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... e barretes também!

Um dos barretes que não deixa muitas dúvidas de identificação é o barrete frígio: 
no símbolo da República, nos Estrumpfes, e no culto de Mitra 

Ao ter falado sobre o filme "Nazaré, praia de pescadores", de Leitão de Barros, de 1929, a certa altura não deixei de reparar que ele faz uma observação sobre as silhuetas fenícias. A semelhança pareceu-me estranha, e apenas consegui encontrar uma figura que possa ser enquadrada à época e contexto:

Apesar da expressão "chapéus há muitos..." fazer parte do cinema português da época, não é de nenhum filme de Leitão de Barros, que menciona a silhueta, mas mostra outros chapéus usados pelas mulheres da Nazaré: 

Quando olhei para o mercado, com as mulheres usando aqueles trajes, só me pareceu uma cena boliviana. Os chapéus nazarenos parece que entretanto perderam as abas, e esse detalhe que os tornava próximos dos chapéus bolivianos, perdeu-se. Quando existia era demasiado evidente para não ser notado, e até mesmo uma flor do lado direito pode ser encontrada nalguns chapéus aimaras.
São 4 a 5 as saias (polleras) usadas na comunidade aimara/quechua, mas o valor de 7 saias, tipicamente falado para as nazarenas, também parece pouco fixo, e mais relacionado com o mar, ou com os 7 mares. A manta também perdeu o colorido, e passou a ser presa pelo chapéu.
As cores vivas perdiam-se facilmente na Nazaré... as fatalidades do contexto, em que o mar era apenas um dos visíveis executores, são ilustradas no filme Maria do Mar, também de Leitão de Barros, que o filma logo no ano seguinte, 1930.
Leitão de Barros esclarece que a saída para o mar é decidida pelos "entendidos"... a cena do documentário aponta para dois indivíduos (ver figura seguinte, central). Um apresenta um barrete normal, típico da Nazaré, o outro entendido parece enfiar outro tipo de barrete. Remetendo à comunidade aimara/quechua, podemos encontrar barretes com um berloque semelhante ao do pescador. O que pescador ganhou em comprimento, perdeu na cor e nas abas laterais. Já o barrete do entendido da direita... ou é um saco de batatas, ou remete para outro tipo de barretes (à direita, desfile do KKK nos EUA).

Esta coincidência, entre mulheres que usam chapéu, e homens que usam barrete, vale o que vale, e apenas a quero acrescentar a um outro detalhe sobre a comunidade quechua.

Amaro
Sobre os barretes frígios, o seu uso é extenso, remetido a várias épocas e contextos... ser usado em banda desenhada belga, não tem nada de especial, até porque grande parte da banda desenhada de referência parece ter ganho raízes na Bélgica. 
Waterloo é na Bélgica, e ali caíram as esperanças napoleónicas, mas o liberalismo despontou. Com Leopoldo I, tio da rainha Vitória, começou a construir-se uma nova Bruxelas, e uma outra ordem mundial, de que já falámos.
É por aqui que fazemos ligação de escrita a uma outra pequena coincidência, através do liberalista J. Ferreira de Freitas, um dos muitos portugueses que alinharam pelo exército napoleónico, numa senda de um liberalismo europeu.
"Padre Amaro" foi uma publicação feita por Ferreira de Freitas no exílio londrino.
Quando passado meio século, Eça de Queirós escandaliza com o romance "O Crime do Padre Amaro", estaria ou não a referir-se implicitamente ao autor do jornal com o mesmo nome que saía de Londres? 

Mas, não é pelo Padre Amaro que fazemos uma ligação atlântica, é através de Santo Amaro, que tal como São Brandão é conhecido por uma hipotética viagem atlântica, em direcção a "paraísos terrestres"... ou seja, provavelmente em direcção às Bahamas. É curiosa a sua referência ao Mar Vermelho... que seria início do Atlântico - como já vimos noutros casos. Seguindo depois o curso do Sol, ou seja, em direcção ao Poente, Amaro só poderia chegar à América. Esta história, mais ibérica, parece estar ligada a outras referências irlandesas, não só de São Brandão, mas de outras aventuras (Immram) que também desembarcariam em ilhas paradisíacas.

Porém, o que prenderia os pescadores da Nazaré a terra, perdido o medo do mar? O contexto familiar, certamente, mas também todo o contexto educacional, simbolizado pelos "entendidos". Assim, os pescadores de toda a costa atlântica, mais do que presos pela imensidão do mar, estavam presos a terra pelos laços que circunscreviam a sua acção aos valores herdados e a um pensamento condicionado. Só esses os impediam de progredir na direcção do Sol Poente, onde estavam os paraísos terrestres.

Barreul e Robison
O condicionamento da acção pode ser feito de muitas maneiras, e é mais subtil quando o próprio nem se apercebe que está a ser condicionado. Se isso afecta uns pela consequência, afecta outros pela causa. O predador sabe que tem que comer, mas não sabe o que o obriga a comer. Pode encontrar um nexo, mas não encontra nexo para esse nexo. 

