Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]


Continuação de Inevitabilidade (1).
O erro parece inevitável.
No entanto, até que se possa falar de verdades indiscutíveis, de cariz lógico-matemático, todas as outras considerações são simples comparações de registos... uns tidos como mais certos que outros, de forma subjectiva apenas se distinguem pelo número de adeptos.

Seguindo um raciocínio consistente, se os dados oficiais levarem a conclusões contraditórias, o problema remete-se exclusivamente à inconsistência desse registo oficial. 
Dada a incerteza subjacente nas informações que usamos, é algo indiferente averiguar da veracidade actual dos dados. Interessa mais saber navegar num mar de falsidades.
Haverá quem julgue ter informações privilegiadas, remontando sabe-se lá onde, vindas sabe-se lá por que meios... pouco importa. A certeza sobre informações depende muito mais da robustez do seu nexo, do que da certeza do seu conteúdo, pois as peças individuais são mais contributivas do que decisivas.
Mesmo que os cultivadores do oculto viessem publicamente reconhecer as suas manipulações, e nos entregassem uma nova versão dos acontecimentos, essa versão não escaparia ao mesmo critério judicioso de averiguar a sua consistência e plausibilidade.

A verdade é algo intemporal, não é o que se julga verdade hoje que interessa.
Quem não aparece, esquece. O que existe do passado só se revela no presente, e o presente pode bem evoluir a ponto de dispensar o que não precisa. A única coisa que precisa é de uma justificação consistente... passado e futuro moldam-se a essa consistência. Por isso o caminho é de quem procura a verdade, e não de quem a esconde. A verdade de um grupo fechado, de uma elite do oculto, pode ser absolutamente irrelevante para o nexo global. Os sujeitos podem achar que condicionaram a história, mas a história pode ter nexo sem esse condicionamento. Nero pode ter incendiado Roma, mas pode ter sido forçado a isso, ou pode também pode ter sido uma propaganda contra ele, uma danação da sua memória, entre dezenas de outras hipóteses igualmente plausíveis.
Quem se prende às certezas do passado, pode ficar preso num passado onde não cabe o futuro.

Os livres e os livros
Tomemos como exemplo a Bíblia, que assume ter um registo correcto dos tempos passados, desde a criação do Homem... e até do Universo. A existência de um personagem divino no nexo dos acontecimentos pode ser revelar-se completamente redundante, não deixando de ser válidos os relatos tidos como certos. À excepção da criação universal, todo o restante conteúdo poderia ser facilmente inserido num quadro de intervenção extra-terrestre, ou de alguma antiga potência terrestre, com capacidade de iludir manifestações sobrenaturais. Mais comummente é assumido que se tratariam de alegorias remetendo para outros factos. Portanto, mesmo uma peça rígida contendo um relato de acontecimentos, assumido fidedigno, pode estar sujeita a grande maleabilidade interpretativa, dada a incerteza sobre os relatores e sobre a intenção do relato.
Curiosamente, se se pretendeu a veracidade literal em tempos idos, este registo bíblico só acabou por se sustentar pela aceitação de ser alegórico.
Todo o registo documental dum reino, de uma tradição, pode colapsar sob a suspeita de falsidade, ou alegoria intencional. Isso é especialmente fácil de assumir quando verificamos que já ocorreu, e é mantido sistematicamente. Havendo essa intenção de encobrimento generalizado, os detentores de informação "oficial", ou "secreta", caem no simples descrédito das mais básicas contradições, ficando com uma grande estrutura assente em pés-de-barro, em que tudo pode ser alvo de suspeição generalizada. A História passa a ser assim uma mera história, com mais ou menos acontecimentos fabulosos, consoante o "gosto" do leitor. 
O leitor fica assim livre perante os livros. Pega nos que quiser, dá credibilidade ao que quiser, e faz a sua história, com centenas, milhares ou milhões de anos... apenas tem que arrumar as peças de forma consistente. Radicando as suas raízes sobre estruturas alheias, ergue uma árvore alicerçada em vários pontos de apoio num terreno pantanoso. Os que pretendem apenas usar apenas uma raiz como fonte passada, tudo apostam num alicerce dúbio, erodido pelo tempo, por enxertos assentes em contradições que se podem revelar como simples mentiras.

Saída da ilha
Um primeiro momento complicado em termos de convívio humano pacífico terá ocorrido quando a sobrevivência exigiu uma competição letal entre tribos. Ou seja, nessa altura não seria suficiente o afastamento dos perdedores, haveria mortes por questão de sobrevivência, e nessa altura os vencedores passaram a predadores dos perdedores. É natural que tal tenha ocorrido numa ilha, por encurralamento, onde a fuga não era possível.
Já referimos a hipótese de ter sido na zona da Melanésia-Oceânia, pelo simples facto de haver registo de agricultura mais antiga (c. 25 mil anos) nas Ilhas Salomão - Nova Guiné, do registo do haplogrupo-Y remeter ancestrais não-africanos a essas paragens, e mais importante... do convívio em equilíbrio entre tribos canibais da Nova Guiné, que falam 800 línguas diferentes.
Não há registos de antigas civilizações na Nova-Guiné e outras paragens da Oceânia?
Talvez não muitos, mas também é de perguntar o que aconteceu, por exemplo, à Pirâmide do Taiti:
Taiti. A pirâmide (entretanto desaparecida) de Mahaiatea. 

O fim de uma Idade do Gelo implicaria um aumento do nível do mar. Partes unidas ao continente apareceriam como ilhas, prendendo os hominídeos. Casos típicos seriam as ilhas da Oceânia (ou ainda das Caraíbas, mas onde não há outros hominídeos).

Quais são os grandes primatas que nadam? Nenhuns... excepto humanos!
Só recentemente se conseguiu fazer com que dois chimpanzés nadassem, e outras referências são de pequenos macacos. Por isso, encurralar numa ilha significava a priori isso... impossibilidade dos hominídeos sair, a menos que aprendessem sozinhos a nadar.

Numa ilha, dada a súbita restrição, iriam experimentar a escassez de caça, e os conflitos iriam agudizar-se, tornando a competição numa luta pela sobrevivência.
Há assim fortes probabilidades que ocorresse numa ilha a primeira necessidade de ataque e defesa sistemática, onde a invenção de novas armas e estratégias marcasse a diferença. Os primeiros vencedores, passariam a uma situação de novo confronto se o crescimento populacional não fosse travado, ou não fossem encontrados novos recursos.

O equilíbrio final só seria atingido por um ajustamento entre o número de sobreviventes e a capacidade de alimento da ilha. Não é pois de estranhar que fosse numa ilha que se desse com maior urgência a necessidade da agricultura.
Mas ainda assim, a agricultura não evitaria outro crescimento, e o problema colocar-se-ia de novo. Tinha que ser considerado um equilíbrio que, ou evitasse a natalidade descontrolada, ou criasse razão de mortes. De qualquer forma implicaria uma gestão inteligente, um controlo acima da vontade da população. Uma tirania mostraria um alvo a abater, e possibilidades de revolta frequentes. O esquema mais inteligente seria outro... um poder controlador invisível, que regularia o aumento de população por guerras controladas, entre tribos.

Esse poder controlador seria detido pelos xamãs, actuando em sincronia, como uma elite invisível acima da elite visível - o rei ou chefe local. Cada chefe era senhor da sua tribo, mas ao desafiar um xamã, desafiaria todos, e poderia ser rapidamente controlado, pela influência dos outros xamãs nos outros chefes.
Um entendimento entre chefes era controlado pelo simples facto de não falarem a mesma língua... precisariam de tradutores - que seriam normalmente os xamãs, ou elementos por si controlados.
Só assim se parece explicar uma coexistência milenar na Nova Guiné entre mais de 800 tribos que falavam línguas diferentes, que eram violentas, antropófagas, mas onde não houve nenhum ascendente natural que levasse ao domínio de uma sobre as outras. O equilíbrio era polvilhado de mitos, e onde não se saiu de uma sociedade tribal primitiva... mas onde pode ter sido também o local onde apareceu a agricultura, e o poderoso conjunto arco e flecha.

Com uma nova Idade do Gelo, os mares recuavam e a saída das ilhas da Melanésia estava aberta de novo... mas os homens que dali saíam tinham já numa perspectiva e desenvolvimento completamente diferente. O seu contacto com os povos da Ásia meridional seria conflituoso. As sociedades mais pacíficas não resistiriam ao embate, dando origem a uma população mais uniforme em fisionomia (haplogrupo NO), e onde os Ainos são excepção. Esse primeiro domínio seria pela larga região do Extremo Oriente, até aos gelos siberianos.
Vindos de ilhas da Oceânia, outros elementos (haplogrupo P-R1) seguiriam em direcção à Índia, e ainda dessas ilhas polinésias, mais tarde (haplogrupo P-Q), seguiriam em direcção à América (até aí praticamente despovoada).

Não seria apenas um embate militar, não havia apenas uma legião, havia uma religião. Por isso, o embate seria civilizacional, liderado por xamãs, que imitariam noutras paragens os velhos métodos. Na Índia, o ancestral esquema de castas pode ter essa origem. Os pouco numerosos invasores colocaram-se num nível superior, tratando os restantes como escravos. Essa hierarquia bem estabelecida, mais uma vez escondida em múltiplos reinos, unida por uma religião comum, levaria a um efectivo controlo da sociedade.

As sociedades em confronto distinguir-se-iam pela organização. Os invasores eram combatentes natos, organizados, enquanto os alvos viveriam em simples tribos com uma interacção pacífica. A madeira e as peles, os ossos, ou a cerâmica deveriam ser um material comum para os artefactos, tão ou mais importante que as pedras.
O metal estaria ausente. Por isso, a combinação "arco e flecha" teria dificuldade em ser combatida, especialmente quando venenosa, pelo que as serpentes seriam um símbolo importante desse poder. Nesta altura (ainda na Idade do Gelo), se havia monumentos seriam de madeira, osso, de tijolo, muros de pedra não trabalhada, ou então imperfeitos megalitos.
Com o fim da Idade do Gelo as povoações costeiras iriam desaparecer. De forma mais ou menos brusca, um dilúvio terá ocorrido, já que o aumento do nível de água, pelo simples derreter do gelo, submergiria povoações ou antigas estruturas.

De Lito e De Cobre
Da pedra ao cobre vai uma significativa diferença. A pedra bem trabalhada exigiria instrumentos de metal, e por isso haverá uma diferença substancial entre civilizações que apresentam monumentos megalíticos mal trabalhados, e as que o fizeram com uma precisão notável, já que isso implicaria provavelmente o uso de metais. 
Devemos pois distinguir o momento da descoberta do uso de metais, já que seria fulcral para o diferente desenvolvimento civilizacional, não tanto pelas implicações imediatas no conhecimento, mas sim pela consequência do seu uso em armas.
Uma civilização baseada em materiais não-metálicos poderia ser muito sofisticada do ponto de vista intelectual, mas estaria pragmaticamente limitada no embate contra armas mais poderosas. Ou seja, a civilização dos grandes pintores rupestres poderia ser confrontada até à aniquilação com uma civilização guerreira baseada em artefactos metálicos, e outros expedientes militares mais pragmáticos.

Podemos associar o metal à cerâmica, por razão das altas temperaturas usadas para o fabrico. É natural que o metal tivesse surgido por constatação de resíduos em fornos de cerâmica. A cerâmica, por sua vez, teria evoluído da constatação que o barro cozeria mais rapidamente com o fogo, substituindo uma simples secagem ao sol, e dando uma adicional consistência e resistência. Como subproduto desse cozer ao forno, algum pedaço de cobre derretido poderá ter marcado o fim do alicerce na pedra e o princípio do cobre e do encobre.

Uma antiga cerâmica foi encontrada na Caverna de Xianren, na China, e não é muito posterior ao tempo em que se efectuavam belos desenhos rupestres nas cavernas europeias.  
Caverna de Xianren, cerâmica com 20 mil anos...
Alguém toca num sino de tradição sínica

Depois, é claro questiona-se sempre se houve ou não uma ligação global entre culturas, e aqui e ali aparecem sinais. Já vimos exemplos de dolmens na Índia, e também os há na China:

Dólmens em Haicheng-Ximu e em Yingkou (China).

Claro que estas informações não têm grande divulgação, e os fazedores de mitos ocidentais gostarão de sempre remeter culpas para as autoridades chinesas... quando lá afinal fazem parte de atracções turísticas locais, e é cá que são "olimpicamente" ignorados.

O fim da macacada
Se o homem foi no mito formado do barro, essa cerâmica feita no molde divino, trazia um travo distinto... e quem diz tinto, não seria pela imagem dionísica, visava-se o sabor, já que outro saber ficara na maçã. A esse homem adamantino foi oferecido um jardim sensaboroso, um paraíso infantil, onde o sabor se substituía ao saber. Porém, essa redoma encantada aparecia como isolamento a semelhantes, menos benventurados, que passariam por macacos servidores de um corte social, de uma corte.
Até ao instante em que a cobra mostra o que cobre, o preço da ilusão era a ignorância.
O convívio pacífico, em qualquer ilha do Pacífico, tinha esse tom de inocência, de regresso aos paraísos naturais, onde não se questionava a gravidade da massa na maçã.
O fruto da chama interrogativa estava lacrado num fogo desnecessário a macacos. Prometeu-se apenas um sentir humano sem sentido humano. Os cortes das cortes garantiam que os mundos de conhecimento não se tocavam, e embalados pela harpa recusariam o bater do tambor.
A reflexão era narcisista, espelhando na água parada um ser que se desenha a si próprio, enterrando na cova a reflexão de ossos num caixão estrutural, uma caixa de Pan doutrora. 
O fogo permitiria alimentar fornos de pão, e a chama do novo homem levaria-o aos mesmos erros passados, à mesma deriva competitiva, com petizes, aprendizes de feiticeiro, que encobririam o cobre, imitando os seus deuses nas hierarquias cognitivas. Uns seriam senhores, outros escravos, e se as torres cresciam na ambição, as línguas eram baralhadas para manter um véu que impedia a comunicação, deixando intocada uma elite sacerdotal que velaria pelos enredos segregados nos segredos. 
No entanto, era o fim da macacada, e a perda da inocência não iria aceitar o fruto sem o questionar, iria à raiz da macieira, questionando as fundações das ilusões, consubstanciando um acordo com a natureza que até aí parecia funcionar como uma fábrica de presentes, sem passado nem futuro, sem razão de ser, sem outra existência que não fosse a de ideias que apareciam e desapareciam como bolas de sabão, enfim, sem um saber constitucional.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 19:11

Continuação de Inevitabilidade (1).
O erro parece inevitável.
No entanto, até que se possa falar de verdades indiscutíveis, de cariz lógico-matemático, todas as outras considerações são simples comparações de registos... uns tidos como mais certos que outros, de forma subjectiva apenas se distinguem pelo número de adeptos.

Seguindo um raciocínio consistente, se os dados oficiais levarem a conclusões contraditórias, o problema remete-se exclusivamente à inconsistência desse registo oficial. 
Dada a incerteza subjacente nas informações que usamos, é algo indiferente averiguar da veracidade actual dos dados. Interessa mais saber navegar num mar de falsidades.
Haverá quem julgue ter informações privilegiadas, remontando sabe-se lá onde, vindas sabe-se lá por que meios... pouco importa. A certeza sobre informações depende muito mais da robustez do seu nexo, do que da certeza do seu conteúdo, pois as peças individuais são mais contributivas do que decisivas.
Mesmo que os cultivadores do oculto viessem publicamente reconhecer as suas manipulações, e nos entregassem uma nova versão dos acontecimentos, essa versão não escaparia ao mesmo critério judicioso de averiguar a sua consistência e plausibilidade.

