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O tema deste texto ficaria simplesmente ilustrado pelas imagens das Ilhas Faroé, que não apenas lembram Faraós pelo nome similar, mas também por estas formações geológicas notáveis, que lembram perfeitas pirâmides:
Ilhas Faroé - formações geológicas piramidais.
Esta seria uma forma típica, com que comecei aqui muitos textos, notando semelhanças fonéticas que deram títulos interessantes. No entanto, uma grande e principal diferença é que já não estou a trilhar nenhum caminho exploratório. Trata-se agora mais de um passeio, e o interesse de fazer este texto é residual, no sentido de não encerrar o blog por completo.

A semelhança fonética entre as Faroés e os Faraós existe também em inglês, e é até talvez maior, conforme se pode ver neste relato sobre uma marcação de viagem:
"I said the Faroe Islands, not the Pharoah Islands".

Como curiosidade adicional, fiz uma simples pesquisa para saber se havia alguma etimologia que ligasse uma coisa à outra, e não encontrei nada de relevante.
No entanto, encontrei um interessantíssimo livro
Archaic England de Harold Bayley (1919)
onde podemos ler uma folclórica ligação em que os habitantes das Faroé viam as focas como representações dos soldados do Faraó, afogados quando perseguiam Moisés pelo Mar Vermelho.
In all probability the phoca was a token of the Phocean Greeks who founded Marseilles: the phoca was pre-eminently associated with Proteus, and in the Faroe Islands they have a curious idea that seals are the soldiers of the Pharaoh who was drowned in the sea.
Provavelmente não seriam os únicos a usar esse mito, mas foi essa ligação remetida às Faroés que me permitiu encontrar o livro de Bayley. Esse livro começa com um capítulo chamado "Magic of Words", que remete ao fascínio da antiguidade das palavras... ou como é dito, a língua carrega uma história enorme que só parcialmente foi alterada pelas alterações gramaticais, impostas contra a tradição popular.
Bayley dá como exemplo o caso do lugar de Palmira, uma cidade síria (de que já aqui falei a propósito de Zenóbia), para enfatizar que a origem da toponímia se pode perder em milénios de história. Não tanto pelas ruínas de Palmira que seriam influência greco-romana, mas por uma cidade ainda anterior a essa, cujo nome mais antigo era Tadmor. Hoje a cidade recuperou o nome da tradição árabe, mas à época de Bayley, antes da independência síria, era mais natural aos ocidentais considerar Palmira como o nome antigo. Provavelmente estão ambas ligadas a "palmeiras" ou "tâmaras", indicando um talvez antigo oásis. Palmira fez entretanto notícia televisiva, pelo medo ao novo papão chamado "Estado Islâmico", e a associada destruição do património greco-romano.
[É sempre curioso saber que os exércitos de "drones" vigilantes são afinal muito selectivos nos inimigos que deixaram crescer, e que Israel se preocupa mais em bombardear escolas em Gaza, do que em incomodar os vizinhos lunáticos cortadores de cabeças em fatos de ninja... isto, é claro, sem duvidar da qualidade da produção em cena. Ninguém ousa confundir o filme transmitido às 19h55 com a notícia transmitida às 20h05... a entrada do logotipo do "telejornal", tal como uma campaínha de Pavlov, faz passar do modo ficção para o modo realidade.]

Bayley refere ainda uma tradição de ligar o deus Thor ao touro: "a bull, the symbol of the god Thor was called thor", algo já aqui falado algumas vezes (aqui e ali), entre outras múltiplas relações facilmente sugeridas pela simples fonética. Porém, não é minha opinião que estas coisas tenham resistido simples e puramente duramente milénios, apenas por perservação linguística na tradição popular... Ao contrário, é possível que as modificações ocasionais tenham partido a porcelana, mas a sucessiva colagem permite ver onde se encaixavam as peças.

Bom, quanto às pirâmides da Ilhas Faroés, não é impossível que sejam naturais, mas parece um caso ainda mais evidente que a propalada "pirâmide da Bósnia", e não é de excluir que possa ter havido uma alteração humana a escopro e martelo sobre a rocha.... para obter aquele aspecto mais quadrangular.
Convém não esquecer que, não muito longe, entre as Faroé e a Escócia, estão as Shetland, onde foram encontradas grandes torres megalíticas. Ver p.ex. notícia final em

Assim, havendo construções megalíticas nas Shetland, parece mais facilmente possível uma modificação do relevo das rochas, para obter o aspecto piramidal.... isto sugere uma possível utilização até das Faroés como Faróis de referência, para limite da navegação a norte. Se o grande Farol de Alexandria, referência egípcia, foi proeza dos Faraós Ptolomaicos, nessa altura seria perfeitamente possível navegar até aos limites do Norte da Europa.


Autoria e outros dados (tags, etc)

Tags:

publicado às 05:10

O tema deste texto ficaria simplesmente ilustrado pelas imagens das Ilhas Faroé, que não apenas lembram Faraós pelo nome similar, mas também por estas formações geológicas notáveis, que lembram perfeitas pirâmides:
Ilhas Faroé - formações geológicas piramidais.
Esta seria uma forma típica, com que comecei aqui muitos textos, notando semelhanças fonéticas que deram títulos interessantes. No entanto, uma grande e principal diferença é que já não estou a trilhar nenhum caminho exploratório. Trata-se agora mais de um passeio, e o interesse de fazer este texto é residual, no sentido de não encerrar o blog por completo.

A semelhança fonética entre as Faroés e os Faraós existe também em inglês, e é até talvez maior, conforme se pode ver neste relato sobre uma marcação de viagem:
"I said the Faroe Islands, not the Pharoah Islands".

Como curiosidade adicional, fiz uma simples pesquisa para saber se havia alguma etimologia que ligasse uma coisa à outra, e não encontrei nada de relevante.
No entanto, encontrei um interessantíssimo livro
Archaic England de Harold Bayley (1919)
onde podemos ler uma folclórica ligação em que os habitantes das Faroé viam as focas como representações dos soldados do Faraó, afogados quando perseguiam Moisés pelo Mar Vermelho.
In all probability the phoca was a token of the Phocean Greeks who founded Marseilles: the phoca was pre-eminently associated with Proteus, and in the Faroe Islands they have a curious idea that seals are the soldiers of the Pharaoh who was drowned in the sea.
Provavelmente não seriam os únicos a usar esse mito, mas foi essa ligação remetida às Faroés que me permitiu encontrar o livro de Bayley. Esse livro começa com um capítulo chamado "Magic of Words", que remete ao fascínio da antiguidade das palavras... ou como é dito, a língua carrega uma história enorme que só parcialmente foi alterada pelas alterações gramaticais, impostas contra a tradição popular.
Bayley dá como exemplo o caso do lugar de Palmira, uma cidade síria (de que já aqui falei a propósito de Zenóbia), para enfatizar que a origem da toponímia se pode perder em milénios de história. Não tanto pelas ruínas de Palmira que seriam influência greco-romana, mas por uma cidade ainda anterior a essa, cujo nome mais antigo era Tadmor. Hoje a cidade recuperou o nome da tradição árabe, mas à época de Bayley, antes da independência síria, era mais natural aos ocidentais considerar Palmira como o nome antigo. Provavelmente estão ambas ligadas a "palmeiras" ou "tâmaras", indicando um talvez antigo oásis. Palmira fez entretanto notícia televisiva, pelo medo ao novo papão chamado "Estado Islâmico", e a associada destruição do património greco-romano.
[É sempre curioso saber que os exércitos de "drones" vigilantes são afinal muito selectivos nos inimigos que deixaram crescer, e que Israel se preocupa mais em bombardear escolas em Gaza, do que em incomodar os vizinhos lunáticos cortadores de cabeças em fatos de ninja... isto, é claro, sem duvidar da qualidade da produção em cena. Ninguém ousa confundir o filme transmitido às 19h55 com a notícia transmitida às 20h05... a entrada do logotipo do "telejornal", tal como uma campaínha de Pavlov, faz passar do modo ficção para o modo realidade.]

Bayley refere ainda uma tradição de ligar o deus Thor ao touro: "a bull, the symbol of the god Thor was called thor", algo já aqui falado algumas vezes (aqui e ali), entre outras múltiplas relações facilmente sugeridas pela simples fonética. Porém, não é minha opinião que estas coisas tenham resistido simples e puramente duramente milénios, apenas por perservação linguística na tradição popular... Ao contrário, é possível que as modificações ocasionais tenham partido a porcelana, mas a sucessiva colagem permite ver onde se encaixavam as peças.

Bom, quanto às pirâmides da Ilhas Faroés, não é impossível que sejam naturais, mas parece um caso ainda mais evidente que a propalada "pirâmide da Bósnia", e não é de excluir que possa ter havido uma alteração humana a escopro e martelo sobre a rocha.... para obter aquele aspecto mais quadrangular.
Convém não esquecer que, não muito longe, entre as Faroé e a Escócia, estão as Shetland, onde foram encontradas grandes torres megalíticas. Ver p.ex. notícia final em

Assim, havendo construções megalíticas nas Shetland, parece mais facilmente possível uma modificação do relevo das rochas, para obter o aspecto piramidal.... isto sugere uma possível utilização até das Faroés como Faróis de referência, para limite da navegação a norte. Se o grande Farol de Alexandria, referência egípcia, foi proeza dos Faraós Ptolomaicos, nessa altura seria perfeitamente possível navegar até aos limites do Norte da Europa.


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publicado às 05:10

Partindo de uma raiz comum, o que pode fazer divergir linguagens?
As linguagens passam de pais para filhos, e estando inseridos numa comunidade, numa tribo, com uma linguagem estabelecida, não se justificaria nenhuma nova linguagem.

Há semelhanças entre todas as linguagens, mas isso é uma pura questão filosófica, que deixarei para o outro blog. Aqui interessa-me considerar a grande diferença entre linguagens.

(de amarelo - língua única - caso português; até verde escuro - múltiplas línguas - caso da Índia > 400)

Para vermos como o assunto pode ser desesperante uso uma citação de um artigo de R. Allott (Diversity of languages. Motor theory of language origin, 1994) 
For centuries, men have speculated about the causes of language change. The confusion and controversies surrounding causes of language change ... some reputable linguists have regarded the whole field as a disaster area, and opted out altogether. (Aitchison 1981)
Portanto, houve simplesmente quem tivesse considerado a matéria como uma área desastrosa, e acharam por bem "cair fora".
Isso poderia deixar-nos mais à vontade para especular, mas o problema é que mesmo especulações minimamente credíveis não são fáceis de estabelecer.

Há duas grandes hipóteses. Ou havia uma linguagem comum, ou apareceram separadamente nos diversos grupos populacionais. A primeira hipótese pode ser chamada "Babel", e a segunda não é muito credível... o que faziam as comunidades juntas se não tinham uma forma de comunicação estabelecida?

Por mimetismo darwiniano, há quem insista numa evolução da língua "Babel" original, tal como faz de um "Adão" hominídeo primitivo. Ou seja, haveria variações linguísticas, que depois redundariam em línguas diferentes, sobrevivendo as mais populares. Como em toda a teoria darwiniana faltam muitos "missing links"... aqui os elos entre as linguagens. Tal como em toda a teoria evolucionista tem aspectos triviais que devem ser considerados - ou seja, é óbvio que uma linguagem impopular desapareceria. Mas não só...

Comecemos por reparar no gráfico estimado para a evolução demográfica desde há 10 mil anos (wiki): 

Já sabemos que houve um "boom" populacional nos últimos 200 anos, associado ao desenvolvimento técnico. Já Fibonacci, no Séc. XIV, uns 400 antes de Malthus, sabia que os coelhos tal como as pessoas se podem reproduzir muito depressa, basta que tenham alimento e condições para isso.

Por isso, desde que o génio humano estivesse liberto de restrições, a partir do momento em que passou a viver da agricultura, poderia ter começado a duplicar a população a cada geração. Em África quadruplicou nos últimos 50 anos, nos outros continentes (excepto Europa), basicamente duplicou. Mas, como os Maltusianos sabem bem, há um ovo de Colombo que se parte - o limite populacional tem a restrição da alimentação necessária à sobrevivência.

Segundo estas estatísticas a sociedade agrícola na Idade Média parece ter variado entre 200 e 500 milhões pessoas. Antes da sociedade agrícola, uma sociedade nómada de caçadores, funcionaria ao género de alcateia de lobos. Tendo em atenção o número de 50 mil lobos existentes no Canadá, podemos extrapolar que, antes da revolução do Neolítico, as tribos caçadoras/colectoras pudessem atingir mais de um milhão de pessoas.
Bom, e quanto tempo é preciso, para passar de um casal de humanos para uma população de um milhão de pessoas? Com uma estimativa semelhante à que se verifica em África hoje, bastariam 500 anos, se usarmos como modelo a América do Norte, seriam precisos 1000 anos. Claro, poderia haver doenças, múltiplos problemas, mas bastariam salvar-se alguns, e aguardar por novos 500 anos de condições favoráveis.

