Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]


Observando um quadro de um homem, pintando por Van Oostsanen em 1518, reparamos que segura um pequeno objecto:
Retrato de J. Gerritz, por J. Van Oostsanen (1518) [daqui]
Esse objecto é visto em várias pinturas medievais e renascentistas, e foi bastante usado pela realeza à época da dinastia Tudor. Trata-se de um dispositivo com perfume, conhecido como "pomander", uma concatenação francesa de "pomme-de-ambre" (pomo de âmbar, mais laranja que maçã), que servia para se substituir aos maus cheiros de uma época em que cuidados de higiene não abundavam.

 
Occitane Vanilla Pomander (à esquerda), e simples pomander artesanal, feito de laranja com cravos (à direita)


Fez o José Manuel referência ao Pomander de Nuremberga, considerado o primeiro relógio (não fixo), construído por Peter Henlein em 1505 em Nuremberga.
Relógio Pomander de 1505, feito por Peter Henlein.
... ver o link ...
http://quillandpad.com/2014/12/15/the-worlds-oldest-watch-a-peter-henlein-mystery-from-1505-solved/
Antes de entrar em detalhes sobre este relógio, convirá notar que não se tratava de caso único, sendo conhecidos "Ovo de Nuremberga" e o "Melanchthon" - havendo uma página dedicada ao assunto
Pomander Watches
onde aparecem outros dois, com os nomes Qatar 1 e Qatar 2.
Isto interessa porque os perfumes vinham do Oriente, neste tipo de recepientes, para serem consumidos na Europa. Como já abordámos aqui a tradição árabe em produzir mecanismos:
nomeadamente os mecanismos de Al Muradi (Séc. X), que incluíam relógios complexos, e esquecendo por instantes o caso do mecanismo mais antigo de Antícitera (Séc. I)... poderemos suspeitar que estes Meca-nismos viessem inicialmente das paragens de Meca. 
Uns poderiam comprá-los como simples recipientes caros para perfumes, mas outros, num grupo mais restrito, teriam o faro mais apurado, e receberiam preciosos mecanismos de relojoaria. Sem inspecção mais cuidada, seriam semelhantes para o observador exterior. O fabrico deste pomander parece ser, no entanto, alemão, como veremos.

Vem isto a propósito da menção do José Manuel ao mecanismo do relógio do Convento de Cristo, em Tomar.., que serve de contraponto gigantesco, quando comparado com os relógios Pomander, sendo ambos atribuídos ao Séc. XVI.
Mecanismo de relógio no Convento de Cristo em Tomar (foto JM)
Os relógios associados às igrejas tinham esta grande dimensão, e de certa forma este não será muito diferente do relógio existente na Catedral de Salisbury... com a diferença de que este mecanismo faria mais sentido ser datado para o Séc. XIV e não XVI.


Microprecisão
Voltando ao pomander de Henlein, criado em 1505, o que acabou por se revelar surpreendente foi a sua inspecção ao microscópio! Se produzir peças para um relógio tão pequeno já é um prodígio na Renascença, mais surpreendente foram as inscrições encontradas nas suas peças, com as inicias PH remetidas ao criador Peter Henlein, mas com dimensões muito inferiores a 1 mm.

Comparado com um fósforo aparece a peça (1ª figura) onde foram encontradas inscrições PH (2ª figura)
Ver vídeo sobre o assunto aqui:
https://www.youtube.com/watch?t=68&v=Sivfd7jdn7U
Como se não bastasse, e a menos que consideremos um caso de pareidolia, de sugestão de face numa forma natural, diz-se que o microscópio revelou também rostos, entre os quais este:
Rosto encontrado ao microscópio, segundo o site Quill & Pad.
E assim, se já era questionável a capacidade de fazer uma inscrição numa peça com menos de 1mm de espessura, a presença de um rosto quase fotográfico, quando comparado com os toscos desenhos que decoravam a caixa, poderia requerer a presença de um "teórico dos deuses-astronautas" a falar de ETs, a menos que seja uma notável coincidência num caso de pareidolia.

No entanto, convém não esquecer o caso do minúsculo relógio encontrado num túmulo Ming fechado durante 400 anos, caso que já tinhamos referido:

... mas que assim se torna mais verosímil de cair na hipótese de construção do Séc. XVII, ao contrário do que se julgava possível.

Se o Ovo de Nuremberga tinha a surpresa lá dentro, só vem na linha de confirmar a ocultação sistemática de uma maior tecnologia a toda a população, e só acessível a um "clube restrito".
Ainda dentro dessa linha dos "ovos com surpresa", não tanto ao estilo dos "ovos Kinder", e mais ao estilo dos "ovos Fabergé", perceberemos como a Páscoa de uns foi razoavelmente diferente da Páscoa dos outros.
Não é preciso ir buscar nenhuns ET's para explicar isto, basta compreender a perversidade de certa natureza, mais ou menos humana, e admitir que a humanidade não acordou para a tecnologia só nos últimos 150 anos, quando decidiu passar das carroças para os foguetões. Esta capacidade esteve presente há muitos milénios, mas não foi dada como presente por via de um passado condicionador do futuro. O ligeiro detalhe que não estava escrito em nenhum ovo, é que os presentes do passado teriam essa conta passada escrita no futuro... e sobre isso, não haverá volta a dar-lhe, é pena.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 05:47

Observando um quadro de um homem, pintando por Van Oostsanen em 1518, reparamos que segura um pequeno objecto:
Retrato de J. Gerritz, por J. Van Oostsanen (1518) [daqui]
Esse objecto é visto em várias pinturas medievais e renascentistas, e foi bastante usado pela realeza à época da dinastia Tudor. Trata-se de um dispositivo com perfume, conhecido como "pomander", uma concatenação francesa de "pomme-de-ambre" (pomo de âmbar, mais laranja que maçã), que servia para se substituir aos maus cheiros de uma época em que cuidados de higiene não abundavam.

 
Occitane Vanilla Pomander (à esquerda), e simples pomander artesanal, feito de laranja com cravos (à direita)


Fez o José Manuel referência ao Pomander de Nuremberga, considerado o primeiro relógio (não fixo), construído por Peter Henlein em 1505 em Nuremberga.
Relógio Pomander de 1505, feito por Peter Henlein.
... ver o link ...
http://quillandpad.com/2014/12/15/the-worlds-oldest-watch-a-peter-henlein-mystery-from-1505-solved/
Antes de entrar em detalhes sobre este relógio, convirá notar que não se tratava de caso único, sendo conhecidos "Ovo de Nuremberga" e o "Melanchthon" - havendo uma página dedicada ao assunto
Pomander Watches
onde aparecem outros dois, com os nomes Qatar 1 e Qatar 2.
Isto interessa porque os perfumes vinham do Oriente, neste tipo de recepientes, para serem consumidos na Europa. Como já abordámos aqui a tradição árabe em produzir mecanismos:
nomeadamente os mecanismos de Al Muradi (Séc. X), que incluíam relógios complexos, e esquecendo por instantes o caso do mecanismo mais antigo de Antícitera (Séc. I)... poderemos suspeitar que estes Meca-nismos viessem inicialmente das paragens de Meca. 
Uns poderiam comprá-los como simples recipientes caros para perfumes, mas outros, num grupo mais restrito, teriam o faro mais apurado, e receberiam preciosos mecanismos de relojoaria. Sem inspecção mais cuidada, seriam semelhantes para o observador exterior. O fabrico deste pomander parece ser, no entanto, alemão, como veremos.

Vem isto a propósito da menção do José Manuel ao mecanismo do relógio do Convento de Cristo, em Tomar.., que serve de contraponto gigantesco, quando comparado com os relógios Pomander, sendo ambos atribuídos ao Séc. XVI.
Mecanismo de relógio no Convento de Cristo em Tomar (foto JM)
Os relógios associados às igrejas tinham esta grande dimensão, e de certa forma este não será muito diferente do relógio existente na Catedral de Salisbury... com a diferença de que este mecanismo faria mais sentido ser datado para o Séc. XIV e não XVI.


Microprecisão
Voltando ao pomander de Henlein, criado em 1505, o que acabou por se revelar surpreendente foi a sua inspecção ao microscópio! Se produzir peças para um relógio tão pequeno já é um prodígio na Renascença, mais surpreendente foram as inscrições encontradas nas suas peças, com as inicias PH remetidas ao criador Peter Henlein, mas com dimensões muito inferiores a 1 mm.

Comparado com um fósforo aparece a peça (1ª figura) onde foram encontradas inscrições PH (2ª figura)
Ver vídeo sobre o assunto aqui:
https://www.youtube.com/watch?t=68&v=Sivfd7jdn7U
Como se não bastasse, e a menos que consideremos um caso de pareidolia, de sugestão de face numa forma natural, diz-se que o microscópio revelou também rostos, entre os quais este:
Rosto encontrado ao microscópio, segundo o site Quill & Pad.
E assim, se já era questionável a capacidade de fazer uma inscrição numa peça com menos de 1mm de espessura, a presença de um rosto quase fotográfico, quando comparado com os toscos desenhos que decoravam a caixa, poderia requerer a presença de um "teórico dos deuses-astronautas" a falar de ETs, a menos que seja uma notável coincidência num caso de pareidolia.

No entanto, convém não esquecer o caso do minúsculo relógio encontrado num túmulo Ming fechado durante 400 anos, caso que já tinhamos referido:

... mas que assim se torna mais verosímil de cair na hipótese de construção do Séc. XVII, ao contrário do que se julgava possível.

Se o Ovo de Nuremberga tinha a surpresa lá dentro, só vem na linha de confirmar a ocultação sistemática de uma maior tecnologia a toda a população, e só acessível a um "clube restrito".
Ainda dentro dessa linha dos "ovos com surpresa", não tanto ao estilo dos "ovos Kinder", e mais ao estilo dos "ovos Fabergé", perceberemos como a Páscoa de uns foi razoavelmente diferente da Páscoa dos outros.
Não é preciso ir buscar nenhuns ET's para explicar isto, basta compreender a perversidade de certa natureza, mais ou menos humana, e admitir que a humanidade não acordou para a tecnologia só nos últimos 150 anos, quando decidiu passar das carroças para os foguetões. Esta capacidade esteve presente há muitos milénios, mas não foi dada como presente por via de um passado condicionador do futuro. O ligeiro detalhe que não estava escrito em nenhum ovo, é que os presentes do passado teriam essa conta passada escrita no futuro... e sobre isso, não haverá volta a dar-lhe, é pena.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 05:47

"Outros Quinhentos" é uma expressão razoavelmente popular cuja origem parece algo incerta. Uma das várias explicações que vi apontava para uma coima por injúria à elite nobre.

Deveríamos ter entrado este ano com alguma comemoração relativa à primeira notícia da chegada a Timor. Essa notícia remetia para Janeiro de 1514, e portanto estão já quinhentos anos passados. 
Outros quinhentos anos passaram sobre a notícia da chegada à China de Jorge Álvares, em 1513.

Não houve comemoração significativa destes quinhentos, porquê? São precisos outros quinhentos?
É claro que se pode falar da "crise"... a tal crise selectiva que só afecta parte da estrutura, mas como é óbvio não há nenhuma crise económica que impedisse que se falasse abundantemente do assunto.
A menos, é claro, que tal crise impusesse uma qualquer chantagem que impedisse a menção desse período épico português. Bom, mas isso seria alinhar por uma daquelas teorias da conspiração - sei lá, que os judeus não esqueciam a expulsão ibérica, e que do muro das lamentações de Wall Street imporiam um enorme garrote financeiro. Qualquer coisa absurda desse género.
Ora, como isso não parece fazer sentido nenhum, resta a habitual incompetência e insensibilidade governativa... por acaso de um governo da ala mais ligada aos símbolos da história nacional.
Portanto, esta explicação também parece muito incompetente, e ficamos perdidos. 
Serão outros quinhentos?