Em 1798, o Abade Barreul, jesuíta, e John Robison, maçon, publicam textos que alertam para um plano de controlo mundial que se instalava a partir da Maçonaria:
Os textos são longos, e apenas li alguns excertos... que não me motivaram muito a prosseguir.
Procuro gerir o meu tempo não olhando demasiado para informação que não me desperta interesse imediato, e que considero ir parar mais aos detalhes, do que propriamente a matéria auto-suficiente.

Os dois textos são mais do que suficientes para mostrar que a chamada "Teoria da Conspiração" é coisa antiga, com pelo menos 200 anos... e terá certamente mais séculos, e até milénios. Serve tanto de argumento para desvalorizar - dizendo que "sempre houve", como de argumento para valorizar - dizendo que "sempre houve", também... pois isso só significa que a conspiração é antiga.

As posições levam sempre à tentativa de baralhação, onde o argumento num sentido, é usado contra o próprio sentido... ao estilo do judo, onde se procura que a investida do adversário seja usada contra ele.
Por isso, não merece muito relevo enquanto jogo de palavras. 
Barreul era jesuíta, e atacava os maçons... por sua vez um maçon escocês denunciava a mesma infiltração Illuminati dentro da Maçonaria. Desde aí, sempre houve acusações de que os jesuítas infiltravam a maçonaria, e de que a maçonaria infiltrava os jesuítas, já para não falar em remeter a culpa para uma terceira entidade - neste caso os Illuminati.

O propósito que constituíam as associações eram sempre os mistérios antigos... no fundo, os segredos milenares, que alguns sabiam que existiam, e poucos saberiam verdadeiramente quais eram. Pior, nem era claro que os que soubessem estivessem seguros de estarem no último degrau da pirâmide, já que a confusão tinha sido de tal ordem que se prestava a todas as confusões. 
Provavelmente, o que se leria no último degrau é que não era claro que aquele fosse o último degrau... e se não leram isso é porque não chegaram ao último degrau!

No entanto, o que é claro é que uma biblioteca de conhecimento não é mais do que uma grande cadeia informativa, que transporta registos do passado, tal como uma cadeia de DNA transporta informação genética para a geração seguinte. Como já mencionei, nessa solução de armazenamento informativo ganham as amebas, e não os humanos! 
As amebas podem ter aprendido a manobrar a sua forma notavelmente, podem guardar cristais bipiramidais surpreendentes, mas a sua compreensão do universo reduz-se a um charco de água. Nos seres multicelulares, as células aprenderam a ser dependentes, a confiar, e a merecer confiança, porque todas as células dependiam do sucesso do conjunto. Com essa colaboração emergiu uma percepção do universo de conjunto, superior a cada célula. Todas as células tinham um propósito, uma função, e eram praticamente indispensáveis para o sucesso desse conjunto. A consciência do organismo pôde emergir acima do corpo, mas não deixou de lhe estar completamente ligada, e essa ligação é cobrada até à morte física - esse é um preço devido à lógica individual de cada célula.


Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 18:54

... e barretes também!

Um dos barretes que não deixa muitas dúvidas de identificação é o barrete frígio:
  
 
no símbolo da República, nos Estrumpfes, e no culto de Mitra 

Ao ter falado sobre o filme "Nazaré, praia de pescadores", de Leitão de Barros, de 1929, a certa altura não deixei de reparar que ele faz uma observação sobre as silhuetas fenícias. A semelhança pareceu-me estranha, e apenas consegui encontrar uma figura que possa ser enquadrada à época e contexto:

Apesar da expressão "chapéus há muitos..." fazer parte do cinema português da época, não é de nenhum filme de Leitão de Barros, que menciona a silhueta, mas mostra outros chapéus usados pelas mulheres da Nazaré: 

Quando olhei para o mercado, com as mulheres usando aqueles trajes, só me pareceu uma cena boliviana. Os chapéus nazarenos parece que entretanto perderam as abas, e esse detalhe que os tornava próximos dos chapéus bolivianos, perdeu-se. Quando existia era demasiado evidente para não ser notado, e até mesmo uma flor do lado direito pode ser encontrada nalguns chapéus aimaras.
São 4 a 5 as saias (polleras) usadas na comunidade aimara/quechua, mas o valor de 7 saias, tipicamente falado para as nazarenas, também parece pouco fixo, e mais relacionado com o mar, ou com os 7 mares. A manta também perdeu o colorido, e passou a ser presa pelo chapéu.
As cores vivas perdiam-se facilmente na Nazaré... as fatalidades do contexto, em que o mar era apenas um dos visíveis executores, são ilustradas no filme Maria do Mar, também de Leitão de Barros, que o filma logo no ano seguinte, 1930.
Leitão de Barros esclarece que a saída para o mar é decidida pelos "entendidos"... a cena do documentário aponta para dois indivíduos (ver figura seguinte, central). Um apresenta um barrete normal, típico da Nazaré, o outro entendido parece enfiar outro tipo de barrete. Remetendo à comunidade aimara/quechua, podemos encontrar barretes com um berloque semelhante ao do pescador. O que pescador ganhou em comprimento, perdeu na cor e nas abas laterais. Já o barrete do entendido da direita... ou é um saco de batatas, ou remete para outro tipo de barretes (à direita, desfile do KKK nos EUA).

