Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]


Para entendermos melhor a diferença entre o que se passa do lado de cá da fronteira (onde são raros os vestígios rupestres), e o que se passa do lado espanhol (onde abundam), basta atender ao que se passou em Ribeiro das Casas.

Resumindo a história (que se encontra descrita num artigo de M. V. Gomes e N. Neto de 2010)... em 2002 foi reportada a seguinte pintura rupestre, do que aparentava ser um cavalo em corrida:

Poucos anos depois, a pintura foi destruída, conforme explicado pelos autores:
A destruição da pintura zoomórfica que referimos, ocorrida em 2009, dada a completa indiferença demonstrada perante o seu achado, tanto pelos órgãos de poder local como pela tutela do património, deu então lugar a diversas notícias na imprensa regional e nacional, tendo mesmo chegado aos jornais televisivos, onde ingloriamente se atribuiu significativa importância àquele testemunho arqueológico, apesar de sem quase se dizer porquê, ou só porque teria cerca de 5.000 anos.
(...)
Muito próximo dos painéis com pinturas existe exploração de pedra, que tem aberto extensas crateras no terreno e em muito alterado a paisagem, conferindo-lhe aspecto desértico.
Segundo se julga, foi no intuito de não prejudicar aquela actividade económica que a principal imagem pintada ali existente foi irremediavelmente destruída, sendo primeiro esfregada, com gasóleo (?), e depois bujardada.
Portanto, para além de outras razões, menos claras, há o simples interesse económico de particulares, que vêm nestes achados milenares um possível empecilho para a sua negociata desregrada.
Se for para desaparecer "antes elas que o meu..." é a lógica que tem prevalecido no espaço nacional, com toda a complacência e desinteresse, dir-se-ia mais que suspeito, dos poderes, locais e centrais.

Dado que neste país o poder judicial condena mais facilmente quem acusa eminências pardas, do que quem destrói património histórico, a situação aconselha que quem descobrir alguma coisa faz melhor em guardar a descoberta para si... ou especialmente, a não revelar o local onde encontrou, sob pena de alguns anos depois nada restar... seja pelo método de esfregar com gasóleo e bujardar, seja por outro método qualquer.

O referido artigo ainda revela outras inscrições, não apenas as de Ribeiro das Casas, mas também alguns petróglifos da zona do Vale do Tejo. Para esse efeito, ver por exemplo o site:
http://tejo-rupestre.com
Petroglifo circular no topo da rocha, em São Simão - Vale do Tejo.
Melhor sorte parece ter tido Anta Pintada de Antelas (indicada em comentário do José Manuel), cuja inscrição rupestre terá aguentado milénios sem nenhuma ordem destruidora, e apresenta até um bom estado de conservação
Anta pintada de Antelas - pintura rupestre num dolmen em Portugal.
Neste caso de Antelas, e ao contrário de Ribeiro das Casas, voltamos a ver os motivos geométricos, e não a representação de figuras animais. Nestes casos é ainda mais difícil uma possível interpretação do significado, ainda que não seja de excluir de novo a hipótese de poder ser um mapa local.

Igualmente significativo, e também pouco conhecido, é o caso da Lapa dos Louções, que tal como a Lapa dos Gaivões está situada em Arronches:
Lapa dos Louções em Arronches
Há uma pequena catalogação de diversos locais com pinturas rupestres, num total de 65, a maioria dos quais descobertos nos últimos 20 anos (ver publicação de Andrea Martins), o que mostra que apesar de todas as bujardas e gasóleo, não são assim tão escassos os vestígios que se conseguiram encontrar.

No final de contas, dada a má vontade dos poderes centrais, e de alguns poderes locais, o que será talvez mais notável é que ainda existam pinturas rupestres e petróglifos para serem vistos...
Talvez com a moda do interesse turístico, e dada a pobreza nacional comparada com Espanha, se vislumbre futuro numa negociata mais virada para a preservação das pinturas do que para a sua destruição corriqueira.


Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 05:52

Para entendermos melhor a diferença entre o que se passa do lado de cá da fronteira (onde são raros os vestígios rupestres), e o que se passa do lado espanhol (onde abundam), basta atender ao que se passou em Ribeiro das Casas.

Resumindo a história (que se encontra descrita num artigo de M. V. Gomes e N. Neto de 2010)... em 2002 foi reportada a seguinte pintura rupestre, do que aparentava ser um cavalo em corrida:

Poucos anos depois, a pintura foi destruída, conforme explicado pelos autores:
A destruição da pintura zoomórfica que referimos, ocorrida em 2009, dada a completa indiferença demonstrada perante o seu achado, tanto pelos órgãos de poder local como pela tutela do património, deu então lugar a diversas notícias na imprensa regional e nacional, tendo mesmo chegado aos jornais televisivos, onde ingloriamente se atribuiu significativa importância àquele testemunho arqueológico, apesar de sem quase se dizer porquê, ou só porque teria cerca de 5.000 anos.
(...)
Muito próximo dos painéis com pinturas existe exploração de pedra, que tem aberto extensas crateras no terreno e em muito alterado a paisagem, conferindo-lhe aspecto desértico.
Segundo se julga, foi no intuito de não prejudicar aquela actividade económica que a principal imagem pintada ali existente foi irremediavelmente destruída, sendo primeiro esfregada, com gasóleo (?), e depois bujardada.
Portanto, para além de outras razões, menos claras, há o simples interesse económico de particulares, que vêm nestes achados milenares um possível empecilho para a sua negociata desregrada.
Se for para desaparecer "antes elas que o meu..." é a lógica que tem prevalecido no espaço nacional, com toda a complacência e desinteresse, dir-se-ia mais que suspeito, dos poderes, locais e centrais.

Dado que neste país o poder judicial condena mais facilmente quem acusa eminências pardas, do que quem destrói património histórico, a situação aconselha que quem descobrir alguma coisa faz melhor em guardar a descoberta para si... ou especialmente, a não revelar o local onde encontrou, sob pena de alguns anos depois nada restar... seja pelo método de esfregar com gasóleo e bujardar, seja por outro método qualquer.

O referido artigo ainda revela outras inscrições, não apenas as de Ribeiro das Casas, mas também alguns petróglifos da zona do Vale do Tejo. Para esse efeito, ver por exemplo o site:
http://tejo-rupestre.com
Petroglifo circular no topo da rocha, em São Simão - Vale do Tejo.
Melhor sorte parece ter tido Anta Pintada de Antelas (indicada em comentário do José Manuel), cuja inscrição rupestre terá aguentado milénios sem nenhuma ordem destruidora, e apresenta até um bom estado de conservação
Anta pintada de Antelas - pintura rupestre num dolmen em Portugal.
Neste caso de Antelas, e ao contrário de Ribeiro das Casas, voltamos a ver os motivos geométricos, e não a representação de figuras animais. Nestes casos é ainda mais difícil uma possível interpretação do significado, ainda que não seja de excluir de novo a hipótese de poder ser um mapa local.