É claro que se pode argumentar que a vice-regência de Afonso de Albuquerque foi muito traumática no Oriente, e conviria não hostilizar parceiros comerciais com "más lembranças"... mas dificilmente há herdeiros directos desses reinos, e o "politicamente correcto" não chegaria ao ponto de se evitar a comemoração intramuros. 
O "César do Oriente", como foi epitetado, estabeleceu de facto um domínio completo sobre o Índico, abrindo a comunicação directa à China após a conquista de Malaca em 1511, o que libertou a entrada no estreito. Podem-se questionar as datas a partir daqui... logo de seguida, os navios com bandeira portuguesa navegaram pelas diversas ilhas indonésias, até atingirem as Molucas e Timor. Pode ter sido um, dois ou três anos depois, mas é difícil de acreditar que a maioria das ilhas da Indonésia até à Austrália não foi pelo menos avistada, e em grande parte cartografada durante a regência de Afonso de Albuquerque. Quando Pedro Nunes refere que tudo tinha sido descoberto, desde a mais remota ilha ao simples penedo ou baixio, reporta mais de 20 anos depois, mas é natural que o conhecimento global já estivesse presente em 1514 como atesta o Globo do Mapa de Marinharia.

Apesar de haver quem esteja disposto a todo o folclore da negação (e é claro, com espaço de antena para isso), a chegada a Timor em 1514 (pelo menos) é confirmada por Armando Cortesão (Esparsos, Vol. 3, pag. 326, Acta Univ. Conimbrigensis, 1975), que diz o seguinte:
"Na Suma Oriental confirma Tomé Pires esta viagem do junco português à China, quando, escrevendo em Dezembro de 1513, ou começo de Janeiro de 1514, informa: «Lugares onde os nosso juncos e naus foram; as nossas naus a Java, a Banda, a China. Junco é a Pacee(?), a Paleacate(?); agora vão a Timor por sândalos, e vão a outras partes e foi já nosso junco a Pegú ao porto de Martaniane(?)» (fol. 177r) (118). A informação tem ainda o valor especial de nos dizer, de fonte bem autorizada e fidedigna, quem em 1514 foi um junco de Portugueses a Timor, em que iriam Portugueses, como foram nos outros (119).
Na nota (119) menciona-se uma carta de Rui de Brito que diz que não teriam então chegado a Timor, mas o próprio Cortesão esclarece que Brito fala do passado e Pires do presente, 1514. No passado mês de Fevereiro Xanana Gusmão esteve em Portugal, e como podemos ler, não houve menção a esse evento histórico na comunicação social.

Bom, mas este texto não é certamente sobre política, manipulação histórica, nem tão pouco para lamentar a falta de comemorações, sempre muito desligadas da população... Cada macaco no seu galho, e à racionalidade humana só compete distinguir naturais incertezas de evidentes contradições.

Este texto é sobre outros quinhentos: - Nan Madol.
 
Nan Madol - Micronésia (Ilhas Carolinas)

Por lapso, esqueci-me de juntar este conjunto monumental no texto Lemuria, onde referi a pedra-dinheiro de Palau... Foi agora num comentário de Maria da Fonte que relembrei que este monumento ainda não tinha aqui tido nenhuma referência, apesar de ser várias vezes falado nos comentários, ligado à ideia do continente perdido, Mu. 
Não vou falar sobre Mu, porque já de alguma forma foi mencionado no texto sobre a Lemuria, e penso tratar-se do mesmo mito. Há por vezes ideias sobre continentes de dimensões gigantescas, como se isso acrescentasse dimensão à civilização. Na realidade basta reparar na enorme superfície euro-asiática para perceber que é na sua maioria inabitada. O mesmo se passa na América, basta reparar na grande Amazónia ou no enorme Canadá. Mesmo com 6 biliões de pessoas, a nossa concentração dá-se em pontos muito particulares... e ilhas de dimensão menor, como o arquipélago do Japão, podem oferecer um grande desenvolvimento. Por isso, a ideia de continentes de grande dimensão apenas traria mais terra inabitada a um planeta que já tem muita terra inabitada.
Conforme referi no texto sobre Lemuria, o aumento do nível do mar terá submergido uma grande parte da região da Melanésia, então contígua da Malásia até às ilhas da Nova-Guiné. Essa parte era suficientemente extensa para corresponder ao afundamento de uma superfície semelhante à da Austrália, justificando-se perfeitamente essa associação mítica àquelas paragens.

O complexo monumental de Nan Madol não revela nenhum surpreendente esplendor técnico, mas é notável do ponto de vista megalítico, e remete mais uma vez para uma parte da história que parece ter submergido juntamente com Mu. Essa submersão não vem apenas de natural falta de dados, vem de propositada ocultação ou distorção. 

Damos um exemplo ilustrativo. O texto de Armando Cortesão foi encontrado ao procurar informação adicional sobre as Ilhas Carolinas. Essa descoberta é atribuída a Gomes de Sequeira em 1525 (ou Janeiro de 1526, ver pág. 320 de Esparsos, vol. III). Pelo menos a ilha de Palau deverá ter tido o nome de Sequeira, antes de passarem a ser nomeadas Novas-Filipinas, por Álvaro Saavedra em 1529, e depois Carolinas, por respeito ao imperador espanhol Carlos (V?). 
Esta nomeação de Carolinas é encontrada em quase todo o lado, mas há uma versão diferente. Numa tradução de Jacques Arago, viajante francês, lemos ("De um a outro pólo", pág. 177) numa nota de rodapé que afinal teria sido o espanhol Ponce de Léon (!!!) a descobri-las em 1512, e que o nome Carolinas era devido a Carlos IX, rei francês, é claro, e que o nome teria sido mantido por Carlos II, rei inglês. O facto dos nomes reais serem moda numa certa época permite estas variações, em que nomes similares servem vários propósitos ambíguos, só faltava um Karl germânico, para justificar Karolinen sob sua alçada. Só encontrámos na tradução do livro de Arago tal versão afrancesada, mas presumo que tenha origem noutra fonte. Isto mostra suficientemente como as tentativas de alterar o registo histórico foram constantes e tiveram frequentemente origem nas mesmas paragens europeias.

A contrario desta tentativa francesa, Cortesão procura provar que a viagem de Sequeira não teria chegado à Austrália, como entretanto foi pretendido, e dá uma justificação pelos relatos e pelos ventos... De facto a documentação existente não parece ter nenhuma referência directa à Austrália, até porque não seria assim nomeada à época, como é natural. Os mapas que Cortesão conhecia pareciam estar fora de uso para fazer prova. Não parecia haver nome, nem registo da navegação que teria permitido fazê-los. No entanto, esses mapas existem e mostram o conhecimento completo à época de D. Sebastião, pelo menos. Qualquer outra pretensão é apenas pura formalidade burocrática ou cegueira.


Nota adicional (01/04/2014):
Esta referência a Nan Madol foi colocada há já muito tempo num comentário de José Manuel, onde se refere a descoberta de Nan Madol por Pedro Fernandes Queirós e a sua associação à colónia de Nova Jerusalém, por vezes ligada também a Vanuatu.
Mapa de 1612 de Hessel Gerritsz onde se aponta a Australis Incognitae 
a uma descoberta de Queirós.
Este mapa é especialmente relevante por ser holandês...

Já tínhamos aqui mencionado o cartógrafo holandês Gerritsz, que em 1618, ou seja passados 6 anos, já poderá desenhar a costa australiana ocidental com toda a precisão... de Queirós, a Australia terá apenas herdado o nome com que a baptizara - Australia do Espírito Santo.
Qual a diferença entre 1612 e 1618?
Em 1618 é declarada a Guerra dos Trinta Anos, e a Holanda vai aparecer como autónoma reivindicando então o seu quinhão de descobertas, então ocultas, nomeadamente a Australia.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 06:24

"Outros Quinhentos" é uma expressão razoavelmente popular cuja origem parece algo incerta. Uma das várias explicações que vi apontava para uma coima por injúria à elite nobre.

Deveríamos ter entrado este ano com alguma comemoração relativa à primeira notícia da chegada a Timor. Essa notícia remetia para Janeiro de 1514, e portanto estão já quinhentos anos passados. 
Outros quinhentos anos passaram sobre a notícia da chegada à China de Jorge Álvares, em 1513.

Não houve comemoração significativa destes quinhentos, porquê? São precisos outros quinhentos?
É claro que se pode falar da "crise"... a tal crise selectiva que só afecta parte da estrutura, mas como é óbvio não há nenhuma crise económica que impedisse que se falasse abundantemente do assunto.
A menos, é claro, que tal crise impusesse uma qualquer chantagem que impedisse a menção desse período épico português. Bom, mas isso seria alinhar por uma daquelas teorias da conspiração - sei lá, que os judeus não esqueciam a expulsão ibérica, e que do muro das lamentações de Wall Street imporiam um enorme garrote financeiro. Qualquer coisa absurda desse género.
Ora, como isso não parece fazer sentido nenhum, resta a habitual incompetência e insensibilidade governativa... por acaso de um governo da ala mais ligada aos símbolos da história nacional.
Portanto, esta explicação também parece muito incompetente, e ficamos perdidos. 
Serão outros quinhentos?

É claro que se pode argumentar que a vice-regência de Afonso de Albuquerque foi muito traumática no Oriente, e conviria não hostilizar parceiros comerciais com "más lembranças"... mas dificilmente há herdeiros directos desses reinos, e o "politicamente correcto" não chegaria ao ponto de se evitar a comemoração intramuros. 
O "César do Oriente", como foi epitetado, estabeleceu de facto um domínio completo sobre o Índico, abrindo a comunicação directa à China após a conquista de Malaca em 1511, o que libertou a entrada no estreito. Podem-se questionar as datas a partir daqui... logo de seguida, os navios com bandeira portuguesa navegaram pelas diversas ilhas indonésias, até atingirem as Molucas e Timor. Pode ter sido um, dois ou três anos depois, mas é difícil de acreditar que a maioria das ilhas da Indonésia até à Austrália não foi pelo menos avistada, e em grande parte cartografada durante a regência de Afonso de Albuquerque. Quando Pedro Nunes refere que tudo tinha sido descoberto, desde a mais remota ilha ao simples penedo ou baixio, reporta mais de 20 anos depois, mas é natural que o conhecimento global já estivesse presente em 1514 como atesta o Globo do Mapa de Marinharia.

Apesar de haver quem esteja disposto a todo o folclore da negação (e é claro, com espaço de antena para isso), a chegada a Timor em 1514 (pelo menos) é confirmada por Armando Cortesão (Esparsos, Vol. 3, pag. 326, Acta Univ. Conimbrigensis, 1975), que diz o seguinte:
"Na Suma Oriental confirma Tomé Pires esta viagem do junco português à China, quando, escrevendo em Dezembro de 1513, ou começo de Janeiro de 1514, informa: «Lugares onde os nosso juncos e naus foram; as nossas naus a Java, a Banda, a China. Junco é a Pacee(?), a Paleacate(?); agora vão a Timor por sândalos, e vão a outras partes e foi já nosso junco a Pegú ao porto de Martaniane(?)» (fol. 177r) (118). A informação tem ainda o valor especial de nos dizer, de fonte bem autorizada e fidedigna, quem em 1514 foi um junco de Portugueses a Timor, em que iriam Portugueses, como foram nos outros (119).
Na nota (119) menciona-se uma carta de Rui de Brito que diz que não teriam então chegado a Timor, mas o próprio Cortesão esclarece que Brito fala do passado e Pires do presente, 1514. No passado mês de Fevereiro Xanana Gusmão esteve em Portugal, e como podemos ler, não houve menção a esse evento histórico na comunicação social.