Esta coincidência, entre mulheres que usam chapéu, e homens que usam barrete, vale o que vale, e apenas a quero acrescentar a um outro detalhe sobre a comunidade quechua.

Amaro
Sobre os barretes frígios, o seu uso é extenso, remetido a várias épocas e contextos... ser usado em banda desenhada belga, não tem nada de especial, até porque grande parte da banda desenhada de referência parece ter ganho raízes na Bélgica. 
Waterloo é na Bélgica, e ali caíram as esperanças napoleónicas, mas o liberalismo despontou. Com Leopoldo I, tio da rainha Vitória, começou a construir-se uma nova Bruxelas, e uma outra ordem mundial, de que já falámos.
É por aqui que fazemos ligação de escrita a uma outra pequena coincidência, através do liberalista J. Ferreira de Freitas, um dos muitos portugueses que alinharam pelo exército napoleónico, numa senda de um liberalismo europeu.
"Padre Amaro" foi uma publicação feita por Ferreira de Freitas no exílio londrino.
Quando passado meio século, Eça de Queirós escandaliza com o romance "O Crime do Padre Amaro", estaria ou não a referir-se implicitamente ao autor do jornal com o mesmo nome que saía de Londres? 

Mas, não é pelo Padre Amaro que fazemos uma ligação atlântica, é através de Santo Amaro, que tal como São Brandão é conhecido por uma hipotética viagem atlântica, em direcção a "paraísos terrestres"... ou seja, provavelmente em direcção às Bahamas. É curiosa a sua referência ao Mar Vermelho... que seria início do Atlântico - como já vimos noutros casos. Seguindo depois o curso do Sol, ou seja, em direcção ao Poente, Amaro só poderia chegar à América. Esta história, mais ibérica, parece estar ligada a outras referências irlandesas, não só de São Brandão, mas de outras aventuras (Immram) que também desembarcariam em ilhas paradisíacas.

Porém, o que prenderia os pescadores da Nazaré a terra, perdido o medo do mar? O contexto familiar, certamente, mas também todo o contexto educacional, simbolizado pelos "entendidos". Assim, os pescadores de toda a costa atlântica, mais do que presos pela imensidão do mar, estavam presos a terra pelos laços que circunscreviam a sua acção aos valores herdados e a um pensamento condicionado. Só esses os impediam de progredir na direcção do Sol Poente, onde estavam os paraísos terrestres.

Barreul e Robison
O condicionamento da acção pode ser feito de muitas maneiras, e é mais subtil quando o próprio nem se apercebe que está a ser condicionado. Se isso afecta uns pela consequência, afecta outros pela causa. O predador sabe que tem que comer, mas não sabe o que o obriga a comer. Pode encontrar um nexo, mas não encontra nexo para esse nexo. 

Em 1798, o Abade Barreul, jesuíta, e John Robison, maçon, publicam textos que alertam para um plano de controlo mundial que se instalava a partir da Maçonaria:
Os textos são longos, e apenas li alguns excertos... que não me motivaram muito a prosseguir.
Procuro gerir o meu tempo não olhando demasiado para informação que não me desperta interesse imediato, e que considero ir parar mais aos detalhes, do que propriamente a matéria auto-suficiente.

Os dois textos são mais do que suficientes para mostrar que a chamada "Teoria da Conspiração" é coisa antiga, com pelo menos 200 anos... e terá certamente mais séculos, e até milénios. Serve tanto de argumento para desvalorizar - dizendo que "sempre houve", como de argumento para valorizar - dizendo que "sempre houve", também... pois isso só significa que a conspiração é antiga.

As posições levam sempre à tentativa de baralhação, onde o argumento num sentido, é usado contra o próprio sentido... ao estilo do judo, onde se procura que a investida do adversário seja usada contra ele.
Por isso, não merece muito relevo enquanto jogo de palavras. 
Barreul era jesuíta, e atacava os maçons... por sua vez um maçon escocês denunciava a mesma infiltração Illuminati dentro da Maçonaria. Desde aí, sempre houve acusações de que os jesuítas infiltravam a maçonaria, e de que a maçonaria infiltrava os jesuítas, já para não falar em remeter a culpa para uma terceira entidade - neste caso os Illuminati.

O propósito que constituíam as associações eram sempre os mistérios antigos... no fundo, os segredos milenares, que alguns sabiam que existiam, e poucos saberiam verdadeiramente quais eram. Pior, nem era claro que os que soubessem estivessem seguros de estarem no último degrau da pirâmide, já que a confusão tinha sido de tal ordem que se prestava a todas as confusões. 
Provavelmente, o que se leria no último degrau é que não era claro que aquele fosse o último degrau... e se não leram isso é porque não chegaram ao último degrau!

No entanto, o que é claro é que uma biblioteca de conhecimento não é mais do que uma grande cadeia informativa, que transporta registos do passado, tal como uma cadeia de DNA transporta informação genética para a geração seguinte. Como já mencionei, nessa solução de armazenamento informativo ganham as amebas, e não os humanos! 
As amebas podem ter aprendido a manobrar a sua forma notavelmente, podem guardar cristais bipiramidais surpreendentes, mas a sua compreensão do universo reduz-se a um charco de água. Nos seres multicelulares, as células aprenderam a ser dependentes, a confiar, e a merecer confiança, porque todas as células dependiam do sucesso do conjunto. Com essa colaboração emergiu uma percepção do universo de conjunto, superior a cada célula. Todas as células tinham um propósito, uma função, e eram praticamente indispensáveis para o sucesso desse conjunto. A consciência do organismo pôde emergir acima do corpo, mas não deixou de lhe estar completamente ligada, e essa ligação é cobrada até à morte física - esse é um preço devido à lógica individual de cada célula.


Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 18:54

Tendo aqui falado do livro "A Century of War", é apropriado referir as 

"Cartas de Inglaterra", de Eça de Queirós.


Exercendo funções nos consulados (15 anos em Inglaterra), Eça revela nestes textos jornalísticos algo difícil de escrutinar nos seus romances. No seu estilo sarcástico e lúcido, aborda alguns dos acontecimentos do final do Séc. XIX, que corroboram uma boa parte da análise que Engdahl faz desse período.

Aparentemente os textos destinavam-se a leitores brasileiros, ainda que também tenham sido publicados em Portugal, no Diário de Notícias. No Capítulo X intitulado "O Brazil e Portugal" deixa claro que são brasileiros os destinatários, ao avisar sobre o súbito interesse da imprensa inglesa, nomeadamente o "The Times", sobre aquele imenso território "pouco aproveitado" comercialmente. O artigo seria semi-elogioso, contrapondo o Brasil às colónias espanholas, mas Eça antevê uma outra intenção. Esta citação que Eça faz, revela bem o aviso que procurava transmitir sobre as intenções inglesas:
«No Perú, na Bolivia, no Paraguay, no Equador, em Venezuela... em outros mais, os actuais ocupadores do solo terão gradualmente de desaparecer e descer áquela condição inferior, que o seu fraco temperamento lhes marca como destino.»
Sobre esta citação do Times, Eça nota:  "Nunca se escreveu nada tão ferino!"
Está perfeitamente ciente das intenções imperiais inglesas e vê no texto uma ameaça premonitória para que os brasileiros abram a sua economia à invasão inglesa - de forma comercial, ou de forma colonial.

Este contexto é especialmente nítido na descrição "in loco" do ambiente inglês contemporâneo da invasão do Egipto. Esse era o tema da carta anterior, no Capítulo IX: "Os ingleses no Egipto".
O texto é contemporâneo dos primeiros acontecimentos, nomeadamente do "Massacre de Alexandria", e antevê o desfecho - o Egipto tornar-se-ia um protectorado britânico. A designação "massacre" é de Eça, e deveria ser opinião crítica à actuação inglesa, o mesmo termo é hoje entendido para o atentado de 2011 (nada mais que as habituais confusões), e pouco parece restar na memória dos eventos de 11 de Junho de 1882. Os couraçados ingleses, estacionados no Porto de Alexandria, dispararam à vontade, arrasando por completo a velha cidade. Se havia ainda vestígios antigos, de uma cidade que foi o expoente da civilização, muitos deles devem ter sucumbido a nova destruição.

A análise de Eça é notável, são 80 páginas imperdíveis. Basicamente Eça acaba por descrever no caso egípcio um modus operandi que se repetia e que se iria repetir, conforme Engdahl mostra.
Começa com o desejo tecnológico de um governante, seduzido pela impressionante maquinaria inglesa, qual criança numa loja de brinquedos. Ora, esse "choque tecnológico", de que precisaria o Egipto, sendo importado, acabou por ser cobrado como dívida impagável... nada de novo, ou melhor, tudo de velho. A sociedade egípcia foi minada nos seus circuitos administrativos por estrangeiros, e pela sua influência no conselho, foram tornando a situação cada vez mais insustentável para a generalidade da população - os "fellahs" que tinham um estatuto de completa servidão face ao invasor, fosse ele turco, francês ou inglês. O pretexto para o bombardeamento de Alexandria parece ter sido pouco mais do que uma vontade egípcia de recuperação dos fortes que guardavam o porto.  Conforme refere Eça, os ingleses só queriam um pretexto, e qualquer um serviria... os jornais encarregar-se-iam de vender a necessidade da invasão, a necessidade de depor o novo governo hostil à civilização e à cristandade. E assim, conforme previa Eça de Queirós, apesar dos enormes custos, à Inglaterra não parecia faltar nem dinheiro, nem motivação, que consumaram a efectiva invasão do Egipto, e terminaram com a revolta de Urabi, ainda em 1882. Fulcral para a geopolítica britânica, a passagem no Canal do Suez, mantinha-se assegurada.