Igualmente significativo, e também pouco conhecido, é o caso da Lapa dos Louções, que tal como a Lapa dos Gaivões está situada em Arronches:
Lapa dos Louções em Arronches
Há uma pequena catalogação de diversos locais com pinturas rupestres, num total de 65, a maioria dos quais descobertos nos últimos 20 anos (ver publicação de Andrea Martins), o que mostra que apesar de todas as bujardas e gasóleo, não são assim tão escassos os vestígios que se conseguiram encontrar.

No final de contas, dada a má vontade dos poderes centrais, e de alguns poderes locais, o que será talvez mais notável é que ainda existam pinturas rupestres e petróglifos para serem vistos...
Talvez com a moda do interesse turístico, e dada a pobreza nacional comparada com Espanha, se vislumbre futuro numa negociata mais virada para a preservação das pinturas do que para a sua destruição corriqueira.


Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 05:52

Há uma questão relativa aos Neandertais que é razoavelmente estranha - não se encontrarem ossadas suas em paragens africanas. A questão é tanto mais estranha, porque como o nível da água estaria uns 200 metros mais baixo, permitiria uma passagem facilitada do Estreito de Gibraltar, podendo mesmo supor-se que a passagem pode ter chegado a estar fechada. 
No entanto, apesar de Gibraltar ter sido um dos primeiros locais onde se encontraram Neandertais, falando-se mesmo em "Neandertais de Gibraltar", é curioso que não tivessem dado um pequeno salto que os levaria ao Norte de África.
Convém recordar que nessa altura da Idade do Gelo, é considerado que a região do Saara seria bastante fértil, e com comida abundante, ou seja, muito diferente do deserto que se tornaria depois.

Uma hipótese possível é que os Neandertais não fossem adeptos de aventuras aquáticas... algo que acontece com todos os grandes primatas, excepto os humanos, ou melhor, os Sapiens. 
Como o Estreito de Gibraltar tem uma profundidade que varia entre 200 e 400 metros, poderia estar no limite de passagem, e bastaria sofrer algumas oscilações para permitir ou vedar a ligação. Se os Neandertais não se aventurassem em expedições aquáticas, isso seria justificação suficiente, mesmo que a margem oposta fosse bem visível.

Mas queria juntar aqui algumas pinturas rupestres que se encontram em Portugal, e que fazem parte de outra particularidade, que já referimos - a abundância de cavernas com pinturas em Espanha, parece que termina misteriosamente, ao passar-se a fronteira para Portugal.
Os exemplos são muito escassos, e agradeço que quem souber de mais, os indique.

Lapa dos Gaviões
Sobre a Lapa dos Gaviões já falámos, e juntamos aqui apenas para não a esquecer no conjunto.

São as três seguintes, que não conhecia, que foram alvo de uma publicação "recente", associada à tese de mestrado da arqueóloga Luísa Teixeira, natural de Alijó.
Já sabemos que o passado não tem vida fácil em Portugal, mas algumas destas pinturas rupestres foram identificadas há muito tempo... e para o mal e para o bem, foram deixadas como estavam, com a degradação natural de estarem expostas ao tempo.

Cachão da Rapa
Uma grande laje de pedra está no Cachão da Rapa, junto ao rio Douro, bastante próximo da linha de caminho de ferro. Os seus desenhos foram transcritos em 1735 pelo padre D. Jerónimo Contador de Argote, ou seja, há quase 300 anos... mas apesar desse interesse, depois da lavagem cerebral imposta pelo Marquês de Pombal, praticamente passam por desenhos desconhecidos da população, ainda hoje.
Estas pinturas chegaram a ser dadas como desaparecidas, vindo depois a ser reencontradas c. 1930,
Também assim podemos ver que o caso das figuras de Foz Côa foi um caso singular na preservação e divulgação do passado histórico em Portugal. 
Ainda assim, em 1943 foram classificadas como Monumento Nacional, caso diferente do que veremos de seguida.
Quanto às inscrições, estão agora muito esbatidas, mas ainda se nota uma invulgar composição de cores em padrões geométricos, que não sendo escrita, é muito provável que se trate de uma planta de antiga aldeia pré-histórica (com datação atribuída ao 2º ou 3º milénio a.C.). 
No entanto, esta hipótese de ser uma planta é mera suposição minha, já que como é óbvio, oficialmente não é dada qualquer interpretação às figuras desenhadas.

Cachão da Rapa pelo Contador de Argote e reencontro das inscrições nos anos 30.

 
Fotografias actuais das pinturas (ver).



Pala Pinta (no concelho de Alijó)
Neste outro caso houve também uma proposta recente de classificar o Abrigo rupestre de Pala Pinta como Monumento Nacional. Porém, conforme se lê na página da Direcção Geral do Património Cultural (a que remete o primeiro link): 
"Despacho de 20-02-2012 da subdiretora do IGESPAR, I.P. a determinar a reanálise da categoria de classificação pelo órgão consultivo, por considerar a classificação como MN desadequada "
Portanto, em vez de Monumento Nacional, Pala Pinta foi classificada apenas como "Sítio de Interesse Público". 
No entanto, podemos ver que as inscrições são notáveis, únicas em Portugal (que eu saiba), revelando aquilo que pode ser considerado representações solares, ou a isso se assemelhando.
Abrigo rupestre de Pala Pinta - inscrições que se assemelham a "sóis".
Penas Róias (na área do Castelo Templário de Penas Róias)
Terminamos com inscrições rupestres que estão num abrigo próximo do antigo Castelo Templário de Penas Róias, um dos castelos que se encontra desenhado no Livro de Fortalezas de Duarte d'Armas.
Será especulativo fazer a associação que a presença de um Castelo Templário naquelas paragens, fora de perigo de incursões árabes, estivesse ligada à presença dos vestígios rupestres. No entanto, convém não esquecer que os principais locais templários, antes da sua extinção, estavam localizados no sul de França, zona especialmente rica em vestígios rupestres.
Sobre este local não encontrei nenhuma tentativa de classificação - nem como monumento, nem como sítio de interesse público... aparentemente o que parece haver notoriamente é uma total falta de interesse dos responsáveis. A única coisa que fazem para proteger os locais, parece ser mantê-los fora de qualquer divulgação ao público.
As formas desenhadas, em vermelho ocre, podem ter alguma interpretação como figuras antropomórficas, mas também podem tratar-se de símbolos complexos.
Ruínas do Castelo Templário de Penas Róias
Pinturas rupestres num abrigo de Penas Róias. (imagens)
Haveria ainda que fazer pelo menos referência à Gruta do Escoural que se mantém como o único caso de vestígio de pinturas rupestres dentro de uma gruta, e não apenas como inscrições em abrigos, ao ar livre, havendo ainda notáveis inscrições nos menires e nalgumas pedras de antas. 
Se foram encontrados outros vestígios em grutas, parece que ao contrário de Espanha, deste lado da fronteira não se encontra sinal de vida.

