3 anos que demorou a escrever a obra, após o sismo de 1755.

Ora, já falámos abundantemente do golpe maçónico, engendrado pelo Marquês de Pombal, na ocasião do sismo, dos fogos que consumiam a cidade, perante uma inoperância total, e presumida propositada, bem como das notícias de um maremoto, que verdadeiramente teria ocorrido no grande sismo de 1531, altura em que se construiu o Bairro Alto. O mesmo sismo de de 26 de Janeiro de 1531 que terá servido descrições falseadas de 1755, ao ponto de se ter ocultado da memória o registo de 1531 até reaparecer em documentação trazida a lume na revolução republicana. Trazida a lume... é a expressão quase certa, porque da mesma forma que foi trazida, voltou a ser "queimada", e ainda hoje o sismo de 1531 é ensombrado pelas descrições convenientes transportadas para o de 1755. 
Porque, só tolos, académicos crédulos, ou coniventes, podem recusar que o Bairro Alto tinha já o famoso planeamento em quadrícula, e que o natural em caso de maremoto seria a população habitar um "bairro alto", e não insistir em habitar a "baixa pombalina".   

A propósito dos sismos em Itália, que depois de Áquila voltaram a ocorrer em Amatrice, e agora de novo, Olinda sinalizou-nos então por email, a notícia de um sismo em 382 d.C. que teria submergido algumas ilhas ao largo do Cabo de S. Vicente.

Mendonça refere esse sismo da seguinte forma (página 26):
382 d.C.  Neste ano houve um Terramoto por quase toda a orbe, no qual padeceram muito as terras marítimas de Portugal,. Subverteram-se ilhas, de que ainda ao presente aparecem algumas eminências defronte do Cabo de S. Vicente. Laymundo (Livro 6), segundo Bernardo de Brito, se conforma muito com o que refere Eutropio. Talvez, que fosse nesta ocasião que desapareceu a Ilha Eritreia que esteve na Costa da Lusitânia, segundo Pompónio Mela (Livro 3) e outros.
... e no blogue Montalvo e as Ciências do Nosso Tempo, podemos ler um extracto de um livro de Luis Mendes Victor, sob o título "Sismologia e a dinâmica planetária", que acrescenta:
A existência de ilhas ao largo de S. Vicente é assinalada por Estrabão nos seguintes termos: o litoral adjacente ao promontório sagrado (Cabo de S. Vicente) forma o começo do lado ocidental da Ibéria até à boca do Tejo e o começo do lado meridional até à foz de outro rio chamado Anas (Guadiana)... Este cabo (promontório Sagrado) marca o extremo ocidente não só da Europa, mas de toda a terra habitada... Artimidoro, que diz ter estado naquele sítio, compara-o na forma de um navio; segundo ele, o que ainda mais faz lembrar um navio é a proximidade das três ilhotas de tal modo colocadas, que uma figura o esporão, e as outras duas com o duplo porto assaz considerável que formam, figuram epótides do navio. São estas as ilhas que, segundo Eutrópio, desapareceram em consequência do sismo e maremoto. No que se refere à ilha Eritreia que frei Bernardo Brito conjectura que tenha desaparecido por ocasião deste terramoto, não pode ser localizada com precisão, pois parece ter havido mais do que uma com o mesmo nome. (Moreira, 1991)
Como referi então, a coisa que mais se aproxima com possíveis ilhas próximo do Cabo de S. Vicente será o Banco de Gorringe (mapa de detalhe)... sendo que há outros bancos que meteram água em negócios submersos, dada tendência a afundar as poupanças dos contribuintes.  
Banco de Gorringe, imagem com uma raia eléctrica.
Como curiosidade adicional, Mendonça refere igualmente um grande sismo em 33 d.C, dizendo o seguinte:
33 d.C. O Terramoto sucedido na morte de Cristo, foi o maior, que tem experimentado o Mundo. Foi sentido em todo o Globo terráqueo. Ainda que Orósio, seguindo Plínio (Livro 2, cap. 84) pretende que fosse neste a destruição referida das cidades de Ásia, Tácito e Dion põem aquela fatalidade no consulado de Celio Rufo, e Pompónio Flaco, que foi no ano 20 d.C., segundo Eusébio no seu Chronicon. Neste violentíssimo terramoto, diz Santo Agostinho, que foram subvertidas onze cidades na Trácia. Também dizem que se abriram o monte Alvernia na Toscana, e o promontório de Gaeta em Nápoles. É muito provável que no mesmo terramoto se precipitou no mar uma parte da cidade de Tyndarida. Desta fatalidade escreve Plínio, atribuindo-a só às águas, que tinham cavado o monte em que estava fundada. Laymundo diz que foi muito formidável em Portugal, porque se mostravam rochas abertas desde aquele tempo. 
Como não me ocupei dos diversos relatos, e apenas fiz referência a alguns terramotos listados após a fundação da nacionalidade, junto agora os outros terramotos listados por Mendonça, e que afectaram território nacional.

Começa o relato de um sismo que teria dado origem ao mito grego do Dilúvio de Ogiges, e do Deucalião, e que teria ocorrido em 1815 a.C. Sobre Espanha começa por dar conta da grande seca, ocorrida cerca de 1030 a.C, e que poderia ter durado 26 anos, afectando menos a zona da Galiza, Astúrias e Cantábria. Adiciona que em 880 a.C. teria ocorrido um grande incêndio dos Pirinéus, tendo chegado ao ponto de fundir metais. Mas o primeiro registo que dá em Espanha é de um terramoto ocorrido cerca de 500 a.C. que abrira rochas e descobrira metais, e antes disso tem o cuidado de dizer (pág. 8):
Das Berlengas, ilhas e rochedos, fronteiros à Costa de Portugal, há tradição que foram Terra Firme deste Reino. Algum dos antigos Terramotos fez baixar a terra na parte, que cobriu o mar, como sucedeu noutras regiões do mundo. É muito provável que estas Ilhas e as chamadas Strinia, e Ophiusa, que ainda existiam defronte do Cabo de Espichel, quando Hamilcon veio a Espanha, e depois se submergiram, foram as famosas Ilhas Fortunadaas, e a dos Deuses, que celebraram tanto os Antigos, entre as quais foi muito conhecida a Erithia, Ao erudito Marinho pareceu, que todas estas ilhas foram antes Costas de Portugal, e que separadas por algum terramoto foram depois de muito séculos de existência, ilhas submergidas por outro. O que parece sem dúvida é que o Continente de Portugal era muito extenso para a parte do Ocidente. O promontório chamado dos geógrafos antigos de Magnum é hoje pouco metido ao mar, para merecer por antonomasia, o nome de grande. Devemos supor com Marinho que o mar roubou dele muita terra. 
Se as ilhas Strinia e Ofiúsa eram vistas ao tempo de Hamilcon, será talvez nos registos dos terramotos de 245 a.C. e de 216 a.C., que afligiram a Espanha, ou ainda no grande terramoto em 60 a.C, que se poderá ter alterado a situação, dizendo a este propósito "o mar excedendo os seus ordinários limites cobriu muitas terras (...) a gente se retirou a habitar campos e montanhas". Não era ainda tempo do Marquês que conseguia convencer o pessoal a habitar a Baixa, apesar do grande maremoto...
Ainda que tenhamos que dar o devido desconto a estes relatos mais antigos, normalmente há aqui muita névoa da época, que teria também uma alguma sinalização de faroleiro.
Numa parte parece claro que Mendonça estava certo - "sem dúvida é que o Continente de Portugal era muito extenso para a parte do Ocidente", e diríamos mais, entre 30 a 60 Km ou mais para ocidente.

