Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]


O relato de Estrabão sobre a Ibéria dá quase para um mês de textos... tal como no caso de Roma e Pavia, não pretendemos fazer isto num dia!
Vamos por partes, e começamos com a questão da orientação, com a rotação de 45º que já tínhamos observado em Plínio (note-se que Estrabão é bastante anterior a Plínio, é contemporâneo de Augusto):

Iremos ver que a descrição de Estrabão (ou Estrabo, Strabo) também nos deixa estrábicos... o olho antigo aponta norte, enquanto o olho moderno aponta para noroeste. Os problemas de visão não começaram com os caolhos.

Sobre os Pirinéus é dito:
(...) particularly in the vicinity of the Pyrenees, which form the eastern side. 
This chain of mountains stretches without interruption from north to south
 and divides Keltica from Iberia.

O tradutor vê-se pois forçado a comentar: "The Pyrenees, on the contrary, range from east to west, with a slight inclination towards the north. This error gives occasion to several of the mistakes made by Strabo respecting the course of certain of the rivers in France."
Quando os relatos não coincidem com o que queremos ver, é fácil argumentar o erro alheio... o assunto fica arrumado, mesmo que estejam em causa logo dois da meia-dúzia de geógrafos, usados como referência na antiguidade. Será natural errar norte-sul com oeste-leste num geógrafo de referência? 

Com a rotação que fizemos no mapa em cima, percebemos do que fala Estrabão, e podemos ver as montanhas de norte a sul, dividindo a Céltica (Gália) da Ibéria...
Diz depois que a parte mais estreita está próxima dos Pirinéus, enquadrada pelos Golfos Céltico e Galático, que o tradutor associa (quanto a nós correctamente) ao Golfo da Gasconha/Biscaia e ao Golfo de Lyon. Só que Estrabão adianta...  
and they render the [Keltic] Isthmus narrower than that of Iberia.
... ou seja, haveria na Gália Céltica uma parte mais estreita do que os Pirinéus, o que também pode ser confirmado na figura que colocámos em cima! O tradutor vai buscar uma medição de precisão de Gosselin, mas a explicação é ainda mais simples neste caso... e tem um nome - Aquitânia.
Aquitânia significa literalmente "terra de água", o que ilustraria que os terrenos da Aquitânia contíguos aos Pirinéus estavam basicamente inundados, ou sujeitos a inundações... Por isso, a Aquitânia foi sendo formada progressivamente, e ainda hoje é possível ver que se trata de uma região quase ao nível do mar, não fora as diversas dunas. Estas dunas terão ajudado na consolidação da paisagem, e os campos inundados deram lugar à Aquitânia.
De forma semelhante, e seguindo a figura, podemos ver os montes alentejanos como o resultado de uma consolidação progressiva de dunas, em que a acção prolongada dos agentes biológicos transformou areia em terra. 

Estrabão define então o sul da Ibéria como a parte que vai dos Pirinéus às Colunas de Hércules, e portanto não se trata de um erro ocasional, já que isso é consistente com a figura em cima, rodada de 45º. Sobre a parte ocidental e norte é menos explícito que Plínio, mas diz que essa parte ocidental seria quase paralela aos Pirinéus, coisa só compreensível no mapa que colocamos em cima. Ao contrário de Plínio não coloca o fim da parte ocidental no Promontório Magno, mas sim no Nerium (que tal como Céltico, pretende ser outro nome para a Finisterra).

Sobre o Promontório Sacrum (Cabo S. Vicente) diz ser não apenas a parte mais ocidental da Europa, mas de toda a terra habitável... algo complicado de aceitar. Relativamente à Europa de hoje, esse ponto seria claramente o Promontório Magno (Cabo da Roca), mas se fizermos a rotação, a afirmação de Estrabão fica correcta, conforme se pode ver no mapa. O que é mesmo complicado de aceitar, e que o mapa está mais longe de explicar é a referência a "toda a terra habitável"... aliás o mapa piora essa concepção se retirarmos o "habitável", já que a África é muito mais ocidental. O tradutor faz referência a isso mesmo, dizendo que Estrabão não conheceria essa parte, porém é mais provável que o termo "habitável" esteja para ser levado a sério - as terras africanas após as Colunas de Hércules não eram habitáveis... não tanto por razões naturais, mas mais provavelmente por restrições "divinas"!
Ele refere que essas partes ocidentais são habitadas pelos iberos na Europa, e pelos "maurusianos" na Líbia (entendida como África, ou Norte de África)... ou seja, pelos "mauros" ou "mouros" da Mauritânia, entendida com a zona de Marrocos próximo de Tanger.