O único ponto que interessa salientar é que não seria preciso esperar milhões de anos... bastam poucos milhares de anos, com uma média de natalidade superior a 3 filhos por casal, independentemente das maleitas, guerras. A população só não cresceria se a natalidade fosse muito reduzida, algo que não seria natural, numa época em que não se proclamaria muito o planeamento familiar nem o uso de contraceptivos.

A diferença que se verificava à época dos descobrimentos, entre a população europeia e a asiática, dará para reflectirmos na dimensão das restrições a que estiveram sujeitas as populações medievais. Dificilmente as pestes tiveram dimensão suficiente para explicar a diferença abissal. Mesmo nos confrontos com os muçulmanos, parecia haver sempre uma enorme desproporção, por falta de europeus.
A população europeia só deixou de passar fome quando foi importante equilibrar os números pela necessária presença ultramarina, após os descobrimentos. Olhando para as dimensões das cidades e coliseus romanos, a Europa medieval parece ter sido uma enorme prisão faminta, que regrediu populacionalmente, para além de todas as outras regressões.

Migrações
Para o que interessa, sem demasiadas restrições, a partir do momento em que a população humana teve que migrar, para encontrar novos territórios de caça, o continente africano ter-se-ia revelado insuficiente no espaço de poucos milhares de anos. 
A competição limitava a colaboração. A linguagem servia o entendimento, mas em época de competição ter a mesma linguagem não favorecia tribos competidoras.
Por isso, se interessava o entendimento com os seus, não interessava o entendimento dos outros.
Não seria assim de admirar que uma estratégia de tribo fosse mudar mesmo de linguagem, e isso justifica que justamente em África se tenha uma das maiores concentrações de diferentes linguagens.
Era uma opção dos competidores - mudar a codificação, para comunicarem apenas na tribo. Quem fosse afastado, e tivesse que fazer nova tribo, começava a ver-se como diferente, e não tinha razão para manter a linguagem comunitária anterior.
As migrações apontam justamente para uma saída de África para a zona do subcontinente indiano em direcção à Oceânia, onde mais uma vez se verifica esse fenómeno de multiplicidade de línguas. O caso extremo é o da Papua-Nova Guiné, com 820 línguas... o que pode ter a ver com essa herança de extrema competição (parece haver uma tribo antropofágica cuja palavra para designar as tribos rivais é "comida").

Portanto, a noção que temos de preservação de língua está num contexto diferente. Exemplificando, a tribo de Caim, expulso pela morte de Abel, não teria a mesma ideia de preservar língua do que a tribo de Seth, que ficou como herdeiro de Adão.
O desenvolvimento da linguagem pode ter sido assim um traço distintivo, cuja flexibilidade e evolução também terá melhorado capacidades cognitivas.

O processo inverso, de expansão de uma língua estaria relacionado com o sucesso dessa tribo e dos seus descendentes. Aquando do Neolítico, em que as culturas se começaram a sedentarizar, uma tribo de algumas dezenas de indivíduos atingia muitos milhares, ao fim de poucas centenas de anos. Não haveria expulsões, apenas uma acomodação na hierarquia, conforme a varonia. O sentimento de tribo alargou-se e passou ao sentimento de povo, deixou de ter o mesmo aspecto de tribos migrantes. As velhas línguas solidificaram-se nesses ambientes consolidados.
A competição também passou a ter um aspecto mais letal, e a diferença linguística, a existir, seria elitista... havia interesse de que a elite não fosse entendida pelos outros, mas entendesse o que população dizia.

Hieróglifos
Disraeli (primeiro-ministro inglês do Séc.XIX), sobre os hieróglifos diz o seguinte citando Diodoro (Sículo) e Heródoto:
- os Egípcios usavam dois tipos de letras - umas sagradas e outras vulgares.
As vulgares seriam de conhecimento geral, mas as sagradas eram apenas conhecidas dos sacerdotes, que as teriam aprendido dos Etíopes - mas provavelmente alterando o significado.

Sobre os hieróglifos comuns, Disraeli acrescenta (via Diodoro):
- a escrita não consistia em sílabas juntas, mas em figuras relacionadas com o que queriam exprimir... o falcão significava expedição, porque era o mais veloz dos pássaros. O crocodilo significava malícia; o olho significava um observador de justiça ou um guarda; a mão direita, que estava assegurando a sua subsistência; a mão esquerda fechada, a preservação de algo.
Disraeli argumentava o aspecto alegórico dos hieróglifos, alegorias que serviam de linguagem comum entre estranhos. Segundo Heródoto, quando Dário invadiu a Cítia, os citas enviaram uma mensagem que consistia num pássaro, um rato, um sapo e cinco flechas. Isto significaria que se ele não fugisse rapidamente como um pássaro, se escondesse como um rato, saltasse dali como um sapo, então morreria pelas flechas... 

Desde a "pedra da roseta" tem-se usado também um significado fonético dos hieróglifos.
A ideia de termos no mesmo texto dois significados nunca mais se perdeu... e como vemos remontará pelo menos ao tempo dos Egípcios.
Isso pode ser mais ou menos fácil de identificar... mas quando a mensagem, ou notícia, parece absurda ou irrelevante, pelo significado literal das letras, talvez não seja pior ideia procurar o significado alegórico.

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publicado às 06:59

Partindo de uma raiz comum, o que pode fazer divergir linguagens?
As linguagens passam de pais para filhos, e estando inseridos numa comunidade, numa tribo, com uma linguagem estabelecida, não se justificaria nenhuma nova linguagem.

Há semelhanças entre todas as linguagens, mas isso é uma pura questão filosófica, que deixarei para o outro blog. Aqui interessa-me considerar a grande diferença entre linguagens.

(de amarelo - língua única - caso português; até verde escuro - múltiplas línguas - caso da Índia > 400)

Para vermos como o assunto pode ser desesperante uso uma citação de um artigo de R. Allott (Diversity of languages. Motor theory of language origin, 1994) 
For centuries, men have speculated about the causes of language change. The confusion and controversies surrounding causes of language change ... some reputable linguists have regarded the whole field as a disaster area, and opted out altogether. (Aitchison 1981)
Portanto, houve simplesmente quem tivesse considerado a matéria como uma área desastrosa, e acharam por bem "cair fora".
Isso poderia deixar-nos mais à vontade para especular, mas o problema é que mesmo especulações minimamente credíveis não são fáceis de estabelecer.

Há duas grandes hipóteses. Ou havia uma linguagem comum, ou apareceram separadamente nos diversos grupos populacionais. A primeira hipótese pode ser chamada "Babel", e a segunda não é muito credível... o que faziam as comunidades juntas se não tinham uma forma de comunicação estabelecida?

Por mimetismo darwiniano, há quem insista numa evolução da língua "Babel" original, tal como faz de um "Adão" hominídeo primitivo. Ou seja, haveria variações linguísticas, que depois redundariam em línguas diferentes, sobrevivendo as mais populares. Como em toda a teoria darwiniana faltam muitos "missing links"... aqui os elos entre as linguagens. Tal como em toda a teoria evolucionista tem aspectos triviais que devem ser considerados - ou seja, é óbvio que uma linguagem impopular desapareceria. Mas não só...

Comecemos por reparar no gráfico estimado para a evolução demográfica desde há 10 mil anos (wiki): 

Já sabemos que houve um "boom" populacional nos últimos 200 anos, associado ao desenvolvimento técnico. Já Fibonacci, no Séc. XIV, uns 400 antes de Malthus, sabia que os coelhos tal como as pessoas se podem reproduzir muito depressa, basta que tenham alimento e condições para isso.

Por isso, desde que o génio humano estivesse liberto de restrições, a partir do momento em que passou a viver da agricultura, poderia ter começado a duplicar a população a cada geração. Em África quadruplicou nos últimos 50 anos, nos outros continentes (excepto Europa), basicamente duplicou. Mas, como os Maltusianos sabem bem, há um ovo de Colombo que se parte - o limite populacional tem a restrição da alimentação necessária à sobrevivência.

Segundo estas estatísticas a sociedade agrícola na Idade Média parece ter variado entre 200 e 500 milhões pessoas. Antes da sociedade agrícola, uma sociedade nómada de caçadores, funcionaria ao género de alcateia de lobos. Tendo em atenção o número de 50 mil lobos existentes no Canadá, podemos extrapolar que, antes da revolução do Neolítico, as tribos caçadoras/colectoras pudessem atingir mais de um milhão de pessoas.
Bom, e quanto tempo é preciso, para passar de um casal de humanos para uma população de um milhão de pessoas? Com uma estimativa semelhante à que se verifica em África hoje, bastariam 500 anos, se usarmos como modelo a América do Norte, seriam precisos 1000 anos. Claro, poderia haver doenças, múltiplos problemas, mas bastariam salvar-se alguns, e aguardar por novos 500 anos de condições favoráveis.

O único ponto que interessa salientar é que não seria preciso esperar milhões de anos... bastam poucos milhares de anos, com uma média de natalidade superior a 3 filhos por casal, independentemente das maleitas, guerras. A população só não cresceria se a natalidade fosse muito reduzida, algo que não seria natural, numa época em que não se proclamaria muito o planeamento familiar nem o uso de contraceptivos.

A diferença que se verificava à época dos descobrimentos, entre a população europeia e a asiática, dará para reflectirmos na dimensão das restrições a que estiveram sujeitas as populações medievais. Dificilmente as pestes tiveram dimensão suficiente para explicar a diferença abissal. Mesmo nos confrontos com os muçulmanos, parecia haver sempre uma enorme desproporção, por falta de europeus.
A população europeia só deixou de passar fome quando foi importante equilibrar os números pela necessária presença ultramarina, após os descobrimentos. Olhando para as dimensões das cidades e coliseus romanos, a Europa medieval parece ter sido uma enorme prisão faminta, que regrediu populacionalmente, para além de todas as outras regressões.

Migrações
Para o que interessa, sem demasiadas restrições, a partir do momento em que a população humana teve que migrar, para encontrar novos territórios de caça, o continente africano ter-se-ia revelado insuficiente no espaço de poucos milhares de anos. 
A competição limitava a colaboração. A linguagem servia o entendimento, mas em época de competição ter a mesma linguagem não favorecia tribos competidoras.
Por isso, se interessava o entendimento com os seus, não interessava o entendimento dos outros.
Não seria assim de admirar que uma estratégia de tribo fosse mudar mesmo de linguagem, e isso justifica que justamente em África se tenha uma das maiores concentrações de diferentes linguagens.
Era uma opção dos competidores - mudar a codificação, para comunicarem apenas na tribo. Quem fosse afastado, e tivesse que fazer nova tribo, começava a ver-se como diferente, e não tinha razão para manter a linguagem comunitária anterior.
As migrações apontam justamente para uma saída de África para a zona do subcontinente indiano em direcção à Oceânia, onde mais uma vez se verifica esse fenómeno de multiplicidade de línguas. O caso extremo é o da Papua-Nova Guiné, com 820 línguas... o que pode ter a ver com essa herança de extrema competição (parece haver uma tribo antropofágica cuja palavra para designar as tribos rivais é "comida").

Portanto, a noção que temos de preservação de língua está num contexto diferente. Exemplificando, a tribo de Caim, expulso pela morte de Abel, não teria a mesma ideia de preservar língua do que a tribo de Seth, que ficou como herdeiro de Adão.
O desenvolvimento da linguagem pode ter sido assim um traço distintivo, cuja flexibilidade e evolução também terá melhorado capacidades cognitivas.

O processo inverso, de expansão de uma língua estaria relacionado com o sucesso dessa tribo e dos seus descendentes. Aquando do Neolítico, em que as culturas se começaram a sedentarizar, uma tribo de algumas dezenas de indivíduos atingia muitos milhares, ao fim de poucas centenas de anos. Não haveria expulsões, apenas uma acomodação na hierarquia, conforme a varonia. O sentimento de tribo alargou-se e passou ao sentimento de povo, deixou de ter o mesmo aspecto de tribos migrantes. As velhas línguas solidificaram-se nesses ambientes consolidados.
A competição também passou a ter um aspecto mais letal, e a diferença linguística, a existir, seria elitista... havia interesse de que a elite não fosse entendida pelos outros, mas entendesse o que população dizia.

