Um poema notável, esquecido, que reporta a origem de Lisboa a Ulisses, foi o composto por António de Sousa Macedo (1606-1682)... talvez mais conhecido pelo seu "Flores de Espanha, Excelências de Portugal". Mais uma vez fomos encontrar Ulyssippo por digitalização da Biblioteca do Michigan... numa reedição de 1848.
A edição original será contemporânea da Restauração da Independência, notando-se que a chancela dos últimos inquisidores, para autorização de publicação, é já de 31 Outubro de 1640.
António de Sousa Macedo [imagem] António de Sousa Macedo, seria nomeado
Barão de Mullingar (Irlanda), por Carlos II de Inglaterra, tendo integrado a comitiva que acompanhou D. Catarina de Bragança. Foi ainda embaixador na Holanda. É justamente nesta altura que a Inglaterra, dá novo ímpeto à iniciativa Mayflower (... Flor de Maio), peregrinação que motivou os Estados Unidos da América. A influência da corte portuguesa de D. Catarina ficou homenageada no bairro Queens de Nova Iorque.
Curioso ainda, é o título dado a seu filho (Luís de Sousa Macedo): Barão da Ilha Grande de Joanes (identificada à Ilha de Marajó, na foz do Amazonas). A que Joanes se referiria essa Ilha Grande, na linha de demarcação do meridiano de Tordesilhas, se não a D. João II?
Colocamos aqui a primeira estrofe que é denominada Argumento, e nove outras primeiras estrofes, onde se torna claro que o mito da fundação de Lisboa por Ulisses, e toda a mitologia subjacente, estaria bem presente desde o fim do Séc. XV ao Séc. XIX. Não parece sério fazer qualquer História de Portugal, sem mencionar estes mitos que influenciavam o pensamento português. É até secundário saber da veracidade do mito, o que interessa é que esse mito influenciou, e muito, o pensamento português.
Não se trata de um estilo camoniano, mas permite entender completamente o verso dos Lusíadas
"Cessem do Sábio Grego e do Troiano" ficando claro que o Sábio Grego era indiscutivelmente Ulisses...
Argumento
O Rei Tartareo destruir procura Do sábio Ulysses a famosa armada; E defendendo-a o Céu nela assegura A cidade ab eterno decretada: Infausta sombra ao Grego em noite escura Dissuade da empresa começada Mas animado com celeste auspicio Porto lhe dá no Tejo o mar propício.
(ver outras primeiras estrofes no comentário anexo)