Sobre a região do Promontório Sacrum, diz chamar-se Cuneum por significar uma "cunha" (o tradutor aproveita por fazer referência aos Cónios já mencionados por Heródoto como Cunésios ou Cunetes), e diz que o promotório se projecta no mar como um barco, segundo relato de Artemidoro que dava conta de três pequenas ilhas que lhe davam essa forma, e que ao contrário do que afirmara Éforo não se encontrava aí nenhum templo de Hércules! 
Aquilo que parece poder-se concluir é que o Templo de Hércules existiu em Sagres, e terá sido destruído entre a visita de Éforo de Cime (séc. IV a.C.) e a de Artemidoro de Efeso (séc. II a.C.).

Ainda relativamente às orientações geográficas, ao falar sobre os rios, diz que o Tejo corre para oeste, e que o mesmo acontece inicialmente com o Guadiana, que depois vira a sul. Se estas designações são demasiado genéricas para percursos irregulares, que podem ter mudado, não permitem uma boa conclusão. O mesmo não se pode dizer do Ebro, que tem o seu vale bem definido e onde Estrabão é mais conclusivo - corre para Sul!
                                           The Ebro takes its source amongst the Cantabrians; it flows through an extended plain towards the south, running parallel with the Pyrenees.

Tal afirmação só se pode entender com a rotação que se evidencia no mapa que apresentamos.

Como dissemos, a descrição ibérica de Estrabão contém bastante matéria para explorar. 
Para já interessava consolidar mais um testemunho para uma diferente orientação da Terra no passado, de que começámos a falar a propósito do alinhamento piramidal.

Observação: Para quem conhece a medição de Eratóstenes da circunferência da Terra, poderá argumentar-se que ele teria seguido o Nilo de Alexandria até Assuão(!), estava a percorrer o meridiano, colocando o Nilo na orientação sul-norte e não sudoeste-nordeste... Porém, o nome que constava era Syene e não Assuão, logo a identificação de cidades é posterior, aliás sendo Eratóstenes originário de Cyrene, seria mais fácil a deturpação do nome de Cyrene em Syene. A medição não tinha que ocorrer em locais à mesma longitude, até porque esse cálculo de longitude poderia ser feito pela observação de eclipses... era bastante mais importante ter uma medida correcta da distância entre cidades.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 05:56

O relato de Estrabão sobre a Ibéria dá quase para um mês de textos... tal como no caso de Roma e Pavia, não pretendemos fazer isto num dia!
Vamos por partes, e começamos com a questão da orientação, com a rotação de 45º que já tínhamos observado em Plínio (note-se que Estrabão é bastante anterior a Plínio, é contemporâneo de Augusto):

Iremos ver que a descrição de Estrabão (ou Estrabo, Strabo) também nos deixa estrábicos... o olho antigo aponta norte, enquanto o olho moderno aponta para noroeste. Os problemas de visão não começaram com os caolhos.

Sobre os Pirinéus é dito:
(...) particularly in the vicinity of the Pyrenees, which form the eastern side. 
This chain of mountains stretches without interruption from north to south
 and divides Keltica from Iberia.

O tradutor vê-se pois forçado a comentar: "The Pyrenees, on the contrary, range from east to west, with a slight inclination towards the north. This error gives occasion to several of the mistakes made by Strabo respecting the course of certain of the rivers in France."
Quando os relatos não coincidem com o que queremos ver, é fácil argumentar o erro alheio... o assunto fica arrumado, mesmo que estejam em causa logo dois da meia-dúzia de geógrafos, usados como referência na antiguidade. Será natural errar norte-sul com oeste-leste num geógrafo de referência? 

Com a rotação que fizemos no mapa em cima, percebemos do que fala Estrabão, e podemos ver as montanhas de norte a sul, dividindo a Céltica (Gália) da Ibéria...
Diz depois que a parte mais estreita está próxima dos Pirinéus, enquadrada pelos Golfos Céltico e Galático, que o tradutor associa (quanto a nós correctamente) ao Golfo da Gasconha/Biscaia e ao Golfo de Lyon. Só que Estrabão adianta...  
and they render the [Keltic] Isthmus narrower than that of Iberia.
... ou seja, haveria na Gália Céltica uma parte mais estreita do que os Pirinéus, o que também pode ser confirmado na figura que colocámos em cima! O tradutor vai buscar uma medição de precisão de Gosselin, mas a explicação é ainda mais simples neste caso... e tem um nome - Aquitânia.
Aquitânia significa literalmente "terra de água", o que ilustraria que os terrenos da Aquitânia contíguos aos Pirinéus estavam basicamente inundados, ou sujeitos a inundações... Por isso, a Aquitânia foi sendo formada progressivamente, e ainda hoje é possível ver que se trata de uma região quase ao nível do mar, não fora as diversas dunas. Estas dunas terão ajudado na consolidação da paisagem, e os campos inundados deram lugar à Aquitânia.
De forma semelhante, e seguindo a figura, podemos ver os montes alentejanos como o resultado de uma consolidação progressiva de dunas, em que a acção prolongada dos agentes biológicos transformou areia em terra. 