Nos Capítulos VI, e VIII, Eça vai debruçar-se sobre o "Israelismo" e sobre a morte de Disraeli. Apesar do contexto da primeira carta ser o aumento do anti-semitismo na Alemanha, ambas as cartas acabam por revelar bem como se tornava evidente a influência judaica através das instituições financeiras, em particular a City de Londres, ou a Bolsa de Paris. 
Disraeli não foi um primeiro-ministro qualquer... foi o principal político no reinado da Rainha Vitória, e acabou por definir grande parte da estratégia que definiu a predominância do Império Inglês. Conforme salienta Eça, mais estranha terá sido a ascensão de um plebeu judaico ao topo da "mui selecta" hierarquia britânica. Eça avança algumas razões ocasionais, mas deixa bem clara a arquitectura judaica que o favorecera. Se Disraeli tinha renegado ao judaísmo para se tornar num puritano protestante, o filho pródigo continuava a beneficiar dos favores dos banqueiros e da imprensa, dominada pela comunidade judaica. Eça diz que a fama de "grande inglês" ultrapassava fronteiras, graças à influência da imprensa, controlada a nível global.
Conforme refere Engdahl, depois das pazes com a França, a Alemanha acabou por ser eleita como principal adversário da Inglaterra, e certamente que estes movimentos anti-judaicos, que começavam na Alemanha (e que se iriam repetir com o nazismo), só acirravam essa eleição pelos jornais britânicos. Bismarck tinha levado longe no progresso uma Alemanha que rivalizava agora com a Inglaterra. Curiosamente, Eça menciona como factor de instabilidade o problema Sérvio da Áustria, e esse seria o rastilho que levou à 1ª Guerra Mundial. 
Ainda ao jeito de alguma antevisão, é muito curiosa esta previsão relativa ao socialismo:
(...) talvez um dia, quando o socialismo fôr religião do Estado, se vejam em nichos de templo, com uma lamparina na frente, as imagens dos Santos Padres da revolução: Proudhon de oculos, Bakounine parecendo um urso sob as suas pelles russas, Karl Marx apoiado ao cajado symbolico do pastor d'almas.
Se Proudhon e Bakounine não foram tão idolatrados, é bem verdade que o prognóstico relativo a Karl Marx não falhou por muito, basta lembrar o seu enorme retrato em desfile na Praça Vermelha.

Ainda relativamente a Disraeli, Eça será bastante azedo na crítica à sua veia literária. Talvez também Oscar Wilde quando pintou uma Dorian Gray não deixasse de sugerir ao ouvido o romance Vivian Grey de Disraeli (ver conexão). O "grande inglês" não abandonaria a sua inicial veia literária, mas não seria essa que o celebrizaria, conforme Eça diagnosticara.

Não vemos em Eça uma crítica violente ao crescente poder judaico, como era já habitual no Séc. XIX - relembramos o artigo sobre os Rothschild na revista Panorama, mas ela é explícita. Há assim um misto de compreensão e condenação sobre o movimento na Alemanha. Para além disso, não eram tropas judaicas enviadas para o campo de batalha no Egipto, mas era claro o financiamento e o apoio da imprensa, nos bastidores do conflito. O financiamento que faltava ao Egipto, nunca o deixou de ter o governo inglês. E os benefícios que daí advinham para a generalidade da população inglesa não se podem apenas medir na aristocracia ou na classe média inglesa, também devem ser pesados numa Inglaterra enegrecida pelo sucesso da sua industrialização, onde uma boa parte da população partilhava um destino desgraçado, à semelhança dos "fellahs" egípcios...

Acrescento esta citação, que é ilustrativa da opinião de Eça:
Mas o pior ainda, na Allemanha, é o habil plano com que fortificam a sua prosperidade e garantem a sua influencia - plano tão hábil que tem um sabor de conspiração: na Allemanha, o judeu, lentamente, surdamente, tem-se apoderado das duas grandes forças sociaes—a Bolsa e Imprensa. Quasi todas as grandes casas bancarias da Allemanha, quasi todos os grandes jornais, estão na posse do semita. Assim, torna-se inatacavel. De modo que não só expulsa o allemão das profissões liberais, o humilha com a sua opulencia rutilante, e o traz dependente pelo capital; mas, injuria suprema, pela voz dos seus jornais, ordena-lhe o que ha-de fazer, o que ha-de pensar, como se ha-de governar e com que se ha-de bater!

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publicado às 04:52

Tendo aqui falado do livro "A Century of War", é apropriado referir as 

"Cartas de Inglaterra", de Eça de Queirós.


Exercendo funções nos consulados (15 anos em Inglaterra), Eça revela nestes textos jornalísticos algo difícil de escrutinar nos seus romances. No seu estilo sarcástico e lúcido, aborda alguns dos acontecimentos do final do Séc. XIX, que corroboram uma boa parte da análise que Engdahl faz desse período.

Aparentemente os textos destinavam-se a leitores brasileiros, ainda que também tenham sido publicados em Portugal, no Diário de Notícias. No Capítulo X intitulado "O Brazil e Portugal" deixa claro que são brasileiros os destinatários, ao avisar sobre o súbito interesse da imprensa inglesa, nomeadamente o "The Times", sobre aquele imenso território "pouco aproveitado" comercialmente. O artigo seria semi-elogioso, contrapondo o Brasil às colónias espanholas, mas Eça antevê uma outra intenção. Esta citação que Eça faz, revela bem o aviso que procurava transmitir sobre as intenções inglesas:
«No Perú, na Bolivia, no Paraguay, no Equador, em Venezuela... em outros mais, os actuais ocupadores do solo terão gradualmente de desaparecer e descer áquela condição inferior, que o seu fraco temperamento lhes marca como destino.»
Sobre esta citação do Times, Eça nota:  "Nunca se escreveu nada tão ferino!"
Está perfeitamente ciente das intenções imperiais inglesas e vê no texto uma ameaça premonitória para que os brasileiros abram a sua economia à invasão inglesa - de forma comercial, ou de forma colonial.