A verdade é algo intemporal, não é o que se julga verdade hoje que interessa.
Quem não aparece, esquece. O que existe do passado só se revela no presente, e o presente pode bem evoluir a ponto de dispensar o que não precisa. A única coisa que precisa é de uma justificação consistente... passado e futuro moldam-se a essa consistência. Por isso o caminho é de quem procura a verdade, e não de quem a esconde. A verdade de um grupo fechado, de uma elite do oculto, pode ser absolutamente irrelevante para o nexo global. Os sujeitos podem achar que condicionaram a história, mas a história pode ter nexo sem esse condicionamento. Nero pode ter incendiado Roma, mas pode ter sido forçado a isso, ou pode também pode ter sido uma propaganda contra ele, uma danação da sua memória, entre dezenas de outras hipóteses igualmente plausíveis.
Quem se prende às certezas do passado, pode ficar preso num passado onde não cabe o futuro.

Os livres e os livros
Tomemos como exemplo a Bíblia, que assume ter um registo correcto dos tempos passados, desde a criação do Homem... e até do Universo. A existência de um personagem divino no nexo dos acontecimentos pode ser revelar-se completamente redundante, não deixando de ser válidos os relatos tidos como certos. À excepção da criação universal, todo o restante conteúdo poderia ser facilmente inserido num quadro de intervenção extra-terrestre, ou de alguma antiga potência terrestre, com capacidade de iludir manifestações sobrenaturais. Mais comummente é assumido que se tratariam de alegorias remetendo para outros factos. Portanto, mesmo uma peça rígida contendo um relato de acontecimentos, assumido fidedigno, pode estar sujeita a grande maleabilidade interpretativa, dada a incerteza sobre os relatores e sobre a intenção do relato.
Curiosamente, se se pretendeu a veracidade literal em tempos idos, este registo bíblico só acabou por se sustentar pela aceitação de ser alegórico.
Todo o registo documental dum reino, de uma tradição, pode colapsar sob a suspeita de falsidade, ou alegoria intencional. Isso é especialmente fácil de assumir quando verificamos que já ocorreu, e é mantido sistematicamente. Havendo essa intenção de encobrimento generalizado, os detentores de informação "oficial", ou "secreta", caem no simples descrédito das mais básicas contradições, ficando com uma grande estrutura assente em pés-de-barro, em que tudo pode ser alvo de suspeição generalizada. A História passa a ser assim uma mera história, com mais ou menos acontecimentos fabulosos, consoante o "gosto" do leitor. 
O leitor fica assim livre perante os livros. Pega nos que quiser, dá credibilidade ao que quiser, e faz a sua história, com centenas, milhares ou milhões de anos... apenas tem que arrumar as peças de forma consistente. Radicando as suas raízes sobre estruturas alheias, ergue uma árvore alicerçada em vários pontos de apoio num terreno pantanoso. Os que pretendem apenas usar apenas uma raiz como fonte passada, tudo apostam num alicerce dúbio, erodido pelo tempo, por enxertos assentes em contradições que se podem revelar como simples mentiras.

Saída da ilha
Um primeiro momento complicado em termos de convívio humano pacífico terá ocorrido quando a sobrevivência exigiu uma competição letal entre tribos. Ou seja, nessa altura não seria suficiente o afastamento dos perdedores, haveria mortes por questão de sobrevivência, e nessa altura os vencedores passaram a predadores dos perdedores. É natural que tal tenha ocorrido numa ilha, por encurralamento, onde a fuga não era possível.
Já referimos a hipótese de ter sido na zona da Melanésia-Oceânia, pelo simples facto de haver registo de agricultura mais antiga (c. 25 mil anos) nas Ilhas Salomão - Nova Guiné, do registo do haplogrupo-Y remeter ancestrais não-africanos a essas paragens, e mais importante... do convívio em equilíbrio entre tribos canibais da Nova Guiné, que falam 800 línguas diferentes.
Não há registos de antigas civilizações na Nova-Guiné e outras paragens da Oceânia?
Talvez não muitos, mas também é de perguntar o que aconteceu, por exemplo, à Pirâmide do Taiti:
Taiti. A pirâmide (entretanto desaparecida) de Mahaiatea. 

O fim de uma Idade do Gelo implicaria um aumento do nível do mar. Partes unidas ao continente apareceriam como ilhas, prendendo os hominídeos. Casos típicos seriam as ilhas da Oceânia (ou ainda das Caraíbas, mas onde não há outros hominídeos).

Quais são os grandes primatas que nadam? Nenhuns... excepto humanos!
Só recentemente se conseguiu fazer com que dois chimpanzés nadassem, e outras referências são de pequenos macacos. Por isso, encurralar numa ilha significava a priori isso... impossibilidade dos hominídeos sair, a menos que aprendessem sozinhos a nadar.

Numa ilha, dada a súbita restrição, iriam experimentar a escassez de caça, e os conflitos iriam agudizar-se, tornando a competição numa luta pela sobrevivência.
Há assim fortes probabilidades que ocorresse numa ilha a primeira necessidade de ataque e defesa sistemática, onde a invenção de novas armas e estratégias marcasse a diferença. Os primeiros vencedores, passariam a uma situação de novo confronto se o crescimento populacional não fosse travado, ou não fossem encontrados novos recursos.

O equilíbrio final só seria atingido por um ajustamento entre o número de sobreviventes e a capacidade de alimento da ilha. Não é pois de estranhar que fosse numa ilha que se desse com maior urgência a necessidade da agricultura.
Mas ainda assim, a agricultura não evitaria outro crescimento, e o problema colocar-se-ia de novo. Tinha que ser considerado um equilíbrio que, ou evitasse a natalidade descontrolada, ou criasse razão de mortes. De qualquer forma implicaria uma gestão inteligente, um controlo acima da vontade da população. Uma tirania mostraria um alvo a abater, e possibilidades de revolta frequentes. O esquema mais inteligente seria outro... um poder controlador invisível, que regularia o aumento de população por guerras controladas, entre tribos.

Esse poder controlador seria detido pelos xamãs, actuando em sincronia, como uma elite invisível acima da elite visível - o rei ou chefe local. Cada chefe era senhor da sua tribo, mas ao desafiar um xamã, desafiaria todos, e poderia ser rapidamente controlado, pela influência dos outros xamãs nos outros chefes.
Um entendimento entre chefes era controlado pelo simples facto de não falarem a mesma língua... precisariam de tradutores - que seriam normalmente os xamãs, ou elementos por si controlados.
Só assim se parece explicar uma coexistência milenar na Nova Guiné entre mais de 800 tribos que falavam línguas diferentes, que eram violentas, antropófagas, mas onde não houve nenhum ascendente natural que levasse ao domínio de uma sobre as outras. O equilíbrio era polvilhado de mitos, e onde não se saiu de uma sociedade tribal primitiva... mas onde pode ter sido também o local onde apareceu a agricultura, e o poderoso conjunto arco e flecha.

Com uma nova Idade do Gelo, os mares recuavam e a saída das ilhas da Melanésia estava aberta de novo... mas os homens que dali saíam tinham já numa perspectiva e desenvolvimento completamente diferente. O seu contacto com os povos da Ásia meridional seria conflituoso. As sociedades mais pacíficas não resistiriam ao embate, dando origem a uma população mais uniforme em fisionomia (haplogrupo NO), e onde os Ainos são excepção. Esse primeiro domínio seria pela larga região do Extremo Oriente, até aos gelos siberianos.
Vindos de ilhas da Oceânia, outros elementos (haplogrupo P-R1) seguiriam em direcção à Índia, e ainda dessas ilhas polinésias, mais tarde (haplogrupo P-Q), seguiriam em direcção à América (até aí praticamente despovoada).

Não seria apenas um embate militar, não havia apenas uma legião, havia uma religião. Por isso, o embate seria civilizacional, liderado por xamãs, que imitariam noutras paragens os velhos métodos. Na Índia, o ancestral esquema de castas pode ter essa origem. Os pouco numerosos invasores colocaram-se num nível superior, tratando os restantes como escravos. Essa hierarquia bem estabelecida, mais uma vez escondida em múltiplos reinos, unida por uma religião comum, levaria a um efectivo controlo da sociedade.

As sociedades em confronto distinguir-se-iam pela organização. Os invasores eram combatentes natos, organizados, enquanto os alvos viveriam em simples tribos com uma interacção pacífica. A madeira e as peles, os ossos, ou a cerâmica deveriam ser um material comum para os artefactos, tão ou mais importante que as pedras.
O metal estaria ausente. Por isso, a combinação "arco e flecha" teria dificuldade em ser combatida, especialmente quando venenosa, pelo que as serpentes seriam um símbolo importante desse poder. Nesta altura (ainda na Idade do Gelo), se havia monumentos seriam de madeira, osso, de tijolo, muros de pedra não trabalhada, ou então imperfeitos megalitos.
Com o fim da Idade do Gelo as povoações costeiras iriam desaparecer. De forma mais ou menos brusca, um dilúvio terá ocorrido, já que o aumento do nível de água, pelo simples derreter do gelo, submergiria povoações ou antigas estruturas.

De Lito e De Cobre
Da pedra ao cobre vai uma significativa diferença. A pedra bem trabalhada exigiria instrumentos de metal, e por isso haverá uma diferença substancial entre civilizações que apresentam monumentos megalíticos mal trabalhados, e as que o fizeram com uma precisão notável, já que isso implicaria provavelmente o uso de metais. 
Devemos pois distinguir o momento da descoberta do uso de metais, já que seria fulcral para o diferente desenvolvimento civilizacional, não tanto pelas implicações imediatas no conhecimento, mas sim pela consequência do seu uso em armas.
Uma civilização baseada em materiais não-metálicos poderia ser muito sofisticada do ponto de vista intelectual, mas estaria pragmaticamente limitada no embate contra armas mais poderosas. Ou seja, a civilização dos grandes pintores rupestres poderia ser confrontada até à aniquilação com uma civilização guerreira baseada em artefactos metálicos, e outros expedientes militares mais pragmáticos.

Podemos associar o metal à cerâmica, por razão das altas temperaturas usadas para o fabrico. É natural que o metal tivesse surgido por constatação de resíduos em fornos de cerâmica. A cerâmica, por sua vez, teria evoluído da constatação que o barro cozeria mais rapidamente com o fogo, substituindo uma simples secagem ao sol, e dando uma adicional consistência e resistência. Como subproduto desse cozer ao forno, algum pedaço de cobre derretido poderá ter marcado o fim do alicerce na pedra e o princípio do cobre e do encobre.

Uma antiga cerâmica foi encontrada na Caverna de Xianren, na China, e não é muito posterior ao tempo em que se efectuavam belos desenhos rupestres nas cavernas europeias.  
Caverna de Xianren, cerâmica com 20 mil anos...
Alguém toca num sino de tradição sínica

Depois, é claro questiona-se sempre se houve ou não uma ligação global entre culturas, e aqui e ali aparecem sinais. Já vimos exemplos de dolmens na Índia, e também os há na China:
 
Dólmens em Haicheng-Ximu e em Yingkou (China).

Claro que estas informações não têm grande divulgação, e os fazedores de mitos ocidentais gostarão de sempre remeter culpas para as autoridades chinesas... quando lá afinal fazem parte de atracções turísticas locais, e é cá que são "olimpicamente" ignorados.

O fim da macacada
Se o homem foi no mito formado do barro, essa cerâmica feita no molde divino, trazia um travo distinto... e quem diz tinto, não seria pela imagem dionísica, visava-se o sabor, já que outro saber ficara na maçã. A esse homem adamantino foi oferecido um jardim sensaboroso, um paraíso infantil, onde o sabor se substituía ao saber. Porém, essa redoma encantada aparecia como isolamento a semelhantes, menos benventurados, que passariam por macacos servidores de um corte social, de uma corte.
Até ao instante em que a cobra mostra o que cobre, o preço da ilusão era a ignorância.
O convívio pacífico, em qualquer ilha do Pacífico, tinha esse tom de inocência, de regresso aos paraísos naturais, onde não se questionava a gravidade da massa na maçã.
O fruto da chama interrogativa estava lacrado num fogo desnecessário a macacos. Prometeu-se apenas um sentir humano sem sentido humano. Os cortes das cortes garantiam que os mundos de conhecimento não se tocavam, e embalados pela harpa recusariam o bater do tambor.
A reflexão era narcisista, espelhando na água parada um ser que se desenha a si próprio, enterrando na cova a reflexão de ossos num caixão estrutural, uma caixa de Pan doutrora. 
O fogo permitiria alimentar fornos de pão, e a chama do novo homem levaria-o aos mesmos erros passados, à mesma deriva competitiva, com petizes, aprendizes de feiticeiro, que encobririam o cobre, imitando os seus deuses nas hierarquias cognitivas. Uns seriam senhores, outros escravos, e se as torres cresciam na ambição, as línguas eram baralhadas para manter um véu que impedia a comunicação, deixando intocada uma elite sacerdotal que velaria pelos enredos segregados nos segredos. 
No entanto, era o fim da macacada, e a perda da inocência não iria aceitar o fruto sem o questionar, iria à raiz da macieira, questionando as fundações das ilusões, consubstanciando um acordo com a natureza que até aí parecia funcionar como uma fábrica de presentes, sem passado nem futuro, sem razão de ser, sem outra existência que não fosse a de ideias que apareciam e desapareciam como bolas de sabão, enfim, sem um saber constitucional.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 19:11

10) Sobre a genética
Quais as conclusões que podemos retirar do que entretanto foi escrito?
Primeiro, que há evidências mais que suficientes de registos terrestres para construir uma "história humana", ainda que com muitas e naturais incertezas, ela não se afastará demasiado da história oficial... excepto na questão da ocultação.
Por um lado, há todo um registo fóssil e genético que parece concordar nalguns pontos fundamentais:
- Primeiro, uma evolução genética animal, acompanhada de registos fósseis, que leva dos mais pequenos seres até aos homens. No entanto, só aparentemente parecerá uma evolução aleatória - não foi. 
Volto a insistir, evoluções haveria muitas, umas poderiam nunca gerar vida, outras gerariam vida complexa vegetal, mas não animal, outras poderiam nunca permitir seres inteligentes. O único universo que ganharia consciência da sua existência teria que permitir (e justificar) vida inteligente. Bom, mas para falar disso convenientemente teria que começar por explicar o que é vida, distinguindo matéria inerte da animada, e distinguindo a singularidade da racionalidade humana. Já falei sobre o assunto, mas não em detalhe, nem o vou fazer agora. Estas perguntas são muitas vezes colocadas filosoficamente, mas com respostas que se enredam na retórica, e do ponto de vista científico nem se tenta a resposta...