Hieróglifos
Disraeli (primeiro-ministro inglês do Séc.XIX), sobre os hieróglifos diz o seguinte citando Diodoro (Sículo) e Heródoto:
- os Egípcios usavam dois tipos de letras - umas sagradas e outras vulgares.
As vulgares seriam de conhecimento geral, mas as sagradas eram apenas conhecidas dos sacerdotes, que as teriam aprendido dos Etíopes - mas provavelmente alterando o significado.

Sobre os hieróglifos comuns, Disraeli acrescenta (via Diodoro):
- a escrita não consistia em sílabas juntas, mas em figuras relacionadas com o que queriam exprimir... o falcão significava expedição, porque era o mais veloz dos pássaros. O crocodilo significava malícia; o olho significava um observador de justiça ou um guarda; a mão direita, que estava assegurando a sua subsistência; a mão esquerda fechada, a preservação de algo.
Disraeli argumentava o aspecto alegórico dos hieróglifos, alegorias que serviam de linguagem comum entre estranhos. Segundo Heródoto, quando Dário invadiu a Cítia, os citas enviaram uma mensagem que consistia num pássaro, um rato, um sapo e cinco flechas. Isto significaria que se ele não fugisse rapidamente como um pássaro, se escondesse como um rato, saltasse dali como um sapo, então morreria pelas flechas... 

Desde a "pedra da roseta" tem-se usado também um significado fonético dos hieróglifos.
A ideia de termos no mesmo texto dois significados nunca mais se perdeu... e como vemos remontará pelo menos ao tempo dos Egípcios.
Isso pode ser mais ou menos fácil de identificar... mas quando a mensagem, ou notícia, parece absurda ou irrelevante, pelo significado literal das letras, talvez não seja pior ideia procurar o significado alegórico.

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publicado às 06:59

Nota de Rodopé (bis)
Começamos com mais uma "Nota de Rodopé"... 
Já tínhamos falado de Rodopé, a propósito da fábulas de Esopo e de Perrault. 

Faltou-nos uma história de "sapatinho rosa-dourado"... de uma escrava grega, que apreciada pelo seu senhor recebe os tais sapatinhos, causando inveja nas outras escravas... que a sobrecarregam de trabalho!
Acontece que o faraó Amásis II convida todos para uma festa em Mênfis, mas a pobre escrava não pode ir... é sobrecarregada com trabalho pelas outras invejosas! 
Lembra uma história de gata borralheira... e enquanto a festa decorre em Mênfis (só faltaria ter a actuação de algum Elvis...), a pobre escrava, ao lavar a roupa, molha os chinelos. 
Pior, quando os deixa ao sol a secar, um pássaro pega num e foge com ele.
Porém, o pássaro era afinal o deus Hórus, que deixa cair o chinelo em frente a Amásis II.
Tomando tal sinal divino evidente, o faraó procura a donzela que tenha o outro chinelo rosa-dourado. Acaba por encontrar a escrava... essa escrava é Cinderela?... Não, é Rodopé!
  
Ponte Diavolski, Bulgaria - Montes Rodopé (Trácia)... e o sapato de Cinderela.

Parecerá de facto, a história da Cinderela, mas de quem? 
De Esopo, de Estrabão, de Perrault, dos Irmãos Grimm, ou de Disney?
Bom, parece que também há uma versão chinesa - com Ye Xian, que perde um sapatinho dourado, e também tem uma madrasta malvada. É sabida a importância que os chineses davam aos pés pequenos, por isso esta história é também antiga - encontra-se numa compilação do Séc. IX d.C. (ver também aqui).

Encontrei, por mero acaso, mais esta "nota de Rodopé". 
Não era sobre isso que queria falar. Mas, aparecendo contada por Estrabão, convirá situar a época. 
Rodopé tal como Spartacus seriam escravos da Trácia. A brutal repressão romana à revolta de Spartacus ainda estaria fresca na memória dos gregos, e não podendo falar de Spartacus, talvez ocorresse a Estrabão falar de Rodopé, enquanto símbolo escravo da vizinha Trácia.
Se o grego Esopo atribuíra a Rodopé uma das pirâmides egípcias, o grego Estrabão iria dar-lhe um pé, que colocaria, através de Hórus, ao lado do poder divino faraónico. 
Se o pé do trácio Spartacus, como o de mais 30 mil escravos, foi pregado numa cruz na Via Ápia, houve poucas décadas depois outro pé onde tal cruz ficou imortalizada, com uma Roma rendida a esse símbolo.

4) O declínio egípcio
Amásis II - o faraó que escolheria o pé de Rodopé - seria o último grande faraó egípcio. A partir daí, de Rodopé ficaria essencialmente um Canto, um canto de arquitectos e poetas. 
Logo a seguir à morte de Amásis II os egípcios iriam cair sob domínio persa, do Império Aqueménida, ficando como uma província (isto, à excepção de um curto período, onde por alguns anos a capital será a cidade egípcia de Mendes - XIX dinastia).

Se a civilização egípcia consegue resistir ao primeiro Império, ou primeira monarquia Assíria, o mesmo já não se passará na transição para o segundo Império, quando Medos, Caldeus e Persas passam o poder da velha capital assíria de Nínive para a Babilónia, e depois Persépolis.
Já falámos da descrição de Figueiredo que fazia a divisão em 7 monarquias em vez de 4 impérios.
Quando se fala na mitologia do "Quinto Império", há em comum a primeira monarquia iniciada com os Assírios, por Nimrod ou Nembroth (associado à Torre de Babel e à capital Nínive).
Após a queda assíria, com Assurbanípal, ou Sardanapalo, o segundo império de Medos e Caldeus, começaria na Babilónia, e ficaria marcado por Nabucodonosor, em particular pelo registo bíblico da deportação hebraica, que terminaria com a ascensão persa de Ciro (560-530 a.C), a quem Figueiredo associa a terceira monarquia, persa, que só seria deposta por Alexandre Magno, marcando também o fim do segundo império. O terceiro império será macedónio-grego, a que se seguiria o quarto, de Roma.

O declínio egípicio, a ascensão de Nabucodonosor, e depois de Ciro, no Séc. VI a.C. vai produzir uma significativa mudança global. É dessa época que nos vão chegar os antigos registos históricos, míticos e religiosos... notando que são contemporâneos, ou posteriores ao "grande" Ciro, os "veneráveis": 
- Sete Sábios Gregos (em particular, Sólon, ou antes Tales de Mileto, 624 a 554 a.C) 
- Buda, ou Sidarta Gautama (563 a 483 a.C), 
- Confúcio, ou Kung Fu Tziu (551 a 479 a.C).

O ponto principal é que é nesta época que se definem os registos que passam para as gerações seguintes.
O caso mais emblemático será a confusão hebraica-judaica. É reconhecido que quando Ciro recoloca hebreus e judeus no mesmo "território de origem" já se teria perdido grande parte da cultura pelo período no cativeiro da Babilónia... onde choraram por Sião. Até a língua hebraica seria estranha aos judeus, pelo que a recuperação bíblica será feita com a ajuda dos magos persas - os seus antigos captores.
Não será assim tão estranho que haja muitos pontos comuns entre os registos míticos babilónicos e aqueles que serão depois adoptados pelos judeus. 

Por outro lado, ainda antes do declínio, fica claro que há uma aproximação entre egípcios e gregos.
Sólon, um dos Sete Sábios Gregos do Séc. VI a.C. procura informações no Egipto... em particular será aí que terá o registo da Atlântida, que depois será contado por Platão. 
O aparecimento da cultura grega não pode ser desligado dessa clara influência egípcia, que assim procura uma oposição à expansão persa. O Egipto acabará por retomar o seu protagonismo através deste investimento, pela importância que a dinastia Ptolomaica de Alexandria assumirá até à queda de Cleópatra. 

A tragédia que envolve Júlio César, Cleópatra, Marco António e Augusto Octávio, é uma história que assinala a luta de poder na transição entre o 3º Império sediado em Alexandria e a passagem para o 4º Império sediado em Roma.
Não será imediata, pois mesmo durante o período romano, Alexandria com a sua Biblioteca continuará a ser o principal pólo de conhecimento da Antiguidade. Será apenas com a chegada de Constantino, e a consagração de Bizâncio, que Alexandria perderia a sua importância como capital oriental, entrando em declinio até à conquista árabe.

Se notamos uma influência egípcia na formação filosófica e científica grega, também podemos ver alguma exportação filosófica para Oriente. Em muitos aspectos encontramos noções da filosofia de Hermes ou de Zoroastro nas reflexões budistas, confucianas ou taoístas.  Nota-se uma mudança significativa na forma, mas há muitos pontos comuns no conteúdo, que passam por quase todas as filosofias e religiões.

5) Beroso - Anedotos e Caldeus
Há vários relatos sobre Beroso, mas a sua história dos Caldeus só teria chegado parcialmente através de alguns relatos de Eusébio. Encontrámos um notável trabalho de Isaac Cory que nos dá uma tradução em inglês das citações de Eusébio, e das passagens atribuídas a Beroso (Berossus).
Começamos por esta:
(...) then Ammenon the Chaldean, in whose time appeared the Musarus Oannes the Annedotus from the Erythrean sea.
Quem era esta abominação "Joanes, Anedoto do Mar Vermelho"? 
- Os anedotos eram homens-peixe!
Parecerá "anedota", mas estes "anedotos" eram apresentados como se estivessem "vestidos de peixe", vendo-se os pés, e a cabeça na posição das guelras, assim:
 
Dois Anedotos - Homens Peixe... (imagem) e um enorme bacalhau (imagem)

Se a ideia era dessa forma passarem por "homens-peixe", parece de facto "anedota", e o nome "anedoto" é apropriado. Para além de "Joanes", ou "Oanes", Beroso refere mais anedotos, sempre do Mar "Eritreu"-Vermelho, um outro teria o nome Odacon.
Num dos relatos é dito que o Anedoto conversava com os homens de dia, não comia, e ao pôr-do-sol mergulhava nas águas, onde ficava toda a noite. Parece que com esta anedota eram convencidos os assírios que ele era anfíbio... 
De qualquer forma, aprenderam dele as letras, ciências e outro tipo de artes, como das sementes e frutos. Teria ainda ensinado-os a construir casas, fundar templos, compilar leis, bem como os princípios de geometria. Os seus conhecimentos eram considerados tão universais que nada mais era necessário, tendo tornado os caldeus mais gentis e humanos.
Ao lado decidimos colocar uma imagem de um enorme bacalhau... para que se torne mais claro o que poderia ser um Anedoto ou uma anedota, um bacalhau ou uma cabala.


Não deixa de ser algo estranha esta reverência dos caldeus a esses homens-peixe, que vindos de um Mar Eritreu lhes teriam transmitido conhecimento fundamental. Já aqui referimos da ambiguidade sobre a designação "Eritreu", e de que o Mar Vermelho já foi tido e achado em lugares diferentes. Em particular, esta pesca de bacalhau poderia corresponder a uma secagem de pele noutras paragens, talvez na zona da ilha Eritreia, colocada na Iberia.

Por outro lado, um símbolo na hierarquia cristã é a Mitra, um barrete que já foi visto como perfil de cabeça de peixe. O nome "mitra" está também associado a uma religião persa que chegou a ter um destaque semelhante ao do cristianismo à época da sua implantação no Império Romano. Porém, o barrete do mitraísmo seria o barrete frígio, e não algo com uma abertura que lembra a boca de peixe, como a mitra papal.
Mitra de João XXIII.

Não é nenhuma novidade que um símbolo cristão é o peixe, mas não é convincente que tal se deva às iniciais ΙΧΘΥΣ que corresponderiam a Iesous Christos Theou Yios Soter (Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador,  sendo Ichtys a palavra grega de peixe)... ou ainda a um "alfa" que tem a forma de peixe.
Se o hábito faz o monge, neste caso parece que há hábitos que vêm de longe, do fundo do mar...

6) Beroso - Dilúvio
No mesmo relato atribuído a Beroso fala-se do dilúvio. A divindade é Cronus, que aparece numa visão ao regente Xisuthrus (ou Sisithrus), avisando-o do dilúvio que destruiria a humanidade. Por isso, ele é encarregue de fazer uma história do mundo que guardaria na Cidade do Sol (ver Heliopolis) em Sippara, e de construir um navio onde levaria quem e tudo o que conseguisse, inclusivé todas as espécies de animais.
Depois, tal como na bem conhecida história de Noé, após o dilúvio, envia pássaros três vezes, até que eles não regressaram - o que significava que tinham encontrado terra firme. Num relato (via Abydenus) diz-se explicitamente que o navio se mantinha na Arménia, onde era ainda costume os habitantes fazerem pulseiras e amuletos a partir da sua madeira! (isto é visto como prova posterior da presença do barco no monte Ararat)

Nesse mesmo relato fala-se da construção de Torre de Babel, feita pelos habitantes da terra para desafiarem as alturas, contra vontade dos deuses, que através de ventos a demoliram caindo sobre os executantes, ao mesmo tempo que misturavam as diversas línguas, havendo antes apenas uma língua universal. Do desacordo teria surgido depois uma guerra entre Cronus e Titan...
A torre é colocada na Babilónia, e é dito que "para confusão é pelos Hebreus chamada Babel"...