Bom, mas este texto não é certamente sobre política, manipulação histórica, nem tão pouco para lamentar a falta de comemorações, sempre muito desligadas da população... Cada macaco no seu galho, e à racionalidade humana só compete distinguir naturais incertezas de evidentes contradições.

Este texto é sobre outros quinhentos: - Nan Madol.
 
Nan Madol - Micronésia (Ilhas Carolinas)

Por lapso, esqueci-me de juntar este conjunto monumental no texto Lemuria, onde referi a pedra-dinheiro de Palau... Foi agora num comentário de Maria da Fonte que relembrei que este monumento ainda não tinha aqui tido nenhuma referência, apesar de ser várias vezes falado nos comentários, ligado à ideia do continente perdido, Mu. 
Não vou falar sobre Mu, porque já de alguma forma foi mencionado no texto sobre a Lemuria, e penso tratar-se do mesmo mito. Há por vezes ideias sobre continentes de dimensões gigantescas, como se isso acrescentasse dimensão à civilização. Na realidade basta reparar na enorme superfície euro-asiática para perceber que é na sua maioria inabitada. O mesmo se passa na América, basta reparar na grande Amazónia ou no enorme Canadá. Mesmo com 6 biliões de pessoas, a nossa concentração dá-se em pontos muito particulares... e ilhas de dimensão menor, como o arquipélago do Japão, podem oferecer um grande desenvolvimento. Por isso, a ideia de continentes de grande dimensão apenas traria mais terra inabitada a um planeta que já tem muita terra inabitada.
Conforme referi no texto sobre Lemuria, o aumento do nível do mar terá submergido uma grande parte da região da Melanésia, então contígua da Malásia até às ilhas da Nova-Guiné. Essa parte era suficientemente extensa para corresponder ao afundamento de uma superfície semelhante à da Austrália, justificando-se perfeitamente essa associação mítica àquelas paragens.

O complexo monumental de Nan Madol não revela nenhum surpreendente esplendor técnico, mas é notável do ponto de vista megalítico, e remete mais uma vez para uma parte da história que parece ter submergido juntamente com Mu. Essa submersão não vem apenas de natural falta de dados, vem de propositada ocultação ou distorção. 

Damos um exemplo ilustrativo. O texto de Armando Cortesão foi encontrado ao procurar informação adicional sobre as Ilhas Carolinas. Essa descoberta é atribuída a Gomes de Sequeira em 1525 (ou Janeiro de 1526, ver pág. 320 de Esparsos, vol. III). Pelo menos a ilha de Palau deverá ter tido o nome de Sequeira, antes de passarem a ser nomeadas Novas-Filipinas, por Álvaro Saavedra em 1529, e depois Carolinas, por respeito ao imperador espanhol Carlos (V?). 
Esta nomeação de Carolinas é encontrada em quase todo o lado, mas há uma versão diferente. Numa tradução de Jacques Arago, viajante francês, lemos ("De um a outro pólo", pág. 177) numa nota de rodapé que afinal teria sido o espanhol Ponce de Léon (!!!) a descobri-las em 1512, e que o nome Carolinas era devido a Carlos IX, rei francês, é claro, e que o nome teria sido mantido por Carlos II, rei inglês. O facto dos nomes reais serem moda numa certa época permite estas variações, em que nomes similares servem vários propósitos ambíguos, só faltava um Karl germânico, para justificar Karolinen sob sua alçada. Só encontrámos na tradução do livro de Arago tal versão afrancesada, mas presumo que tenha origem noutra fonte. Isto mostra suficientemente como as tentativas de alterar o registo histórico foram constantes e tiveram frequentemente origem nas mesmas paragens europeias.

A contrario desta tentativa francesa, Cortesão procura provar que a viagem de Sequeira não teria chegado à Austrália, como entretanto foi pretendido, e dá uma justificação pelos relatos e pelos ventos... De facto a documentação existente não parece ter nenhuma referência directa à Austrália, até porque não seria assim nomeada à época, como é natural. Os mapas que Cortesão conhecia pareciam estar fora de uso para fazer prova. Não parecia haver nome, nem registo da navegação que teria permitido fazê-los. No entanto, esses mapas existem e mostram o conhecimento completo à época de D. Sebastião, pelo menos. Qualquer outra pretensão é apenas pura formalidade burocrática ou cegueira.


Nota adicional (01/04/2014):
Esta referência a Nan Madol foi colocada há já muito tempo num comentário de José Manuel, onde se refere a descoberta de Nan Madol por Pedro Fernandes Queirós e a sua associação à colónia de Nova Jerusalém, por vezes ligada também a Vanuatu.
Mapa de 1612 de Hessel Gerritsz onde se aponta a Australis Incognitae 
a uma descoberta de Queirós.
Este mapa é especialmente relevante por ser holandês...

Já tínhamos aqui mencionado o cartógrafo holandês Gerritsz, que em 1618, ou seja passados 6 anos, já poderá desenhar a costa australiana ocidental com toda a precisão... de Queirós, a Australia terá apenas herdado o nome com que a baptizara - Australia do Espírito Santo.
Qual a diferença entre 1612 e 1618?
Em 1618 é declarada a Guerra dos Trinta Anos, e a Holanda vai aparecer como autónoma reivindicando então o seu quinhão de descobertas, então ocultas, nomeadamente a Australia.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 06:24

Continuação de Inevitabilidade (1).
O erro parece inevitável.
No entanto, até que se possa falar de verdades indiscutíveis, de cariz lógico-matemático, todas as outras considerações são simples comparações de registos... uns tidos como mais certos que outros, de forma subjectiva apenas se distinguem pelo número de adeptos.

Seguindo um raciocínio consistente, se os dados oficiais levarem a conclusões contraditórias, o problema remete-se exclusivamente à inconsistência desse registo oficial. 
Dada a incerteza subjacente nas informações que usamos, é algo indiferente averiguar da veracidade actual dos dados. Interessa mais saber navegar num mar de falsidades.
Haverá quem julgue ter informações privilegiadas, remontando sabe-se lá onde, vindas sabe-se lá por que meios... pouco importa. A certeza sobre informações depende muito mais da robustez do seu nexo, do que da certeza do seu conteúdo, pois as peças individuais são mais contributivas do que decisivas.
Mesmo que os cultivadores do oculto viessem publicamente reconhecer as suas manipulações, e nos entregassem uma nova versão dos acontecimentos, essa versão não escaparia ao mesmo critério judicioso de averiguar a sua consistência e plausibilidade.

A verdade é algo intemporal, não é o que se julga verdade hoje que interessa.
Quem não aparece, esquece. O que existe do passado só se revela no presente, e o presente pode bem evoluir a ponto de dispensar o que não precisa. A única coisa que precisa é de uma justificação consistente... passado e futuro moldam-se a essa consistência. Por isso o caminho é de quem procura a verdade, e não de quem a esconde. A verdade de um grupo fechado, de uma elite do oculto, pode ser absolutamente irrelevante para o nexo global. Os sujeitos podem achar que condicionaram a história, mas a história pode ter nexo sem esse condicionamento. Nero pode ter incendiado Roma, mas pode ter sido forçado a isso, ou pode também pode ter sido uma propaganda contra ele, uma danação da sua memória, entre dezenas de outras hipóteses igualmente plausíveis.
Quem se prende às certezas do passado, pode ficar preso num passado onde não cabe o futuro.

Os livres e os livros
Tomemos como exemplo a Bíblia, que assume ter um registo correcto dos tempos passados, desde a criação do Homem... e até do Universo. A existência de um personagem divino no nexo dos acontecimentos pode ser revelar-se completamente redundante, não deixando de ser válidos os relatos tidos como certos. À excepção da criação universal, todo o restante conteúdo poderia ser facilmente inserido num quadro de intervenção extra-terrestre, ou de alguma antiga potência terrestre, com capacidade de iludir manifestações sobrenaturais. Mais comummente é assumido que se tratariam de alegorias remetendo para outros factos. Portanto, mesmo uma peça rígida contendo um relato de acontecimentos, assumido fidedigno, pode estar sujeita a grande maleabilidade interpretativa, dada a incerteza sobre os relatores e sobre a intenção do relato.
Curiosamente, se se pretendeu a veracidade literal em tempos idos, este registo bíblico só acabou por se sustentar pela aceitação de ser alegórico.
Todo o registo documental dum reino, de uma tradição, pode colapsar sob a suspeita de falsidade, ou alegoria intencional. Isso é especialmente fácil de assumir quando verificamos que já ocorreu, e é mantido sistematicamente. Havendo essa intenção de encobrimento generalizado, os detentores de informação "oficial", ou "secreta", caem no simples descrédito das mais básicas contradições, ficando com uma grande estrutura assente em pés-de-barro, em que tudo pode ser alvo de suspeição generalizada. A História passa a ser assim uma mera história, com mais ou menos acontecimentos fabulosos, consoante o "gosto" do leitor. 
O leitor fica assim livre perante os livros. Pega nos que quiser, dá credibilidade ao que quiser, e faz a sua história, com centenas, milhares ou milhões de anos... apenas tem que arrumar as peças de forma consistente. Radicando as suas raízes sobre estruturas alheias, ergue uma árvore alicerçada em vários pontos de apoio num terreno pantanoso. Os que pretendem apenas usar apenas uma raiz como fonte passada, tudo apostam num alicerce dúbio, erodido pelo tempo, por enxertos assentes em contradições que se podem revelar como simples mentiras.

Saída da ilha
Um primeiro momento complicado em termos de convívio humano pacífico terá ocorrido quando a sobrevivência exigiu uma competição letal entre tribos. Ou seja, nessa altura não seria suficiente o afastamento dos perdedores, haveria mortes por questão de sobrevivência, e nessa altura os vencedores passaram a predadores dos perdedores. É natural que tal tenha ocorrido numa ilha, por encurralamento, onde a fuga não era possível.
Já referimos a hipótese de ter sido na zona da Melanésia-Oceânia, pelo simples facto de haver registo de agricultura mais antiga (c. 25 mil anos) nas Ilhas Salomão - Nova Guiné, do registo do haplogrupo-Y remeter ancestrais não-africanos a essas paragens, e mais importante... do convívio em equilíbrio entre tribos canibais da Nova Guiné, que falam 800 línguas diferentes.
Não há registos de antigas civilizações na Nova-Guiné e outras paragens da Oceânia?
Talvez não muitos, mas também é de perguntar o que aconteceu, por exemplo, à Pirâmide do Taiti:
Taiti. A pirâmide (entretanto desaparecida) de Mahaiatea. 

O fim de uma Idade do Gelo implicaria um aumento do nível do mar. Partes unidas ao continente apareceriam como ilhas, prendendo os hominídeos. Casos típicos seriam as ilhas da Oceânia (ou ainda das Caraíbas, mas onde não há outros hominídeos).

Quais são os grandes primatas que nadam? Nenhuns... excepto humanos!
Só recentemente se conseguiu fazer com que dois chimpanzés nadassem, e outras referências são de pequenos macacos. Por isso, encurralar numa ilha significava a priori isso... impossibilidade dos hominídeos sair, a menos que aprendessem sozinhos a nadar.