A razão não terão sido os terramotos, como abundantemente Mendonça refere, mas hoje já se começa a aceitar, pelas "conversas do clima", que durante a Idade do Gelo, a extensão territorial era muito maior, em particular fazendo entrar a Costa ocidental europeia no Oceano Atântico.

Foi ficando sempre na população alguns mitos de ilhas perdidas no tempo, submergidas por fenómenos naturais, desde a submersa Atlântida até à perdida Avalon, ou ainda as Hespéridas, dos pomos de ouro, confundidas talvez com as Caraíbas.
Curiosamente em português, usa-se a expressão "abalar" com o significado duplo de estremecer, ou de partir.
Como ainda não mencionei muito Avalon, cito a wikipedia sobre a etimologia do nome:
All are etymologically related to the Gaulish root *aballo- (as found in the place name Aballo/Aballone, now Avallon in Burgundy or in the Italian surname Avallone) and are derived from a Common Celtic *abal- "apple", which is related at the Proto-Indo-European level to English apple ...
Portanto, poderá haver uma raiz do nome Avalon que se relaciona com "maçãs", o que tendo em atenção que as ocidentais Hespérides tinham o moto das "maçãs de ouro", também entendidas como "laranjas", não deixa de ser curioso.
Seja por causa de um "abalo" sísmico que motivou um "abalar" para outras paragens, seja porque as maçãs caíam por abalar ou abanar a árvore, há uma diferença significativa entre maçãs que abalam, e pêros ou pêras que esperam... porque pêras, adequam-se mais às Hesperas, às Esperas, moto de D. Manuel, que juntou à Esfera, enquanto SPERA, na esfera armilar. E a seu tempo acabou a Spera e foi feita a Sphera na circum-navegação por Magalhães. As Hespérides puderam então ser associadas às ilhas ocidentais paradisíacas das Caraíbas, e tudo parecia correr bem, se não houvessem sempre novas Hesperas e Esperas a cumprir. As maçãs ligam ainda ao deus celta Abellio, identificado ao grego Apolo, afinal o deus solar, quando os pomos eram de ouro. Apolo que se ligava ao culto da Pítia, pela morte da famosa serpente. Fica assim o encobrimento, o cobre da cobra, dos cobres que cobram, e o abalo das maçãs.

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publicado às 05:58

Na sequência de um comentário de OMC sobre o alelo genético HLA A25-B18-DR15, que será uma particularidade portuguesa, seguiram-se uma série de respostas de Maria da Fonte, José Manuel Oliveira, e João Ribeiro, que levaram a diferentes tópicos, em particular à presença neandertal.

Há o que se Queria, e há o que se Cria. Esse é o processo da Criação.
A Criação está reportada na Bíblia no capítulo do Genesis
Sim, não é no capítulo dos Genes, mas digamos que não queremos também que as coisas estejam escarrapachadas tão literalmente que nem seja preciso fazer um esforçozinho para as ler adequadamente.

Ninguém tem grandes dúvidas que os humanos tomaram nas suas mãos a Criação, pelo menos a Criação de animais domésticos. Fizeram-no de tal forma, que foram apurando as raças à sua melhor conveniência. Os animais silvestres ficaram dóceis e cada vez mais produtivos, tendo em vista o objectivo dos criadores... fosse esse objectivo a força de trabalho, a carne, o leite, o queijo, etc.
Podemos pensar que os humanos apenas fariam isso com animais, mas não haveria verdadeiramente nada que impedisse que o fizessem também com outros humanos.
Para guardar animais é normalmente construída uma Cerca, e ninguém lhe chama Jardim, muito menos lhe dá o nome de Éden, mas ainda que o dono da Cerca forneça toda a alimentação, e uma vida razoavelmente facilitada, onde os animais não têm que se esforçar para a subsistência, nós funcionaríamos como serpentes se avisássemos os animais domésticos que as intenções do dono podem não ser exactamente as melhores. É claro que alguns animais domésticos, tão reconhecidos pela generosidade do seu criador, que lhes fornece tudo o que precisam, a troco de nada, dificilmente acreditariam nessas informações serpentinas... seriam certamente motivadas pela inveja da serpente não ter sido escolhida para domesticação, mas isso é outra história. Os gatos podem ser desconfiados e solitários, mas os canídeos exibem um grau de fidelidade notável, mesmo com criadores perversos.

Claro que a utilização de humanos como "animais domésticos" acabou por se instituir de forma estranhamente natural, sob a designação de "escravos", mesmo em sociedades pretensamente democráticas, como na Grécia. Só raros espíritos livres, como Aristófanes, eram suficientemente audazes para ridicularizarem essa "democracia". 
Não se tratando de nenhuma "engenharia genética", mas sim de uma simples "engenharia sexual", reprodutiva, os animais foram sendo desviados duma "selecção natural", e foram conduzidos para uma Criação orientada, visando certos objectivos. Tal como os vencedores de corridas de cavalos são escolhidos como garanhões, no comércio esclavagista houve venda selectiva de escravos visando aumentar a resistência e a força de trabalho da sua prole.
Ou seja, em "criação" ouve-se também "queria são", se queria um corpo são, como sua criação. Ou ainda lê-se "que ria são", para uma mente sã que o "cria são".

Portanto, não precisamos de nenhuns Anunaki (nascidos de Anu, Anu-nasci), também ditos Anedotos (dotados por Anu), de origem extraterrestre, para pensar em malta que quisesse fazer engenharia sexual, tendo em vista um apuramento racial. Bastava que alguns fizessem com os humanos o mesmo que tinham feito com os animais... seleccioná-los pelas suas características. 
Estas ideias de "criação" ainda não desapareceram. Têm o nome de Eugenia e foram consideradas pelos nazis na tentativa de melhorar a pretensa "raça ariana", e fazem parte ainda de uma certa paranóia judaica, que levou a sério a sua criação domesticada pelo Senhor, com vista a vencerem talvez algum concurso de "povo eleito" entre a carneirada, e assim escaparem ao sacrifício pascal.

No caso humano, após a "engenharia sexual", apostou-se na "engenharia social", como forma de optimizar a produção "animal". Senão vejamos... é dispendioso ao dono dos animais assegurar a sua subsistência. Seria muito melhor se os animais domésticos tomassem isso a seu cargo, e continuassem a trabalhar com o mesmo empenho como bestas de carga. Com os humanos conseguiu-se isso na Idade Média usando o estatuto de "servo". Ao contrário do escravo, o dono do servo não se preocupava com a alimentação deste, e recebia à mesma o fruto do trabalho, pelo imposto. 
Aplicado a um burro, este deixava de ser chicoteado para levar a carga... passava a levar a carga de livre vontade, sabendo que só comeria cenouras se o fizesse... porque o campo das cenouras era do Senhor.
O problema nesse caso é que ficava demasiado evidente que o fruto do trabalho ia parar ainda ao Senhor, e assim não era muito produtivo. Os camponeses trabalhavam poucos dias por ano, e tinham imenso tempo livre. 
Muito melhor foi a passagem para o estatuto de "cidadão", onde o homem poderia gerir o seu tempo para obter riqueza pessoal... ainda que tivesse que trabalhar todos os dias. 
Aplicado ao burro, seria como se o burro à conta de receber elogios do Senhor, e cada vez mais cenouras, trabalhasse cada vez mais afincadamente e com mais entusiasmo, pedindo até mais carga. 
Estranhamente os burros não trabalham mais se os elogiarmos, se aparecerem na televisão, ou se lhes dermos a última albarda da moda... mas resulta muito bem com humanos! Mais estranho ainda, não encontramos burros capazes de inventar chicotes mais eficazes, para aumentar a produção dos burros, a troco de receberem elogios e prestígio na comunidade asinina.