Este contexto é especialmente nítido na descrição "in loco" do ambiente inglês contemporâneo da invasão do Egipto. Esse era o tema da carta anterior, no Capítulo IX: "Os ingleses no Egipto".
O texto é contemporâneo dos primeiros acontecimentos, nomeadamente do "Massacre de Alexandria", e antevê o desfecho - o Egipto tornar-se-ia um protectorado britânico. A designação "massacre" é de Eça, e deveria ser opinião crítica à actuação inglesa, o mesmo termo é hoje entendido para o atentado de 2011 (nada mais que as habituais confusões), e pouco parece restar na memória dos eventos de 11 de Junho de 1882. Os couraçados ingleses, estacionados no Porto de Alexandria, dispararam à vontade, arrasando por completo a velha cidade. Se havia ainda vestígios antigos, de uma cidade que foi o expoente da civilização, muitos deles devem ter sucumbido a nova destruição.

A análise de Eça é notável, são 80 páginas imperdíveis. Basicamente Eça acaba por descrever no caso egípcio um modus operandi que se repetia e que se iria repetir, conforme Engdahl mostra.
Começa com o desejo tecnológico de um governante, seduzido pela impressionante maquinaria inglesa, qual criança numa loja de brinquedos. Ora, esse "choque tecnológico", de que precisaria o Egipto, sendo importado, acabou por ser cobrado como dívida impagável... nada de novo, ou melhor, tudo de velho. A sociedade egípcia foi minada nos seus circuitos administrativos por estrangeiros, e pela sua influência no conselho, foram tornando a situação cada vez mais insustentável para a generalidade da população - os "fellahs" que tinham um estatuto de completa servidão face ao invasor, fosse ele turco, francês ou inglês. O pretexto para o bombardeamento de Alexandria parece ter sido pouco mais do que uma vontade egípcia de recuperação dos fortes que guardavam o porto.  Conforme refere Eça, os ingleses só queriam um pretexto, e qualquer um serviria... os jornais encarregar-se-iam de vender a necessidade da invasão, a necessidade de depor o novo governo hostil à civilização e à cristandade. E assim, conforme previa Eça de Queirós, apesar dos enormes custos, à Inglaterra não parecia faltar nem dinheiro, nem motivação, que consumaram a efectiva invasão do Egipto, e terminaram com a revolta de Urabi, ainda em 1882. Fulcral para a geopolítica britânica, a passagem no Canal do Suez, mantinha-se assegurada.

Nos Capítulos VI, e VIII, Eça vai debruçar-se sobre o "Israelismo" e sobre a morte de Disraeli. Apesar do contexto da primeira carta ser o aumento do anti-semitismo na Alemanha, ambas as cartas acabam por revelar bem como se tornava evidente a influência judaica através das instituições financeiras, em particular a City de Londres, ou a Bolsa de Paris. 
Disraeli não foi um primeiro-ministro qualquer... foi o principal político no reinado da Rainha Vitória, e acabou por definir grande parte da estratégia que definiu a predominância do Império Inglês. Conforme salienta Eça, mais estranha terá sido a ascensão de um plebeu judaico ao topo da "mui selecta" hierarquia britânica. Eça avança algumas razões ocasionais, mas deixa bem clara a arquitectura judaica que o favorecera. Se Disraeli tinha renegado ao judaísmo para se tornar num puritano protestante, o filho pródigo continuava a beneficiar dos favores dos banqueiros e da imprensa, dominada pela comunidade judaica. Eça diz que a fama de "grande inglês" ultrapassava fronteiras, graças à influência da imprensa, controlada a nível global.
Conforme refere Engdahl, depois das pazes com a França, a Alemanha acabou por ser eleita como principal adversário da Inglaterra, e certamente que estes movimentos anti-judaicos, que começavam na Alemanha (e que se iriam repetir com o nazismo), só acirravam essa eleição pelos jornais britânicos. Bismarck tinha levado longe no progresso uma Alemanha que rivalizava agora com a Inglaterra. Curiosamente, Eça menciona como factor de instabilidade o problema Sérvio da Áustria, e esse seria o rastilho que levou à 1ª Guerra Mundial. 
Ainda ao jeito de alguma antevisão, é muito curiosa esta previsão relativa ao socialismo:
(...) talvez um dia, quando o socialismo fôr religião do Estado, se vejam em nichos de templo, com uma lamparina na frente, as imagens dos Santos Padres da revolução: Proudhon de oculos, Bakounine parecendo um urso sob as suas pelles russas, Karl Marx apoiado ao cajado symbolico do pastor d'almas.
Se Proudhon e Bakounine não foram tão idolatrados, é bem verdade que o prognóstico relativo a Karl Marx não falhou por muito, basta lembrar o seu enorme retrato em desfile na Praça Vermelha.