Podemos concluir, que a menos de detalhes, e diferença de nomes, estas estórias caldeias-babilónicas do Dilúvio e de Babel são exactamente as mesmas que aparecem depois na tradição judaico-cristã. A grande diferença será o carácter monoteísta que parece associado a Cronus, eliminando referências a outros deuses ou a entidades míticas ou controversas, como o caso dos homens-peixe, os anedotos.

Será que podemos associar estes homens-peixe às figuras de sereias ou ao mito da Atlântida?
Até que ponto é que a questão do desaparecimento de uma potência atlântica não estaria ligada ao próprio mito do dilúvio?
- Afinal, havendo uma Idade do Gelo, quando essa termina para onde iria a água derretida?
- Não faria sentido considerar que o degelo teria provocado um considerável aumento da água do mar, afundando por completo povoações costeiras?
Se os gelos permanentes chegassem até ao Sul de França, como é habitualmente admitido, a retenção de água nesses gelos seria enorme, e a linha de costa seria bem diferente, estendendo-se muitos quilómetros no que hoje é Oceano. Um aquecimento do planeta teria como consequência uma catástrofe diluviana para civilizações costeiras. Só seriam sobreviventes as que assumissem algum carácter marítimo, ou que migrassem para zonas montanhosas. Essa mudança climática provocaria ainda uma mudança civilizacional, arruinando estruturas antigas, deixando perdidas várias tribos, e praticamente tudo teria que ser recomeçado.
Porém, quem sobrevivesse com a herança do passado perdido teria uma grande vantagem civilizacional face a todos os outros sobreviventes desorientados e espalhados por diversas partes, regressando à faceta de homens de cavernas.

Num dos relatos atribuído a Beroso é dito que o mesmo Oanes indicava que no início os homens teriam aparecido também com duas asas, outros com quatro asas e duas caras... podendo ser de homem e mulher.
Haveria ainda figuras humanas com cornos e pernas de cabras, outros pés de cavalo, touros com cabeça humana, etc... toda uma mistura zoológica, que teria sido desenhada no templo de Belus na Babilónia!
Não será assim de admirar que também no Egipto, por altura semelhante, tivessem aparecido representações mistas, que invocavam uma parte humana e outra parte animal... assim se constitui uma boa parte do panteão de divindades egípcias, que também foi exportada para mitos gregos.

Que propósito haveria nestes anedotos, ou nestas anedotas?...
Ou antes, como se manifestaria uma civilização mais avançada no contacto com tribos que estavam praticamente na pré-história? 
Teria paciência para fazer evoluir essas tribos para o mesmo nível? 
Aparecia como elite e tratava os restantes como servos? 
Interviria pontualmente como deuses e deixaria as tribos prosseguir a sua evolução?

Há alguns pontos na mitologia que podem ser encarados como abordagens a estas perguntas.
A civilização preponderante poderia ser encarada como um deus dominante, imortal, que decidiria sobre o futuro das civilizações que nasciam. A diferença de poder seria tal que permitiria intervir para proteger ou aniquilar civilizações emergentes. 
Neste sentido, apenas uma civilização, ou estrutura civilizacional, seria imortalizada... as outras passariam por fados, por jogos de poder, que as levariam a aniquilar-se. Não admitiria filhos... no sentido em que evitaria a competição interna com uma fonte semelhante de poder. 
Estamos perante uma figuração semelhante à de Cronos... que será deposto por Zeus.
O poder com Zeus substituiria essa dominância absoluta de Cronos, partilhando o Olimpo com os seus irmãos, numa oligarquia divina. Figurativamente, seria como substituir uma civilização dominante por uma assembleia olímpica de estruturas civilizacionais dominantes. Seria como se houvesse apenas doze tribos (o número de elementos no Olimpo) que decidissem sobre o futuro das guerras entre todas as outras... 
(ou ainda, seria como um conselho de segurança da ONU, onde cinco estados detêm o poder de veto)

De uma forma, ou de outra, não importa muito, os impérios ou monarquias que dominaram o mundo a partir dos Assírios, parecem ter tido um patrocínio externo, uma influência civilizacional superior que se constituiu como mitologia. Há quem refira os Anunnaki, o que parece ser apenas nome alternativo para a figuração dos Anedotos (um nome por interpretação cuneiforme, o outro das transcrições gregas de Beroso). 



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publicado às 02:09

Nota de Rodopé (bis)
Começamos com mais uma "Nota de Rodopé"... 
Já tínhamos falado de Rodopé, a propósito da fábulas de Esopo e de Perrault. 

Faltou-nos uma história de "sapatinho rosa-dourado"... de uma escrava grega, que apreciada pelo seu senhor recebe os tais sapatinhos, causando inveja nas outras escravas... que a sobrecarregam de trabalho!
Acontece que o faraó Amásis II convida todos para uma festa em Mênfis, mas a pobre escrava não pode ir... é sobrecarregada com trabalho pelas outras invejosas! 
Lembra uma história de gata borralheira... e enquanto a festa decorre em Mênfis (só faltaria ter a actuação de algum Elvis...), a pobre escrava, ao lavar a roupa, molha os chinelos. 
Pior, quando os deixa ao sol a secar, um pássaro pega num e foge com ele.
Porém, o pássaro era afinal o deus Hórus, que deixa cair o chinelo em frente a Amásis II.
Tomando tal sinal divino evidente, o faraó procura a donzela que tenha o outro chinelo rosa-dourado. Acaba por encontrar a escrava... essa escrava é Cinderela?... Não, é Rodopé!
 
Ponte Diavolski, Bulgaria - Montes Rodopé (Trácia)... e o sapato de Cinderela.

Parecerá de facto, a história da Cinderela, mas de quem? 
De Esopo, de Estrabão, de Perrault, dos Irmãos Grimm, ou de Disney?
Bom, parece que também há uma versão chinesa - com Ye Xian, que perde um sapatinho dourado, e também tem uma madrasta malvada. É sabida a importância que os chineses davam aos pés pequenos, por isso esta história é também antiga - encontra-se numa compilação do Séc. IX d.C. (ver também aqui).

Encontrei, por mero acaso, mais esta "nota de Rodopé". 
Não era sobre isso que queria falar. Mas, aparecendo contada por Estrabão, convirá situar a época. 
Rodopé tal como Spartacus seriam escravos da Trácia. A brutal repressão romana à revolta de Spartacus ainda estaria fresca na memória dos gregos, e não podendo falar de Spartacus, talvez ocorresse a Estrabão falar de Rodopé, enquanto símbolo escravo da vizinha Trácia.
Se o grego Esopo atribuíra a Rodopé uma das pirâmides egípcias, o grego Estrabão iria dar-lhe um pé, que colocaria, através de Hórus, ao lado do poder divino faraónico. 
Se o pé do trácio Spartacus, como o de mais 30 mil escravos, foi pregado numa cruz na Via Ápia, houve poucas décadas depois outro pé onde tal cruz ficou imortalizada, com uma Roma rendida a esse símbolo.

4) O declínio egípcio
Amásis II - o faraó que escolheria o pé de Rodopé - seria o último grande faraó egípcio. A partir daí, de Rodopé ficaria essencialmente um Canto, um canto de arquitectos e poetas. 
Logo a seguir à morte de Amásis II os egípcios iriam cair sob domínio persa, do Império Aqueménida, ficando como uma província (isto, à excepção de um curto período, onde por alguns anos a capital será a cidade egípcia de Mendes - XIX dinastia).

Se a civilização egípcia consegue resistir ao primeiro Império, ou primeira monarquia Assíria, o mesmo já não se passará na transição para o segundo Império, quando Medos, Caldeus e Persas passam o poder da velha capital assíria de Nínive para a Babilónia, e depois Persépolis.
Já falámos da descrição de Figueiredo que fazia a divisão em 7 monarquias em vez de 4 impérios.
Quando se fala na mitologia do "Quinto Império", há em comum a primeira monarquia iniciada com os Assírios, por Nimrod ou Nembroth (associado à Torre de Babel e à capital Nínive).
Após a queda assíria, com Assurbanípal, ou Sardanapalo, o segundo império de Medos e Caldeus, começaria na Babilónia, e ficaria marcado por Nabucodonosor, em particular pelo registo bíblico da deportação hebraica, que terminaria com a ascensão persa de Ciro (560-530 a.C), a quem Figueiredo associa a terceira monarquia, persa, que só seria deposta por Alexandre Magno, marcando também o fim do segundo império. O terceiro império será macedónio-grego, a que se seguiria o quarto, de Roma.

O declínio egípicio, a ascensão de Nabucodonosor, e depois de Ciro, no Séc. VI a.C. vai produzir uma significativa mudança global. É dessa época que nos vão chegar os antigos registos históricos, míticos e religiosos... notando que são contemporâneos, ou posteriores ao "grande" Ciro, os "veneráveis": 
- Sete Sábios Gregos (em particular, Sólon, ou antes Tales de Mileto, 624 a 554 a.C) 
- Buda, ou Sidarta Gautama (563 a 483 a.C), 
- Confúcio, ou Kung Fu Tziu (551 a 479 a.C).

O ponto principal é que é nesta época que se definem os registos que passam para as gerações seguintes.
O caso mais emblemático será a confusão hebraica-judaica. É reconhecido que quando Ciro recoloca hebreus e judeus no mesmo "território de origem" já se teria perdido grande parte da cultura pelo período no cativeiro da Babilónia... onde choraram por Sião. Até a língua hebraica seria estranha aos judeus, pelo que a recuperação bíblica será feita com a ajuda dos magos persas - os seus antigos captores.
Não será assim tão estranho que haja muitos pontos comuns entre os registos míticos babilónicos e aqueles que serão depois adoptados pelos judeus. 

Por outro lado, ainda antes do declínio, fica claro que há uma aproximação entre egípcios e gregos.
Sólon, um dos Sete Sábios Gregos do Séc. VI a.C. procura informações no Egipto... em particular será aí que terá o registo da Atlântida, que depois será contado por Platão. 
O aparecimento da cultura grega não pode ser desligado dessa clara influência egípcia, que assim procura uma oposição à expansão persa. O Egipto acabará por retomar o seu protagonismo através deste investimento, pela importância que a dinastia Ptolomaica de Alexandria assumirá até à queda de Cleópatra. 

A tragédia que envolve Júlio César, Cleópatra, Marco António e Augusto Octávio, é uma história que assinala a luta de poder na transição entre o 3º Império sediado em Alexandria e a passagem para o 4º Império sediado em Roma.
Não será imediata, pois mesmo durante o período romano, Alexandria com a sua Biblioteca continuará a ser o principal pólo de conhecimento da Antiguidade. Será apenas com a chegada de Constantino, e a consagração de Bizâncio, que Alexandria perderia a sua importância como capital oriental, entrando em declinio até à conquista árabe.

Se notamos uma influência egípcia na formação filosófica e científica grega, também podemos ver alguma exportação filosófica para Oriente. Em muitos aspectos encontramos noções da filosofia de Hermes ou de Zoroastro nas reflexões budistas, confucianas ou taoístas.  Nota-se uma mudança significativa na forma, mas há muitos pontos comuns no conteúdo, que passam por quase todas as filosofias e religiões.

5) Beroso - Anedotos e Caldeus
Há vários relatos sobre Beroso, mas a sua história dos Caldeus só teria chegado parcialmente através de alguns relatos de Eusébio. Encontrámos um notável trabalho de Isaac Cory que nos dá uma tradução em inglês das citações de Eusébio, e das passagens atribuídas a Beroso (Berossus).
Começamos por esta:
(...) then Ammenon the Chaldean, in whose time appeared the Musarus Oannes the Annedotus from the Erythrean sea.
Quem era esta abominação "Joanes, Anedoto do Mar Vermelho"? 
- Os anedotos eram homens-peixe!
Parecerá "anedota", mas estes "anedotos" eram apresentados como se estivessem "vestidos de peixe", vendo-se os pés, e a cabeça na posição das guelras, assim:
 
Dois Anedotos - Homens Peixe... (imagem) e um enorme bacalhau (imagem)

Se a ideia era dessa forma passarem por "homens-peixe", parece de facto "anedota", e o nome "anedoto" é apropriado. Para além de "Joanes", ou "Oanes", Beroso refere mais anedotos, sempre do Mar "Eritreu"-Vermelho, um outro teria o nome Odacon.
Num dos relatos é dito que o Anedoto conversava com os homens de dia, não comia, e ao pôr-do-sol mergulhava nas águas, onde ficava toda a noite. Parece que com esta anedota eram convencidos os assírios que ele era anfíbio... 
De qualquer forma, aprenderam dele as letras, ciências e outro tipo de artes, como das sementes e frutos. Teria ainda ensinado-os a construir casas, fundar templos, compilar leis, bem como os princípios de geometria. Os seus conhecimentos eram considerados tão universais que nada mais era necessário, tendo tornado os caldeus mais gentis e humanos.
Ao lado decidimos colocar uma imagem de um enorme bacalhau... para que se torne mais claro o que poderia ser um Anedoto ou uma anedota, um bacalhau ou uma cabala.