Bom, mas isto é o aspecto da "engenharia social" dos últimos séculos, verdadeiramente eficaz.

Regressando ao aspecto da "engenharia sexual", convém notar que, exceptuando uma imposição pela força, a escolha de parceiro sexual foi definida naturalmente na natureza como sendo uma opção feminina. Portanto, a evolução genética depois de ser definida por critérios irracionais, instintivos, passou a ser uma opção inteligente, definida por mulheres inteligentes.
Podemos considerar que foi tudo aleatório, e sem nenhum propósito particular, mas atendendo a que há registos de primitivas sociedades matriarcais, dando efectivo relevo ao aspecto da procriação, ou melhor... da Criação, não devemos excluir a hipótese de que a evolução humana, do nosso ideal de beleza, tenha resultado de uma escolha consciente e inteligente, nem sempre irracional, feita pelo lado feminino.

Aspectos dessa prevalência matriarcal são as Vénus paleolíticas
Vénus de Dolni-Vestonice (Rep. Checa) e Vénus de Hohle Fels (Suévia alemã)

sendo ainda notado (documentário indicado por J. Ribeiro) que se tratou de uma transição abrupta, que marcou a diferença evolutiva e a posterior extinção,,, do homem de Neandertal.
Além disso (conforme notado pelo José Manuel), a presença de uma estatueta que é chamada "homem-leão", mas que é muito mais provavelmente uma "mulher-leoa", encontra notável consonância numa estatueta de Çatal Huyuk, onde vemos uma matrona dominante sentada num trono e ladeada por dois leões (ou leoas...):
Estatuetas de mulher-leoa (Suévia alemã) e matrona com leoas em Çatal Huyuk (Turquia)

Há uma mitologia suméria coincidente com a passagem de uma sociedade matriarcal para uma sociedade patriarcal, que provavelmente coincide com a passagem do Paleolítico para o Neolítico.
Na mitologia babilônica a morte de Tiamat pelo deus Marduk, que divide seu corpo em dois, é considerada um grande exemplo de como correu a mudança de poder do matriarcado ao patriarcado: "Tiamat, a Deusa Dragão do Caos e das Trevas, é combatida por Marduk, deus da Justiça e da Luz. Isto indica a mudança do matriarcado para o patriarcado". A mitologia grega também apresenta Apolo matando Píton, e dividindo seu corpo em dois, como uma acção necessária para se tornar dono do oráculo de Delfos 
in wikipedia, citando Gateways to Babylon. 
Depois dessa prevalência das sociedades femininas no Paleolítico, a estrutura social estabilizando-se com exércitos bélicos, de guerreiros masculinos, só terá tido o seu contraponto com a mítica presença das Amazonas em paragens da Cítia, que ainda terão feito Ciro perder a cabeça às suas mãos.

Portanto, é de considerar que na confluência entre Homo Sapiens e Neandertais, se tenha efectuado um apuramento de raça, conduzido conscientemente pelo lado feminino, talvez com apoio de xamãs. Assim, ao invés de um deus barbudo criador, poderia ser mais adequado uma deusa matrona feminina criando e seleccionando, como depois se iria fazer na domesticação animal. Na versão masculina que nos chegou da Bíblia, a vontade de criar um homem puro e casto, terá sido contrariada pela vontade feminina de manter na prole uma inteligência não completamente burra, o que poderá ter sido visto como uma tentação viperina... que estragou a colheita. Essa vontade de pureza aparece depois repetida aquando do degelo, que terá levado a sucessivas inundações, vistas como dilúvio, após a Idade do Gelo. Feita a selecção física, o que interessaria seria uma selecção moral, que evitasse um contínuo conflito humano... essa tentativa de selecção genética, condicionada pela moral, é essencialmente o que transparece na história bíblica, desde o Genesis.
Esse seria muito provavelmente o grande desígnio de orientação dos xamãs, que teriam conseguido evitar uma completa chacina e extinção humana em territórios da Oceania, fazendo algo tão simples como confundir as línguas (a Papua - Nova Guiné tem 800 línguas), e mantendo um controlo submerso acima de qualquer controlo visível.


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Na sequência de um comentário de OMC sobre o alelo genético HLA A25-B18-DR15, que será uma particularidade portuguesa, seguiram-se uma série de respostas de Maria da Fonte, José Manuel Oliveira, e João Ribeiro, que levaram a diferentes tópicos, em particular à presença neandertal.

Há o que se Queria, e há o que se Cria. Esse é o processo da Criação.
A Criação está reportada na Bíblia no capítulo do Genesis
Sim, não é no capítulo dos Genes, mas digamos que não queremos também que as coisas estejam escarrapachadas tão literalmente que nem seja preciso fazer um esforçozinho para as ler adequadamente.

Ninguém tem grandes dúvidas que os humanos tomaram nas suas mãos a Criação, pelo menos a Criação de animais domésticos. Fizeram-no de tal forma, que foram apurando as raças à sua melhor conveniência. Os animais silvestres ficaram dóceis e cada vez mais produtivos, tendo em vista o objectivo dos criadores... fosse esse objectivo a força de trabalho, a carne, o leite, o queijo, etc.
Podemos pensar que os humanos apenas fariam isso com animais, mas não haveria verdadeiramente nada que impedisse que o fizessem também com outros humanos.
Para guardar animais é normalmente construída uma Cerca, e ninguém lhe chama Jardim, muito menos lhe dá o nome de Éden, mas ainda que o dono da Cerca forneça toda a alimentação, e uma vida razoavelmente facilitada, onde os animais não têm que se esforçar para a subsistência, nós funcionaríamos como serpentes se avisássemos os animais domésticos que as intenções do dono podem não ser exactamente as melhores. É claro que alguns animais domésticos, tão reconhecidos pela generosidade do seu criador, que lhes fornece tudo o que precisam, a troco de nada, dificilmente acreditariam nessas informações serpentinas... seriam certamente motivadas pela inveja da serpente não ter sido escolhida para domesticação, mas isso é outra história. Os gatos podem ser desconfiados e solitários, mas os canídeos exibem um grau de fidelidade notável, mesmo com criadores perversos.