Finalmente deixo um vídeo feito por Luísa Teixeira, relativo a estes: 
"Abrigos com pinturas rupestres de Trás-os-Montes e Alto Douro"


Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 22:45

Há uma questão relativa aos Neandertais que é razoavelmente estranha - não se encontrarem ossadas suas em paragens africanas. A questão é tanto mais estranha, porque como o nível da água estaria uns 200 metros mais baixo, permitiria uma passagem facilitada do Estreito de Gibraltar, podendo mesmo supor-se que a passagem pode ter chegado a estar fechada. 
No entanto, apesar de Gibraltar ter sido um dos primeiros locais onde se encontraram Neandertais, falando-se mesmo em "Neandertais de Gibraltar", é curioso que não tivessem dado um pequeno salto que os levaria ao Norte de África.
Convém recordar que nessa altura da Idade do Gelo, é considerado que a região do Saara seria bastante fértil, e com comida abundante, ou seja, muito diferente do deserto que se tornaria depois.

Uma hipótese possível é que os Neandertais não fossem adeptos de aventuras aquáticas... algo que acontece com todos os grandes primatas, excepto os humanos, ou melhor, os Sapiens. 
Como o Estreito de Gibraltar tem uma profundidade que varia entre 200 e 400 metros, poderia estar no limite de passagem, e bastaria sofrer algumas oscilações para permitir ou vedar a ligação. Se os Neandertais não se aventurassem em expedições aquáticas, isso seria justificação suficiente, mesmo que a margem oposta fosse bem visível.

Mas queria juntar aqui algumas pinturas rupestres que se encontram em Portugal, e que fazem parte de outra particularidade, que já referimos - a abundância de cavernas com pinturas em Espanha, parece que termina misteriosamente, ao passar-se a fronteira para Portugal.
Os exemplos são muito escassos, e agradeço que quem souber de mais, os indique.

Lapa dos Gaviões
Sobre a Lapa dos Gaviões já falámos, e juntamos aqui apenas para não a esquecer no conjunto.

São as três seguintes, que não conhecia, que foram alvo de uma publicação "recente", associada à tese de mestrado da arqueóloga Luísa Teixeira, natural de Alijó.
Já sabemos que o passado não tem vida fácil em Portugal, mas algumas destas pinturas rupestres foram identificadas há muito tempo... e para o mal e para o bem, foram deixadas como estavam, com a degradação natural de estarem expostas ao tempo.

Cachão da Rapa
Uma grande laje de pedra está no Cachão da Rapa, junto ao rio Douro, bastante próximo da linha de caminho de ferro. Os seus desenhos foram transcritos em 1735 pelo padre D. Jerónimo Contador de Argote, ou seja, há quase 300 anos... mas apesar desse interesse, depois da lavagem cerebral imposta pelo Marquês de Pombal, praticamente passam por desenhos desconhecidos da população, ainda hoje.
Estas pinturas chegaram a ser dadas como desaparecidas, vindo depois a ser reencontradas c. 1930,
Também assim podemos ver que o caso das figuras de Foz Côa foi um caso singular na preservação e divulgação do passado histórico em Portugal. 
Ainda assim, em 1943 foram classificadas como Monumento Nacional, caso diferente do que veremos de seguida.
Quanto às inscrições, estão agora muito esbatidas, mas ainda se nota uma invulgar composição de cores em padrões geométricos, que não sendo escrita, é muito provável que se trate de uma planta de antiga aldeia pré-histórica (com datação atribuída ao 2º ou 3º milénio a.C.). 
No entanto, esta hipótese de ser uma planta é mera suposição minha, já que como é óbvio, oficialmente não é dada qualquer interpretação às figuras desenhadas.

Cachão da Rapa pelo Contador de Argote e reencontro das inscrições nos anos 30.

 
Fotografias actuais das pinturas (ver).



Pala Pinta (no concelho de Alijó)
Neste outro caso houve também uma proposta recente de classificar o Abrigo rupestre de Pala Pinta como Monumento Nacional. Porém, conforme se lê na página da Direcção Geral do Património Cultural (a que remete o primeiro link): 
"Despacho de 20-02-2012 da subdiretora do IGESPAR, I.P. a determinar a reanálise da categoria de classificação pelo órgão consultivo, por considerar a classificação como MN desadequada "
Portanto, em vez de Monumento Nacional, Pala Pinta foi classificada apenas como "Sítio de Interesse Público". 
No entanto, podemos ver que as inscrições são notáveis, únicas em Portugal (que eu saiba), revelando aquilo que pode ser considerado representações solares, ou a isso se assemelhando.
Abrigo rupestre de Pala Pinta - inscrições que se assemelham a "sóis".
Penas Róias (na área do Castelo Templário de Penas Róias)
Terminamos com inscrições rupestres que estão num abrigo próximo do antigo Castelo Templário de Penas Róias, um dos castelos que se encontra desenhado no Livro de Fortalezas de Duarte d'Armas.
Será especulativo fazer a associação que a presença de um Castelo Templário naquelas paragens, fora de perigo de incursões árabes, estivesse ligada à presença dos vestígios rupestres. No entanto, convém não esquecer que os principais locais templários, antes da sua extinção, estavam localizados no sul de França, zona especialmente rica em vestígios rupestres.
Sobre este local não encontrei nenhuma tentativa de classificação - nem como monumento, nem como sítio de interesse público... aparentemente o que parece haver notoriamente é uma total falta de interesse dos responsáveis. A única coisa que fazem para proteger os locais, parece ser mantê-los fora de qualquer divulgação ao público.
As formas desenhadas, em vermelho ocre, podem ter alguma interpretação como figuras antropomórficas, mas também podem tratar-se de símbolos complexos.
Ruínas do Castelo Templário de Penas Róias
Pinturas rupestres num abrigo de Penas Róias. (imagens)
Haveria ainda que fazer pelo menos referência à Gruta do Escoural que se mantém como o único caso de vestígio de pinturas rupestres dentro de uma gruta, e não apenas como inscrições em abrigos, ao ar livre, havendo ainda notáveis inscrições nos menires e nalgumas pedras de antas. 
Se foram encontrados outros vestígios em grutas, parece que ao contrário de Espanha, deste lado da fronteira não se encontra sinal de vida.

Finalmente deixo um vídeo feito por Luísa Teixeira, relativo a estes: 
"Abrigos com pinturas rupestres de Trás-os-Montes e Alto Douro"


Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 22:45

Atlatl é a designação azteca para um propulsor de lanças encontrado também com relativa abundância na Idade do Gelo, no final do Paleolítico.
Há uns belos exemplares (ver por exemplo link indicado por José Manuel), como o caso dos encontrados na gruta Mas d'Azil (como habitual, no sul de França):
Atlatl (propulsor) encontrado em Mas d'Azil, e exemplo de utilização (em baixo).