Numa ilha, dada a súbita restrição, iriam experimentar a escassez de caça, e os conflitos iriam agudizar-se, tornando a competição numa luta pela sobrevivência.
Há assim fortes probabilidades que ocorresse numa ilha a primeira necessidade de ataque e defesa sistemática, onde a invenção de novas armas e estratégias marcasse a diferença. Os primeiros vencedores, passariam a uma situação de novo confronto se o crescimento populacional não fosse travado, ou não fossem encontrados novos recursos.

O equilíbrio final só seria atingido por um ajustamento entre o número de sobreviventes e a capacidade de alimento da ilha. Não é pois de estranhar que fosse numa ilha que se desse com maior urgência a necessidade da agricultura.
Mas ainda assim, a agricultura não evitaria outro crescimento, e o problema colocar-se-ia de novo. Tinha que ser considerado um equilíbrio que, ou evitasse a natalidade descontrolada, ou criasse razão de mortes. De qualquer forma implicaria uma gestão inteligente, um controlo acima da vontade da população. Uma tirania mostraria um alvo a abater, e possibilidades de revolta frequentes. O esquema mais inteligente seria outro... um poder controlador invisível, que regularia o aumento de população por guerras controladas, entre tribos.

Esse poder controlador seria detido pelos xamãs, actuando em sincronia, como uma elite invisível acima da elite visível - o rei ou chefe local. Cada chefe era senhor da sua tribo, mas ao desafiar um xamã, desafiaria todos, e poderia ser rapidamente controlado, pela influência dos outros xamãs nos outros chefes.
Um entendimento entre chefes era controlado pelo simples facto de não falarem a mesma língua... precisariam de tradutores - que seriam normalmente os xamãs, ou elementos por si controlados.
Só assim se parece explicar uma coexistência milenar na Nova Guiné entre mais de 800 tribos que falavam línguas diferentes, que eram violentas, antropófagas, mas onde não houve nenhum ascendente natural que levasse ao domínio de uma sobre as outras. O equilíbrio era polvilhado de mitos, e onde não se saiu de uma sociedade tribal primitiva... mas onde pode ter sido também o local onde apareceu a agricultura, e o poderoso conjunto arco e flecha.

Com uma nova Idade do Gelo, os mares recuavam e a saída das ilhas da Melanésia estava aberta de novo... mas os homens que dali saíam tinham já numa perspectiva e desenvolvimento completamente diferente. O seu contacto com os povos da Ásia meridional seria conflituoso. As sociedades mais pacíficas não resistiriam ao embate, dando origem a uma população mais uniforme em fisionomia (haplogrupo NO), e onde os Ainos são excepção. Esse primeiro domínio seria pela larga região do Extremo Oriente, até aos gelos siberianos.
Vindos de ilhas da Oceânia, outros elementos (haplogrupo P-R1) seguiriam em direcção à Índia, e ainda dessas ilhas polinésias, mais tarde (haplogrupo P-Q), seguiriam em direcção à América (até aí praticamente despovoada).

Não seria apenas um embate militar, não havia apenas uma legião, havia uma religião. Por isso, o embate seria civilizacional, liderado por xamãs, que imitariam noutras paragens os velhos métodos. Na Índia, o ancestral esquema de castas pode ter essa origem. Os pouco numerosos invasores colocaram-se num nível superior, tratando os restantes como escravos. Essa hierarquia bem estabelecida, mais uma vez escondida em múltiplos reinos, unida por uma religião comum, levaria a um efectivo controlo da sociedade.

As sociedades em confronto distinguir-se-iam pela organização. Os invasores eram combatentes natos, organizados, enquanto os alvos viveriam em simples tribos com uma interacção pacífica. A madeira e as peles, os ossos, ou a cerâmica deveriam ser um material comum para os artefactos, tão ou mais importante que as pedras.
O metal estaria ausente. Por isso, a combinação "arco e flecha" teria dificuldade em ser combatida, especialmente quando venenosa, pelo que as serpentes seriam um símbolo importante desse poder. Nesta altura (ainda na Idade do Gelo), se havia monumentos seriam de madeira, osso, de tijolo, muros de pedra não trabalhada, ou então imperfeitos megalitos.
Com o fim da Idade do Gelo as povoações costeiras iriam desaparecer. De forma mais ou menos brusca, um dilúvio terá ocorrido, já que o aumento do nível de água, pelo simples derreter do gelo, submergiria povoações ou antigas estruturas.

De Lito e De Cobre
Da pedra ao cobre vai uma significativa diferença. A pedra bem trabalhada exigiria instrumentos de metal, e por isso haverá uma diferença substancial entre civilizações que apresentam monumentos megalíticos mal trabalhados, e as que o fizeram com uma precisão notável, já que isso implicaria provavelmente o uso de metais. 
Devemos pois distinguir o momento da descoberta do uso de metais, já que seria fulcral para o diferente desenvolvimento civilizacional, não tanto pelas implicações imediatas no conhecimento, mas sim pela consequência do seu uso em armas.
Uma civilização baseada em materiais não-metálicos poderia ser muito sofisticada do ponto de vista intelectual, mas estaria pragmaticamente limitada no embate contra armas mais poderosas. Ou seja, a civilização dos grandes pintores rupestres poderia ser confrontada até à aniquilação com uma civilização guerreira baseada em artefactos metálicos, e outros expedientes militares mais pragmáticos.

Podemos associar o metal à cerâmica, por razão das altas temperaturas usadas para o fabrico. É natural que o metal tivesse surgido por constatação de resíduos em fornos de cerâmica. A cerâmica, por sua vez, teria evoluído da constatação que o barro cozeria mais rapidamente com o fogo, substituindo uma simples secagem ao sol, e dando uma adicional consistência e resistência. Como subproduto desse cozer ao forno, algum pedaço de cobre derretido poderá ter marcado o fim do alicerce na pedra e o princípio do cobre e do encobre.

Uma antiga cerâmica foi encontrada na Caverna de Xianren, na China, e não é muito posterior ao tempo em que se efectuavam belos desenhos rupestres nas cavernas europeias.  
Caverna de Xianren, cerâmica com 20 mil anos...
Alguém toca num sino de tradição sínica

Depois, é claro questiona-se sempre se houve ou não uma ligação global entre culturas, e aqui e ali aparecem sinais. Já vimos exemplos de dolmens na Índia, e também os há na China:

Dólmens em Haicheng-Ximu e em Yingkou (China).

Claro que estas informações não têm grande divulgação, e os fazedores de mitos ocidentais gostarão de sempre remeter culpas para as autoridades chinesas... quando lá afinal fazem parte de atracções turísticas locais, e é cá que são "olimpicamente" ignorados.

O fim da macacada
Se o homem foi no mito formado do barro, essa cerâmica feita no molde divino, trazia um travo distinto... e quem diz tinto, não seria pela imagem dionísica, visava-se o sabor, já que outro saber ficara na maçã. A esse homem adamantino foi oferecido um jardim sensaboroso, um paraíso infantil, onde o sabor se substituía ao saber. Porém, essa redoma encantada aparecia como isolamento a semelhantes, menos benventurados, que passariam por macacos servidores de um corte social, de uma corte.
Até ao instante em que a cobra mostra o que cobre, o preço da ilusão era a ignorância.
O convívio pacífico, em qualquer ilha do Pacífico, tinha esse tom de inocência, de regresso aos paraísos naturais, onde não se questionava a gravidade da massa na maçã.
O fruto da chama interrogativa estava lacrado num fogo desnecessário a macacos. Prometeu-se apenas um sentir humano sem sentido humano. Os cortes das cortes garantiam que os mundos de conhecimento não se tocavam, e embalados pela harpa recusariam o bater do tambor.
A reflexão era narcisista, espelhando na água parada um ser que se desenha a si próprio, enterrando na cova a reflexão de ossos num caixão estrutural, uma caixa de Pan doutrora. 
O fogo permitiria alimentar fornos de pão, e a chama do novo homem levaria-o aos mesmos erros passados, à mesma deriva competitiva, com petizes, aprendizes de feiticeiro, que encobririam o cobre, imitando os seus deuses nas hierarquias cognitivas. Uns seriam senhores, outros escravos, e se as torres cresciam na ambição, as línguas eram baralhadas para manter um véu que impedia a comunicação, deixando intocada uma elite sacerdotal que velaria pelos enredos segregados nos segredos. 
No entanto, era o fim da macacada, e a perda da inocência não iria aceitar o fruto sem o questionar, iria à raiz da macieira, questionando as fundações das ilusões, consubstanciando um acordo com a natureza que até aí parecia funcionar como uma fábrica de presentes, sem passado nem futuro, sem razão de ser, sem outra existência que não fosse a de ideias que apareciam e desapareciam como bolas de sabão, enfim, sem um saber constitucional.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 19:11

Continuação de Inevitabilidade (1).
O erro parece inevitável.
No entanto, até que se possa falar de verdades indiscutíveis, de cariz lógico-matemático, todas as outras considerações são simples comparações de registos... uns tidos como mais certos que outros, de forma subjectiva apenas se distinguem pelo número de adeptos.

Seguindo um raciocínio consistente, se os dados oficiais levarem a conclusões contraditórias, o problema remete-se exclusivamente à inconsistência desse registo oficial. 
Dada a incerteza subjacente nas informações que usamos, é algo indiferente averiguar da veracidade actual dos dados. Interessa mais saber navegar num mar de falsidades.
Haverá quem julgue ter informações privilegiadas, remontando sabe-se lá onde, vindas sabe-se lá por que meios... pouco importa. A certeza sobre informações depende muito mais da robustez do seu nexo, do que da certeza do seu conteúdo, pois as peças individuais são mais contributivas do que decisivas.
Mesmo que os cultivadores do oculto viessem publicamente reconhecer as suas manipulações, e nos entregassem uma nova versão dos acontecimentos, essa versão não escaparia ao mesmo critério judicioso de averiguar a sua consistência e plausibilidade.

A verdade é algo intemporal, não é o que se julga verdade hoje que interessa.
Quem não aparece, esquece. O que existe do passado só se revela no presente, e o presente pode bem evoluir a ponto de dispensar o que não precisa. A única coisa que precisa é de uma justificação consistente... passado e futuro moldam-se a essa consistência. Por isso o caminho é de quem procura a verdade, e não de quem a esconde. A verdade de um grupo fechado, de uma elite do oculto, pode ser absolutamente irrelevante para o nexo global. Os sujeitos podem achar que condicionaram a história, mas a história pode ter nexo sem esse condicionamento. Nero pode ter incendiado Roma, mas pode ter sido forçado a isso, ou pode também pode ter sido uma propaganda contra ele, uma danação da sua memória, entre dezenas de outras hipóteses igualmente plausíveis.
Quem se prende às certezas do passado, pode ficar preso num passado onde não cabe o futuro.