Estrabão define então o sul da Ibéria como a parte que vai dos Pirinéus às Colunas de Hércules, e portanto não se trata de um erro ocasional, já que isso é consistente com a figura em cima, rodada de 45º. Sobre a parte ocidental e norte é menos explícito que Plínio, mas diz que essa parte ocidental seria quase paralela aos Pirinéus, coisa só compreensível no mapa que colocamos em cima. Ao contrário de Plínio não coloca o fim da parte ocidental no Promontório Magno, mas sim no Nerium (que tal como Céltico, pretende ser outro nome para a Finisterra).

Sobre o Promontório Sacrum (Cabo S. Vicente) diz ser não apenas a parte mais ocidental da Europa, mas de toda a terra habitável... algo complicado de aceitar. Relativamente à Europa de hoje, esse ponto seria claramente o Promontório Magno (Cabo da Roca), mas se fizermos a rotação, a afirmação de Estrabão fica correcta, conforme se pode ver no mapa. O que é mesmo complicado de aceitar, e que o mapa está mais longe de explicar é a referência a "toda a terra habitável"... aliás o mapa piora essa concepção se retirarmos o "habitável", já que a África é muito mais ocidental. O tradutor faz referência a isso mesmo, dizendo que Estrabão não conheceria essa parte, porém é mais provável que o termo "habitável" esteja para ser levado a sério - as terras africanas após as Colunas de Hércules não eram habitáveis... não tanto por razões naturais, mas mais provavelmente por restrições "divinas"!
Ele refere que essas partes ocidentais são habitadas pelos iberos na Europa, e pelos "maurusianos" na Líbia (entendida como África, ou Norte de África)... ou seja, pelos "mauros" ou "mouros" da Mauritânia, entendida com a zona de Marrocos próximo de Tanger.

Sobre a região do Promontório Sacrum, diz chamar-se Cuneum por significar uma "cunha" (o tradutor aproveita por fazer referência aos Cónios já mencionados por Heródoto como Cunésios ou Cunetes), e diz que o promotório se projecta no mar como um barco, segundo relato de Artemidoro que dava conta de três pequenas ilhas que lhe davam essa forma, e que ao contrário do que afirmara Éforo não se encontrava aí nenhum templo de Hércules! 
Aquilo que parece poder-se concluir é que o Templo de Hércules existiu em Sagres, e terá sido destruído entre a visita de Éforo de Cime (séc. IV a.C.) e a de Artemidoro de Efeso (séc. II a.C.).

Ainda relativamente às orientações geográficas, ao falar sobre os rios, diz que o Tejo corre para oeste, e que o mesmo acontece inicialmente com o Guadiana, que depois vira a sul. Se estas designações são demasiado genéricas para percursos irregulares, que podem ter mudado, não permitem uma boa conclusão. O mesmo não se pode dizer do Ebro, que tem o seu vale bem definido e onde Estrabão é mais conclusivo - corre para Sul!
                                           The Ebro takes its source amongst the Cantabrians; it flows through an extended plain towards the south, running parallel with the Pyrenees.

Tal afirmação só se pode entender com a rotação que se evidencia no mapa que apresentamos.

Como dissemos, a descrição ibérica de Estrabão contém bastante matéria para explorar. 
Para já interessava consolidar mais um testemunho para uma diferente orientação da Terra no passado, de que começámos a falar a propósito do alinhamento piramidal.

Observação: Para quem conhece a medição de Eratóstenes da circunferência da Terra, poderá argumentar-se que ele teria seguido o Nilo de Alexandria até Assuão(!), estava a percorrer o meridiano, colocando o Nilo na orientação sul-norte e não sudoeste-nordeste... Porém, o nome que constava era Syene e não Assuão, logo a identificação de cidades é posterior, aliás sendo Eratóstenes originário de Cyrene, seria mais fácil a deturpação do nome de Cyrene em Syene. A medição não tinha que ocorrer em locais à mesma longitude, até porque esse cálculo de longitude poderia ser feito pela observação de eclipses... era bastante mais importante ter uma medida correcta da distância entre cidades.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 05:56

O relato de Estrabão sobre a Ibéria dá quase para um mês de textos... tal como no caso de Roma e Pavia, não pretendemos fazer isto num dia!
Vamos por partes, e começamos com a questão da orientação, com a rotação de 45º que já tínhamos observado em Plínio (note-se que Estrabão é bastante anterior a Plínio, é contemporâneo de Augusto):

Iremos ver que a descrição de Estrabão (ou Estrabo, Strabo) também nos deixa estrábicos... o olho antigo aponta norte, enquanto o olho moderno aponta para noroeste. Os problemas de visão não começaram com os caolhos.