Claro que a utilização de humanos como "animais domésticos" acabou por se instituir de forma estranhamente natural, sob a designação de "escravos", mesmo em sociedades pretensamente democráticas, como na Grécia. Só raros espíritos livres, como Aristófanes, eram suficientemente audazes para ridicularizarem essa "democracia". 
Não se tratando de nenhuma "engenharia genética", mas sim de uma simples "engenharia sexual", reprodutiva, os animais foram sendo desviados duma "selecção natural", e foram conduzidos para uma Criação orientada, visando certos objectivos. Tal como os vencedores de corridas de cavalos são escolhidos como garanhões, no comércio esclavagista houve venda selectiva de escravos visando aumentar a resistência e a força de trabalho da sua prole.
Ou seja, em "criação" ouve-se também "queria são", se queria um corpo são, como sua criação. Ou ainda lê-se "que ria são", para uma mente sã que o "cria são".

Portanto, não precisamos de nenhuns Anunaki (nascidos de Anu, Anu-nasci), também ditos Anedotos (dotados por Anu), de origem extraterrestre, para pensar em malta que quisesse fazer engenharia sexual, tendo em vista um apuramento racial. Bastava que alguns fizessem com os humanos o mesmo que tinham feito com os animais... seleccioná-los pelas suas características. 
Estas ideias de "criação" ainda não desapareceram. Têm o nome de Eugenia e foram consideradas pelos nazis na tentativa de melhorar a pretensa "raça ariana", e fazem parte ainda de uma certa paranóia judaica, que levou a sério a sua criação domesticada pelo Senhor, com vista a vencerem talvez algum concurso de "povo eleito" entre a carneirada, e assim escaparem ao sacrifício pascal.

No caso humano, após a "engenharia sexual", apostou-se na "engenharia social", como forma de optimizar a produção "animal". Senão vejamos... é dispendioso ao dono dos animais assegurar a sua subsistência. Seria muito melhor se os animais domésticos tomassem isso a seu cargo, e continuassem a trabalhar com o mesmo empenho como bestas de carga. Com os humanos conseguiu-se isso na Idade Média usando o estatuto de "servo". Ao contrário do escravo, o dono do servo não se preocupava com a alimentação deste, e recebia à mesma o fruto do trabalho, pelo imposto. 
Aplicado a um burro, este deixava de ser chicoteado para levar a carga... passava a levar a carga de livre vontade, sabendo que só comeria cenouras se o fizesse... porque o campo das cenouras era do Senhor.
O problema nesse caso é que ficava demasiado evidente que o fruto do trabalho ia parar ainda ao Senhor, e assim não era muito produtivo. Os camponeses trabalhavam poucos dias por ano, e tinham imenso tempo livre. 
Muito melhor foi a passagem para o estatuto de "cidadão", onde o homem poderia gerir o seu tempo para obter riqueza pessoal... ainda que tivesse que trabalhar todos os dias. 
Aplicado ao burro, seria como se o burro à conta de receber elogios do Senhor, e cada vez mais cenouras, trabalhasse cada vez mais afincadamente e com mais entusiasmo, pedindo até mais carga. 
Estranhamente os burros não trabalham mais se os elogiarmos, se aparecerem na televisão, ou se lhes dermos a última albarda da moda... mas resulta muito bem com humanos! Mais estranho ainda, não encontramos burros capazes de inventar chicotes mais eficazes, para aumentar a produção dos burros, a troco de receberem elogios e prestígio na comunidade asinina.

Bom, mas isto é o aspecto da "engenharia social" dos últimos séculos, verdadeiramente eficaz.

Regressando ao aspecto da "engenharia sexual", convém notar que, exceptuando uma imposição pela força, a escolha de parceiro sexual foi definida naturalmente na natureza como sendo uma opção feminina. Portanto, a evolução genética depois de ser definida por critérios irracionais, instintivos, passou a ser uma opção inteligente, definida por mulheres inteligentes.
Podemos considerar que foi tudo aleatório, e sem nenhum propósito particular, mas atendendo a que há registos de primitivas sociedades matriarcais, dando efectivo relevo ao aspecto da procriação, ou melhor... da Criação, não devemos excluir a hipótese de que a evolução humana, do nosso ideal de beleza, tenha resultado de uma escolha consciente e inteligente, nem sempre irracional, feita pelo lado feminino.

Aspectos dessa prevalência matriarcal são as Vénus paleolíticas
Vénus de Dolni-Vestonice (Rep. Checa) e Vénus de Hohle Fels (Suévia alemã)

sendo ainda notado (documentário indicado por J. Ribeiro) que se tratou de uma transição abrupta, que marcou a diferença evolutiva e a posterior extinção,,, do homem de Neandertal.
Além disso (conforme notado pelo José Manuel), a presença de uma estatueta que é chamada "homem-leão", mas que é muito mais provavelmente uma "mulher-leoa", encontra notável consonância numa estatueta de Çatal Huyuk, onde vemos uma matrona dominante sentada num trono e ladeada por dois leões (ou leoas...):
Estatuetas de mulher-leoa (Suévia alemã) e matrona com leoas em Çatal Huyuk (Turquia)

Há uma mitologia suméria coincidente com a passagem de uma sociedade matriarcal para uma sociedade patriarcal, que provavelmente coincide com a passagem do Paleolítico para o Neolítico.
Na mitologia babilônica a morte de Tiamat pelo deus Marduk, que divide seu corpo em dois, é considerada um grande exemplo de como correu a mudança de poder do matriarcado ao patriarcado: "Tiamat, a Deusa Dragão do Caos e das Trevas, é combatida por Marduk, deus da Justiça e da Luz. Isto indica a mudança do matriarcado para o patriarcado". A mitologia grega também apresenta Apolo matando Píton, e dividindo seu corpo em dois, como uma acção necessária para se tornar dono do oráculo de Delfos 
in wikipedia, citando Gateways to Babylon. 
Depois dessa prevalência das sociedades femininas no Paleolítico, a estrutura social estabilizando-se com exércitos bélicos, de guerreiros masculinos, só terá tido o seu contraponto com a mítica presença das Amazonas em paragens da Cítia, que ainda terão feito Ciro perder a cabeça às suas mãos.

Portanto, é de considerar que na confluência entre Homo Sapiens e Neandertais, se tenha efectuado um apuramento de raça, conduzido conscientemente pelo lado feminino, talvez com apoio de xamãs. Assim, ao invés de um deus barbudo criador, poderia ser mais adequado uma deusa matrona feminina criando e seleccionando, como depois se iria fazer na domesticação animal. Na versão masculina que nos chegou da Bíblia, a vontade de criar um homem puro e casto, terá sido contrariada pela vontade feminina de manter na prole uma inteligência não completamente burra, o que poderá ter sido visto como uma tentação viperina... que estragou a colheita. Essa vontade de pureza aparece depois repetida aquando do degelo, que terá levado a sucessivas inundações, vistas como dilúvio, após a Idade do Gelo. Feita a selecção física, o que interessaria seria uma selecção moral, que evitasse um contínuo conflito humano... essa tentativa de selecção genética, condicionada pela moral, é essencialmente o que transparece na história bíblica, desde o Genesis.
Esse seria muito provavelmente o grande desígnio de orientação dos xamãs, que teriam conseguido evitar uma completa chacina e extinção humana em territórios da Oceania, fazendo algo tão simples como confundir as línguas (a Papua - Nova Guiné tem 800 línguas), e mantendo um controlo submerso acima de qualquer controlo visível.