- Segundo, houve uma evolução, cujo traço genético também se pode acompanhar com o registo de ossadas, com a genética, e ainda com a própria evolução do embrião.
A evolução do embrião tem a própria história do desenvolvimento humano, e pela comparação com o desenvolvimento de outros fetos podemos seguir o percurso evolutivo global, que é replicado, desde a formação do ovo, uma primeira divisão, depois a formação da blástula e gástrula - que é distintiva dos animais, a formação do sistema nervoso, etc... Até determinada altura, a diferença entre o embrião humano e o embrião de um outro animal é apenas potencial. Mas, rapidamente, torna-se completamente diferente.
Embriologia comparativa (de antranik.org)

Este tipo de evolução não tem a ver com o nexo darwinista da evolução lenta e aleatória, que contrariava aliás os registos fósseis - que apresentavam "grandes catástrofes". No entanto, como se mostra na primeira linha da figura, há uma flagrante semelhança externa entre embriões de vários animais.
Curiosamente, há uma distinção vertebrada logo no início da formação da gástrula... muito antes da fase apresentada na figura. Se o tubo digestivo abre primeiro pela boca, vamos parar a seres invertebrados... insectos, lulas, polvos, etc. No caso dos animais vertebrados o tubo digestivo abre primeiro pelo... outro lado! Por isso, ficámos geneticamente na classe dos peixinhos (deuterostomas) e não dos polvos (protostomas)...

Bom, para quem procura intervenções extra-terrestres para a génese humana, ficaria por explicar todo o traço natural consistente... ou seja, dados os registos, do ponto de vista material a grande dificuldade está em explicar a origem da vida, já que sobre a evolução ou desenvolvimento, essa intervenção só faria sentido com uma paciência divina.

Convém perceber que a codificação genética é apenas uma chave que funciona numa porta. É dentro do ambiente terrestre que se formaram materialmente as portas e as chaves... Ou seja, aquilo que aparece desapegado da essência evolutiva é que a Terra foi um útero participante no desenvolvimento. Por exemplo, no caso dos répteis, o ovo pode eclodir sem presença materna... isso dá a ideia de que a sua formação é independente do progenitor. Curiosamente, isso já não acontecerá com as aves, e obviamente não acontecerá com os mamíferos. Dependem de um ambiente viável e dedicação dos progenitores para que haja sucesso do seu descendente. Conceptualmente há uma diferença significativa - um réptil poderia encarar que "nascera do nada", o mesmo conceito não se aplica a aves e mamíferos, que têm um acompanhamento externo, que inevitavelmente entrará na formação da sua cognição.

Por isso, os mitos criacionistas ligados à figura do ovo da serpente, são focados na perspectiva da serpente que ignora o ovo que a formou. Assim, qualquer cognição do universo não pode deixar de questionar a própria formação da cognição, e remetê-la para uma origem anterior à cognição. De forma figurada ou não, depende do grau de misticismo, a formação humana num útero materno parece simular a própria evolução humana no útero terrestre, com os diversos passos que levaram à formação da espécie.

Ninguém o faz... mas podemos questionar coisas estranhas. 
Se olharmos para a duplicação de células, ela é feita pela mitose, que é um processo fundamental na formação dos tecidos dos indivíduos... no entanto, não há nenhum animal que se "duplique" dessa forma. Só nalgum filme de ficção científica poderíamos ver um ser a duplicar-se... e no entanto, não seria propriamente impossível do ponto de vista físico. A duplicação exige um crescimento, ou seja, os mais novos estariam em aparente desvantagem face aos já existentes... e isso seria definitivo sem o processo de morte. Essa desvantagem dos mais novos face aos já existentes só terminaria se terminasse a competição e se houvesse uma lógica cooperativa. Repare-se que se a duplicação fosse do próprio, os duplos, gémeos, ficariam em imediata igualdade - se tivessem uma lógica competitiva procurariam aniquilar-se imediatamente.
Há muitas outras perguntas... por exemplo, por que razão a nossa cognição não recebe informação interna explícita? Ou seja, o nosso corpo trata da sua defesa interna automaticamente, sem nunca nos informar sobre o que se está a passar... envia os seus glóbulos, tenta conter infecções, mas só temos informação disso por manifestações externas. Na prática é como se o nosso corpo nos fosse externo, e temos um limitado uso dele, na obediência a algumas acções conscientes. Do ponto de vista da evolução natural seria expectável que teria mais sucesso um organismo capaz de exercer maior controlo sobre o seu corpo. Isto já para nem falar nas vantagens de alguns pequenos animais - como a salamandra - que têm a possibilidade de regenerar os seus membros, mesmos quando são cortados.
A conclusão que se retira é que somos confrontados com uma existência, mesmo material, que nos oculta o próprio funcionamento do corpo que a suporta. Se quisermos saber, temos que fazer uma introspecção... médica, e precisamos de considerável aparelhagem para isso. Essa mesma existência dá-nos uma pequena margem de manobra sobre o corpo, muito circunscrita à sobrevivência alimentar, de resto a nossa função resumir-se-ia a uma lógica de espectadores-actores (muito limitados).

11) Sobre a mitologia
O registo fenício de Sanchoniato permite ver uma perspectiva completamente diferente do habitual. Ou seja, parece que os fenícios não teriam visto a necessidade de introduzir deuses no seu panteão. Se o faziam, não era pela linha filosófica de Taautus, seria por uma questão de acompanhar o ânimo da população.
É claro que quando as linhas filosóficas estão desajustadas da cognição da população, entrava-se no esquema de suprir isso com uma alegoria de divindades reconfortantes. Por exemplo, na China há vários templos dedicados a divindades particulares, que são mais ou menos populares consoante têm mais ou menos "milagres" associados. Acaba por ser uma efectiva competição divina, as pessoas dirigem-se aos maiores templos, porque eles foram erigidos como recompensa humana ao maior número de milagres. Se o deus quer ter maior protagonismo, tem que fazer mais milagres... 
Depois, é claro, há as outras religiões mais filosóficas, mas que não se adaptam bem ao desejos mundanos... o espectador-actor pura e simplesmente pretende que o filme lhe seja favorável, quando não consegue mais no enquadramento, com as suas limitadas acções.

Como vimos ainda, pelo registo de Beroso, parece ter havido uma interferência externa na civilização suméria. Os anedotos, ou os Anunaki, conforme lhe queiramos chamar, teriam educado alguns preceitos fundamentais, e apareciam como divindades... neste caso como homens-bacalhau. 
O registo genético dá-nos algumas informações curiosas. As populações de registo A, B, C, D mantiveram ao longo das diversas gerações uma tradição que as prendeu a uma forma de vida adaptada à sua sobrevivência. Devido ao relativo sucesso dessa cultura, algumas não mudam a sua forma de vida há muitos milénios.
Nos primeiros tempos a competição entre humanos deve ter sido pontual... a ideia seria "quem não está bem, muda-se". Assim, é razoavelmente fácil de prever uma migração dos mais novos para outros territórios de caça, já que os anteriores estavam ocupados. Isso teria um limite, e as coisas complicavam-se numa glaciação, ou por períodos de seca... alguns dos territórios passavam a inúteis, e começava-se a cobiçar, ou a entrar no território dos vizinhos, com os conflitos inerentes. Porém, isso só deverá ter acontecido quando houve uma cobertura humana quase completa do território terrestre. Ao ponto, de alguns, mais novos, não terem outra possibilidade senão migrar para paragens americanas. O grupo Q é um dos mais recentes, e no entanto tanto encontraríamos civilizações complexas, como Aztecas e Maias, ou outras civilizações que manteriam um estilo de vida semelhante às tribos africanas, australianas, ou da Nova Guiné. Esse grupo tem o mesmo antecedente que o grupo R, que se iria depois instalar na Europa Ocidental chegando à Índia, definindo talvez uma tradição comum indo-europeia.

Sem entrar em mais conjecturas, é possível que os assírios, que tinham um registo de "reis pastores", tivessem sofrido uma influência de uma cultura ligeiramente mais avançada, mas que permitiria iludir tribos mais antigas, por meio de algumas inovações criativas. Essa diferença de desenvolvimento poderia ser brutal, no espaço de umas centenas de anos... se as outras tribos permanecessem agarradas à sua tradição milenar.
No entanto, isto não significa que a civilização mais avançada se aproveitasse simplesmente das restantes... no caso assírio nota-se uma tentativa de ensinar, que depois será ainda complementada com os ensinamentos de Zoroastro. No entanto não iria interferir sempre, procuraria controlar os acontecimentos à distância... como nos viemos a habituar. Apoiaria a potência e prepararia um rival que se opusesse, equilibrando tanto quanto possível os acontecimentos na zona Euro-asiática.

É interessante citar aqui os Ainos, uma daquelas tribos que manteve o seu registo civilizacional durante milénios. Alguns antropólogos do Séc. XIX foram estudá-los e notaram a grande diferença civilizacional, tendo ficado impressionados com a sua dificuldade de comunicação... a conversa seria coisa entre pais e crianças, para passar a informação existente. Não havendo conversa entre adultos, seria complicada uma evolução (por outro lado não perderiam tempo com rumores e ofensas).
Assim, a informação às crianças era passada através de alegorias em contos. 
Um deles é instrutivo para o efeito deste texto. Tratava de uma lenda da coruja e do rato.
O rato teria roubado sementes à coruja, e esta acabou por encontrá-lo exigindo a devolução. O esperto rato pediu desculpa e disse que iria compensá-la com um segredo que lhe daria prazeres incríveis. 
A coruja concedeu, e o rato disse que ela deveria subir a um pau e depois deixar-se cair. A coruja assim fez, e só depois de empalada é que deu conta que tinha sido enganada de novo. 
A partir daí as corujas nunca deixaram de perseguir os ratos.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 07:49

10) Sobre a genética
Quais as conclusões que podemos retirar do que entretanto foi escrito?
Primeiro, que há evidências mais que suficientes de registos terrestres para construir uma "história humana", ainda que com muitas e naturais incertezas, ela não se afastará demasiado da história oficial... excepto na questão da ocultação.
Por um lado, há todo um registo fóssil e genético que parece concordar nalguns pontos fundamentais:
- Primeiro, uma evolução genética animal, acompanhada de registos fósseis, que leva dos mais pequenos seres até aos homens. No entanto, só aparentemente parecerá uma evolução aleatória - não foi. 
Volto a insistir, evoluções haveria muitas, umas poderiam nunca gerar vida, outras gerariam vida complexa vegetal, mas não animal, outras poderiam nunca permitir seres inteligentes. O único universo que ganharia consciência da sua existência teria que permitir (e justificar) vida inteligente. Bom, mas para falar disso convenientemente teria que começar por explicar o que é vida, distinguindo matéria inerte da animada, e distinguindo a singularidade da racionalidade humana. Já falei sobre o assunto, mas não em detalhe, nem o vou fazer agora. Estas perguntas são muitas vezes colocadas filosoficamente, mas com respostas que se enredam na retórica, e do ponto de vista científico nem se tenta a resposta...

- Segundo, houve uma evolução, cujo traço genético também se pode acompanhar com o registo de ossadas, com a genética, e ainda com a própria evolução do embrião.
A evolução do embrião tem a própria história do desenvolvimento humano, e pela comparação com o desenvolvimento de outros fetos podemos seguir o percurso evolutivo global, que é replicado, desde a formação do ovo, uma primeira divisão, depois a formação da blástula e gástrula - que é distintiva dos animais, a formação do sistema nervoso, etc... Até determinada altura, a diferença entre o embrião humano e o embrião de um outro animal é apenas potencial. Mas, rapidamente, torna-se completamente diferente.
Embriologia comparativa (de antranik.org)

Este tipo de evolução não tem a ver com o nexo darwinista da evolução lenta e aleatória, que contrariava aliás os registos fósseis - que apresentavam "grandes catástrofes". No entanto, como se mostra na primeira linha da figura, há uma flagrante semelhança externa entre embriões de vários animais.
Curiosamente, há uma distinção vertebrada logo no início da formação da gástrula... muito antes da fase apresentada na figura. Se o tubo digestivo abre primeiro pela boca, vamos parar a seres invertebrados... insectos, lulas, polvos, etc. No caso dos animais vertebrados o tubo digestivo abre primeiro pelo... outro lado! Por isso, ficámos geneticamente na classe dos peixinhos (deuterostomas) e não dos polvos (protostomas)...

Bom, para quem procura intervenções extra-terrestres para a génese humana, ficaria por explicar todo o traço natural consistente... ou seja, dados os registos, do ponto de vista material a grande dificuldade está em explicar a origem da vida, já que sobre a evolução ou desenvolvimento, essa intervenção só faria sentido com uma paciência divina.

Convém perceber que a codificação genética é apenas uma chave que funciona numa porta. É dentro do ambiente terrestre que se formaram materialmente as portas e as chaves... Ou seja, aquilo que aparece desapegado da essência evolutiva é que a Terra foi um útero participante no desenvolvimento. Por exemplo, no caso dos répteis, o ovo pode eclodir sem presença materna... isso dá a ideia de que a sua formação é independente do progenitor. Curiosamente, isso já não acontecerá com as aves, e obviamente não acontecerá com os mamíferos. Dependem de um ambiente viável e dedicação dos progenitores para que haja sucesso do seu descendente. Conceptualmente há uma diferença significativa - um réptil poderia encarar que "nascera do nada", o mesmo conceito não se aplica a aves e mamíferos, que têm um acompanhamento externo, que inevitavelmente entrará na formação da sua cognição.

Por isso, os mitos criacionistas ligados à figura do ovo da serpente, são focados na perspectiva da serpente que ignora o ovo que a formou. Assim, qualquer cognição do universo não pode deixar de questionar a própria formação da cognição, e remetê-la para uma origem anterior à cognição. De forma figurada ou não, depende do grau de misticismo, a formação humana num útero materno parece simular a própria evolução humana no útero terrestre, com os diversos passos que levaram à formação da espécie.

Ninguém o faz... mas podemos questionar coisas estranhas. 
Se olharmos para a duplicação de células, ela é feita pela mitose, que é um processo fundamental na formação dos tecidos dos indivíduos... no entanto, não há nenhum animal que se "duplique" dessa forma. Só nalgum filme de ficção científica poderíamos ver um ser a duplicar-se... e no entanto, não seria propriamente impossível do ponto de vista físico. A duplicação exige um crescimento, ou seja, os mais novos estariam em aparente desvantagem face aos já existentes... e isso seria definitivo sem o processo de morte. Essa desvantagem dos mais novos face aos já existentes só terminaria se terminasse a competição e se houvesse uma lógica cooperativa. Repare-se que se a duplicação fosse do próprio, os duplos, gémeos, ficariam em imediata igualdade - se tivessem uma lógica competitiva procurariam aniquilar-se imediatamente.
Há muitas outras perguntas... por exemplo, por que razão a nossa cognição não recebe informação interna explícita? Ou seja, o nosso corpo trata da sua defesa interna automaticamente, sem nunca nos informar sobre o que se está a passar... envia os seus glóbulos, tenta conter infecções, mas só temos informação disso por manifestações externas. Na prática é como se o nosso corpo nos fosse externo, e temos um limitado uso dele, na obediência a algumas acções conscientes. Do ponto de vista da evolução natural seria expectável que teria mais sucesso um organismo capaz de exercer maior controlo sobre o seu corpo. Isto já para nem falar nas vantagens de alguns pequenos animais - como a salamandra - que têm a possibilidade de regenerar os seus membros, mesmos quando são cortados.
A conclusão que se retira é que somos confrontados com uma existência, mesmo material, que nos oculta o próprio funcionamento do corpo que a suporta. Se quisermos saber, temos que fazer uma introspecção... médica, e precisamos de considerável aparelhagem para isso. Essa mesma existência dá-nos uma pequena margem de manobra sobre o corpo, muito circunscrita à sobrevivência alimentar, de resto a nossa função resumir-se-ia a uma lógica de espectadores-actores (muito limitados).