Não deixa de ser algo estranha esta reverência dos caldeus a esses homens-peixe, que vindos de um Mar Eritreu lhes teriam transmitido conhecimento fundamental. Já aqui referimos da ambiguidade sobre a designação "Eritreu", e de que o Mar Vermelho já foi tido e achado em lugares diferentes. Em particular, esta pesca de bacalhau poderia corresponder a uma secagem de pele noutras paragens, talvez na zona da ilha Eritreia, colocada na Iberia.

Por outro lado, um símbolo na hierarquia cristã é a Mitra, um barrete que já foi visto como perfil de cabeça de peixe. O nome "mitra" está também associado a uma religião persa que chegou a ter um destaque semelhante ao do cristianismo à época da sua implantação no Império Romano. Porém, o barrete do mitraísmo seria o barrete frígio, e não algo com uma abertura que lembra a boca de peixe, como a mitra papal.
Mitra de João XXIII.

Não é nenhuma novidade que um símbolo cristão é o peixe, mas não é convincente que tal se deva às iniciais ΙΧΘΥΣ que corresponderiam a Iesous Christos Theou Yios Soter (Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador,  sendo Ichtys a palavra grega de peixe)... ou ainda a um "alfa" que tem a forma de peixe.
Se o hábito faz o monge, neste caso parece que há hábitos que vêm de longe, do fundo do mar...

6) Beroso - Dilúvio
No mesmo relato atribuído a Beroso fala-se do dilúvio. A divindade é Cronus, que aparece numa visão ao regente Xisuthrus (ou Sisithrus), avisando-o do dilúvio que destruiria a humanidade. Por isso, ele é encarregue de fazer uma história do mundo que guardaria na Cidade do Sol (ver Heliopolis) em Sippara, e de construir um navio onde levaria quem e tudo o que conseguisse, inclusivé todas as espécies de animais.
Depois, tal como na bem conhecida história de Noé, após o dilúvio, envia pássaros três vezes, até que eles não regressaram - o que significava que tinham encontrado terra firme. Num relato (via Abydenus) diz-se explicitamente que o navio se mantinha na Arménia, onde era ainda costume os habitantes fazerem pulseiras e amuletos a partir da sua madeira! (isto é visto como prova posterior da presença do barco no monte Ararat)

Nesse mesmo relato fala-se da construção de Torre de Babel, feita pelos habitantes da terra para desafiarem as alturas, contra vontade dos deuses, que através de ventos a demoliram caindo sobre os executantes, ao mesmo tempo que misturavam as diversas línguas, havendo antes apenas uma língua universal. Do desacordo teria surgido depois uma guerra entre Cronus e Titan...
A torre é colocada na Babilónia, e é dito que "para confusão é pelos Hebreus chamada Babel"...

Podemos concluir, que a menos de detalhes, e diferença de nomes, estas estórias caldeias-babilónicas do Dilúvio e de Babel são exactamente as mesmas que aparecem depois na tradição judaico-cristã. A grande diferença será o carácter monoteísta que parece associado a Cronus, eliminando referências a outros deuses ou a entidades míticas ou controversas, como o caso dos homens-peixe, os anedotos.

Será que podemos associar estes homens-peixe às figuras de sereias ou ao mito da Atlântida?
Até que ponto é que a questão do desaparecimento de uma potência atlântica não estaria ligada ao próprio mito do dilúvio?
- Afinal, havendo uma Idade do Gelo, quando essa termina para onde iria a água derretida?
- Não faria sentido considerar que o degelo teria provocado um considerável aumento da água do mar, afundando por completo povoações costeiras?
Se os gelos permanentes chegassem até ao Sul de França, como é habitualmente admitido, a retenção de água nesses gelos seria enorme, e a linha de costa seria bem diferente, estendendo-se muitos quilómetros no que hoje é Oceano. Um aquecimento do planeta teria como consequência uma catástrofe diluviana para civilizações costeiras. Só seriam sobreviventes as que assumissem algum carácter marítimo, ou que migrassem para zonas montanhosas. Essa mudança climática provocaria ainda uma mudança civilizacional, arruinando estruturas antigas, deixando perdidas várias tribos, e praticamente tudo teria que ser recomeçado.
Porém, quem sobrevivesse com a herança do passado perdido teria uma grande vantagem civilizacional face a todos os outros sobreviventes desorientados e espalhados por diversas partes, regressando à faceta de homens de cavernas.

Num dos relatos atribuído a Beroso é dito que o mesmo Oanes indicava que no início os homens teriam aparecido também com duas asas, outros com quatro asas e duas caras... podendo ser de homem e mulher.
Haveria ainda figuras humanas com cornos e pernas de cabras, outros pés de cavalo, touros com cabeça humana, etc... toda uma mistura zoológica, que teria sido desenhada no templo de Belus na Babilónia!
Não será assim de admirar que também no Egipto, por altura semelhante, tivessem aparecido representações mistas, que invocavam uma parte humana e outra parte animal... assim se constitui uma boa parte do panteão de divindades egípcias, que também foi exportada para mitos gregos.

Que propósito haveria nestes anedotos, ou nestas anedotas?...
Ou antes, como se manifestaria uma civilização mais avançada no contacto com tribos que estavam praticamente na pré-história? 
Teria paciência para fazer evoluir essas tribos para o mesmo nível? 
Aparecia como elite e tratava os restantes como servos? 
Interviria pontualmente como deuses e deixaria as tribos prosseguir a sua evolução?

Há alguns pontos na mitologia que podem ser encarados como abordagens a estas perguntas.
A civilização preponderante poderia ser encarada como um deus dominante, imortal, que decidiria sobre o futuro das civilizações que nasciam. A diferença de poder seria tal que permitiria intervir para proteger ou aniquilar civilizações emergentes. 
Neste sentido, apenas uma civilização, ou estrutura civilizacional, seria imortalizada... as outras passariam por fados, por jogos de poder, que as levariam a aniquilar-se. Não admitiria filhos... no sentido em que evitaria a competição interna com uma fonte semelhante de poder. 
Estamos perante uma figuração semelhante à de Cronos... que será deposto por Zeus.
O poder com Zeus substituiria essa dominância absoluta de Cronos, partilhando o Olimpo com os seus irmãos, numa oligarquia divina. Figurativamente, seria como substituir uma civilização dominante por uma assembleia olímpica de estruturas civilizacionais dominantes. Seria como se houvesse apenas doze tribos (o número de elementos no Olimpo) que decidissem sobre o futuro das guerras entre todas as outras... 
(ou ainda, seria como um conselho de segurança da ONU, onde cinco estados detêm o poder de veto)

De uma forma, ou de outra, não importa muito, os impérios ou monarquias que dominaram o mundo a partir dos Assírios, parecem ter tido um patrocínio externo, uma influência civilizacional superior que se constituiu como mitologia. Há quem refira os Anunnaki, o que parece ser apenas nome alternativo para a figuração dos Anedotos (um nome por interpretação cuneiforme, o outro das transcrições gregas de Beroso). 



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publicado às 02:09

Nota de Rodopé

01.02.13
A Rodopé foi atribuída a mais pequena das três pirâmides de Gizé (Miquerinos). A situação começa logo por ser confusa porque aparentemente Rodopé era um pedreiro escravo no Egipto. Porém, a atribuição a si da construção de uma pirâmide faz pensar mais em "pedreiro livre". 
A sua ligação a Esopo, outro escravo, é feita por La Fontaine, e a ligação de La Fontaine a Esopo faz-se através das fábulas, que são surpreendentemente semelhantes... Se escreveu sobre ele, é provável que La Fontaine tenha também lido a fábula de Esopo sobre "a formiga e o gafanhoto", a história de uma formiga trabalhadora e de um gafanhoto folião, que depois se vê obrigado a pedir-lhe comida no inverno. Agora, o que é que esta história de Esopo tem a ver com a bem conhecida Fábula de La Fontaine entitulada "A cigarra e a formiga"? O gafanhoto ter passado a cigarra? Uma lista de fábulas de Esopo pode ser encontrada aqui, e as várias coincidências de histórias podem dever-se a um olhar inculto, que não capte a inovação. E, sendo irónico, ao mesmo tempo não sou - a outra hipótese não deve ser descartada, porque as pequenas subtilezas fazem o gosto do secretismo cortesão.

Ora, esta nota de Rodapé, encontrei-a num livro de 1665, de Olfert Dapper, "Description d'Afrique", pag. 67, onde pouco antes se encontram duas ilustrações que concatenei:
Assinalei com duas setas vermelhas dois bustos. Um, próximo do Nilo, será a Esfinge com corpo de leão, quanto ao outro busto... não faço ideia. Seria liberdade criativa do autor? Finges ou Esfinges?
E todas aquelas pirâmides juntas? Contavam-se 17, segundo o relato citado do Príncipe Radzivil, que diferencia as duas principais, atribui a 3ª a Rhodopé, que dizia ser a mais perfeita em acabamento... ao contrário do que se vê hoje.

Mas, hoje, também se sabe que as esfinges, quando lhes cresce o nariz, pode cair pela gravidade.
Conforme se ilustra na wikipedia há algumas imagens da esfinge (e talvez da outra estátua) ainda com o nariz, pelo menos até 1700. Depois, o nariz cai... e há quem diga que foram os soldados de Napoleão, mas há uma imagem reportada a 1755, de F. L. Norden, que mostra uma estátua sem nariz.
Porém, nestas coisas conviria haver menor suspeição. Não ajuda as imagens terem uma legenda em francês, reportando a uma tradução de 1798, consequentemente posterior à expedição. Por azar, não se encontram as imagens originais, e também por azar, há um inglês que tendo viajado em 1755 desenhou a estátua com nariz. O cuidado que a expedição francesa teve, em deixar tudo como tinha encontrado... ou quase(!), também ajuda pouco. Mas isso faz parte da história, e é preciso compreendê-la, antes de a julgar. 

Ora, fomos de Rodopé às Esfinges. As esfinges cumpriam um papel importante na mitologia, e lembramos imediatamente de Édipo e de Tebas, ensombrada por uma esfinge. O coitado do Édipo, apesar de resolver o enigma da esfinge, e libertar Tebas do pesadelo, não lhe bastavam as chagas nos pés, teve ainda uma vida desgraçada.
Porém, aqui é ilustrativo fazer uma pequena comparação abusiva. A esfinge que atormentava Tebas seria também aquela que serviria para lhe levar o melhor rei, ou pelo menos um rei suficientemente perspicaz para resolver aquele enigma. Nesse sentido, o papel de "mau da fita" da esfinge acabaria por servir o propósito de salvaguardar Tebas, e o próprio Édipo... assumindo que só ele poderia resolver o enigma. O inimigo dos falsos pretendentes seria amigo do pretendente correcto... afastando-se nessa altura.
A comparação abusiva é com o papel da gestação humana. Os espermatozóides surgem todos como inúmeros pretendentes a uma estrutura ovular, que faz de virgem ofendida, colocando uma parede à sua investida, deixando-os perecer à sua sorte. Normalmente o que o óvulo não saberá é que também se não escolher nenhum, estas coisas têm regras...
Entendido desta forma, o papel de Édipo é o do espermatozóide bem sucedido, que passa a parede da esfinge, para encontrar uma Tebas, que quer afinal cruzar os seus cromossomas com o os do sábio forasteiro. Imagino que este tipo de mitologia esteja presente desde os tempos do culto de fertilidade, e pode invocar uma replicação de estrutura fisiológica, para o campo social.
Porém, estas coisas nem sempre são como nós queremos, e parece que o destino de Édipo estava traçado... ao invés de pastar ovelhas, foi bater nas paredes de Tebas. E também sabemos, que se Édipo não fosse ter com a Esfinge, era natural que a Esfinge aumentasse o seu raio de acção, acabando por o apoquentar no seu pasto... como já dizia Maomé.