Estes propulsores inovaram bastante na forma de lançar... as lanças.
Na prática funcionavam como um acrescento de braço, suplantando capacidades de indivíduos maiores, ou com braços maiores, na possibilidade de alcançar maiores distâncias. 
Este é um exemplo de como o engenho humano poderia suplantar uma vantagem genética.
A natureza poderia querer definir, no seu processo selectivo de ADN, que Golias iriam ter vantagem sobre Davids, mas conforme é ilustrado no episódio bíblico, a Terra não iria ser de gigantes, iria ser de humanos manhosos, capazes de usar novas armas e engodos para que o engenho suplantasse os atributos naturais. 
É claro que este é só um dos muitos aspectos em que isso se manifestou, e nem todos esses aspectos foram honrados, porque o engano e o roubo serviram também vantagens competitivas nessa evolução. Só que as sociedades também evoluíram, e sociedades em que todos os membros eram vigaristas ou ladrões teriam um rápido fim caótico, prevalecendo as que definiram esse privilégio apenas para uma reduzida elite, por um lado, e para marginais, por outro.

Outro aspecto que se salienta nestes atlatl é o excepcional trabalho artístico de escultura, que usa e aproveita o formato do chifre de veado, de que eram feitos. Portanto, estes são dos primeiros trabalhos onde se conjuga utilidade com estética, mesmo que a estética visasse algum propósito religioso - ou seja, poderia pensar-se que as figuras dos animais visavam um bom augúrio para a caçada.

Estes atlatl acabaram por desaparecer nas civilizações europeias e asiáticas, enquanto se mantiveram em uso corrente do outro lado do Atlântico, em particular entre os Aztecas. No entanto, a sua eficácia enquanto arma de arremesso levou até a que fosse considerada como 
"Kalashnikov da Idade da Pedra"
Os espanhóis, desconhecendo a função do Atlatl, entenderam alguns belos objectos ornamentados como um bastão de comando... e será de ponderar se o simbólico bastão não teria ganho essa importância devido a uma utilidade então perdida na Europa.
Relativamente ao arco e flecha, do outro lado do Atlântico, estes atlantes aztecas usavam os atlatles com a capacidade de enviar lanças mais pesadas, o que teria sido uma vantagem razoável em tempos que não havia poder de fogo, nem armaduras de metal, na Europa.

Uma consideração lateral tem a ver com o nome Atlatl ser particularmente semelhante a Atlas, o titã que deu nome ao Atlântico, separando os Aztecas dos Europeus. Aliás só há uma outra palavra começada por Atl (típico som azteca) que é a palavra Atleta, o que designava na Grécia os desportistas que competiam por um prémio. Ambas estas palavras gregas são consideradas "de origem desconhecida".

Sendo o lançamento do dardo uma modalidade olímpica da Grécia Antiga, o nome "dardo" apesar de ser usado na Europa, não tem origem grega ou romana. Raphael Bluteau recusava uma associação do nome aos Dardânios ou ao Dardanelos, associação que parecia ser corrente no Séc. XVII.
Os Romanos distinguiam o Pilum do Jaculum, consoante a lança fosse para atirar, ou para manter... mas curiosamente as Pila (plural de pilum) é que passaram a ser entendidas para arremesso, enquanto o Jaculum era suposto ser mantido erguido (um contra-senso para a etimologia de ejacular).  
Com alguma semelhança aos atlatles foi reportado que os gregos e as tribos ibéricas usavam contra os romanos uma variante com corda, conhecida como Amentum, algo que provocava uma rotação da lança, o que conferia maior estabilidade no voo, podendo aumentar a distância de 20 para 80 metros.

Interessa que, apesar de se ter mantido nas tropas o uso tradicional de lanceiros (até que as baionetas os tornaram obsoletos), ou de archeiros, por alguma razão o antigo uso dos atlatles deixou de ser considerado, especialmente durante a Idade Média.
E ninguém se terá lembrado de o reinventar, dado o espanto que levou até à confusão com um bastão?
Falta pois falar nos aborígenes australianos.
Na Austrália também se usou o propulsor, mas não era chamado atlatl, o nome dado pelos aborígenes é woomera, que de certa maneira é uma extensão do úmero, o osso do braço, mas que normalmente é feito de madeira.

Acresce que uma outra arma típica dos aborígenes, e bastante mais conhecida, é o bumerangue...
Ora, poderá ter sido uma invenção australiana, mas tendo-se encontrado uma colecção de bumerangues guardada pelo faraó Tutankamon, e até mesmo um bumerangue com 20 mil anos, feito de dente de mamute, encontrado na Polónia... conclui-se que mesmo este tipo de arma, que parecia tão característica dos aborígenes, pode ter tido um uso mais difundido na Antiguidade. Acresce que até entre os índios americanos Navajo o bumerangue também era usado como arma de caça.

Em resumo, as informações disponíveis parecem mostrar que havia, até à época da Idade do Gelo, uma circulação de informação, de partilha de conhecimento, à escala mundial - da América até à Austrália. Também podemos considerar que foram invenções que surgiram independentemente, em diversas partes do globo, mas isso não me parece tão natural neste caso dos atlatles ou dos bumerangues, porque serviram depois para algum espanto dos europeus. Aliás, esse argumento também serviria para os aborígenes terem descoberto o uso de metais, o que não aconteceu.

Para além disso, ocorreu depois uma possível proibição de utilização de certas armas... algo que só pode ser entendido como "muito estranho", em situação de guerra. 
O caso do atlatl não é o mais estranho... nem nada que se pareça!
Por exemplo, aquando da invenção dos mosquetes, era perdido imenso tempo a carregar a arma... e estranhamente, ninguém se terá lembrado de colocar dois ou mais canos, permitindo um grande aumento de eficácia.
Apesar de os besteiros usarem também um simples arco e flecha, na China há mais de 2 mil anos foram inventadas bestas de repetição... autênticas metralhadoras de flechas, que permitiam disparar 10 flechas em 15 segundos, ao invés da normal situação de disparar 2 flechas por minuto (mas é claro, com menor precisão e potência que um simples arco).
Houve uma série de invenções que simplesmente foram desconsideradas, ou rejeitadas, e isto para não falar no caso do barco a vapor de Garay, apresentado em 1543, ou do mecanismo de relógio de Anticítera, conhecido dos Gregos, e outras invenções antigas de que já falámos. 

Mesmo perante os inimigos mais ferozes e riscos de aniquilação, o registo de batalhas da Antiguidade e Idade Média parece denotar sempre um certo equilíbrio de processos e técnicas, onde a grande diferença era marcada essencialmente pelo número de tropas em combate e não pela tecnologia.
A diferença só seria avassaladora quando começou a Idade Moderna, com os descobrimentos e colonização de povos com arsenal muito primitivo... que não tinham evoluído desde o Paleolítico!


Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 05:19

Atlatl é a designação azteca para um propulsor de lanças encontrado também com relativa abundância na Idade do Gelo, no final do Paleolítico.
Há uns belos exemplares (ver por exemplo link indicado por José Manuel), como o caso dos encontrados na gruta Mas d'Azil (como habitual, no sul de França):
Atlatl (propulsor) encontrado em Mas d'Azil, e exemplo de utilização (em baixo).