Sobre os Pirinéus é dito:
(...) particularly in the vicinity of the Pyrenees, which form the eastern side. 
This chain of mountains stretches without interruption from north to south
 and divides Keltica from Iberia.

O tradutor vê-se pois forçado a comentar: "The Pyrenees, on the contrary, range from east to west, with a slight inclination towards the north. This error gives occasion to several of the mistakes made by Strabo respecting the course of certain of the rivers in France."
Quando os relatos não coincidem com o que queremos ver, é fácil argumentar o erro alheio... o assunto fica arrumado, mesmo que estejam em causa logo dois da meia-dúzia de geógrafos, usados como referência na antiguidade. Será natural errar norte-sul com oeste-leste num geógrafo de referência? 

Com a rotação que fizemos no mapa em cima, percebemos do que fala Estrabão, e podemos ver as montanhas de norte a sul, dividindo a Céltica (Gália) da Ibéria...
Diz depois que a parte mais estreita está próxima dos Pirinéus, enquadrada pelos Golfos Céltico e Galático, que o tradutor associa (quanto a nós correctamente) ao Golfo da Gasconha/Biscaia e ao Golfo de Lyon. Só que Estrabão adianta...  
and they render the [Keltic] Isthmus narrower than that of Iberia.
... ou seja, haveria na Gália Céltica uma parte mais estreita do que os Pirinéus, o que também pode ser confirmado na figura que colocámos em cima! O tradutor vai buscar uma medição de precisão de Gosselin, mas a explicação é ainda mais simples neste caso... e tem um nome - Aquitânia.
Aquitânia significa literalmente "terra de água", o que ilustraria que os terrenos da Aquitânia contíguos aos Pirinéus estavam basicamente inundados, ou sujeitos a inundações... Por isso, a Aquitânia foi sendo formada progressivamente, e ainda hoje é possível ver que se trata de uma região quase ao nível do mar, não fora as diversas dunas. Estas dunas terão ajudado na consolidação da paisagem, e os campos inundados deram lugar à Aquitânia.
De forma semelhante, e seguindo a figura, podemos ver os montes alentejanos como o resultado de uma consolidação progressiva de dunas, em que a acção prolongada dos agentes biológicos transformou areia em terra. 

Estrabão define então o sul da Ibéria como a parte que vai dos Pirinéus às Colunas de Hércules, e portanto não se trata de um erro ocasional, já que isso é consistente com a figura em cima, rodada de 45º. Sobre a parte ocidental e norte é menos explícito que Plínio, mas diz que essa parte ocidental seria quase paralela aos Pirinéus, coisa só compreensível no mapa que colocamos em cima. Ao contrário de Plínio não coloca o fim da parte ocidental no Promontório Magno, mas sim no Nerium (que tal como Céltico, pretende ser outro nome para a Finisterra).

Sobre o Promontório Sacrum (Cabo S. Vicente) diz ser não apenas a parte mais ocidental da Europa, mas de toda a terra habitável... algo complicado de aceitar. Relativamente à Europa de hoje, esse ponto seria claramente o Promontório Magno (Cabo da Roca), mas se fizermos a rotação, a afirmação de Estrabão fica correcta, conforme se pode ver no mapa. O que é mesmo complicado de aceitar, e que o mapa está mais longe de explicar é a referência a "toda a terra habitável"... aliás o mapa piora essa concepção se retirarmos o "habitável", já que a África é muito mais ocidental. O tradutor faz referência a isso mesmo, dizendo que Estrabão não conheceria essa parte, porém é mais provável que o termo "habitável" esteja para ser levado a sério - as terras africanas após as Colunas de Hércules não eram habitáveis... não tanto por razões naturais, mas mais provavelmente por restrições "divinas"!
Ele refere que essas partes ocidentais são habitadas pelos iberos na Europa, e pelos "maurusianos" na Líbia (entendida como África, ou Norte de África)... ou seja, pelos "mauros" ou "mouros" da Mauritânia, entendida com a zona de Marrocos próximo de Tanger.