Podia falar, analogamente, da figura do "Mecias", e escrevo assim, sem "ss", porque o "c" permite uma pequena variação de letras para "em Isac", e referir como são sacrificados cordeiros para lembrar a poupança do filho eleito de Abrão. Ora eu não fiz a linguagem, mas não posso deixar de notar no Velo de Ouro, ou no Tosão de Hórus... enfim, trocadilhos a desvelar, com colares menos explícitos, já agora.

Na parte da mitologia que falta contar, em Gaia, há uma estrutura suporte, que detém a ordem, uma visão, metade do sistema... a outra metade é externa, será filha do caos, do exterior, e terá a outra visão. Nessa mitologia de contornos fisiológicos, mas que é uma figuração de ideias, a estrutura ovular é preservada, pois é dela que sairá o ovo. É claro que se não houver ovo, entramos numa figuração diluviana.

Por outro lado, se é preciso dar nome ao ovo, ele está há muito presente como ícone. Primeiro, porque se deve separar "i-cone". E o cone numa perspectiva, numa sombra, parece uma pirâmide, mas pela base é um círculo. Sobre o equilíbrio entre as duas estruturas, já falei aqui. Sem as duas visões falha a perspectiva da outra dimensão. De um lado, do lado da realidade, do entendimento da ordem, está a perspectiva mãe, do outro lado, naquilo que parece ser acaso, caos, está a parte paterna.
O cone tem figurações que escapam à pirâmide quadrangular, justamente porque a base não é de raiz quadrangular... tem como génese a "quadratura do círculo", ou se quisermos, a "circulatura do quadrado", e o seu nome é Pi, e "ainda não tem vida". Pi está no nome "pirâmide", mas não na sua estrutura... aliás o prefixo "pi", podemos encontrá-lo em "pico", "pilar", e mais não "falo".
Porquê?
Porque haveria de a relação entre uma estrutura e outra se estabelecer com um número particular?
Teria que ser algum... é claro, mas não há nenhuma razão particular de não se estabelecer de forma racional, e sim transcendental. Na nossa compreensão do universo essa razão estabelece-se. Essa é uma ligação entre a nossa compreensão racional possível e o universo. Uma limitação que eventualmente está ligada à nossa condição material, e até biológica... onde somos meros seres definidos pelo número 5. 

Em resumo, para a parte de História, o que interessará mais será perceber o que aconteceu aos monumentos das pirâmides... o resto pode ser visto, se quiserem, como fabuloso, não de fábula de La Fontaine, nem de Esopo, mas de quem está farto de assistir à tosquia.

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publicado às 07:55

Nota de Rodopé

01.02.13
A Rodopé foi atribuída a mais pequena das três pirâmides de Gizé (Miquerinos). A situação começa logo por ser confusa porque aparentemente Rodopé era um pedreiro escravo no Egipto. Porém, a atribuição a si da construção de uma pirâmide faz pensar mais em "pedreiro livre". 
A sua ligação a Esopo, outro escravo, é feita por La Fontaine, e a ligação de La Fontaine a Esopo faz-se através das fábulas, que são surpreendentemente semelhantes... Se escreveu sobre ele, é provável que La Fontaine tenha também lido a fábula de Esopo sobre "a formiga e o gafanhoto", a história de uma formiga trabalhadora e de um gafanhoto folião, que depois se vê obrigado a pedir-lhe comida no inverno. Agora, o que é que esta história de Esopo tem a ver com a bem conhecida Fábula de La Fontaine entitulada "A cigarra e a formiga"? O gafanhoto ter passado a cigarra? Uma lista de fábulas de Esopo pode ser encontrada aqui, e as várias coincidências de histórias podem dever-se a um olhar inculto, que não capte a inovação. E, sendo irónico, ao mesmo tempo não sou - a outra hipótese não deve ser descartada, porque as pequenas subtilezas fazem o gosto do secretismo cortesão.

Ora, esta nota de Rodapé, encontrei-a num livro de 1665, de Olfert Dapper, "Description d'Afrique", pag. 67, onde pouco antes se encontram duas ilustrações que concatenei:
Assinalei com duas setas vermelhas dois bustos. Um, próximo do Nilo, será a Esfinge com corpo de leão, quanto ao outro busto... não faço ideia. Seria liberdade criativa do autor? Finges ou Esfinges?
E todas aquelas pirâmides juntas? Contavam-se 17, segundo o relato citado do Príncipe Radzivil, que diferencia as duas principais, atribui a 3ª a Rhodopé, que dizia ser a mais perfeita em acabamento... ao contrário do que se vê hoje.

Mas, hoje, também se sabe que as esfinges, quando lhes cresce o nariz, pode cair pela gravidade.
Conforme se ilustra na wikipedia há algumas imagens da esfinge (e talvez da outra estátua) ainda com o nariz, pelo menos até 1700. Depois, o nariz cai... e há quem diga que foram os soldados de Napoleão, mas há uma imagem reportada a 1755, de F. L. Norden, que mostra uma estátua sem nariz.
Porém, nestas coisas conviria haver menor suspeição. Não ajuda as imagens terem uma legenda em francês, reportando a uma tradução de 1798, consequentemente posterior à expedição. Por azar, não se encontram as imagens originais, e também por azar, há um inglês que tendo viajado em 1755 desenhou a estátua com nariz. O cuidado que a expedição francesa teve, em deixar tudo como tinha encontrado... ou quase(!), também ajuda pouco. Mas isso faz parte da história, e é preciso compreendê-la, antes de a julgar. 

Ora, fomos de Rodopé às Esfinges. As esfinges cumpriam um papel importante na mitologia, e lembramos imediatamente de Édipo e de Tebas, ensombrada por uma esfinge. O coitado do Édipo, apesar de resolver o enigma da esfinge, e libertar Tebas do pesadelo, não lhe bastavam as chagas nos pés, teve ainda uma vida desgraçada.
Porém, aqui é ilustrativo fazer uma pequena comparação abusiva. A esfinge que atormentava Tebas seria também aquela que serviria para lhe levar o melhor rei, ou pelo menos um rei suficientemente perspicaz para resolver aquele enigma. Nesse sentido, o papel de "mau da fita" da esfinge acabaria por servir o propósito de salvaguardar Tebas, e o próprio Édipo... assumindo que só ele poderia resolver o enigma. O inimigo dos falsos pretendentes seria amigo do pretendente correcto... afastando-se nessa altura.
A comparação abusiva é com o papel da gestação humana. Os espermatozóides surgem todos como inúmeros pretendentes a uma estrutura ovular, que faz de virgem ofendida, colocando uma parede à sua investida, deixando-os perecer à sua sorte. Normalmente o que o óvulo não saberá é que também se não escolher nenhum, estas coisas têm regras...
Entendido desta forma, o papel de Édipo é o do espermatozóide bem sucedido, que passa a parede da esfinge, para encontrar uma Tebas, que quer afinal cruzar os seus cromossomas com o os do sábio forasteiro. Imagino que este tipo de mitologia esteja presente desde os tempos do culto de fertilidade, e pode invocar uma replicação de estrutura fisiológica, para o campo social.
Porém, estas coisas nem sempre são como nós queremos, e parece que o destino de Édipo estava traçado... ao invés de pastar ovelhas, foi bater nas paredes de Tebas. E também sabemos, que se Édipo não fosse ter com a Esfinge, era natural que a Esfinge aumentasse o seu raio de acção, acabando por o apoquentar no seu pasto... como já dizia Maomé.

Podia falar, analogamente, da figura do "Mecias", e escrevo assim, sem "ss", porque o "c" permite uma pequena variação de letras para "em Isac", e referir como são sacrificados cordeiros para lembrar a poupança do filho eleito de Abrão. Ora eu não fiz a linguagem, mas não posso deixar de notar no Velo de Ouro, ou no Tosão de Hórus... enfim, trocadilhos a desvelar, com colares menos explícitos, já agora.

Na parte da mitologia que falta contar, em Gaia, há uma estrutura suporte, que detém a ordem, uma visão, metade do sistema... a outra metade é externa, será filha do caos, do exterior, e terá a outra visão. Nessa mitologia de contornos fisiológicos, mas que é uma figuração de ideias, a estrutura ovular é preservada, pois é dela que sairá o ovo. É claro que se não houver ovo, entramos numa figuração diluviana.

Por outro lado, se é preciso dar nome ao ovo, ele está há muito presente como ícone. Primeiro, porque se deve separar "i-cone". E o cone numa perspectiva, numa sombra, parece uma pirâmide, mas pela base é um círculo. Sobre o equilíbrio entre as duas estruturas, já falei aqui. Sem as duas visões falha a perspectiva da outra dimensão. De um lado, do lado da realidade, do entendimento da ordem, está a perspectiva mãe, do outro lado, naquilo que parece ser acaso, caos, está a parte paterna.
O cone tem figurações que escapam à pirâmide quadrangular, justamente porque a base não é de raiz quadrangular... tem como génese a "quadratura do círculo", ou se quisermos, a "circulatura do quadrado", e o seu nome é Pi, e "ainda não tem vida". Pi está no nome "pirâmide", mas não na sua estrutura... aliás o prefixo "pi", podemos encontrá-lo em "pico", "pilar", e mais não "falo".
Porquê?
Porque haveria de a relação entre uma estrutura e outra se estabelecer com um número particular?
Teria que ser algum... é claro, mas não há nenhuma razão particular de não se estabelecer de forma racional, e sim transcendental. Na nossa compreensão do universo essa razão estabelece-se. Essa é uma ligação entre a nossa compreensão racional possível e o universo. Uma limitação que eventualmente está ligada à nossa condição material, e até biológica... onde somos meros seres definidos pelo número 5. 

Em resumo, para a parte de História, o que interessará mais será perceber o que aconteceu aos monumentos das pirâmides... o resto pode ser visto, se quiserem, como fabuloso, não de fábula de La Fontaine, nem de Esopo, mas de quem está farto de assistir à tosquia.

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publicado às 07:55

Obelisco de 7

22.04.12
No centro da Praça de São Pedro, no Vaticano... bem à vista de todos os olhares do mundo, ergue-se um obelisco. A história do obelisco é relacionada com os cristãos, no sentido em que Tácito associou a sua presença no meio do Circo de Nero, onde cristãos teriam sido executados (incluindo S. Pedro). Não havendo erro Tácito (suspeitas de autenticidade começadas por Voltaire), esta seria a razão da colocação de um antigo monumento pagão no meio do centro cristão... foi aliás algo complicado, já que a deslocação do obelisco em Roma envolveu grandes meios, conforme ilustra a imagem (em baixo, à direita):
 
Obelisco do Vaticano, após a sua deslocação em 1586 (imagem à direita)

O obelisco encontra-se limpo de inscrições hieroglíficas (restam inscrições de imperadores romanos), mas não estava assim à altura do seu transporte... Quem organizou o transporte, Domenico Fontana, a mando do Papa Sisto V, deixou ainda uma descrição do que estava inscrito no obelisco:
Desenho do obelisco do Vaticano no livro de Fontana, aquando da deslocação
Pilar de Seth
Há obeliscos egípcios em diversas capitais mundiais - Washington, Londres, Paris, Roma (ver Agulhas de Cleopatra)... mas no caso do Vaticano, a lembrança de ser egípcio foi completamente apagada. 
É compreensível isso, dado o contexto cristão, mas ao mesmo tempo encontramos um texto de Diego Haedo (Topografia e Historia Geral de Argel, 1608), que se baseia numa descrição de Flávio Josefo nas Antiguidades Judaicas (Séc. I):
And that their inventions might not be lost before they were sufficiently known, upon Adam's prediction that the world was to be destroyed at one time by the force of fire, and at another time by the violence and quantity of water, they made two pillars, 19 the one of brick, the other of stone: they inscribed their discoveries on them both, that in case the pillar of brick should be destroyed by the flood, the pillar of stone might remain, and exhibit those discoveries to mankind; and also inform them that there was another pillar of brick erected by them. Now this remains in the land of Siriad to this day.
Esta descrição de Josefo é sobre Seth, e a partir desse momento falou-se dos Pilares de Seth, onde estaria inscrito um legado escrito do filho de Adão e seus descendentes. Quando Josefo diz que o pilar de pedra se mantinha até aos seus dias na "terra de Siriad", geram-se várias confusões. Primeiro, a céptica, dos que gostem de observar uma contradição "entre o pilar ter resistido e ser visível após o dilúvio", depois a geográfica, já que "Siriad" confunde Egipto e Síria. As dúvidas de resistência do pilar ao dilúvio, parecem algo ridículas (após o recúo das águas, seria possível tentar reencontrar o pilar e reergue-lo), já que normalmente provêm de quem também considera que o dilúvio não foi mais que uma cheia de um rio porque na Bíblia se fala num aumento de água de apenas 15 cúbitos (menos de 7 metros)... que cobria todos os montes.