Os livres e os livros
Tomemos como exemplo a Bíblia, que assume ter um registo correcto dos tempos passados, desde a criação do Homem... e até do Universo. A existência de um personagem divino no nexo dos acontecimentos pode ser revelar-se completamente redundante, não deixando de ser válidos os relatos tidos como certos. À excepção da criação universal, todo o restante conteúdo poderia ser facilmente inserido num quadro de intervenção extra-terrestre, ou de alguma antiga potência terrestre, com capacidade de iludir manifestações sobrenaturais. Mais comummente é assumido que se tratariam de alegorias remetendo para outros factos. Portanto, mesmo uma peça rígida contendo um relato de acontecimentos, assumido fidedigno, pode estar sujeita a grande maleabilidade interpretativa, dada a incerteza sobre os relatores e sobre a intenção do relato.
Curiosamente, se se pretendeu a veracidade literal em tempos idos, este registo bíblico só acabou por se sustentar pela aceitação de ser alegórico.
Todo o registo documental dum reino, de uma tradição, pode colapsar sob a suspeita de falsidade, ou alegoria intencional. Isso é especialmente fácil de assumir quando verificamos que já ocorreu, e é mantido sistematicamente. Havendo essa intenção de encobrimento generalizado, os detentores de informação "oficial", ou "secreta", caem no simples descrédito das mais básicas contradições, ficando com uma grande estrutura assente em pés-de-barro, em que tudo pode ser alvo de suspeição generalizada. A História passa a ser assim uma mera história, com mais ou menos acontecimentos fabulosos, consoante o "gosto" do leitor. 
O leitor fica assim livre perante os livros. Pega nos que quiser, dá credibilidade ao que quiser, e faz a sua história, com centenas, milhares ou milhões de anos... apenas tem que arrumar as peças de forma consistente. Radicando as suas raízes sobre estruturas alheias, ergue uma árvore alicerçada em vários pontos de apoio num terreno pantanoso. Os que pretendem apenas usar apenas uma raiz como fonte passada, tudo apostam num alicerce dúbio, erodido pelo tempo, por enxertos assentes em contradições que se podem revelar como simples mentiras.

Saída da ilha
Um primeiro momento complicado em termos de convívio humano pacífico terá ocorrido quando a sobrevivência exigiu uma competição letal entre tribos. Ou seja, nessa altura não seria suficiente o afastamento dos perdedores, haveria mortes por questão de sobrevivência, e nessa altura os vencedores passaram a predadores dos perdedores. É natural que tal tenha ocorrido numa ilha, por encurralamento, onde a fuga não era possível.
Já referimos a hipótese de ter sido na zona da Melanésia-Oceânia, pelo simples facto de haver registo de agricultura mais antiga (c. 25 mil anos) nas Ilhas Salomão - Nova Guiné, do registo do haplogrupo-Y remeter ancestrais não-africanos a essas paragens, e mais importante... do convívio em equilíbrio entre tribos canibais da Nova Guiné, que falam 800 línguas diferentes.
Não há registos de antigas civilizações na Nova-Guiné e outras paragens da Oceânia?
Talvez não muitos, mas também é de perguntar o que aconteceu, por exemplo, à Pirâmide do Taiti:
Taiti. A pirâmide (entretanto desaparecida) de Mahaiatea. 

O fim de uma Idade do Gelo implicaria um aumento do nível do mar. Partes unidas ao continente apareceriam como ilhas, prendendo os hominídeos. Casos típicos seriam as ilhas da Oceânia (ou ainda das Caraíbas, mas onde não há outros hominídeos).

Quais são os grandes primatas que nadam? Nenhuns... excepto humanos!
Só recentemente se conseguiu fazer com que dois chimpanzés nadassem, e outras referências são de pequenos macacos. Por isso, encurralar numa ilha significava a priori isso... impossibilidade dos hominídeos sair, a menos que aprendessem sozinhos a nadar.

Numa ilha, dada a súbita restrição, iriam experimentar a escassez de caça, e os conflitos iriam agudizar-se, tornando a competição numa luta pela sobrevivência.
Há assim fortes probabilidades que ocorresse numa ilha a primeira necessidade de ataque e defesa sistemática, onde a invenção de novas armas e estratégias marcasse a diferença. Os primeiros vencedores, passariam a uma situação de novo confronto se o crescimento populacional não fosse travado, ou não fossem encontrados novos recursos.

O equilíbrio final só seria atingido por um ajustamento entre o número de sobreviventes e a capacidade de alimento da ilha. Não é pois de estranhar que fosse numa ilha que se desse com maior urgência a necessidade da agricultura.
Mas ainda assim, a agricultura não evitaria outro crescimento, e o problema colocar-se-ia de novo. Tinha que ser considerado um equilíbrio que, ou evitasse a natalidade descontrolada, ou criasse razão de mortes. De qualquer forma implicaria uma gestão inteligente, um controlo acima da vontade da população. Uma tirania mostraria um alvo a abater, e possibilidades de revolta frequentes. O esquema mais inteligente seria outro... um poder controlador invisível, que regularia o aumento de população por guerras controladas, entre tribos.

Esse poder controlador seria detido pelos xamãs, actuando em sincronia, como uma elite invisível acima da elite visível - o rei ou chefe local. Cada chefe era senhor da sua tribo, mas ao desafiar um xamã, desafiaria todos, e poderia ser rapidamente controlado, pela influência dos outros xamãs nos outros chefes.
Um entendimento entre chefes era controlado pelo simples facto de não falarem a mesma língua... precisariam de tradutores - que seriam normalmente os xamãs, ou elementos por si controlados.
Só assim se parece explicar uma coexistência milenar na Nova Guiné entre mais de 800 tribos que falavam línguas diferentes, que eram violentas, antropófagas, mas onde não houve nenhum ascendente natural que levasse ao domínio de uma sobre as outras. O equilíbrio era polvilhado de mitos, e onde não se saiu de uma sociedade tribal primitiva... mas onde pode ter sido também o local onde apareceu a agricultura, e o poderoso conjunto arco e flecha.

Com uma nova Idade do Gelo, os mares recuavam e a saída das ilhas da Melanésia estava aberta de novo... mas os homens que dali saíam tinham já numa perspectiva e desenvolvimento completamente diferente. O seu contacto com os povos da Ásia meridional seria conflituoso. As sociedades mais pacíficas não resistiriam ao embate, dando origem a uma população mais uniforme em fisionomia (haplogrupo NO), e onde os Ainos são excepção. Esse primeiro domínio seria pela larga região do Extremo Oriente, até aos gelos siberianos.
Vindos de ilhas da Oceânia, outros elementos (haplogrupo P-R1) seguiriam em direcção à Índia, e ainda dessas ilhas polinésias, mais tarde (haplogrupo P-Q), seguiriam em direcção à América (até aí praticamente despovoada).

Não seria apenas um embate militar, não havia apenas uma legião, havia uma religião. Por isso, o embate seria civilizacional, liderado por xamãs, que imitariam noutras paragens os velhos métodos. Na Índia, o ancestral esquema de castas pode ter essa origem. Os pouco numerosos invasores colocaram-se num nível superior, tratando os restantes como escravos. Essa hierarquia bem estabelecida, mais uma vez escondida em múltiplos reinos, unida por uma religião comum, levaria a um efectivo controlo da sociedade.

As sociedades em confronto distinguir-se-iam pela organização. Os invasores eram combatentes natos, organizados, enquanto os alvos viveriam em simples tribos com uma interacção pacífica. A madeira e as peles, os ossos, ou a cerâmica deveriam ser um material comum para os artefactos, tão ou mais importante que as pedras.
O metal estaria ausente. Por isso, a combinação "arco e flecha" teria dificuldade em ser combatida, especialmente quando venenosa, pelo que as serpentes seriam um símbolo importante desse poder. Nesta altura (ainda na Idade do Gelo), se havia monumentos seriam de madeira, osso, de tijolo, muros de pedra não trabalhada, ou então imperfeitos megalitos.
Com o fim da Idade do Gelo as povoações costeiras iriam desaparecer. De forma mais ou menos brusca, um dilúvio terá ocorrido, já que o aumento do nível de água, pelo simples derreter do gelo, submergiria povoações ou antigas estruturas.

De Lito e De Cobre
Da pedra ao cobre vai uma significativa diferença. A pedra bem trabalhada exigiria instrumentos de metal, e por isso haverá uma diferença substancial entre civilizações que apresentam monumentos megalíticos mal trabalhados, e as que o fizeram com uma precisão notável, já que isso implicaria provavelmente o uso de metais. 
Devemos pois distinguir o momento da descoberta do uso de metais, já que seria fulcral para o diferente desenvolvimento civilizacional, não tanto pelas implicações imediatas no conhecimento, mas sim pela consequência do seu uso em armas.
Uma civilização baseada em materiais não-metálicos poderia ser muito sofisticada do ponto de vista intelectual, mas estaria pragmaticamente limitada no embate contra armas mais poderosas. Ou seja, a civilização dos grandes pintores rupestres poderia ser confrontada até à aniquilação com uma civilização guerreira baseada em artefactos metálicos, e outros expedientes militares mais pragmáticos.

Podemos associar o metal à cerâmica, por razão das altas temperaturas usadas para o fabrico. É natural que o metal tivesse surgido por constatação de resíduos em fornos de cerâmica. A cerâmica, por sua vez, teria evoluído da constatação que o barro cozeria mais rapidamente com o fogo, substituindo uma simples secagem ao sol, e dando uma adicional consistência e resistência. Como subproduto desse cozer ao forno, algum pedaço de cobre derretido poderá ter marcado o fim do alicerce na pedra e o princípio do cobre e do encobre.

Uma antiga cerâmica foi encontrada na Caverna de Xianren, na China, e não é muito posterior ao tempo em que se efectuavam belos desenhos rupestres nas cavernas europeias.  
Caverna de Xianren, cerâmica com 20 mil anos...
Alguém toca num sino de tradição sínica

Depois, é claro questiona-se sempre se houve ou não uma ligação global entre culturas, e aqui e ali aparecem sinais. Já vimos exemplos de dolmens na Índia, e também os há na China:
 
Dólmens em Haicheng-Ximu e em Yingkou (China).

Claro que estas informações não têm grande divulgação, e os fazedores de mitos ocidentais gostarão de sempre remeter culpas para as autoridades chinesas... quando lá afinal fazem parte de atracções turísticas locais, e é cá que são "olimpicamente" ignorados.