Ainda relativamente a Disraeli, Eça será bastante azedo na crítica à sua veia literária. Talvez também Oscar Wilde quando pintou uma Dorian Gray não deixasse de sugerir ao ouvido o romance Vivian Grey de Disraeli (ver conexão). O "grande inglês" não abandonaria a sua inicial veia literária, mas não seria essa que o celebrizaria, conforme Eça diagnosticara.

Não vemos em Eça uma crítica violente ao crescente poder judaico, como era já habitual no Séc. XIX - relembramos o artigo sobre os Rothschild na revista Panorama, mas ela é explícita. Há assim um misto de compreensão e condenação sobre o movimento na Alemanha. Para além disso, não eram tropas judaicas enviadas para o campo de batalha no Egipto, mas era claro o financiamento e o apoio da imprensa, nos bastidores do conflito. O financiamento que faltava ao Egipto, nunca o deixou de ter o governo inglês. E os benefícios que daí advinham para a generalidade da população inglesa não se podem apenas medir na aristocracia ou na classe média inglesa, também devem ser pesados numa Inglaterra enegrecida pelo sucesso da sua industrialização, onde uma boa parte da população partilhava um destino desgraçado, à semelhança dos "fellahs" egípcios...

Acrescento esta citação, que é ilustrativa da opinião de Eça:
Mas o pior ainda, na Allemanha, é o habil plano com que fortificam a sua prosperidade e garantem a sua influencia - plano tão hábil que tem um sabor de conspiração: na Allemanha, o judeu, lentamente, surdamente, tem-se apoderado das duas grandes forças sociaes—a Bolsa e Imprensa. Quasi todas as grandes casas bancarias da Allemanha, quasi todos os grandes jornais, estão na posse do semita. Assim, torna-se inatacavel. De modo que não só expulsa o allemão das profissões liberais, o humilha com a sua opulencia rutilante, e o traz dependente pelo capital; mas, injuria suprema, pela voz dos seus jornais, ordena-lhe o que ha-de fazer, o que ha-de pensar, como se ha-de governar e com que se ha-de bater!

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 04:52

Tendo aqui falado do livro "A Century of War", é apropriado referir as 

"Cartas de Inglaterra", de Eça de Queirós.



Exercendo funções nos consulados (15 anos em Inglaterra), Eça revela nestes textos jornalísticos algo difícil de escrutinar nos seus romances. No seu estilo sarcástico e lúcido, aborda alguns dos acontecimentos do final do Séc. XIX, que corroboram uma boa parte da análise que Engdahl faz desse período.

Aparentemente os textos destinavam-se a leitores brasileiros, ainda que também tenham sido publicados em Portugal, no Diário de Notícias. No Capítulo X intitulado "O Brazil e Portugal" deixa claro que são brasileiros os destinatários, ao avisar sobre o súbito interesse da imprensa inglesa, nomeadamente o "The Times", sobre aquele imenso território "pouco aproveitado" comercialmente. O artigo seria semi-elogioso, contrapondo o Brasil às colónias espanholas, mas Eça antevê uma outra intenção. Esta citação que Eça faz, revela bem o aviso que procurava transmitir sobre as intenções inglesas:
«No Perú, na Bolivia, no Paraguay, no Equador, em Venezuela... em outros mais, os actuais ocupadores do solo terão gradualmente de desaparecer e descer áquela condição inferior, que o seu fraco temperamento lhes marca como destino.»
Sobre esta citação do Times, Eça nota:  "Nunca se escreveu nada tão ferino!"
Está perfeitamente ciente das intenções imperiais inglesas e vê no texto uma ameaça premonitória para que os brasileiros abram a sua economia à invasão inglesa - de forma comercial, ou de forma colonial.

Este contexto é especialmente nítido na descrição "in loco" do ambiente inglês contemporâneo da invasão do Egipto. Esse era o tema da carta anterior, no Capítulo IX: "Os ingleses no Egipto".
O texto é contemporâneo dos primeiros acontecimentos, nomeadamente do "Massacre de Alexandria", e antevê o desfecho - o Egipto tornar-se-ia um protectorado britânico. A designação "massacre" é de Eça, e deveria ser opinião crítica à actuação inglesa, o mesmo termo é hoje entendido para o atentado de 2011 (nada mais que as habituais confusões), e pouco parece restar na memória dos eventos de 11 de Junho de 1882. Os couraçados ingleses, estacionados no Porto de Alexandria, dispararam à vontade, arrasando por completo a velha cidade. Se havia ainda vestígios antigos, de uma cidade que foi o expoente da civilização, muitos deles devem ter sucumbido a nova destruição.