Já a confusão geográfica sobre a Síria, ou Siriad, é interessante pois adiciona-se à existência dos templos de Heliopolis - havia a Heliopolis de Baalbek (Síria/Líbano) e a Heliopolis egípcia, curiosamente associada a um pilar do faraó Sesostris I, ou Senusret, que tem sido associado a Seti I e o liga directamente ao deus Set

 
Pilar de Set I ou Sesostris (Heliopolis, Egipto... actual e no Séc. XIX)

É provável que Josefo se referisse a este obelisco, enquanto o Pilar de Seth, filho de Adão. No entanto, convém dizer que o Obelisco do Vaticano terá também como origem a mesma Heliopolis (egípcia)...
Pode conjecturar-se que Josefo mencionava o Obelisco do Vaticano, ainda que o seu deslocamento para Roma seja contemporâneo a Josefo, e nada de concreto aponte nesse sentido... excepto que seria o mais importante obelisco a deslocar para o centro do Vaticano, a acreditar na sua mítica origem em Seth ou Adão.

O que diz Haedo?
Nuestro sapientissimo padre Adan (como Iosepho autor gravissimo dexó escrito) viendo que sus nietos y descendientes (que ya eran multiplicados en gran numero) començavam apartar-se del conocimiento verdadero, y fiel servicio de Dios, que el les enseñara ansi, como de Dios fuera enseñado: y temideo como hombre tan prudente, que siendo los pensamientos, y sentidos de los hõbres tan inclinados al mal, por discurso de algun tiempo, entre ellos se acabasse de perder todo el conocimiento de Dios: acordo de hazer como hizo, para remediar este mal, dos muy grandes, y muy altas colunas: una de ladrillo, y otra de piedra marmol rezio. De manera que el tiempo consumidor de todas cosas, o nunca o tarde las consumirsse: y en ellas de su mano entallo, y escrivio la doctrina de la Fé, y conocimiento de Dios, y la manera de su culto, y veneracion, conque de los hombres avia de ser honrado e venerado: y el mysterio de la venida del Messias: y juntamente muchas otras cosas de philosofia, astrologia, movimiento de los ciclos, curso de los planetas, y durasiõ de los tiempos y meses del año.
Y estas dos colunas ansi escritas, y entalladas (dize) que las puso en alto, para que todos las mirassen, y como eh unos libros pudiessen todos ler en ellas: de manera que fuesse (como el otro dezia de los libros) unos mudos, maestros q sin estruendo de bozes, advirtissen a los hõbres lo que devian de crer, y hazer en todo tiempo, y hedad: de manera que podemos dezir y afirmar con razon, que fueron estos los primeros libros de mundo; porq importa poco fuessen de piedra, y bronze, o de cortezas de Arboles y hojas, o de pergamino y papel, como despues por discurso de tiempo acostumbraron hazer los hombres.
(...)
... ou seja, citando Josefo, vai um pouco mais longe e diz que o "livro" escrito sob forma de pilar remontaria directamente a Adão, e preveria directamente a vinda do Messias, para além de conter considerações filosóficas e astronómicas. Juntar-se-ia a prática e conversação dos Santos Patriarcas, que por linha e sucessão directa herdaram de Adão e do terceiro filho Seth, listando depois Noé, Sem, Arphaxat, Chaynã, Sala, Heber, Ragau, Saruch, Nachor, Thare, Abraão, Isaac, Jacob e seus filhos.
(...) porque muchos tiempos, y por muchas edades se conservo el conocimiento de Dios en el mundo y q entre muchas naciones de Oriente, como Assírios, Chaldeos, Arabios, Egypcios, y otrostales quedasen despues perdido, muchas reliquias de buena y santa dotrina: y de todas las artes y ciencias liberales: de las quales naciones, deprendiendo los Griegos todo esto, por el discurso de tiempo (porque muchos deles, como Solon, Licurgo, Archita y Platon passaron en aquellas partes), y ornandolo, y poliendolo con artificiosas palabras, y añadienno algun poco de su casa, lo vienderon al mundo por suyo.
Explicitamente, Haedo denuncia aqui que o conhecimento grego (nomeadamente de Solon e Platão) teria bebido directamente de fontes primevas, e não reportava devidamente essa origem antiga.
Não é muito diferente do que sugerimos num texto anterior (Teogonias-3), porém aí era colocado o centro dos dois pólos na babilónia/caldeia... e de facto, a deslocação do centro de influência para a egípcia Heliópolis faz mais sentido, já que são conhecidas as boas relações greco-egípcias, e nem será surpresa que os gregos tenham sido herdeiros do conhecimento egípcio, já que a mistura que ocorre com a dinastia Ptolomaica trata como gregos uma multiplicidade de legados egípcios, e por exemplo Eratóstenes, Euclides, Ptolomeu, são tidos como gregos, bem como a generalidade do conhecimento vindo da egípcia Alexandria. A razão disto está muito ligada aos textos serem escritos em grego e que, com a mesma ligeireza, assumir-se-ia que todo o conhecimento actual, escrito em inglês, seria de origem americana ou inglesa.

Sete, Seti, Seth
Na Enéade divina de Heliópolis é natural que Seth fosse considerado o sétimo deus, depois dos cinco primeiros deuses cósmicos, a que se seguia a primeira geração: Isis, Seth e Osiris, e depois Horus.
Reparamos na ligação da apresentação de Isis alada e no estandarte aqueménida de Ciro:
 

As asas de Isis voam para o pavilhão aqueménida, com o detalhe suplementar de termos ao invés de Isis, um falcão, o símbolo de Hórus, seu filho. A relação entre Isis e Hórus surge ainda como mais uma manifestação de maternidade apropriada para o postal sobre o Puto de Vénus
Isis e Hórus, aqui a ligação maternal

Na mitologia ibérica de Tubal faz-se referência a reis Osiris-Júpiter e Hórus-Hércules Líbico.
Estes personagens seriam reis do Egipto que empreendem uma questa imperial contra a tirania, chegando à Ibéria para expulsar o tirano Gerião e os filhos Lomínios. Na versão ibérica Osíris mata Gerião, mas acaba morto pelos Lomínios e é vingado pelo filho Hórus. Na versão egípcia, Osíris é morto pelo irmão Seth, mas há também vingança do filho Hórus que, com ajuda da mãe Isis, acaba por destronar o tio Seth.

Se atendermos a que na Enéade egípcia o papel de Deus criador é desempenhado por Atum-Rá, a luta entre Osiris e Seth, filhos de Geb (deus da Terra, associado à Serpente), toma aspectos da rivalidade entre Abel e Caim, no sentido em que também Abel, o preferido, é morto por Caim.
Curiosamente, o terceiro filho de Adão, toma o nome Seth... e será deste Seth que surge a sucessão hebraica. Assim, o nome Seth aparece ligado ao mito hebraico pelo lado "bom", e ao mito egípcio pelo lado "mau". Não será tanto assim, já que o mesmo Seth é identificado a Tot, enquanto filho ou enquanto sua manifestação. Ora, acaba por ser Tot/Seth que tornará vivo o morto Osíris, e curará as feridas de Hórus, que substitui o Olho esquerdo (lunar) perdido no combate com Seth por uma serpente no chapéu (que seria usada pelos faraós). Como detalhe adicional esse olho de Hórus, estaria ligado a aplicações médicas...

 
Seguindo uma notável observação na Wikipedia, a ligação do olho de Hórus à
Medicina era representada pelo grafismo do R (semelhante a parte do olho),
mas deveria ser cortado... lê-se RX e fala-se só em conexões ao símbolo de Júpiter?

Pergunto - por que não reparar que a conexão directa da abreviatura "RX", para o olho de Hórus, é exactamente a abreviatura de "Raios X" ??
A escolha de um falcão como símbolo de Hórus, ao invés de uma habitual águia, à semelhança do que fará depois o imperador Ciro, é algo que merece alguma reflexão. Há algumas diferenças, no que diz respeito à velocidade, mas parece claro que é a acutilância da visão do falcão que marca a escolha de Hórus.
A "prenda" de Tot (também associado a Hermes) é literalmente uma visão RX. É natural que o significado RX seja uma "graça" do misticismo moderno, mas o ocultismo caminha lado a lado com a ocultação, a ocultação do conhecimento passado...

As colunas
Aparentemente estavam duas colunas em Heliopolis, e um site interessante, com ligações sobre este assunto encontra-se neste link... em particular apresenta um modelo do que teria sido Heliopolis:
Obeliscos em Heliopolis - modelo no Brooklyn Museum (NY)

O mesmo site apresenta uma "bizarra" ligação a Saturno... fantasmas pavlovianos, com  uma "ligação a Satan". É sempre engraçado ver coisas destas, ao mesmo tempo que deveriam saber que "Saturday", o dia de Saturno, é também Sabbath, o dia de Deus judaico. Mas aqui é ainda mais engraçado, pois a ligação a Saturno é feita pelo Sol... e "Sunday", o dia do Sol, é o dia de Deus cristão. 
Quando se vê o Sol, ou a luz, como algo mau... só pode corresponder a quem vê nas trevas algo bom para si!

A existência de duas colunas em Heliópolis, na "Siriad" egípcia... provavelmente uma cópia da original síria, com importação de monumentos, leva-nos assim às afirmações de Josefo e Haedo, sobre as colunas de Seth, onde se liga a coluna do Vaticano.
Curiosamente, foi-me agora indicado um texto maçon que dá conta das duas colunas, com o conhecimento pré-diluviano, que teriam sido descobertas por Hermes (filósofo) e Pitágoras (matemático):
No antigo manuscrito maçônico Cooke, (cerca de 1.400) da Biblioteca Britânica, lê-se nos parágrafos 281-326 que toda a sabedoria antediluviana foi escrita em duas grandes colunas. Depois do dilúvio de Noé, uma delas foi descoberta por Pitágoras, a outra por Hermes, o Filósofo, que se dedicaram a ensinar os textos ali gravados. Isto se encontra em perfeita concordância com o testemunhado por uma lenda egípcia, da qual já dava conta Manethon, segundo o mesmo Cooke, vinculada também com Hermes. 
É óbvio que essas colunas, ou obeliscos, semelhantes aos pilares J. e B., são as que sustentam o templo maçônico e, ao mesmo tempo, permitem o acesso ao mesmo e configuram os dois grandes afluentes sapienciais que nutrirão a Ordem: o hermetismo, que assegurará o amparo do deus através da Filosofia, quer dizer do Conhecimento, e o pitagorismo, que dará os elementos aritméticos e geométricos necessários, que reclama o simbolismo construtivo; deve-se considerar que ambas as correntes são direta ou indiretamente de origem egípcia. Igualmente que essas duas colunas, são as pernas da Mãe loja, pelas quais é parido o Neófito, quer dizer pela sabedoria de Hermes, o grande iniciador, e por Pitágoras, o instrutor gnóstico.  
in TRADIÇÃO HERMÉTICA E MAÇONARIA (1) de FEDERICO GONZALEZ
 (link cafc)

É claro que se sabe que a tradição maçónica é hermética... algo que contradiz a figura de Hermes, afinal o deus mensageiro. Felizmente este texto de Gonzalez parece seguir na direcção mais mensageira e menos hermética! 