O fim da macacada
Se o homem foi no mito formado do barro, essa cerâmica feita no molde divino, trazia um travo distinto... e quem diz tinto, não seria pela imagem dionísica, visava-se o sabor, já que outro saber ficara na maçã. A esse homem adamantino foi oferecido um jardim sensaboroso, um paraíso infantil, onde o sabor se substituía ao saber. Porém, essa redoma encantada aparecia como isolamento a semelhantes, menos benventurados, que passariam por macacos servidores de um corte social, de uma corte.
Até ao instante em que a cobra mostra o que cobre, o preço da ilusão era a ignorância.
O convívio pacífico, em qualquer ilha do Pacífico, tinha esse tom de inocência, de regresso aos paraísos naturais, onde não se questionava a gravidade da massa na maçã.
O fruto da chama interrogativa estava lacrado num fogo desnecessário a macacos. Prometeu-se apenas um sentir humano sem sentido humano. Os cortes das cortes garantiam que os mundos de conhecimento não se tocavam, e embalados pela harpa recusariam o bater do tambor.
A reflexão era narcisista, espelhando na água parada um ser que se desenha a si próprio, enterrando na cova a reflexão de ossos num caixão estrutural, uma caixa de Pan doutrora. 
O fogo permitiria alimentar fornos de pão, e a chama do novo homem levaria-o aos mesmos erros passados, à mesma deriva competitiva, com petizes, aprendizes de feiticeiro, que encobririam o cobre, imitando os seus deuses nas hierarquias cognitivas. Uns seriam senhores, outros escravos, e se as torres cresciam na ambição, as línguas eram baralhadas para manter um véu que impedia a comunicação, deixando intocada uma elite sacerdotal que velaria pelos enredos segregados nos segredos. 
No entanto, era o fim da macacada, e a perda da inocência não iria aceitar o fruto sem o questionar, iria à raiz da macieira, questionando as fundações das ilusões, consubstanciando um acordo com a natureza que até aí parecia funcionar como uma fábrica de presentes, sem passado nem futuro, sem razão de ser, sem outra existência que não fosse a de ideias que apareciam e desapareciam como bolas de sabão, enfim, sem um saber constitucional.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 19:11

Contas antigas

23.10.13
A grande quantidade e variedade de fósseis é uma das principais razões para aceitar um nexo evolutivo num contexto terrestre, sem necessidade de elementos externos. 
Não se trata do nexo darwiniano em que o nada explica tudo... essa filosofia de casino atirou para os jogos de sorte e azar uma justificação infantil de tudo o que se passa e passou - a probabilidade de ocorrer tem bastado como justificação da ocorrência.
Por estranho que pareça, é mais simples e informativa a posição oposta - não somos fruto de um acaso, ao contrário, os "acasos" do passado servem o nexo da nossa existência.
De um lado temos aqueles que têm um nexo de causalidade parcial - as causas precedem os efeitos, o que é a visão tipicamente científica; do outro lado, temos aqueles que usam uma causalidade total - os efeitos servem em si mesmo de causas, o que é uma visão mais poética e religiosa.
Para uns, a humanidade é um acidente probabilístico, para os outros a humanidade é a causa desse acidente probabilístico. A insuficiência explicativa do acidente probabilístico é tão grande, tem tantas falhas explicativas, e erros epistemológicos, que só uma profunda insanidade teimosa insistirá na sua validade. Mas, percebe-se o porquê da insistência... porque a alternativa parece esbarrar num círculo vicioso de argumentação. Se nos cingirmos à ideia de que o futuro não existe, então o futuro não pode ser causa do presente. A ciência nega o futuro, porque apenas vê o presente como resultado do passado, e quando isso não foi argumento suficiente socorreu-se da "sorte e azar", o que é basicamente um desespero argumentativo. Os poetas usam uma causalidade diferente - a constatação do futuro servia a causalidade no passado. Por exemplo, constatado o engenho de Ulisses, então a causa era uma protecção passada, por via da deusa Atena. Constatada uma tormenta no mar, bastava invocar algo que poderia ter irritado Poseidon.

Esta perspectiva dos poetas antigos era uma perspectiva religiosa, que ainda hoje é muito usada. A sua originalidade era um inverter da lógica temporal, sendo praticamente inútil do ponto de vista da previsão, mas serviria sempre uma repetitiva argumentação estéril. 
Do ponto de vista da previsão, é óbvio que só a perspectiva científica é útil, porque o desconhecimento do futuro é uma realidade incontornável, e por isso só nos interessa a causalidade que se pode estabelecer do passado para o futuro, e nunca a outra. No entanto, isso não significa que essoutra não exista. Pelo contrário, são as insuficiências do passado como causa única do futuro que mostram a sua presença. Quando aceitamos igual probabilidade de ocorrer A ou B, só a constatação futura o esclarece... e de nada vale dizer que poderia ser B se afinal foi A que ocorreu. Dizer que foi por "sorte" que aconteceu A, é o mesmo que dizer o futuro ditou que fosse A a ocorrer. Assim, escondidos noutros conceitos, a ciência tem mascarados argumentos poéticos ou religiosos no seu discurso, simplesmente porque é inevitável considerar que o futuro existe, e tal como o passado, serve o nexo do presente.

O que é engraçado é que um cientista aceita bem "um nada", a que chama sorte, para os acasos que levaram ao aparecimento de vida, de animais, de homens, na Terra. Fá-lo por constatação do futuro, e por isso a concretização desse acaso aparece ligada ao futuro. No entanto, dificilmente aceita que esses acasos passados foram determinados pelo futuro. O cientista vê os acasos e o futuro ligados, mas por convicção fundamentalista aceita apenas a causalidade no sentido do passado para o futuro, e não do futuro para o passado. Não há nada racional que lhe permita fazer isso, é mera convicção filosófica ou religiosa, de quem se habituou à previsão e nega a interpretação da pós-visão. Ora, a interpretação da pós-visão mostra que sem os acasos que levaram ao aparecimento de inteligência, o universo nem teria existência, pela simples lacuna de observador que o constatasse. Por isso, o passado serve sempre para o nexo do aparecimento do observador inteligente, sob pena de sem ele nem haver consciência de existência no universo.

No meio da multitude de fósseis, que dão nexo a um passado que justifica o presente, encontramos alguns que são verdadeiramente surpreendentes. Alguns parecem parafusos:
Tentaculites (Era Devoniana, Ontário-Canadá) [foto daqui]

... e pode haver quem seja levado a pensar que se tratam mesmo de parafusos de alguma maquinaria antiga.
Esse tipo de argumentação e contra-argumentação tem sido difundido na internet, por via de redes sociais, onde são comuns os enganos, e há uma apetência aos pseudo-factos por ausência de verificação especialista. Fez parte de notícias especulativas (ultimamente vindas da Rússia) um "parafuso com 300 milhões de anos", e o remeter para estes fósseis não afasta a suspeita de quem já acreditou. Trata-se de um jogo de fé com múltiplas vertentes. A confusão tanto serve a desconfiança generalizada, como servirá para a desconfiança perante futuros achados verdadeiros, fora do tempo convencional. 
Contra quem desconfia do registo do status quo oficial, este responde com uma desconfiança generalizada, onde se torna de novo a única referência. Algo semelhante passou-se com a "Revolução Francesa". O regime caiu pela desconfiança contra a sua competência, mas voltou a instalar-se após um período de caos, onde a desconfiança se generalizou, e deixou de haver referências de verdade.
Por isso, quem questiona os registos oficiais, deve salvaguardar que há registos falsos, ou enganadores, lançados até pelo próprio sistema, contra si, como forma de depois ganhar crédito. O sistema espera que injustificadas desconfianças lhe devolvam a confiança.

Outro exemplo que pode envolver confusão entre material fóssil facilmente identificável por um paleontólogo, mas sujeito a fácil confusão por um não especialista, é uma notícia de 2012 sobre eventuais peças fossilizadas de uma máquina, que apontariam para 400 milhões de anos
A notícia (que nos foi gentilmente comunicada por Paulo Cruz) mostra um amontoado de peças:
Registo fossilizado do que poderiam ser peças de uma máquina (ver notícia),
mas que será um amontoado fossilizado de vulgares crinóides.

Estas peças com um centro bem definido e a sugestão de rodas dentadas, tal como os "parafusos" anteriores, levam à sugestão de que se trata de maquinaria perdida. A combinação dos dois achados, pode ainda ser mais sugestiva. No entanto, podemos ver que este aspecto é comum num tipo de fósseis denominados "crinóides" ou ainda "contas índias". 
Concretamente o caso apresentado é de uma espécie de crinóide, denominada "Laudonomphalus regularis" (ver artigo na Acta Palaeontologica Polonica 51 (4), 2006, página 700 - figura 3 - crinóide da letra I), e uma parte da foto está na Wikipedia associada justamente a esse crinóide:
A foto identificada pela Wikipedia é a mesma (ver canto superior esquerdo da anterior) 
o registo diz que foi aí colocada em 2007, trata-se de uma foto tirada no 
Museu de História Natural de Lille (França)... e não um recente achado russo.

Já agora, uma página útil que me levou a concluir serem crinóides é a do Kentucky Geological Survey que permite uma identificação para classificação mais fácil dos fósseis por um amador.

Outro caso conhecido, mas em que o achado era real, e estranho... mereceu atenção durante os anos 1960, e tratou-se de um geode que foi visto como uma vela de ignição moderna, tendo ficado conhecido como o "Artefacto de Coso":
Artefacto de Coso. Uma separação do geode e um seu raio X.

Havendo diversas especulações, pode tratar-se de uma vela Champion, semelhante às de 1920, conforme é sustentado no artigo de que faço o link. Esse artigo conclui isso, e considera que houve uma rápida sedimentação, num espaço de 40 anos... e é esta a conclusão mais precipitada do artigo. É que o facto de ser semelhante a uma vela Champion de 1920, não significa que seja de 1920... Faltou considerar a hipótese de que as velas Champion não fossem uma invenção recente, mas uma mera reposição de invenção antiga.
Não dizemos que sim, é natural até que não... mas já apresentámos vários dados e achados que apontam para tecnologia antiga que foi retomada e registada como invenção recente.

Afinal, o processo de ocultação, que ocorre por "acasos passados" não deixa de fazer parte de um nexo que visou um futuro... mas que também foi visado por esse mesmo futuro. Um julgou que se iria cumprir, o outro irá cumprir-se sem qualquer dúvida.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 06:22

Contas antigas

23.10.13
A grande quantidade e variedade de fósseis é uma das principais razões para aceitar um nexo evolutivo num contexto terrestre, sem necessidade de elementos externos. 
Não se trata do nexo darwiniano em que o nada explica tudo... essa filosofia de casino atirou para os jogos de sorte e azar uma justificação infantil de tudo o que se passa e passou - a probabilidade de ocorrer tem bastado como justificação da ocorrência.
Por estranho que pareça, é mais simples e informativa a posição oposta - não somos fruto de um acaso, ao contrário, os "acasos" do passado servem o nexo da nossa existência.
De um lado temos aqueles que têm um nexo de causalidade parcial - as causas precedem os efeitos, o que é a visão tipicamente científica; do outro lado, temos aqueles que usam uma causalidade total - os efeitos servem em si mesmo de causas, o que é uma visão mais poética e religiosa.
Para uns, a humanidade é um acidente probabilístico, para os outros a humanidade é a causa desse acidente probabilístico. A insuficiência explicativa do acidente probabilístico é tão grande, tem tantas falhas explicativas, e erros epistemológicos, que só uma profunda insanidade teimosa insistirá na sua validade. Mas, percebe-se o porquê da insistência... porque a alternativa parece esbarrar num círculo vicioso de argumentação. Se nos cingirmos à ideia de que o futuro não existe, então o futuro não pode ser causa do presente. A ciência nega o futuro, porque apenas vê o presente como resultado do passado, e quando isso não foi argumento suficiente socorreu-se da "sorte e azar", o que é basicamente um desespero argumentativo. Os poetas usam uma causalidade diferente - a constatação do futuro servia a causalidade no passado. Por exemplo, constatado o engenho de Ulisses, então a causa era uma protecção passada, por via da deusa Atena. Constatada uma tormenta no mar, bastava invocar algo que poderia ter irritado Poseidon.

Esta perspectiva dos poetas antigos era uma perspectiva religiosa, que ainda hoje é muito usada. A sua originalidade era um inverter da lógica temporal, sendo praticamente inútil do ponto de vista da previsão, mas serviria sempre uma repetitiva argumentação estéril. 
Do ponto de vista da previsão, é óbvio que só a perspectiva científica é útil, porque o desconhecimento do futuro é uma realidade incontornável, e por isso só nos interessa a causalidade que se pode estabelecer do passado para o futuro, e nunca a outra. No entanto, isso não significa que essoutra não exista. Pelo contrário, são as insuficiências do passado como causa única do futuro que mostram a sua presença. Quando aceitamos igual probabilidade de ocorrer A ou B, só a constatação futura o esclarece... e de nada vale dizer que poderia ser B se afinal foi A que ocorreu. Dizer que foi por "sorte" que aconteceu A, é o mesmo que dizer o futuro ditou que fosse A a ocorrer. Assim, escondidos noutros conceitos, a ciência tem mascarados argumentos poéticos ou religiosos no seu discurso, simplesmente porque é inevitável considerar que o futuro existe, e tal como o passado, serve o nexo do presente.