11) Sobre a mitologia
O registo fenício de Sanchoniato permite ver uma perspectiva completamente diferente do habitual. Ou seja, parece que os fenícios não teriam visto a necessidade de introduzir deuses no seu panteão. Se o faziam, não era pela linha filosófica de Taautus, seria por uma questão de acompanhar o ânimo da população.
É claro que quando as linhas filosóficas estão desajustadas da cognição da população, entrava-se no esquema de suprir isso com uma alegoria de divindades reconfortantes. Por exemplo, na China há vários templos dedicados a divindades particulares, que são mais ou menos populares consoante têm mais ou menos "milagres" associados. Acaba por ser uma efectiva competição divina, as pessoas dirigem-se aos maiores templos, porque eles foram erigidos como recompensa humana ao maior número de milagres. Se o deus quer ter maior protagonismo, tem que fazer mais milagres... 
Depois, é claro, há as outras religiões mais filosóficas, mas que não se adaptam bem ao desejos mundanos... o espectador-actor pura e simplesmente pretende que o filme lhe seja favorável, quando não consegue mais no enquadramento, com as suas limitadas acções.

Como vimos ainda, pelo registo de Beroso, parece ter havido uma interferência externa na civilização suméria. Os anedotos, ou os Anunaki, conforme lhe queiramos chamar, teriam educado alguns preceitos fundamentais, e apareciam como divindades... neste caso como homens-bacalhau. 
O registo genético dá-nos algumas informações curiosas. As populações de registo A, B, C, D mantiveram ao longo das diversas gerações uma tradição que as prendeu a uma forma de vida adaptada à sua sobrevivência. Devido ao relativo sucesso dessa cultura, algumas não mudam a sua forma de vida há muitos milénios.
Nos primeiros tempos a competição entre humanos deve ter sido pontual... a ideia seria "quem não está bem, muda-se". Assim, é razoavelmente fácil de prever uma migração dos mais novos para outros territórios de caça, já que os anteriores estavam ocupados. Isso teria um limite, e as coisas complicavam-se numa glaciação, ou por períodos de seca... alguns dos territórios passavam a inúteis, e começava-se a cobiçar, ou a entrar no território dos vizinhos, com os conflitos inerentes. Porém, isso só deverá ter acontecido quando houve uma cobertura humana quase completa do território terrestre. Ao ponto, de alguns, mais novos, não terem outra possibilidade senão migrar para paragens americanas. O grupo Q é um dos mais recentes, e no entanto tanto encontraríamos civilizações complexas, como Aztecas e Maias, ou outras civilizações que manteriam um estilo de vida semelhante às tribos africanas, australianas, ou da Nova Guiné. Esse grupo tem o mesmo antecedente que o grupo R, que se iria depois instalar na Europa Ocidental chegando à Índia, definindo talvez uma tradição comum indo-europeia.

Sem entrar em mais conjecturas, é possível que os assírios, que tinham um registo de "reis pastores", tivessem sofrido uma influência de uma cultura ligeiramente mais avançada, mas que permitiria iludir tribos mais antigas, por meio de algumas inovações criativas. Essa diferença de desenvolvimento poderia ser brutal, no espaço de umas centenas de anos... se as outras tribos permanecessem agarradas à sua tradição milenar.
No entanto, isto não significa que a civilização mais avançada se aproveitasse simplesmente das restantes... no caso assírio nota-se uma tentativa de ensinar, que depois será ainda complementada com os ensinamentos de Zoroastro. No entanto não iria interferir sempre, procuraria controlar os acontecimentos à distância... como nos viemos a habituar. Apoiaria a potência e prepararia um rival que se opusesse, equilibrando tanto quanto possível os acontecimentos na zona Euro-asiática.

É interessante citar aqui os Ainos, uma daquelas tribos que manteve o seu registo civilizacional durante milénios. Alguns antropólogos do Séc. XIX foram estudá-los e notaram a grande diferença civilizacional, tendo ficado impressionados com a sua dificuldade de comunicação... a conversa seria coisa entre pais e crianças, para passar a informação existente. Não havendo conversa entre adultos, seria complicada uma evolução (por outro lado não perderiam tempo com rumores e ofensas).
Assim, a informação às crianças era passada através de alegorias em contos. 
Um deles é instrutivo para o efeito deste texto. Tratava de uma lenda da coruja e do rato.
O rato teria roubado sementes à coruja, e esta acabou por encontrá-lo exigindo a devolução. O esperto rato pediu desculpa e disse que iria compensá-la com um segredo que lhe daria prazeres incríveis. 
A coruja concedeu, e o rato disse que ela deveria subir a um pau e depois deixar-se cair. A coruja assim fez, e só depois de empalada é que deu conta que tinha sido enganada de novo. 
A partir daí as corujas nunca deixaram de perseguir os ratos.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 07:49

9) Lendas segundo a genética
O desenvolvimento moderno da genética abriu novas perguntas às teorias habituais da migração humana. No entanto, tem-se visto uma tentativa de manter as versões anteriores, que parecem ser inconsistentes com aquilo que a genética tem apresentado. É claro que, como em todas as coisas, há duvidas, e haverá quem as coloque quando as hipóteses não interessam. As teses acabam por ser compromissos comunitários, que mais do que seguirem a verdade, tentam seguir o consenso... para evitar problemas com quem teima na sua intransigência. Mas, para além disso, não é muito claro saber se as populações são mesmo nativas da área, ou quando ali se instalaram. De qualquer forma, há dados razoavelmente credíveis, que já levantam algumas dúvidas.
Esquematizamos num quadro alguns gráficos disponíveis na Wikipedia sobre a distribuição dos haplogrupos-Y, que seguem a linha masculina da ascendência (começou entretanto a investigação sobre os haplogrupos mitocondriais, que seguem pela linha feminina).
Há uma hierarquização genética, que começa nos grupos mais antigos A, até aos mais recentes NOQR, isto sem contar com as múltiplas variações. Sobre as variações em subgrupos mostramos apenas a diferença entre o R1a e R1b.
O resultado geral parece apontar para a chamada teoria "out of Africa"... ou seja, estes estudos parecem confirmar uma origem africana dos nossos ancestrais.

A--E) Dos haplogrupos mais antigos, o E manifesta-se especialmente por quase toda a África, com incidências a atingir os 100% em diversas partes. Essa variação "E" teve grande sucesso no continente africano, onde sempre se manteve e consolidou, a menos de pequenas excepções. 
F-G-H) A variação de que partirá a grande maioria da restante população humana será a F, que terá saído de África. Podemos suspeitar que tenha começado a entrar em territórios Euro-asiáticos, pelas suas variações G e H de que se encontram pequenos registos espalhados na Ásia central, até à India (H) e Europa (G). Variantes do "F" encontram-se ainda hoje entre ciganos e mongóis.

Convém aqui explicar que a forma como estamos a analisar difere do usual. Apesar da esmagadora presença do haplogrupo E em África, há quem sustente que a sua origem é da Ásia (porque a variante "irmã" D encontra-se residualmente em Tibetanos ou em Ainos no Japão).
Porém o ponto mais importante é outro. Há uma espécie de ancestralidade que se manifesta em 10 gerações principais até ao N-O-Q-R. Podemos ver o A como "trisavô" do E e do F, que seriam "primos".
Nas teorias habituais tem-se acomodado que o "trisneto" é mais velho que o "irmão"... e ainda que não seja impossível, parece-nos um exagero de forçar datação às crenças pré-definidas. Assim, é suposto o G ter-se originado há cerca 20 mil anos, mas o "irmão" IJK iria gerar um trisneto "O" que aparecia 10 mil anos antes, ou seja, há cerca de 30 mil anos. Todos sabemos de casos em que o irmão pode ser mais novo que o filho, e em vista de populações seria perfeitamente admissível situações dessas, mas não exageremos...

Por isso, vamos evitar essa "ginástica acrobática de datação", e seguir uma datação genética que seria natural, sabendo que não segue uma datação consensual e suas múltiplas justificações acessórias.

Uma questão antropológica é que a tez negra parece estar ligada aos grupos africanos A, B e E. Assim, o seu aparecimento noutras populações (por exemplo, indianas e australianas), pode ter resultado de uma expansão alargada de um destes grupos (provavelmente o CT, antepassado do E). Quando as novas populações chegavam às mesmas paragens, a sua "confraternização" poderia manter a tez negra materna, e o haplogrupo paterno.

Assim, será de admitir que o grupo original CT possa ter sido o primeiro a propagar-se globalmente atingindo a Europa, Ásia e depois a Oceânia. Uma razão para isso pode ter sido uma primeira "idade glacial", em que os limites continentais eram mais ténues pelo abaixamento do nível marítimo.

As razões para uma significativa diferença de "raças" pode ter a ver com subsequentes aumentos do nível marítimo, que isolavam populações. Ou seja, por um lado a época glacial forçava a uma migração para zonas equatoriais, e a baixa das águas permitiria uma expansão, mas depois essas zonas passavam a ilhas... quando o nível marítimo voltava a subir. Se as populações ficavam isoladas das outras, definiam-se particularidades genéticas distintivas, que levaram à noção de "raça". Isto aconteceria com todos os animais, e não apenas como humanos, como é claro...
Podemos ilustrar isto com um pequeno esquema:
Numa primeira fase, a população vermelha aparece no continente, e numa segunda fase, pela baixa de águas, pode entrar na ilha. Mas numa terceira fase o aumento de águas volta a isolar a ilha, que nesse novo ambiente pode adquirir, numa quarta fase, novas características (a azul) - por exemplo, adaptação ao frio. Um novo abaixamento de águas, numa quinta fase, pode gerar uma competição entre essas populações, que já se vêem como diferentes... e assim sucessivamente.
Assim, a oscilação do nível de águas, provocado por períodos glaciares/diluvianos, pode ter definido diferenças evolutivas significativas.

Voltando aos haplogrupos de que falávamos, podemos admitir uma idade glacial que permitiu a expansão CT, mas que depois, por factor diluviano - aumento de águas, distinguiu as populações, especialmente o F  que separadamente adquiria tez mais clara, do E (que teria evoluído no continente africano).
Acresce a este sinal, os dados que colocam descendentes directos do F na zona do Cáucaso (G) e na Índia (H), ou alguns D no Tibete ou Japão, e os C em paragens semelhantes (que se estendiam também à Oceânia).

Portanto podemos ter aqui uma primeira separação de características.

I-J-K) Da variante IJK "filha" de F, surgem dois grupos separados que ainda são hoje dominantes nas respectivas regiões. O grupo "I" que pode ser visto como "germânico", com incidências até 50% na Escandinávia, Lituânia, e superiores a 50% na zona da Croácia... ou seja, populações com grande estatura.
Por outro lado, o grupo "J" estará mais associado a populações semitas, com concentrações que chegam a 100% na Arábia, estando espalhadas desde o sul ibérico, pela bacia mediterrânica até à India.
Curiosamente haveria um ascendente comum IJ... talvez saindo Cáucaso, com a descida de águas, uns tivessem seguido o frio para norte (I), e outros regressado às paragens quentes a sul (J).

O que aparece como notável é que o outro "neto" do grupo F será um grupo K, de onde irá aparecer a maioria da população mundial - as populações orientais, europeias, nativas americanas e siberianas.
Isso foi o que mais me surpreendeu, já que aparentemente nos vemos mais próximos dos IJ do que dos N, O, ou Q... que são "primos" dos R.

NO-P) Surge assim o problema do K... de como se vai espalhar por todos os continentes.
A sua origem parece ser indiana. Ou seja, se os IJ sairam do Cáucaso, o K parece sair dos Himalaias (devido ao registo L na zona do Indo, mas também pelos vestígios T da Índia até à Ibéria, na zona concorrente com a presença dominante do J).
Parece fixar-se em território euro-asiático, mas surpreendentemente aparecerá no continente americano (talvez pela passagem de Bering, ou alternativamente via Irlanda-Terra Nova).
Quando se dá novo degelo diluviano, mais uma vez as populações teriam ficado isoladas. Só isto justificaria a posterior divisão do K. Por um lado um grupo NO tipicamente asiático, por outro lado o seu grupo "irmão" P que se estende da América até à Europa Ocidental. Em menor escala aparecem os grupos M e S, na Oceânia. A difusão do grupo K parece ter sido global...

Q-R) O isolamento do continente americano definiria a divisão do grupo P nos grupos Q (índios americanos) e R (europeus ocidentais)... enquanto que, pelo outro lado, a inundação do Mar Cáspio até ao Ártico teria definido uma diferença entre N (siberianos) e O (orientais).

A outra surpresa é uma dominância do R em parte dos nativos da América do Norte, especialmente Canadá (onde atinge quase 100%), havendo alguns focos na zona do Brasil e Perú.
No entanto, isso explica-se provavelmente doutra forma - pela cobertura, pela ocultação das viagens marítimas atlânticas, que instalaram populações de origem europeia na Terra Nova e Canadá. Entretanto a essas populações é dado o estatuto de indígena, e aparecem nestas estatísticas como nativos e não como colonizadores.
Normalmente os mapas do grupo R são focados na Europa e Ásia, para evitar mostrar esse "problema" evidente das navegações (há também um registo R na Austrália, mas bem mais pequeno).

R1a,b) Detalho o grupo do R, porque teve uma grande expansão europeia e asiática, mas há uma diferença geográfica razoável entre o R1a e R1b, o que pode indiciar nova separação por aumento do nível marítimo, numa separação do Mar Negro. A parte R1a está essencialmente a leste, estendendo-se até à Índia, enquanto que a parte R1b ficou mais concentrada na zona Atlàntica.

Para a conclusão...
Estes dados, apesar de terem suporte científico (acreditando na informação disponibilizada na Wikipedia), não devem ser sobrevalorizados face às outras informações, inclusivé míticas. Quando as informações vão sendo concordantes, é um sinal de seguir nesse caminho... quando não são, é preciso rever o que está em causa, e quem defende o quê, e porquê! 
Aquilo que coloquei foi a linha racional que encontrei que me pareceu fazer sentido, face aos dados disponíveis. Mesmo sem ter em atenção múltiplos outros factores, já não é muito fácil fazer uma teoria consistente que se limite a englobar estes dados, que parecem descoordenados, a menos que se usem teses mais fantasiosas, mas politicamente correctas.

Para uma conclusão retiram-se algumas novidades, que devem ser agora enquadradas com outros dados, nomeadamente as raízes linguísticas, culturais, os legados arqueológicos, míticos, etc... mas isso fica para outra oportunidade, pela óbvia complexidade.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 20:28

9) Lendas segundo a genética
O desenvolvimento moderno da genética abriu novas perguntas às teorias habituais da migração humana. No entanto, tem-se visto uma tentativa de manter as versões anteriores, que parecem ser inconsistentes com aquilo que a genética tem apresentado. É claro que, como em todas as coisas, há duvidas, e haverá quem as coloque quando as hipóteses não interessam. As teses acabam por ser compromissos comunitários, que mais do que seguirem a verdade, tentam seguir o consenso... para evitar problemas com quem teima na sua intransigência. Mas, para além disso, não é muito claro saber se as populações são mesmo nativas da área, ou quando ali se instalaram. De qualquer forma, há dados razoavelmente credíveis, que já levantam algumas dúvidas.
Esquematizamos num quadro alguns gráficos disponíveis na Wikipedia sobre a distribuição dos haplogrupos-Y, que seguem a linha masculina da ascendência (começou entretanto a investigação sobre os haplogrupos mitocondriais, que seguem pela linha feminina).
Há uma hierarquização genética, que começa nos grupos mais antigos A, até aos mais recentes NOQR, isto sem contar com as múltiplas variações. Sobre as variações em subgrupos mostramos apenas a diferença entre o R1a e R1b.
O resultado geral parece apontar para a chamada teoria "out of Africa"... ou seja, estes estudos parecem confirmar uma origem africana dos nossos ancestrais.