A análise de Eça é notável, são 80 páginas imperdíveis. Basicamente Eça acaba por descrever no caso egípcio um modus operandi que se repetia e que se iria repetir, conforme Engdahl mostra.
Começa com o desejo tecnológico de um governante, seduzido pela impressionante maquinaria inglesa, qual criança numa loja de brinquedos. Ora, esse "choque tecnológico", de que precisaria o Egipto, sendo importado, acabou por ser cobrado como dívida impagável... nada de novo, ou melhor, tudo de velho. A sociedade egípcia foi minada nos seus circuitos administrativos por estrangeiros, e pela sua influência no conselho, foram tornando a situação cada vez mais insustentável para a generalidade da população - os "fellahs" que tinham um estatuto de completa servidão face ao invasor, fosse ele turco, francês ou inglês. O pretexto para o bombardeamento de Alexandria parece ter sido pouco mais do que uma vontade egípcia de recuperação dos fortes que guardavam o porto.  Conforme refere Eça, os ingleses só queriam um pretexto, e qualquer um serviria... os jornais encarregar-se-iam de vender a necessidade da invasão, a necessidade de depor o novo governo hostil à civilização e à cristandade. E assim, conforme previa Eça de Queirós, apesar dos enormes custos, à Inglaterra não parecia faltar nem dinheiro, nem motivação, que consumaram a efectiva invasão do Egipto, e terminaram com a revolta de Urabi, ainda em 1882. Fulcral para a geopolítica britânica, a passagem no Canal do Suez, mantinha-se assegurada.

Nos Capítulos VI, e VIII, Eça vai debruçar-se sobre o "Israelismo" e sobre a morte de Disraeli. Apesar do contexto da primeira carta ser o aumento do anti-semitismo na Alemanha, ambas as cartas acabam por revelar bem como se tornava evidente a influência judaica através das instituições financeiras, em particular a City de Londres, ou a Bolsa de Paris. 
Disraeli não foi um primeiro-ministro qualquer... foi o principal político no reinado da Rainha Vitória, e acabou por definir grande parte da estratégia que definiu a predominância do Império Inglês. Conforme salienta Eça, mais estranha terá sido a ascensão de um plebeu judaico ao topo da "mui selecta" hierarquia britânica. Eça avança algumas razões ocasionais, mas deixa bem clara a arquitectura judaica que o favorecera. Se Disraeli tinha renegado ao judaísmo para se tornar num puritano protestante, o filho pródigo continuava a beneficiar dos favores dos banqueiros e da imprensa, dominada pela comunidade judaica. Eça diz que a fama de "grande inglês" ultrapassava fronteiras, graças à influência da imprensa, controlada a nível global.
Conforme refere Engdahl, depois das pazes com a França, a Alemanha acabou por ser eleita como principal adversário da Inglaterra, e certamente que estes movimentos anti-judaicos, que começavam na Alemanha (e que se iriam repetir com o nazismo), só acirravam essa eleição pelos jornais britânicos. Bismarck tinha levado longe no progresso uma Alemanha que rivalizava agora com a Inglaterra. Curiosamente, Eça menciona como factor de instabilidade o problema Sérvio da Áustria, e esse seria o rastilho que levou à 1ª Guerra Mundial. 
Ainda ao jeito de alguma antevisão, é muito curiosa esta previsão relativa ao socialismo:
(...) talvez um dia, quando o socialismo fôr religião do Estado, se vejam em nichos de templo, com uma lamparina na frente, as imagens dos Santos Padres da revolução: Proudhon de oculos, Bakounine parecendo um urso sob as suas pelles russas, Karl Marx apoiado ao cajado symbolico do pastor d'almas.
Se Proudhon e Bakounine não foram tão idolatrados, é bem verdade que o prognóstico relativo a Karl Marx não falhou por muito, basta lembrar o seu enorme retrato em desfile na Praça Vermelha.

Ainda relativamente a Disraeli, Eça será bastante azedo na crítica à sua veia literária. Talvez também Oscar Wilde quando pintou uma Dorian Gray não deixasse de sugerir ao ouvido o romance Vivian Grey de Disraeli (ver conexão). O "grande inglês" não abandonaria a sua inicial veia literária, mas não seria essa que o celebrizaria, conforme Eça diagnosticara.

Não vemos em Eça uma crítica violente ao crescente poder judaico, como era já habitual no Séc. XIX - relembramos o artigo sobre os Rothschild na revista Panorama, mas ela é explícita. Há assim um misto de compreensão e condenação sobre o movimento na Alemanha. Para além disso, não eram tropas judaicas enviadas para o campo de batalha no Egipto, mas era claro o financiamento e o apoio da imprensa, nos bastidores do conflito. O financiamento que faltava ao Egipto, nunca o deixou de ter o governo inglês. E os benefícios que daí advinham para a generalidade da população inglesa não se podem apenas medir na aristocracia ou na classe média inglesa, também devem ser pesados numa Inglaterra enegrecida pelo sucesso da sua industrialização, onde uma boa parte da população partilhava um destino desgraçado, à semelhança dos "fellahs" egípcios...

Acrescento esta citação, que é ilustrativa da opinião de Eça:
Mas o pior ainda, na Allemanha, é o habil plano com que fortificam a sua prosperidade e garantem a sua influencia - plano tão hábil que tem um sabor de conspiração: na Allemanha, o judeu, lentamente, surdamente, tem-se apoderado das duas grandes forças sociaes—a Bolsa e Imprensa. Quasi todas as grandes casas bancarias da Allemanha, quasi todos os grandes jornais, estão na posse do semita. Assim, torna-se inatacavel. De modo que não só expulsa o allemão das profissões liberais, o humilha com a sua opulencia rutilante, e o traz dependente pelo capital; mas, injuria suprema, pela voz dos seus jornais, ordena-lhe o que ha-de fazer, o que ha-de pensar, como se ha-de governar e com que se ha-de bater!

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