O que é engraçado é que um cientista aceita bem "um nada", a que chama sorte, para os acasos que levaram ao aparecimento de vida, de animais, de homens, na Terra. Fá-lo por constatação do futuro, e por isso a concretização desse acaso aparece ligada ao futuro. No entanto, dificilmente aceita que esses acasos passados foram determinados pelo futuro. O cientista vê os acasos e o futuro ligados, mas por convicção fundamentalista aceita apenas a causalidade no sentido do passado para o futuro, e não do futuro para o passado. Não há nada racional que lhe permita fazer isso, é mera convicção filosófica ou religiosa, de quem se habituou à previsão e nega a interpretação da pós-visão. Ora, a interpretação da pós-visão mostra que sem os acasos que levaram ao aparecimento de inteligência, o universo nem teria existência, pela simples lacuna de observador que o constatasse. Por isso, o passado serve sempre para o nexo do aparecimento do observador inteligente, sob pena de sem ele nem haver consciência de existência no universo.

No meio da multitude de fósseis, que dão nexo a um passado que justifica o presente, encontramos alguns que são verdadeiramente surpreendentes. Alguns parecem parafusos:
Tentaculites (Era Devoniana, Ontário-Canadá) [foto daqui]

... e pode haver quem seja levado a pensar que se tratam mesmo de parafusos de alguma maquinaria antiga.
Esse tipo de argumentação e contra-argumentação tem sido difundido na internet, por via de redes sociais, onde são comuns os enganos, e há uma apetência aos pseudo-factos por ausência de verificação especialista. Fez parte de notícias especulativas (ultimamente vindas da Rússia) um "parafuso com 300 milhões de anos", e o remeter para estes fósseis não afasta a suspeita de quem já acreditou. Trata-se de um jogo de fé com múltiplas vertentes. A confusão tanto serve a desconfiança generalizada, como servirá para a desconfiança perante futuros achados verdadeiros, fora do tempo convencional. 
Contra quem desconfia do registo do status quo oficial, este responde com uma desconfiança generalizada, onde se torna de novo a única referência. Algo semelhante passou-se com a "Revolução Francesa". O regime caiu pela desconfiança contra a sua competência, mas voltou a instalar-se após um período de caos, onde a desconfiança se generalizou, e deixou de haver referências de verdade.
Por isso, quem questiona os registos oficiais, deve salvaguardar que há registos falsos, ou enganadores, lançados até pelo próprio sistema, contra si, como forma de depois ganhar crédito. O sistema espera que injustificadas desconfianças lhe devolvam a confiança.

Outro exemplo que pode envolver confusão entre material fóssil facilmente identificável por um paleontólogo, mas sujeito a fácil confusão por um não especialista, é uma notícia de 2012 sobre eventuais peças fossilizadas de uma máquina, que apontariam para 400 milhões de anos
A notícia (que nos foi gentilmente comunicada por Paulo Cruz) mostra um amontoado de peças:
Registo fossilizado do que poderiam ser peças de uma máquina (ver notícia),
mas que será um amontoado fossilizado de vulgares crinóides.

Estas peças com um centro bem definido e a sugestão de rodas dentadas, tal como os "parafusos" anteriores, levam à sugestão de que se trata de maquinaria perdida. A combinação dos dois achados, pode ainda ser mais sugestiva. No entanto, podemos ver que este aspecto é comum num tipo de fósseis denominados "crinóides" ou ainda "contas índias". 
Concretamente o caso apresentado é de uma espécie de crinóide, denominada "Laudonomphalus regularis" (ver artigo na Acta Palaeontologica Polonica 51 (4), 2006, página 700 - figura 3 - crinóide da letra I), e uma parte da foto está na Wikipedia associada justamente a esse crinóide:
A foto identificada pela Wikipedia é a mesma (ver canto superior esquerdo da anterior) 
o registo diz que foi aí colocada em 2007, trata-se de uma foto tirada no 
Museu de História Natural de Lille (França)... e não um recente achado russo.

Já agora, uma página útil que me levou a concluir serem crinóides é a do Kentucky Geological Survey que permite uma identificação para classificação mais fácil dos fósseis por um amador.

Outro caso conhecido, mas em que o achado era real, e estranho... mereceu atenção durante os anos 1960, e tratou-se de um geode que foi visto como uma vela de ignição moderna, tendo ficado conhecido como o "Artefacto de Coso":
Artefacto de Coso. Uma separação do geode e um seu raio X.

Havendo diversas especulações, pode tratar-se de uma vela Champion, semelhante às de 1920, conforme é sustentado no artigo de que faço o link. Esse artigo conclui isso, e considera que houve uma rápida sedimentação, num espaço de 40 anos... e é esta a conclusão mais precipitada do artigo. É que o facto de ser semelhante a uma vela Champion de 1920, não significa que seja de 1920... Faltou considerar a hipótese de que as velas Champion não fossem uma invenção recente, mas uma mera reposição de invenção antiga.
Não dizemos que sim, é natural até que não... mas já apresentámos vários dados e achados que apontam para tecnologia antiga que foi retomada e registada como invenção recente.

Afinal, o processo de ocultação, que ocorre por "acasos passados" não deixa de fazer parte de um nexo que visou um futuro... mas que também foi visado por esse mesmo futuro. Um julgou que se iria cumprir, o outro irá cumprir-se sem qualquer dúvida.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 06:22

"Mistério" é uma palavra açoriana associada a formações de lava, que incluem os "biscoitos".

Embora os mistérios sejam formações de lava de vária ordem, num inventário do Concelho de S. Roque, na ilha do Pico, encontrámos de novo os carris, ou valetas sobre a lava:




CAMINHO ANTIGO - SANTANA AO LAJIDO

-----------------------------
SANTO ANTÓNIO • AO LONGO DA COSTA, SANTANA, CABRITO, ARCOS E LAJIDO
PAISAGEM PROTEGIDA DE INTERESSE REGIONAL (Decreto Legislativo Regional nº12/96/A, de 27 de Junho)
ÉPOCA DE CONSTRUÇÃO INICIAL: SÉC.XV/SÉC.XVII
DESCRIÇÃO: Antiga via de comunicação que, junto à costa, ligava a Vila da Madalena e outras localidades deste concelho ao Lajido (Santa Luzia), Arcos (Santa Luzia), Cabrito (Santa Luzia) e Santana (Santo António), onde terminava.
Em alguns locais existem vestígios de calçada, enquanto noutros está à vista a utilização de lajes de pedra. Ainda em outros locais desta via, onde a estrada actual não os cobriu, são visíveis trilhos vincados nas lajes, alguns com considerável profundidade (Lajido), resultantes da passagem intensa de carros de bois.
Ao longo desta via, em alguns pontos, existem ainda os muros, em alvenaria de pedra, que a ladeavam.
--------------------------------------------------------

Lava que lava
A lava que lava é algo que parece ter tido significado literal, já que ainda em S. Roque são visíveis os tanques esculpidos em basalto:
São Roque - tanques de lava...

Por toda parte nos Açores se celebra o culto do Espírito Santo.
As ilhas que serviam de base para a exploração atlântica foram armazém dos mistérios que já tinham, antes da colonização oficial portuguesa, e que continuaram a alimentar em secretismo nos séculos seguintes, do XV ao XVII. 

O meu conhecimento do hermetismo nacional é quase nulo.
Num dos blogs que mais se esforça por divulgar as múltiplas facetas desse hermetismo literário:

podemos encontrar dois excertos de uma obra de Paulo Loução: A Alma Secreta de Portugal, que tem entrevistas com José Manuel Anes (Grão Mestre da Grande Loja Regular de Portugal) e António Cândido Franco, que referem justamente esse antigo culto do Espírito Santo:
Esculpidos na entrelinhas de uma literatura surgem assim detalhes que nos levam aos mistérios da entidade nacional... como se o legado greco-romano invocasse um outro legado. Como é referido nesses excertos, um ponto que parece fundamental é a característica desse legado ter sido transportado na essência pela tradição popular, já que na tradição erudita tudo aparece mais confuso pela exigida ligação clássica ao legado greco-romano.

No texto Quinotauro de Chauvet, falámos da representação do mito do Minotauro que parecia ser sugerido numa gravura rupestre da Gruta de Chauvet. No entanto, pudemos depois ver que a imagem era parcial, e haveria uma continuação que levava a um desenho de uma leoa (consorte de um rei leão ou rei Minos?)...
A leoa e o mito do Minotauro na Gruta de Chauvet.

Portanto, até pela própria mistura de desenhos, que já ocorria nas antigas pinturas, o legado ficou sobreposto, deixado a uma confusão cuja intenção, ou se perdeu na noite dos tempos, ou ficou guardada sigilosamente em organizações ancestrais. Porém, à distância de milénios todo o legado pouco mais é que uma crença de continuidade. É fácil em poucas gerações iludir ligações milenares, a ponto de que as confirmações pouco mais sejam do que um reforçado querer acreditar. 

Quando vemos os cavalos nas imagens de Chauvet, podemos também descobrir outros desenhos, fazendo notar um retoque, uma sobreposição conveniente, adaptada a novo desenho:
Será que os cavalos foram imagem original, ou foram mera alteração de desenhos anteriores, que representavam cervos? (note-se a presença dos chifres) 
Coloco aqui um excerto de um comentário de José Manuel, que faz notar a melhor qualidade de desenho existente em tempos remotos, e que parece até sugerir uma capacidade fotográfica de grande resolução. De acordo com um artigo em LaPresse.ca
LES HOMMES DES CAVERNES DESSINAIENT MIEUX
Les hommes des cavernes dessinaient mieux que les artistes modernes selon une étude publiée dans une revue scientifique américaine.

Les chercheurs ont notamment observé les dessins des grottes de Lascaux.
Les hommes des cavernes dessinaient mieux la démarche des animaux que les artistes modernes, selon des comparaisons effectuées par des chercheurs dont les résultats sont publiés mercredi dans une revue scientifique américaine.
La plupart des quadrupèdes ont une séquence similaire dans le déplacement de leurs pattes, qu'ils marchent, trottent ou courent.
Ces mouvements ont été étudiés scientifiquement à partir du début des années 1880 par Eadweard Muybridge, un photographe britannique célèbre pour ses décompositions photographiques du mouvement dont se sont ensuite inspirés de nombreux artistes.
Les auteurs de cette recherche ont examiné les peintures préhistoriques de boeufs et d'éléphants dans plusieurs grottes comme celle de Lascaux en France ainsi que des tableaux et des statues modernes représentant aussi des quadrupèdes en mouvement.
Ils ont évalué l'exactitude de la reproduction du mouvement dans ces peintures et sculptures par rapport aux observations scientifiques des démarches de ces animaux.
Taux d'erreur plus faible
Ils ont découvert que souvent les animaux représentés marchant ou trottant avaient leurs pattes dans des positions erronées.
Les peintures préhistoriques, elles, avaient un taux d'erreur nettement plus faible (46,2%) que les oeuvres modernes (83,5%) datant d'avant 1887, année à laquelle remontent les travaux de Muybridge. Ce taux d'erreur est tombé après cette date à 57,9%.
Cette étude effectuée par Gabor Horvath de l'Université Eotvos à Budapest en Hongrie, paraît dans la revue scientifique américaine PLOS ONE datée du 5 décembre.
Acresce que na Gruta de Chauvet vemos mesmo uma sequência de desenhos, que parece pretender dar a ideia de movimento, como é o caso de uma sobreposição de imagens de rinoceronte:

Porém, a questão principal não é colocada sobre as imagens que existem...
... a questão principal é colocada sobre as imagens que desapareceram!