Estes propulsores inovaram bastante na forma de lançar... as lanças.
Na prática funcionavam como um acrescento de braço, suplantando capacidades de indivíduos maiores, ou com braços maiores, na possibilidade de alcançar maiores distâncias. 
Este é um exemplo de como o engenho humano poderia suplantar uma vantagem genética.
A natureza poderia querer definir, no seu processo selectivo de ADN, que Golias iriam ter vantagem sobre Davids, mas conforme é ilustrado no episódio bíblico, a Terra não iria ser de gigantes, iria ser de humanos manhosos, capazes de usar novas armas e engodos para que o engenho suplantasse os atributos naturais. 
É claro que este é só um dos muitos aspectos em que isso se manifestou, e nem todos esses aspectos foram honrados, porque o engano e o roubo serviram também vantagens competitivas nessa evolução. Só que as sociedades também evoluíram, e sociedades em que todos os membros eram vigaristas ou ladrões teriam um rápido fim caótico, prevalecendo as que definiram esse privilégio apenas para uma reduzida elite, por um lado, e para marginais, por outro.

Outro aspecto que se salienta nestes atlatl é o excepcional trabalho artístico de escultura, que usa e aproveita o formato do chifre de veado, de que eram feitos. Portanto, estes são dos primeiros trabalhos onde se conjuga utilidade com estética, mesmo que a estética visasse algum propósito religioso - ou seja, poderia pensar-se que as figuras dos animais visavam um bom augúrio para a caçada.

Estes atlatl acabaram por desaparecer nas civilizações europeias e asiáticas, enquanto se mantiveram em uso corrente do outro lado do Atlântico, em particular entre os Aztecas. No entanto, a sua eficácia enquanto arma de arremesso levou até a que fosse considerada como 
"Kalashnikov da Idade da Pedra"
Os espanhóis, desconhecendo a função do Atlatl, entenderam alguns belos objectos ornamentados como um bastão de comando... e será de ponderar se o simbólico bastão não teria ganho essa importância devido a uma utilidade então perdida na Europa.
Relativamente ao arco e flecha, do outro lado do Atlântico, estes atlantes aztecas usavam os atlatles com a capacidade de enviar lanças mais pesadas, o que teria sido uma vantagem razoável em tempos que não havia poder de fogo, nem armaduras de metal, na Europa.

Uma consideração lateral tem a ver com o nome Atlatl ser particularmente semelhante a Atlas, o titã que deu nome ao Atlântico, separando os Aztecas dos Europeus. Aliás só há uma outra palavra começada por Atl (típico som azteca) que é a palavra Atleta, o que designava na Grécia os desportistas que competiam por um prémio. Ambas estas palavras gregas são consideradas "de origem desconhecida".

Sendo o lançamento do dardo uma modalidade olímpica da Grécia Antiga, o nome "dardo" apesar de ser usado na Europa, não tem origem grega ou romana. Raphael Bluteau recusava uma associação do nome aos Dardânios ou ao Dardanelos, associação que parecia ser corrente no Séc. XVII.
Os Romanos distinguiam o Pilum do Jaculum, consoante a lança fosse para atirar, ou para manter... mas curiosamente as Pila (plural de pilum) é que passaram a ser entendidas para arremesso, enquanto o Jaculum era suposto ser mantido erguido (um contra-senso para a etimologia de ejacular).  
Com alguma semelhança aos atlatles foi reportado que os gregos e as tribos ibéricas usavam contra os romanos uma variante com corda, conhecida como Amentum, algo que provocava uma rotação da lança, o que conferia maior estabilidade no voo, podendo aumentar a distância de 20 para 80 metros.

Interessa que, apesar de se ter mantido nas tropas o uso tradicional de lanceiros (até que as baionetas os tornaram obsoletos), ou de archeiros, por alguma razão o antigo uso dos atlatles deixou de ser considerado, especialmente durante a Idade Média.
E ninguém se terá lembrado de o reinventar, dado o espanto que levou até à confusão com um bastão?
Falta pois falar nos aborígenes australianos.
Na Austrália também se usou o propulsor, mas não era chamado atlatl, o nome dado pelos aborígenes é woomera, que de certa maneira é uma extensão do úmero, o osso do braço, mas que normalmente é feito de madeira.

Acresce que uma outra arma típica dos aborígenes, e bastante mais conhecida, é o bumerangue...
Ora, poderá ter sido uma invenção australiana, mas tendo-se encontrado uma colecção de bumerangues guardada pelo faraó Tutankamon, e até mesmo um bumerangue com 20 mil anos, feito de dente de mamute, encontrado na Polónia... conclui-se que mesmo este tipo de arma, que parecia tão característica dos aborígenes, pode ter tido um uso mais difundido na Antiguidade. Acresce que até entre os índios americanos Navajo o bumerangue também era usado como arma de caça.

Em resumo, as informações disponíveis parecem mostrar que havia, até à época da Idade do Gelo, uma circulação de informação, de partilha de conhecimento, à escala mundial - da América até à Austrália. Também podemos considerar que foram invenções que surgiram independentemente, em diversas partes do globo, mas isso não me parece tão natural neste caso dos atlatles ou dos bumerangues, porque serviram depois para algum espanto dos europeus. Aliás, esse argumento também serviria para os aborígenes terem descoberto o uso de metais, o que não aconteceu.

Para além disso, ocorreu depois uma possível proibição de utilização de certas armas... algo que só pode ser entendido como "muito estranho", em situação de guerra. 
O caso do atlatl não é o mais estranho... nem nada que se pareça!
Por exemplo, aquando da invenção dos mosquetes, era perdido imenso tempo a carregar a arma... e estranhamente, ninguém se terá lembrado de colocar dois ou mais canos, permitindo um grande aumento de eficácia.
Apesar de os besteiros usarem também um simples arco e flecha, na China há mais de 2 mil anos foram inventadas bestas de repetição... autênticas metralhadoras de flechas, que permitiam disparar 10 flechas em 15 segundos, ao invés da normal situação de disparar 2 flechas por minuto (mas é claro, com menor precisão e potência que um simples arco).
Houve uma série de invenções que simplesmente foram desconsideradas, ou rejeitadas, e isto para não falar no caso do barco a vapor de Garay, apresentado em 1543, ou do mecanismo de relógio de Anticítera, conhecido dos Gregos, e outras invenções antigas de que já falámos. 

Mesmo perante os inimigos mais ferozes e riscos de aniquilação, o registo de batalhas da Antiguidade e Idade Média parece denotar sempre um certo equilíbrio de processos e técnicas, onde a grande diferença era marcada essencialmente pelo número de tropas em combate e não pela tecnologia.
A diferença só seria avassaladora quando começou a Idade Moderna, com os descobrimentos e colonização de povos com arsenal muito primitivo... que não tinham evoluído desde o Paleolítico!


Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 05:19

Vero Beach, Florida. Um colector de fósseis reparou em 2009 que, um osso que tinha recolhido dois anos antes, continha um desenho de um mamute.
O achado foi para o Smithsonian que validou a descoberta, com anúncio público em 2011:

BONE FRAGMENT IS ONLY ICE AGE ARTWORK FROM AMERICA TO SHOW A “PROBOSCIDEAN”

Desenho de um mamute inscrito num osso encontrado na América.
Osso onde se vê ao centro o desenho do mamute.
Se repararmos bem na imagem, vemos um traço no desenho que é muito semelhante aos que encontramos nas inscrições rupestres na Europa.
Portanto, como os mamutes se extinguiram em ambos os continentes no final da Idade do Gelo, estamos provavelmente a falar de uma ligação directa entre os povos que fizeram este desenho na Flórida e os que faziam os mesmos desenhos na Espanha e em França.
Ou seja, mesmo querendo excluir uma viagem marítima, haveria uma passagem pela ponte de gelo que ligaria os dois continentes, e que justificaria sem problemas este achado. 

No entanto, para a comunidade troglodita que acha que Colombo foi o primeiro a chegar à América vindo da Europa, este achado revelou-se um problema difícil de contornar.
Poderiam ter argumentado que o osso tinha ido parar à costa da Flórida arrastado por alguma corrente mirabolante... só que Vero Beach tinha sido um local que já tinha sido alvo de explorações há 100 anos, por Elias Sellards, onde tinham sido encontrado mesmo ossadas humanas, e falara-se então do Vero Man. A história e controvérsia está bastante bem detalhada no site Don's Maps:
http://www.donsmaps.com/vero.html

Foi aí que fui encontrar esta "novidade", cinco anos após a comunicação pública do Smithsonian, divulgação que passou ao lado de tudo o que é tablóide nacional ou internacional, e também ao lado da malta que passa a vida a encher os facebooks de grandes novidades (encontrei apenas uma referência cruzada num artigo do Herald Tribune de 2010 - ainda antes do reconhecimento pelo Smithsonian). 
Mexer com a descoberta da América por Colombo é sempre complicado... 

Numa época de fácil comunicação, se fosse o diz-que-disse habitual, ou a foto de um gatinho fofo, teria rapidamente agregado uma rápida comunicação no espaço de horas... tratando-se de um assunto mais inconveniente, pois temos que contar com anos, neste caso com 5 anos, até dar com isto, o que nem é mau... será mais ou menos o tempo que as notícias deveriam correr mundo no Paleolítico.

E para vermos que nem é mau, basta atentar num dos 3 comentários que se lê na página do Smithsonian (esquecendo o trombudo que não consegue ver nem tromba, nem animal, e o outro que lhe tenta explicar):
Wrong! There is a piece of artwork that was found in Delaware which depicts a mastodon dating back to at least the Clovis period, and it was discovered almost a hundred years ago.
A acreditar neste comentário, e tendo verificado que houve de facto achados que mostram a caça de mastodontes na zona do Rio Delaware, haverá outros desenhos de mamutes, encontrados há perto de 100 anos... mas que não serão agora do conhecimento público. Como, ao que parece, os caçadores de Foz Côa importavam sílex da zona de Lisboa, creio que 100 anos era tempo exagerado de comunicação, mesmo para os standards do Paleolítico (lembrando que, caminhando a passo, se poderia ir da Europa à China em menos de um ano).

Acresce que esta descoberta também concorda, de certa maneira, com os estudos de haplogrupos, que mostraram haver entre os índios da zona do Canadá uma dominância do R1, que é o dominante na Europa, e característico da cultura indo-europeia. 

A Flórida, no tempo da Idade do Gelo não seria zona costeira... a costa estaria milhares de quilómetros avançada, e por isso este achado em Vero Beach deve ser encarado como uma descoberta no interior da antiga América. 
Havendo desenhos desta qualidade em ossos, tal como existem na Europa, será de considerar que possam igualmente existir pinturas rupestres em cavernas americanas... mas dada a política de ocultação, isso seria tão difícil vir a público nos EUA, quanto o é em Portugal.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 03:37

Vero Beach, Florida. Um colector de fósseis reparou em 2009 que, um osso que tinha recolhido dois anos antes, continha um desenho de um mamute.
O achado foi para o Smithsonian que validou a descoberta, com anúncio público em 2011:

BONE FRAGMENT IS ONLY ICE AGE ARTWORK FROM AMERICA TO SHOW A “PROBOSCIDEAN”

Desenho de um mamute inscrito num osso encontrado na América.
Osso onde se vê ao centro o desenho do mamute.
Se repararmos bem na imagem, vemos um traço no desenho que é muito semelhante aos que encontramos nas inscrições rupestres na Europa.
Portanto, como os mamutes se extinguiram em ambos os continentes no final da Idade do Gelo, estamos provavelmente a falar de uma ligação directa entre os povos que fizeram este desenho na Flórida e os que faziam os mesmos desenhos na Espanha e em França.
Ou seja, mesmo querendo excluir uma viagem marítima, haveria uma passagem pela ponte de gelo que ligaria os dois continentes, e que justificaria sem problemas este achado. 

No entanto, para a comunidade troglodita que acha que Colombo foi o primeiro a chegar à América vindo da Europa, este achado revelou-se um problema difícil de contornar.
Poderiam ter argumentado que o osso tinha ido parar à costa da Flórida arrastado por alguma corrente mirabolante... só que Vero Beach tinha sido um local que já tinha sido alvo de explorações há 100 anos, por Elias Sellards, onde tinham sido encontrado mesmo ossadas humanas, e falara-se então do Vero Man. A história e controvérsia está bastante bem detalhada no site Don's Maps:
http://www.donsmaps.com/vero.html

Foi aí que fui encontrar esta "novidade", cinco anos após a comunicação pública do Smithsonian, divulgação que passou ao lado de tudo o que é tablóide nacional ou internacional, e também ao lado da malta que passa a vida a encher os facebooks de grandes novidades (encontrei apenas uma referência cruzada num artigo do Herald Tribune de 2010 - ainda antes do reconhecimento pelo Smithsonian). 
Mexer com a descoberta da América por Colombo é sempre complicado... 

Numa época de fácil comunicação, se fosse o diz-que-disse habitual, ou a foto de um gatinho fofo, teria rapidamente agregado uma rápida comunicação no espaço de horas... tratando-se de um assunto mais inconveniente, pois temos que contar com anos, neste caso com 5 anos, até dar com isto, o que nem é mau... será mais ou menos o tempo que as notícias deveriam correr mundo no Paleolítico.

E para vermos que nem é mau, basta atentar num dos 3 comentários que se lê na página do Smithsonian (esquecendo o trombudo que não consegue ver nem tromba, nem animal, e o outro que lhe tenta explicar):
Wrong! There is a piece of artwork that was found in Delaware which depicts a mastodon dating back to at least the Clovis period, and it was discovered almost a hundred years ago.
A acreditar neste comentário, e tendo verificado que houve de facto achados que mostram a caça de mastodontes na zona do Rio Delaware, haverá outros desenhos de mamutes, encontrados há perto de 100 anos... mas que não serão agora do conhecimento público. Como, ao que parece, os caçadores de Foz Côa importavam sílex da zona de Lisboa, creio que 100 anos era tempo exagerado de comunicação, mesmo para os standards do Paleolítico (lembrando que, caminhando a passo, se poderia ir da Europa à China em menos de um ano).