A--E) Dos haplogrupos mais antigos, o E manifesta-se especialmente por quase toda a África, com incidências a atingir os 100% em diversas partes. Essa variação "E" teve grande sucesso no continente africano, onde sempre se manteve e consolidou, a menos de pequenas excepções. 
F-G-H) A variação de que partirá a grande maioria da restante população humana será a F, que terá saído de África. Podemos suspeitar que tenha começado a entrar em territórios Euro-asiáticos, pelas suas variações G e H de que se encontram pequenos registos espalhados na Ásia central, até à India (H) e Europa (G). Variantes do "F" encontram-se ainda hoje entre ciganos e mongóis.

Convém aqui explicar que a forma como estamos a analisar difere do usual. Apesar da esmagadora presença do haplogrupo E em África, há quem sustente que a sua origem é da Ásia (porque a variante "irmã" D encontra-se residualmente em Tibetanos ou em Ainos no Japão).
Porém o ponto mais importante é outro. Há uma espécie de ancestralidade que se manifesta em 10 gerações principais até ao N-O-Q-R. Podemos ver o A como "trisavô" do E e do F, que seriam "primos".
Nas teorias habituais tem-se acomodado que o "trisneto" é mais velho que o "irmão"... e ainda que não seja impossível, parece-nos um exagero de forçar datação às crenças pré-definidas. Assim, é suposto o G ter-se originado há cerca 20 mil anos, mas o "irmão" IJK iria gerar um trisneto "O" que aparecia 10 mil anos antes, ou seja, há cerca de 30 mil anos. Todos sabemos de casos em que o irmão pode ser mais novo que o filho, e em vista de populações seria perfeitamente admissível situações dessas, mas não exageremos...

Por isso, vamos evitar essa "ginástica acrobática de datação", e seguir uma datação genética que seria natural, sabendo que não segue uma datação consensual e suas múltiplas justificações acessórias.

Uma questão antropológica é que a tez negra parece estar ligada aos grupos africanos A, B e E. Assim, o seu aparecimento noutras populações (por exemplo, indianas e australianas), pode ter resultado de uma expansão alargada de um destes grupos (provavelmente o CT, antepassado do E). Quando as novas populações chegavam às mesmas paragens, a sua "confraternização" poderia manter a tez negra materna, e o haplogrupo paterno.

Assim, será de admitir que o grupo original CT possa ter sido o primeiro a propagar-se globalmente atingindo a Europa, Ásia e depois a Oceânia. Uma razão para isso pode ter sido uma primeira "idade glacial", em que os limites continentais eram mais ténues pelo abaixamento do nível marítimo.

As razões para uma significativa diferença de "raças" pode ter a ver com subsequentes aumentos do nível marítimo, que isolavam populações. Ou seja, por um lado a época glacial forçava a uma migração para zonas equatoriais, e a baixa das águas permitiria uma expansão, mas depois essas zonas passavam a ilhas... quando o nível marítimo voltava a subir. Se as populações ficavam isoladas das outras, definiam-se particularidades genéticas distintivas, que levaram à noção de "raça". Isto aconteceria com todos os animais, e não apenas como humanos, como é claro...
Podemos ilustrar isto com um pequeno esquema:
Numa primeira fase, a população vermelha aparece no continente, e numa segunda fase, pela baixa de águas, pode entrar na ilha. Mas numa terceira fase o aumento de águas volta a isolar a ilha, que nesse novo ambiente pode adquirir, numa quarta fase, novas características (a azul) - por exemplo, adaptação ao frio. Um novo abaixamento de águas, numa quinta fase, pode gerar uma competição entre essas populações, que já se vêem como diferentes... e assim sucessivamente.
Assim, a oscilação do nível de águas, provocado por períodos glaciares/diluvianos, pode ter definido diferenças evolutivas significativas.

Voltando aos haplogrupos de que falávamos, podemos admitir uma idade glacial que permitiu a expansão CT, mas que depois, por factor diluviano - aumento de águas, distinguiu as populações, especialmente o F  que separadamente adquiria tez mais clara, do E (que teria evoluído no continente africano).
Acresce a este sinal, os dados que colocam descendentes directos do F na zona do Cáucaso (G) e na Índia (H), ou alguns D no Tibete ou Japão, e os C em paragens semelhantes (que se estendiam também à Oceânia).

Portanto podemos ter aqui uma primeira separação de características.

I-J-K) Da variante IJK "filha" de F, surgem dois grupos separados que ainda são hoje dominantes nas respectivas regiões. O grupo "I" que pode ser visto como "germânico", com incidências até 50% na Escandinávia, Lituânia, e superiores a 50% na zona da Croácia... ou seja, populações com grande estatura.
Por outro lado, o grupo "J" estará mais associado a populações semitas, com concentrações que chegam a 100% na Arábia, estando espalhadas desde o sul ibérico, pela bacia mediterrânica até à India.
Curiosamente haveria um ascendente comum IJ... talvez saindo Cáucaso, com a descida de águas, uns tivessem seguido o frio para norte (I), e outros regressado às paragens quentes a sul (J).

O que aparece como notável é que o outro "neto" do grupo F será um grupo K, de onde irá aparecer a maioria da população mundial - as populações orientais, europeias, nativas americanas e siberianas.
Isso foi o que mais me surpreendeu, já que aparentemente nos vemos mais próximos dos IJ do que dos N, O, ou Q... que são "primos" dos R.

NO-P) Surge assim o problema do K... de como se vai espalhar por todos os continentes.
A sua origem parece ser indiana. Ou seja, se os IJ sairam do Cáucaso, o K parece sair dos Himalaias (devido ao registo L na zona do Indo, mas também pelos vestígios T da Índia até à Ibéria, na zona concorrente com a presença dominante do J).
Parece fixar-se em território euro-asiático, mas surpreendentemente aparecerá no continente americano (talvez pela passagem de Bering, ou alternativamente via Irlanda-Terra Nova).
Quando se dá novo degelo diluviano, mais uma vez as populações teriam ficado isoladas. Só isto justificaria a posterior divisão do K. Por um lado um grupo NO tipicamente asiático, por outro lado o seu grupo "irmão" P que se estende da América até à Europa Ocidental. Em menor escala aparecem os grupos M e S, na Oceânia. A difusão do grupo K parece ter sido global...

Q-R) O isolamento do continente americano definiria a divisão do grupo P nos grupos Q (índios americanos) e R (europeus ocidentais)... enquanto que, pelo outro lado, a inundação do Mar Cáspio até ao Ártico teria definido uma diferença entre N (siberianos) e O (orientais).

A outra surpresa é uma dominância do R em parte dos nativos da América do Norte, especialmente Canadá (onde atinge quase 100%), havendo alguns focos na zona do Brasil e Perú.
No entanto, isso explica-se provavelmente doutra forma - pela cobertura, pela ocultação das viagens marítimas atlânticas, que instalaram populações de origem europeia na Terra Nova e Canadá. Entretanto a essas populações é dado o estatuto de indígena, e aparecem nestas estatísticas como nativos e não como colonizadores.
Normalmente os mapas do grupo R são focados na Europa e Ásia, para evitar mostrar esse "problema" evidente das navegações (há também um registo R na Austrália, mas bem mais pequeno).

R1a,b) Detalho o grupo do R, porque teve uma grande expansão europeia e asiática, mas há uma diferença geográfica razoável entre o R1a e R1b, o que pode indiciar nova separação por aumento do nível marítimo, numa separação do Mar Negro. A parte R1a está essencialmente a leste, estendendo-se até à Índia, enquanto que a parte R1b ficou mais concentrada na zona Atlàntica.

Para a conclusão...
Estes dados, apesar de terem suporte científico (acreditando na informação disponibilizada na Wikipedia), não devem ser sobrevalorizados face às outras informações, inclusivé míticas. Quando as informações vão sendo concordantes, é um sinal de seguir nesse caminho... quando não são, é preciso rever o que está em causa, e quem defende o quê, e porquê! 
Aquilo que coloquei foi a linha racional que encontrei que me pareceu fazer sentido, face aos dados disponíveis. Mesmo sem ter em atenção múltiplos outros factores, já não é muito fácil fazer uma teoria consistente que se limite a englobar estes dados, que parecem descoordenados, a menos que se usem teses mais fantasiosas, mas politicamente correctas.

Para uma conclusão retiram-se algumas novidades, que devem ser agora enquadradas com outros dados, nomeadamente as raízes linguísticas, culturais, os legados arqueológicos, míticos, etc... mas isso fica para outra oportunidade, pela óbvia complexidade.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 20:28

7) Sanchoniato - a mitologia fenícia
Há poucas referências a Sanchoniato, um historiador fenício, mas foi alvo de atenção no Séc. XIX, e nos livros "Ancient Fragments..." de Isaac Cory, que já mencionámos e também nas obras de G. Stanley Faber, por exemplo "A dissertation on the mysteries of the Cabiri", trata-se de um autor crucial.
Porquê? Porque seria basicamente uma das únicas referências que existiam à época que não surgiam da tradição judaico-cristã ou greco-romana (outra seria a de Beroso, sobre os assírios-caldeus, de que já falámos). A obra tinha sido traduzida para grego por Philo de Byblos, e chegado mais uma vez através de Eusébio de Cesaréia.

Stanley Faber tem um esquema simplificado das divindades que Sanchoniato refere na sua cosmogonia.
Começa por fazer um paralelismo com a descrição hebraica/mosaica (de Moisés), desde o primeiro homem:
Paralelo entre os primeiros homens segundo Sanconiato e Moisés (visto por Faber)

Sanchoniato atribui ao vento (Colpias) e à noite (Baau) a origem de dois mortais - Eon e Protogonos.
Acrescenta que Eon (~Eva) descobriu que poderia comer frutos das árvores. 
Destes dois nasceriam Genus e Genea que viviam na Fenícia (como não poderia deixar de ser...) e que rogavam ao Sol (Beelsamin, similar a Zeus) para terminar as secas.
A terceira geração tinha Fos, Pyr e Flox que descobriram a produção de fogo esfregando paus, e ensinaram os homens (... faltaria perguntar é quem eram afinal essoutros?).
Estes tiveram filhos muito altos, a quem foram dados os nomes de montanhas das redondezas - Cassius, Libano, Antilibano e Brathu.
Seguem-se Memrumus, Usous e Hypsuranius, que Sanchoniato detalha serem filhos dos anteriores e de suas mães... explicando isso pela escassez de população. Acrescenta que Hypsuranius habitava Tiro e inventara o papiro, tendo ficado inimigo do irmão Usous, que inventara vestes de pele... Esse mesmo Usous teria sido o primeiro a aventurar-se no mar com um tronco partido numa tempestade. Por isso erigiu dois pilares ao fogo e ao vento... e os descendentes passaram a venerar os antepassados nesses pilares.
Passadas gerações, dos descendentes de Hypsuranius surgiriam Agreus e Halieus, inventores de artes de caça e pesca. Desses surgiriam Crisor, identificado a Hefesto, que descobrira e aprendera a trabalhar o ferro. Em particular fazia anzóis, e teria sido o primeiro navegador. Por isso teria adorado como deus, de nome Diamiquio. Os irmãos seriam os primeiros construtores de muros com tijolos...
Da sua descendência nasceria Technites e Geinus (inventando azulejos), e desta geração surgiria ainda Agrus, que viria a ser adorado como o maior dos Deuses na Fenícia. As casas passaram a ter pórticos e criptas, e iniciou-se a caça com cães, com Aleta e Titan. 
Daqui descendem Aminos e Magos, que ensinaram os homens a construir vilas e a cuidar de rebanhos, depois Misor e Sydic que usaram o sal (preservação de comida).

O que vemos até aqui é uma plausível descrição da sequência de descobertas/invenções humanas associada a alguns nomes fenícios. Porém, de Misor descende Taautus que tem um significado mais importante, porque o associa ao egípcio Thoth e ao grego Hermes. Já pelo lado de Sydyc vai associar os Cabiri ou Samotrácios, que teriam sido os primeiros a construir um barco completo! 
Talvez por isso, Stanley Faber vai associar essa construção à separação do dilúvio.
No entanto, Sanchoniato não se refere a nenhum dilúvio... e nisto difere profundamente da tradição assíria e hebraica. Convém aliás notar que ao mito do dilúvio de Ogyges, nos gregos, também não era dado especial relevo.

A partir daqui vai haver alguma semelhança com a descrição grega, pelo que Stanley Faber vai passar para essa comparação. Sanchoniato refere-se à descoberta de ervas medicinais e da cura de venenos, falando de  Elioun (Hypsistus) e da mulher Beruth (de onde virá o nome Beirute), que geraram Autocton (Úrano, Céu) e Ge (Terra), nomes dados pela sua beleza. O pai era o regente e teria sido morto num confronto com bestas selvagens, e o filho Urano teria recebido o trono e feito rainha a irmã Ge.
Sobre a geração seguinte, Faber esquematiza numa tabela:
Esquema das gerações fenícias de Sanconiato (por Faber)

Interessa especialmente notar que há nomes que são iguais às da mitologia grega clássica, de Hesíodo, como sejam Úrano, Cronos (Ilus), e Belus (Bal) será identificado a Júpiter/Zeus.
Porém, a perspectiva de Sanchoniato é completamente diferente da de Hesíodo.
Este Sancho "pensa" de outra forma... os deuses foram homens, elevados depois ao estatuto divino.

Nalguns aspectos há analogias. É dito que este Urano também teria tentado eliminar os filhos, e que Cronos se rebelaria contra o pai, com a ajuda de Taautus-Hermes, que ainda seria contemporâneo.
Seria nesta altura que Cronos teria fundado Biblos, com uma muralha que a cercaria, e expulsaria o irmão Atlas para uma caverna. Os aliados de Cronos seriam chamados Eloi, pelo seu nome fenício ser Ilus (ou Il, El). 
O pai continuaria a opor-se-lhe, e por outro lado Cronos decapitaria os filhos por suspeita de rebelião, acabando também por eliminar o pai, cujo sangue seria depois consagrado às fontes e rios.
A meia-irmã de Cronos, Astarte, seria sua consorte e identificada a Afrodite. Ela tomaria a cabeça de um boi como símbolo de Tiro, juntamente com um meteoro que havia recolhido.
Cronos, tomaria ainda a Ática grega e esse seria o reino de Atena (Minerva), sua filha.

Há um aspecto interessante em que Cronos se circuncisa em homenagem do pai, obrigando os aliados a fazer o mesmo. Finalmente, esta descrição de Sanchoniato (que é mais detalhada) termina com a atribuição do Egipto a Taautus por Cronos, que adopta um símbolo de 4 olhos, à frente e atrás da cabeça!
Por outro lado, Taautus (Thoth) tomaria como símbolo a serpente, ao representar um espírito que se move sem membros, podendo ter várias formas, inclusivé espiral, pela sua longevidade e capacidade renovadora (mudança de pele, e consumir-se no final de vida).