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publicado às 07:57

(continuação)
Na sequência do texto anterior, há múltiplos aspectos por onde se pode seguir, e sob pena de não cobrindo todos, não cobrir nenhum, deixo algumas ligações, umas com mais interesse e relevância que outras.

Cocatrice e Serpe
A Coca aparece ainda ligada a uma figura heráldica, semelhante a um Basilisco (de que já falámos), chamada Cocatrice, que tem uma cabeça de galo, e aqui convém lembrar as palavras Cock (inglês) e Coq (francês), bem como a designação popular "Cocó", para um galo pequeno. Aliás, de certa forma a onomatopeia "cocóró" reflecte talvez a origem do termo.
A Cocatrice sendo um animal fantástico alado, prolonga-se com cauda de cobra, é ainda identificada a um tipo de dragão ou quimera, tendo a mesma faculdade do basilisco - um olhar petrificador.
Cocatrice
De igual forma, com aspecto muito semelhante, considera-se a Serpe, que é igualmente uma espécie de dragão alado com duas patas, e que é considerada na heráldica da vila de Serpa. O nome em inglês "wyvern" é ligado à origem latina de viper, ou seja, víbora.

Sefes
Na descrição do poema de Avieno, onde se fala de Ofiússa, são nomeados os povos Sefes e Dragani, prestados ao culto de serpentes ou dragões, que teriam expulsado os Oestrimínios.
O nome Ofiússa vem da designação grega para cobra que era ofio, e tal como ainda hoje usamos o termo serpentina para uma forma enrolada (como nas serpentinas carnavalescas), relacionar ofio com "o fio", ou seja com um fio, um filamento alongado, parece igualmente ajustar-se ao aspecto de uma cobra.

Povos ibéricos, na descrição de Avieno
Ainda a designação de Dragani ocorre-nos uma possível alteração para Bragani... ou seja, uma eventual ligação ao nome da cidade de Braga, pois a diferença entre Draga e Braga é razoavelmente pequena.
Mas talvez mais interessante será considerar uma eventual ligação dos Sefes (ou Saefes) à palavra "sefardita" usada para designar os judeus ibéricos. Isto porque já mencionámos há uns anos como o tetragrama judaico YHVH se poderia ligar à palavra JEFE, ou chefe... e há aí uma certa proximidade à designação Sefe. Acresce que o prefixo cefe pode ser remetido à chefia, à cabeça, pela palavra grega cefalo.

Ofiúco, Hermes e Pítia
Cefeu é uma das várias constelações, associada ao mito de Andrómeda e Cassiopeia, respectivamente filha e mulher desse lendário rei da Etiópia. Para além destas três constelações, outras duas são Perseu e Pégaso, o herói e o seu cavalo alado, que salvam Andrómeda, do monstro marinho Cetus, outra constelação também chamada Baleia.
Perseu usa a cabeça da Medusa para petrificar o monstro, copiando assim a ideia do poder do Basilisco, ou Cocatrice. Ao lado da constelação de Cefeu, encontra-se Dragão e depois Hércules, Serpente e Ofiúco. A constelação de Ofiúco corta a constelação de Serpente em duas partes - a cabeça e a cauda. Sendo contígua a Sagitário, tem sido apontada como candidata a 13º signo zodiacal, dada a deslocação da eclíptica.
Ofiúco esteve associada à medicina, justamente por essa ligação à serpente, lembrando que também o bastão de Asclépio, símbolo médico, é um bastão com uma serpente enrolada. Este símbolo tem sido apontado como resultante do tratamento da Dracunculiase, a infecção pelo verme-da-Guiné, um tratamento milenar, conhecido dos egípcios, em que o verme é retirado do paciente, enrolando-se num pequeno pau.
História diferente, ainda que sejam confundidas, tem o caduceu, bastão de Hermes, onde duas serpentes se enrolam em oposição uma à outra. É entendido que este bastão teria sido colocado entre duas cobras em competição, levando a que ambas se enrolassem, ficando presas ao bastão...
Nesse sentido, seria entendido como um símbolo de paz.
A associação das serpentes a Hermes é remetida por via de Apolo, no culto de Delfos, onde a Pítia (ou melhor, Pútia) celebrava a morte da cobra Pitão pelo deus-sol. Isso também estava associado a um mito de criação mais antigo, de Orfeu, relacionado com o "ovo cósmico".
Curiosamente, é na constelação de Serpente, na Nebulosa da Águia, que estão os famosos Pilares da Criação.

Ovo cósmico
Uma representação deste mito é a de uma cobra que envolve um ovo, o ovo universal. Pelo lado grego, encontra-se assinalado na tradição de Orfeu, mas o mito está espalhado em partes tão distintas, que vão da Polinésia ao Egipto, passando pela China e Índia.

Poderá ter havido várias razões para optar pela cobra como animal simbólico deste mito.
Por exemplo, é referida a característica das cobras mudarem de pele, o que simbolizaria uma eterna renovação, onde o substituir duma pele antiga por uma nova, não alterava o ser portador... permitiria aliás um rejuvenescimento.
O simbolismo do ovo como origem de toda uma estrutura seria particularmente visível nos répteis e nas aves, e dessa forma seria bem ajustado a qualquer mito de criação.

Mas há uma diferença... Entre as aves os progenitores acompanham a saída do ovo, têm que chocá-lo, não o podem abandonar os filhos ao seu destino individual.
É diferente com os répteis, o réptil nasce para o mundo isoladamente, normalmente sem reconhecer quaisquer progenitores, e esse também será o caso da maioria das cobras.
Portanto, o mito de uma divindade auto-gerada, sem conhecer antecessores, pode ser tipicamente associado à figuração do nascimento de um réptil, como uma cobra.

Por outro lado, a ideia da incubação de diversos universos, como ovos, isolados entre si até à eclosão, também se adapta bem a algumas concepções metafísicas, que não entendiam o universo como único, mas apenas como uma manifestação de várias realidades possíveis.

Há uma diferença entre encarar o passado como o progenitor de um único futuro, e admitir que o mesmo passado pode gerar diversas possibilidades para o futuro... será o mesmo que admitir que o passado coloca diversos ovos, e que somos nós que decidimos em que universo, em que ovo, vamos parar, determinando isso pelas nossas acções, pelas nossas escolhas.

Finalmente, apesar da cobra ser um tetrapode, a sua evolução singular suprimiu a manifestação das quatro patas, tornando-a praticamente numa manifestação de um grande e flexível tubo digestivo.
Este aspecto é particularmente interessante, porque o tubo digestivo é o principal aspecto comum a todos os animais.
Ao contrário das plantas, os animais desenvolveram-se em torno do tubo digestivo, que processava uma alimentação baseada na interacção com a realidade exterior.
A alimentação passou ainda do sabor ao saber (palavras com raiz similar), no sentido em que os animais definiram-se não apenas pela matéria que processavam, mas também pela informação que passou a ser a ser processada no cérebro. E o circuito de memória, que privilegia umas informações em detrimento de outras, que despreza ou ignora, é especialmente tido como analogia digestiva.