Sobre a região do Promontório Sacrum, diz chamar-se Cuneum por significar uma "cunha" (o tradutor aproveita por fazer referência aos Cónios já mencionados por Heródoto como Cunésios ou Cunetes), e diz que o promotório se projecta no mar como um barco, segundo relato de Artemidoro que dava conta de três pequenas ilhas que lhe davam essa forma, e que ao contrário do que afirmara Éforo não se encontrava aí nenhum templo de Hércules! 
Aquilo que parece poder-se concluir é que o Templo de Hércules existiu em Sagres, e terá sido destruído entre a visita de Éforo de Cime (séc. IV a.C.) e a de Artemidoro de Efeso (séc. II a.C.).

Ainda relativamente às orientações geográficas, ao falar sobre os rios, diz que o Tejo corre para oeste, e que o mesmo acontece inicialmente com o Guadiana, que depois vira a sul. Se estas designações são demasiado genéricas para percursos irregulares, que podem ter mudado, não permitem uma boa conclusão. O mesmo não se pode dizer do Ebro, que tem o seu vale bem definido e onde Estrabão é mais conclusivo - corre para Sul!
                                           The Ebro takes its source amongst the Cantabrians; it flows through an extended plain towards the south, running parallel with the Pyrenees.

Tal afirmação só se pode entender com a rotação que se evidencia no mapa que apresentamos.

Como dissemos, a descrição ibérica de Estrabão contém bastante matéria para explorar. 
Para já interessava consolidar mais um testemunho para uma diferente orientação da Terra no passado, de que começámos a falar a propósito do alinhamento piramidal.

Observação: Para quem conhece a medição de Eratóstenes da circunferência da Terra, poderá argumentar-se que ele teria seguido o Nilo de Alexandria até Assuão(!), estava a percorrer o meridiano, colocando o Nilo na orientação sul-norte e não sudoeste-nordeste... Porém, o nome que constava era Syene e não Assuão, logo a identificação de cidades é posterior, aliás sendo Eratóstenes originário de Cyrene, seria mais fácil a deturpação do nome de Cyrene em Syene. A medição não tinha que ocorrer em locais à mesma longitude, até porque esse cálculo de longitude poderia ser feito pela observação de eclipses... era bastante mais importante ter uma medida correcta da distância entre cidades.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 21:56

Já mencionámos que Alexandre Dumas vai recuperar no seu Conde de Monte-Cristo, em 1844, as figuras de Sindbad e de Ali Babá, inseridas nas Mil e Uma Noites transcritas por Antoine Galland no início do Séc. XVIII. Se já tínhamos referido Aladino e Lucerna, é agora tempo de dedicar algumas linhas a Ali Babá, mais propriamente à palavra "Sésamo"... já que os 40 ladrões são de difícil identificação!

A planta Sésamo diz-se Gergelim no Brasil, provindo da palavra árabe gilgilan, o que mostra que a designação vinda do árabe simsim será alternativa. Estas sementes abrem quando maduras, e são as sementes de Simsim ou Sésamo que polvilham o pão usado nos hambúrgueres desde o antigo sucesso da McDonalds. Para além desta conexão gastronómica, não há muito mais sobre Sésamo.

Porém, vamos encontrar uma referência a Sésamo tão antiga quanto Homero, que no Canto II da Ilíada diz:
       Pílemeneu veloso os Paflagónios       De Enete move, aítriz de agrestes mulas,
       Os que o Citoro e Sésamo possuem,        As lindas várzeas do Parténio rio,        Comna e Egíalo e os celsos Eritinos.

É assim por Homero que juntamos Sésamo e Citoro, mais propriamente o Monte Citoro, locais que hoje fazem parte da bela cidade turca de Amasra (de Amastris, esposa do persa Xerxes), cidade no Mar Negro, na zona costeira do território atribuído aos Hititas...

 
Monte Citoro e Sésamo, hoje Amasra.

Está iniciado o caminho, e daqui pelo poeta romano Catulo podemos chegar a Itália... mas a viagem não vai exactamente para Sirmione no Lago Garda, faz aqui um desvio para o Monte Citorio, mais propriamente para o Palazzo Montecitorio, em Roma, onde há um notável obelisco:
Obelisco egípcio em frente ao Palazzo Montecitorio

Em 1696 a Cúria Romana foi instalada na Praça de Montecitorio.
Escrevendo uma década depois, quando Galland diz "Abre-te Sésamo", seguindo Homero poderia bem dizer "Abre-te Monte Citoro", referindo-se à Cúria Romana aí instalada recentemente. Desconheço o número de elementos da Cúria(*) à época e em vez de 24 poderiam ser mais, digamos mais 16?
Afinal, era apenas uma estória... mas seria menos estória que a Cúria Romana escondia tesouros fabulosos!