Acresce que esta descoberta também concorda, de certa maneira, com os estudos de haplogrupos, que mostraram haver entre os índios da zona do Canadá uma dominância do R1, que é o dominante na Europa, e característico da cultura indo-europeia. 

A Flórida, no tempo da Idade do Gelo não seria zona costeira... a costa estaria milhares de quilómetros avançada, e por isso este achado em Vero Beach deve ser encarado como uma descoberta no interior da antiga América. 
Havendo desenhos desta qualidade em ossos, tal como existem na Europa, será de considerar que possam igualmente existir pinturas rupestres em cavernas americanas... mas dada a política de ocultação, isso seria tão difícil vir a público nos EUA, quanto o é em Portugal.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 03:37

No ano passado publiquei 6 textos sobre o "Estado da arte": (1), (2), (3), (4), (5), (6); em que o sentido da expressão era duplo ou triplo... já que "estado da arte" é uma expressão genérica que significa o estado de um conhecimento, de uma certa arte, num dado momento, mas pode ainda referir-se ao estado em que está a arte, a arte pictórica por exemplo, ou ainda a um estado que é dominado pelo conhecimento artístico... como se fosse a arte a mandar no estado das coisas. 

Há um site muito bom, que reúne muita informação e imagens sobre arte rupestre:
Don's Maps (de Don Hitchcock)

No texto de Don Hitchcock dedicado à gruta de Combarelles, vêem-se imagens de grande qualidade, por exemplo, o grande realismo na cabeça de um cavalo:
 Heinrich Wendel (© The Wendel Collection, Neanderthal Museum)
 ... que está inserida num conjunto, que evidencia uma característica típica - sobreposição de imagens:
Desenho das inscrições feito em 1902 por Capitan e Breuil, onde se vê a cabeça do cavalo fotografada em cima.

Há aqui várias coisas que ocorrem tipicamente.
Uma delas é a enigmática sobreposição de desenhos, cujo propósito ou significado não parece fácil de decifrar. Ao visitar o museu de Foz Côa, o arqueólogo explicava que uma das placas que tinha acabado com as dúvidas acerca da datação das inscrições tinha sido uma placa enterrada cujo solo que a cobria fôra datado (por Carbono 14) como tendo 18 mil anos. Assim, a placa em causa não estava exposta há 18 mil anos, e as inscrições seriam obrigatoriamente mais antigas, e além disso dizia que as sobreposições de desenhos não tinham sido de várias épocas... o desenho tinha propositadamente as sobreposições!
Outra coisa que ocorre frequentemente é não identificarmos os desenhos... ou seja, pelo menos alguns deles, só os conseguimos ver depois de consultar a cábula auxiliar (ou nem isso). No desenho de 1902 aparece outra cabeça de cavalo, que não consigo ver na fotografia acima, ainda que pareça ter havido uma degradação da rocha.

Assim, poderá bem ocorrer que algumas das interpretações feitas pelos arqueólogos resultem de um fenómeno conhecido como pareidolia ou apofenia.
Ora, acresce que uma coisa conhecida é que os artistas rupestres usavam as saliências ou buracos na rocha como auxiliares para os seus desenhos.

Pois bem, para explicar melhor o ponto deste texto, vou buscar uma imagem de um silex que está na página de Don Hitchcock sobre o Abrigo de La Madeleine:
Sílex cortante, no abrigo de La Madeleine (França)
Depois de olhar para vários desenhos constantes em arte rupestre, os olhos ficam treinados para tentar decifrar imagens de bicharocos nas rochas, existam ou não... porque à partida não sabemos.
É claro que num sílex ninguém está à espera de ver nenhuma inscrição rupestre, mas olhando para este sílex pareceu-me que seria igualmente possível ver ali animais, ou mais precisamente, a partir das saliências do sílex fazer aparecer animais... que lá não estavam:
Animais que "aparecem" - uma sugestão de desenho, criada pelas saliências da pedra.
Ora, o ponto que aqui pretendo levantar é simples.
Seria esta a fonte de inspiração dos pintores rupestres?
Ou seja, vendo algumas linhas que lhes poderiam sugerir contornos de animais, seguiam essa via, e limitavam-se a adicionar alguns traços que permitissem completar o desenho?
Devo dizer que o resultado final surpreende, porque não teria sido capaz de fazer os mesmos desenhos se não tivesse usado as inspiradoras linhas já existentes no sílex.
Usei a imagem do sílex, porque se tivesse pegado numa imagem de uma rocha, colocar-se-ia a hipótese de ter havido ali um verdadeiro desenho, e neste caso isso parece-me fora de hipótese.

O que adianta esta suposição? 
Ainda que não se aplique certamente a todos os desenhos, no caso em que há sobreposição de imagens, isso poderia resultar de o pintor ver vários bichos aparecerem de diversos contornos que se sobrepunham. 
Considerando importante dar relevo a todos eles, para que aparecessem no campo, tal como apareciam na rocha, não via desvantagem nem confusão na sobreposição de imagens - muito pelo contrário, isso antevia uma abundância para a caça. O valor da superstição poderia ser diferente se fosse apenas um desenho resultante da sua imaginação (esses seriam arbitrários em número), ou se resultasse de identificar nas cavernas alguns escassos contornos que sugeriam o aparecimento de caça.

Esta hipótese de superstição daria ainda motivo para que não se desenhassem figuras humanas (algo que é raro, ou praticamente inexistente, na arte rupestre europeia). Porque, ao fazer aparecer pessoas, ainda que os contornos o sugerissem, isso significaria fazer aparecer desconhecidos, que poderiam ser competidores inimigos. 

Voltando à imagem do cavalo, podemos notar que há traços mais demarcados do que outros, que podem ter sido os traços originais, que serviram de inspiração à figura que se seguiu. Por outro lado, parece nunca ter havido uma tendência de alisar, de retirar confusão da rocha, para que uma imagem pretendida ficasse mais clara e liberta da confusão de riscos. Esta hipótese poderia ser melhor verificada, analisando se as pinturas seguem nalgumas linhas contornos pré-existentes (algo que está fora do meu alcance pessoal). 

Em paisagens graníticas, com grandes blocos de rocha, como é o caso da Beira Interior, há ainda formações naturais que sugerem diversas formas, e poderá ter ocorrido terem sido feitas pequenas alterações de escultura nas pedras para evidenciá-las. As melhores talvez tivessem sido depois destruídas, já que especialmente durante o período cristão, seriam associadas a idolatria de deuses pagãos, algo bastante reprimido pela Roma papal, que sucedeu à Roma pagã.