Cobra e Cobre
Convém ainda mencionar a Cobra de Cobre, Nehustan, associada a Moisés, e que fez parte do culto hebraico, tendo depois sido banida, como todos os cultos secundários, num purismo monoteísta.
As palavras cobra e cobre não serão semelhantes por mera coincidência.
O problema do Cobre foi o des-Cobre... o descobrir dos metais.
Os metais foram mortais no desequilíbrio de forças.
Até ao aparecimento do cobre, a arma mais mortífera seria provavelmente a utilização de setas envenenadas, por exemplo, com veneno de cobra. Para uma elite com acesso a protecção metálica, essas setas nunca conseguiriam perfurar a armadura, e isso causaria uma enorme diferença de vulnerabilidade, entre quem tinha acesso a metal e quem não tinha... 
Afinal cobrir-se com escudos ou armaduras de cobre, tornaria os seus detentores autênticos deuses, invulneráveis a investidas das populações mais selvagens.
A descoberta dos metais pode ter ocorrido fora do contexto dominante, face a civilizações que usariam preferencialmente matérias clássicas - madeira e pedra, e poderá ter levado a profundas mudanças estruturais na organização social em todo o mundo.
A ilha do Chipre ficou definitivamente associada pelo seu nome (Cúpros) ao "cobre", e foi também a ilha onde Vénus terá saído da sua concha, a partir das ondas formadas pelo corte genital de Urano.

Há ainda diversas outras associações, nomeadamente com a própria evocação da serpente na Bíblia, enquanto reveladora de um conhecimento proibido... mas aí não tanto por cobres, massas ou maças, mas sim pela simples maçã proibida. Em todo o caso, parece claro que a cobra foi um animal venerado e associado numa religião mais antiga, que depois caiu em desuso, quando a sociedade se mudou ao entrar na Idade do Cobre.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 07:59

(continuação)
Na sequência do texto anterior, há múltiplos aspectos por onde se pode seguir, e sob pena de não cobrindo todos, não cobrir nenhum, deixo algumas ligações, umas com mais interesse e relevância que outras.

Cocatrice e Serpe
A Coca aparece ainda ligada a uma figura heráldica, semelhante a um Basilisco (de que já falámos), chamada Cocatrice, que tem uma cabeça de galo, e aqui convém lembrar as palavras Cock (inglês) e Coq (francês), bem como a designação popular "Cocó", para um galo pequeno. Aliás, de certa forma a onomatopeia "cocóró" reflecte talvez a origem do termo.
A Cocatrice sendo um animal fantástico alado, prolonga-se com cauda de cobra, é ainda identificada a um tipo de dragão ou quimera, tendo a mesma faculdade do basilisco - um olhar petrificador.
Cocatrice
De igual forma, com aspecto muito semelhante, considera-se a Serpe, que é igualmente uma espécie de dragão alado com duas patas, e que é considerada na heráldica da vila de Serpa. O nome em inglês "wyvern" é ligado à origem latina de viper, ou seja, víbora.

Sefes
Na descrição do poema de Avieno, onde se fala de Ofiússa, são nomeados os povos Sefes e Dragani, prestados ao culto de serpentes ou dragões, que teriam expulsado os Oestrimínios.
O nome Ofiússa vem da designação grega para cobra que era ofio, e tal como ainda hoje usamos o termo serpentina para uma forma enrolada (como nas serpentinas carnavalescas), relacionar ofio com "o fio", ou seja com um fio, um filamento alongado, parece igualmente ajustar-se ao aspecto de uma cobra.

Povos ibéricos, na descrição de Avieno
Ainda a designação de Dragani ocorre-nos uma possível alteração para Bragani... ou seja, uma eventual ligação ao nome da cidade de Braga, pois a diferença entre Draga e Braga é razoavelmente pequena.
Mas talvez mais interessante será considerar uma eventual ligação dos Sefes (ou Saefes) à palavra "sefardita" usada para designar os judeus ibéricos. Isto porque já mencionámos há uns anos como o tetragrama judaico YHVH se poderia ligar à palavra JEFE, ou chefe... e há aí uma certa proximidade à designação Sefe. Acresce que o prefixo cefe pode ser remetido à chefia, à cabeça, pela palavra grega cefalo.

Ofiúco, Hermes e Pítia
Cefeu é uma das várias constelações, associada ao mito de Andrómeda e Cassiopeia, respectivamente filha e mulher desse lendário rei da Etiópia. Para além destas três constelações, outras duas são Perseu e Pégaso, o herói e o seu cavalo alado, que salvam Andrómeda, do monstro marinho Cetus, outra constelação também chamada Baleia.
Perseu usa a cabeça da Medusa para petrificar o monstro, copiando assim a ideia do poder do Basilisco, ou Cocatrice. Ao lado da constelação de Cefeu, encontra-se Dragão e depois Hércules, Serpente e Ofiúco. A constelação de Ofiúco corta a constelação de Serpente em duas partes - a cabeça e a cauda. Sendo contígua a Sagitário, tem sido apontada como candidata a 13º signo zodiacal, dada a deslocação da eclíptica.
Ofiúco esteve associada à medicina, justamente por essa ligação à serpente, lembrando que também o bastão de Asclépio, símbolo médico, é um bastão com uma serpente enrolada. Este símbolo tem sido apontado como resultante do tratamento da Dracunculiase, a infecção pelo verme-da-Guiné, um tratamento milenar, conhecido dos egípcios, em que o verme é retirado do paciente, enrolando-se num pequeno pau.
História diferente, ainda que sejam confundidas, tem o caduceu, bastão de Hermes, onde duas serpentes se enrolam em oposição uma à outra. É entendido que este bastão teria sido colocado entre duas cobras em competição, levando a que ambas se enrolassem, ficando presas ao bastão...
Nesse sentido, seria entendido como um símbolo de paz.
A associação das serpentes a Hermes é remetida por via de Apolo, no culto de Delfos, onde a Pítia (ou melhor, Pútia) celebrava a morte da cobra Pitão pelo deus-sol. Isso também estava associado a um mito de criação mais antigo, de Orfeu, relacionado com o "ovo cósmico".
Curiosamente, é na constelação de Serpente, na Nebulosa da Águia, que estão os famosos Pilares da Criação.

Ovo cósmico
Uma representação deste mito é a de uma cobra que envolve um ovo, o ovo universal. Pelo lado grego, encontra-se assinalado na tradição de Orfeu, mas o mito está espalhado em partes tão distintas, que vão da Polinésia ao Egipto, passando pela China e Índia.

Poderá ter havido várias razões para optar pela cobra como animal simbólico deste mito.
Por exemplo, é referida a característica das cobras mudarem de pele, o que simbolizaria uma eterna renovação, onde o substituir duma pele antiga por uma nova, não alterava o ser portador... permitiria aliás um rejuvenescimento.
O simbolismo do ovo como origem de toda uma estrutura seria particularmente visível nos répteis e nas aves, e dessa forma seria bem ajustado a qualquer mito de criação.

Mas há uma diferença... Entre as aves os progenitores acompanham a saída do ovo, têm que chocá-lo, não o podem abandonar os filhos ao seu destino individual.
É diferente com os répteis, o réptil nasce para o mundo isoladamente, normalmente sem reconhecer quaisquer progenitores, e esse também será o caso da maioria das cobras.
Portanto, o mito de uma divindade auto-gerada, sem conhecer antecessores, pode ser tipicamente associado à figuração do nascimento de um réptil, como uma cobra.

Por outro lado, a ideia da incubação de diversos universos, como ovos, isolados entre si até à eclosão, também se adapta bem a algumas concepções metafísicas, que não entendiam o universo como único, mas apenas como uma manifestação de várias realidades possíveis.