Falta só falar do aspecto da cosmogonia fenícia de Taautus.
Tudo começaria com uma conexão entre o Caos e o Vento. Esta união seria simbolizada por um ovo rodeado por uma serpente, e dela surgiria a lama inicial Mot (ou Ilus), de onde se formaria o universo. Seria do som do trovão que distinguiria os animais inteligentes. Taautus criticaria os homens por adorarem e fazerem sacrifícios a deuses antropomórficos - o que ele atribuía à estreiteza das suas mentes.

A serpente que rodeia o ovo (o primeiro) entre outros símbolos 
do livro "The Origin of Pagan Idolatry" (Stanley Faber, 1816)


Apesar das semelhanças, notamos uma grande diferença conceptual entre fenícios e os restantes povos.
Os fenícios seriam praticamente ateus. A explicação de Taautus é um esboço de explicação natural, como terão depois alguns filósofos gregos.

8) Conjugações
Há algumas conjugações que podem ser feitas com o texto anterior sobre Beroso.
O nome Dagon (irmão de Cronos) foi também associado a Oanes, o anedoto, o homem-peixe dos assírios, e por outro lado Belus (filho de Cronos) seria venerado na Babilónia. Poderíamos ver aqui uma possível influência, ou interferência fenícia, na formação da mitologia assíria-caldeia. 

Se por um lado há muitas diferenças, por outro lado há bastantes semelhanças nas formações dos mitos.
Isaac Cody concorda com Stanley Faber, citando-o desta forma:
                     - (...) as to render untenable every other hypothesis than this: "that they must all have originated from some common source" 
Portanto estes estudiosos partilhavam da ideia que os pontos comuns sugeriam que todos os mitos teriam partido da mesma raiz comum, e davam explicações possíveis:
- todas as nações tinham concordado pacificamente numa mesma fonte, ou esta lhes tinha sido imposta, ou ainda que todas as nações tinham vindo de uma cultura comum.
Esta última hipótese levava naturalmente ao mito da Torre de Babel... a cultura seria comum, mas depois teria sido alterada pelo fado de cada civilização.

Stanley Faber vai um pouco mais longe e afirma que os eventos que levaram à queda da Torre de Babel na planície de Shinar teriam definido um carácter marcante na evolução da humanidade, e que a "família poderosa e guerreira" que teria ganho vantagem sobre os seus irmãos, nunca teria deixado de exercer a superioridade até ao presente:
(...) In short, the events, which occurred in the plain of Shinar, have stamped a character upon the whole mass of mankind that remains vividly impressed even to modern times. The powerful and martial family, that once obtained a decided preeminence of their bethren, have never down to the present hour, ceased with a strong hand to vindicate their superiority.
No fundo, isto seria a tradicional teoria da sequência de impérios ou monarquias, reduzindo-a a um único império definido em Babel, por Nimrod, ou seja também, com outros nomes, o simbolizado gigante caçador Órion (ou Orionte), Nembroth ou Amraphal, já identificado a Hamurabi.

Isaac Cody procura estabelecer uma linha semelhante e vê um ponto comum na designação "Cita", que se aplicaria a uma boa parte de povos em diversas nações. Ora o nome "citas" é em grego Σκύθης ou Skythes, que se poderia ler entre nós como "Escutes" em vez de Citas. E é claro que isto lembra algo (não as SCUTS, nem os Escutas... mas enfim há sempre escutas), lembra os Escotos, ou seja o Escoceses, que tanto se orgulhavam da sua ascendência, que remontaria afinal à nobreza Cita. Não é preciso falar mais de ritos escoceses, que isso levar-nos-ia a ter que partir pedra, e ainda estamos algo livres dessas pedreiras.

Como temos vindo a referir, e é aqui claro nestes autores, parece haver uma manutenção da estrutura de poder desde o tempo mítico da Torre de Babel. A sua visibilidade é apenas aparente... usa as estruturas de poder visíveis, mas a sua acção foi sempre dissimulada. Parece ter visado mais influenciar o curso dos acontecimentos do que ser um dos seus protagonistas registados - guardará os registos, certamente, em colecções privadas.
Pouco interessa o folclore, grande parte da análise está feita, entretemo-nos agora apenas com os detalhes.
Sobre o que interessa, e que limita exactamente as coisas, disso falaremos noutra altura.


Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 07:58

7) Sanchoniato - a mitologia fenícia
Há poucas referências a Sanchoniato, um historiador fenício, mas foi alvo de atenção no Séc. XIX, e nos livros "Ancient Fragments..." de Isaac Cory, que já mencionámos e também nas obras de G. Stanley Faber, por exemplo "A dissertation on the mysteries of the Cabiri", trata-se de um autor crucial.
Porquê? Porque seria basicamente uma das únicas referências que existiam à época que não surgiam da tradição judaico-cristã ou greco-romana (outra seria a de Beroso, sobre os assírios-caldeus, de que já falámos). A obra tinha sido traduzida para grego por Philo de Byblos, e chegado mais uma vez através de Eusébio de Cesaréia.

Stanley Faber tem um esquema simplificado das divindades que Sanchoniato refere na sua cosmogonia.
Começa por fazer um paralelismo com a descrição hebraica/mosaica (de Moisés), desde o primeiro homem:
Paralelo entre os primeiros homens segundo Sanconiato e Moisés (visto por Faber)

Sanchoniato atribui ao vento (Colpias) e à noite (Baau) a origem de dois mortais - Eon e Protogonos.
Acrescenta que Eon (~Eva) descobriu que poderia comer frutos das árvores. 
Destes dois nasceriam Genus e Genea que viviam na Fenícia (como não poderia deixar de ser...) e que rogavam ao Sol (Beelsamin, similar a Zeus) para terminar as secas.
A terceira geração tinha Fos, Pyr e Flox que descobriram a produção de fogo esfregando paus, e ensinaram os homens (... faltaria perguntar é quem eram afinal essoutros?).
Estes tiveram filhos muito altos, a quem foram dados os nomes de montanhas das redondezas - Cassius, Libano, Antilibano e Brathu.
Seguem-se Memrumus, Usous e Hypsuranius, que Sanchoniato detalha serem filhos dos anteriores e de suas mães... explicando isso pela escassez de população. Acrescenta que Hypsuranius habitava Tiro e inventara o papiro, tendo ficado inimigo do irmão Usous, que inventara vestes de pele... Esse mesmo Usous teria sido o primeiro a aventurar-se no mar com um tronco partido numa tempestade. Por isso erigiu dois pilares ao fogo e ao vento... e os descendentes passaram a venerar os antepassados nesses pilares.
Passadas gerações, dos descendentes de Hypsuranius surgiriam Agreus e Halieus, inventores de artes de caça e pesca. Desses surgiriam Crisor, identificado a Hefesto, que descobrira e aprendera a trabalhar o ferro. Em particular fazia anzóis, e teria sido o primeiro navegador. Por isso teria adorado como deus, de nome Diamiquio. Os irmãos seriam os primeiros construtores de muros com tijolos...
Da sua descendência nasceria Technites e Geinus (inventando azulejos), e desta geração surgiria ainda Agrus, que viria a ser adorado como o maior dos Deuses na Fenícia. As casas passaram a ter pórticos e criptas, e iniciou-se a caça com cães, com Aleta e Titan. 
Daqui descendem Aminos e Magos, que ensinaram os homens a construir vilas e a cuidar de rebanhos, depois Misor e Sydic que usaram o sal (preservação de comida).

O que vemos até aqui é uma plausível descrição da sequência de descobertas/invenções humanas associada a alguns nomes fenícios. Porém, de Misor descende Taautus que tem um significado mais importante, porque o associa ao egípcio Thoth e ao grego Hermes. Já pelo lado de Sydyc vai associar os Cabiri ou Samotrácios, que teriam sido os primeiros a construir um barco completo! 
Talvez por isso, Stanley Faber vai associar essa construção à separação do dilúvio.
No entanto, Sanchoniato não se refere a nenhum dilúvio... e nisto difere profundamente da tradição assíria e hebraica. Convém aliás notar que ao mito do dilúvio de Ogyges, nos gregos, também não era dado especial relevo.

A partir daqui vai haver alguma semelhança com a descrição grega, pelo que Stanley Faber vai passar para essa comparação. Sanchoniato refere-se à descoberta de ervas medicinais e da cura de venenos, falando de  Elioun (Hypsistus) e da mulher Beruth (de onde virá o nome Beirute), que geraram Autocton (Úrano, Céu) e Ge (Terra), nomes dados pela sua beleza. O pai era o regente e teria sido morto num confronto com bestas selvagens, e o filho Urano teria recebido o trono e feito rainha a irmã Ge.
Sobre a geração seguinte, Faber esquematiza numa tabela:
Esquema das gerações fenícias de Sanconiato (por Faber)

Interessa especialmente notar que há nomes que são iguais às da mitologia grega clássica, de Hesíodo, como sejam Úrano, Cronos (Ilus), e Belus (Bal) será identificado a Júpiter/Zeus.
Porém, a perspectiva de Sanchoniato é completamente diferente da de Hesíodo.
Este Sancho "pensa" de outra forma... os deuses foram homens, elevados depois ao estatuto divino.

Nalguns aspectos há analogias. É dito que este Urano também teria tentado eliminar os filhos, e que Cronos se rebelaria contra o pai, com a ajuda de Taautus-Hermes, que ainda seria contemporâneo.
Seria nesta altura que Cronos teria fundado Biblos, com uma muralha que a cercaria, e expulsaria o irmão Atlas para uma caverna. Os aliados de Cronos seriam chamados Eloi, pelo seu nome fenício ser Ilus (ou Il, El). 
O pai continuaria a opor-se-lhe, e por outro lado Cronos decapitaria os filhos por suspeita de rebelião, acabando também por eliminar o pai, cujo sangue seria depois consagrado às fontes e rios.
A meia-irmã de Cronos, Astarte, seria sua consorte e identificada a Afrodite. Ela tomaria a cabeça de um boi como símbolo de Tiro, juntamente com um meteoro que havia recolhido.
Cronos, tomaria ainda a Ática grega e esse seria o reino de Atena (Minerva), sua filha.

Há um aspecto interessante em que Cronos se circuncisa em homenagem do pai, obrigando os aliados a fazer o mesmo. Finalmente, esta descrição de Sanchoniato (que é mais detalhada) termina com a atribuição do Egipto a Taautus por Cronos, que adopta um símbolo de 4 olhos, à frente e atrás da cabeça!
Por outro lado, Taautus (Thoth) tomaria como símbolo a serpente, ao representar um espírito que se move sem membros, podendo ter várias formas, inclusivé espiral, pela sua longevidade e capacidade renovadora (mudança de pele, e consumir-se no final de vida).

Falta só falar do aspecto da cosmogonia fenícia de Taautus.
Tudo começaria com uma conexão entre o Caos e o Vento. Esta união seria simbolizada por um ovo rodeado por uma serpente, e dela surgiria a lama inicial Mot (ou Ilus), de onde se formaria o universo. Seria do som do trovão que distinguiria os animais inteligentes. Taautus criticaria os homens por adorarem e fazerem sacrifícios a deuses antropomórficos - o que ele atribuía à estreiteza das suas mentes.

A serpente que rodeia o ovo (o primeiro) entre outros símbolos 
do livro "The Origin of Pagan Idolatry" (Stanley Faber, 1816)


Apesar das semelhanças, notamos uma grande diferença conceptual entre fenícios e os restantes povos.
Os fenícios seriam praticamente ateus. A explicação de Taautus é um esboço de explicação natural, como terão depois alguns filósofos gregos.

8) Conjugações
Há algumas conjugações que podem ser feitas com o texto anterior sobre Beroso.
O nome Dagon (irmão de Cronos) foi também associado a Oanes, o anedoto, o homem-peixe dos assírios, e por outro lado Belus (filho de Cronos) seria venerado na Babilónia. Poderíamos ver aqui uma possível influência, ou interferência fenícia, na formação da mitologia assíria-caldeia. 

Se por um lado há muitas diferenças, por outro lado há bastantes semelhanças nas formações dos mitos.
Isaac Cody concorda com Stanley Faber, citando-o desta forma:
                     - (...) as to render untenable every other hypothesis than this: "that they must all have originated from some common source" 
Portanto estes estudiosos partilhavam da ideia que os pontos comuns sugeriam que todos os mitos teriam partido da mesma raiz comum, e davam explicações possíveis:
- todas as nações tinham concordado pacificamente numa mesma fonte, ou esta lhes tinha sido imposta, ou ainda que todas as nações tinham vindo de uma cultura comum.
Esta última hipótese levava naturalmente ao mito da Torre de Babel... a cultura seria comum, mas depois teria sido alterada pelo fado de cada civilização.

Stanley Faber vai um pouco mais longe e afirma que os eventos que levaram à queda da Torre de Babel na planície de Shinar teriam definido um carácter marcante na evolução da humanidade, e que a "família poderosa e guerreira" que teria ganho vantagem sobre os seus irmãos, nunca teria deixado de exercer a superioridade até ao presente:
(...) In short, the events, which occurred in the plain of Shinar, have stamped a character upon the whole mass of mankind that remains vividly impressed even to modern times. The powerful and martial family, that once obtained a decided preeminence of their bethren, have never down to the present hour, ceased with a strong hand to vindicate their superiority.
No fundo, isto seria a tradicional teoria da sequência de impérios ou monarquias, reduzindo-a a um único império definido em Babel, por Nimrod, ou seja também, com outros nomes, o simbolizado gigante caçador Órion (ou Orionte), Nembroth ou Amraphal, já identificado a Hamurabi.

Isaac Cody procura estabelecer uma linha semelhante e vê um ponto comum na designação "Cita", que se aplicaria a uma boa parte de povos em diversas nações. Ora o nome "citas" é em grego Σκύθης ou Skythes, que se poderia ler entre nós como "Escutes" em vez de Citas. E é claro que isto lembra algo (não as SCUTS, nem os Escutas... mas enfim há sempre escutas), lembra os Escotos, ou seja o Escoceses, que tanto se orgulhavam da sua ascendência, que remontaria afinal à nobreza Cita. Não é preciso falar mais de ritos escoceses, que isso levar-nos-ia a ter que partir pedra, e ainda estamos algo livres dessas pedreiras.

Como temos vindo a referir, e é aqui claro nestes autores, parece haver uma manutenção da estrutura de poder desde o tempo mítico da Torre de Babel. A sua visibilidade é apenas aparente... usa as estruturas de poder visíveis, mas a sua acção foi sempre dissimulada. Parece ter visado mais influenciar o curso dos acontecimentos do que ser um dos seus protagonistas registados - guardará os registos, certamente, em colecções privadas.
Pouco interessa o folclore, grande parte da análise está feita, entretemo-nos agora apenas com os detalhes.
Sobre o que interessa, e que limita exactamente as coisas, disso falaremos noutra altura.


Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 07:58

Nota de Rodopé (bis)
Começamos com mais uma "Nota de Rodopé"... 
Já tínhamos falado de Rodopé, a propósito da fábulas de Esopo e de Perrault. 

Faltou-nos uma história de "sapatinho rosa-dourado"... de uma escrava grega, que apreciada pelo seu senhor recebe os tais sapatinhos, causando inveja nas outras escravas... que a sobrecarregam de trabalho!
Acontece que o faraó Amásis II convida todos para uma festa em Mênfis, mas a pobre escrava não pode ir... é sobrecarregada com trabalho pelas outras invejosas! 
Lembra uma história de gata borralheira... e enquanto a festa decorre em Mênfis (só faltaria ter a actuação de algum Elvis...), a pobre escrava, ao lavar a roupa, molha os chinelos. 
Pior, quando os deixa ao sol a secar, um pássaro pega num e foge com ele.
Porém, o pássaro era afinal o deus Hórus, que deixa cair o chinelo em frente a Amásis II.
Tomando tal sinal divino evidente, o faraó procura a donzela que tenha o outro chinelo rosa-dourado. Acaba por encontrar a escrava... essa escrava é Cinderela?... Não, é Rodopé!
  