Em todo o caso, seja a situação de aproveitamento dos contornos das rochas muito ou pouco acidental, como técnica de pintura ou escultura seria mais fácil produzir excelentes desenhos vendo a imagem do animal em traços pré-existentes, do que procurar fazer o desenho de raiz, sem outro auxílio. Talvez essa simples descoberta tenha feito a diferença entre a qualidade dos desenhos que vemos na Europa, e outros desenhos bem mais toscos que apareceram noutras paragens.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 05:18

No ano passado publiquei 6 textos sobre o "Estado da arte": (1), (2), (3), (4), (5), (6); em que o sentido da expressão era duplo ou triplo... já que "estado da arte" é uma expressão genérica que significa o estado de um conhecimento, de uma certa arte, num dado momento, mas pode ainda referir-se ao estado em que está a arte, a arte pictórica por exemplo, ou ainda a um estado que é dominado pelo conhecimento artístico... como se fosse a arte a mandar no estado das coisas. 

Há um site muito bom, que reúne muita informação e imagens sobre arte rupestre:
Don's Maps (de Don Hitchcock)

No texto de Don Hitchcock dedicado à gruta de Combarelles, vêem-se imagens de grande qualidade, por exemplo, o grande realismo na cabeça de um cavalo:
 Heinrich Wendel (© The Wendel Collection, Neanderthal Museum)
 ... que está inserida num conjunto, que evidencia uma característica típica - sobreposição de imagens:
Desenho das inscrições feito em 1902 por Capitan e Breuil, onde se vê a cabeça do cavalo fotografada em cima.

Há aqui várias coisas que ocorrem tipicamente.
Uma delas é a enigmática sobreposição de desenhos, cujo propósito ou significado não parece fácil de decifrar. Ao visitar o museu de Foz Côa, o arqueólogo explicava que uma das placas que tinha acabado com as dúvidas acerca da datação das inscrições tinha sido uma placa enterrada cujo solo que a cobria fôra datado (por Carbono 14) como tendo 18 mil anos. Assim, a placa em causa não estava exposta há 18 mil anos, e as inscrições seriam obrigatoriamente mais antigas, e além disso dizia que as sobreposições de desenhos não tinham sido de várias épocas... o desenho tinha propositadamente as sobreposições!
Outra coisa que ocorre frequentemente é não identificarmos os desenhos... ou seja, pelo menos alguns deles, só os conseguimos ver depois de consultar a cábula auxiliar (ou nem isso). No desenho de 1902 aparece outra cabeça de cavalo, que não consigo ver na fotografia acima, ainda que pareça ter havido uma degradação da rocha.

Assim, poderá bem ocorrer que algumas das interpretações feitas pelos arqueólogos resultem de um fenómeno conhecido como pareidolia ou apofenia.
Ora, acresce que uma coisa conhecida é que os artistas rupestres usavam as saliências ou buracos na rocha como auxiliares para os seus desenhos.

Pois bem, para explicar melhor o ponto deste texto, vou buscar uma imagem de um silex que está na página de Don Hitchcock sobre o Abrigo de La Madeleine:
Sílex cortante, no abrigo de La Madeleine (França)
Depois de olhar para vários desenhos constantes em arte rupestre, os olhos ficam treinados para tentar decifrar imagens de bicharocos nas rochas, existam ou não... porque à partida não sabemos.
É claro que num sílex ninguém está à espera de ver nenhuma inscrição rupestre, mas olhando para este sílex pareceu-me que seria igualmente possível ver ali animais, ou mais precisamente, a partir das saliências do sílex fazer aparecer animais... que lá não estavam:
Animais que "aparecem" - uma sugestão de desenho, criada pelas saliências da pedra.
Ora, o ponto que aqui pretendo levantar é simples.
Seria esta a fonte de inspiração dos pintores rupestres?
Ou seja, vendo algumas linhas que lhes poderiam sugerir contornos de animais, seguiam essa via, e limitavam-se a adicionar alguns traços que permitissem completar o desenho?
Devo dizer que o resultado final surpreende, porque não teria sido capaz de fazer os mesmos desenhos se não tivesse usado as inspiradoras linhas já existentes no sílex.
Usei a imagem do sílex, porque se tivesse pegado numa imagem de uma rocha, colocar-se-ia a hipótese de ter havido ali um verdadeiro desenho, e neste caso isso parece-me fora de hipótese.

O que adianta esta suposição? 
Ainda que não se aplique certamente a todos os desenhos, no caso em que há sobreposição de imagens, isso poderia resultar de o pintor ver vários bichos aparecerem de diversos contornos que se sobrepunham. 
Considerando importante dar relevo a todos eles, para que aparecessem no campo, tal como apareciam na rocha, não via desvantagem nem confusão na sobreposição de imagens - muito pelo contrário, isso antevia uma abundância para a caça. O valor da superstição poderia ser diferente se fosse apenas um desenho resultante da sua imaginação (esses seriam arbitrários em número), ou se resultasse de identificar nas cavernas alguns escassos contornos que sugeriam o aparecimento de caça.

Esta hipótese de superstição daria ainda motivo para que não se desenhassem figuras humanas (algo que é raro, ou praticamente inexistente, na arte rupestre europeia). Porque, ao fazer aparecer pessoas, ainda que os contornos o sugerissem, isso significaria fazer aparecer desconhecidos, que poderiam ser competidores inimigos. 

Voltando à imagem do cavalo, podemos notar que há traços mais demarcados do que outros, que podem ter sido os traços originais, que serviram de inspiração à figura que se seguiu. Por outro lado, parece nunca ter havido uma tendência de alisar, de retirar confusão da rocha, para que uma imagem pretendida ficasse mais clara e liberta da confusão de riscos. Esta hipótese poderia ser melhor verificada, analisando se as pinturas seguem nalgumas linhas contornos pré-existentes (algo que está fora do meu alcance pessoal). 

Em paisagens graníticas, com grandes blocos de rocha, como é o caso da Beira Interior, há ainda formações naturais que sugerem diversas formas, e poderá ter ocorrido terem sido feitas pequenas alterações de escultura nas pedras para evidenciá-las. As melhores talvez tivessem sido depois destruídas, já que especialmente durante o período cristão, seriam associadas a idolatria de deuses pagãos, algo bastante reprimido pela Roma papal, que sucedeu à Roma pagã.

Em todo o caso, seja a situação de aproveitamento dos contornos das rochas muito ou pouco acidental, como técnica de pintura ou escultura seria mais fácil produzir excelentes desenhos vendo a imagem do animal em traços pré-existentes, do que procurar fazer o desenho de raiz, sem outro auxílio. Talvez essa simples descoberta tenha feito a diferença entre a qualidade dos desenhos que vemos na Europa, e outros desenhos bem mais toscos que apareceram noutras paragens.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 05:18


Alojamento principal

alvor-silves.blogspot.com

calendário

Julho 2020

D S T Q Q S S
1234
567891011
12131415161718
19202122232425
262728293031



Arquivo

  1. 2020
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2019
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2018
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2017
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2016
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2015
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2014
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2013
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2012
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2011
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2010
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D