No Conde Monte-Cristo, Alexandre Dumas lembra-se também do palácio Montecitorio, e diz que o sino apenas tocava no início do Carnaval (ou quando o papa morria)... é claro que o personagem Dantes beneficia do excelente tesouro revelado por Faria, mas tem o amor subtraído por Mondego... falando apenas da conexão dos nomes Dantes-Faria-Mondego, onde o pouco usual nome Mondego nos levaria às termas de Curia.
Diz-se é claro que Dumas foi motivado pela visita a Elba, onde acompanhou o sobrinho de Napoleão em 1842, e avistou a ilha de Montecristo, quase proibida e visitada pelos piratas Barbarrosa e Dragut, talvez na direcção do seu Sindbad...
A ilha de MonteCristo, próximo de Elba, só foi aberta ao público em 2008

Com Dumas é recente e está subjacente o exílio de Napoleão a Elba... que tal como MonteCristo, seria uma ilha formada pelos diademas de Vénus caídos quando se banhou no Mar Tirreno. E é claro que  o declínio de Napoleão começou perto do Mondego, no Bussaco, ou seja na zona da Curia.

Deixemos a Curia do Mondego, e voltemos à Praça Montecitorio.
O obelisco egípcio de Montecitorio estava em destroços, mas é recolocado no seu lugar em 1789, exactamente no ano da Revolução Francesa.
O obelisco Solarium Augusti antes da reconstrução (em 1738).

Roma é a cidade com mais obeliscos, muitos dos quais vindos do Egipto, já que não começou com Napoleão a ideia de levar obeliscos do Egipto para a Europa, os Romanos já o tinham feito!
Este obelisco Solarium Augusti tinha uma particularidade notável, pois Augusto fez dele um Relógio de Sol, no Campo de Marte, comemorando a sujeição do Egipto de Cleópatra e Marco António. Não se tratava apenas de um gnomo apontando a hora do dia, servia ainda para identificar o dia do ano.
Inscrições descobertas no Campo de Marte, 
do meridiano do Solarium Augustii

O problema é que passadas poucas décadas, o Solarium Augusti deixara de "funcionar", conforme já se queixava Plínio, apontando algumas hipóteses estranhas... a mais oficialmente admissível seria a sua hipótese de que todo o Campo da Marte, onde se sustinha o Obelisco, tinha sido deslocado por algum movimento subterrâneo do leito do Tibre. Mas se esta é estranha, a sua primeira hipótese é digna de mais reflexão... ele considera que toda a orbe terrestre se teria deslocado no espaço de algumas décadas! Ou seja, a Terra teria sofrido uma mudança profunda na sua órbita entre a sua fundação por Augusto e a observação de Plínio, que nasce sob reinado do sucessor, Tibério.
The readings thus given have for about thirty years past failed to correspond to the calendar, either because the course of the sun itself is anomalous and has been altered by some change in the behavior of the heavens or because the whole earth has shifted slightly from its central position, a phenomenon which, I hear, has been detected also in other places. Or else earth-tremors in the city may have brought about a purely local displacement of the shaft or floods from the Tiber may have caused the mass to settle, even thought the foundations are said to have been sunk to a depth equal to the height of the load they have to carry.

Como este desvio é reportado nos 30 anos anteriores à data que escreve Plínio (ou seja, termina em 77 d. C.), coloca a detecção da perturbação cósmica desde circa 37 a 47 d.C., ou seja aproximadamente desde a morte de Jesus Cristo. Falamos de perturbação cósmica, porque segundo Plínio o fenómeno tinha sido reportado noutros sítios, e por isso a explicação localizada em Roma pretenderá ser secundária.

Augusto tomava em conta o calendário juliano, e a menos de fortes sismos que seriam identificáveis, não era de supor nenhuma alteração que justificasse tal perturbação. É reportado aliás o cuidado de uma alteração no ano seguinte à construção em 9 a.C. que preconizava o ajustamento pelos anos bissextos, conforme o calendário juliano, pelo que o meridiano foi assinalado do solo. Esse cuidado colocaria o relógio solar de Augusto como mecanismo de funcionamento quase intemporal, e porém estava fora de rigor poucas décadas depois! O seu realinhamento terá sido feito por Domiciano, ainda no Séc. I, mas não é claro se durou muito tempo... o Obelisco acabará por ser destruído após o Séc. VIII, talvez por um terramoto ou por motivo de um saque normando.

O Obelisco original vinha da Heliópolis egípcia (não confundir aqui com Baalbec), e comemoraria uma vitória de Psamético II sobre os rivais núbios de Kush. Depois de servir o tempo no relógio de Augusto, foi recuperado dos destroços pelo papa Bento XIV e foi colocado em Montecitorio por Pio VI, em 1789, sendo que o Palácio Montecitorio é a Câmara de Deputados desde o Risorgimento de 1870. Montecitorio manteve o seu carácter de órgão de poder, com o detalhe da estória de Galland requerer agora um pouco mais do que 40 ladrões...