Há uma diferença entre encarar o passado como o progenitor de um único futuro, e admitir que o mesmo passado pode gerar diversas possibilidades para o futuro... será o mesmo que admitir que o passado coloca diversos ovos, e que somos nós que decidimos em que universo, em que ovo, vamos parar, determinando isso pelas nossas acções, pelas nossas escolhas.

Finalmente, apesar da cobra ser um tetrapode, a sua evolução singular suprimiu a manifestação das quatro patas, tornando-a praticamente numa manifestação de um grande e flexível tubo digestivo.
Este aspecto é particularmente interessante, porque o tubo digestivo é o principal aspecto comum a todos os animais.
Ao contrário das plantas, os animais desenvolveram-se em torno do tubo digestivo, que processava uma alimentação baseada na interacção com a realidade exterior.
A alimentação passou ainda do sabor ao saber (palavras com raiz similar), no sentido em que os animais definiram-se não apenas pela matéria que processavam, mas também pela informação que passou a ser a ser processada no cérebro. E o circuito de memória, que privilegia umas informações em detrimento de outras, que despreza ou ignora, é especialmente tido como analogia digestiva.

Cobra e Cobre
Convém ainda mencionar a Cobra de Cobre, Nehustan, associada a Moisés, e que fez parte do culto hebraico, tendo depois sido banida, como todos os cultos secundários, num purismo monoteísta.
As palavras cobra e cobre não serão semelhantes por mera coincidência.
O problema do Cobre foi o des-Cobre... o descobrir dos metais.
Os metais foram mortais no desequilíbrio de forças.
Até ao aparecimento do cobre, a arma mais mortífera seria provavelmente a utilização de setas envenenadas, por exemplo, com veneno de cobra. Para uma elite com acesso a protecção metálica, essas setas nunca conseguiriam perfurar a armadura, e isso causaria uma enorme diferença de vulnerabilidade, entre quem tinha acesso a metal e quem não tinha... 
Afinal cobrir-se com escudos ou armaduras de cobre, tornaria os seus detentores autênticos deuses, invulneráveis a investidas das populações mais selvagens.
A descoberta dos metais pode ter ocorrido fora do contexto dominante, face a civilizações que usariam preferencialmente matérias clássicas - madeira e pedra, e poderá ter levado a profundas mudanças estruturais na organização social em todo o mundo.
A ilha do Chipre ficou definitivamente associada pelo seu nome (Cúpros) ao "cobre", e foi também a ilha onde Vénus terá saído da sua concha, a partir das ondas formadas pelo corte genital de Urano.

Há ainda diversas outras associações, nomeadamente com a própria evocação da serpente na Bíblia, enquanto reveladora de um conhecimento proibido... mas aí não tanto por cobres, massas ou maças, mas sim pela simples maçã proibida. Em todo o caso, parece claro que a cobra foi um animal venerado e associado numa religião mais antiga, que depois caiu em desuso, quando a sociedade se mudou ao entrar na Idade do Cobre.

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publicado às 07:59

Coca é um nome que faz parte do folclore português e pode ser representada como Dragão, em luta contra São Jorge. Essa tradição parece estar ainda bem presente no rio Minho, quer em Monção, do lado português, quer em Santa Tecla, do lado galego.
Festa da Coca - Dragão contra São Jorge, em Monção (img)
Sendo o nome desse dragão "Coca", se falei na Cola do Dragão, enquanto Draco Cola, ou mesmo Dracola, seria uma falha imperdoável não ter associado directamente o Dragão à Coca, em suma 
o Estreito de Magalhães à Coca Cola...
Na nomenclatura tradicional, um Dragão é a Coca.
Assim, a Cola do Dragão seria Cola da Coca... ou Coca Cola.
Bom, é verdade que o assunto da Cola do Dragão, segundo o mapa de que falava António Galvão, dado pelo Infante D. Pedro ao irmão Infante D. Henrique, tomou aqui um espaço especial, por se tratar de uma localização do Estreito de Magalhães, antecipada de um século... ou mais!
Referimos que "cola" tinha aqui o significado hispânico de "cauda", ou conforme escrevi há mais de 5 anos:
A referência ao nome Cola do Dragão, em mapas antigos, onde também aparecia muitas vezes a eclíptica (como é o caso da esfera armilar adoptada no final do séc. XV), onde a Cauda Draconis  representava o Sul (e a Caput Draconis  , o Norte), pode ainda ser uma justificação adicional para o nome visto nesse mapa antigo que o Infante D. Pedro teria oferecido ao irmão, Infante D. Henrique.
Ainda no blog Odemaia, quis juntar o assunto à marca "Coca-Cola" por duas vezes (aqui e aqui)... mas convenhamos, foi uma associação sem efectiva ligação directa.
Como tantas vezes vemos fazer, seria fácil dizer agora, a posteriori, que esta ligação da Coca, ao nome de Dragão, sempre a tive presente... simplesmente não a tinha escrito. Mas isso não foi verdade, tanto quanto me lembro... e as menções à Coca-Cola sem o referir, apenas acentuam que procurei uma ligação, mas simplesmente não a vi! Simplesmente não dei especial atenção a esse mito da Coca, o que certamente não aconteceria se tivesse nascido em Monção.

Assim, foi apenas agora que liguei os dois pontos, a propósito de um comentário de Fernanda Durão, que remetia para o seu site:
http://www.sintraserpente.com/

que trata do mito de Ofiússa, Terra de Serpentes, relatada no poema romano Ora Maritima de Avieno (Séc. IV), uma terra que se situaria acima do estuário do Sado.

Citando Fernanda Durão, sobre o Culto da Serpente:
Rufio Festo Avieno informa que os Oestremínios, isto é, os antigos habitantes do extremo ocidente da Península Ibérica, terão sido expulsos do seu território pelos Saefes e pelos Draganos, povos conhecidos pelo "adoradores de serpentes", os quais deixaram marcas em Portugal e na Galiza que continuam a ser visíveis e palpáveis.
(...)
No Alentejo, o famoso Castro da Cola está situado sobre um monte com a forma de uma serpente que entra pelo Rio Mira, como uma península. Do mesmo modo em Monção, onde ainda se vêem os restos de um geoglifo com a forma de um enorme lagarto inscrito ao longo da margem sul do Rio Minho, ainda hoje se comemora a antiquíssima Festa da Coca, um enorme dragão que, na sua luta eterna contra S. Jorge, sem a orelha, perde a força...
Portanto, ainda que considere que uma boa parte das associações de "geoglifos" possam ser associadas a uma disposição para as ver (fenómeno que é desigando como "Pareidolia"), acaba por ser interessante também a autora ter ido cair no Castro da Cola. Eu sigo mais "a orelha", e foi pelo som da Cola, e do Colo, que ali caí. Bom, e não foi preciso "estar à coca", para a Coca aparecer assim na conversa. E já há muito que entendi que não é uma questão de procurar, é muito mais uma questão de estar disposto a encontrar, ou a não ignorar.