O aparecimento de pinturas, que foi recuperado em grutas perdidas, inacessíveis por milénios, deixa como questão principal o destino que tiveram todas as outras pinturas, que certamente haveria em muitas outras cavernas acessíveis.
O que se passou com essas pinturas?
Houve uma lava, uma lavagem de paredes?
Foram aqueles registos passados vistos como "graffitis" incómodos por gregos e romanos?

Na Índia, Ajanta junta uma série de pinturas, que podem sugerir uma sobreposição sucessiva:

... portanto aqui a questão não foi uma "lava" de lavagem, mas sim uma provável "lavagem" com sobreposição sucessiva de novas pinturas. O registo das várias cavernas de Ajanta indica pinturas que vão desde o Séc. II a.C. ao Séc. VII d.C., num período de quase mil anos, em que o local serviu de registo icónico.

No entanto, será que podemos reduzir o registo de cavernas indiano a esse período "recente"?
Já vimos que não... falámos sobre Bhimbetka, mas há ainda outros registos, que eram conhecidos no início do Séc. XX e que parece que desapareceram de menção recente.

Um caso notável seriam as pinturas de Singanpur, que se encontram mencionadas num livro de 1927:
Cena de caça em Gruta de Singanpur

Hoje parece dificil reencontrar os lugares mencionados por Panchanan Mitra há um século atrás... as cavernas parecem ter voltado a ficar esquecidas, o caso de Singanpur é apenas um dos exemplos aí referido. 
Portanto, a lava continua a escorrer de um vulcão de esquecimento programado.

A questão muito simples, mas tortuosa é a seguinte:
- O que sabe a geração seguinte se a geração anterior se empenhar na ocultação?
- Que língua falariam os filhos se os pais se recusassem a ensiná-los a falar?

Os filhos a quem os pais decidissem "não ensinar a falar" seriam assumidamente condenados a um "estatuto quase animalesco"... e que pais seriam capazes de tal discriminação?
Pois bem, foi quase a esse nível que as coisas foram colocadas pela nossa herança humana... onde a escolha dos eleitos para a herança, condenaria os restantes a um nível bastante inferior de desenvolvimento, numa perspectiva que chegou a ver esses excluídos como "animais" destinados ao serviço dos restantes.

Pois bem, essa atitude tem um reverso complicado... pois o desenvolvimento é uma questão subtil.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 21:56

"Mistério" é uma palavra açoriana associada a formações de lava, que incluem os "biscoitos".

Embora os mistérios sejam formações de lava de vária ordem, num inventário do Concelho de S. Roque, na ilha do Pico, encontrámos de novo os carris, ou valetas sobre a lava:

  
CAMINHO ANTIGO - SANTANA AO LAJIDO
-----------------------------
SANTO ANTÓNIO • AO LONGO DA COSTA, SANTANA, CABRITO, ARCOS E LAJIDO
PAISAGEM PROTEGIDA DE INTERESSE REGIONAL (Decreto Legislativo Regional nº12/96/A, de 27 de Junho)
ÉPOCA DE CONSTRUÇÃO INICIAL: SÉC.XV/SÉC.XVII
DESCRIÇÃO: Antiga via de comunicação que, junto à costa, ligava a Vila da Madalena e outras localidades deste concelho ao Lajido (Santa Luzia), Arcos (Santa Luzia), Cabrito (Santa Luzia) e Santana (Santo António), onde terminava.
Em alguns locais existem vestígios de calçada, enquanto noutros está à vista a utilização de lajes de pedra. Ainda em outros locais desta via, onde a estrada actual não os cobriu, são visíveis trilhos vincados nas lajes, alguns com considerável profundidade (Lajido), resultantes da passagem intensa de carros de bois.
Ao longo desta via, em alguns pontos, existem ainda os muros, em alvenaria de pedra, que a ladeavam.
--------------------------------------------------------

Lava que lava
A lava que lava é algo que parece ter tido significado literal, já que ainda em S. Roque são visíveis os tanques esculpidos em basalto:
São Roque - tanques de lava...

Por toda parte nos Açores se celebra o culto do Espírito Santo.
As ilhas que serviam de base para a exploração atlântica foram armazém dos mistérios que já tinham, antes da colonização oficial portuguesa, e que continuaram a alimentar em secretismo nos séculos seguintes, do XV ao XVII. 

O meu conhecimento do hermetismo nacional é quase nulo.
Num dos blogs que mais se esforça por divulgar as múltiplas facetas desse hermetismo literário:

podemos encontrar dois excertos de uma obra de Paulo Loução: A Alma Secreta de Portugal, que tem entrevistas com José Manuel Anes (Grão Mestre da Grande Loja Regular de Portugal) e António Cândido Franco, que referem justamente esse antigo culto do Espírito Santo:
Esculpidos na entrelinhas de uma literatura surgem assim detalhes que nos levam aos mistérios da entidade nacional... como se o legado greco-romano invocasse um outro legado. Como é referido nesses excertos, um ponto que parece fundamental é a característica desse legado ter sido transportado na essência pela tradição popular, já que na tradição erudita tudo aparece mais confuso pela exigida ligação clássica ao legado greco-romano.

No texto Quinotauro de Chauvet, falámos da representação do mito do Minotauro que parecia ser sugerido numa gravura rupestre da Gruta de Chauvet. No entanto, pudemos depois ver que a imagem era parcial, e haveria uma continuação que levava a um desenho de uma leoa (consorte de um rei leão ou rei Minos?)...
A leoa e o mito do Minotauro na Gruta de Chauvet.

Portanto, até pela própria mistura de desenhos, que já ocorria nas antigas pinturas, o legado ficou sobreposto, deixado a uma confusão cuja intenção, ou se perdeu na noite dos tempos, ou ficou guardada sigilosamente em organizações ancestrais. Porém, à distância de milénios todo o legado pouco mais é que uma crença de continuidade. É fácil em poucas gerações iludir ligações milenares, a ponto de que as confirmações pouco mais sejam do que um reforçado querer acreditar. 

Quando vemos os cavalos nas imagens de Chauvet, podemos também descobrir outros desenhos, fazendo notar um retoque, uma sobreposição conveniente, adaptada a novo desenho:
Será que os cavalos foram imagem original, ou foram mera alteração de desenhos anteriores, que representavam cervos? (note-se a presença dos chifres) 
Coloco aqui um excerto de um comentário de José Manuel, que faz notar a melhor qualidade de desenho existente em tempos remotos, e que parece até sugerir uma capacidade fotográfica de grande resolução. De acordo com um artigo em LaPresse.ca
LES HOMMES DES CAVERNES DESSINAIENT MIEUX
Les hommes des cavernes dessinaient mieux que les artistes modernes selon une étude publiée dans une revue scientifique américaine.
Les chercheurs ont notamment observé les dessins des grottes de Lascaux.
Les hommes des cavernes dessinaient mieux la démarche des animaux que les artistes modernes, selon des comparaisons effectuées par des chercheurs dont les résultats sont publiés mercredi dans une revue scientifique américaine.
La plupart des quadrupèdes ont une séquence similaire dans le déplacement de leurs pattes, qu'ils marchent, trottent ou courent.
Ces mouvements ont été étudiés scientifiquement à partir du début des années 1880 par Eadweard Muybridge, un photographe britannique célèbre pour ses décompositions photographiques du mouvement dont se sont ensuite inspirés de nombreux artistes.
Les auteurs de cette recherche ont examiné les peintures préhistoriques de boeufs et d'éléphants dans plusieurs grottes comme celle de Lascaux en France ainsi que des tableaux et des statues modernes représentant aussi des quadrupèdes en mouvement.
Ils ont évalué l'exactitude de la reproduction du mouvement dans ces peintures et sculptures par rapport aux observations scientifiques des démarches de ces animaux.
Taux d'erreur plus faible
Ils ont découvert que souvent les animaux représentés marchant ou trottant avaient leurs pattes dans des positions erronées.
Les peintures préhistoriques, elles, avaient un taux d'erreur nettement plus faible (46,2%) que les oeuvres modernes (83,5%) datant d'avant 1887, année à laquelle remontent les travaux de Muybridge. Ce taux d'erreur est tombé après cette date à 57,9%.
Cette étude effectuée par Gabor Horvath de l'Université Eotvos à Budapest en Hongrie, paraît dans la revue scientifique américaine PLOS ONE datée du 5 décembre.
Acresce que na Gruta de Chauvet vemos mesmo uma sequência de desenhos, que parece pretender dar a ideia de movimento, como é o caso de uma sobreposição de imagens de rinoceronte:

Porém, a questão principal não é colocada sobre as imagens que existem...
... a questão principal é colocada sobre as imagens que desapareceram!

O aparecimento de pinturas, que foi recuperado em grutas perdidas, inacessíveis por milénios, deixa como questão principal o destino que tiveram todas as outras pinturas, que certamente haveria em muitas outras cavernas acessíveis.
O que se passou com essas pinturas?
Houve uma lava, uma lavagem de paredes?
Foram aqueles registos passados vistos como "graffitis" incómodos por gregos e romanos?

Na Índia, Ajanta junta uma série de pinturas, que podem sugerir uma sobreposição sucessiva:

... portanto aqui a questão não foi uma "lava" de lavagem, mas sim uma provável "lavagem" com sobreposição sucessiva de novas pinturas. O registo das várias cavernas de Ajanta indica pinturas que vão desde o Séc. II a.C. ao Séc. VII d.C., num período de quase mil anos, em que o local serviu de registo icónico.

No entanto, será que podemos reduzir o registo de cavernas indiano a esse período "recente"?
Já vimos que não... falámos sobre Bhimbetka, mas há ainda outros registos, que eram conhecidos no início do Séc. XX e que parece que desapareceram de menção recente.

Um caso notável seriam as pinturas de Singanpur, que se encontram mencionadas num livro de 1927:
Cena de caça em Gruta de Singanpur

Hoje parece dificil reencontrar os lugares mencionados por Panchanan Mitra há um século atrás... as cavernas parecem ter voltado a ficar esquecidas, o caso de Singanpur é apenas um dos exemplos aí referido. 
Portanto, a lava continua a escorrer de um vulcão de esquecimento programado.

A questão muito simples, mas tortuosa é a seguinte:
- O que sabe a geração seguinte se a geração anterior se empenhar na ocultação?
- Que língua falariam os filhos se os pais se recusassem a ensiná-los a falar?

Os filhos a quem os pais decidissem "não ensinar a falar" seriam assumidamente condenados a um "estatuto quase animalesco"... e que pais seriam capazes de tal discriminação?
Pois bem, foi quase a esse nível que as coisas foram colocadas pela nossa herança humana... onde a escolha dos eleitos para a herança, condenaria os restantes a um nível bastante inferior de desenvolvimento, numa perspectiva que chegou a ver esses excluídos como "animais" destinados ao serviço dos restantes.

Pois bem, essa atitude tem um reverso complicado... pois o desenvolvimento é uma questão subtil.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 21:56


Alojamento principal

alvor-silves.blogspot.com

calendário

Julho 2020

D S T Q Q S S
1234
567891011
12131415161718
19202122232425
262728293031



Arquivo

  1. 2020
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2019
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2018
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2017
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2016
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2015
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2014
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2013
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2012
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2011
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2010
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D