Ponte Diavolski, Bulgaria - Montes Rodopé (Trácia)... e o sapato de Cinderela.

Parecerá de facto, a história da Cinderela, mas de quem? 
De Esopo, de Estrabão, de Perrault, dos Irmãos Grimm, ou de Disney?
Bom, parece que também há uma versão chinesa - com Ye Xian, que perde um sapatinho dourado, e também tem uma madrasta malvada. É sabida a importância que os chineses davam aos pés pequenos, por isso esta história é também antiga - encontra-se numa compilação do Séc. IX d.C. (ver também aqui).

Encontrei, por mero acaso, mais esta "nota de Rodopé". 
Não era sobre isso que queria falar. Mas, aparecendo contada por Estrabão, convirá situar a época. 
Rodopé tal como Spartacus seriam escravos da Trácia. A brutal repressão romana à revolta de Spartacus ainda estaria fresca na memória dos gregos, e não podendo falar de Spartacus, talvez ocorresse a Estrabão falar de Rodopé, enquanto símbolo escravo da vizinha Trácia.
Se o grego Esopo atribuíra a Rodopé uma das pirâmides egípcias, o grego Estrabão iria dar-lhe um pé, que colocaria, através de Hórus, ao lado do poder divino faraónico. 
Se o pé do trácio Spartacus, como o de mais 30 mil escravos, foi pregado numa cruz na Via Ápia, houve poucas décadas depois outro pé onde tal cruz ficou imortalizada, com uma Roma rendida a esse símbolo.

4) O declínio egípcio
Amásis II - o faraó que escolheria o pé de Rodopé - seria o último grande faraó egípcio. A partir daí, de Rodopé ficaria essencialmente um Canto, um canto de arquitectos e poetas. 
Logo a seguir à morte de Amásis II os egípcios iriam cair sob domínio persa, do Império Aqueménida, ficando como uma província (isto, à excepção de um curto período, onde por alguns anos a capital será a cidade egípcia de Mendes - XIX dinastia).

Se a civilização egípcia consegue resistir ao primeiro Império, ou primeira monarquia Assíria, o mesmo já não se passará na transição para o segundo Império, quando Medos, Caldeus e Persas passam o poder da velha capital assíria de Nínive para a Babilónia, e depois Persépolis.
Já falámos da descrição de Figueiredo que fazia a divisão em 7 monarquias em vez de 4 impérios.
Quando se fala na mitologia do "Quinto Império", há em comum a primeira monarquia iniciada com os Assírios, por Nimrod ou Nembroth (associado à Torre de Babel e à capital Nínive).
Após a queda assíria, com Assurbanípal, ou Sardanapalo, o segundo império de Medos e Caldeus, começaria na Babilónia, e ficaria marcado por Nabucodonosor, em particular pelo registo bíblico da deportação hebraica, que terminaria com a ascensão persa de Ciro (560-530 a.C), a quem Figueiredo associa a terceira monarquia, persa, que só seria deposta por Alexandre Magno, marcando também o fim do segundo império. O terceiro império será macedónio-grego, a que se seguiria o quarto, de Roma.

O declínio egípicio, a ascensão de Nabucodonosor, e depois de Ciro, no Séc. VI a.C. vai produzir uma significativa mudança global. É dessa época que nos vão chegar os antigos registos históricos, míticos e religiosos... notando que são contemporâneos, ou posteriores ao "grande" Ciro, os "veneráveis": 
- Sete Sábios Gregos (em particular, Sólon, ou antes Tales de Mileto, 624 a 554 a.C) 
- Buda, ou Sidarta Gautama (563 a 483 a.C), 
- Confúcio, ou Kung Fu Tziu (551 a 479 a.C).

O ponto principal é que é nesta época que se definem os registos que passam para as gerações seguintes.
O caso mais emblemático será a confusão hebraica-judaica. É reconhecido que quando Ciro recoloca hebreus e judeus no mesmo "território de origem" já se teria perdido grande parte da cultura pelo período no cativeiro da Babilónia... onde choraram por Sião. Até a língua hebraica seria estranha aos judeus, pelo que a recuperação bíblica será feita com a ajuda dos magos persas - os seus antigos captores.
Não será assim tão estranho que haja muitos pontos comuns entre os registos míticos babilónicos e aqueles que serão depois adoptados pelos judeus. 

Por outro lado, ainda antes do declínio, fica claro que há uma aproximação entre egípcios e gregos.
Sólon, um dos Sete Sábios Gregos do Séc. VI a.C. procura informações no Egipto... em particular será aí que terá o registo da Atlântida, que depois será contado por Platão. 
O aparecimento da cultura grega não pode ser desligado dessa clara influência egípcia, que assim procura uma oposição à expansão persa. O Egipto acabará por retomar o seu protagonismo através deste investimento, pela importância que a dinastia Ptolomaica de Alexandria assumirá até à queda de Cleópatra. 

A tragédia que envolve Júlio César, Cleópatra, Marco António e Augusto Octávio, é uma história que assinala a luta de poder na transição entre o 3º Império sediado em Alexandria e a passagem para o 4º Império sediado em Roma.
Não será imediata, pois mesmo durante o período romano, Alexandria com a sua Biblioteca continuará a ser o principal pólo de conhecimento da Antiguidade. Será apenas com a chegada de Constantino, e a consagração de Bizâncio, que Alexandria perderia a sua importância como capital oriental, entrando em declinio até à conquista árabe.

Se notamos uma influência egípcia na formação filosófica e científica grega, também podemos ver alguma exportação filosófica para Oriente. Em muitos aspectos encontramos noções da filosofia de Hermes ou de Zoroastro nas reflexões budistas, confucianas ou taoístas.  Nota-se uma mudança significativa na forma, mas há muitos pontos comuns no conteúdo, que passam por quase todas as filosofias e religiões.

5) Beroso - Anedotos e Caldeus
Há vários relatos sobre Beroso, mas a sua história dos Caldeus só teria chegado parcialmente através de alguns relatos de Eusébio. Encontrámos um notável trabalho de Isaac Cory que nos dá uma tradução em inglês das citações de Eusébio, e das passagens atribuídas a Beroso (Berossus).
Começamos por esta:
(...) then Ammenon the Chaldean, in whose time appeared the Musarus Oannes the Annedotus from the Erythrean sea.
Quem era esta abominação "Joanes, Anedoto do Mar Vermelho"? 
- Os anedotos eram homens-peixe!
Parecerá "anedota", mas estes "anedotos" eram apresentados como se estivessem "vestidos de peixe", vendo-se os pés, e a cabeça na posição das guelras, assim:
 
Dois Anedotos - Homens Peixe... (imagem) e um enorme bacalhau (imagem)

Se a ideia era dessa forma passarem por "homens-peixe", parece de facto "anedota", e o nome "anedoto" é apropriado. Para além de "Joanes", ou "Oanes", Beroso refere mais anedotos, sempre do Mar "Eritreu"-Vermelho, um outro teria o nome Odacon.
Num dos relatos é dito que o Anedoto conversava com os homens de dia, não comia, e ao pôr-do-sol mergulhava nas águas, onde ficava toda a noite. Parece que com esta anedota eram convencidos os assírios que ele era anfíbio... 
De qualquer forma, aprenderam dele as letras, ciências e outro tipo de artes, como das sementes e frutos. Teria ainda ensinado-os a construir casas, fundar templos, compilar leis, bem como os princípios de geometria. Os seus conhecimentos eram considerados tão universais que nada mais era necessário, tendo tornado os caldeus mais gentis e humanos.
Ao lado decidimos colocar uma imagem de um enorme bacalhau... para que se torne mais claro o que poderia ser um Anedoto ou uma anedota, um bacalhau ou uma cabala.


Não deixa de ser algo estranha esta reverência dos caldeus a esses homens-peixe, que vindos de um Mar Eritreu lhes teriam transmitido conhecimento fundamental. Já aqui referimos da ambiguidade sobre a designação "Eritreu", e de que o Mar Vermelho já foi tido e achado em lugares diferentes. Em particular, esta pesca de bacalhau poderia corresponder a uma secagem de pele noutras paragens, talvez na zona da ilha Eritreia, colocada na Iberia.

Por outro lado, um símbolo na hierarquia cristã é a Mitra, um barrete que já foi visto como perfil de cabeça de peixe. O nome "mitra" está também associado a uma religião persa que chegou a ter um destaque semelhante ao do cristianismo à época da sua implantação no Império Romano. Porém, o barrete do mitraísmo seria o barrete frígio, e não algo com uma abertura que lembra a boca de peixe, como a mitra papal.
Mitra de João XXIII.

Não é nenhuma novidade que um símbolo cristão é o peixe, mas não é convincente que tal se deva às iniciais ΙΧΘΥΣ que corresponderiam a Iesous Christos Theou Yios Soter (Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador,  sendo Ichtys a palavra grega de peixe)... ou ainda a um "alfa" que tem a forma de peixe.
Se o hábito faz o monge, neste caso parece que há hábitos que vêm de longe, do fundo do mar...

6) Beroso - Dilúvio
No mesmo relato atribuído a Beroso fala-se do dilúvio. A divindade é Cronus, que aparece numa visão ao regente Xisuthrus (ou Sisithrus), avisando-o do dilúvio que destruiria a humanidade. Por isso, ele é encarregue de fazer uma história do mundo que guardaria na Cidade do Sol (ver Heliopolis) em Sippara, e de construir um navio onde levaria quem e tudo o que conseguisse, inclusivé todas as espécies de animais.
Depois, tal como na bem conhecida história de Noé, após o dilúvio, envia pássaros três vezes, até que eles não regressaram - o que significava que tinham encontrado terra firme. Num relato (via Abydenus) diz-se explicitamente que o navio se mantinha na Arménia, onde era ainda costume os habitantes fazerem pulseiras e amuletos a partir da sua madeira! (isto é visto como prova posterior da presença do barco no monte Ararat)

Nesse mesmo relato fala-se da construção de Torre de Babel, feita pelos habitantes da terra para desafiarem as alturas, contra vontade dos deuses, que através de ventos a demoliram caindo sobre os executantes, ao mesmo tempo que misturavam as diversas línguas, havendo antes apenas uma língua universal. Do desacordo teria surgido depois uma guerra entre Cronus e Titan...
A torre é colocada na Babilónia, e é dito que "para confusão é pelos Hebreus chamada Babel"...

Podemos concluir, que a menos de detalhes, e diferença de nomes, estas estórias caldeias-babilónicas do Dilúvio e de Babel são exactamente as mesmas que aparecem depois na tradição judaico-cristã. A grande diferença será o carácter monoteísta que parece associado a Cronus, eliminando referências a outros deuses ou a entidades míticas ou controversas, como o caso dos homens-peixe, os anedotos.

Será que podemos associar estes homens-peixe às figuras de sereias ou ao mito da Atlântida?
Até que ponto é que a questão do desaparecimento de uma potência atlântica não estaria ligada ao próprio mito do dilúvio?
- Afinal, havendo uma Idade do Gelo, quando essa termina para onde iria a água derretida?
- Não faria sentido considerar que o degelo teria provocado um considerável aumento da água do mar, afundando por completo povoações costeiras?
Se os gelos permanentes chegassem até ao Sul de França, como é habitualmente admitido, a retenção de água nesses gelos seria enorme, e a linha de costa seria bem diferente, estendendo-se muitos quilómetros no que hoje é Oceano. Um aquecimento do planeta teria como consequência uma catástrofe diluviana para civilizações costeiras. Só seriam sobreviventes as que assumissem algum carácter marítimo, ou que migrassem para zonas montanhosas. Essa mudança climática provocaria ainda uma mudança civilizacional, arruinando estruturas antigas, deixando perdidas várias tribos, e praticamente tudo teria que ser recomeçado.
Porém, quem sobrevivesse com a herança do passado perdido teria uma grande vantagem civilizacional face a todos os outros sobreviventes desorientados e espalhados por diversas partes, regressando à faceta de homens de cavernas.

Num dos relatos atribuído a Beroso é dito que o mesmo Oanes indicava que no início os homens teriam aparecido também com duas asas, outros com quatro asas e duas caras... podendo ser de homem e mulher.
Haveria ainda figuras humanas com cornos e pernas de cabras, outros pés de cavalo, touros com cabeça humana, etc... toda uma mistura zoológica, que teria sido desenhada no templo de Belus na Babilónia!
Não será assim de admirar que também no Egipto, por altura semelhante, tivessem aparecido representações mistas, que invocavam uma parte humana e outra parte animal... assim se constitui uma boa parte do panteão de divindades egípcias, que também foi exportada para mitos gregos.

Que propósito haveria nestes anedotos, ou nestas anedotas?...
Ou antes, como se manifestaria uma civilização mais avançada no contacto com tribos que estavam praticamente na pré-história? 
Teria paciência para fazer evoluir essas tribos para o mesmo nível? 
Aparecia como elite e tratava os restantes como servos? 
Interviria pontualmente como deuses e deixaria as tribos prosseguir a sua evolução?

Há alguns pontos na mitologia que podem ser encarados como abordagens a estas perguntas.
A civilização preponderante poderia ser encarada como um deus dominante, imortal, que decidiria sobre o futuro das civilizações que nasciam. A diferença de poder seria tal que permitiria intervir para proteger ou aniquilar civilizações emergentes. 
Neste sentido, apenas uma civilização, ou estrutura civilizacional, seria imortalizada... as outras passariam por fados, por jogos de poder, que as levariam a aniquilar-se. Não admitiria filhos... no sentido em que evitaria a competição interna com uma fonte semelhante de poder. 
Estamos perante uma figuração semelhante à de Cronos... que será deposto por Zeus.
O poder com Zeus substituiria essa dominância absoluta de Cronos, partilhando o Olimpo com os seus irmãos, numa oligarquia divina. Figurativamente, seria como substituir uma civilização dominante por uma assembleia olímpica de estruturas civilizacionais dominantes. Seria como se houvesse apenas doze tribos (o número de elementos no Olimpo) que decidissem sobre o futuro das guerras entre todas as outras... 
(ou ainda, seria como um conselho de segurança da ONU, onde cinco estados detêm o poder de veto)

De uma forma, ou de outra, não importa muito, os impérios ou monarquias que dominaram o mundo a partir dos Assírios, parecem ter tido um patrocínio externo, uma influência civilizacional superior que se constituiu como mitologia. Há quem refira os Anunnaki, o que parece ser apenas nome alternativo para a figuração dos Anedotos (um nome por interpretação cuneiforme, o outro das transcrições gregas de Beroso). 



Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 02:09

Nota de Rodopé (bis)
Começamos com mais uma "Nota de Rodopé"... 
Já tínhamos falado de Rodopé, a propósito da fábulas de Esopo e de Perrault. 