Coca e Coco
O artigo da Wikipedia sobre a Coca está bastante instrutivo sobre este aspecto, e praticamente limito-me a resumi-lo. O artigo cita João de Barros (Década Terceira, Livro III, pág. 309)
Esta casca por onde aquele pomo recebe o nutrimento vegetal, que é pelo pé, tem uma maneira aguda, que quer semelhar o nariz posto entre dois olhos redondos, por onde ele lança os grelos, quando quer nascer: por razão da qual figura, sem ser figura, os nossos lhe chamaram coco, nome imposto pelas mulheres a qualquer cousa, com que querem fazer medo às crianças, o qual nome assim lhe ficou, que ninguém lhe sabe outro
para explicar afinal como o nome do fruto "coco" resultava desta tradição da coca e do coco. 
Acresce que o se remetia isso a uma tradição celta-ibera, de suscitar medo, colocando as cabeças dos inimigos espetadas em lanças. Menos agreste, seria o medo era incutido às crianças com abóboras esculpidas como caveiras, que eram (e são) chamadas "cocas". 
Coco - cabeça galaico-lusitana. O fruto Coco. Abóbora em forma de Coca.
Portanto, quando parece que estamos a importar uma tradição americana do Halloween, isso poderá reportar-se a uma tradição ibérica bem mais antiga, ou pelo menos é isso que defende o galego Rafael Loureiro, acerca da festa do Samain na época de Todos-os-Santos. A descrição de João de Barros sobre o "coco" concorda perfeitamente com essa tese.

Assim, a designação Coca Cola pode ser vista como oposição entre Cabeça (coca) e Cauda (cola). Uma oposição, ou então uma junção... se atendermos à representação da Ordem do Dragão
Símbolo da Ordem do Dragão 
(continua)

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Coca é um nome que faz parte do folclore português e pode ser representada como Dragão, em luta contra São Jorge. Essa tradição parece estar ainda bem presente no rio Minho, quer em Monção, do lado português, quer em Santa Tecla, do lado galego.
Festa da Coca - Dragão contra São Jorge, em Monção (img)
Sendo o nome desse dragão "Coca", se falei na Cola do Dragão, enquanto Draco Cola, ou mesmo Dracola, seria uma falha imperdoável não ter associado directamente o Dragão à Coca, em suma 
o Estreito de Magalhães à Coca Cola...
Na nomenclatura tradicional, um Dragão é a Coca.
Assim, a Cola do Dragão seria Cola da Coca... ou Coca Cola.
Bom, é verdade que o assunto da Cola do Dragão, segundo o mapa de que falava António Galvão, dado pelo Infante D. Pedro ao irmão Infante D. Henrique, tomou aqui um espaço especial, por se tratar de uma localização do Estreito de Magalhães, antecipada de um século... ou mais!
Referimos que "cola" tinha aqui o significado hispânico de "cauda", ou conforme escrevi há mais de 5 anos:
A referência ao nome Cola do Dragão, em mapas antigos, onde também aparecia muitas vezes a eclíptica (como é o caso da esfera armilar adoptada no final do séc. XV), onde a Cauda Draconis  representava o Sul (e a Caput Draconis  , o Norte), pode ainda ser uma justificação adicional para o nome visto nesse mapa antigo que o Infante D. Pedro teria oferecido ao irmão, Infante D. Henrique.
Ainda no blog Odemaia, quis juntar o assunto à marca "Coca-Cola" por duas vezes (aqui e aqui)... mas convenhamos, foi uma associação sem efectiva ligação directa.
Como tantas vezes vemos fazer, seria fácil dizer agora, a posteriori, que esta ligação da Coca, ao nome de Dragão, sempre a tive presente... simplesmente não a tinha escrito. Mas isso não foi verdade, tanto quanto me lembro... e as menções à Coca-Cola sem o referir, apenas acentuam que procurei uma ligação, mas simplesmente não a vi! Simplesmente não dei especial atenção a esse mito da Coca, o que certamente não aconteceria se tivesse nascido em Monção.

Assim, foi apenas agora que liguei os dois pontos, a propósito de um comentário de Fernanda Durão, que remetia para o seu site:
http://www.sintraserpente.com/

que trata do mito de Ofiússa, Terra de Serpentes, relatada no poema romano Ora Maritima de Avieno (Séc. IV), uma terra que se situaria acima do estuário do Sado.

Citando Fernanda Durão, sobre o Culto da Serpente:
Rufio Festo Avieno informa que os Oestremínios, isto é, os antigos habitantes do extremo ocidente da Península Ibérica, terão sido expulsos do seu território pelos Saefes e pelos Draganos, povos conhecidos pelo "adoradores de serpentes", os quais deixaram marcas em Portugal e na Galiza que continuam a ser visíveis e palpáveis.
(...)
No Alentejo, o famoso Castro da Cola está situado sobre um monte com a forma de uma serpente que entra pelo Rio Mira, como uma península. Do mesmo modo em Monção, onde ainda se vêem os restos de um geoglifo com a forma de um enorme lagarto inscrito ao longo da margem sul do Rio Minho, ainda hoje se comemora a antiquíssima Festa da Coca, um enorme dragão que, na sua luta eterna contra S. Jorge, sem a orelha, perde a força...
Portanto, ainda que considere que uma boa parte das associações de "geoglifos" possam ser associadas a uma disposição para as ver (fenómeno que é desigando como "Pareidolia"), acaba por ser interessante também a autora ter ido cair no Castro da Cola. Eu sigo mais "a orelha", e foi pelo som da Cola, e do Colo, que ali caí. Bom, e não foi preciso "estar à coca", para a Coca aparecer assim na conversa. E já há muito que entendi que não é uma questão de procurar, é muito mais uma questão de estar disposto a encontrar, ou a não ignorar.

Coca e Coco
O artigo da Wikipedia sobre a Coca está bastante instrutivo sobre este aspecto, e praticamente limito-me a resumi-lo. O artigo cita João de Barros (Década Terceira, Livro III, pág. 309)
Esta casca por onde aquele pomo recebe o nutrimento vegetal, que é pelo pé, tem uma maneira aguda, que quer semelhar o nariz posto entre dois olhos redondos, por onde ele lança os grelos, quando quer nascer: por razão da qual figura, sem ser figura, os nossos lhe chamaram coco, nome imposto pelas mulheres a qualquer cousa, com que querem fazer medo às crianças, o qual nome assim lhe ficou, que ninguém lhe sabe outro
para explicar afinal como o nome do fruto "coco" resultava desta tradição da coca e do coco. 
Acresce que o se remetia isso a uma tradição celta-ibera, de suscitar medo, colocando as cabeças dos inimigos espetadas em lanças. Menos agreste, seria o medo era incutido às crianças com abóboras esculpidas como caveiras, que eram (e são) chamadas "cocas". 
Coco - cabeça galaico-lusitana. O fruto Coco. Abóbora em forma de Coca.
Portanto, quando parece que estamos a importar uma tradição americana do Halloween, isso poderá reportar-se a uma tradição ibérica bem mais antiga, ou pelo menos é isso que defende o galego Rafael Loureiro, acerca da festa do Samain na época de Todos-os-Santos. A descrição de João de Barros sobre o "coco" concorda perfeitamente com essa tese.

Assim, a designação Coca Cola pode ser vista como oposição entre Cabeça (coca) e Cauda (cola). Uma oposição, ou então uma junção... se atendermos à representação da Ordem do Dragão
Símbolo da Ordem do Dragão 
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