(*) Quarantia, o Conselho dos Quarenta era um órgão consultivo muito importante na República de Veneza, que inseria a componente aristocrática funcionando como tribunal e órgão constitucional. O número é aqui importante pela revelação de Alexandre Dumas... o sino de MonteCitorio tocava apenas no início do Carnaval. 
É claro que o nome Venezia ou Venetia tem aquele problema fonético da confusão entre V e F, que nos pode transportar rapidamente a Fenecia ou Fenícia, o que não é despropositado se entendermos que Veneza assumiu uma importância marítima ao nível de se colocar como herdeira dos Fenícios.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 21:01

Já mencionámos que Alexandre Dumas vai recuperar no seu Conde de Monte-Cristo, em 1844, as figuras de Sindbad e de Ali Babá, inseridas nas Mil e Uma Noites transcritas por Antoine Galland no início do Séc. XVIII. Se já tínhamos referido Aladino e Lucerna, é agora tempo de dedicar algumas linhas a Ali Babá, mais propriamente à palavra "Sésamo"... já que os 40 ladrões são de difícil identificação!

A planta Sésamo diz-se Gergelim no Brasil, provindo da palavra árabe gilgilan, o que mostra que a designação vinda do árabe simsim será alternativa. Estas sementes abrem quando maduras, e são as sementes de Simsim ou Sésamo que polvilham o pão usado nos hambúrgueres desde o antigo sucesso da McDonalds. Para além desta conexão gastronómica, não há muito mais sobre Sésamo.

Porém, vamos encontrar uma referência a Sésamo tão antiga quanto Homero, que no Canto II da Ilíada diz:
       Pílemeneu veloso os Paflagónios       De Enete move, aítriz de agrestes mulas,
       Os que o Citoro e Sésamo possuem,        As lindas várzeas do Parténio rio,        Comna e Egíalo e os celsos Eritinos.

É assim por Homero que juntamos Sésamo e Citoro, mais propriamente o Monte Citoro, locais que hoje fazem parte da bela cidade turca de Amasra (de Amastris, esposa do persa Xerxes), cidade no Mar Negro, na zona costeira do território atribuído aos Hititas...

 
Monte Citoro e Sésamo, hoje Amasra.

Está iniciado o caminho, e daqui pelo poeta romano Catulo podemos chegar a Itália... mas a viagem não vai exactamente para Sirmione no Lago Garda, faz aqui um desvio para o Monte Citorio, mais propriamente para o Palazzo Montecitorio, em Roma, onde há um notável obelisco:
Obelisco egípcio em frente ao Palazzo Montecitorio

Em 1696 a Cúria Romana foi instalada na Praça de Montecitorio.
Escrevendo uma década depois, quando Galland diz "Abre-te Sésamo", seguindo Homero poderia bem dizer "Abre-te Monte Citoro", referindo-se à Cúria Romana aí instalada recentemente. Desconheço o número de elementos da Cúria(*) à época e em vez de 24 poderiam ser mais, digamos mais 16?
Afinal, era apenas uma estória... mas seria menos estória que a Cúria Romana escondia tesouros fabulosos!

No Conde Monte-Cristo, Alexandre Dumas lembra-se também do palácio Montecitorio, e diz que o sino apenas tocava no início do Carnaval (ou quando o papa morria)... é claro que o personagem Dantes beneficia do excelente tesouro revelado por Faria, mas tem o amor subtraído por Mondego... falando apenas da conexão dos nomes Dantes-Faria-Mondego, onde o pouco usual nome Mondego nos levaria às termas de Curia.
Diz-se é claro que Dumas foi motivado pela visita a Elba, onde acompanhou o sobrinho de Napoleão em 1842, e avistou a ilha de Montecristo, quase proibida e visitada pelos piratas Barbarrosa e Dragut, talvez na direcção do seu Sindbad...
A ilha de MonteCristo, próximo de Elba, só foi aberta ao público em 2008

Com Dumas é recente e está subjacente o exílio de Napoleão a Elba... que tal como MonteCristo, seria uma ilha formada pelos diademas de Vénus caídos quando se banhou no Mar Tirreno. E é claro que  o declínio de Napoleão começou perto do Mondego, no Bussaco, ou seja na zona da Curia.