Faltou-nos uma história de "sapatinho rosa-dourado"... de uma escrava grega, que apreciada pelo seu senhor recebe os tais sapatinhos, causando inveja nas outras escravas... que a sobrecarregam de trabalho!
Acontece que o faraó Amásis II convida todos para uma festa em Mênfis, mas a pobre escrava não pode ir... é sobrecarregada com trabalho pelas outras invejosas! 
Lembra uma história de gata borralheira... e enquanto a festa decorre em Mênfis (só faltaria ter a actuação de algum Elvis...), a pobre escrava, ao lavar a roupa, molha os chinelos. 
Pior, quando os deixa ao sol a secar, um pássaro pega num e foge com ele.
Porém, o pássaro era afinal o deus Hórus, que deixa cair o chinelo em frente a Amásis II.
Tomando tal sinal divino evidente, o faraó procura a donzela que tenha o outro chinelo rosa-dourado. Acaba por encontrar a escrava... essa escrava é Cinderela?... Não, é Rodopé!
 
Ponte Diavolski, Bulgaria - Montes Rodopé (Trácia)... e o sapato de Cinderela.

Parecerá de facto, a história da Cinderela, mas de quem? 
De Esopo, de Estrabão, de Perrault, dos Irmãos Grimm, ou de Disney?
Bom, parece que também há uma versão chinesa - com Ye Xian, que perde um sapatinho dourado, e também tem uma madrasta malvada. É sabida a importância que os chineses davam aos pés pequenos, por isso esta história é também antiga - encontra-se numa compilação do Séc. IX d.C. (ver também aqui).

Encontrei, por mero acaso, mais esta "nota de Rodopé". 
Não era sobre isso que queria falar. Mas, aparecendo contada por Estrabão, convirá situar a época. 
Rodopé tal como Spartacus seriam escravos da Trácia. A brutal repressão romana à revolta de Spartacus ainda estaria fresca na memória dos gregos, e não podendo falar de Spartacus, talvez ocorresse a Estrabão falar de Rodopé, enquanto símbolo escravo da vizinha Trácia.
Se o grego Esopo atribuíra a Rodopé uma das pirâmides egípcias, o grego Estrabão iria dar-lhe um pé, que colocaria, através de Hórus, ao lado do poder divino faraónico. 
Se o pé do trácio Spartacus, como o de mais 30 mil escravos, foi pregado numa cruz na Via Ápia, houve poucas décadas depois outro pé onde tal cruz ficou imortalizada, com uma Roma rendida a esse símbolo.

4) O declínio egípcio
Amásis II - o faraó que escolheria o pé de Rodopé - seria o último grande faraó egípcio. A partir daí, de Rodopé ficaria essencialmente um Canto, um canto de arquitectos e poetas. 
Logo a seguir à morte de Amásis II os egípcios iriam cair sob domínio persa, do Império Aqueménida, ficando como uma província (isto, à excepção de um curto período, onde por alguns anos a capital será a cidade egípcia de Mendes - XIX dinastia).

Se a civilização egípcia consegue resistir ao primeiro Império, ou primeira monarquia Assíria, o mesmo já não se passará na transição para o segundo Império, quando Medos, Caldeus e Persas passam o poder da velha capital assíria de Nínive para a Babilónia, e depois Persépolis.
Já falámos da descrição de Figueiredo que fazia a divisão em 7 monarquias em vez de 4 impérios.
Quando se fala na mitologia do "Quinto Império", há em comum a primeira monarquia iniciada com os Assírios, por Nimrod ou Nembroth (associado à Torre de Babel e à capital Nínive).
Após a queda assíria, com Assurbanípal, ou Sardanapalo, o segundo império de Medos e Caldeus, começaria na Babilónia, e ficaria marcado por Nabucodonosor, em particular pelo registo bíblico da deportação hebraica, que terminaria com a ascensão persa de Ciro (560-530 a.C), a quem Figueiredo associa a terceira monarquia, persa, que só seria deposta por Alexandre Magno, marcando também o fim do segundo império. O terceiro império será macedónio-grego, a que se seguiria o quarto, de Roma.

O declínio egípicio, a ascensão de Nabucodonosor, e depois de Ciro, no Séc. VI a.C. vai produzir uma significativa mudança global. É dessa época que nos vão chegar os antigos registos históricos, míticos e religiosos... notando que são contemporâneos, ou posteriores ao "grande" Ciro, os "veneráveis": 
- Sete Sábios Gregos (em particular, Sólon, ou antes Tales de Mileto, 624 a 554 a.C) 
- Buda, ou Sidarta Gautama (563 a 483 a.C), 
- Confúcio, ou Kung Fu Tziu (551 a 479 a.C).

O ponto principal é que é nesta época que se definem os registos que passam para as gerações seguintes.
O caso mais emblemático será a confusão hebraica-judaica. É reconhecido que quando Ciro recoloca hebreus e judeus no mesmo "território de origem" já se teria perdido grande parte da cultura pelo período no cativeiro da Babilónia... onde choraram por Sião. Até a língua hebraica seria estranha aos judeus, pelo que a recuperação bíblica será feita com a ajuda dos magos persas - os seus antigos captores.
Não será assim tão estranho que haja muitos pontos comuns entre os registos míticos babilónicos e aqueles que serão depois adoptados pelos judeus. 

Por outro lado, ainda antes do declínio, fica claro que há uma aproximação entre egípcios e gregos.
Sólon, um dos Sete Sábios Gregos do Séc. VI a.C. procura informações no Egipto... em particular será aí que terá o registo da Atlântida, que depois será contado por Platão. 
O aparecimento da cultura grega não pode ser desligado dessa clara influência egípcia, que assim procura uma oposição à expansão persa. O Egipto acabará por retomar o seu protagonismo através deste investimento, pela importância que a dinastia Ptolomaica de Alexandria assumirá até à queda de Cleópatra. 

A tragédia que envolve Júlio César, Cleópatra, Marco António e Augusto Octávio, é uma história que assinala a luta de poder na transição entre o 3º Império sediado em Alexandria e a passagem para o 4º Império sediado em Roma.
Não será imediata, pois mesmo durante o período romano, Alexandria com a sua Biblioteca continuará a ser o principal pólo de conhecimento da Antiguidade. Será apenas com a chegada de Constantino, e a consagração de Bizâncio, que Alexandria perderia a sua importância como capital oriental, entrando em declinio até à conquista árabe.

Se notamos uma influência egípcia na formação filosófica e científica grega, também podemos ver alguma exportação filosófica para Oriente. Em muitos aspectos encontramos noções da filosofia de Hermes ou de Zoroastro nas reflexões budistas, confucianas ou taoístas.  Nota-se uma mudança significativa na forma, mas há muitos pontos comuns no conteúdo, que passam por quase todas as filosofias e religiões.

5) Beroso - Anedotos e Caldeus
Há vários relatos sobre Beroso, mas a sua história dos Caldeus só teria chegado parcialmente através de alguns relatos de Eusébio. Encontrámos um notável trabalho de Isaac Cory que nos dá uma tradução em inglês das citações de Eusébio, e das passagens atribuídas a Beroso (Berossus).
Começamos por esta:
(...) then Ammenon the Chaldean, in whose time appeared the Musarus Oannes the Annedotus from the Erythrean sea.
Quem era esta abominação "Joanes, Anedoto do Mar Vermelho"? 
- Os anedotos eram homens-peixe!
Parecerá "anedota", mas estes "anedotos" eram apresentados como se estivessem "vestidos de peixe", vendo-se os pés, e a cabeça na posição das guelras, assim:
 
Dois Anedotos - Homens Peixe... (imagem) e um enorme bacalhau (imagem)

Se a ideia era dessa forma passarem por "homens-peixe", parece de facto "anedota", e o nome "anedoto" é apropriado. Para além de "Joanes", ou "Oanes", Beroso refere mais anedotos, sempre do Mar "Eritreu"-Vermelho, um outro teria o nome Odacon.
Num dos relatos é dito que o Anedoto conversava com os homens de dia, não comia, e ao pôr-do-sol mergulhava nas águas, onde ficava toda a noite. Parece que com esta anedota eram convencidos os assírios que ele era anfíbio... 
De qualquer forma, aprenderam dele as letras, ciências e outro tipo de artes, como das sementes e frutos. Teria ainda ensinado-os a construir casas, fundar templos, compilar leis, bem como os princípios de geometria. Os seus conhecimentos eram considerados tão universais que nada mais era necessário, tendo tornado os caldeus mais gentis e humanos.
Ao lado decidimos colocar uma imagem de um enorme bacalhau... para que se torne mais claro o que poderia ser um Anedoto ou uma anedota, um bacalhau ou uma cabala.


Não deixa de ser algo estranha esta reverência dos caldeus a esses homens-peixe, que vindos de um Mar Eritreu lhes teriam transmitido conhecimento fundamental. Já aqui referimos da ambiguidade sobre a designação "Eritreu", e de que o Mar Vermelho já foi tido e achado em lugares diferentes. Em particular, esta pesca de bacalhau poderia corresponder a uma secagem de pele noutras paragens, talvez na zona da ilha Eritreia, colocada na Iberia.

Por outro lado, um símbolo na hierarquia cristã é a Mitra, um barrete que já foi visto como perfil de cabeça de peixe. O nome "mitra" está também associado a uma religião persa que chegou a ter um destaque semelhante ao do cristianismo à época da sua implantação no Império Romano. Porém, o barrete do mitraísmo seria o barrete frígio, e não algo com uma abertura que lembra a boca de peixe, como a mitra papal.
Mitra de João XXIII.

Não é nenhuma novidade que um símbolo cristão é o peixe, mas não é convincente que tal se deva às iniciais ΙΧΘΥΣ que corresponderiam a Iesous Christos Theou Yios Soter (Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador,  sendo Ichtys a palavra grega de peixe)... ou ainda a um "alfa" que tem a forma de peixe.
Se o hábito faz o monge, neste caso parece que há hábitos que vêm de longe, do fundo do mar...

6) Beroso - Dilúvio
No mesmo relato atribuído a Beroso fala-se do dilúvio. A divindade é Cronus, que aparece numa visão ao regente Xisuthrus (ou Sisithrus), avisando-o do dilúvio que destruiria a humanidade. Por isso, ele é encarregue de fazer uma história do mundo que guardaria na Cidade do Sol (ver Heliopolis) em Sippara, e de construir um navio onde levaria quem e tudo o que conseguisse, inclusivé todas as espécies de animais.
Depois, tal como na bem conhecida história de Noé, após o dilúvio, envia pássaros três vezes, até que eles não regressaram - o que significava que tinham encontrado terra firme. Num relato (via Abydenus) diz-se explicitamente que o navio se mantinha na Arménia, onde era ainda costume os habitantes fazerem pulseiras e amuletos a partir da sua madeira! (isto é visto como prova posterior da presença do barco no monte Ararat)

Nesse mesmo relato fala-se da construção de Torre de Babel, feita pelos habitantes da terra para desafiarem as alturas, contra vontade dos deuses, que através de ventos a demoliram caindo sobre os executantes, ao mesmo tempo que misturavam as diversas línguas, havendo antes apenas uma língua universal. Do desacordo teria surgido depois uma guerra entre Cronus e Titan...
A torre é colocada na Babilónia, e é dito que "para confusão é pelos Hebreus chamada Babel"...

Podemos concluir, que a menos de detalhes, e diferença de nomes, estas estórias caldeias-babilónicas do Dilúvio e de Babel são exactamente as mesmas que aparecem depois na tradição judaico-cristã. A grande diferença será o carácter monoteísta que parece associado a Cronus, eliminando referências a outros deuses ou a entidades míticas ou controversas, como o caso dos homens-peixe, os anedotos.

Será que podemos associar estes homens-peixe às figuras de sereias ou ao mito da Atlântida?
Até que ponto é que a questão do desaparecimento de uma potência atlântica não estaria ligada ao próprio mito do dilúvio?
- Afinal, havendo uma Idade do Gelo, quando essa termina para onde iria a água derretida?
- Não faria sentido considerar que o degelo teria provocado um considerável aumento da água do mar, afundando por completo povoações costeiras?
Se os gelos permanentes chegassem até ao Sul de França, como é habitualmente admitido, a retenção de água nesses gelos seria enorme, e a linha de costa seria bem diferente, estendendo-se muitos quilómetros no que hoje é Oceano. Um aquecimento do planeta teria como consequência uma catástrofe diluviana para civilizações costeiras. Só seriam sobreviventes as que assumissem algum carácter marítimo, ou que migrassem para zonas montanhosas. Essa mudança climática provocaria ainda uma mudança civilizacional, arruinando estruturas antigas, deixando perdidas várias tribos, e praticamente tudo teria que ser recomeçado.
Porém, quem sobrevivesse com a herança do passado perdido teria uma grande vantagem civilizacional face a todos os outros sobreviventes desorientados e espalhados por diversas partes, regressando à faceta de homens de cavernas.

Num dos relatos atribuído a Beroso é dito que o mesmo Oanes indicava que no início os homens teriam aparecido também com duas asas, outros com quatro asas e duas caras... podendo ser de homem e mulher.
Haveria ainda figuras humanas com cornos e pernas de cabras, outros pés de cavalo, touros com cabeça humana, etc... toda uma mistura zoológica, que teria sido desenhada no templo de Belus na Babilónia!
Não será assim de admirar que também no Egipto, por altura semelhante, tivessem aparecido representações mistas, que invocavam uma parte humana e outra parte animal... assim se constitui uma boa parte do panteão de divindades egípcias, que também foi exportada para mitos gregos.

Que propósito haveria nestes anedotos, ou nestas anedotas?...
Ou antes, como se manifestaria uma civilização mais avançada no contacto com tribos que estavam praticamente na pré-história? 
Teria paciência para fazer evoluir essas tribos para o mesmo nível? 
Aparecia como elite e tratava os restantes como servos? 
Interviria pontualmente como deuses e deixaria as tribos prosseguir a sua evolução?

Há alguns pontos na mitologia que podem ser encarados como abordagens a estas perguntas.
A civilização preponderante poderia ser encarada como um deus dominante, imortal, que decidiria sobre o futuro das civilizações que nasciam. A diferença de poder seria tal que permitiria intervir para proteger ou aniquilar civilizações emergentes. 
Neste sentido, apenas uma civilização, ou estrutura civilizacional, seria imortalizada... as outras passariam por fados, por jogos de poder, que as levariam a aniquilar-se. Não admitiria filhos... no sentido em que evitaria a competição interna com uma fonte semelhante de poder. 
Estamos perante uma figuração semelhante à de Cronos... que será deposto por Zeus.
O poder com Zeus substituiria essa dominância absoluta de Cronos, partilhando o Olimpo com os seus irmãos, numa oligarquia divina. Figurativamente, seria como substituir uma civilização dominante por uma assembleia olímpica de estruturas civilizacionais dominantes. Seria como se houvesse apenas doze tribos (o número de elementos no Olimpo) que decidissem sobre o futuro das guerras entre todas as outras... 
(ou ainda, seria como um conselho de segurança da ONU, onde cinco estados detêm o poder de veto)

De uma forma, ou de outra, não importa muito, os impérios ou monarquias que dominaram o mundo a partir dos Assírios, parecem ter tido um patrocínio externo, uma influência civilizacional superior que se constituiu como mitologia. Há quem refira os Anunnaki, o que parece ser apenas nome alternativo para a figuração dos Anedotos (um nome por interpretação cuneiforme, o outro das transcrições gregas de Beroso). 



Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 02:09


Alojamento principal

alvor-silves.blogspot.com

calendário

Julho 2020

D S T Q Q S S
1234
567891011
12131415161718
19202122232425
262728293031



Arquivo

  1. 2020
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2019
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2018
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2017
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2016
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2015
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2014
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2013
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2012
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2011
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2010
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D