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publicado às 04:30

Obelisco de 7

22.04.12
No centro da Praça de São Pedro, no Vaticano... bem à vista de todos os olhares do mundo, ergue-se um obelisco. A história do obelisco é relacionada com os cristãos, no sentido em que Tácito associou a sua presença no meio do Circo de Nero, onde cristãos teriam sido executados (incluindo S. Pedro). Não havendo erro Tácito (suspeitas de autenticidade começadas por Voltaire), esta seria a razão da colocação de um antigo monumento pagão no meio do centro cristão... foi aliás algo complicado, já que a deslocação do obelisco em Roma envolveu grandes meios, conforme ilustra a imagem (em baixo, à direita):
 
Obelisco do Vaticano, após a sua deslocação em 1586 (imagem à direita)

O obelisco encontra-se limpo de inscrições hieroglíficas (restam inscrições de imperadores romanos), mas não estava assim à altura do seu transporte... Quem organizou o transporte, Domenico Fontana, a mando do Papa Sisto V, deixou ainda uma descrição do que estava inscrito no obelisco:
Desenho do obelisco do Vaticano no livro de Fontana, aquando da deslocação
Pilar de Seth
Há obeliscos egípcios em diversas capitais mundiais - Washington, Londres, Paris, Roma (ver Agulhas de Cleopatra)... mas no caso do Vaticano, a lembrança de ser egípcio foi completamente apagada. 
É compreensível isso, dado o contexto cristão, mas ao mesmo tempo encontramos um texto de Diego Haedo (Topografia e Historia Geral de Argel, 1608), que se baseia numa descrição de Flávio Josefo nas Antiguidades Judaicas (Séc. I):
And that their inventions might not be lost before they were sufficiently known, upon Adam's prediction that the world was to be destroyed at one time by the force of fire, and at another time by the violence and quantity of water, they made two pillars, 19 the one of brick, the other of stone: they inscribed their discoveries on them both, that in case the pillar of brick should be destroyed by the flood, the pillar of stone might remain, and exhibit those discoveries to mankind; and also inform them that there was another pillar of brick erected by them. Now this remains in the land of Siriad to this day.
Esta descrição de Josefo é sobre Seth, e a partir desse momento falou-se dos Pilares de Seth, onde estaria inscrito um legado escrito do filho de Adão e seus descendentes. Quando Josefo diz que o pilar de pedra se mantinha até aos seus dias na "terra de Siriad", geram-se várias confusões. Primeiro, a céptica, dos que gostem de observar uma contradição "entre o pilar ter resistido e ser visível após o dilúvio", depois a geográfica, já que "Siriad" confunde Egipto e Síria. As dúvidas de resistência do pilar ao dilúvio, parecem algo ridículas (após o recúo das águas, seria possível tentar reencontrar o pilar e reergue-lo), já que normalmente provêm de quem também considera que o dilúvio não foi mais que uma cheia de um rio porque na Bíblia se fala num aumento de água de apenas 15 cúbitos (menos de 7 metros)... que cobria todos os montes.

Já a confusão geográfica sobre a Síria, ou Siriad, é interessante pois adiciona-se à existência dos templos de Heliopolis - havia a Heliopolis de Baalbek (Síria/Líbano) e a Heliopolis egípcia, curiosamente associada a um pilar do faraó Sesostris I, ou Senusret, que tem sido associado a Seti I e o liga directamente ao deus Set

 
Pilar de Set I ou Sesostris (Heliopolis, Egipto... actual e no Séc. XIX)

É provável que Josefo se referisse a este obelisco, enquanto o Pilar de Seth, filho de Adão. No entanto, convém dizer que o Obelisco do Vaticano terá também como origem a mesma Heliopolis (egípcia)...
Pode conjecturar-se que Josefo mencionava o Obelisco do Vaticano, ainda que o seu deslocamento para Roma seja contemporâneo a Josefo, e nada de concreto aponte nesse sentido... excepto que seria o mais importante obelisco a deslocar para o centro do Vaticano, a acreditar na sua mítica origem em Seth ou Adão.

O que diz Haedo?
Nuestro sapientissimo padre Adan (como Iosepho autor gravissimo dexó escrito) viendo que sus nietos y descendientes (que ya eran multiplicados en gran numero) començavam apartar-se del conocimiento verdadero, y fiel servicio de Dios, que el les enseñara ansi, como de Dios fuera enseñado: y temideo como hombre tan prudente, que siendo los pensamientos, y sentidos de los hõbres tan inclinados al mal, por discurso de algun tiempo, entre ellos se acabasse de perder todo el conocimiento de Dios: acordo de hazer como hizo, para remediar este mal, dos muy grandes, y muy altas colunas: una de ladrillo, y otra de piedra marmol rezio. De manera que el tiempo consumidor de todas cosas, o nunca o tarde las consumirsse: y en ellas de su mano entallo, y escrivio la doctrina de la Fé, y conocimiento de Dios, y la manera de su culto, y veneracion, conque de los hombres avia de ser honrado e venerado: y el mysterio de la venida del Messias: y juntamente muchas otras cosas de philosofia, astrologia, movimiento de los ciclos, curso de los planetas, y durasiõ de los tiempos y meses del año.
Y estas dos colunas ansi escritas, y entalladas (dize) que las puso en alto, para que todos las mirassen, y como eh unos libros pudiessen todos ler en ellas: de manera que fuesse (como el otro dezia de los libros) unos mudos, maestros q sin estruendo de bozes, advirtissen a los hõbres lo que devian de crer, y hazer en todo tiempo, y hedad: de manera que podemos dezir y afirmar con razon, que fueron estos los primeros libros de mundo; porq importa poco fuessen de piedra, y bronze, o de cortezas de Arboles y hojas, o de pergamino y papel, como despues por discurso de tiempo acostumbraron hazer los hombres.
(...)
... ou seja, citando Josefo, vai um pouco mais longe e diz que o "livro" escrito sob forma de pilar remontaria directamente a Adão, e preveria directamente a vinda do Messias, para além de conter considerações filosóficas e astronómicas. Juntar-se-ia a prática e conversação dos Santos Patriarcas, que por linha e sucessão directa herdaram de Adão e do terceiro filho Seth, listando depois Noé, Sem, Arphaxat, Chaynã, Sala, Heber, Ragau, Saruch, Nachor, Thare, Abraão, Isaac, Jacob e seus filhos.
(...) porque muchos tiempos, y por muchas edades se conservo el conocimiento de Dios en el mundo y q entre muchas naciones de Oriente, como Assírios, Chaldeos, Arabios, Egypcios, y otrostales quedasen despues perdido, muchas reliquias de buena y santa dotrina: y de todas las artes y ciencias liberales: de las quales naciones, deprendiendo los Griegos todo esto, por el discurso de tiempo (porque muchos deles, como Solon, Licurgo, Archita y Platon passaron en aquellas partes), y ornandolo, y poliendolo con artificiosas palabras, y añadienno algun poco de su casa, lo vienderon al mundo por suyo.
Explicitamente, Haedo denuncia aqui que o conhecimento grego (nomeadamente de Solon e Platão) teria bebido directamente de fontes primevas, e não reportava devidamente essa origem antiga.
Não é muito diferente do que sugerimos num texto anterior (Teogonias-3), porém aí era colocado o centro dos dois pólos na babilónia/caldeia... e de facto, a deslocação do centro de influência para a egípcia Heliópolis faz mais sentido, já que são conhecidas as boas relações greco-egípcias, e nem será surpresa que os gregos tenham sido herdeiros do conhecimento egípcio, já que a mistura que ocorre com a dinastia Ptolomaica trata como gregos uma multiplicidade de legados egípcios, e por exemplo Eratóstenes, Euclides, Ptolomeu, são tidos como gregos, bem como a generalidade do conhecimento vindo da egípcia Alexandria. A razão disto está muito ligada aos textos serem escritos em grego e que, com a mesma ligeireza, assumir-se-ia que todo o conhecimento actual, escrito em inglês, seria de origem americana ou inglesa.

Sete, Seti, Seth
Na Enéade divina de Heliópolis é natural que Seth fosse considerado o sétimo deus, depois dos cinco primeiros deuses cósmicos, a que se seguia a primeira geração: Isis, Seth e Osiris, e depois Horus.
Reparamos na ligação da apresentação de Isis alada e no estandarte aqueménida de Ciro:
 

As asas de Isis voam para o pavilhão aqueménida, com o detalhe suplementar de termos ao invés de Isis, um falcão, o símbolo de Hórus, seu filho. A relação entre Isis e Hórus surge ainda como mais uma manifestação de maternidade apropriada para o postal sobre o Puto de Vénus
Isis e Hórus, aqui a ligação maternal

Na mitologia ibérica de Tubal faz-se referência a reis Osiris-Júpiter e Hórus-Hércules Líbico.
Estes personagens seriam reis do Egipto que empreendem uma questa imperial contra a tirania, chegando à Ibéria para expulsar o tirano Gerião e os filhos Lomínios. Na versão ibérica Osíris mata Gerião, mas acaba morto pelos Lomínios e é vingado pelo filho Hórus. Na versão egípcia, Osíris é morto pelo irmão Seth, mas há também vingança do filho Hórus que, com ajuda da mãe Isis, acaba por destronar o tio Seth.

Se atendermos a que na Enéade egípcia o papel de Deus criador é desempenhado por Atum-Rá, a luta entre Osiris e Seth, filhos de Geb (deus da Terra, associado à Serpente), toma aspectos da rivalidade entre Abel e Caim, no sentido em que também Abel, o preferido, é morto por Caim.
Curiosamente, o terceiro filho de Adão, toma o nome Seth... e será deste Seth que surge a sucessão hebraica. Assim, o nome Seth aparece ligado ao mito hebraico pelo lado "bom", e ao mito egípcio pelo lado "mau". Não será tanto assim, já que o mesmo Seth é identificado a Tot, enquanto filho ou enquanto sua manifestação. Ora, acaba por ser Tot/Seth que tornará vivo o morto Osíris, e curará as feridas de Hórus, que substitui o Olho esquerdo (lunar) perdido no combate com Seth por uma serpente no chapéu (que seria usada pelos faraós). Como detalhe adicional esse olho de Hórus, estaria ligado a aplicações médicas...

 
Seguindo uma notável observação na Wikipedia, a ligação do olho de Hórus à
Medicina era representada pelo grafismo do R (semelhante a parte do olho),
mas deveria ser cortado... lê-se RX e fala-se só em conexões ao símbolo de Júpiter?

Pergunto - por que não reparar que a conexão directa da abreviatura "RX", para o olho de Hórus, é exactamente a abreviatura de "Raios X" ??
A escolha de um falcão como símbolo de Hórus, ao invés de uma habitual águia, à semelhança do que fará depois o imperador Ciro, é algo que merece alguma reflexão. Há algumas diferenças, no que diz respeito à velocidade, mas parece claro que é a acutilância da visão do falcão que marca a escolha de Hórus.
A "prenda" de Tot (também associado a Hermes) é literalmente uma visão RX. É natural que o significado RX seja uma "graça" do misticismo moderno, mas o ocultismo caminha lado a lado com a ocultação, a ocultação do conhecimento passado...

As colunas
Aparentemente estavam duas colunas em Heliopolis, e um site interessante, com ligações sobre este assunto encontra-se neste link... em particular apresenta um modelo do que teria sido Heliopolis:
Obeliscos em Heliopolis - modelo no Brooklyn Museum (NY)

O mesmo site apresenta uma "bizarra" ligação a Saturno... fantasmas pavlovianos, com  uma "ligação a Satan". É sempre engraçado ver coisas destas, ao mesmo tempo que deveriam saber que "Saturday", o dia de Saturno, é também Sabbath, o dia de Deus judaico. Mas aqui é ainda mais engraçado, pois a ligação a Saturno é feita pelo Sol... e "Sunday", o dia do Sol, é o dia de Deus cristão. 
Quando se vê o Sol, ou a luz, como algo mau... só pode corresponder a quem vê nas trevas algo bom para si!

A existência de duas colunas em Heliópolis, na "Siriad" egípcia... provavelmente uma cópia da original síria, com importação de monumentos, leva-nos assim às afirmações de Josefo e Haedo, sobre as colunas de Seth, onde se liga a coluna do Vaticano.
Curiosamente, foi-me agora indicado um texto maçon que dá conta das duas colunas, com o conhecimento pré-diluviano, que teriam sido descobertas por Hermes (filósofo) e Pitágoras (matemático):
No antigo manuscrito maçônico Cooke, (cerca de 1.400) da Biblioteca Britânica, lê-se nos parágrafos 281-326 que toda a sabedoria antediluviana foi escrita em duas grandes colunas. Depois do dilúvio de Noé, uma delas foi descoberta por Pitágoras, a outra por Hermes, o Filósofo, que se dedicaram a ensinar os textos ali gravados. Isto se encontra em perfeita concordância com o testemunhado por uma lenda egípcia, da qual já dava conta Manethon, segundo o mesmo Cooke, vinculada também com Hermes. 
É óbvio que essas colunas, ou obeliscos, semelhantes aos pilares J. e B., são as que sustentam o templo maçônico e, ao mesmo tempo, permitem o acesso ao mesmo e configuram os dois grandes afluentes sapienciais que nutrirão a Ordem: o hermetismo, que assegurará o amparo do deus através da Filosofia, quer dizer do Conhecimento, e o pitagorismo, que dará os elementos aritméticos e geométricos necessários, que reclama o simbolismo construtivo; deve-se considerar que ambas as correntes são direta ou indiretamente de origem egípcia. Igualmente que essas duas colunas, são as pernas da Mãe loja, pelas quais é parido o Neófito, quer dizer pela sabedoria de Hermes, o grande iniciador, e por Pitágoras, o instrutor gnóstico.  
in TRADIÇÃO HERMÉTICA E MAÇONARIA (1) de FEDERICO GONZALEZ
 (link cafc)

É claro que se sabe que a tradição maçónica é hermética... algo que contradiz a figura de Hermes, afinal o deus mensageiro. Felizmente este texto de Gonzalez parece seguir na direcção mais mensageira e menos hermética! 

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