Deixemos a Curia do Mondego, e voltemos à Praça Montecitorio.
O obelisco egípcio de Montecitorio estava em destroços, mas é recolocado no seu lugar em 1789, exactamente no ano da Revolução Francesa.
O obelisco Solarium Augusti antes da reconstrução (em 1738).

Roma é a cidade com mais obeliscos, muitos dos quais vindos do Egipto, já que não começou com Napoleão a ideia de levar obeliscos do Egipto para a Europa, os Romanos já o tinham feito!
Este obelisco Solarium Augusti tinha uma particularidade notável, pois Augusto fez dele um Relógio de Sol, no Campo de Marte, comemorando a sujeição do Egipto de Cleópatra e Marco António. Não se tratava apenas de um gnomo apontando a hora do dia, servia ainda para identificar o dia do ano.
Inscrições descobertas no Campo de Marte, 
do meridiano do Solarium Augustii

O problema é que passadas poucas décadas, o Solarium Augusti deixara de "funcionar", conforme já se queixava Plínio, apontando algumas hipóteses estranhas... a mais oficialmente admissível seria a sua hipótese de que todo o Campo da Marte, onde se sustinha o Obelisco, tinha sido deslocado por algum movimento subterrâneo do leito do Tibre. Mas se esta é estranha, a sua primeira hipótese é digna de mais reflexão... ele considera que toda a orbe terrestre se teria deslocado no espaço de algumas décadas! Ou seja, a Terra teria sofrido uma mudança profunda na sua órbita entre a sua fundação por Augusto e a observação de Plínio, que nasce sob reinado do sucessor, Tibério.
The readings thus given have for about thirty years past failed to correspond to the calendar, either because the course of the sun itself is anomalous and has been altered by some change in the behavior of the heavens or because the whole earth has shifted slightly from its central position, a phenomenon which, I hear, has been detected also in other places. Or else earth-tremors in the city may have brought about a purely local displacement of the shaft or floods from the Tiber may have caused the mass to settle, even thought the foundations are said to have been sunk to a depth equal to the height of the load they have to carry.

Como este desvio é reportado nos 30 anos anteriores à data que escreve Plínio (ou seja, termina em 77 d. C.), coloca a detecção da perturbação cósmica desde circa 37 a 47 d.C., ou seja aproximadamente desde a morte de Jesus Cristo. Falamos de perturbação cósmica, porque segundo Plínio o fenómeno tinha sido reportado noutros sítios, e por isso a explicação localizada em Roma pretenderá ser secundária.

Augusto tomava em conta o calendário juliano, e a menos de fortes sismos que seriam identificáveis, não era de supor nenhuma alteração que justificasse tal perturbação. É reportado aliás o cuidado de uma alteração no ano seguinte à construção em 9 a.C. que preconizava o ajustamento pelos anos bissextos, conforme o calendário juliano, pelo que o meridiano foi assinalado do solo. Esse cuidado colocaria o relógio solar de Augusto como mecanismo de funcionamento quase intemporal, e porém estava fora de rigor poucas décadas depois! O seu realinhamento terá sido feito por Domiciano, ainda no Séc. I, mas não é claro se durou muito tempo... o Obelisco acabará por ser destruído após o Séc. VIII, talvez por um terramoto ou por motivo de um saque normando.

O Obelisco original vinha da Heliópolis egípcia (não confundir aqui com Baalbec), e comemoraria uma vitória de Psamético II sobre os rivais núbios de Kush. Depois de servir o tempo no relógio de Augusto, foi recuperado dos destroços pelo papa Bento XIV e foi colocado em Montecitorio por Pio VI, em 1789, sendo que o Palácio Montecitorio é a Câmara de Deputados desde o Risorgimento de 1870. Montecitorio manteve o seu carácter de órgão de poder, com o detalhe da estória de Galland requerer agora um pouco mais do que 40 ladrões...

(*) Quarantia, o Conselho dos Quarenta era um órgão consultivo muito importante na República de Veneza, que inseria a componente aristocrática funcionando como tribunal e órgão constitucional. O número é aqui importante pela revelação de Alexandre Dumas... o sino de MonteCitorio tocava apenas no início do Carnaval. 
É claro que o nome Venezia ou Venetia tem aquele problema fonético da confusão entre V e F, que nos pode transportar rapidamente a Fenecia ou Fenícia, o que não é despropositado se entendermos que Veneza assumiu uma importância marítima ao nível de se colocar como herdeira dos Fenícios.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 21:01


Alojamento principal

alvor-silves.blogspot.com

calendário

Julho 2020

D S T Q Q S S
1234
567891011
12131415161718
19202122232425
262728293031



Arquivo

  1. 2020
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2019
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2018
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2017
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2016
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2015
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2014
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2013
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2012
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2011
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2010
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D